Capoeira Angola

Capoeira Angola & SOMA

"Capoeira Angola, mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista." Mestre Pastinha

A Capoeira Angola foi a manifestação mais decisiva no processo de resistência nos séculos de escravidão no Brasil. Ela nasceu para libertar o negro. A SOMA, uma terapia anarquista, também nasceu num período de resistência contra o autoritarismo, durante a ditadura militar, atuando sobre o indivíduo e sua liberdade de ser. Duas épocas, dois momento em que a natureza inventa formas criativas de reação contra aquilo que tenta bloquear seu desenvolvimento espontâneo.

Os negros africanos no Brasil, movidos por seu instinto de sobrevivência, reagiram desenvolvendo uma estratégia de luta: a Capoeira Angola. Disfarçando a luta em dança, o escravo pode treinar a única arma que possuia, o seu corpo. Os movimentos de ataque e defesa vieram da observação do funcionamento dos instrumentos de trabalho (martelo, foice), das formas de luta dos animais (coice de mula, rabo de arraia) e da cultura original mesclada a uma cultura estranha.

O desenvolvimento da SOMA é fruto da associação original de diversas áreas da ciência que estudam a vida e seus bloqueios, numa visão libertária. A SOMA buscou na Capoeira Angola um trabalho corporal bioenergético baseado nas idéias de Reich e acabou encontrando também Gestalt e a antipsiquiatria. A Angola trabalha a conscientização e a comunicação do movimento corporal, o aqui e agora da percepção clara da realidade e do equilíbrio energético alcançado. E depois de anos de pesquisa, descobrimos no jogo, na roda e na vida do angoleiro a mesma ideologia anarquista da SOMA.

A organização social que cria situações como a escravidão no período colonial ou a misérias nas sociedadesa atuais é a mesma. O autoritarismo de um senhor da Casa Grande querendo explorar outro homem, pois se considera superior e proprietário, é o mesmo de um empresário ou político corrupto que explora a miséria social em seu benefício. São os indivíduos autoritários que geram a sociedade autoritária. E é o anarquismo a ideologia que busca indivíduos livres, combatento todas as formas de autoritarismo. Indivíduos livres são amorosos, não são perversos. O homem livre busca e se relaciona solidariamente.

A capoeira depois da libertação dos escravos continuou a existir, sempre próxima as classes exploradas, aos marginais da sociedade. Ela evoluiu, modificou-se, mas sempre manteve sua ideologia de libertação. Hoje, só a Capoeira Angola preserva esta ideologia, com a mandinga, a estratégia, o jogo, o diálogo. A capoeira regional passou a ser esporte e competição em busca do melhor, da campeão. Na Angola não há melhor, não dá para comparar porque cada angoleiro é diferente do outro. Melhor não é a pessoa e sim a oportunidade.

Vicente Ferreira Pastinha, mestre Pastinha guardião da Capoeira Angola, costumava dizer que "cada um é cada um", mostrando sintonia com o anarquismo, pois o angoleiro leva a ética da roda para a sua vida. A SOMA tem o privilégio de relacionar a Capoeira Angola com o anarquismo e vice-versa. A ideologia da Natureza com uma estratégia vital.

Hoje só faz SOMA quem faz Capoeira Angola, porque temos certeza de que isto acelera o processo terapêutico, que significa mudança ideológica no cotidiano. Quem não faz SOMA também se beneficia do poder libertário da Capoeira Angola. Por isso, não queremos modificar, nem deturpar a capoeira e sim, pesquisar e jogar com os verdadeiros angoleiros.

O prazer de jogar capoeira só acontece num jogo com diálogo, troca, abertura, fechamento, desafio, brincadeira, um aprendizado, um relacionamento que também se deseja fora da roda. Um bom jogo é uma relação afetiva libertária, é uma relação produtiva autogestiva. Fora do jogo, sentado na roda ou nos instrumentos, puxando o corrido ou respondendo o coro, a relação de solidariedade que se procura desenvolver na Capoeira Angola é o jeito que os anarquistas querem a sociedade onde vivem. Sem autoritarismo, sem miséria social, sem escravidão.

Texto autorizado para divulgação na Biblioteca Virtual por João da Mata.


Publicado por: Brasil Escola

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