A CONSTRUÇÃO DA AUTOESTIMA LINGUÍSTICA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

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1. RESUMO

Nos deparamos com diversas crenças ligadas à língua inglesa que levam os estudantes a se sentirem pressionados a prender a falar, e rápido. Crenças de que é uma língua fácil, requisito básico para conseguir um bom trabalho e que o não domínio implica em perder oportunidades na vida, geram estresse e auto cobrança nos estudantes. Algumas empresas exploram essas crenças para vender cursos do idioma. Esse trabalho busca mostrar a importância da construção da autoestima linguística para melhor aprendizado do idioma, criando falantes confiantes e sem amarras aos tabus sobre o que é dominar um idioma.

Palavras-chave: Autoestima linguística, preconceito linguístico, língua inglesa

ABSTRACT

We can see several beliefs about English language that takes our students to feel under pressure to learn how to speak, and fast. Beliefs that it is an easy language, that it is a basic ability you need to have to find a good job and that if you do not know it means you are going to lose life opportunities, makes students feel stressed and demand too much from themselves. Some enterprises use those beliefs to sell English courses. This project is to show the importance to build a linguistic self-esteem in order to improve the learn ship, raising confident English speakers without taboos about what is to dominate a language.

Key words: Linguistic self-esteem, linguistic prejudice, English language

2. INTRODUÇÃO

Quando somos crianças, a alfabetização é parte esperada da nossa jornada, porém se formos alfabetizados após a idade esperada, enfrentamos preconceitos internalizados na sociedade e em nós mesmos. Aprender um idioma estrangeiro é como ser alfabetizado novamente, o que traz a sempre enfatizada pelo mestre Paulo Freire necessidade de humanização (1987). É preciso construir a autoestima linguística dos alunos, de forma a manter seus interesses e ajuda-los a conquistar seus objetivos de aprendizagem, independentemente da idade na qual eles estudarão.

A língua inglesa, nos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), é lecionada no setor público a partir da 5ª série do Ensino Fundamental e vai até o último ano do Ensino Médio. Em instituições privadas, por outro lado, o ensino de língua inglesa pode começar desde a educação infantil, junto à alfabetização. Educadores podem entrar em conflito ao tratar sobre qual a idade ideal para iniciar o ensino de um idioma estrangeiro (SOUZA, 2016), porém esse mérito não será tratado nessa pesquisa. O objetivo desse trabalho é mostrar a importância da construção da autoestima linguística para o ensino da língua inglesa, em especial para alunos que iniciam o aprendizado após a alfabetização da língua materna. Para tanto, será apresentado o cenário do ensino de língua inglesa no setor público e privado, os conceitos de autoestima linguística e preconceito linguístico e a forma como a mídia trata o domínio do idioma. A pesquisa seguirá metodologia bibliográfica e qualitativa, a partir da hipótese de que a autoestima linguística não é trabalhada em sala de aula, no ensino de língua inglesa do setor público. Com essa estrutura, será tratada a pergunta: por que a construção da autoestima linguística se faz necessária no cenário brasileiro para ensino da língua inglesa?

3. O CENÁRIO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

3.1. O Ensino de Língua Inglesa no setor público

A língua estrangeira é disciplina obrigatória a partir do 5º ano do ensino fundamental até o fim do segundo grau. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.19):

Embora seu conhecimento seja altamente prestigiado na sociedade, as línguas estrangeiras, como disciplinas, se encontram deslocadas da escola. A proliferação de cursos particulares é evidência clara para tal afirmação. Seu ensino, como o de outras disciplinas, é função da escola, e é lá que deve ocorrer.

O próprio documento reconhece a ineficácia do Estado para lecionar línguas estrangeiras em suas primeiras páginas, podendo levar o próprio corpo docente a sentir-se confortável com essa situação.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais é apresentada a possibilidade de o idioma a ser lecionado no ensino público ser diferente da língua inglesa, porém doravante trataremos o termo como referente a essa, que é a sugerida e mais encontrada nas instituições públicas, segundo o próprio documento.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais citam a Lei de Diretrizes e Bases, alterada em 2017 na lei nº 13.415, que dá o direito de aprendizado de língua estrangeira, enfatizando que o Estado não pode se omitir em relação a essa aprendizagem. Informa que há uma justifica social para ensino de idioma estrangeiro, como uso em vestibular e para ingresso em cursos de pós-graduação, além de auxílio no desenvolvimento do letramento da língua materna.

É determinado que as aulas envolvam a natureza sócio interacional da língua, desenvolvimento de consciência crítica sobre o papel que a língua estrangeira representa em seu país, conhecimento de mundo, cultural, sistêmico, atitudinal, de variação linguística, entre outras características que vão além do ensino do sistema linguístico em si. É informado ao corpo docente que o processo auxiliará na construção da educação linguística, conscientizando o aluno do fenômeno linguístico não só no idioma estrangeiro, mas também em sua língua nativa e trazendo à tona sua consciência crítica sobre a linguagem como fenômeno social. Também é destacado nos Parâmetros Curriculares Nacionais a possibilidade de conexão entre conteúdos do idioma estrangeiro com outras disciplinas, trazendo assim “[...] desenvolvimento integral do indivíduo, devendo seu ensino proporcionar ao aluno essa nova experiência de vida” (1998, p.38).

O documento trata a possibilidade de aprender uma língua estrangeira como instrumento de liberação, construção da cidadania e luta contra a exclusão social. Para tanto, sugere que os textos abordados apresentem temas de relevância social, como direitos humanos, sexualidade, minorias étnicas, etc.

A respeitos dos objetivos do ensino de língua estrangeira, os Parâmetros Curriculares Nacionais alegam (199, p.66):

Sabe-se que, na aprendizagem de uma língua estrangeira, fatores como quantidade, intensidade e continuidade de exposição à língua são determinantes no nível de competência desenvolvido e na rapidez com que as metas podem ser atingidas. A administração e a organização do ensino de Língua Estrangeira, no entanto, são inadequadas em relação àqueles aspectos.

Por reconhecer toda a problemática envolvida no ensino de língua estrangeira no setor público, os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam da avaliação nessa disciplina de forma mais delicada do que em outras:

Na aprendizagem de outra língua há de se ter em conta vários fatores que podem dificultar a aprendizagem, dependendo de características individuais dos alunos: a frustração da não-comunicação, a reação emocional que pode decorrer da percepção de traços da outra língua que parecem artificiais e até ridículos, a incerteza na ativação de conhecimento adequado de mundo, a falta de um senso de orientação e de intuição para com o que é certo e o que é errado e a discrepância entre o estilo de aprendizagem do aluno e o que o professor enfatiza (1998, p. 81)

Dessa forma, sugere que as avaliações ocorram não somente (ou necessariamente) no formato de testes, mas de um processo avaliativo: atividades em aula, observação das atitudes e da motivação do aluno. Sugestão essa que nos abre caminho para duas alternativas: os professores devem ser menos severos em seu avaliar nessa disciplina do que em outras ou devem considerar suficiente o conhecimento possível de adquirir nessa estrutura educacional.

3.2. O Ensino de Língua Inglesa no setor privado

O ensino de língua inglesa no setor privado varia de uma instituição para outra. Considerando as escolas que oferecem o idioma a partir da educação infantil (crianças com menos de 6 anos de idade), temos duas possibilidades:

  1. As escolas bilíngues apresentam o ensino da língua inglesa como uma disciplina separada, ou seja, há momentos em que será utilizada a língua inglesa, porém na maior parte do tempo será utilizada a língua nativa. As metodologias incluem formas de aprender com o lúdico, inicialmente de forma passiva (escutando, procurando atribuir significado) para depois focar no falar, ler e, por fim, escrever (simultâneo ao aprendizado das mesmas competências no idioma nativo).

  2. As chamadas escolas internacionais possibilitam a imersão no idioma no dia a dia educacional, com a filosofia de aprender a pensar no segundo idioma. Dessa forma, algumas disciplinas como matemática e ciências são ministradas na língua inglesa para naturalizar o uso do idioma. Essas escolas defendem que não haverá confusão de ambos ao falar, pois no ambiente familiar a criança utilizará mais a língua materna, e no escolar, mais a língua estrangeira (SOUZA, 2016).

Posteriormente, a partir do ensino fundamental, as instituições públicas oferecem o ensino de língua inglesa desde o 1º ano, e seguem até o último ano do ensino médio.

É possível, também, que os responsáveis dos alunos invistam em um curso de inglês a parte, aumentando assim a possibilidade de domínio do idioma antes mesmo de concluir o segundo grau. O mesmo vale para responsáveis por estudantes de instituições públicas, porém o cenário difere de acordo com a base que um aluno terá na educação pública e outro na educação privada. Além disso, é possível que o investimento seja inviável para os responsáveis por estudantes de instituições públicas, visto que pode haver oferta insuficiente de tais cursos sem a cobrança de mensalidades e materiais didáticos para todos os alunos de primeiro e segundo grau de instituições públicas.

4. O LADO AFETIVO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

4.1. Autoestima linguística

Segundo Andrade e Souza (apud Dolan, 2010), o termo “autoestima” é um dos mais utilizados pela psicologia nos nossos dias, pois possui um aspecto prático na avaliação da busca pela felicidade dos indivíduos. Os autores defendem que o termo pode ser tratado de diferentes formas, dependendo do teórico: pode ser construída ao longo da vida ou variável de acordo com as circunstâncias internas e operações mentais.

A autoestima de um aprendiz de idioma estrangeiro, de acordo com Dourado e Sperb (2002), pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos: perseverança, superação de dificuldades, autoconfiança, determinação e flexibilidade. Aspectos esses que podem ser potencializados ou não de acordo com o incentivo do professor. Segundo as autoras (apud Sánchez e Escribano, 2002, p. 84) “aceitando-se, amando-se e respeitando-se, o indivíduo cria oportunidade para adquirir uma atitude de auto aceitação e respeito para consigo mesmo”.

Segundo Petter (2015), a partir do século XIX iniciaram-se os estudos linguísticos que buscavam estudar a língua cientificamente, além dos estudos já existentes sobre a norma. Os estudiosos dessa nova área demonstravam como a língua era viva a partir das suas possibilidades de modificação ao longo do tempo: o que é considerado errado pode vir a ser certo, palavras adquirem novos significados, são criadas e podem ser inseridas no idioma. De acordo com a autora (2015, p.17), o termo “linguística”:

[...] não se compara ao estudo tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o linguista procura descrever e explicar os fatos: padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico.

A partir desses princípios, podemos determinar que autoestima linguística é a forma como o indivíduo se vê e se sente como usuário de um idioma. Se ele se sente confiante e seguro de seu conhecimento, se aceita errar e aprender ou se tem vergonha do possível julgamento negativo que pode obter. Essa autocrítica pode variar de acordo com o registro1: uso em um momento descontraído, com amigos ou em uma prova escolar, sozinho, por exemplo, poderá causar variação de quanto o estudante se sente confiante sobre seu domínio e uso de um idioma.

4.2. Preconceito linguístico

Não é possível, porém, tratar de autoestima linguística sem citar o preconceito linguístico. Segundo Beline (apud Sapir, 2015) a variação linguística revela regularidades em sua configuração que justifica a importância da linguística como ciência social. O preconceito linguístico, no entanto, pode vir a surgir devido às variações linguísticas: a discriminação de um indivíduo justificada pela sua forma de falar e sua forma escrever (dadas pelo sotaque, comunidade de fala, educação formal e outras variáveis).

Em sua brilhante obra, Bagno (1999) afirma que diferente de outras formas de preconceito, o preconceito linguístico ainda é aceitado pela sociedade:

[...] o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”, sem falar, é claro, nos instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os livros didáticos (1999, p.13).

Se é possível encontrar usuários que buscam ofender outros usuários de seu próprio idioma, por conta de sua maneira de falar e escrever, imagine o que é possível fazer com quem está aprendendo um segundo idioma.

Segundo Santos (2015) os erros e idiossincrasias fazem parte do processo de aquisição da linguagem. Ao aprender a falar nos primeiros anos de vida, porém, não há julgamentos e repressões, as correções são feitas de forma natural, pois é parte do processo de aprendizagem e esse momento é compreendido pela sociedade que nos cerca. Porém, quando iniciamos o aprendizado de um novo idioma aos 11 anos de idade ou mais velhos (idade em que se inicia o aprendizado de língua estrangeira no setor público), é possível que não se encontre a mesma tolerância por parte de nossos colegas, ouvintes e/ou professores. De acordo com Dourado e Sperb (2002) o bom desempenho está diretamente ligado à autoestima do aluno, portanto “Admitir uma possível realimentação na relação entre desempenho e autoestima elevada traz um alerta aos educadores em geral para que atentem para fatores emocionais, como autoestima, quando no exercício da profissão” (2002 p. 92).

4.3. O domínio da Língua Inglesa apresentado pela mídia

Diversos cursos de língua inglesa, em diversas modalidades estão disponíveis no mercado. Trataremos a seguir sobre uma forma específica na qual eles podem ser divulgados em diferentes mídias, em especial quando ofertados para jovens e adultos: uma forma agressiva, que julga e pressiona. Não é intuito desse trabalho julgar se essas propagandas são adequadas ou não, mas discutir o impacto que esse tipo de anúncio pode causar dos aprendizes da língua inglesa. Será atribuído um nome genérico para as escolas, transcrita e comentada a propaganda que será discutida a seguir.

Escola 1, transcrição da propaganda exibida na televisão, em rede nacional:

Aluna: Cê sabe onde eu aprendo inglês, né? Na Escola 1, com o Joe aqui, he is a very gúdji teacher.

Professor: No, Tatá.

Aluna: Yes, you are gúdji, man!

Professor: Thanks Tatá, but your gúdji is not so good.

Aluna: Gúdji? Hm, is not good.

Professor: Yeah, good!

Aluna: Na Escola 1 a gente aprende inglês mais rápido, porque estuda onde e quando quiser. E mais fácil, por causa de professores como o Joe, que mora em Boston. Vem aprender na Escola 1, a maior escola de inglês online do mundo [...] e ganhe 50% de desconto.

Na propaganda, o diálogo entre professor e aluna é apresentado com legenda, a palavra “good”, quando pronunciada pela aluna na forma que o professor considera incorreta, é escrita conforme a transcrição “gúdji”. O trecho removido apresenta o telefone de contato da escola.

Escola 2, transcrição da propaganda também exibida na televisão, em rede nacional:

A: Por quê? Por que que tá acontecendo isso tudo?

B: Oi.

A: Quem é você?

B: Eu cruzo seu caminho todos os dias. Eu sou a chance de crescer que você jogou fora. Aquela viagem que você nunca fez. Sou o emprego que você perdeu. Aliás, eu sou tudo que você perdeu por não falar inglês.

Esteja pronto para as oportunidades, Escola 2, inglês para adultos.

Nessa propaganda, um homem sozinho em um bar se questiona com um copo vazio na mão, quando é abordado por uma mulher que inicia o diálogo. No decorrer da fala desta, são apresentadas cenas em que o homem aplaude a promoção de um colega de trabalho, se despede de um colega no aeroporto, retira seus pertences de um escritório.

Partindo para um tipo diferente de mídia, um professor de inglês que oferece curso online postou em uma rede social a seguinte imagem, que teve, em 2019, mais de 50 mil curtidas:

Figura 1 Publicação em rede social de professor de inglês (2019)

A imagem apresenta a bandeira de diferentes países respondendo à pergunta das bandeiras dos Estados Unidos da América e da Inglaterra: “Do you speak English?”. Todas as bandeiras, exceto a do Brasil, respondem com um sucinto “No”, enquanto a brasileira procura explicar sua relação com o idioma. O professor completa a imagem – que já é uma crítica à postura do brasileiro – enfatizando que entender inglês e não falar, para ele, é o mesmo que não entender.

5. O DOMÍNIO DA LÍNGUA INGLESA DO PONTO DE VISTA LINGUÍSTICO

Neste capítulo serão retomadas as propagandas apresentadas no tópico anterior, de forma a avaliar as ideias transmitidas no ponto de vista linguístico. Sabemos que as mídias apresentadas possuem ampla circulação e não é intuito desse trabalho julgá-las, mas refutar as ideias apresentadas, com base em teoria.

A propaganda da Escola 1 apresenta a ideia de que aprender a falar inglês envolve aprender a pronúncia das palavras como um verdadeiro nativo. Se é possível que haja variação linguística entre o português falado em São Paulo e o falado no Rio de Janeiro (Beline, 2015), logo, deveria ser aceitável a diferença entre uma brasileira e um americano falando inglês. Não há necessidade de impor um sotaque no falante, pois a pronúncia nada mais é do que uma forma de variação linguística, além disso o próprio professor entendeu o que a aluna dizia, e é esse o objetivo da comunicação: compreender.

Já na propaganda da Escola 2, é apresentada a ideia de que não dominar a língua inglesa é sinônimo de perder oportunidades. Sabemos que a propaganda nada mais é do que uma estratégia de venda, porém essa escola procura criar uma baixa autoestima para propor a venda de um curso que, segundo Dourado e Sperb (2002), deveria prezar pela autoestima do estudante.

O caso da publicação do professor de inglês em sua rede social não é uma propaganda, o intuito, porém, é oferecer o curso de inglês online ministrado pelo professor responsável. Percebe-se pela escolha da imagem e legenda acrescentada que o professor ignora que os tipos de inteligência são individuais e determinam o potencial cognitivo e a habilidade de aprendizado de cada um (Novikobas e Lamari Maia apud Mello, 2004, p.3). Segundo Novikobas e Lamari Maia (2004), cada indivíduo apresenta um tipo de inteligência, que não é o único do dele, porém se destaca perante os demais. De acordo com os autores, cada pessoa pode ter dominância na inteligência:

  • Lógico-matemática, a inteligência caracterizada pela facilidade em cálculos mentais, criar, manter e modificar modelos;

  • Linguística, o tipo reconhecido pelo amplo domínio da linguagem, habilidade de desenvolver, contar e mudar histórias;

  • Naturalista, a inteligência do indivíduo que apresenta fácil reconhecimento dos elementos de um ecossistema e suas funções na natureza;

  • Interpessoal, a categoria em que há visível habilidade com relações humanas e compreensão do outro;

  • Intrapessoal, o tipo de inteligência de quem apresenta alto reconhecimento de si como integrante do mundo;

  • Espacial, caracterizada pela facilidade em decorar rotas, lugares, imagens, etc.;

  • Corporal-sinestésica, a consciência do corpo e seus movimentos, crianças com desenvolvimento rápido da coordenação motora e indivíduos que conseguem facilmente determinar movimentos práticos para solucionar problemas;

  • Musical, determinada pela consciência dos sons e sua relação com o meio;

  • Existencialista, a inteligência quando há visível preocupação e reflexão sobre a existência do indivíduo e de tudo o que o cerca.

Além disso, o professor responsável pela publicação em sua rede social ignora o processo de aquisição de linguagem. Sobre a teoria da aquisição da linguagem, Santos (2015) trata da inata capacidade do ser humano de desenvolver linguagem, apresentada por Chomsky no século XX: o homem possui uma gramática universal e é capaz de selecionar as regras da língua que está aprendendo e descartar as que não se adequam a essa. A autora defende que esse processo não é tão simples como sua descrição, porém ocorre de forma natural devido à chamada competência plena de todos os princípios disponíveis e é, certamente, guiado por mentores ao longo da vida (que serão os pais, familiares, professores e demais indivíduos da convivência da pessoa). Esse processo ocorrerá tanto quando aprendermos nossa língua materna quanto quando tivermos contato com línguas estrangeiras.

Outro aspecto a se considerar é o chamado Complexo de Gulliver apresentado por Araújo et al (2013), que explica como os brasileiros se sentem inferiores em relação às pessoas de países desenvolvidos e tendem a apresentar comportamento autodepreciativo em relação a essas. É possível que o responsável pelo tipo de resposta criticada na Figura 1 acredite que sabe pouco o idioma de um estrangeiro, se comparar-se ao próprio estrangeiro, porém ignorando o fato de que essa é a língua materna desse, que a conhece desde seus primeiros dias de vida.

Considerados os tipos de inteligência e processo de aquisição da linguagem, é possível que o aluno entenda o idioma e não conseguir falar. A aquisição de linguagem é um processo, e não dada instantaneamente, portanto pode fazer parte do processo individual do aluno a compreensão auditiva e leitura antes do desenvolvimento da habilidade de fala. Cada indivíduo terá seu próprio tempo de aprendizagem determinado pela sua disponibilidade de estudo, há quanto tempo tem contato com a língua, de que forma esse contato se dá, qual seu tipo dominante de inteligência e, em especial, como está sua autoestima linguística. Fica a questão ao professor que defende que entender e não falar é o mesmo que não entender: não seria essa a resposta de um aluno que tem medo de sofrer preconceito linguístico ou que tem baixa autoestima linguística?

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de a excelente apresentação da disciplina de língua estrangeira nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), sabe-se que há uma série de dificuldades que inviabilizam o domínio do idioma no ensino público, conforme foi possível observar nessa pesquisa, por exemplo o início tardio, se comparado ao ensino privado.

Esse trabalho procurou mostrar como o desenvolvimento da autoestima linguística é importante nesse cenário desigual de oportunidade de aprender. Considerada também a existência do preconceito linguístico e a pressão da mídia quanto ao aprendizado de língua inglesa, a importância desse aspecto fica enfatizada.

Vimos que há pesquisas a respeito e que os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) falam, em sua própria maneira, sobre o aspecto afetivo do ensino e sobre o desenvolvimento da autoestima dos alunos. Portanto, a hipótese de que a autoestima linguística não é trabalhada em sala de aula, no ensino de língua inglesa do setor público, dependerá de cada professor e poderá ficar em aberto para possíveis pesquisas futuras.

7. REFERÊNCIAS

ANDRADE, Edson Ribeiro de e SOUZA, Edinilsa Ramos de. Autoestima como expressão de saúde mental e dispositivo de mudança na cultura organizacional da política. Psic. Clin. Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.179-195, 2010.

ARAÚJO et al. Estrangeirismo e Complexo de Gulliver: brasileiros na percepção de expatriados de diferentes origens. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-92302013000300006> Acesso em: 01 abr 2020.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico o que é e como se faz. 49 ed.. São Paulo: Loyola, 1999

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.

CRESCER. Escola internacional x Escola bilíngue: entenda a diferença. Disponível em: Acesso em: 01 abr 2020

DOURADO, Maura Souza e SPERB, Lúcia Wolmer. Autoestima e aprendizagens de línguas estrangeiras. Disponível em: < https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8639342/6936> Acesso em: 01 abr 2020

ENGLISH LIVE. Comercial Gúdji, com Tatá Weneck. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=jxBnCmRE1BA> Acesso em: 02 abr 2020

FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à Linguística I. Objetos Teóricos. 6 ed. São Paulo: Contexto, 2015

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Disponível em: Acesso em: 01 abr 2020

MAPLE BEAR. Método de Ensino. Disponível em: Acesso em 01 abr 2020

NOVIKOBAS, Augusto Cesar dos Santos e LAMARI MAIA, Luciano Brunelli. Conceito de inteligência e a teoria das inteligências múltiplas. Disponível em: Acesso em: 03 abr 2020

OBJETIVO. Propósta Pedagógica. Acesso em: 31 mar 2020

SOUZA, Aline Bianchi de. BILETRAMENTO EM PORTUGUÊS/INGLÊS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA. Campinas, 2016

VERGARA, Mairo. Publicação em rede social. Disponível em: Acesso em: 03 abr 2020

WISE UP. Esteja pronto para oportunidades. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Ak4s7wum16s> Acesso em: 02 abr 2020

1 Registro: variedade de uma língua definida de acordo com seu uso em situações sociais, por exemplo, científicas, religiosas, etc.


Publicado por: Amanda

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