Uma Voz aos Animais: Os direitos dos animais nas ondas do rádio

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1. Introdução

É crescente, na atualidade, a atenção dada aos direitos dos animais, principalmente pelo ativismo de muitos grupos defensores destes ideais, nos quais eu me insiro. Sabemos que os animais são seres sencientes, ou seja, eles são dotados de sistema nervoso muito parecido ao nosso, o que os capacita estabelecer a relação entre as ações externas que seus corpos experimentam e os mais diversos sentimentos e sensações, como dor, tristeza, medo, angústia etc.

Diz-se de organismos vivos que não apenas apresentam reações orgânicas ou físico-químicas aos processos que afetam o seu corpo (sensibilidade), mas, além dessas reações, possuem um acompanhamento no sentido em que essas reações são percebidas como estados mentais positivos ou negativos. É, portanto, um indício de que existe um eu que vivencia e experimenta as sensações. É o que diferencia indivíduos vivos de meras coisas vivas. “Senciência” (CUNHA, 2008).

Assim, percebemos que os animais não são objetos, eles não podem ser manuseados e submetidos a qualquer tipo de trato, uma vez que sentem tudo e sofrem as consequências, tanto físicas quanto psicológicas. Não temos o direito de explorá-los, ou seja, submetê-los a uma relação predatória, na qual nosso benefício é conquistado à custa do prejuízo deles. Os animais pertencem ao mundo tanto quanto nós, são nossos companheiros de jornada, e por isso devemos estabelecer com eles relações de parceria, onde todos saiam ganhando. E é essa consciência que queremos passar adiante, a todas as pessoas, para que possam repensar e reformular sua relação com os animais, de modo que a eles seja concedido seu direito natural à vida e à liberdade.

Para cumprir esse objetivo de disseminação de consciência e respeito, elaborei um programa de rádio que tratará, em cada edição, de um tema diferente dentro do assunto “direitos dos animais”. Abordarei tanto questões em voga na atualidade, como rodeios, comércio de animais, experimentação, vegetarianismo, quanto temas menos falados, como equinos usados como meio de transporte e animais presos em gaiolas e aquários.

Num mundo cada vez mais tecnológico e comunicativo, onde as notícias nos chegam por todos os lados e a todo momento, as pessoas precisam de uma mídia alternativa e isenta, sem vínculo com empresas que tenham o poder de interferir no conteúdo veiculado. Só assim as pessoas poderão realmente saber o que acontece no mundo e, a partir desse conhecimento, se posicionar. Muitas situações de animais maltratados não chegam ao conhecimento do grande público, pois poderosas empresas multinacionais costumam estar por trás dessas situações ou ter algum vínculo publicitário com as empresas responsáveis, e exercem grande pressão no sentido de não deixarem “vazar” as informações. É o que ocorre, por exemplo, no Mercado Central de Belo Horizonte, onde existe um comércio de animais há anos combatido pelos ativistas da cidade, devido às péssimas condições em que bichos de várias espécies são mantidos. Os grandes interesses por trás desse comércio não permitem a divulgação dessa realidade, e não é raro repórteres serem agredidos e terem suas câmeras quebradas quando tentam registrar os maus-tratos.

Assim, pretendo criar com meu programa um canal seguro de informações, levando à população a realidade dos animais para – como muitas vezes é dito no meio do ativismo animal – “dar voz àqueles que não podem falar”. Essa é uma citação inspirada num poema do livro Poems of Experience, da escritora americana Ella Wheeler Wilcox, chamado The Voice of the Voiceless.

I am the voice of the voiceless;

Through me the dumb shall speak,

Till the deaf world’s ear be made to hear

The wrongs of the wordless weak.

From street, from cage, and from kennel,

From stable and zoo, the wail

Of my tortured kin proclaims the sin

Of the mighty against the frail. (WILCOX, 1910) 1

O poema também foi fonte de inspiração para o nome que dei ao programa, Uma Voz aos Animais: estarei tratando dos direitos dos animais em um programa de rádio, meio de comunicação que tem como matéria essencial o som, a voz.

2. Justificativa

Os animais são seres sencientes e, por isso, precisam receber tratamento adequado para que possam manter a boa saúde e a qualidade de vida. Eles merecem uma vida digna e muitos têm esse direito negado pelo homem, que os explora de diversas formas para obtenção de lucro. Grande parte dessa realidade não é conhecida pela maioria da população, e isso precisa ser mudado, uma vez que a conscientização é o primeiro passo para a modificação da realidade.

Um programa desse tipo mostra para o radialista como ele tem nas mãos o poder de educar e contribuir para uma sociedade melhor, disseminando conhecimento simples, mas de grande valor, através do seu meio de trabalho. Para a Comunicação Social, é importante sair desse lugar muitas vezes comercial e interesseiro e buscar um objetivo nobre, de mudança das mentalidades, de transformação do mundo em que vivemos e das vidas que nos rodeiam.

3. A questão animal

3.1. Luta pelos direitos dos animais: o combate ao especismo

O homem interage com os animais desde o início de sua vida na Terra. A convivência começou como uma relação de caça e disputa de território, mas por volta de 11 mil anos atrás, teve início a domesticação de algumas espécies. Gradualmente, a natureza da relação foi se transformando e os animais passaram a ocupar vários âmbitos da vida humana como companhia, guarda, meio de transporte, alimentação e experimentos. Em várias comunidades, ocorreu até mesmo a divinização de certas espécies.

Com o passar do tempo, a complexificação das sociedades e o desenvolvimento das ciências, foi surgindo uma forma de ver o animal como um bem disponível ao homem para qualquer serventia. Essa ideia assentava-se em correntes de pensamento como a perspectiva antropocentrista grega, a interpretação da Bíblia e, principalmente, a filosofia de René Descartes. Segundo ele, apenas a presença da razão determinava no ser a existência de uma alma, que, por sua vez, permitia a ocorrência da sensibilidade. Essa grande valorização da racionalidade está resumida na frase “Penso, logo existo”, cunhada por Descartes e símbolo de sua teoria. Apenas o pensar, o uso da razão, permitia ao indivíduo a absorção de conhecimento e a certificação de sua existência.

O “cogito ergo sum” (penso, logo existo) é a constatação cartesiana de que tudo que vejo e imagino pode, eventualmente, inexistir ou ser falso. Mas só posso ser enganado existindo. Vale dizer, “se eu deixasse de pensar, não haveria prova alguma de minha existência”. Para Descartes, só os homens possuiriam mente (leia-se: alma). Mesmo que um cão esperneasse ao ser dissecado vivo, não deveríamos levar em conta sua reação, pois os animais seriam apenas máquinas (automata, dizia), incapazes de sentir dor ou prazer, assim como um relógio. Se o animal reage como quem sofre é porque se trata de uma máquina mais sofisticada, feita por Deus; não apenas um relógio, feito pelo homem. Com o velho artifício da alma, Descartes construiu tanto um sustentáculo teórico para a singularidade humana, quanto uma justificativa para os cada vez mais freqüentes experimentos com animais. (RODRIGUES, 2006)

Assim, apenas os humanos eram os seres vivos com o poder de experimentar sensações e sentimentos, não havendo então problema algum em utilizar os animais e todo o restante da natureza de qualquer modo que se desejasse. Essa corrente filosófica tomou grandes proporções e forneceu a racionalização para justificar o modo exploratório como o homem trata o animal, utilizando-se dele para se alimentar, se vestir, se locomover e obter lucro, seja na sua exposição, no seu uso para experimentos ou para espetáculos.

Apenas no século XX é que surgiram correntes de pensamento culminando na formação de uma nova visão sobre a existência dos animais, seu papel na Terra e sua relação com a humanidade. Surge então a discussão sobre os animais enquanto sujeitos de direitos. Não são seres humanos, mas são seres vivos, tendo assim direito à vida e ao não-sofrimento. Eles não podem comparecer ao cartório e responder em juízo, então se encontram na mesma situação das pessoas juridicamente incapazes, que são amparadas pela representatividade. Desse modo, os humanos têm o papel de protegê-los e fazer valer seus direitos.

A questão aqui não é saber se somos capazes de falar ou de raciocinar, de legislar e assumir deveres, mas se somos passíveis de sofrimento, se somos seres sensíveis. Nesta hipótese a capacidade de sofrimento e de ter sentimento são as características vitais que conferem, a um ser, o direito à igual consideração. (CARDOZO, 2006)

Consta aqui o princípio da igualdade entre as espécies, que coloca homens e animais no mesmo patamar, seres com direito à vida, à integridade de seu corpo, ao livre desenvolvimento de sua espécie e ao não-sofrimento. Os animais não estão separados em níveis pelo poder de raciocínio, como queria a filosofia cartesiana, mas sim unidos pela sua capacidade de vivenciar dor e prazer, a chamada senciência. Peter Singer, filósofo e grande nome da causa animal no mundo, afirma que é este o limite a ser levado em conta para atribuição de um valor moral às criaturas, e não características como o poder de raciocínio e o uso de uma linguagem.

Considerar o outro um ser inferior, indigno da vida e de qualquer direito, apenas por ele não ser da espécie humana, é o comportamento que Richard Ryder denominou “especismo”, em 1973. O psicólogo inglês relata que criou o termo fazendo uma associação com o sexismo e o racismo, formas de pensamento igualmente discriminatórias que julgam os outros como inferiores com base na aparência, dissimulando a “grande similaridade entre todas as raças, sexos e espécies”.

O especismo é um pensamento criado pela espécie dominante para justificar a exploração das demais, renegando os interesses dos seres dessas espécies a fim de buscar benefícios para o homem. Assim, o ser humano se julga no direito de infligir sofrimento e morte aos animais para deles obter alimento, vestimenta, diversão ou lucro, baseando-se na crença de ser superior a eles.

Na luta contra o especismo, não se parte da premissa de que os animais sejam iguais aos humanos, nem de que os dois tenham os mesmos direitos. O que se almeja é o entendimento de que todos devem ter seus interesses básicos considerados e atendidos. Os animais não têm interesse em votar ou se casar, por exemplo, mas têm interesses comuns aos homens de se alimentar, poder se locomover e explorar seu ambiente, não ser forçado a trabalhos, não sentir dor, entre outros.

O conceito que se tem do animal, a partir do pensamento cartesiano, é especista, uma vez que exclui as espécies não humanas do âmbito moral que valoriza a vida, e serve de base para justificar a exploração dos animais sem produzir culpa. O motivo alegado, de que eles não sentem dor, é facilmente combatido nos dias de hoje com a evolução da biologia, da etologia e da medicina veterinária. Há menos de um ano, neurocientistas do mundo todo assinaram um manifesto no qual reconhecem que muitos animais, incluindo todos os mamíferos e aves, têm consciência. Segundo Philip Low

Sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos. (PIRES, 2012)

A concepção cartesiana fica cada vez mais contraditória, agora com aval da comunidade científica, através desse manifesto, e a defesa dos direitos dos animais ganha força. Está cientificamente provado que os animas compartilham com os humanos a experimentação da dor, a despeito de um pensamento arbitrário baseado na crença da existência ou não de alma e da relação dessa com a razão e a sensibilidade.

Uma vez assentada a convicção de que os animais sofrem, é preciso urgentemente que se repense a forma como os tratamos. Já não é possível aceitar que seres sencientes e, como dito no manifesto, conscientes, passem a vida inteira confinados, aterrorizados, explorados e, por fim, sejam levados à morte.

Não há nenhuma justificativa para não se aplicar o princípio da igualdade aos animais não humanos. Se um ser vivo sofre, não há por que deixar de levar em conta este sofrimento. (TAVARES, 2006)

3.2. O bem-estar como um interesse dos animais

O bem-estar animal tem se tornado, cada vez mais, um objeto de estudo. Acredita-se que a observação do comportamento animal é o melhor caminho para analisar o grau de bem-estar presente. Nessa lógica, Broom e Fraser (2010) elaboram um guia abrangente sobre comportamentos de diversos animais, apontando em cada situação o nível de bem-estar.

Muitas pessoas decidem comprar um animal de companhia para si ou para um filho e, então, descobrem que o ser complexo que trouxeram para casa requer uma grande variedade de cuidados e apresenta reações e habilidades com que talvez não sejam capazes de lidar. Os proprietários talvez atinjam o ponto de ter de lidar com comportamento difícil e embaraçoso antes de decidirem consultar alguém ou comprar um livro que possa ajudá-los. Sinais no comportamento podem informar que um gato está doente ou que seu bem-estar está comprometido por alguma outra razão, que um peixe está quase morrendo por falta de oxigênio ou por ser presa de outro peixe, ou que um cão ou cavalo interpretou os vários sinais que recebeu como uma indicação clara de que ele pode fazer o que quiser, em vez do que o proprietário quer que ele faça. (BROOM; FRASER, 2010, p. 4)

Segundo a tradutora do livro para o português, Profa. Dra. Carla Forte Maiolino Molento,

Esta obra sintetiza da melhor forma o esforço de centenas de pesquisadores em mais de mil publicações relacionadas a uma mesma questão: como os animais se comportam em relação ao que fazemos com eles e como podemos melhorar sua qualidade de vida? (BROOM; FRASER, 2010, p. ix)

A professora demonstra grande sensibilidade à causa animal, explicando como, ao longo dos tempos, prejudicamos a vida dos animais nos diversos tipos de relações com eles. Ela cita a simplificação: nós os reduzimos a objetos, limitamos seu comportamento e ignoramos seu sofrimento; tornaram-se a matéria para nosso sustento nas mais diversas áreas. Em resposta a isso, apresenta o uso da ciência nos estudos sobre bem-estar animal e na disseminação da nova consciência para que seja possibilitada uma mudança de mentalidade e atitude com relação aos animais.

Essa mudança é refletida, por exemplo, na observação que já ocorre no meio acadêmico da necessidade de adequação do modo linguístico como tratamos a relação entre pessoas e animais domésticos. O termo “posse” mostra-se incoerente com a consciência de que estamos falando de vidas, de seres sencientes, e não de objetos.

O emprego do termo “posse” apresenta uma ideologia implícita em sua semântica: o animal ainda continuaria a ser considerado um “objeto”, uma “coisa”, que teria um “possuidor” ou “proprietário”, visão que consideramos já superada, sob a ótica do direito dos animais, visto que o animal é um ser que sofre, tem necessidades e direitos; (SANTANA; OLIVEIRA, 2004, p. 2)

Quanto à questão moral, Broom e Fraser acreditam que houve uma mudança na mentalidade das pessoas quanto ao julgamento que fazem da situação dos animais. A partir dos anos 80, muito se evoluiu nos estudos sobre bem-estar animal, com o desenvolvimento de técnicas precisas para obter dados e elaborar conclusões. Esse crescimento do poder científico na avaliação do bem-estar levantou a questão do julgamento moral, que leva em consideração o sofrimento aos quais os animais estão submetidos nas situações estudadas. A partir do conhecimento da complexidade dos animais, do seu comportamento diversificado e da similaridade entre algumas espécies e o homem, muitos passaram a ser mais exigentes na consideração do que é aceitável ou não em relação ao grau de bem-estar animal. Também houve uma ampliação nos motivos vistos como causadores de baixo bem-estar. Primeiro, levava-se em conta apenas a dor; posteriormente, passou-se a considerar a situação de sofrimento, como fome e outras carências.

4. O rádio e seu poder conscientizador

O primeiro tipo de uso do rádio no Brasil foi educativo. Ao presenciar a primeira transmissão, o pai da radiodifusão no país, Roquette-Pinto, afirmou: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo". Ele criou, em 1923, a primeira rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que tinha uma razão cultural e educativa. Isso serviu como fonte inspiradora para ações do governo, como o Projeto Minerva, já na década de 70, que objetivavam um ensino à distância, disseminando instrução e conhecimento.

O rádio tem o poder de levar seu conteúdo para os lugares mais diversos e distantes, e sua escuta pode ser feita de várias maneiras, seja no aparelho em casa, no carro, pelo celular na rua etc. Diferentemente da televisão, seu uso não é definido nem limitado pelo poder aquisitivo, no sentido de que todas as pessoas têm acesso aos mesmos canais, às mesmas programações; o que define qual o programa que será escutado é apenas a escolha de cada pessoa. Por isso, o rádio é considerado o meio de comunicação mais democrático.

Sendo um dispositivo midiático, o rádio não apenas transmite informações, mas estabelece um processo comunicacional que conecta o profissional do rádio e os ouvintes, estabelecendo uma produção e uma troca de sentidos.

Se a mídia for priorizada enquanto aparato sócio-técnico (instância de determinação), isso nos leva a minimizar a intervenção dos interlocutores, abandonando o processo comunicativo. [...] A comunicação não se resume aos meios de comunicação ou a uma função transmissiva, mas compreende a constituição dos discursos e o espaço da interlocução. (ANTUNES; VAZ, 2006, p.43-44)

Nessa troca de sentidos, o público assimila o que ouve e traz para sua própria realidade específica o que lhe foi passado, interpretando a informação a que teve acesso de acordo com sua personalidade e o mundo ao seu redor. As novas informações se somam ao conhecimento prévio e podem se complementar ou se confrontar, levando a uma busca por mais ideias e novas significações, e esse processo pode mudar, de diversas maneiras, a forma como o ouvinte se relaciona com o mundo.

Outro ponto fundamental do rádio, enquanto dispositivo midiático, é seu poder de agendamento, ou seja, de pautar os assuntos que serão discutidos a cada dia. Com isso, a mídia não simplesmente fornece a pauta para o posicionamento da opinião pública, mas se configura como lugar de construção das relações de agendamento.

A mídia, tal qual uma caderneta onde são anotados temas, oferta diariamente – na televisão, no rádio, no jornal, na internet – o “prato” (ou a “ordem do dia”) que constituirá alimento de uma conversação social. [...] Agendar significa instaurar processos de convocação e identificação dos sujeitos sociais para uma intensa prosa social e pública. O agendamento implica não apenas dar uma visibilidade (hierarquizada) a determinados acontecimentos, mas ampliar uma certa visibilidade e conferir um reconhecimento público a determinadas práticas. (ANTUNES; VAZ, 2006, p.49)

Assim, veicular um programa temático na mídia possibilita não só levar ao conhecimento do público o tema em questão, mas também criar um âmbito comunicacional no qual aquele tema será discutido em vários níveis. Esse caráter é ainda mais acentuado no rádio, que, devido à sua grande acessibilidade, consegue promover processos comunicacionais de forma mais abrangente. Portanto, é o meio ideal para falar sobre os direitos dos animais, uma vez que o objetivo do programa é atingir o maior número possível de pessoas, de modo a promover trocas dialógicas de sentido que venham a disseminar essas ideias para a população de um modo geral.

4.1. Educomunicação

O uso do rádio na educação justifica-se por sua característica de produzir estímulos à imaginação e à interpretação própria, considerados pelo Cognitivismo como de suma importância para a aprendizagem (Ribas e Silva, 2007). O indivíduo não é apenas um receptor, como no modelo tradicional da sala de aula, mas sim um sujeito produtor de sentido e reconstrutor da informação. O rádio não seria um substituto ao ensino tradicional, mas um complemento, um auxiliador na fixação e valorização do conteúdo ensinado, além de também cumprir papel importante fora da sala de aula.

Portanto, o rádio pode ser utilizado com sucesso na educação formal, se for empregado como um elemento de apoio, a fim de facilitar o aprendizado e de melhor fixar o conteúdo. [...] Fora dos limites escolares, o rádio ocupa uma posição de disseminador da informação para as camadas sociais excluídas, promovendo a inclusão de analfabetos e o despertar do senso crítico em grupos sociais menos favorecidos. (RIBAS; SILVA, 2007, p.41)

Esses estímulos à imaginação são explicados por Júlio Pinto através da semiótica, ao demonstrar que os sons produzem sensações em nosso corpo e, desvinculados de imagens, têm o poder, eles próprios, de produzir significação. Ao ouvirmos o rádio, nossa mente é tomada pelo som e nada mais, não há a interferência de imagens – ditas por Pinto como sabidamente autoritárias – como nos outros meios, o que nos permite produzir nossas próprias associações.

Esse me parece ser o papel primordial do som na experiência. Tem-se, na teoria semiótica, que uma sensação, como sensação, é meramente a qualidade material de um signo mental. Ora, se o som é testemunha, se ele diz, ele é o instaurador da qualidade da sensação por meio da força bruta de sua insistência em meus ouvidos, dedicados, junto com meu cérebro, a essa experiência auditiva isenta de imagens externas autoritárias e, por isso, formatadoras de percepções. Se esse som é puro som, a sua presença mental é singular e avassaladora, aí sim, capaz de produzir imagens livres em minha mente. Apenas por isso já seria o caso de se dizer que, em tais aspectos, esse meio sonoro é a mídia por excelência. (PINTO, 2007)

O poder educativo do rádio já é explorado há muitas décadas, como se viu, desde que Roquette-Pinto inaugurou a Rádio Sociedade. Porém, estudos mais elaborados sobre o assunto, dos quais surgiu o conceito de Educomunicação, não são antigos, datando do início do século XXI. Tal conceito representa a problematização da relação entre comunicação e educação, uma visão de uma nova realidade na qual as duas áreas se unem para desenvolvimento de novos projetos que têm baixo custo e trazem grande benefício à população. O meio de comunicação atuante nesse contexto é o rádio, devido às suas características de fácil acesso, tanto no que se refere aos custos de possuir o equipamento quanto à distância dos centros transmissores; sua prática dinâmica e de aprendizado mais simples; seu incentivo às ações cognitivas, base do aprendizado etc.

Num cenário em que é pensada e aplicada a educomunicação, o meio aparece como propiciador e facilitador do processo educacional horizontal, dialógico, que não visa a simples transmissão de ideias, mas sim uma construção conjunta de uma nova visão de mundo; isso é ainda mais perceptível quando se trata de educação ambiental. Nesse contexto, os interlocutores conhecem os problemas existentes e se tornam aptos a discutir entre si, analisar a situação e buscar soluções, o que pode resultar numa tomada de novas posturas e na disseminação de suas novas opiniões para outros.

Como em um processo dialógico, a educação ambiental não deve ser encarada como uma transferência de conhecimentos, mas sim de um saber que é construído junto com os envolvidos. Não se deve simplesmente transferir valores do educador para o educando, mas proporcionar a este uma consciência ecológica crítica que faz nascer um conhecimento construído a partir desta interação. Chamamos de “consciência ecológica crítica” a capacidade do cidadão, de posse das informações que recebeu através da educação ambiental, de discernir, analisar, compreender, posicionar-se e se mobilizar na preservação do meio ambiente, na utilização de produtos biodegradáveis, na disseminação da educação ambiental, etc., por própria consciência desta necessidade e não simplesmente por modismo ou por uma sugestão de outrem. (VOLPATO, 2008, p. 10)

Assim, a questão animal, inserida na chamada questão ambiental, tem um poderoso aliado no rádio educativo, por ser possibilitador de um processo dialógico que abrange uma ampla gama de interlocutores: o público de rádio, com sua enorme diversidade de locais, classes, hábitos e conhecimentos.

O ativismo animal clama por uma disseminação ampla e consciente de seus ideais para que logo seja possível findar tantos e tamanhos sofrimentos a que são submetidos os animais no planeta. A educomunicação aparece como uma alternativa promissora para o atendimento dessa necessidade, a julgar pelo seu grande potencial conscientizador.

4.2. Rádio UFMG Educativa

A rádio que irá veicular o programa, conforme acordado com o coordenador Elias Santos, será a UFMG Educativa. Essa rádio, fundada há sete anos, tem sua programação alicerceada em três pilares, conhecidos como “o tripé da rádio”. São eles a visibilidade, a alternativa e a formação complementar.

A rádio se propõe dar visibilidade às produções acadêmicas em pesquisas e projetos e veicular as ideias e os novos conhecimentos que circulam na universidade. Seus programas sempre contam com a participação de professores, pesquisadores e estudantes, seja à frente da produção ou apenas como fontes. Uma Voz aos Animais segue essa linha, uma vez que é produzido por uma aluna da universidade, orientado por uma professora, a Dra. Miriam Christus, e tem como fontes, nas duas edições já produzidas, a professora da Escola de Veterinária, Christina Malm, e a funcionária da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Mailce Mendes.

A UFMG, sendo uma instituição pública de ensino, é utilizadora de recursos federais, e por isso tem a obrigação de relatar suas ações à sociedade para que essa fique ciente do emprego adequado desses recursos. A UFMG Educativa ajuda a cumprir esse papel, na qualidade de meio de comunicação, veiculando programas que levam produções das mais diversas áreas ao conhecimento do ouvinte. Direito, História, Enfermagem, Veterinária, Medicina, Filosofia, Educação Física, Letras, enfim, muitos cursos da universidade têm um programa na rádio, pensados e produzidos por professores e alunos de cada área.

A alternativa é o pilar com o qual Uma Voz aos Animais mais se identifica, por ser justamente um programa com conteúdo inédito nas rádios de BH e por tratar de um assunto tão pouco falado na mídia em geral. O programa se propõe levar ao público um tipo de informação a que esse não tem acesso normalmente, seja em outras emissoras ou em outros meios. De modo geral, essa informação provém de uma realidade patrocinada por grandes poderes da sociedade, grandes empresas e interesses políticos que utilizam sua força para ocultar, ao máximo, suas ações, uma vez que têm consciência de que a opinião pública tende a se revoltar quando vêm à tona os casos de maus-tratos aos animais.

Assim, é muito difícil que o grande público tenha conhecimento desses fatos apenas utilizando os meios de comunicação e interagindo com o que é veiculado. É preciso pesquisar, buscar informações sobre o tema, e, para isso, é necessário ter um conhecimento prévio, uma noção de que, por trás de (ou mesmo, em) alguns fatos do nosso cotidiano e da nossa vida, existe a exploração animal. E é isso que o programa almeja na sua realização – fornecer à população o conhecimento de toda essa realidade, instigando-a a se aprofundar e obter, a partir daí, uma reflexão que irá criar novos valores e, consequentemente, novas atitudes e posicionamentos.

Já a formação complementar configura-se na oportunidade que é dada ao estudante de poder valer-se dos conhecimentos e ideias adquiridos na graduação para produzir material prático; no caso, um programa de rádio. Nessa produção, a teoria aprendida poderá ser colocada em prática para elaboração do texto, a escolha da linguagem, o tratamento do interlocutor, a transmissão do conteúdo etc. Além disso, também são propiciadas a realização das tarefas de produção, edição, redação e locução, antes feitas em oficinas do curso, e agora num veículo real, transmitido para o público externo.

Para adequação ao sistema de programação da UFMG Educativa, a estrutura do programa sofreu algumas alterações. Inicialmente, ele teria a duração de cinco minutos, com inserção de sonoras de um entrevistado, e uma música ao final. Porém, em conversa com o coordenador Elias Santos, percebeu-se que, para ser um programa semanal, teria de ter a duração média de quinze minutos, pois, na rádio, apenas os programas que vão ao ar diariamente têm a duração de cinco minutos. Essa mudança provocou outras, como a necessidade de dois entrevistados por edição do programa, ao invés de apenas um. Também foi substituída a inserção de somente uma música por uma dupla de obras artísticas, como uma música e um conto, por exemplo, ou outro tipo de literatura e qualquer obra que possa compor a parte artística de cada programa.

5. O Programa

A estrutura do programa é pensada levando-se em conta a fluidez necessária no meio radiofônico, de modo que passe informações completas, mas de fácil assimilação pelo público, que sejam interessantes e úteis. Tem uma média de 15 minutos de duração, divididos em locução minha, sonora de entrevistas – duas por programa –, uma música e um texto literário. A locução situa o ouvinte com relação ao tema e conduz o programa, apresenta os entrevistados e as inserções artísticas (música, poema, conto etc.).

O programa é direcionado ao público em geral, uma vez que pretende falar às pessoas que não conhecem a realidade de exploração a que muitos animais são submetidos, e essas estão presentes em todos os grupos sociais. Os ouvintes de todas as idades, classes e ocupações, ao saberem desses fatos através do programa, terão a oportunidade de repensar alguns hábitos que direta ou indiretamente contribuem para essa realidade. Assim, a linguagem utilizada é a jornalística padrão, sem gírias nem palavras eruditas, seguindo um texto claro e explicativo, próximo à fala cotidiana, para uma melhor identificação com os ouvintes. A linguagem é ainda leve e direta, para levar informação ao público sem entediá-lo.

Cada edição trará um tema diferente, ou dois correlatos, como o rodeio e o circo. Os temas que serão tratados podem ser divididos em cinco grandes áreas: exploração de animais domésticos, indústria alimentícia, utilização na moda, experimentação e entretenimento. Assim, abordarei, por exemplo, a questão dos equinos forçados a puxar carroças, pássaros presos em gaiolas e peixes em aquários, a condição dos animais em abatedouros, vegetarianismo e veganismo, o uso de pele de diversas espécies, cobaias de laboratório, shows com animais etc.

Os entrevistados são pessoas ligadas à área animal, como veterinários, representantes de ONGs, ativistas e protetores em geral, que conheci a partir da minha vivência da causa. São pessoas que vivem praticamente em função dos animais, muitas vezes deixando sua vida pessoal em segundo plano para lutar pelos direitos que entendemos ser tão inerentes à vida animal, mas que, para muitos, não existem. Essas pessoas, como eu, amam os animais, sofrem com toda a exploração que existe, mas conseguem segurar o lado emocional e relatar toda a triste situação da fauna no mundo, de modo claro e coerente, para poder levar ao público informações seguras.

Após a definição do tema a ser tratado, parti para a procura das fontes, selecionando, dentre os potenciais entrevistados, aqueles com maior envolvimento com o tema, com base em sua atuação prática e no conhecimento que têm a oferecer para a construção do programa. Para as duas primeiras edições, selecionei quatro dessas pessoas e as convidei.

O próximo passo foi a elaboração das pautas: pesquisei sobre os temas, o histórico, dados estatísticos atuais, as últimas notícias, o que tem sido discutido em locais específicos como fóruns e grupos de defensores, a opinião pública sobre fatos relacionados etc. A partir dessas informações, elaborei perguntas que norteariam a conversa com os entrevistados, de modo a abordar tanto as ações promovidas por eles, relativas ao tema, quanto as informações contextuais e opiniões que têm sobre ele.

As inserções artísticas são músicas ou obras literárias que encontro em minhas pesquisas que tenham alguma relação com o tema tratado em cada programa. Existem muitos artistas que se identificam com a causa animal e usam sua arte para tentar sensibilizar as pessoas. Esse é um ato muito válido, pois essas pessoas são formadores de opiniões, e é ótimo que utilizem sua posição pública para tentar mudar a realidade valendo-se do potencial crítico e transformador da obra de arte.

Com o conteúdo em mãos, utilizei meus conhecimentos sobre o meio radiofônico (tanto a prática de produção, locução e edição, quanto a teoria de redação, a linguagem, o alcance, o direcionamento para o público, etc) para planejar e produzir o programa, transmitindo, da melhor forma possível, as informações e ideias acumuladas nas entrevistas e também os conhecimentos que adquiri em pesquisas e no contato com outros defensores, seja na internet, seja em manifestos nas ruas.

5.1. Programa 1: Animais abandonados

5.1.1. Proposta

A questão dos animais domésticos vem sendo cada vez mais discutida no âmbito de uma preocupação com a necessidade de se melhorar a relação entre homens e animais. Os maus-tratos e o abandono são os dois grandes problemas pesquisados.

Os animais, assim como todo ser vivo, têm direito a uma vida saudável e feliz, vivendo em harmonia com o ambiente que os rodeia. Para tanto, são necessários cuidados básicos de alimentação e higiene, o que passa pela responsabilidade ou guarda responsável. Entretanto, tem-se observado abandono, maus tratos e uma superpopulação dos animais domésticos, tornando-se um problema de saúde pública em todos os municípios brasileiros. (FERREIRA, 2010, p. vi)

Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que no Brasil existam 4 milhões de gatos e 10 milhões de cães abandonados. Só em Belo Horizonte, existem mais de 30 mil animais vivendo nas ruas, o que significa risco de maus-tratos, de atropelamento, de não ter o que comer, de não ter abrigo do frio ou da chuva, enfim, uma vida sem garantia nenhuma dos seus direitos.

Desse modo, a questão dos animais abandonados nas ruas apresenta-se como um tema fundamental a ser tratado em um programa de direitos dos animais.

5.1.2. Recorte

Para tratar da questão, destaquei três pontos a serem discutidos: a atuação das ONGs que capturam, tratam, abrigam e disponibilizam para adoção cães e gatos encontrados nas ruas; a adoção como alternativa à compra de animais, tendo esta uma face terrível que muitos desconhecem; e a castração como principal meio de combate ao grande número de animais nas ruas.

5.1.3. Métodos de trabalho

Realizei entrevista com a funcionária da FAFICH Mailce Mendes, presidente da recém-criada ONG BastAdotar, grupo que realiza o controle da população de gatos no prédio, na UFMG. Ela falou sobre a atuação da ONG, os procedimentos com os animais desde a captura até a adoção, os números do projeto, e sobre as vantagens da adoção em relação à compra, explicando que é um erro acreditar que os cachorros à venda são mais saudáveis que os cães tirados da rua.

Após essa sonora, entra uma complementação minha a respeito do malefício da compra de animas, na qual revelo a situação de exploração que muitas vezes acontece nos canis de criadores, onde os animais são mantidos presos ininterruptamente em gaiolas, apenas procriando, sem cuidados e sem a satisfação das necessidades básica da espécie, como socialização e exploração do ambiente.

Outra entrevistada para esse programa foi a professora da Escola de Veterinária da UFMG, Christina Malm, coordenadora do projeto AGHA e do projeto Castração, ambos integrantes do “Programa de Controle Populacional de Cães e Gatos e de Promoção do Bem-Estar Homem-Animal junto à população carente”, que promove a conscientização de famílias de baixa renda e a castração de seus animais.

Levei a ela todos os mitos sobre a castração – como o de que os animais precisam se reproduzir para viverem felizes – e pedi que explicasse os grandes benefícios que esse ato traz para todos. Na entrevista, a professora esclareceu a questão do sofrimento (ou não) do animal castrado, tirou dúvidas sobre se há uma idade certa para castrar, falou das vantagens para machos e fêmeas, e também para os tutores. Buscou mostrar que a castração, aliada a campanhas educativas junto à população de baixa renda, é o melhor caminho para diminuir o número de animais nas ruas. Após sua fala, volta a minha locução para dar o contato do Centro de Controle de Zoonoses de BH, onde é realizada a castração gratuita.

Nessa edição, a arte aparece primeiramente no conto “Hoje, resgatei um ser humano”, originalmente escrito pela americana Janine Allen, que tem como eu lírico um cachorro que vivia em um canil público e foi adotado por uma mulher. Ele conta a história do momento em que eles se conheceram, de como os dois se identificaram imediatamente e mostra que, naquele momento, os dois estavam sendo salvos. Já no final do programa toca “I Love My Dog”, de Cat Stevens, uma canção leve e doce que fala sobre a pureza de seu cachorro e dos benefícios de sua companhia. Tanto o conto quanto a música têm nesse programa a função de despertar no ouvinte uma afeição pelos animais domésticos, assim como sensibilizá-los para a situação de seres tão dóceis e inocentes vivendo no abandono.

5.1.4. Pauta das entrevistas

Para a elaboração dessa pauta, procurei dados sobre os animais abandonados em BH, além de informações sobre os projetos desenvolvidos na cidade e na UFMG referentes à adoção e à castração. Busquei referências atualizadas sobre as ações desenvolvidas por ambas as entrevistadas e elaborei perguntas de cunho diferenciado: para Mailce, diretamente sobre seu projeto, e, para Christina, específicas sobre a castração.

Título: Animais abandonados

TEMA: Programa sobre os projetos de adoção desenvolvidos pelas ONGs e a importância da castração no controle populacional de cães e gatos

Reportagem: Clarice de Oliveira

Fontes

- Mailce Mendes, presidente da ONG BastAdotar

- Profa. Christina Malm, projeto AGHA

ABORDAGEM

É cada vez maior o número de projetos de adoção que realizam feiras pela cidade buscando um lar para milhares de cães e gatos abandonados, que sofrem na pele o descaso e a crueldade do abandono. A castração entra nesses projetos como principal arma para evitar o aumento de animais nessa situação.

PERGUNTAS

Para Mailce Mendes:

  1. Como é o projeto?

  2. Há quanto tempo ele é realizado?

  3. Qual é a posição da diretoria da Fafich em relação ao projeto?

  4. Quantas adoções já conseguiram?

  5. Por que adotar, em vez de comprar?

Para Christina Malm:

  1. Qual é a importância da castração no controle populacional de cães e gatos?

  2. Quais são as principais vantagens, tanto para os machos quanto para as fêmeas?

  3. E as vantagens para as pessoas (tutores)?

  4. Há uma idade certa para a castração do animal?

  5. Alguns mitos:

  • Castração dói

  • O animal engorda

  • O animal fica bobo, lento, preguiçoso

  • O macho perde o interesse pelas fêmeas

  • A fêmea tem que dar cria pelo menos uma vez na vida

5.2. Programa 2: Animais em circos e rodeios

5.2.1. Proposta

Um dos grandes tipos de maus-tratos a que os animais são submetidos pelo homem em todo o mundo é a sua utilização em espetáculos, notadamente os circos e os rodeios.

Embora existam circos que utilizam apenas a presença humana, de artistas que, por livre escolha, aprimoram suas habilidades e levam seus corpos ao extremo em busca da arte, existem também aqueles circos que insistem em utilizar os animais, tirando-os de seu habitat e pondo-os em situações totalmente artificiais e estranhas a eles, tanto ambientais como comportamentais, submetendo-os a dolorosos treinamentos para que façam o que o público vê. Esses animais claramente não têm seus interesses levados em conta, o que denuncia o pensamento especista por trás dessas práticas.

Aceitar a manutenção de elefantes enclausurados em condições de total isolamento de seu ambiente social constitui uma atitude baseada em especismo. Por que não aceitamos essas condições para a nossa própria espécie, mas pagamos para ver em outra? (MOLENTO, 2008)

Esse pensamento também é facilmente detectado nos rodeios, eventos recorrentes pelo interior do Brasil, nos quais animais mansos são atormentados por instrumentos que os ferem, proporcionando assim o comportamento de pular e corcovear pela arena para que os peões possam “domá-los”.

A grande maioria das pessoas que compõe o público desses eventos não sabe dessa realidade dos bastidores, sequer imagina as atrocidades cometidas contra os animais. Por isso se faz imprescindível a abordagem desse assunto pelo programa de direitos dos animais, uma vez que esses espetáculos claramente infringem tais direitos.

5.2.2. Recorte

Para esse tema, dividi o programa em dois momentos, o primeiro para falar do circo e, o segundo, do rodeio. Nos dois casos, busquei mostrar os males sofridos pelos animais, mostrar todo o lado negro que esses espetáculos escondem, e defender que não precisamos disso para ter diversão e cultura.

5.2.3. Métodos de trabalho

Entrevistei dois dos maiores ativistas da causa animal de Belo Horizonte: Adriana Cristina Araújo, presidente do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, grupo de defesa animal que atua em várias frentes e conta com o apoio de mais de setenta ONGs; e Franklin Oliveira, ambientalista, dirigente da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal e responsável por diversos projetos e movimentos em defesa dos animais da capital.

Adriana é uma possível fonte para qualquer que seja o tema em um programa sobre direito animal (e certamente conversarei com ela para explorar outros temas). Nesse primeiro encontro, foi mais indicado falar sobre o circo, pois essa é uma das lutas nas quais ela está engajada no movimento, na tentativa da proibição do uso de animais em circo no Brasil. Ela já conseguiu alcançar essa vitória para Belo Horizonte, em 1999, quando estava à frente do Movimento Mineiro Contra Animais em Circos, que originou o atual grupo. Na entrevista, ela apresentou, através de uma fala clara e envolvente, os métodos dolorosos usados pelos adestradores, o destino comum dos animais após passarem a vida no circo – o abandono – além de combater a ideia dos animais como uma tradição do circo.

Franklin foi uma indicação de Adriana para falar sobre o rodeio, baseada na lembrança da participação dele no movimento que buscava a proibição dessa prática em Belo Horizonte, obtida em 1992. Ele falou dos equipamentos agressores utilizados nos rodeios para fazer os bovinos e equinos comportarem-se do modo desejado para que o espetáculo possa acontecer. Ele também questionou a ideia de tradição alegada pelos defensores do rodeio e afirmou a importância de as pessoas buscarem conhecer a realidade dos bastidores desses eventos.

As inserções artísticas nesse programa vêm para ilustrar cada um dos temas. A primeira é o conto “Tião, o Macaco Criança” do escritor Olegário Schmitt, que mostra a vida no circo na visão de um macaco filhote, ratificando o que foi falado por Adriana sobre os maus-tratos ao animal e a troca compulsória do seu habitat natural pela rotina do circo. A segunda é a música “Odeio Rodeio” de Chico César e Rita Lee, que, apesar de fazer uma crítica ao ambiente sertanejo como um todo, condena a exploração animal e contradiz a alegação de geração de renda para a população das cidades do interior, além de levar no título e em muitos versos o trocadilho que é o grito de guerra de todos os que combatem o rodeio.

5.2.4. Pauta das entrevistas

Na construção dessa pauta, informei-me sobre a proibição tanto de circos quanto de rodeios em cidades brasileiras, acessei um artigo jurídico sobre toda a ocorrência de maus-tratos nesses espetáculos e os crimes que isso constitui, busquei notícias e discussões para conhecer as opiniões da população acerca do tema. A partir disso, elaborei perguntas tanto sobre a situação dos animais quanto sobre a questão da tradição alegada por alguns, além de indagar sobre o aumento das proibições e da consciência das pessoas.

Título: Animais em circo e rodeios

TEMA: Programa sobre o uso de animais em espetáculos

Reportagem: Clarice de Oliveira

Fontes

- Adriana Cristina, presidente do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais

- Franklin Oliveira, dirigente da ONG Núcleo Fauna de Defesa Animal

ABORDAGEM

Muitos circos utilizam animais em seus espetáculos, atraindo o fascínio do público; o problema está nos bastidores, onde costumam ocorrer maus tratos e abusos para adestrar os bichos.

O rodeio é um evento típico de muitas cidades do interior do país. Os bovídeos, equinos e até mesmo caprinos utilizados na atração são atiçados de diversas formas para pularem na arena enquanto o peão está sobre eles.

PERGUNTAS

  1. Como costuma ser o treinamento dos animais de circo para que façam o que a plateia vê?

  2. Da onde vêm os animais dos circos, e para onde vão?

  3. Existe algum circo onde não haja maus-tratos?

  4. Produtores do circo defendem que os animas fazem parte da tradição do circo, e por isso devem continuar. O que você acha disso?

  5. O que é feito na hora do rodeio para os animais pularem e se contorcerem, uma vez que esse não é o comportamento natural de animais mansos?

  6. Existe a alegação de que o rodeio é cultura, e que provê renda e empregos para a região. O que você acha disso?

  7. Muitas cidades já proibiram o rodeio, e em muitas outras existem petições para tentar acabar com a prática. Isso reflete um aumento na consciência das pessoas sobre os maus-tratos?

6. Considerações Finais

No momento que vivemos, podemos notar o crescimento de uma consciência e uma sensibilidade em relação aos animais. À medida que aumenta o conhecimento por parte da população sobre a situação degradante e cruel a que os animais são submetidos, desenvolvem-se sentimentos de consternação e solidariedade, indignação e revolta. As pessoas passam a buscar mais informações a partir de casos específicos, fazem pesquisas e descobrem que não são fatos isolados: ficam sabendo que o tratamento cruel aos animais é comum e mesmo institucionalizado em vários setores. Esse choque de realidade desperta uma reavaliação de valores, de conceitos, de comportamento, que pode levar à mudança de hábitos e de posicionamento em relação a várias situações. É por isso que vemos pessoas se tornando vegetarianas, passando a procurar produtos que não sejam testados em animais, buscando saber se o couro das roupas é sintético, optando pela adoção e não a compra de animais domésticos, deixando de ir a circos que utilizam animais etc.

Essas pessoas foram tocadas e se juntam agora ao grupo que já mudou sua própria realidade e luta para que a consciência cresça mais e mais. Toda mudança de realidade ocorre após uma mudança de mentalidade. A exploração animal ocorreu sem grandes obstáculos por muitos séculos, e continua a ocorrer hoje; porém, o fortalecimento do combate a ela nas últimas décadas avança, ameaçador, em seu encalço. Desenvolvem-se correntes de pensamentos pró-animais, surgem grandes nomes em defesa da causa, criam-se associações dos mais diversos tipos, apresenta-se o apoio e mesmo o ativismo de personalidades, destacam-se na mídia diversos casos retratando a crueldade e a opinião pública passa a exigir explicações e justiça.

Esse trabalho será uma contribuição ao movimento em prol dos animais. Almejo servir aos animais dando uma voz ao seu sofrimento, constituindo uma ponte entre eles e as pessoas que ainda não conhecem essa realidade, um elo entre o que precisa ser mudado e quem tem o poder de mudar. A população carrega um potencial transformador do mundo, já demonstrado diversas vezes na história. Para que se esse potencial se atualize, o primeiro passo é que seja despertado. Uma Voz aos Animais pretende despertá-lo.

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1 Eu sou a voz dos que não têm voz; através de mim os mudos hão de falar, até que os ouvidos do mundo surdo sejam forçados a ouvir os crimes contra os fracos desprovidos de voz. Da rua, da jaula e do canil, do estábulo e do zoológico, os gemidos de meus irmãos torturados revelam o crime dos poderosos contra os desvalidos. [Tradução livre]


Publicado por: Clarice de Oliveira

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