A Capoeira e sua inclusão na Educação Física nas escolas
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1. RESUMO
Na atualidade, o ensino da capoeira nas escolas em seus currículos escolares ainda anda em pequenos passos, apesar de ser oficialmente reconhecida como patrimônio cultural brasileiro pelo Conselho consultivo do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Percebe-se que sua inclusão é gradativa e que é reconhecida a sua importância no ensino na educação física nas escolas, mas partindo da compreensão de que a capoeira é fruto da resistência dos negros no Brasil deveria seu ensino ser bem mais difundido no Brasil do que é hoje. Para esse artigo foi realizada uma pesquisa de campo nas escolas públicas da rede de ensino da cidade de Canoas e teve como instrumento de coleta de dados um questionário aplicado aos professores de Educação Física, os quais atuam no ensino fundamental e médio. Foi identificado que a capoeira é ensinada apenas em algumas escolas nas aulas de Educação Física, mesmo os professores reconhecendo a importância de seu ensino. Segundo os professores, falta formação profissional na área para encorajá-los a ensinar tal manifestação cultural. O ensino da capoeira cumpre um papel de desenvolver a cultura corporal, sendo aqui “Cultura” entendida como um bem construído historicamente pelos indivíduos em sociedade e “Corporal” como o indivíduo visto em sua integralidade física. Logo, a capoeira possibilita resgatar a história de nosso povo e contribui no desenvolvimento do indivíduo e a capoeira é considerada com um dos conteúdos da Educação Física que tem relevante contribuição para a formação dos alunos. Cabe ao poder público propiciar investimentos na área da educação e o devido incentivo e capacitação dos profissionais de educação física do ensino público e privado, isso possibilitaria o acesso desse esporte à sociedade em geral e usufruir de suas potencialidades educativas.
Palavras-chave: capoeira, ensino, cultural, Educação Física.
ABSTRACT
Currently, the teaching of capoeira in schools in their school curricula is still taking small steps, despite being officially recognized as a Brazilian cultural heritage by the IPHAN Advisory Board (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). It is perceived that its inclusion is gradual and that its importance in teaching physical education in schools is recognized, but starting from the understanding that capoeira is the result of the resistance of blacks in Brazil, its teaching should be much more widespread in Brazil than is today. For this article, a field research was carried out in public schools in the teaching network of the city of Canoas and had as a data collection instrument a questionnaire applied to Physical Education teachers, who work in elementary and high school.
It was identified that capoeira is only taught in some schools in Physical Education classes, even though teachers recognize the importance of its teaching.According to the teachers, there is a lack of professional training in the area to encourage them to teach this cultural manifestation. The teaching of capoeira fulfills the role of developing body culture, being here "Culture" understood as a good historically constructed by individuals in society and "Body" as the individual seen in its physical integrality. Therefore, capoeira makes it possible to rescue the history of our people and contributes to the development of the individual and capoeira is considered as one of the contents of Physical Education that has a relevant contribution to the formation of students. It is up to the public power to provide investments in the area of education and the due incentive and training of physical education professionals in public and private education, this would enable the access of this sport to society in general and enjoy its educational potential.
Keywords: capoeira, teaching, cultural, Physical Education.
2. INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste falar sobre a capoeira e sua inclusão na educação física nas escolas. A escolha desse tema se deve ao fato de que esse esporte não está tendo a devida importância na sociedade como deveria já que tem importante papel na saúde física e inclusão cultural.
Primeiramente, parte-se do pressuposto de que a capoeira foi herança cultural que começaram com os negros escravizados e fez parte de todo processo de construção da sociedade brasileira. Nesse sentido, ao analisar a caminhada pedagógica que envolve a arte da capoeira, que posteriormente foi reconhecido como esporte, logo é percebido uma possibilidade de ampliação dos conhecimentos a partir de uma mudança de paradigma e a ampliação desse esporte do corpo em movimento nas escolas, tanto nos anos iniciais de ensino, bem como nos anos finais.
Ainda, considera-se que a oferta da capoeira nas escolas colaboram com a compreensão do desenvolvimento e auxilia na psicomotricidade dos jovens, os quais são os principais alvos do ensino dessa arte nas escolas. Desse modo, pode ser uma ferramenta importante na formação dos alunos os tornando capazes de compreender as relações que podem ser feitas a partir das contribuições que a capoeira pode dar na vida.
De acordo com Silva (2002) a prática da capoeira traz inúmeros benefícios que envolvem a cultura corporal, pois além de fazer bem para a saúde e a compreensão da realidade sócio-histórica brasileira, também melhora a autoestima e proporciona um bom condicionamento físico. Nas “rodas” de capoeira aspectos como o da socialização são promovidos, isso favorece o convívio social.
Para Barros (2012, p. 48) os benefícios da prática orientada da capoeira para as crianças são muitos, sendo tanto de caráter cognitivo e afetivo-social quanto de caráter psicomotor. Na “roda” da capoeira, as crianças e os jovens têm um maior contato com os outros alunos, quer seja jogando, quer seja participando batendo palma e cantando, contribuindo com o ritmo da ginga com ou sem o auxílio de instrumentos típicos na dança como berimbau.
Então, a capoeira se destaca por ser uma prática que foge das atividades convencionais, tornando-se um ponto positivo a ser trabalhado na escola. A capoeira, dentro do contexto escolar, deve ser trabalhada de forma que os alunos se sintam à vontade para participar, ou seja, de forma lúdica, cabendo ao professor/mestre respeitar os limites de cada aluno, porque cada aluno apresenta sua particularidade.
3. CICLOS DE APRENDIZADOS HISTÓRICOS
Conforme Souza (2004), “A capoeira é uma das manifestações culturais mais importantes do Brasil. Surgida do encontro, em terras brasileiras, principalmente das culturas do índio, do negro e do português, tornou-se um dos mais importantes símbolos do Brasil. Trata-se de uma das manifestações culturais da corporeidade humana, a qual é baseada em um diálogo corporal, no qual terá maior destaque o jogador que fizer mais perguntas corporais do que as respostas corporais obtidas, ou então aquele capaz de apresentar mais argumentos corporais do que as perguntas corporais que lhe foram feitas. Neste diálogo entrarão em jogo os braços, as pernas, a cabeça e os jeitos do corpo.”
A capoeira, sendo manifestação cultural de relevante marco histórico, trata da luta do oprimido contra o opressor, na busca pela liberdade no Brasil Colonial se tornando uma ferramenta essencial para ser tratada de forma integral na Educação Física escolar no Brasil.
De acordo com o Coletivo de Autores (1992, p. 53) a capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipação do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa, de forma explícita, a "voz" do oprimido na sua relação com o opressor. A capoeira surgiu no reflexo da luta de opressor contra oprimido e deveria ser considerada uma perspectiva de mudanças explanando seu impacto no mundo atual. Ainda, por esse fato o ensino da capoeira se torna fundamental no Brasil, para seja reconhecida em sua historicidade na prática social.
Para o Coletivo de Autores (1992, p. 53), a Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou. Nesse sentido, o ensino da capoeira vai além de uma simples dança, de uma ação sem intencionalidade ou de um ato esportivizado, o ensino da capoeira deve estar ligado a um projeto de estímulo à cultura e ao esporte ligado a hábitos saudáveis à saúde.
Logo após a lei que aboliu a escravatura na década de 1880, escravos detentores das habilidades da capoeira, começaram a ir aos grandes centros urbanos, chegando lá sem emprego, mas com esperanças de uma vida nova e um novo recomeço. Então realizavam algumas apresentações com dessa, até então, arte marcial em praças públicas como meio de levantar fundos para sua sobrevivência e de suas famílias.
Santos e Barros (1999) ressaltam que após a abolição da escravatura, algumas dessas pessoas acabavam utilizando a capoeira para efetuar roubos, fato que acabou por marginalizar essa manifestação cultural. No ano de 1890 a capoeira passou a ser considerada uma prática fora da lei pelo Código Penal da República.
Artigo 402 do Código Penal da República:
“Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão celular de dois meses a seis meses”. (BARBIERI, 1993, p.118, apud SANTOS; BARROS, 1999, p. 1).
Apesar de a lei proibir, a capoeira continuou se espalhando pelo país a fora, contudo, foi nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia onde se encontravam a maior disseminação entre o povo e a imprensa local (SANTOS, BARROS, 1999).
De acordo com Santos e Barros (1999), a capoeira permaneceu sendo transmitida para gerações seguintes, apesar da repressão das autoridades.
Na atualidade, a capoeira é considerada um patrimônio cultural brasileiro, cuja prática pode proporcionar diversos benefícios para o corpo e para o convívio afetivo-social.
Segundo Souza e Oliveira (2001):
“A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus múltiplos enfoques, que possibilitam, a luta, a dança e a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo. A mesma deve ser ensinada globalizadamente, deixando que o aluno identifique-se com os aspectos que mais lhe convier” (SOUZA; OLIVEIRA, 2001, p. 44).
Conforme essas considerações, pode-se conceber essa manifestação corporal como um meio importante da difusão da cultura de movimento, sendo então estimulada ao passar dos anos e até mesmo se tornando um esporte e sendo constituída conteúdo da disciplina de Educação Física nas escolas.
4. A CAPOEIRA E SEUS BENEFÍCIOS
De acordo com Silva (2002) a prática da capoeira traz inúmeros benefícios os quais envolvem a cultura corporal, porque além de fazer bem para a saúde e estimula a compreensão da realidade sócio-cultural da história brasileira, melhorando assim a autoestima e proporcionando um bom condicionamento físico.
Para Barros (2012, p. 48) os “benefícios da prática orientada da capoeira para as crianças são muitos, sendo tanto de caráter cognitivo e afetivo-social quanto de caráter psicomotor”. Nas rodas da capoeira, as crianças e os jovens têm um maior contato com os outros alunos da classe e da escola, quer seja jogando ou participando, quer seja batendo palmas e cantando, dando o ritmo da ginga com ou sem o auxílio do berimbau ou algum outro instrumento.
Com a prática da capoeira a criança e o jovem vêm a ter um desenvolvimento motor amplo, pois, para se dançar e jogar a capoeira é necessário o estímulo do o aluno e a utilização de seus recursos motores para poder realizar os movimentos inerentes a essa prática corporal.
Um dos objetivos da Educação Física é fazer com que o aluno participe das atividades corporais e aprenda a respeitar o seu corpo e de seus colegas, ou seja, suas características e limitações físicas. Com as aulas de capoeira inseridas na Educação Física pode-se promover aos estudantes, variadas formas de aprendizagem que permitam eles vivenciar movimentos corporais nas atividades propostas nas aulas.
Ainda nesse contexto, a capoeira entra com uma prática que foge das atividades convencionais, tornando-se atrativa e necessária para ser trabalhada pelas escolas, pois conforme preconiza a Lei de diretrizes e bases da educação nacional, lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, o ensino sobre História e Cultura Afro Brasileira passa a ser obrigatório nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, (BRASIL, 2003).
Tomando por base essa Lei de diretrizes e bases da educação nacional, o professor de Educação Física deve proporcionar às crianças o conhecimento da cultura afro-brasileira em suas aulas usando a capoeira como instrumento conciliador da história e da mistura cultural da África e do Brasil. No entendimento de Mendes (2015) a capoeira pode ser trabalhada como um conhecimento histórico do Brasil.
A capoeira faz parte do conteúdo lutas e portanto deve ser inserida e trabalhada nos currículos escolares pelas escolas, pois seu desenvolvimento nas aulas de Educação Física propicia aos alunos o trabalho corporal, a aquisição de valores e princípios essenciais para a formação do ser humano, contribuindo com a formação das pessoas nos aspectos de trabalho em grupos, cooperação, solidariedade, o autocontrole emocional, o entendimento da filosofia da luta, que geralmente acompanha sua prática e, acima de tudo, o respeito pelo outro.
Apontamento feito pelas DCE’s (2008):
“Os alunos precisam perceber e vivenciar essa manifestação corporal de maneira crítica e consciente, procurando, sempre que possível, estabelecer relações com a sociedade em que vive. A partir desse conhecimento proporcionado na escola, o aluno pode, numa atitude autônoma, decidir pela sua prática ou não fora do ambiente escolar” (DCE, 2008, p. 69).
Em consonância, uma das características da capoeira é ser designada como jogo/esporte, a criança e o jovem vivenciam novas possibilidades de atividades esportivas, passando a conhecer atividades diferentes das tradicionais que ela conhece na escola.
A capoeira abrange diversas capacidades físicas as quais podem ser desenvolvidas pelos alunos, tais como o equilíbrio, o ritmo, a força, a flexibilidade, a agilidade, a velocidade, a coordenação motora, tornando-se uma boa opção de atividade para ser trabalhada nas aulas de Educação Física, e ao mesmo tempo sendo uma forma de trabalhar a cultura afrodescendente dentro das aulas da disciplina, fazendo com que os alunos se aproximem das raízes dos negros no Brasil (MENDES, 2015).
Segundo Nunes (2011) a capoeira é um exercício aeróbico, então exige o tempo todo a movimentação corporal e a ligação entre a mente e o corpo, porque o capoeirista precisa estar concentrado no jogo e ao mesmo tempo nos golpes e atacando o adversário. Neste sentido, as palmas, os cantos e as músicas, que fazem parte da roda da capoeira, tornam esta atividade mais alegre e prazerosa de se praticar ao contrário de outras lutas as quais seus praticantes apresentam o semblante mais sério, com a finalidade de atingir uma maior concentração e dentro do contexto escolar pode ser trabalhada de forma com que os alunos se sintam bem à vontade para praticar, ou seja, de forma lúdica e em grupos, cabendo ao professor respeitar os limites de cada aluno.
Entende-se que a prática dessa manifestação corporal deve ser incentivada nas aulas de Educação Física, visando o desenvolvimento das capacidades físicas acima elencadas bem como propondo a disseminação de valores morais que desestimulem eventuais ações de violência nas aulas (PAULA; BEZERRA, 2014; MENDES, 2015).
5. CONSTRUINDO UM CONHECIMENTO ESPECÍFICO DA CAPOEIRA
Nesta etapa ressaltam-se os conhecimentos e fundamentos prático-conceituais nos aspectos didáticos pedagógicos do ensino da capoeira, baseando-se no que diz em Falcão (2001).
A ginga na capoeira é a base para o desenvolvimento da dança/esporte, é através dela que se desenvolve todos os outros movimentos para as diversas situações. De acordo com Falcão (2001) é a movimentação básica que se caracteriza pela oposição de braços e pernas que deslizam em forma de “X”` ou “V” perna direita à frente/braço esquerdo a frente; perna esquerda na frente/braço direito à frente em busca de um equilíbrio dinâmico. Na ginga o aluno entra no ritmo da capoeira e se conecta nos movimentos e na levada da música que acompanha. Na música começa o envolvimento com dança e o encanto na prática dessa manifestação da cultura corporal. Com o movimento da ginga, o professor envolve diversas possibilidades para descontração e o desenvolvimento fazendo com que o educando entre no jogo sem que se dê conta disso.
Ainda, como ressalta Falcão (2001), é por meio da ginga que o indivíduo desloca o corpo no espaço da roda com o malícia e êxtase que os capoeiristas chamam de “mandinga”. Por ser uma dança/esporte que normalmente se pratica com dois participantes, saber entender as intenções do seu par e antecipar as ações do oponente são princípios fundamentais da capoeira. A malícia, a malevolência e a “mandinga” de que Falcão (2001) retrata é o ato de se deslocar com o corpo em uma cadência nos movimentos rítmicos da música e do corpo nos quais se expressa a intenção ou tenta por meio de improvisação desviar sua verdadeira intenção durante o jogo, para assim tornar o jogo intenso e deslumbrante para ambos jogadores.
A encenação é ferramenta que pode ser usada para atingir esse objetivo de interação da prática da capoeira. Falcão (2001) ressalta algumas possibilidades como a imitação em duplas: “Consiste em ficar um de frente ao outro. Um imita os movimentos do outro. Depois se alterna o imitador. Após a imitação encena-se fazendo movimentos contrários um do outro”. Existem ainda outras possibilidades de gingar que se baseiam em movimentos de imitações de animais, imitações de figuras geométricas, imitações de objetos, entre outros. Nesse contexto, esses são algumas possibilidades para tratar o conceito de ginga em que o docente deve usar a imaginação para a sistematização e organização da aula não fugindo do objetivo que é o ensino da ginga, acompanhando a evolução do educando para a movimentação e brincadeira, para a dança e para a luta na roda de capoeira, fazendo com que esta atuação seja boa na sua aprendizagem.
Os golpes de capoeira são de ataques e de esquivas os quais são utilizados em forma de luta, jogo e dança/esporte no momento da roda de capoeira. Isso consequentemente se estrutura a partir da ginga, como mencionado anteriormente. Falcão (2001) retrata os golpes de capoeira vêm se alterando desde a época de mestre “Pastinha” que criou alguns golpes principais como a meia-lua e a cabeçada e que depois mestre Bimba acaba incorporando outros golpes de outras artes marciais e uma gama de golpes novos começam a ser usados.
Ainda, os mesmos movimentos, em diferentes em diferentes regiões do Brasil, são utilizados com nomenclaturas diferentes acarretando, muitas vezes, uma grande confusão. Os mestres entendem e aceitam esse dinamismo com normalidade e relatam que isso é típico na cultura do Brasil, pois muitos golpes e movimentos são populares para todos os capoeiristas, por exemplo, movimentos como o au, a rasteira, a armada, apresentam diversas variações conforme a região do Brasil.
Entendendo as diretrizes da capoeira com um aprendizado técnico e contínuo será um progresso importante para os futuros professores dessa arte, ensinar de forma com que seus alunos entendam suas propostas e possibilidades, não apenas ensinar através de reprodução ou imitação de golpes. Falcão (2001) ressalta que a capoeira é um diálogo de “perguntas” e “respostas” que é improvisado com o corpo uma conversa de acordos que caso não haja um consenso se transforma no que é pior em pancadaria, mas que o elemento principal é a surpresa utilizando a “mandinga”, a “malícia” o que sobrepõe à força física, fazendo com que o companheiro tenha um momento de “vacilo” para poder agir.
Essa arte/esporte que é a capoeira vai muito além de um padrão definido por um sistema de golpes e regras prontas, existem ordens que devem ser respeitadas como a organização da roda com os instrumentos e a música. Porém, o capoeirista, às vezes, se deixa levar pela sua emoção e conforme sua intensidade de treinamento e conhecimento adquirido durante sua vida pode exceder o limite da dança e ocasionar alguma lesão ao outro participante, essas situações devem ser sempre tratada pelos professores com muita seriedade, pois a dança/esporte não pode nunca ser excedida e evoluir para algum tipo de agressão.
Falcão (2001) traz algumas possibilidades para tratar dos golpes, como fazer com que os alunos executem golpes sem se preocupar com modelo, após esta vivência pode se fazer em duplas sincronizando os movimentos executados anteriormente. As acrobacias que por ventura algum aluno saiba, também é válida e o mesmo pode ser vivenciado pelo restante da turma. Ainda, listar os movimentos de grupos de capoeira através anotações e elaboração de vídeos verificando os mecanismos que movimentam o jogo.
A construção de simulados identificando os movimentos, que por questão de integridade física, não poderão ser executados. Logo, essas são algumas das ações em que o professor deve ter com baliza para o entendimento da capoeira e seus respetivos golpes que são executados durante a roda de capoeira.
Já ao ser falado do som da capoeira, pode ser entendido como o cântico de capoeira que é característica evidente dessa arte/esporte. Nesse contexto, cita-se alguns dos instrumentos que são usados durante a dança, por exemplo, berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco, esses instrumentos enriquecem a arte da capoeira com suas sintonias que contagiam e estimulam os participantes e quem está assistindo, tornando a roda de capoeira um evento ímpar e lindo exaltando a cultura e estimulando sua prática. Ainda, existem particularidades com relação aos instrumentos que são usados na capoeira angola e na capoeira regional. Falcão (2001) ressalta que na capoeira regional, mestre Bimba, que é referência na capoeira no Brasil, retirou o atabaque, ele entende e argumenta que esse instrumento faz parte da religião afro e não tem relação com a capoeira. Porém o berimbau permanece sendo o principal instrumento da capoeira e isso é unanimidade entre os mestre de capoeira. Já na capoeira angola são usados três tipos de berimbaus, o gunga, o médio e o viola. O berimbau gunga tem som grave, o berimbau médio ou berra-boi possui som intermediário e o berimbau viola apresenta som agudo. O som desses, dita o rítmo do jogo acompanhado das músicas que são organizados como ladainha, chulas ou quadras e corridas.
Com esses instrumentos o professor de Educação Física pode trabalhar a questão da musicalidade e uma boa pesquisa desses instrumentos em livros e com próprios atuantes da área amplia a possibilidade de qualificar a aula. Os toques dos instrumentos e o canto das músicas vão encantar, com certeza, os alunos, e ainda, dentro das possibilidades, a confecção de alguns desses instrumentos com materiais simples de encontrar os instiga ainda mais pelo assunto.
O professor deve ensinar os principais cânticos e toques, como também podem ser inventadas cantigas com os alunos criando um dialeto comum entre eles. Conforme Falcão (2001) “nos castigos refletem os heróis do passado, o cotidiano dos escravos, através de metáforas, costumes e o cotidiano, outras possibilidades como encenar as antigas, executar cantigas mais clássicas, cantigas de roda ao som do berimbau, como também identificar e executar ao som e cantigas de um aparelho de som, atuar com palmas na batida do berimbau”. Então, com essas ações os alunos vivenciarão a musicalidade e seus elementos históricos e passam, portanto, a entrar no mundo da capoeira.
Ao entrar no assunto de roda de capoeira, entende-se que pode ser em pé ou sentados, dependendo da forma de jogo, há uma comunicação verbal, visual e corporal que acontece na expressão da musicalidade e no corpo. Há uma organização para o acontecimento da dança/esporte e essa organização, conforme Falcão (2001), inicia-se no “pé” do berimbau com o som típico que marca o início. Na roda, os jogadores se cumprimentam e iniciam após inclinação do berimbau em forma de sinal e então o “au” ou outro movimento acrobático é feito e assim tem início o jogo.
Já com o jogo em andamento, outros jogadores podem abaixar no “pé” do berimbau para iniciar outro jogo. Existe ainda a entrada no jogo chamada “compra do jogo”, nessa espécie de entrada o capoeirista vai até o “pé” do berimbau acocora-se e em um momento oportuno interrompe se posicionando na frente de quem ele quer jogar e juntos vão ao “pé” do berimbau. Assim, com o “au” inicia-se um novo jogo. Para terminar eles se cumprimentam e podem saudar o berimbau e voltar para à roda.
Momentos como esse faz com que o aluno coloque em prática toda a sua criatividade adquirida com seu mestre. Falcão (2001) destaca a importância de se privilegiar valores universais de condição humana na roda de capoeira. O respeito, a cooperação, a responsabilidade e a solidariedade são essenciais para o andamento da roda. Na roda de capoeira os atuantes devem se revezar em seus papéis.
O professor deve possibilitar a passagem pelo jogo, pelos instrumentos e pelo canto e palma na roda, assim o indivíduo experimenta todas as vertentes da roda se sentindo integrante efetivo destes acontecimentos. Mas, não deve ser algo forçado, mas, sim prazeroso e espontâneo. A roda pode acontecer com apenas um pandeiro ou um berimbau e um pandeiro ou só com palmas.
O professor vai criando formas dentro das possibilidades de recursos e materiais, sistematizando o ensino e oportunizando aos alunos a experimentação e a aprendizagem da capoeira.
6. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desse artigo foi realizado um estudo de caráter quantitativo e qualitativo com características descritivas, o qual foi coletado dados através de questionários. O estudo foi desenvolvido na rede municipal de ensino do município de Canoas-RS, sendo que cada uma das amostras foram realizadas diretamente nas instituições de ensino. Em um primeiro momento efetuou-se contato com as referidas escolas para esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa e após autorização da direção das mesmas, deu-se início ao processo de regulamentação do estudo. O questionário foi composto por 10 (dez) perguntas relacionadas ao conteúdo capoeira e as metodologias de ensino, e teve por objetivo geral identificar se a mesma é desenvolvida pelos professores nas aulas de Educação Física nas escolas públicas no ensino fundamental e médio. Os dados obtidos foram analisados e apresentados por meio de frequências e percentuais. Os critérios de avaliação levaram em consideração as características dos alunos das diversas faixas etárias no que diz respeito aos aspectos do desenvolvimento motor e socioafetivo.
Segundo Gallahue e Ozmun (2005), as crianças entre 06 e 10 anos apresentam de modo geral crescimento mais estável, fato que possibilita um conhecimento maior de suas capacidades motoras e consciência corporal e favorece relativa segurança para a realização de tarefas e aquisição de novas aprendizagens.
Quanto aos aspectos socioafetivos, Freire e Scaglia (2003) relatam que essa fase da vida desses escolares é marcada pela transição do egocentrismo, observados na primeira infância, para a vivência de situações em grupo, ou seja, nesse período as crianças vão gradualmente apresentando maior interesse pelo contexto coletivo e passam a compartilhar habilidades, sentimentos e linguagens que acabam por facilitar o estabelecimento de regras de convívio e aquisição de valores morais.
Portanto, foi entendido que tais particularidades, juntamente ao crescente interesse desses alunos em socializar coletivamente suas habilidades, se constituam em características facilitadoras da abordagem de conteúdos como a capoeira.
7. CONCLUSÃO
A capoeira tem uma enorme carga histórica sendo modificada e adequada ao longo dos anos conforme sua prática e difusão pelo Brasil, isso vem desde a sua criação pelos escravos em território brasileiro, passando ainda pela liberação de sua prática somente em academias até a forma que se conhece e prática hoje em dia.
Ainda, observamos que atualmente o governo desenvolve apoio com a Lei de diretrizes e bases da educação nacional, logo, deve-se então criar mecanismos que ampliem os esforços para um investimento seguro na cultura de origem africana, bem como é entendido, que como futuro profissional de Educação Física, nosso sistema educacional é falho e possui muitas lacunas e brechas no que se refere ao desenvolvimento social dos educandos, por não tratar com a devida atenção a fase em que estes alunos se encontram na escola, é justamente nessa fase que se constroem a identidade e valores.
Nesse contexto, foi identificado que a capoeira não é ensinada na maioria das aulas de Educação Física, do ensino fundamental e médio, da Rede Estadual e Municipal de Canoas-RS, e apesar de todos os professores de Educação Física reconhecerem a importância de seu ensino, ainda não há um projeto consolidado no sentido dessa implantação. Isso se dá pelo fato de falta de formação inicial e continuada suficientemente para ensinar tal manifestação cultural.
Sendo assim, a Educação Física pode e deve apresentar o esporte na perspectiva de formar os alunos para vida e nesse sentido a arte da capoeira se enquadra perfeitamente, com isso, os alunos possam ser transformadores potenciais de uma sociedade que supere toda forma de discriminação e preconceito.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
FALCÃO, J. L. C. capoeira. In: KUNZ, E. (org). Didática da Educação Física. 2ªed. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2001, p.55-94
BARROS, K. F. capoeira na educação infantil: teoria do ensino e atividades práticas. São Paulo: Phorte, 2012. 216 p.
SILVA, P. C. C. A educação física na roda de capoeira: entre a tradição e a globalização. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
SOUZA, A. A. R.; OLIVEIRA, A. A. B. Estruturação da capoeira como conteúdo da Educação Física no ensino fundamental e médio.
SANTOS, L. J. M.; BARROS, L. O. O histórico da capoeira: um curto passeio da origem aos tempos modernos. Revista Digital Buenos Aires, Ano 4, nº 15, agosto de 1999.
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003
MENDES, M. F. capoeira na Educação Infantil. Trabalho de Conclusão de Curso - (Graduação)
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2005.
FREIRE, J. B.; SCAGLIA, A. J. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003.
Artigo apresentado em outubro de 2022 ao Curso PROFOP – R2 – ED. FÍSICA – FABRAS, como requisito parcial à obtenção do título de segunda Licenciatura.
Luís César da Silva Gonçalves, aluno do curso PROFOP-R2 Ed. Física – FABRAS.
Publicado por: Luis Cesar da Silva Gonçalves
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