REPRESENTATIVIDADE NEGRA DIGITAL: uma análise do perfil Savage Fiction no Twitter

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1. RESUMO

Esta pesquisa busca investigar as estratégias narrativas de representação do negro na rede social Twitter, a partir da análise do perfil Savage Fiction, idealizado pelo publicitário Ale Santos. As redes sociais, no geral, mostram-se como potenciais ambientes para a proposição de debates e manifestações sociais diversas. Não por acaso, movimentos como a Primavera Árabe foram iniciados no meio virtual. Logo, surgem institutos, entidades, ongs e pessoas levantando bandeiras das mais diferentes pautas nas redes. O perfil Savage Fiction destina-se a disseminar histórias que divulguem o protagonismo negro em diferentes contextos sociais, como estratégia para combater o racismo ou mesmo desmistificar versões eurocêntricas dos fatos históricos sobre negros. Assim, a pesquisa busca analisar a forma narrativa como o publicitário traz tais conteúdos para a rede social Twitter, tendo como base os conceitos de narrativa digital, storytelling (XAVIER, 2015), e de narratologia (MOTTA, 2006); a forma como o conteúdo é apresentado e os efeitos (repercussão) que tal estratégia narrativa desencadeia na rede social, a partir da análise das interações despertadas na rede (RECUERO, 2009).

Palavras-Chave: Narrativas Digitais; Narratologia; SavageFiction; Storytelling. Representação do negro.

ABSTRACT

This research seeks to investigate how narrative strategies of black representation in the social network Twitter, from the analysis of Savage Fiction profile, idealized by publicist Ale Santos. Social networks, in general, show how they can environments for proposing debates and various social manifestations. Not by chance, movements like the Arab Spring were started in the virtual environment. Soon, there are institutes, entities, ngos and people raising flags of different agendas in the networks. The Savage Fiction profile is intended to spread stories that spread black protagonism in different social contexts, such as a strategy to combat racism or to demystify eurocentric versions of historical facts about blacks. Thus, a research seeks to analyze a narrative form as the public brings such content to a social network on Twitter, based on the concepts of digital narrative, storytelling (XAVIER, 2015) and of narratology (MOTTA, 2006); the way the content is presented and the effects (repercussion) that the narrative strategy unleashes on the social network, from the analysis of the interactions aroused on the network (RECUERO, 2009).

Key-words: Digital Narratives; Narratology; SavageFiction; Storytelling; Black Representation.

2. INTRODUÇÃO

Após a Revolução Industrial e, consequentemente, a abolição da escravatura, nomes de personagens negros passaram a representar grandes conquistas históricas. Alguns desses nomes remetem a luta pela existência da raça na humanidade. Personagens como Martin Luther King, conhecido mundialmente como um dos maiores ativistas negros americanos, lutou pelo movimento dos direitos civis dos negros nos EUA, pela campanha contra violência e pelo incentivo de amor ao próximo. Outro exemplo disso foi o ativista da sul africano Nelson Mandela, grande personagem político que também lutou pelo ativismo negro, só que no continente africano.

O fim do período escravo não aboliu a discriminação racial, que já era praticada muito antes da palavra racismo – oriunda da palavra “racialismo”, que significa “preconceito ou discriminação direcionados a quem possui uma raça ou etnia diferente” – surgida no século XX, ser inventada. “Em relação ao acesso à justiça, a desigualdade se mantém. As penas mais duras são aplicadas aos/às negros/as, mesmo quando cometem os mesmos crimes praticados por brancos/as” (ROCHA, 2016, p.7).

O avanço das novas mídias e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), possibilitou o protagonismo de movimentos e pessoas negras, trazendo para conhecimento público esse tipo de violência. O campo das redes sociais, principalmente, fez aflorar uma série de perfis e páginas com o objetivo de exaltar a cultura e o povo negro, como estratégia de combater o racismo. A título de exemplo temos os perfis Alma Preta, Cultura Preta, Notícia Preta, Levante Negro, além de perfis pessoais como Silvio Almeida, Sueli Carneiro, Spartakus, Djamila Ribeiro, Joyce Berth, entre outros, que se dedicam a promoção da cultura negra como medida para combater o racismo arraigado no Brasil e as visões eurocêntricas sobre o povo e a cultura negra.

Ao passo que temos pessoas e entidades demarcando território e fincando presença nos debates sobre o povo negro, as redes sociais digitais, principalmente, o Twitter, mostram-se como espaço profícuo para o desenvolvimento desse tipo de debate. A rede social já foi cenário de movimentos sociais de outra natureza, sendo palco para mobilizações virtuais denominadas twitaço[1], ou ainda campanhas puxadas a partir do uso de hashtags, como a #meuprimieiroassedio lançada pela ong que atua em causas feministas, Think Olga[2].

Nesse contexto, esta pesquisa parte da observação do crescimento de um perfil que gradativamente ganhou espaço no Twitter no que diz respeito à divulgação do protagonismo do povo negro em diversos períodos históricos, chamando atenção, principalmente, pela forma narrativa como esse conteúdo foi gerado na rede social. Aos poucos, o publicitário Alexandre Santos, criador do perfil Savage Fiction, ganha notoriedade ao ter seu conteúdo compartilhado por personalidades da música brasileira, como os rappers Emicida e Marcelo D2. O objetivo da página é gerar representatividade por meio de informações históricas e, pela formação de críticas sobre a discriminação racial na sociedade através de questões atuais políticas.

Diante de tal cenário, esta análise busca investigar de que maneira o perfil Savage Fiction constrói as narrativas sobre o negro no Twitter? Tomando como base o conceito de narrativa digital Storytelling, conhecida como “nova forma de contar história” (XAVIER, 2015).

Compreender as estratégias utilizadas para representação do negro por meio do Storytelling no Savage Fiction, será o ponto de partida para o desenvolvimento desta análise.

Assim, esta pesquisa é apresentada em quatro capítulos, da seguinte maneira: no primeiro capítulo discutimos os novos costumes desenvolvidos pela cibercultura; no segundo capítulo trabalhamos a chegada das redes sociais no ciberespaço, já no terceiro capítulo abordamos a questão do Twitter como rede social, para, por fim, no quarto capítulo realizar análise das publicações feitas no perfil Savage Ficction com base na metodologia de narratologia jornalística de Luíz Motta (2013).

3. INTERNET E CIBERCULTURA: MUDANÇA NA FORMA DE PRODUZIR E CONSUMIR INFORMAÇÃO

Este capítulo tem por objetivo abordar os conceitos de cibercultura, a partir da designação do espaço em que essa cultura digital se estabelece, o ciberespaço. Fundamentada nos estudos realizados na história e evolução da internet e, sua propagação perante a criação das redes sociais, além do funcionamento destas até os dias atuais, esta análise busca salientar o processo histórico do início da comunicação cibernética a partir dos estudos de Lévy (1999), Lemos (2008), entre outros autores.

3.1. DA HISTÓRIA PARA A ATUALIDADE: INTERNET E CIBERCULTURA

Inicialmente denominada ARPANET, com o apoio financeiro do governo norte-americano por meio do Departamento de Defesa dos Estados Unidos em função da contribuição para pesquisas realizadas para a ARPA - denominada Advanced Research Projects Agency -, o surgimento da internet, que teve sua origem nos anos 60 durante a Guerra Fria, tinha como objetivo principal transportar informações para os soldados durante as batalhas. A comunicação entre eles acontecia por vias subterrâneas, o que dificultava a destruição ou impedimento da troca de informações.

Já nos anos 70 surgiu o protocolo que permitiu que outros tipos de redes de computadores, além dos computadores militares, se interligassem a distância. Diante disso, sugiu o WWW – denominado Word Wide Web -, traduzido para o português, significa: Teia de Alcance Mundial. Aberta quatro anos depois do fim da Guerra Fria, para fins comerciais, a já denominada internet ressurgiu por meio de iniciativas privadas, que a reformularam com o objetivo de conectar os indivíduos por meio de computadores, que o possibilitavam de se comunicarem mediante conexões diretas ou por serviços realizados por provedores de acesso.

3.2. CIBERESPAÇO

Escrito no final da década de 90, pelo filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação, Pierre Lévy, e traduzido para a língua portuguesa por Carlos Irineu da Costa (Editora 34), o livro Cibercultura (1999) descreve as percepções de Lévy em relação ao desenvolvimento do espaço cibernético, denominado ciberespaço por William Gibson, em 1984, no livro Neuromancer. Designado espaço construído em uma dimensão comunicacional, o ciberespaço surge durante a era da informação, período iniciado com o surgimento da comunicação em rede, propiciada pela internet.

Ao definir, anteriormente, ciberespaço como "o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores" Lévy (1999, p. 92) estabelece que:

O termo [ciberespaço] especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (LÉVY, 1999, p. 17).

Os indivíduos puderam, então, usufruir desse novo meio de comunicação para se expressar, conhecer e comunicar entre si. A premissa de mediação iria além de decodificações ou troca de informações numéricas, logo que a sociedade contemporânea necessitasse do ciclo imediato de interação. Neste sentido, Jesus Martín-Barbero (1997, p. 262), ressalta que “o campo daquilo que denominamos mediações é constituído pelos dispositivos através dos quais a hegemonia transforma por dentro o sentido do trabalho e da vida da comunidade”.

Em uma análise feita pela Revista Famecos – RS, pelo Prof. Marco Toledo de Assis Bastos, a partir dos estudos das Teorias da Comunicação e da inserção de Martín-Barbero (2002) como autor crítico das teorias como disciplina acadêmica, pôde-se verificar de que maneira funcionam as mediações segundo o modelo comunicacional barberiano:

A verdadeira proposta do processo de comunicação e do meio não está nas mensagens, mas nos modos de interação que o próprio meio – como muitos dos aparatos que compramos e que trazem consigo seu manual de uso – transmite ao receptor (MARTIN-BARBERO, 2002, p.55).

Ao concluir o pensamento de Martin-Barbero, é possível perceber sua contraposição com a Teoria Crítica (HORKHEIMER, 1933), que declara as Indústrias Culturais como uma ferramenta inflexível de controle social, manipulação da consciência a população massiva. Neste sentido, a hipótese principal para caracterizar o atual sistema de mediação social é, contrariamente ao que é sugerido com frequência (ORTOLEVA, 2004), não tanto uma convergência tecnológica, mas a organização em rede do sistema. Essa organização ocorre em vários níveis, desde a dimensão tecnológica à organização econômica e à apropriação sociocultural.

Ainda no início da obra, Lévy (p. 92-93) ressalta sua insistência na codificação digital, pois “ela condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço”, isso por que, ainda segundo o autor, esse novo meio de comunicação tem como objetivo impulsionar a colaboração dos aparelhos, por meio da conservação, para a  evolução na transmissão de informação.

Em contrapartida, entende-se que a Internet é, antes de tudo, uma forma de conectar computadores e transmitir informações. A rede, imensa e abrangente, que hoje nos é apresentada, é uma evolução do ambiente virtual, ou ciberespaço. Logo, a partir da tendenciosa interação entre pessoas a distância, via computadores, a comunicação obteve um avanço bem maior do que a até então vivenciada na era da informação, a chegada da ”era da conexão” (WEINBERGER, 2003).

3.3. INTELIGENCIA COLETIVA NO CIBERESPAÇO

A evolução dos meios e a criação de uma nova forma de comunicação despertou o posicionamento de Pierre Lévy (1997), que ressalta sua expectativa de forma crítica em relação à chegada da internet:

Meu otimismo, contudo, não promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano (LÉVY, 1997, p.1).

Neste seguimento, após alguns anos de análise e estudo, Lévy (2003) designa as atividades interativas desenvolvidas no ciberespaço como uma forma de inteligência coletiva que, segundo o autor é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências” (2003, p. 28). Os indivíduos passam a compartilhar de conhecimentos e informações, gerando assim coletividade. A colaboração desenvolvida nessas atividades faz parte de um trabalho científico realizado anteriormente, denominada Ciência da Informação que, a partir da investigação das propriedades e do comportamento informacional, busca “identificar as forças que governam os fluxos de informação, e os significados do processamento da informação” (BORKO, 1968, p. 01).

A fim de caracterizar o direcionamento dos estudos desempenhados pela Ciência da Informação, sua distinção dentro do campo científico e, seu receio em relação à evolução das pesquisas a serem realizadas posteriormente, Harold Borko salienta que:

A Ciência da Informação não manteve o ritmo com outros desenvolvimentos científicos, e agora precisa concentrar esforços neste campo e alcançá-los. Se os procedimentos de troca entre a comunicação e a informação não forem melhorados, todos os outros trabalhos científicos serão impedidos; a falta de comunicação resultará na duplicação de esforço e num lento progresso (BORKO, 1968, p.03).

O conceito de coletividade exercida no ciberespaço permitiu o desenvolvimento de redes, o intercâmbio de informações e novas formas de acesso, construção e compartilhamento de conhecimentos e informação com o auxílio das máquinas (computadores). A evolução da conexão de rede deu origem ao desenvolvimento de novos costumes e, consequentemente, um novo tipo de cultura que representasse o movimento presente no ciberespaço, a cibercultura.

3.4. CIBERCULTURA: NOVOS PROCESSOS CULTURAIS

André Lemos (2003) define cibercultura como:

(...) a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica que surgiram com convergência das telecomunicações com a informática na década de 70 (LEMOS, 2003, p.12).

Lemos ainda compreende que a cibercultura está repleta de sentidos, e que pode ser considerada como a “cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais”, de forma que a concebe a partir de sua designação como ocupante de um território. Para o autor, a cultura oriunda do ciberespaço, por possuir a responsabilidade premeditada de resolver todos os problemas de fronteiras, ocuparia um espaço mais significativo.

As considerações levantadas até aqui são baseadas na contemplação da cibercultura como um território recombinante, que possui a função de hibridizar os valores e segmentos do ambiente cibernético. Tais pareceres teriam sido levantados a partir do estudo do ciberespaço como ambiente fisicamente pensado por Lemos. Essa teoria, logo, daria origem às leis da cibercultura (emissão, conexão e reconfiguração), nas quais o autor considera resultantes da “convergência das telecomunicações com a informática na década de 1970” (LEMOS, 2003. p.12), isto é, consequências diretas da evolução da cultura técnica moderna, em que Lemos, ao relacionar sociedade, tecnologia e cultura, permanece considerando a cibercultura como uma manifestação da vitalidade social contemporânea, e a analisa como tal.

Desta forma, Lemos (2003) supõe que a primeira lei seja a responsável pelas modificações realizadas no modelo de comunicação, que antes seguia com a designação meio-massiva unidirecional ou “um para todos”, e passou a ser pós-massiva multidirecional “todos para todos”, ou interativo-colaborativa, pois:

A liberação do pólo da emissão está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas modalidades midiáticas, e-mails, comunidades virtuais, entre outras formas sociais podem ser compreendidas por essa lei (LEMOS, 2003, p. 20).

Já na segunda lei, referente a premissa da conexão generalizada, o autor afirma que seu caráter se baseia nas indagações presentes na primeira lei, já que a forma de gerar coletividade implica na participação dos indivíduos na produção de conteúdo uns para os outros, de forma colaborativa e consensual. Lemos, ao se referir a colaboração nas redes, assegura que o conceito se inicia a partir da fusão entre a sociedade contemporânea com a sociedade na era da conexão, decorrente ainda das revoluções da década de 70.

Em ressalva, o autor afirma que a lei de princípio da conexão generalizada faz parte da necessidade de emitir em rede, produzir sinergias, circular, distribuir. Logo, ele reitera que “nessa era da conexão, o tempo reduz-se ao tempo real e o espaço transforma-se em não espaço, mesmo que por isso a importância do espaço real e do tempo cronológico, que passa, tenham suas importâncias renovadas” (LEMOS, 2003, p. 20).

Já a lei de reconfiguração, também a terceira e última lei, no que lhe concerne, considera sua função fundamentada na modificação do ambiente comunicacional, de modo que esta configura a indústria cultural e modifica os fundamentos das instituições comunicacionais. Por conseguinte, Lemos (2003, p.18) afirma que seu funcionamento “em várias expressões da cibercultura trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas, espaços, sem a substituição de seus respectivos antecedentes” (p. 18).

Ao concluir os fundamentos das leis da cibercultura, é imprescindível que haja uma comparação com o pensamento de Lévy (2003) ao problematizar o funcionamento dos efeitos da inteligência coletiva, tanto os efeitos positivos quanto os efeitos negativos, denominados pelo autor como “remédio e veneno” para a sociedade vivenciadora da cibercultura (PIERRE, 2003, p. 31). Ao apontar alguns efeitos negativos e, relacioná-los com o consumo excessivo da internet, o autor salienta que “o crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a esta inteligência um ambiente propício. De fato, também vemos surgir na órbita das redes digitais interativas diversos tipos de formas novas” (p. 32).

Logo, os efeitos positivos, ou “remédios”, estão relacionados a produção de conhecimento colaborativo, que:

Devido a seu aspecto participativo, socializante, descompartimentalizante, emancipador, a inteligência coletiva proposta pela cibercultura constitui um dos melhores remédios para o ritmo desestabilizante, por vezes excludente, da mutação técnica. Mas, neste mesmo movimento, a inteligência coletiva trabalha ativamente para a aceleração dessa mutação (LÉVY, 2003, p.32)

Seguindo a linha positiva de pensamento de Lévy, é possível dar início a um estudo mais específico sobre a interação digital, representada pelo termo “sociedade em rede”, metáfora utilizada por Lemos (2005) e denominada por Castells (1999) em sua trilogia, ao caracterizar a evolução da comunicação ocasionada pela evolução da internet, do ciberespaço, e consequentemente da cibercultura. Ao adentrar nesse processo evolutivo, é de total importância identificar em qual momento foi possível que a informação circulasse no ciberespaço.

3.5. SOCIEDADE EM REDE

A transformação da informação em códigos (ou signo virtual) e encaminhada por meio de links, hiperlinks e hiperdocumentos (PIERRE, 1992, p.65) logo seria questionada. “Desmaterialização ou virtualização? ”, Lévy (1997), mais uma vez evidencia a dicotomia dos efeitos cibernéticos. Desta vez, o autor toma como exemplo o valor material da fotografia de uma cerejeira florida, capturada por uma câmera e transferida para um computador. A possibilidade ampla de configuração dessa imagem e, da disseminação para a massa, potencializa o valor coletivo produzido pelo compartilhamento de dados.

Essa forma de compartilhamento sintetiza a função da comunicação em “rede” - metáfora utilizada pela primeira vez pelo matemático Leonhard Euler em uma de suas abordagens científicas (BUCHMAN, 2002; BARABÁSI, 2003; WATTS, 2003 e 1999) - com a sociedade na era da conexão, de forma que, segundo Castells, as redes constituem "a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (CASTELLS, 1999, p. 497). Essa síntese se relaciona ao acesso, agora facilitado, às diferentes culturas e políticas disponibilizadas para a sociedade.

Para Castells, o conceito de sociedade em rede está interligado com uma nova forma de sociabilidade, considerada por ele “uma crescente dissociação entre a proximidade espacial e o desempenho das funções rotineiras: trabalho, compras, entretenimento, assistência, saúde, educação, serviços públicos, entre outros” (p.483). Em síntese, o autor ainda ressalta outros benefícios que a comunicação em rede pode proporcionar, como serviços de saúde e funções trabalhistas sendo exercidas em domicílio. A lista é quase infinita.

4. A FORMAÇÃO DE REDES SOCIAIS NA INTERNET

A partir das colocações no estudo de redes por Castells (1999), Raquel Recuero (2009) dá início a seu estudo sobre redes sociais. A autora realiza uma análise que envolve a história e desenvolvimento desses espaços digitais, a partir da exploração de seus pilares sociopolíticos e culturais. Desta forma, ao trabalhar a ideia de sociabilidade em rede no capítulo anterior e, ao dar início a sua contribuição, Raquel Recuero (2009) aponta uma das maiores realizações que a internet trouxe após a revolução de 1970, a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador (CMC) (2009, p. 24).

Ressaltando o conceito desse tipo de mediação digital, Recuero (2009) acentua dados característicos representados por mensagens, informações e códigos digitais deixados pelos usuários do ciberespaço, por meio das interações. A autora denomina esses dados de “rastros”, assegurando serem característicos de cada indivíduo ao adentrar no ciberespaço, e disseminados por meio do acesso à internet. A personalização informativa na qual a autora se refere, faz parte de uma linha de identificação para cada indivíduo, que o possibilita ser reconhecido e localizado na internet de maneira rápida e precisa, independentemente de onde, fisicamente, ele esteja. Ao caracterizar esse meio como espaço de disseminação informativa individual, a autora os identifica como “redes sociais”.  “Uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (RECUERO, 2008, p. 24)”.

Com base na sua análise nas teorias de Bertalanffy (1975), Recuero ressalta que a característica principal de uma rede social é a função de observação científica do comportamento humano a partir do entendimento de pluralidade. Inserir-se num ambiente novo, em evolução gradativa, como o ciberespaço, impulsionou o interesse dos indivíduos em moldar uma nova estrutura social, por meio do presente modelo de interação, logo que, “os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa” (RECUERO, 2009, p. 25). A diferença cultural entre os indivíduos no espaço cibernético faz com que nem sempre ou, não imediatamente, haja uma interação simplificada e direta entre eles.

A problemática do rompimento do individualismo cibercultural faz uma alusão com o estudo das Representações Sociais, de Denise Jodelet (2001), em que a autora define representação como “(...) uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 2001, p. 22). O estudo de Jodelet fundamenta-se na questão psicossocial das representações sociais de Moscovic e Durkheim (1978), nas quais os autores as definem como uma “organização do real”, ou maneira performática de viver em sociedade. Logo, as representações sociais são sistemas de interpretação da realidade, que instituem as relações do indivíduo com a sociedade e o orienta em relação às suas condutas, reações e comportamentos para com seus semelhantes. A partir de tais pensamentos, é possível dizer que, as redes sociais funcionam como representantes gerais do indivíduo (ou usuário) do ciberespaço.

Logo, o indivíduo cria um perfil digital, definido como conta, que reproduz aquilo que ele deseja ser visto em relação a si mesmo. Em associação, Recuero (2009) afirma que as redes sociais “são espaços de interação, lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade” (RECUERO, 2009, p. 25). Partindo disso, o estudo das redes sociais logo se fundamenta na prática de observação realizada por um usuário em relação a seu semelhante - quem nem sempre tem semelhança -, e está presente também no estudo principal da Teoria Geral dos Sistemas, que teve origem nas ciências biológicas, trabalhadas por Araújo e Gouveia (2016). Sua aproximação com a comunicação se dá pelo modelo de observação estabelecido, no qual sua função se constitui nas formas de interação geradas por meio da observação científica.

Recuero (2009) utiliza como exemplo para essa observação um estudo de experimento laboratorial e interpreta que “estudar uma flor em um laboratório, por exemplo, permite que compreendamos várias coisas a seu respeito, mas não nos diz nada a respeito de como a flor interage com o ambiente e como o ambiente interage com ela” (RECUERO, 2009, p.17).

O surgimento da chamada complexidade, como forma de abordagem dos fenômenos, também deve muito ao sistemismo. Ao mesmo tempo, outras mudanças foram sentidas em outras ciências, através da abordagem sistêmica ou relacional, como na biologia, na educação e mesmo na comunicação (RECUERO, 2009, p.18)

Por sua vez, Marteleto (2001) afirma que as redes sociais simbolizam “um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados” (MARTELETO, 2001, p.72). O pensamento da autora está sintetizado com as considerações de Recuero em relação ao compartilhamento e troca de dados semelhantes que os usuários da rede realizam por meio das interações.

A problemática de que os indivíduos em sociedade possuem, muitas vezes, ideologias e culturas diferentes, faz alusão a distinção entre as redes sociais e o as mídias sociais, que por muitas vezes são apresentadas como sinônimos, mas não são.  As redes sociais, como foi estudado até aqui, dizem respeito à circulação de informação dentro de um único ciclo social, são grupos de interesses compatíveis, dentro de um mesmo ambiente social, uma mesma esfera com políticas e ideologias símeis. Um tanto semelhante, as mídias sociais correspondem a um espaço onde acontece o compartilhamento de conteúdo, opiniões, experiências, etc. Segundo Aimola (2010), a diferença é que, no interior das mídias sociais cada usuário se torna um produtor de conteúdo, onde ele atua como um meio informativo para todas os outros usuários. Em outras palavras, o autor entende as mídias sociais como espaços muitos maiores, que abrigam outras formas de mídias colaborativas, como as próprias redes sociais (AIMOLA, 2010).

4.1. CAPITAL SOCIAL NAS REDES SOCIAIS

Ainda dentro do conceito de redes sociais, Recuero (2009) destaca mais um pilar de sustento substancial desses espaços, e resgata o estudo de Pierre Bourdieu (1980) sobre os recursos que as redes sociais possuem no seu campo de exploração. Esse tipo de plano é chamado de capital social. Possuindo uma dupla faceta: individual e coletiva, o capital social é “o conjunto de recursos, efetivos ou potenciais, relacionados com a posse de uma rede durável de relações, mais ou menos institucionalizadas, de interconhecimento e de reconhecimento” (BOURDIEU, 1980, p. 2).

Ainda que Recuero considere as definições de Bourdieu um tanto individualistas, pois segundo ela “o capital social em Bourdieu é diretamente relacionado com os interesses individuais, no sentido de que provém de relações sociais que dão a determinado ator determinadas vantagens. Trata-se de um recurso fundamental para a conquista de interesses individuais” (RECUERO, 2009, p. 47), a autora as reúne com as definições de outros autores como Putnam (1995), que em sua obra  Bowling Alone, afirma que o capital social, um tanto diferente do conceito de Bourdieu, “se refere a elementos de organização social como as redes, normas e confiança social que facilitam a coordenação e a cooperação em benefício recíproco" (PUTNAM, 1995, apud RECUERO, 2009, p. 67), e com o conceito de Coleman (1988), no qual o autor entende capital social como um conjunto de entidades, o ator (indivíduo) e a ação social (sociedade) trabalham de forma colaborativa, porém, são estudados em campos distintos.

Desta forma, o autor compara o capital social com outros tipos de capital: o capital humano e capital físico, que mantém semelhança pela sua aplicabilidade.

Como outras formas de capital, o capital social é produtivo, tornando possível a consecução de certos fins que na sua ausência não seriam possíveis. Como o capital físico e o capital humano, o capital social não é totalmente tangível mas pode ser específico para certas atividades (COLEMAN, 1999, apud RECUERO, 2009, p. 20). 

Ao reunir as definições dos três autores, Recuero (2009) declara que “consideremos o capital social como um conjunto de recursos de um determinado grupo (recursos variados e dependentes de sua função, como afirma Coleman) que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda que individualmente, e que está baseado na reciprocidade (de acordo com Putnam). Ele está embutido nas relações sociais (como explica Bourdieu)” (RECUERO, 2009, p.50), logo, para finalizar a compreensão de do conceito, Recuero utiliza o pensamento de outros quatro autores, sendo eles Gyarmati & Kyte (2004) e Bertolini & Bravo (2001), que afirmam que o conteúdo gerado no capital social depende do que as relações sociais determinam, isso porque o capital social é um investimento para a melhoria do que a sociedade está construindo, na qualidade das interações dentro do ciberespaço, neste caso, nas redes sociais.

4.2.  A ESTRUTURA DAS REDES SOCIAIS

Após a conclusão dos recursos das redes sociais, Recuero (2009) retorna ao seu estudo nas redes sociais em si, agora explorando suas topologias e estruturas. A fim de denominá-las a partir da metáfora “redes”, inicialmente utilizada pela matemática, como foi visto anteriormente, a autora agora analisa os tipos de redes sociais que existiram até o final da década de 2000. Antes disso, Recuero resgata o conceito estrutural das redes a partir da matemática, como foi visto anteriormente. Autores da área como Leonard Euler (1707 – 1783), analisado por Buchman (2002), Barabási e Watts (2003), afirma que a estrutura das redes é composta de grafos que interligam uns atores aos outros dentro do ciberespaço.

Dando continuidade, Recuero inicia uma análise nos três modelos estruturais estudados por Franco (2008) nas construções estruturais de redes segundo Paul Baran (1964), na figura 1:

Figura 1: Diagramas das Redes de Paul Baran

Fonte: Baran (1964), p.2, apud Recuero (2009, p. 56).

Nos três modelos, os pontos - denominados “nodos” por Recuero (2009) - são os mesmos, a variação se encontra na ligação de um nodo para outro. O terceiro modelo, o distribuído, é o único utilizado para representar as redes, já que as outras duas topologias — centralizada e descentralizada — segundo Franco (2008), só podem ser consideradas redes pelo estudo matemático.

Quanto mais distribuída ou menos centralizada ou descentralizada (isto é, multicentralizada) for a topologia da rede, maiores serão as chances de tais fenômenos ocorrerem. Esses fenômenos ― como o clustering (aglomeramento), o swarming (enxameamento), a auto-regulação sistêmica, a produção de ordem emergente e/ ou a desconstituição de ordem preexistente (ou remanescente) e a redução do tamanho (social) do mundo (crunch) ― não podem ser adequadamente captados e explicados pelas categorias e hipóteses (que compõem as teorias) tradicionais das ciências sociais. É por isso que está nascendo uma nova ciência das redes (FRANCO, 2008, p. 116)

As contribuições de Franco (2008) reafirmam as determinações do modelo de Baran (1964), que assegura que o arquétipo distribuído seja o melhor representante das redes sociais e, ressalta que o formato de “estrela” pertencente a estrutura, simboliza, de forma mais simples, a união de várias centralizações conectando diversos grupos sociais, isto é, não existe um único centro de distribuição, as conexões partem de vários estremos, ponto característico das redes sociais.

4.3. TWITTER

Após a análise da estrutura das redes sociais, Raquel Recuero (2009) dá início a um estudo específico para cada rede social no ciberespaço em relação as suas funcionalidades e, posteriormente define suas distinções. Até 2009, ano em que foi finalizada a pesquisa de Recuero para o seu livro Redes Sociais na Internet, a autora cita alguns desses espaços digitais. Dentre as redes sociais apresentadas estavam o Orkut (figura 2), criado no início do ano de 2004. A rede social possuía um software pertencente ao Google, e tinha como característica principal seu design nas cores azul e roxo, que por meio do layout e da facilidade de acesso, acabou promovendo a construção de milhares de laços interativos entre os usuários que a acompanharam até junho de 2014, data em que a rede social mais conhecida até então foi encerrada na rede.

Figura 2: Layout do Orkut

Fonte: Reprodução/Orkut

Recuero (2009) ainda dá introdução a outras redes que chegaram ao ciberespaço posteriormente, como a mais conhecida até hoje Facebook, e a peça principal desta análise, o Twitter, plataforma digital criada em 2006 pelos empresários e desenvolvedores de software americanos Jack Patrick Dorsey e Biz Stone, juntamente com o empreendedor norte-americano Evan Williams, também criador do Blogger, que tiveram como objetivo promover a publicação de mensagens instantâneas que seguissem a linha dos microbloggins (microblogs) anteriormente conceituados por Recuero (2003) como espaços minimizados dos blogs, ou “micromensageiros” (RECUERO apud ZAGO, 2009), caracterizados pela imediata possibilidade de respostas em publicações de mensagens instantâneas – onde o usuário tende sempre a responder a pergunta clássica da rede: “O que está acontecendo?”, dentro do limite de 140 caracteres, até o ano de 2017, quando esse número foi duplicado para 280, e permanece assim até os dias atuais.

O Twitter inovou com a ideia da representação dos usuários como “seguidores” uns dos outros, em que cada autor em rede tem a possibilidade de escolher qual página ou perfil acompanhar. A partir disso e de outras características como o feedback imediato, eu seu portal, Recuero (2009) compara a plataforma com as outras redes, até mesmo com o Orkut.

Observamos, por exemplo, que o Twitter parece ter um papel mais forte na difusão de informações (mais rápido, maior feedback, etc.) que o Orkut. Talvez porque tenhamos mais atenção concentrada no Twitter, talvez porque a estrutura da ferramenta proporcione um feedback mais rápido. Minha hipótese é que a apropriação da ferramenta é que influencia essa difusão e como a ferramenta é apropriada também a partir de sua limitação técnica, um influencia o outro. Assim, como o Twitter tem uma maior expectativa de simultaneidade nas trocas, bem como uma ilusão de "último minuto" para a informação divulgada, pode concentrar mais atenção e credibilidade (valores informacionais) enquanto o Orkut teria um foco mais social (RECUERO, 2009).

Antes de falar sobre as formas de utilização do Twitter, Recuero dá introdução as Comunidades Virtuais - que a partir do conceito de comunidades como o sentido ideal de “família” a partir de estudos sociológicos (Tönies, 1995; Bottomore, 1989; Weber, 1987) -  nas quais ela denomina espaços de interação social na internet capazes de reunir os usuários conforme a compatibilidade de interesses presente entre eles, a partir de uma análise nos estudos das mesmas por Rheingold (1995, p.20). A autora observa uma grande semelhança entre o microblog e as comunidades virtuais, de forma que nos dois espaços os usuários promovem discussões públicas, além de se encontrarem e se reencontrarem o tempo todo. Essa transição das comunidades para as redes faz parte de um conjunto de estudos realizados por Wellman (1999), (2000) e (2001), em que o autor afirma em todas as instancias ter acontecido logo no início da internet. Sua teoria logo é compartilhada por Castells (2003), que afirma que “a comunidade se desloca para a rede como a forma central de organizar a interação” (CASTELLS, 2003 p.106).

Em um outro estudo realizado por Zago (2016) a partir das definições de Recuero (2009), a autora destaca outra função inovadora do Twitter, a utilização do “@” para ancoragem dos perfis, em que um usuário utiliza um nickname - endereço no qual permite ser identificado na rede – que normalmente diz respeito ao nome do proprietário da conta (no caso de uma conta individual), acompanhado de outros caracters, caso o endereço desejado já esteja sendo utilizado por outro usuário. Zago define a função da ferramenta como uma das “maneiras de gerar e manter valores sociais entre essas conexões” (ZAGO, 2016 apud RECUERO, 2009, p. 83), já que a possibilidade de gerar um link permanente por meio da junção do “@” com o nickname do usuário facilite o acesso – ou navegação - de uma conta para outra e, consequentemente, produza mais interação entre os usuários. Neste caso, o Twitter teria então duas formas de gerar diálogo entre os indivíduos em rede, uma seria a caixa de mensagem privada, denominada “DM” (Direct Messager), e a outra seria o que a autora denomina replies – que nada mais é que o ato de dois ou mais usuários conversarem entre si publicamente dentro da rede social.

A partir disso, é importante ressaltar que no microblog, além de contas pessoais (utilizadas por um só indivíduo), existem também as contas empresariais, normalmente administradas por funcionários do setor comunicativo das grandes e pequenas organizações. Isso acontece porque as corporações, ao entrarem em associação com as redes sociais, adquirem mais vantagens ao se comunicar com seus possíveis clientes por meio da internet. Uma pesquisa realizada no início do ano de 2019 pela Folha de São Paulo aponta que o número de usuários no Twitter subiu 6% em relação ao número total registrado no ano anterior, chegando assim aos 134 milhões de internautas, ou como são popularmente chamados: twitteiros. O crescente aumento de usuários no microblog nos últimos anos reafirma o fato de que diariamente haja uma evolução interativa na rede.

O mesmo acontece com as empresas jornalísticas, que não vendem produtos físicos, mas sim informativos. Desse modo Comm (2009) pontua que “assim como notícias em primeira mão são agora mais “primeiras” do que nunca, os negócios podem se armar com o imediatismo do twitter para inovar e construir relacionamentos como nunca” (COMM, p. 22, 2009). Logo, para se manter informado, o usuário não precisa sair da sua zona de conforto.

4.4. TWITTER E INFORMAÇÃO

Com base na utilização do Twitter como mediador de informação, Comm credita que:

O profissional se torna o veículo: jornalistas já estão usando a plataforma de diversas formas: para divulgar notícias em primeira mão, para encontrar fontes de informação e para monitorar a repercussão e os desdobramentos de suas matérias e de veículos concorrentes. É uma ferramenta que em pouco tempo se tornou vital para a realização de reportagens e ainda - muito especialmente - para promover a aproximação entre leitores e veículos (COMM, 2009, p.57)

Entretanto, informação em rede não se limita apenas em publicação de notícias nas mídias sociais. Isso se encontra na problemática de Lancaster (1981) sobre a definição da palavra “informação”, em que o autor supõe que ela “significa coisas diferentes para pessoas diferentes” (LANCASTER, 1981, p. 1). Anteriormente discutida no meio acadêmico/científico, a expressão se tornou fruto de polêmicas entre os autores da Ciência da Informação, já que numa tentativa de reunir os conceitos apresentados, foi observada uma suposta aproximação do valor significativo de informação com variações do senso comum.

Diante disso, à fim de evitar o início de uma outra discussão científica sobre a palavra,  partiremos da união do conceito de informação a partir do latim, que segundo o dicionário da língua Thesaurus Linguae Latinae - o projeto de seu livro físico foi instaurado desde o ano de 1984, e tem a previsão conclusão para o ano de 2050 -, informatio remete ao ato de “dar forma a alguma coisa”, com a conceituação da palavra de Ferreira (1999) analisada por Correia (2009), na qual o autor afirma que “informação é o ato ou efeito de informar(-se), ou seja, o ato de tornar conhecimento, de inteirar-se ou instruir-se sobre algo” (FERREIRA,1999 apud CORREIA, 2009, p.41). Desta forma, a informação seria a forma de alguma coisa a partir do que se entende por ela, por meio do que a ela é atribuído visualmente ou por qualquer outro sentido.

4.5. O CAPITAL SOCIAL DO TWITTER

Em decorrência das novas formas de interação desempenhadas pelo Twitter, Zago (2010) já salientava que seu capital social está relacionado aos recursos informativos que a rede social proporciona para (e entre) os usuários. Coleman (1988) já definia que, apesar de existirem vários tipos de capital social, a produção de interação e o acesso a informação seriam as funções mais importantes existentes na rede social. Em vista disso, Zago determina que “a informação em si não é o valor, mas o acesso à mesma e o seu conteúdo o são” (ZAGO, 2010, p. 4).

Após as assimilações de Zago (2010) sobre a informação em si, a autora inicia um estudo de partir das classificações do acesso a ela por de Burt (1992), em que o autor as divide em três classificações: acesso, tempo e referências. Fundamentando-se nisso, Zago define que:

O acesso relaciona-se diretamente com a obtenção de informações que sejam relevantes. O tempo relaciona-se com receber as informações rapidamente, ou antes do resto da rede social. Finalmente as referências fazem parte de um processo de filtragem, ou de ação da rede social sobre as informações recebidas, referenciando e legitimando aquelas interessantes (ZAGO, 2010, p. 4).

Com base nas classificações de Zago (2010) nas determinações de Burt (1992), é imprescindível que haja uma relação do recurso interativo do Twitter com os estudos de Lévy (1997) sobre inteligência coletiva, isso porque tanto no capital social do Twitter, quanto no conceito do autor sobre o coletivo inteligente, existe uma produção de corpo social a partir da distribuição dos indivíduos como produtores e compartilhadores de informação.

Em confirmação, Jack Dorsey, um dos criadores do Twitter, afirmou em uma entrevista concedida ao Jornal El País em 2009[3], que mais do que uma rede social, o Twitter é uma “ferramenta de comunicação”. Dorsey ainda pontuou que “o Twitter permite controlar o que tem e aquilo que recebe e as pessoas podem optar por ler ou não”, havendo assim, segundo ele uma simplificação da comunicação entre os usuários. Apesar da entrevista ter acontecido nos primeiros anos após a criação da rede social, o cenário não mudou. Segundo pesquisas recentemente realizadas pelo Canaltech – portal de notícias brasileiro especializado em tecnologia -, “o microblog está disponível em cerca de 35 idiomas, (...) além de contar com o mesmo número em unidades de direção por todo o mundo”.

5. NARRATIVAS DIGITAIS E STORYTELLING

Em continuidade ao estudo das redes sociais, em específico, o Twitter, inicia-se aqui uma análise sobre narrativas digitais utilizadas pela plataforma.  A partir de embasamentos teóricos, como Adilson Xavier (2015), que em seu livro “Storytelling: Histórias que deixam marca” aborda o conceito de Storytelling e sua funcionalidade no microblog, que conta como base pesquisas realizadas anteriormente por autores como Antônio Núñez (2008). Posteriormente, em contribuição, McSill (2013), em seu livro “5 Lições de Storytelling” tratará do assunto por meio de contextos históricos que marcaram o início da compreensão da narrativa, e suas discussões.

Usuários de redes sociais, como visto no capítulo 3, sentem a necessidade de possuir uma voz no ciberespaço. Essa forma de reconhecimento possibilita que indivíduos criem perfis/contas que representem suas identidades por meio de dados pessoais que os caracterizem. Nome, idade e foto já não são suficientes para isso, os usuários descobriram nos últimos anos que, mais do que trocar fotos e mensagens instantâneas, como acontecia na extinta MSN Messenger, seria interessante também que houvesse a publicação de narrativas criadas ou ilustradas por eles.

Estudos antropológicos culturais afirmam que o estímulo de “contar/narrar” teria surgido antes mesmo (ou durante) o processo de evolução humana. Isso se confirma nos estudos da Antropologia e Comunicação (TRAVANCAS; FARIAS, 2003), onde pesquisadores declaram ter surgido a necessidade de se comunicar, interagir, e até mesmo gerar informação para os povos no início das sociedades. A era primitiva, na qual se manifestaram as primeiras formas de interação humana, como a fala e os movimentos corporais, foi o cenário em que nasceram as primeiras formas de narrativa.

Seguindo esse contexto, na introdução de sua obra, McSill (2013) afirma que:

Os nossos ancestrais já tinham esse hábito, quando, ao fim de cada dia, se reuniam em volta das fogueiras e contavam suas fantásticas caçadas e vitórias. Já naquele tempo, essa era a maneira de legitimar uma liderança por meio da referência. A história seria ainda para perpetuar práticas e conhecimentos arraigados àquelas culturas, tão necessários à sobrevivência dos grupos, e que esses líderes repassavam dentro de suas histórias. Storytelling é a arte de contar uma história, ou seja, por meio da palavra escrita, da música, da mímica, das imagens, do som ou dos meios digitais (MCSILL, 2013, p. 31).

As considerações de McSill (2013) estão interligadas aos posteriores estudos da linguagem realizados por autores da filosofia, iniciados após o período arcaico, que trouxeram acepções da palavra, como as clássicas definições de Platão (APUD VIEIRA, 2014) em Crátilo, que afirmam que a linguagem remete a uma análise de alguma coisa fora de si. A metáfora utilizada por ele se dirige ao sentido de visualização de um acontecimento fora do ator social ou até mesmo do ambiente, e de que forma determinado episódio seria descrito posteriormente à visualização e, quais artifícios seriam utilizados para a construção de tal. 

As definições filosóficas de linguagem e sua composição, como os conceitos de significado e significante por Saussure (1857-1913), promovem embasamento para a análise do funcionamento das narrativas desde a sua criação.  Desta forma, Motta (2013) afirma que “a linguagem passou a ser considerada intrínseca ao próprio pensamento. Toda nossa atividade mental é palavra ou busca da palavra, diz o raciocínio” (MOTTA, 2013, p. 63). Por conseguinte, em associação com as determinações de Duch (1998) sobre a construção sintática das coisas, o autor ressalta que o ser humano possui o hábito de conhecer algo e imediatamente “empalavrá-lo”, como estratégia de identificação.

Nomear um objeto ou acontecimento é o que relaciona a história da linguagem com a história da narrativa, já que o discurso detalhado que é proporcionado a descrição do acontecido fornece a ele valor informativo. No entanto, a construção de uma narrativa depende intrinsecamente da interpretação linguística do ator enquanto social, que se fundamenta na cultura na qual o indivíduo pertence. Desta maneira, em análise aos levantamentos de Geertz (1989) sobre antropologia interpretativa, Motta (2013) considera que “a cultura (...) consiste em estruturas de significado socialmente estabelecidas às quais as pessoas respondem, e a análise cultural é, ou deveria ser, uma adivinhação do significado” (MOTTA, 2013, p. 65).

Motta (2013) também faz uma associação da sua análise com o estudo da realidade cultural (GOFFMAN, 1999), à fim de esclarecer de que forma se determinam a verdade e a ficção a partir dos valores sociais, a partir de como haveria a interpretação e distinção deles diante da nova cultura. Desta forma, em análise aos levantamentos de Goffman (1999), o autor considera que “a versão de cada um sobre a realidade se integra na definição de realidade daquela relação específica e, ao mesmo tempo, liga-se a estruturas sociais mais amplas, constituindo o senso comum” (GOFFMAN, 1999 apud MOTTA, 2013, p 66).

Em associação, Motta (2013) ainda ressalta sobre a problemática sobre a definição sistemática dos acontecimentos a partir das construções socioculturais de Goffman (1999), e interpreta que:

As pessoas trazem para essas relações os frames culturais, premissas organizativas que reconstroem definições das situações, decifram e dão sentido ao fluxo dos acontecimentos, conforme o pensamento de Goffman. Os frames permitem definir situações de interação e também definir a estrutura da experiência que os indivíduos têm da vida social (MOTTA, 2013, p. 66).

Desta maneira, a construção de uma narrativa tanto no espaço físico como no espaço digital se dá pela estrutura sintática em que histórias se compõem, se cruzando com a ética dos valores sociais do ambiente/sociedade em que ela está inserida. Ao se adaptar no ciberespaço, essa narrativa sofre uma adaptação que, se constituída com os mecanismos e ferramentas proporcionados pelo ambiente, obtém as vantagens necessárias para sua disseminação e consumo.

5.1. STORYTELLING DIGITAL

A nova cultura, denominada cibercultura, deu origem a novos costumes. Uma das novas mudanças se encontra nas novas formas de comunicação em rede, que em consequência da interação via internet, deram origem ao estudo da identificação individual no ciberespaço. Logo, o conceito de Representações Sociais (JODELET, 2001) mais uma vez vem à tona - e virá mais vezes - para definir a identidade dos usuários no ciberespaço a partir da maneira como ela é utilizada para representar cada ator social em rede. Isso também está incluso na narrativa utilizada nos espaços digitais, neste caso, nas redes sociais. O estudo das narrativas digitais se dá pelos novos estímulos de reconhecimento que os indivíduos buscam cada vez mais, como narrar eventos que fazem parte do seu contexto histórico de forma atrativa.

Dentre as múltiplas formas de narrativa existentes no ciberespaço, está o Storytelling, palavra de origem americana. Segundo Castro (2013), “story” que remete a estória, e “telling” que remete a contar - ou narrar - nada mais é que o ato de narrar acontecimentos relevantes cujo intuito é persuadir leitores ao conhecimento de determinado assunto.

Para entender o que digo é preciso saber a diferença entre as duas palavras da língua inglesa: history e story. A primeira está relacionada a fatos reais, como o homem ter chegado à Lua, ou a algum fato que ocorreu na vida de alguém. A segunda é uma estrutura narrativa, não necessariamente ficção, representa episódios que, alinhados, criam a História. Por exemplo, a história de um povo consiste em várias stories, isto é, anedotas, historietas, episódios da vida cotidiana, mitos, e etc. (CASTRO, 2013, p.3)

Em sua obra sobre o estudo de Storytelling como narrativa digital, Xavier (2015) acredita que a distinção dos conceitos de “história” e “estória”, apesar de livrar os leitores de diversas confusões literárias e da limitação no entendimento de um discurso – ou se o acontecimento é real ou ficção -, distingui-la acarreta em um “empobrecimento” na trama, tornando-a monótona e sem emoção. Por conseguinte, Xavier afirma que tanto a história como a estória “são partes indivisíveis de uma única necessidade de narrar” (XAVIER, 2015, p.6), considerando que, neste sentido, uma complementa a outra.

Diante disso, Xavier (2015) reúne a definição de Castro, que conta como base a ideia de que a narrativa digital remete a ilustração de histórias que marcaram a trajetória da humanidade, com as definições de Antônio Núñez (2008), nas quais o autor conceitua Storytelling como uma ferramenta de comunicação que, de forma estruturada e contínua, apela aos sentidos e emoções humanas para a garantia de um público. Deste modo, Xavier propõe que Storytelling seja nada mais que uma forma de narrar histórias de maneira convincente. Entretanto, diferente de outras formas de contar história, a narrativa digital possibilita que atores sociais leitores participem da produção da estória.

A reafirmação se encontra logo no início da obra de Xavier (2015), em que o autor pontua que “estamos tratando de narrativa compartilhada, storytelling colaborativo, exigência de um mundo que substituiu o “eu falo, você ouve” por “nós dialogamos a respeito da história que melhor traduz o que significamos um para o outro”. (XAVIER, 2015, p. 12). Pode-se relacionar esse conceito sobre Storytelling ao estudo do webjornalismo por Canavilhas (2014), quando este afirma que o que “escrevemos, vocês lêem” pertence ao passado, e dá origem a interatividade sem fronteiras, possível após o surgimento das redes sociais.

5.2. STORYTELLING NAS REDES SOCIAIS

A velocidade em que as redes sociais evoluem é vista de forma crítica. O número de pessoas conectadas na internet cresce o tempo todo, e com isso, ocorre o acúmulo de informações. Logo, consumir apenas determinado tipo de informações tem sido um desafio para os usuários que buscam uma leitura mais filtrada. Em função disso, ocorrem diversos fenômenos sociais como dissociação psicológica e a perda de um juízo de valor. O ator social por ser um consumidor de produtos (virtuais ou não), exige cada vez mais que haja uma classificação dos objetos de consumo que ele utiliza, no caso das redes sociais, a informação. Ele ordena que seu objeto de consumo seja atrativo, e impõe que consumir (ou ler) também seja visto como “utilizar”, como se faz com um produto físico (FIGUEIREDO, 1999).

Em associação, no estudo de Baudrillard (2004) sobre “O Sistema dos Objetos” a partir da Publicidade, o autor afirma que “somos induzidos a comprar em nome de todo mundo, por solidariedade reflexa, um objeto sobre o qual nossa primeira providência será usá-lo para diferenciar-nos dos outros” (BAUDRILLARD, 2004, p. 189). Logo, o discurso utilizado para atrair os leitores funciona como um divisor daquilo que é do que não é relevante. Assim sendo, reafirma-se que o leitor também é um produtor de conteúdo. À vista disso, no Storytelling, o locutor não é apenas locutor, ele é (ou pelo menos já foi) um leitor, e vice e versa.

Por sua vez, Araújo (2010) afirma que mesmo havendo um locutor em cada narrativa, por conta da possibilidade de interação nas redes sociais, o público leitor agora passa a fazer parte da produção da mensagem, e assinala que “este público também faz parte da história, ‘ouvindo’ e ‘contando’ a sua parte – uma função que também revela e reafirma sua identidade” (ARAÚJO, 2010, p. 6). Isso se torna possível por meio do compartilhamento de informações, que acabam gerando maior aproximação entre os usuários.

Ao reunir as pontuações para a definição estruturada de Storytelling, Xavier (2015) as classifica em pragmática, pictória e poética, nas quais o ele caracteriza:

Definição pragmática: Storytelling é a tecnarte de elaborar  e  encadear  cenas, dando-lhes  um  sentido  envolvente  que  capte  a  atenção  das  pessoas  e  enseje  a assimilação de uma ideia central.

Definição pictórica: Storytelling é a tecnarte de  moldar  e  juntar  as  peças  de  um quebra-cabeça, formando um quadro memorável.

Definição   poética: Storytelling é   a   tecnarte   de   empilhar   tijolos   narrativos, construindo monumentos imaginários repletos de significado (XAVIER, 2015, p.12).

Xavier (2015) acredita que a hibridização das palavras ténica e arte (tecnarte), são substanciais para a definição sistemática da narrativa digital. Ao assimilar as determinações do autor, afirmamos aqui que Storytelling seria a arte de criar histórias com a utilização de técnicas construtivas e descritivas. Desta maneira, a criação de narrativas nas redes sociais, assim como na plataforma, se constituiria na formulação sintática, contextualizada e atrativa na qual seria apresentada aos seus usuários/leitores, como já foi afirmado aqui.

Com base na problemática dos avanços tecnológicos e nos fundamentos sobre informação como produto de consumo e venda coletiva, Xavier (2015) titula ainda Storytelling como “clique (click) coletivo” e pontua:

Diante de um computador, tablet ou smartphone, cada um de nós registra sua história via redes sociais, narra o que está vivendo, testemunhando ou inventando, o que quiser. Milhões e milhões de histórias lutando por um lugar ao sol na bombardeada memória das pessoas, buscando serem lembradas, admiradas, compartilhadas, multiplicadas. Histórias de indivíduos, grupos, nomes e marcas, tudo misturado (XAVIER, 2015, p. 3)

Em virtude das novas formas de narrativa, do desenvolvimento constante das mídias sociais e, principalmente das redes sociais, Xavier (2015) salienta que os benefícios oferecidos se encontram no crescimento de tecnologia, informação e entretenimento que ocorre por meio do desenvolvimento desse advento digital. No entanto, “os usuários acabam perdendo grande parte do seu tempo de produtividade fora do ciberespaço, além de estímulos humanos como afetividade e capacidade de retenção” (XAVIER, 2015, p. 5).

Por outro lado, o autor sobressai que “vivemos um momento de grandes novidades”, portanto, para que seja criado um sentido para o futuro da raça humana, o indivíduo precisa conhecer histórias, pois segundo ele, são elas que ”sustentam nossos valores básicos” (XAVIER, 2015, p. 21), e fazem com que haja questionamentos nos indivíduos que o façam buscar cada vez mais conhecimento de sua espécie social e de tantas outras, por meio de contextos próximos e distantes da sua natureza ou tempo.

Por sua vez, Palacios e Torenzo (2016) determinam as diversas aplicações do Storytelling, em que, segundo os autores a narrativa digital pode estar presente tanto no jornalismo, como na política, no turismo, no design, nas ciências, na educação, na religião e entretenimento. Por ter se tornado cada vez mais um espaço de múltiplas possibilidades, reuniremos todas as categorias selecionadas pelos autores e acentuaremos que conjuntas todas simbolizam as redes sociais e, dentre uma delas, o Twitter.

6. SAVAGE FICTION: STORYTELLING SOBRE NEGROS NO TWITTER

Após os estudos sobre o Storytelling, neste capítulo será realizada uma análise em um perfil do Twitter que utiliza a narrativa digital como principal referência, o Savage Fiction, perfil criado pelo publicitário Ale Santos. Será elaborada uma breve introdução histórica da página na plataforma, a fim de identificar o ponto de partida para a criação do perfil. Posteriormente, será conduzido um estudo em relação ao conteúdo produzido no Savage Fiction, a fim de analisar a estrutura da narrativa utilizada na página enquanto residente do microblog.

6.1. O CRIADOR E A CRIAÇÃO

Alexandre de Oliveira Silva dos Santos, ou como prefere ser popularmente chamado “Ale” (isento de acento circunflexo), nasceu no dia 24 de setembro de 1986 na cidade de Taubaté, São Paulo. Filho de pai negro e mãe de ascendência indígena, aos 12 anos de idade, o garoto se mudou para uma cidade maior que a cidade natal, a cidade de Cruzeiro. Lá estudou em uma escola municipal, que o levou a participar de campeonatos estaduais de atletismo e até adquirir várias medalhas nas competições que ele participou até seus 18 anos de idade. Por mais que Ale possuísse talento para o esporte, isso não o livraria de sofrer as diversas formas de discriminação racial que o garoto sofreu. Por conta disso e da falta de conhecimento sobre o assunto, Ale não aceitava a cor da sua pele, o que o levou a desenvolver traumas que acabaram afetando sua autoestima (SANTOS, 2019, entrevista via e-mail).

Após um tratamento psicológico ainda na infância, o garoto que gostava de jogar games digitais como RPG, ou “Role Playing” – (o jogo consiste na interpretação de personagens por meio de narrativas, além da criação de histórias dentro de um enredo idealizado pelo jogador) –, logo começou a praticar e tornar hábito a escrita, o que resultou na criação de seus primeiros contos de ficção científica e fantasia, que posteriormente, levaram-no a participar de várias rodas de prosa, realizadas geralmente em pequenas editoras da sua cidade. Segundo Alê Santos (2019), por mais que ele tivesse habilidade na escrita, isso não ocasionaria ainda na publicação de seus livros. Em uma breve entrevista para a Folha de São Paulo[4], Santos afirmou: “Ser escritor não deu certo pra mim, como pra maioria dos negros nesse país” (FOLHA DE S. PAULO, 2018, online).

Por esse e outros motivos, Ale logo iniciou pesquisas sobre histórias de personalidades da sua raça, à fim de adquirir mais conhecimento sobre suas origens. Ainda aos 18 anos, iniciou a graduação em Publicidade no Centro Universitário Teresa D’Ávila – UNIFATEA, na cidade de Lorena – SP. Após sua formação na área da comunicação, Santos logo decidiu se especializar em Gamificação e Storytelling, o que o levaram a trabalhar como colunista em algumas empresas como a VICE Brasil – uma plataforma de conteúdo digital focada no público jovem –, e a Yahoo Notícias, onde ele exerce a função de repórter até a atualidade.

6.2.  O SAVAGE FICTION E AS THREADS

Com um currículo extenso, Ale Santos resolveu empreender em um negócio que se aproximasse das suas habilidades. Foi então que surgiu a ideia de criar o Savage Fiction, uma consultoria de desenvolvimento de jogos e narrativas “fantásticas”. (SANTOS, 2019, entrevista via e-mail). A consultoria desenvolve a criação de entretenimento estratégico por meio da produção de narrativas que consistem na divulgação de histórias de ancestrais negros, ou como Ale classifica, Storytelling Interativo.

Lima (2015) define Storytelling Interativo como:

(...) a form of digital entertainment based on the combination of interactivity and storytelling. Interactive storytelling systems aim to create dramatic and engaging narrative experiences for users, while allowing them to intervene with ongoing plots and change the way that the story unfolds. One of the key challenges in the development of such systems is how to balance a good level of interactivity with the consistency of the generated stories (LIMA, 2015, p. 22).[5]

Na tradução para a língua portuguesa, Lima (2015) conceitua Storytelling Interativo como um modelo de narrativa que consiste em atrair os leitores para um campo onde é possível haver a construção de uma história por meio da contribuição coletiva. Essa característica se encontra nos diversos encontros que a consultoria realiza por meio de eventos e palestras sobre literatura, além de também estar presente no perfil do Savage Fiction no Twitter, que produz interação entre seu público em virtude do alto engajamento gerado nas suas publicações na plataforma digital.

Atualmente, com mais de 96 mil seguidores, o perfil do Savage Fiction, no Twitter, concentra-se na publicação de narrativas extensas, que adaptadas para o modelo de postagens da plataforma, tende a dividi-las em partes. Posicionadas em uma sequência denominada thread (ou linha, em português), as narrativas são construídas a partir de uma matriz, representada por uma publicação inicial que contém as informações necessárias para dar introdução ao desenvolvimento desta (figura 3). O termo thread foi criado nos estudos dos Sistemas Operacionais para caracterizar ”uma unidade básica de utilização de CPU que consiste em um: apontador de instruções, conjunto de registradores e espaço de pilhas” (SCHEFFER, 2007, p. 7).

Figura 3: Thread publicada no perfil Savage Fiction

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

Ao se aproximar do estudo de narrativas digitais nas redes sociais, thread, segundo uma matéria no portal de notícias GaúchaZH, consiste “em conectar vários tuítes em sequência para contar uma história. Ou seja, trata-se de várias publicações em série” (GAÚCHAZH, 2018)[6]. A ferramenta surgiu na plataforma somente em dezembro de 2017, possibilitando que até 25 tweets (ou tuítes) fossem publicados em cadeia, e permanece assim até a atualidade.

6.3. A ESTRUTURA DAS THREADS NO SAVAGE FICTION

Para fins de análise, nesta pesquisa, monitoramos as threads que, segundo Ale Santos, são as melhores publicações do perfil do Savage Ficition. As threads selecionadas foram publicadas entre junho de 2018 e abril de 2019, contabilizando 17 histórias. Destas, três foram selecionadas para analisar a estrutura narrativa das threads. A seleção das três deu-se por: 1) pelo alto nível de engajamento despertado no Twitter (ver Tabela 1, ANEXO 1) e 2) pela pré-seleção que o próprio escritor fez ao destacar em seu perfil “as melhores threads de Ale Santos”[7], e 3) pela repercussão causada pelo compartilhamento de perfis famosos. Assim, as threads analisadas são:

 “O HOLOCAUSTRO NO CONGO” – Figura 4

Na thread, Ale Santos fala sobre eventualidades pouco repercutidas ocorridas durante o colonialismo europeu, acontecimento em que terras do continente africano passaram a ser almejadas pela Europa e, precisamente, pela Bélgica. A publicação que rendeu ao perfil do Savage Fiction grande repercussão, chegou a mais de 8.500 compartilhamentos e 16.300 likes no Twitter.

Figura 4: Tread “O Holocaustro no Congo”[8]

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

“O MASSACRE NO CARANDIRU” – Figura 5

Na publicação sobre o massacre no predídio Carandiru – São Paulo, Ale fala sobre uma das maiores chacinas ocorridas dentro de um présídio no Brasil. A atrocidade, além de ter sido repercutida em todas as mídias na época, ainda deu origem a uma das músicas mais famosas do rap lançadas posteriormente, a canção “Diário de um detento”, do grupo Racionais MC’s. Por essa razão, a thread que chegou a ser citada no perfil de um dos vocalistas da banda, o Mano Brown, obteve grande valor simbólico para Ale e para seu público seguidor.

Figura 5: Thread “O Massacre no Carandiru[9]

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

6.4. “A CARTA DE LUTHER KING NA PRISÃO” – Figura 6

Nesta thread, Ale Santos fala sobre uma carta escrita pelo pastor protestante e ativista político americano Marthin Luther King, enquanto estava detido, após ser preso por comandar uma campanha não violenta em prol dos direitos civis dos negros na cidade de Birmingham – Alabama, em 1963. A carta relata acontecimentos presenciados por Luther King durante suas lutas, seu posicionamento político e cristão, além de mensagens que mais tarde se transformariam em motivações para as próximas gerações negras e ativistas.

Figura 6: Thread “A carta de Luther King na prisão”[10]

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter

7. METODOLOGIA E ANÁLISE

A análise do corpus selecionado deu-se pela estrutura de narratologia – “um ramo das ciências humanas que estuda os sistemas narrativos no seio das sociedades” (MOTTA, 2006, p. 02) – trabalhada por Luiz Gonzaga Motta (2006), aplicada originalmente, em narrativas jornalísticas. Para Motta, a partir das narrativas “somos capazes de colocar as coisas em relação umas com as outras em uma ordem e perspectiva, em um desenrolar lógico e cronológico” (MOTTA, 2006, p. 02). O autor considera que o ser social tem a tendência de transformar sua experiência de vida em narrativa[11]. Esta narrativa é atravessada, na concepção do autor, por passado, presente e futuro, em uma constante negociação entre o narrador e o interlocutor, no processo de produção de sentidos.

No campo midiático, o autor afirma:

As narrativas midiáticas podem ser tanto fáticas (as notícias, reportagens, documentários, transmissões ao vivo, etc.) quanto fictícias (as telenovelas, videoclipes musicais, filmes, histórias em quadrinho, alguns comerciais da TV, etc.). Produtos veiculados pela mídia exploram narrativas fáticas, imaginárias ou híbridas procurando ganhar a adesão do leitor, ouvinte ou telespectador, envolve-lo e provocar certos efeitos de sentido. (MOTTA, 2006, p. 02)

O autor destaca que midiaticamente, as narrativas são produzidas com a intenção de produzir efeitos na audiência, a fim de fidelizar o consumo sobre aquela narrativa. Ainda que se trate de uma narrativa fática, baseada em fatos reais, como ocorre no jornalismo diário, ela pode ser perpassada por aspectos ficcionais como estratégia para atrair e manter o público. Tal modelo de narrativa pode ser observado nas publicações do Savage Ficction, uma vez que são construídas sob a ótica do storytelling interativo, portanto, têm como missão promover engajamento (interação propriamente) do público com as histórias sobre a cultura e o povo negro. Dessa forma, o autor deve lançar mão de atrativos em sua construção narrativa para estimular tal interação.

Sobre os discursos midiáticos, o autor afirma:

Os discursos narrativos midiáticos se constroem através de estratégias comunicativas (atitudes organizadoras do discurso) e recorrem à operações e opções (modos) linguísticos e extralinguísticos para realizar certas intenções e objetivos. A organização narrativa do discurso midiático, ainda que espontânea e intuitiva, não é aleatória, portanto. Realiza-se em contextos pragmáticos e políticos e produzem certos efeitos (consciente ou inconscientemente desejados). (MOTTA, 2007, p. 144)

Entendemos aqui, que a criação do perfil Savage Fiction com o tipo de conteúdo que publica periodicamente retrata o posicionamento político do autor Ale Santos, uma vez que adota uma postura combativa em relação às narrativas eurocentradas sobre o negro. Podemos ainda inferir que as escolhas das histórias a serem contadas em forma de thread são articuladas sistematicamente para engajar o público, despertando interesse e mobilizações virtuais (compartilhamentos, por exemplo) em torno do que é narrado.

Sobre como analisar narrativas, Motta ainda pontua que “a análise deve, portanto, compreender as estratégias e intenções textuais do narrador, por um lado, e o reconhecimento (ou não) das marcas do texto e as interpretações criativas do receptor, por outro lado. ” (MOTTA, 2006, p. 03). Para tanto, indica cinco movimentos para que se possa analisar narrativas: 1) reconstituição do acontecimento; 2) identificação dos conflitos; 3) construção das personagens; 4) estratégias comunicativas; e 5) relação comunicativa e o “contrato cognitivo”. Destes, trabalharemos apenas com os quatro últimos procedimentos, uma vez que o primeiro (reconstituição do acontecimento) refere-se especificamente à construções fragmentadas e superficiais do jornalismo diário, não cabendo, portanto, às narrativas produzidas no Savage Fiction, posto que cada thread apresenta início-meio-fim, não sendo continuada em outra.

7.1.  “O HOLOCAUSTRO NO CONGO”: A THREAD

Visto como um rico produtor de matéria prima pelo mercado europeu, o Congo, país situado ao Sul da África, se tornou interesse para a Europa, que no final do século XIX, buscava tomar posse de terras em outas regiões fora do seu continente à procura de recursos naturais. Na Época, acordos foram criados para a separação do que a burguesia chamava de “continente negro”, a África. Após um acordo em uma conferência em Berlim, os ingleses planejaram e decidiram dividir o continente africano em partes e, logo após entrega-las para as outras nações europeias (TRAUMANN; MENDES, 2015).

A decisão foi tomada após o surgimento dos efeitos da escassez que o mercado europeu sofria na época, o que fez com que os ingleses buscassem obra prima e mão de obra supostamente barata na região congolesa.

A África até hoje é vista pelo senso comum como uma entidade monolítica, a ponto de ser mais comumente citada como continente do que na especificidade dos países que a formam, constituía naquela época um enorme mistério cercado por uma névoa de lendas que atiçavam a imaginação dos europeus. (TRAUMANN; MENDES, 2015, p. 257)

Em sua obra A partilha da África e o Holocausto que o Mundo não reconheceu, Traumann e Mendes (2015) falam sobre os europeus terem considerado o povo africano como “canibais e feiticeiros”, e por essa razão, antes da ocupação das regiões, decidiram enviar tropas missionários para a realização de uma “missão civilizatória” em função dos nativos do continente (TRAUMANN; MENDES, 2015, p. 57).

7.1.1. Identificação do conflito

Na thread, Ale Santos fala sobre um dos maiores genocídios ocorridos durante a ocupação dos europeus nas terras congolesas. “O holocausto no Congo”, como era chamado, foi um dos acontecimentos mais impactantes ocorridos durante o processo de colonização europeia. Tendo sido liderado por Leopoldo II, na época presidente da Bélgica, o sacrifício dos congoleses foi iniciado após o governante ter comprado terras na região congolesa e tê-la dominado de maneira violenta e persuasiva. Por ter sido pouco retratado na história e, principalmente nos livros didáticos, na thread, Ale compara o holocausto no congo com outro semelhante, o Holocausto Nazista (1930- 1940), que por ter ocorrido durante o século seguinte, gerou maior repercussão histórica.

Desta forma, no tweet matriz, ao se referir a Leopoldo II, Ale Santos utiliza a expressão “(...) foi um monstro muito mais sanguinário” para caracterizar o conteúdo narrativo da thread (SANTOS, 2018). Por conseguinte, na figura 7, o autor faz uma introdução da história interligando a questão da “missão civilizatória”, liderada pelos europeus, com a criação da Associação Internacional para o Estudo e Civilização do Congo, que na verdade, segundo Ale, aterrorizava a região em busca de matéria prima.

Figura 7: Amissão civilizatória”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter

7.1.2. Construção do personagem

Na terceira publicação da thread, na figura 8, Ale dá início a narrativa de alguns eventos que não foram enfatizados na história popular, como o fato de Leopoldo II ter forçado os congoleses habitantes das terras conquistadas a exercerem trabalho escravo, que consistia no cumprimento de metas que, se não alcançadas, resultaria no decepamento dos seus membros. “Cestas cheias de mãos se tornaram símbolos do seu trabalho e pagamento requerido” (SANTOS, 2018).

Figura 8: “Membros decepados”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter

7.1.3. Estratégias Comunicativas e Relação Comunicativa

Constituída por dez tweets, a thread prossegue com relatos de atrocidades decorrentes do holocausto. Ao detalhar o número de mortos durante o ocorrido, Ale Santos mais uma vez faz alusão do acontecimento com o Holocausto Nazista, pontuando: “Hitler matou 6 Milhões”. A citação é irônica, já que no Holocausto do Congo o número de mortos, estimado em até 20 milhões, é muito maior mas não foi repercutido da mesma forma.

Com base nisso, o capital social gerado na publicação localiza-se na construção da informação que a thread apresenta ao relatar o holocausto como um acontecimento marcante na história da humanidade. Além disso, os recursos sintetizam-se com o engajamento, que ocorre de maneira significativa. A publicação foi compartilhada por mais de oito mil perfis, além ter gerado um grande número de interação, no qual seguidores (e não seguidores) do perfil chegaram a contribuir para a construção da narrativa por meio de comentários e citações (figura 9). Essa contribuição relaciona-se com a questão da inteligência coletiva (LÉVY, 2003), em que atores sociais consumidores de informação também têm a possibilidade de produzí-las ou complementá-las. Além de se relacionar com os mecanismos da hipertextualidade[12], que possibilita de leitores de determinado conteúdo se transportem para outros por meio de links.

Figura 9: “Contribuição de seguidores em relação à narrativa”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter

Em função disso, finalizando a sequência, Ale cita na última thread um trecho da música BANG!, do rapper nacional Emicida, que cita: "A dor dos Judeus choca, a nossa gera piada"[13]. A música faz referência ao Holocausto no Congo, assim como a outros episódios semelhantes como a era da escravidão e a questão da marginalização do negro até os dias atuais.

7.2. “O MASSACRE NO CARANDIRU”: A THREAD

Um dos maiores massacres em penitenciárias registrados na mídia, o massacre no maior presídio da América Latina, a Casa de Detenção de São Paulo, ou como é popularmente conhecida até hoje, Carandiru, foi cenário de horror no ano de 1992. Segundos os jornais impressos e televisivos da época, tudo teria acontecido a partir de uma briga entre dois detentos do pavilhão 9, após uma partida de futebol que acontecia no pátio. O conflito, inicialmente, teria resultado na morte dos dois presos, o que acabou dando origem a uma rebelião entre todos os presos do Carandiru, que por essa razão, se dividiram em dois grupos. Entre detentos, foram registrados 111 homicídios.

O jornal O Globo[14] citou em uma matéria em 2018, que dentre esses 111 assassinatos, 29 são de autoria desconhecida. Por sua vez, Machado (2012) faz alusão a problemática dos crimes não solucionados na época.

A Polícia Militar paulista mantém em seus quadros os réus que respondem criminalmente pela morte de 111 cidadãos em privação de liberdade e pelas lesões a outros 92. A maioria dos réus de maior patente àquela época (tenentes‑coronéis, majores e capitães) figura atualmente no portal da transparência do governo estadual3 como coronel, patente de hierarquia superior — o que indica que os procedi‑ mentos disciplinares ou não foram concluídos, ou, caso tenham sido, não deram ensejo à sanção de expulsão. (MACHADO, 2012, p. 6)

7.2.1. Identificação do conflito

O arquivamento do inquérito deu origem a vários questionamentos sobre os critérios de condenação para os culpados pela chacina. A partir disso, Ale Santos dá início a thread utilizando uma expressão presente em um trecho da letra de uma música “Diário de um detento”[15], do grupo de rap brasileiro Racionais MC’s, que cita “Ra-tá-tá-tá” para se referir ao barulho dos tiros disparados durante o massacre dentro do presídio. Por conseguinte, na figura 10, ele contextualiza a história de acordo com sua retratação na mídia, sempre utilizando trechos da música.

Figura 10: “O início de tudo”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

7.2.2. Construção do personagem

Logo após, na figura 11, Ale cita o coronel Ubiratan Guimarães, que segundo a mídia teria ordenado que os policiais entrassem no pavilhão, e dessem início ao que se tornou uma carnificina. Ale ainda utiliza a expressão “cria da Ditadura” para se referir ao coronel, ressaltando ser pertencente da Ditadura Militar[16]. Após o massacre, Ubiratan teria manipulado a cena do crime, fazendo com que os policiais não fossem responsabilizados pelo crime.

Figura 11: “Coronel Ubiratan Guimarães”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

Ao relacionar o massacre no Carandiru com o período de Regime Militar (1964-1985), Ale critica o relatório polícia ao ter responsabilizado os detentos do Carandiru pela carnificina: “Se houvesse armas de fogo nas mãos dos prisioneiros você acha que algum policial sairia ileso?” (SANTOS, 2018). Logo após, Ale pontua o fato do Coronel Ubiratan ter sido atingido por uma explosão de gás ocasionada pelos tiros da sua própria equipe

Na época um inquérito foi aberto a partir do relatório policial sobre o massacre no Carandiru.

Este documento descreve como “resultado da operação”: “22 policiais militares feridos; 111 presidiários mortos; 13 revólveres apreendidos; 165 estiletes de ferro; 25 pedaços de ferro (cano); 1 marreta de ferro; porções de cocaína, e porções de maconha” (fls. 93-95). Nenhum policial militar posteriormente denunciado pelo promotor de justiça militar foi mencionado neste primeiro relatório. (MACHADO, 2015, p.50)

Machado (2015), em sua obra Carandiru não é coisa do passado fala sobre a não resolução do caso à vista dos Direitos Humanos. Podemos relacionar a obra da autora com o desenvolvimento da thread sobre o massacre no Carandiru, já que na figura 12, Ale expõe em foto e critica a forma como os detentos, tanto as vítimas, como os sobreviventes, foram tratados pela polícia durante todo o ocorrido, mais uma vez citando um trecho da música do grupo Racionais MC’s: “Cadáveres no poço, no pátio interno, Adolf Hitler sorri no inferno”.

Figura 12: “Fora do pavilhão 9”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

A utilização do trecho da música relaciona-se com o fato da maioria dos detentos do Carandiru serem negros, a mesma raça dentre a seleção de vítimas do Nazismo de Hitter durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Desta forma podemos associá-la com os estudos de Mazowe (2008) apud Bertonha (2009) que pontua que durante o colonialismo europeu “havia também um tom racial, que identificava uma determinada cultura com determinada raça e nem sempre se aceitava que a assimilação desta ou daquela raça era aceitável e/ ou desejável” (BERTONHA, 2009, p. 245), dando início à caça aos negros que viviam no território europeu.

7.2.3. Estratégias Comunicativas e Relação Comunicativa

Ao concluir a thread, Ale Santos faz uma alusão do tratamento dos negros durante o nazismo europeu com o massacre no Carandiru, que comparado com o sistema prisional brasileiro nos dias atuais, apresenta grande semelhança. Logo, na figura 12, o autor ressalta: “qualquer jovem negro que possa ser confundido com um bandido pode sofrer coerção ou levar uma bala da polícia”, relacionando a thread com suas críticas contra a violência gratuita contra os jovens negros nas grandes cidades em publicações anteriores fora da estrutura das threads.

Figura 13: “Fora do pavilhão 9”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

A repercussão também ocorre de maneira significativa nesta publicação. Cerca de oito mil perfis compartilharam a thread, além de quase 18 mil terem favoritado a publicação matriz da sequência. Logo, assim como na thread anterior, nesta os seguidores também contribuem com a narrativa, só que de maneira diferente. Ao elogiar a forma em que a história foi reconstruída, na figura 14, este perfil seguidor do Savage Fiction, também faz a recomendação de uma leitura referente ao acontecimento narrado na thread. Por conta da disseminação de informações, essa recomendação mais uma vez cria uma ancoragem com a questão do capital social nas redes. Desta mesma forma ocorre com o estudo da inteligência coletiva.

Figura 14: “Recomendação de perfis seguidores”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

7.3. “A CARTA DE LUTHER KING NA PRISÃO”: A THREAD

Conhecido como um dos maiores ativistas negros da história, Marthin Luther King (1929-1968)[17] foi um pastor protestante da Igreja Batista americana, logo depois se tornou líder do movimento "A Marcha para Washington", que lutava em prol dos direitos civis do povo negro da cidade de Birmingham - Alabama. O ato consistia na realização de campanhas não violentas para a eleição de candidatos políticos negros que defendessem sua população. Entretanto, o posicionamento de Luther King não agradava à todos da Igreja e, por essa razão, em 1963 após ser acusado de causar desordem pública, Luther King foi preso na Cadeia de Birmingham, onde escreveu no dia 28 de outubro uma das cartas mais famosas deixadas na história[18].

7.3.1. Identificação do conflito

Na publicação matriz da thread, Ale Santos anuncia que o desenvolvimento da narrativa consistirá no destaque dos pontos mais dramáticos presentes na carta escrita por Luther King. Posteriormente, na figura 14, o autor prossegue com o modelo padrão utilizado na construção das threads anteriores, em que, na segunda publicação da sequência a história é contextualizada de acordo com o que seu público, na maioria jovem, já têm conhecimento.

Figura 15: “A manifestação pelos direitos civis dos negros de Birmingham”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

Logo após, Ale detalha a forma como Luther King foi preso, afirmando “(...) o Departamento de Polícia usou mangueiras e soltou cães nos ativistas” (SANTOS, 2018), e prossegue a thread narrando a discriminação racial sofrida por King durante o período. Ao citar que líderes brancos da igreja teriam denunciado o ativista negro, na figura 15 Ale recorta um trecho da carta, que se fundamentava na resposta de MLK ao ocorrido.

Figura 16: “Trecho da carta”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter.

7.3.2. Construção do personagem

No trecho, Marthin Luther King fala sobre a motivação da Marcha para Washington ter acontecido de forma pacífica, e expõe sua indignação em ter sido mal interpretado, já que seus seguidores ativistas estavam nas ruas da cidade lutando pelo o que deveria ser de direito deles. Por sua vez, Ale recita outro trecho da carta que diz: “Sabemos através da dolorosa experiência que a liberdade nunca é voluntariamente dada pelo opressor; deve ser exigido pelos oprimidos” (KING, 1963, apud SANTOS, 2018). Logo Após, Ale critica o posicionamento contra o discurso de King que a Igreja teve ao colocar questões religiosas acima das razões raciais.

Publicada no final de janeiro de 2019, a thread é concluída com a recitação “o sonho que tive em Washington em 1963 se transformou em um pesadelo”, exatamente quando lutava por políticas de inclusão social do negro” (KING, 1963 apud SANTOS, 2019). Posteriormente, a publicação rendeu engajamento positivo, sendo compartilhada por perfis famosos, como o perfil do rapper brasileiro Marcelo D2, que logo após recomendou que seus seguidores lessem a narrativa postada no perfil do Savage Fiction (figura 16).

Figura 17: “Citação da thread pelo cantor de rap Marcelo D2”

Fonte: Perfil Savage Ficction. Reprodução/Twitter

7.3.3. Estratégias Comunicativas e Relação Comunicativa

Ao indicar que a publicação do Savage Fiction fosse consumida por seus seguidores, o perfil indicador possivelmente está alavancando a repercussão da publicação, já que seu grande número de seguidores consomem o mesmo conteúdo. A partir disso, o perfil do Savage Fiction obtém grande prestígio e isso ocorre por meio do compartilhamento atribuídos a publicação.

A utilização de ferramentas imagéticas, como gifs e fotografias fornece a thread um caráter visualmente sedutor e, assim como nas publicações anteriores, Ale Santos utiliza uma linguagem condizente com a linguagem utilizada no Twitter. Um exemplo disso

8. CONCLUSÃO

Ao analisar as threads, nota-se que há um certo padrão na estrutura da sequência dos tweets. A construção sintática das publicações/tweets matriz assemelham-se com a estrutura de uma manchete de jornal, que apresenta os itens essenciais para a chamada de uma matéria. Desta maneira, ao produzir Storytelling Interativo no Twitter, Ale conta com a estrutura do lead – estudado no jornalismo, o termo é de origem americana, e remete ao sentido de ligar, conduzir e levar o leitor ao entendimento de alguma coisa – , transformando a técnica em um padrão para as outras publicações. Garcia (1995) considera que o lead “expressa exatamente a função das primeiras linhas do texto de jornal: guiar o leitor, atraí-lo, num processo bem próximo da sedução” (GARCIA, 1995, p.31).

Nota-se também que, o início do desenvolvimento das narrativas se divide em: contextualizações e aproximações com questões vividas atualmente no país, como discriminação racial a partir do não cumprimento dos Direitos Humanos, e com o posicionamento político de Ale Santos em relação aos ocorridos. O autor também utiliza uma linguagem atual, com gírias e gifs[19] para se relacionar com os usuários da plataforma digital Twitter.

Quanto ao debate que o publicitário propõe, existem inúmeras questões em relação a origem da raça negra. Alguns historiadores relacionam a formação da cor da pele negra com as histórias da Bíblia Sagrada. Antropólogos relacionam com fatores climáticos provenientes da antiguidade. Segundo a história, em geral, a palavra “negro” surgiu muito depois, na era da escravidão, onde pessoas de pele escura eram comercializadas e obrigadas a trabalharem para os senhores feudais.

O problema se encontra na forma em que o negro, em específico, os jovens são vistos no aspecto social. A falta da valorização das grandes conquistas alcançadas por personagens negros da história gera o estranhamento do reconhecimento da raça negra como grande representante da história da humanidade.

Desta forma, ao exercer a função representativa para seu público, Ale Santos associa suas threads com trechos de músicas de rappers, como Marcelo D2 e Emicida, que também estão na luta pelos direitos civis dos negros, as narrativas publicadas no perfil do Savage Fiction geram representatividade. Na etimologia, a palavra ainda não pode ser conceituada significativamente, entretanto, o termo advém da palavra “representação”, ou “repraesentare” em latim que significa “fazer presente ou apresentar de novo”. Faz-se importante que nomes como Marthin Luther King e acontecimentos como o holocausto no Congo, entre outros, sejam lembrados na história popular para que as próximas gerações sintam-se representadas positivamente.

Esse tipo de representatividade utilizado na página, quando trabalhado por meio da narração de histórias sobre antepassados negros que contribuíram de forma significativa para a humanidade, impulsiona que as pessoas busquem ainda mais conhecimento sobre suas origens.  Trabalhar isso de forma atrativa, como o perfil do Savage Fiction faz no Twitter, faz com que cada vez mais as novas gerações despertem seus estímulos de curiosidade.

Em suma, este trabalho se fez importante pois, além de analisar de que forma o negro é representado no perfil do Savage, também promove que novos trabalhos sejam construídos a partir deste. Logo após, por meio dos estudos realizados em função dos mecanismos de produção e disseminação informativa na atualidade, esta analise contribuirá como suporte técnico e de caráter cognitivo para a consideração de fenômenos e ações sociais por meio da mídia digital em relação a população negra no Brasil.

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10. APÊNDICE

Apêndice 1 – Tabela com as 17 threads mais relevantes publicadas no perfil do Savage Fiction entre junho de 2018 e setembro de 2019

THREAD

DATA

RETWEETS

LIKES

“O Holocausto no Congo”

07 de junho de 2018

8,5 mil

16,3 mil

“Povo livre da América”

06 de julho de 2018

822

2,4 mil

“Rei de Quilombos”

15 de junho de 2018

2 mil

5,1 mil

“Malcom X e Luther King”

20 de junho de 2018

441

1,2 mil

“Vênus Negra”

26 de junho de 2018

5,4 mil

10,5 mil

“Zacimba Gaba”

10 de julho de 2018

1,2 mil

3 mil

“Zoológicos racistas”

11 de julho 2018

2,1 mil

4 mil

“A trágica história de Ota Benga”

22 de julho de 2018

1,4 mil

3,5 mil

“Osei Tutu”

31 de julho de 2018

1,2 mil

3,3 mil

“Dragão do Mar”

07 de agosto de 2018

3,2 mil

9 mil

“Revolução Farroupilha”

11 de setembro de 2018

3 mil

6,7 mil

“Desembarque Lgbo”

24 de setembro de 2018

2,7 mil

6,7 mil

“Dória e a família escravocrata’

16 de outubro de 2018

3,3 mil

6,9 mil

“Negacionismo’

25 de outubro de 2018

5,4 mil

11,8 mil

“O plano eugenista’

6 de novembro de 2018

4,6 mil

10 mil

“A mentira da igualdade

24 de abril de 2019

878

2,3 mil

“O massacre no Carandiru”

09 de setembro de 2019

7,5 mil

17,3 mil

Fonte: autoria própria


[1] Twitaço refere ao movimento de postagens sobre determinado assunto em determinado horário, promovendo alguma hashtag. Analogamente, pode ser comparado às passeatas realizadas pelos movimentos sociais. 

[2] A hashtag motriz da campanha alcançou o primeiro lugar no ranking de assuntos mais comentados que o próprio Twitter divulga em tempo real, denominado Trendig Topics. Além disso, foram mais de 3 mil publicações em poucas horas indexadas à hashtag, quando a campanha foi lançada em 22 de novembro de 2015 (dados extraídos do mecanismo de busca da rede social Twitter) e repercutiu em menor proporção por alguns dias mais.

[3] Disponível em: < https://elpais.com/tecnologia/2009/03/25/actualidad/1237973279_850215.html> Acesso em 21 de outubro de 2019.

[4] Disponível em: Acesso em: 25 de novembro de 2019.

[5] (...) uma forma de entretenimento digital baseado na combinação de interatividade e narrativas. Os sistemas de Storytelling Interativo visam criar experiências narrativas dramáticas e envolventes para os usuários, permitindo que eles intervenham nas tramas em andamento e mudem a maneira como a estória se desenrola. Um dos principais desafios no desenvolvimento de tais sistemas é como equilibrar um bom nível de interatividade com a consistência das estórias geradas. (LIMA, 2015, p. 22, tradução nossa)

[6]Disponível em:

[7] Disponível em:

[8] Thread completa disponível em: Acesso em: 30 de outubro de 2019.

[9]  Thread completa disponível em: < https://twitter.com/Savagefiction/status/1171117147877257216> Acesso em 30 de outubro de 2019.

[10] Thread completa disponível em: < https://twitter.com/Savagefiction/status/1090245843972775937> Acesso em: 30 de outubro de 2019.

[11] O que podemos inferir sobre postagens em redes sociais ao se tratar de narrações sobre o cotidiano que cada um que ali está, deseja compartilhar com seus interlocutores.

[12] Com a utilização de links transportadores, o leitor obtém a possibilidade de visualizar conteúdos hospedados  em signos, que podem ser compartilhados em várias plataformas digitais. (CANAVILHAS, 2001)

[13] Emicida - BANG! (Feat:Adriana Drê). Disponível em: Acesso em: 30 de outubro de 2019.

[14] Disponível em: Acesso em: 30 de outubro de 2019.

[15] Racionais MC’s – Diário de um detento. Disponível em: Acesso em 30 de outubro de 2019.

[16] O período que teve início em 1963, ficou marcado na história do país através da prática de vários Atos Institucionais, como o AI-5, que puseram em prática a censura, perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, além da extinção total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar.

[17] Martin Luther King nasceu no dia 15 de janeiro de 1929 na cidade de Atlanta, capital da Georgia. Filho primogênito de pastores protestantes negros norte-americanos de classe média.

[18] Discurso completo traduzido para o português disponível em: . Acesso em 30 de outubro de 2019.

[19]  “GIFs (“graphics interchange format”) animados são arquivos que comportam várias imagens executadas automaticamente em sequência por navegadores de Internet ou outros programas.” (GUINSKI, 2017, p. 4)


Publicado por: Rafaella S Cardoso

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