O PERSONAL BRANDING NA IMAGEM DE ANTI-HERÓIS DA MÚSICA: UMA TRANSCURSÃO DE ALICE COOPER A MARILYN MANSON

índice

Imprimir Texto -A +A
icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

1. RESUMO

A presente Monografia tem como objeto o entendimento das figuras dos anti-heróis no mundo da música, apresentando suas características e, ao mesmo tempo, suas estratégias publicitárias, principalmente relacionadas à sua imagem pessoal, para a manutenção de suas carreiras de sucesso por tantos anos, através do estudo de estratégias do personal branding. O seu objetivo é mostrar que, há tempos, a figura do anti-herói (ou vilão) é, muitas das vezes, idolatrada pela sociedade e chama mais atenção do que a figura do herói (ou “mocinho”), que possui uma imagem baseada de acordo com os padrões impostos pela sociedade. Temos também o objetivo de analisar o significado da imagem de anti-heróis na sociedade, como esta reage a tal figura e quais os seus pensamentos sobre; apresentar estratégias de personal branding utilizadas por artistas já consagrados que utilizam uma persona anti-heroica; além de reunir entrevistas com os profissionais que trabalham com tais artistas e/ou os próprios artistas, a fim de ter uma melhor visão de suas estratégias de autopromoção e de como chegaram ao ponto de anti-herói. Usaremos nesta monografia exemplos de músicos como Alice Cooper, Kiss, Marilyn Manson, Steel Panther, dentre outros, apresentando históricos de carreira, fatos e entrevistas, visando um melhor entendimento das figuras de anti-heróis que estes adotaram em suas carreiras musicais.

Palavras-chave: Anti-herói – Alice Cooper – Marilyn Manson – Imagem – Publicidade – Personal Branding – Marca Pessoal.

ABSTRACT

The following monograph aims to understand the figures of anti-heroes in the world of music, presenting their characteristics and, at the same time, their advertising strategies, mainly related to their image, for the maintenance of their successful careers for so many years, through the personal branding strategies. Its purpose is to show that the figure of the anti-hero (not villain) has long been idolized by society and attracts more attention than the figure of the hero (or "good guy"), who has an image based on the standards imposed by the society. We also aim to analyze the significance of the image of anti-heroes in society, how it reacts to this figure and what its thoughts on; present personal branding strategies used by well-established artists who use an anti-hero persona; in addition to gathering interviews with professionals who work with these artists and/or the artists themselves, in order to have a better view of their promotion strategies and how they have reached the point of anti-hero. We will use at this monograph examples of musicians such as Alice Cooper, Kiss, Marilyn Manson, Steel Panther, among others, presenting career histories, facts and interviews, aiming at a better understanding of the antihero figures they have adopted in their musical careers.

Key-words: Anti-hero – Alice Cooper – Marilyn Manson – Image – Publicity – Personal Branding – Personal brand.

2. INTRODUÇÃO

Durante a história, toda geração necessitou de ao menos uma figura heroica para se abraçar, seja esta persona esportista ou um artista musical. É importante contextualizar o termo “abraçar”, que trataremos como um modelo a ser seguido, ao menos de acordo com a mídia e conservadores. De acordo com Matos (1994), a ideia da figura do herói trata daquele que “detém, suspende o tempo e que, por sua excelência, supera, por assim dizer, a condição humana”. Completando esse pensamento, Guazzelli Filho (2009) entende que a figura do herói propõe para a sociedade valores como: “educar as novas gerações, transmitindo normas e valores da cultura vigente”. Por assim dizer, um herói da sociedade é aquele que, sobretudo, deixa mensagens que fogem da realidade da sociedade, mas que, ao mesmo tempo, é o que esta deseja alcançar em um determinado futuro.

Temos também a figura do anti-herói. Mas o que seria isso? O oponente do herói? O vilão? Não, o anti-herói aparece para contrapor a figura heroica que foi criada, se tornando um personagem que está sujeito a erros – não tendo a faceta de superpoderes que o herói possui – e, sobretudo, um personagem que questiona padrões éticos impostos pela sociedade. De acordo com Guazzelli Filho (2009), as figuras dos anti-heróis na sociedade são tomadas por atitudes que beiram a anarquia[1] e, em sua maioria, possuem características parecidas, sendo assim, possíveis de identificá-las.

“São muitas as perguntas que podemos propor para o papel destas figuras literárias e mitológicas que persistem na fuga dos padrões sociais vigentes, personagens de atitudes anárquicas, notórios desafiadores de padrões éticos. Talvez sua existência se explique simplesmente porque exercem um papel fundamental ao fornecer um contraste entre suas ações – marcadas por uma certa “frouxidão” moral – e o caráter elevado, redentor, do temperamento do herói. Também desempenhariam um papel importante ao desbravar novos horizontes de comportamento, ao questionar as regras sociais vigentes em determinado momento histórico. Independente destas questões, o anti-herói partilharia – ainda que em negativo – das funções que o mito heroico propõe [...] Por outro lado, o anti-herói também pode ser compreendido como uma versão mais contemporânea do próprio herói, mais distante da sua versão clássica, na qual este era portador de um caráter idealizado, a marca registrada de um ser dotado de integridade absoluta e benévola, instrumento vital para que pudesse enfrentar os obstáculos que o destino opunha à sua missão redentora [...] precisariam de um protagonista menos infalível, capaz de assumir suas fraquezas e ser porta-voz dos conflitos que caracterizam a nossa sociedade, um personagem capaz de transitar por universos em crise onde a contradição é o elemento mais importante”. (GUAZZELLI FILHO, 2009, p. 93)

No meio musical, assim como no literário, a cada década surgem as figuras do herói e do anti-herói, ambas alcançando o seu sucesso, porém de maneiras totalmente distintas. A figura do herói na música surgiu através da capacidade de alcançar a grande massa, que seriam artistas que teriam uma maior facilidade de serem aceitos por pais para que, então, pudessem “autorizar” os filhos adolescentes a escutarem sem problemas. Entre os artistas que adotaram figuras heroicas temos uma linha do tempo que passa pelos Beatles, nos anos 60, até Demi Lovato, nos anos 2000.

Mas contrapondo com suas atitudes altamente anárquicas, que questionam os padrões e, muitas vezes, chocam, passaremos por Alice Cooper, nos anos 60, Marilyn Manson, nos anos 90, e nos dias atuais, Steel Panther, que utiliza do humor para tratar de letras que várias vezes foram consideradas misóginas, preconceituosas e que vulgarizam a imagem feminina.

Porém, mesmo com todos os mitos e polêmicas que rodeiam os anti-heróis musicais, estes continuam lotando arenas por todo mundo e vendendo milhares de cópias – ainda que a venda física de discos não seja tão forte como era antes. Mas em uma sociedade cada vez mais politicamente ativa e exigente de que padrões sejam seguidos, o que faz com que estes artistas (e tantos outros que seguem o anti-heroísmo) ainda sejam estrelas mundiais? Segundo Bostic et. al (2003), “essas estrelas são deliberadamente provocativas, atacando quase todas convenções sociais adultas, e pais muitas vezes têm medo de que elas estejam fazendo com que a juventude se desvirtue”.

Mas por que a ideia de seguir um lado que as dificuldades de aceitação – do grande público e de gravadoras – seriam maiores? A regra é simples: um artista é uma empresa, que contrata pessoas, vende produtos e, principalmente, possui uma marca, que deve ser cuidada de acordo com suas características naturais. Sempre presente no meio musical, o personal branding (ou a gestão da marca pessoal) das figuras anti-heroicas é, portanto, estratégico e incansavelmente trabalhado pelos profissionais que os rodeiam através de ações de marketing nas redes sociais, nos shows e, com isso, praticado com maestria pelos artistas que pertencem a este segmento musical, tornando-o cada vez mais ‘assustadores’ para a plateia.

Traçamos, porém, nesse estudo algumas estratégias de personal branding utilizadas pelos maiores nomes do chamado Shock Rock, a fim de entender se essa imagem que choca as pessoas é propositalmente criada e, depois de criada, quais as possíveis crises e gestão destas podem ser atotadas, além de diferenciar as estratégias de personal branding utilizadas por figuras anti-heroicas e por artistas “comuns”.

Portanto, a importância dos estudos a respeito dos anti-heróis musicais se dá pelo crescimento de suas carreiras, mesmo indo pela contramão dos padrões sociais de imagem e comportamento, resistindo a diversos protestos de pais e religiosos, especialmente entre os anos 1960 e 1980, tornando, assim, suas carreiras vitoriosas e de sucesso.

Entenderemos através deste estudo quais são as estratégias de autopromoção utilizadas para o crescimento das carreiras de personagens da música que adotaram a figura de anti-herói. Tendo em vista a grande base de fãs e alto índice de vendas de produtos, os personagens que opõem a imagem do herói na música criaram para si próprios uma “marca”, na qual esta é estrategicamente cuidada por eles e por profissionais ao seu redor, que utilizam de estratégias do personal branding para manter os bons índices de vendas desses artistas.

Assim sendo, de acordo com London e Mone (1987), para uma boa gestão de carreira e da marca vista como pessoa, três características devem ser identificadas: resiliência, insight e identidade. Para explicar essas três dimensões, Fernandes (2015) defende que a junção e utilização dessas características moldam e, por assim sendo, motivam o indivíduo a se concentrar em sua auto-gestão de carreira.

“Por um lado, a resiliência permite que o indivíduo continue a superar obstáculos à medida que a sua carreira se vai desenvolvendo. Por outro lado, o insight reflete o conhecimento que o profissional tem acerca de si mesmo e do ambiente que o rodeia. Quanto à identidade, esta está relacionada com o comportamento e o respectivo desempenho necessários à concretização de um conjunto de objetivos específicos de carreira”. (FERNANDES, 2015, p. 5)

A importância do estudo das imagens dos anti-heróis se baseia através de a sociedade, em uma grande parte, estar sempre buscando figuras de heróis para se agarrar e, assim, se inspirar. Mas, ao mesmo tempo, a cada herói que surge, um anti-herói também aparece e, assim como o herói, com a mesma – ou até maior – quantidade de seguidores.

Antes de seguirmos o entendimento sobre estas figuras, é importante conceituarmos um termo que será bastante usado nesse estudo: persona. Faremos agora um paralelo entre dois dos alguns significados que este conceito pode ter, o publicitário e o pessoal. Na publicidade, temos a persona como uma certa criação de estereótipos de um consumidor da marca e/ou produto, pois, para a Ciências Humanas, o ser humano sempre deixa rastros comportamentais, gostos e vivências e, portanto, para um acerto maior de profissionais da publicidade em relação ao seu público, é necessário criar personagens que podem ser identificados como grande parte do público-alvo, este tendo nome, profissão, idade, gênero e dados de comportamento.

A publicidade idealiza sujeitos modelos que modulam o ser/estar no mundo dos sujeitos receptores, assim como os receptores alimentam a publicidade com as novas tendências comportamentais e estilos de subjetividade que surgem no interior da vida social e cultural que passam a ter lugar nas mensagens da publicidade. É um processo contínuo de influências mútuas”. (TRINDADE e PEREZ, 2009)

Já o significado mais puro de persona – que é o que vamos utilizar nesse estudo, de acordo com Tavares (2010), tem seu surgimento no teatro, na Grécia, justamente se remetendo ao momento em que os atores e atrizes deixam seu eu de lado para incorporar uma outra personagem.  

As personas que representam os anti-heróis, com toda a sua anarquia, desafiadora e até mesmo sensual, percorreram por todas as gerações e são, de acordo com Bostic et. al (2003), “ícones atrativos para adolescentes e igualmente repugnantes para os adultos”. Mas devemos também estudar o fato de que o público que idolatrava anti-heróis dos anos 70, por exemplo, hoje é o público adulto, mas que, ainda assim, acompanha essas personas.

As estratégias de personal branding adotadas para o crescimento de carreira de personas anti-heroicas tendem a ter particularidades em suas vertentes, fazendo com que aquela imagem vista “em cima dos palcos” seja sempre lembrada quando o artista for falado. Portanto, é de extrema importância percorrer sobre os fundamentos do branding pessoal e, com isso, criar ligações com o marketing dos anti-heróis da música.

3. BRANDING

Antes de transcorremos através dos estudos das figuras anti-heroicas na música e de suas estratégias para a manutenção de suas devidas marcas, é importante entendermos, primeiro, o conceito de branding e de marca. Diferente do que a maioria das pessoas acredita, uma marca não é apenas o nome de uma empresa e/ou sua identidade visual, representada por sua logo, mas sim um conjunto de ideias e estratégias, a fim de criar uma experiência que será repassada ao cliente, transmitindo, assim, seus valores e uma identificação através (e com) os seus produtos ou serviços. Segundo Aaker (2015), “uma marca é mais do que uma promessa. Ela também é uma jornada, uma relação que evolui com base em percepções e experiências que o cliente tem todas as vezes que estabelece uma conexão com a marca”.

Nesse contexto, é importante vermos aqueles que estão inseridos no show business como uma marca, uma empresa, sejam as bandas ou artistas solo. Pois, segundo Kotler (2000), uma marca é feita de, além de outros aspectos, identidade e imagem, sendo a primeira se relacionando facilmente com a maneira com que a marca se posiciona em relação a si própria e/ou seus produtos e a imagem está automaticamente ligada ao que seu público enxerga em relação à marca e/ou seus produtos.

Sendo assim, podemos imaginar uma semelhança entre bandas e empresas, onde ambas possuem sócios ou diretores – no caso das bandas, na maioria das vezes, os músicos cumprem essa função; e, além disso, possuem produtos, que, para os artistas, são suas músicas, videoclipes, shows ou até mesmo produtos tangíveis, como merchandising oficial – neste último quesito, temos como grande exemplo a banda Kiss, que também pertence à era do Shock Rock, pois transformou sua imagem física, de quatro músicos com diferentes personas[2], e hoje tem produtos em sua loja oficial que vão de preservativos Kiss a caixões Kiss, ou de papéis higiênicos Kiss a uma edição limitada de carros (de verdade) Kiss.

Já o branding, nada mais é do que a gestão dos conceitos explicados anteriormente, através de estratégias que buscam contribuir para a percepção do cliente para com a marca, seja ela de forma positiva ou negativa, quando este conjunto de estratégias não funcionam com a devida precisão pensada. O branding pode ser facilmente comparado a um jogo de xadrez, onde um objeto que não é palpável, que é a marca propriamente dita, é a rainha do tabuleiro e o objetivo do branding (ou das outras peças do jogo) é justamente proteger essa rainha, através de estratégias eficazes, que façam com que a imagem da marca esteja sempre na memória dos consumidores de uma maneira positiva.

4. PERSONAL BRANDING

Assim como uma empresa, uma pessoa pode (e deve) trabalhar no seu personal branding. Mas o que seria esse termo? Nada mais é do que a gestão da marca pessoal, ou seja, a partir desse momento, uma pessoa física deixa de ser apenas mais um indivíduo no mundo e passa a ser uma marca, criando e cuidando de valores para transmitir para o seu público – seja ele fãs, no caso de artistas, ou amigos e/ou colegas de trabalho, para pessoas “comuns”.

Na década de 2010, o personal branding vem sendo cada vez mais utilizado, especialmente porque vivemos em uma era que influenciador digital se tornou uma profissão, e que cresce cada vez mais[3]. De acordo com estudo feito pela Nielsen e publicado pelo Exame (2018), 84% dos brasileiros e brasileiras se orientam antes de uma compra através de pessoas e fontes consideradas confiáveis por eles, portanto, a gestão de marca pessoal desses influenciadores são cada vez mais comuns.

De acordo com Montoya e Vandehey (2002), o ditado popular “é a primeira impressão que fica” faz muito sentido, pois é a partir da identidade pessoal que tende a estimular percepções sobre alguém, ou seja, os valores que são externados é que contam nesse momento e não o que a pessoa pensa e fica só com ela. Segundo Peters (1997), a criação da personal brand se inicia com a percepção de características já existentes na pessoa por trás da marca, porém, quase que em sua totalidade, nomes conhecidos de personas anti-heroicas musicais criaram sua marca pessoal de forma bastante distinta à sua pessoa.

Um exemplo claro – que aprofundaremos mais à frente – disso é o do cantor Alice Cooper, que nada mais é do que uma persona criada por seu interprete, Vincent Damon Furnier, em que os pensamentos e atitudes de Vincent não são externados para o grande público, mas, em contrapartida, as atitudes chocantes no palco da persona Alice Cooper que ficam para o público e o torna conhecido por todos que vão aos seus shows e/ou escutam os seus álbuns, tirando totalmente os holofotes de Vincent Furnier.

Mais do que a gestão da marca pessoal, o personal branding tem como princípio básico criar uma imagem marcante, que diverge de todos os “concorrentes”, e foi exatamente a partir desse princípio que temos o surgimento de nomes como Alice Cooper, nos anos 60 e 70, e mais atualmente, nos anos 2000, de Lady Gaga.

“O rock n’ roll era um ritmo muito seguro. Jim Morrison era o único cara ‘perigoso’ do mercado. Então decidimos virar a banda mais perigosa do mundo. Decidimos não ser heróis, e sim, os vilões. Essa ideia ainda funciona. Até hoje nos consideram a banda mais performática de todas [...] Acho que quando surgimos, nos anos 1970, chocamos o mundo. As pessoas ficaram assustadas com as cobras, as guilhotinas e sangue jorrando nos shows. As pessoas inventavam histórias ao meu respeito, os pais escondiam as crianças”.  (COOPER, 2011)

Essa imagem “perigosa” que Cooper cita pode ser uma das explicações para que artistas que adotam essa identidade tenham sucesso – além de, claro, o talento musical. Pois, como suas bases de fãs são compostas, na maioria, por jovens, estes querem se libertar do autoritarismo dos pais e encontram nessas personas o seu eu interior, que busca exatamente questioná-los.

Entrevistamos, por telefone, para a presente monografia o guitarrista Ryan Roxie[4], que acompanha Alice Cooper em turnês. Para Roxie (2018), Cooper exemplifica como a marca pessoal do artista pode ser totalmente antagônica à vida real.

“Alice Cooper é um dos grandes exemplos de como sua marca pode ser diferente do que você é. No palco, Alice Cooper é um vilão, um louco e um monstro. Mas fora do palco, ele é totalmente o oposto de tudo isso, porque ele faz muito pela comunidade da música, faz muito para outros músicos, eu sou um deles, uma vez que ele me deu um trabalho, e ele faz muito pelos seus fãs, faz muito mais além do que um músico poderia fazer pelos seus fãs, ele é sempre gentil e atencioso com seus fãs. Sabe, no palco, é esse personagem louco, mas fora do palco ele é muito... filantropo”. (ROXIE, 2018)

Fotografia 1: Ryan Roxie

Fonte: Victor Chalfant

Para Aristóteles, em sua obra Poética, há uma enorme semelhança, às vezes até se confundindo, entre a personagem e pessoa, onde a primeira seria a representação do ser real, tendo, portanto, algumas vezes o exagero teatral, esta seria, então, a chamada mimesis aristotélica. Porém, essa semelhança não necessariamente se dá para com a pessoa que está atuando, mas sim uma representação de alguma pessoa ou grupo de pessoas na sociedade.

Relacionando-se com Aristóteles, podemos ver que quando Roxie (2018) antagoniza a figura de Alice Cooper com de seu criador, Vincent Furnier, explicita que a persona Alice Cooper não é uma representação do criador da obra, mas sim de alguma pessoa, grupo ou junção de comportamentos de parte da sociedade.

5. O ANTI-HERÓI

Para começarmos a nossa análise da importância da figura do anti-herói no mundo musical, é preciso entender quais são suas características e quais os atrativos que ela tem. A imagem do anti-herói surge na mitologia grega, em que eram narradas histórias que envolviam personagens que possuíam diversas características, entre elas a imperfeição, algo bem comum do ser humano, isso se aplica, inclusive para os deuses, que “possuíam traços humanos” (Gattaz, 2016), como a ira, a insolência e até mesmo a traição.

O anti-herói surge como uma antítese da imagem do mocinho, do herói (não aquele que tem superpoderes, mas sim o que transmite para as pessoas, especialmente para adolescentes, valores considerados éticos, tanto em suas letras, mas principalmente em seus comportamentos dentro e fora dos palcos). O anti-herói aparece jogando todas essas premissas fora, transmitindo, talvez, valores que estão presentes nas pessoas, mas, pela sociedade conservadora, são escondidos e ignorados, como a raiva, a loucura e até mesmo o abuso de drogas (lícitas e ilícitas). Segundo Bostic et. al (2003), a imagem do anti-herói vista no palco nada mais é do que frutos da criação dos seus autores, que, muitas das vezes, são totalmente o oposto da persona que está nos palcos, esta que, por sua vez, possui diversas características semelhantes:

“Essas personas no palco têm várias características em comum: 1. Todo anti-herói defende a revolta dos adolescentes contra os valores e expectativas prevalecente no mainstream[5]. Esses personagens desafiam forças sociais que constrangem as opções de identidade do adolescente. 2. A busca da individualidade culmina em uma reação contra qualquer coisa atualmente reconhecida pelo mainstream, incluindo a música, mesmo nos últimos anos. 3. Todo personagem é ouvido a todo custo. A intensidade da mensagem frequentemente substitui o conteúdo. 4. Esses personagens têm uma aparência distinta, identificando esses anti-heróis como distintos do "rebanho" mainstream. Essa aparência demonstrativa mostra aos outros que uma alternativa para se “encaixar” está disponível. 5. Cada personagem persiste, apesar das idiossincrasias, fraquezas ou vulnerabilidades. Nenhum é um macho fisicamente grande ou forte, ainda que sejam personagens fortes. 6. Esses personagens comemoram, mas talvez o mais importante, sobrevivem ao isolamento do mainstream. Para o adolescente que teme exclusão e banimento, esses artistas fornecem esperança que a alienação possa ser sobrevivida e possam fornecer um modelo para uma formação de identidade”. (BOSTIC et. al, 2003, p.55)

Fotografia 2: Alice Cooper

Fonte: CerealKyler Photography

5.1. O Demônio no Rock

Tratado pela mitologia cristã como o vilão, o Diabo, demônio, exu, chifrudo, ou tantos outros nomes e apelidos criados para essa figura, é frequentemente ligado à desordem, pois este encarna o “papel de Pai da Desobediência, remetendo a sua existência a uma perspectiva muito mais ampla: a livre opção de todos, e de cada um dos homens, entre o Bem e o Mal” (Nogueira, 1995, p. 71). E, partindo do pressuposto de que o cristianismo é uma das religiões mais praticadas em todo o mundo, de acordo com Galvani (2003), tudo aquilo que não se encaixasse às características impostas pelo cristianismo era visto como o “mal”. A ideia de mal, antropologicamente, pode ser interpretada de acordo com cada cultura, criando e atribuindo significados à ideia de acordo com sua vivência e crença.

“Essa representação é simbólica, mas se apresenta como real, porque interpreta a realidade. Tal interpretação é feita por meio de símbolos, ritos, crenças, discursos e representações alegóricas figurativas. A isso se chama imaginário. Assim sendo, cada grupo humano cria o seu imaginário [...]” (DA SILVA, 2011)

Já segundo Alice Cooper, em entrevista ao E! Vip Brasil (2011), o demônio não é uma figura física, mas sim uma influência. “Acho que ele [demônio] é uma influência. Não acho que ele tenha chifres ou um rabo. Acho que ele é um político bem sagaz. Ele deve ser um cara bonitão e com boa lábia”.

Ainda segundo Da Silva (2011), o mal pode também ser visto, através da psicologia, como uma personalidade reprimida do indivíduo, a “sombra”, com pensamentos, sentimentos ou fantasias que este, perante a sociedade, não externaria facilmente.

Por ser um estilo musical que, praticamente desde sua origem, trata da rebeldia como assunto recorrente nas músicas, o rock, quase que em sua totalidade, é associado à figura do demônio. Rodeados de mitos criados pela sociedade a respeito de suas imagens, os artistas desses gêneros, muitas das vezes, cultivam essas lendas urbanas para agregarem ainda mais na persona criada. Um exemplo disso é da persona King Diamond, conhecida por sua “figura satânica”, que sempre foi rodeada de mitos urbanos, como pode-se observar no trecho da entrevista publicada no site #VamosMusicalizar (2017) que este autor fez com ele [Anexo 1, p. 37]. Fora dos palcos, Kim Bendix Petersen é totalmente o oposto da figura que é vista em cima dos palcos. Durante a entrevista, via Skype, Kim se mostrava sempre muito calmo e educado, respondendo às perguntas com clareza e elegância, sempre usando do bom humor nas respostas.

Talvez o maior motivo de o rock ser frequentemente associado ao satanismo é que muitos artistas famosos do gênero, chamados de rockstars, assumem abertamente sua preferência pelo demônio, pelo menos nas personas criadas. Como é o caso de Gene Simmons, da banda Kiss, que através de uma persona, chamada “The Demon”, cospe sangue, fogo, exibe sua língua a todo momento e entoa canções com temas considerados libidinosos, como Unholy, do álbum Revenge (1992) [Anexo 2, p. 38], interpretada por Kiss (1992), que fala sobre o demônio em todas as suas nuances, exibindo alguns dos pecados da humanidade e até mesmo incentivando-os. Porém, em sua vida fora dos palcos, Simmons (e toda a banda Kiss) é totalmente o oposto da persona criada. Com o ego sempre inflamado, algumas vezes prepotente e defendendo políticos com viés conservador, Gene Simmons mostra como é possível separar personagem da pessoa.

Por vezes tratados nas letras de músicas de rock, o divertimento e o prazer são, de acordo com Minois (2003), conceitos satânicos, assim como o riso e a sensação de aproveitar os dias, ao passo que, para a tradição cristã, o sofrimento na Terra deve ser recorrente, para que, com isso, seja merecida a vida eterna no céu.

5.2. Criado Para Chocar

A maioria dos gêneros e subgêneros musicais tem como sua principal característica o tipo de som que se toca. Já no chamado Shock Rock, o visual e o espetáculo têm importância talvez até maior do que o próprio tipo de som que as bandas e artistas tocam. Mesclando suas músicas, que trazem letras de temas como o terror, com performances macabras ou usando artifícios, como fogos no palco, para chocar a audiência – e até mesmo quem não está nos seus shows, o Shock Rock ganha fama na transição dos anos 1960 para 1970, com Alice Cooper, considerado o “Pai do Shock Rock” – mesmo não sendo o criador do estilo.

Criando um espetáculo que combina cobras, guilhotinas, espadas e uma maquiagem simples, mas aterrorizante, Alice Cooper nasce em 1964, com o Alice Cooper Group, e substitui, ao menos nos palcos, a persona de seu criador, Vincent Damon Furnier.

Ainda que menos chocante nos dias atuais, os shows de Alice Cooper, assim como de outros ícones do Shock Rock, continuam lotados e a imagem desses artistas continua forte, pois estes decidiram adotar o famoso ditado popular “fale mal, mas fale de mim” e, mesmo com diversos protestos contra eles, especialmente religiosos, o “proibido” pelos adultos e extremistas chama a atenção dos jovens, que, hoje juntos com os pais e avós, vão aos shows de Cooper, que hoje colhe os frutos de um passado que chocava, mas segundo o próprio Alice Cooper (2011), o show ainda é divertido, porém a parte chocante ficou para trás.

“Era divertido ser assustador para o mundo, mas, na verdade, éramos uma boa banda de rock com uma imagem pesada [...] Não acho que seja possível chocar as pessoas hoje em dia. Acho as notícias da CNN mais chocantes. Porque hoje em dia você realmente vê a cabeça de alguém sendo decepada na TV. Você vê alguém sendo estrangulado. Hoje em dia, nossas fantasias não chocam tanto quanto antes, mas são divertidas. A Lady Gaga não é chocante, mas é divertido ver sua performance”. (COOPER, 2011)

Segundo Alan Cross (2012), no documentário Metal Evolution: Shock Rock, a persona de Marilyn Manson seguiu para um patamar ainda mais elevado do que era antes mostrado no quesito de chocar as pessoas. “Marilyn Manson pegou toda a coisa do Shock Rock e levou o mais longe possível que você pode ir antes de começar a prender as pessoas. A imagem era absolutamente o maior pesadelo dos pais. Ele era macabro, assustador, violento, ele era contra a religião, ele, aparentemente, tinha algo que o tornava uma obra satânica”.

Fotografia 3: Marilyn Manson

Fonte: PEROU

6. ESTRATÉGIAS DE GESTÃO

Após entendermos as características das figuras anti-heroicas na música e também do gênero musical Shock Rock, é importante traçarmos algumas estratégias para a manutenção da imagem destas figuras e, consequentemente, de suas marcas, através do Personal Branding. Percebemos que as estratégias a seguir são congêneres entre os principais nomes do anti-heroísmo musical, fazendo com que estes tenham, além de talento musical, uma boa base de gerenciamento de marca, a fim de, consequentemente, aumentarem as vendas de seus produtos e, se for preciso (mas sendo quase recorrente), gerir possíveis crises.

6.1. O Show é tão Importante Quanto a Música

Os artistas do gênero Shock Rock têm uma característica que os difere dos demais estilos de música, onde estes se preocupam com o que o seu público vai ver no palco tanto quanto – ou até mais – a música propriamente dita. São comuns de serem vistos nos shows de artistas do Shock Rock pirotecnia, performances teatrais e muitos elementos do terror.

Ainda que parte essencial dos artistas deste estilo musical, a música facilmente se associa com a performance no palco – e vice-versa, como em partes de shows do talvez maior artista do Shock Rock (e principal peça desse estudo), Alice Cooper. Estes artistas e bandas têm, em sua essência, falar, em suas letras e performances, sobre temas considerados tabus, como transtornos mentais, em ‘Ballad of Dwight Fry’ (1971), de Alice Cooper [Anexo 3, p. 40], onde essa persona está amarrada em uma camisa de força e, enquanto entoa os versos da canção, uma enfermeira é vista provocando o artista, até que este tenta a matar e acaba em uma guilhotina, em um truque em que a cabeça de Alice Cooper é decepada.

Para Pucci (2009), elementos de terror na música podem causar, por mais contraditório que seja, uma certa calma e purificação para o ser humano, o que, misturado com a música e o teatro, cria ainda mais efeitos positivos na visão do espectador.

“A tragédia, pela imitação sublime e próxima dos conflitos humanos, através das vozes da música e da poesia dramática, suscita nos participantes o terror e a piedade, e com isso leva-os à purificação de 3 tais afetos, gerando calma, serenidade. Na Política observa que algumas pessoas, fortemente influenciadas por emoções como piedade, medo e entusiasmo, ao ouvirem os cantos sacros que impressionam a alma, se sentem como que curadas, purificadas. A purificação, o agradável alívio, manifestações sensíveis da catarse, se realizam, então, enquanto um fenômeno estético”. (PUCCI, 2009. p. 2-3)

A combinação entre visual e competência é importante em diversos segmentos profissionais, mas quando falamos sobre entretenimento, essa ligação é ainda mais notória e necessária. A questão visual, de como o público enxerga o artista, para Roxie (2018), é extremamente fundamental para a consolidação da marca pessoal.

“[...] tento me estabelecer como um guitarrista de Rock n’ Roll, não um guitarrista de Heavy Metal, não um guitarrista de Blues, não um guitarrista Pop, mas a combinação desses três estilos, para mim, é Rock n’ Roll. Rock n’ Roll tem peso, tem melodia, mas também tem estilo. E tenho conseguido incorporar todas essas três coisas no meu estilo de tocar por todos esses anos e, consequentemente, incorporo na minha marca também”. (ROXIE, 2018)

6.2. Polêmicas são Bem-Vindas

Algo que pode ser bem negativo para a imagem de diversos artistas, as atitudes polêmicas e até mesmo os boatos são parte fundamental na carreira das figuras anti-heroicas da música, pois trazem o mistério consigo, transformando aquela história – real ou não – em curiosidade e, consequentemente, mais mídia, mais buzz e mais ingressos e álbuns vendidos, a fim de descobrir se tal história é verdadeira ou não.

Como já mencionamos anteriormente, estas figuras do anti-herói estão constantemente envolvidas em polêmicas e protestos contra elas, especialmente de religiosos. Alice Cooper, por exemplo, teve um grande aumento em sua popularidade através de uma polêmica nos anos 70, onde era acusado de matar galinhas em todos os seus shows, causando a revolta de diversos grupos defensores da causa animal e políticos e a ira de pais, que tentavam proibir os filhos de irem aos shows e/ou comprarem os álbuns de Alice. Para o artista, a polêmica – com parte verdadeira, mas com certo exagero – não poderia vir em momento melhor.

“Tínhamos um momento no show em que abríamos travesseiros com penas e ligávamos o CO2 e, de repente, todos ali estavam cobertos de penas [...] Meu empresário conseguiu marcar um show para nós e disse ‘não quero que você me pague, apenas vá tocar entre John Lennon e The Doors’. Nós não éramos conhecidos naquela época, tocamos nossas músicas e fizemos esse truque dos travesseiros com penas com CO2. E aí eu percebi que tinha uma galinha no palco, eu não levei a galinha, ninguém da minha banda levou a galinha, quem leva uma galinha para um show? Eu sou de Detroit, nunca estive em uma fazenda na minha vida, ela tinha penas, era um pássaro, deveria voar. E eu joguei por cima da plateia, e eles fizeram pedacinhos dela. Havia sangue por toda a parte [...] O ponto da história é que as cinco primeiras fileiras do show eram de pessoas em cadeiras de rodas, foram eles que mataram a galinha”. (Alice Cooper no documentário Metal Evolution: Shock Rock, 2012)

O incidente logo foi parar na mídia e o guitarrista da banda Alice Cooper na época, Neal Smith, completa a fala de Cooper, “a imprensa no outro dia estava dizendo que Alice Cooper mordia galinhas e bebia o sangue delas no palco. Foi como um presente de Natal”. A banda tratou logo de aproveitar o boato e a polêmica para se promover, pois todos estavam falando sobre o misterioso Alice Cooper.

“Frank Zappa me ligou no outro dia e disse: ‘você matou uma galinha no palco ontem?’ Eu disse que não e ele disse para não contar a ninguém, pois as pessoas tinham amado aquilo [...] As pessoas evitavam esse tipo de imprensa e nós só queríamos que continuasse [...] Fomos tocar na Inglaterra naquela época e todas essas lendas urbanas eram assunto no país: ‘eu ouvi que eles matam gatos’. Graças a Deus! Eles não poderiam ter feito melhor, nós vendemos todos os ingressos do show no Wembley, o disco foi direto para o número 1 das paradas”. (Alice Cooper no documentário Metal Evolution: Shock Rock, 2012)

Estas polêmicas, boatos e lendas urbanas, para outros artistas, seriam muito difíceis de serem contornadas, exigindo uma grande gestão de crise para tentar salvar suas carreiras, mas para os artistas que criaram personas anti-heroicas no palco são um combustível e tanto para alcançar ainda mais público, criar um buzz na mídia e, consequentemente, vender mais.

Um grande exemplo que podemos relembrar é de, nos anos 80, segundo Dunn (2012), pais, nos Estados Unidos, que tentaram barrar músicas com letras que eles consideravam satânicas e fez com que fosse criada uma famosa “lista proibida” e as gravadoras foram obrigadas a recuar, atitude esta que não poderia ter sido melhor para os artistas que estavam nesta lista, pois gerou-se uma curiosidade dos jovens de ouvi-las e desafiar a autoridade dos pais.

“Com o passar dos anos 80, cresceu a resistência de alguns pais em relação a letras e imagens satânicas de bandas de Heavy Metal, estes pais saíam com placas, para sistematizar sua oposição. Os pais criaram uma comunidade, que teve apoio de um dos homens mais poderosos de Washington, criando uma lista de músicas acusadas de corromper a juventude da América, chamada The Filthy Fifteen [As Quinze Imundas]. A campanha deles também fez com que as gravadoras colocassem um selo de conteúdo explícito, chamado Parental Advisory [Aconselhamento Parental], nos álbuns com essas características”. (San Dunn em Metal Evolution: Shock Rock, 2012)

Fotografia 4: Lista The Filthy Fifteen

Fonte: Flickriver

Fotografia 5: Selo Parental Advisory

Fonte: Wikipedia

6.3. Essas figuras são propositais e criadas exclusivamente para o palco?

É preciso entender que, para cada artista desse segmento, existem ao menos duas personas, aquela assustadora que está em cima dos palcos e a verdadeira identidade do autor. Um grande exemplo dessa separação de personas é o decano Alice Cooper, a quem acompanhamos durante sua passagem por São Paulo em setembro de 2017. A figura de Alice Cooper é chocante, violenta, perturbadora, que os fãs adoram, mas quem está o vendo pela primeira vez é simplesmente impossível de não se perguntar ‘o que foi isso que eu acabei de ver?’. Mas quem está por trás dessa persona, Vincent Damon Furnier, é totalmente o contrário de Alice, cristão, calmo, com fala mansa e muito educado com todos ao seu redor. Mas basta “virar a chave” e, em alguns segundos, Alice Cooper está no palco com uma capa preta cobrindo seu corpo, maquiagem pesada (sua maior característica) e fogos de artifício o rodeando, para completar, sua banda toca a pesada música Brutal Planet[6], na frente de cerca de 25 mil pessoas, algumas esperando por Alice, mas a maioria chocada com aquela cena e esperando a banda que fecha a noite, o Guns n’ Roses.

Para a guitarrista Nita Strauss[7], que está na banda de Alice Cooper desde 2014, Alice se torna uma referência musical justamente por, além de outros aspectos, ter essa separação da personagem com o seu verdadeiro eu.

Alice é um grande showman, e trabalhar com ele está sendo uma grande honra para mim, posso ver o quão ele trabalha duro e quão profissional ele é. Ele nunca faz um mau show, nunca! Todo dia ele está incrível, ele acorda na manhã, joga golfe, passa um tempo com sua esposa, e aí faz um grande show toda noite, então é uma grande honra e inspiração para mim poder trabalhar com ele”. (Nita Strauss em entrevista ao #VamosMusicalizar, 2014)

Por outro lado, existe uma situação em que a personagem do palco se mistura com a vida de seu autor, que é quando o nome da personagem dos palcos assume o lugar do nome do autor no dia a dia, como é o caso de Alice Cooper que não é chamado nem mesmo por sua esposa pelo seu nome de batismo, mas sim como Alice.

Junto com Cooper, existe uma competente banda com cinco membros que dão ainda mais poder às suas apresentações. Apesar de Roxie (2018) dizer que as marcas pessoais de cada um são naturais, é possível analisar que, mesmo todas diferentes, as características de palco de cada membro da banda completam o show e a persona de Alice Cooper.

Na banda Alice Cooper, temos, excluindo Alice da análise por um momento, diferentes personas no palco: Ryan Roxie, que é um sujeito extremamente estiloso, chamativo e chama o público para participar dos shows; Chuck Garric é a persona que mais se assemelha com Cooper, no palco mostra sua face mais demoníaca e pesada; Tommy Hendriksen também leva consigo a atitude punk, questionadora; Nita Strauss, assim como Cooper disse no seu show em São Paulo, em 2017, parece uma modelo, mas age como uma máquina que consegue levar peso e virtuosidade à banda; para finalizar, Glen Sobel leva uma eletricidade enorme tocando bateria, com firulas e qualidade que deixam o público boquiaberto.

Tais características citadas são opostas, em sua maioria, mas juntas conseguem entregar um resultado muito bom de show e, claro, complementam a persona Alice Cooper e chocam ainda mais sua audiência.

Além disso, existe o caso da banda Steel Panther, que faz humor de acordo com características icônicas do Hard Rock dos anos 80 – o visual exagerado, com laquê, calças coladas – e choca o público e críticos musicais com suas músicas extremamente pornográficas e/ou relacionadas a drogas, algumas destas canções até mesmo consideradas sexistas e são duramente criticados por grupos feministas. Michael Starr, vocalista do Steel Panther, durante entrevista ao site #VamosMusicalizar (2015), afirma que não consegue separar o personagem Michael Starr de seu eu – Ralph Saenz.

Você vai me ver da mesma forma que me vê no camarim depois do show, ou em uma tarde. Eu não mudo meu jeito quando não estou em turnê, é o mesmo cara! Por exemplo: quando Slash vai para casa, ele deixa de ser o Slash? Não! Ele é o Slash no supermercado, no shopping, e é a mesma coisa para Michael Starr, quando eu vou no shopping, eu sou Michael Starr, quando eu vou ver o Papai Noel, eu sou o Michael Starr”. (Michael Starr em entrevista ao #VamosMusicalizar, 2014)

6.4. Tudo Isso Pode se Voltar Contra o Artista

Mesmo com todas as estratégias de gestão de marca pessoal para os artistas que adotam a figura do anti-herói, é preciso entender que também há um grande risco de as músicas, especialmente letras, não serem absorvidas da maneira em que o artista e/ou banda pensava anteriormente e, misturado à sua imagem assustadora nos palcos, podem causar sérios danos ao público e, consequentemente, à imagem do artista como marca.

A gestão de crise tem que ser um ponto com que os artistas e profissionais da área têm que pensar e estar preparados. Antes de tudo, devemos entender o conceito de crise, McLoughlin (2004), “uma crise é um acontecimento, a revelação de uma informação, uma acusação ou um conjunto de circunstâncias que ameaçam a integridade, o prestígio ou a sobrevivência de uma organização –algo que desafia a sensação de segurança ou os valores das pessoas”.

Seguindo o conceito da gestão de crise trazido por McLoughlin (2004), é importante agir com calma, clareza e com rapidez, pois até que seja de fato resolvida, é preciso desacelerar seu andamento, para que os boatos midiáticos diminuam e, com isso, reações negativas da população também se dissolvam.

No final dos anos 1980 e início de 1990, a popularidade do Shock Rock havia caído consideravelmente, eis que surge Marilyn Manson[8], que trouxe mais intelectualidade (ou complexidade para outros) ao gênero e com uma imagem ainda mais assustadora e perturbadora do que os artistas que o antecedem, pois, à época, quase não haviam registros de Manson fora dos palcos e, portanto, sua imagem como a marca Marilyn Manson era facilmente associada também fora dos palcos. Manson, com seus videoclipes, letras, música e shows, conseguiu levar o Shock Rock a outro patamar e assustar muitas pessoas pelo mundo, incluindo seu “mentor”, Alice Cooper.

“Quando eu vi Marilyn, é claro que eu disse: ‘ok, essa geração precisa de um Alice’, é isso que Marilyn era, o Alice daquela geração. Os vídeos de Marilyn eram a parte mais assustadora. Seus vídeos eram verdadeiramente perturbadores. Eu quero dizer é que eu fiquei chocado pelos vídeos”. (Alice Cooper no documentário Metal Evolution: Shock Rock, 2012)

Mas toda essa imagem perturbadora que a marca Marilyn Manson passava custou caro, pois no dia 20 de abril 1999, em Columbine, nos Estados Unidos, dois alunos [Eric Harris e Dylan Klebold] entraram na Columbine High School e abriram fogo contra diversos alunos, matando 12 alunos e um professor e depois os assassinos suicidaram. Poucas horas depois, diversos noticiários americanos estavam levantando supostas teorias para o ataque e a principal foi a influência de Marilyn Manson para com os jovens.

“Quando a crise está em seu apogeu, as metas mudam: é preciso posicionar a organização para que seja capaz de lidar com o acontecimento que desencadeou a crise, garantir que todas as decisões e declarações públicas sejam feitas com informações atualizadas e prevenir o agravamento da crise. Na fase final, é preciso restabelecer a tranquilidade do público, reconstruir as relações que possam ter sido estremecidas e adotar medidas para que a organização saia da crise com a maior credibilidade possível diante dos diferentes públicos”. (MCLOUGHLIN, 2004)

Manson, em seus shows, possui uma interpretação em que rasga exemplares da Bíblia, situação essa que, na época do ataque, era sempre lembrada como um incentivo ao público da banda a irem contra a religião cristã. Rapidamente após o tiroteio, surgiram boatos de que a dupla autora do ataque usava camisas de Marilyn Manson e usava a mesma maquiagem que o artista usa nos palcos, o que, posteriormente, foi comprovado que eles não eram fãs de Manson e, consequentemente, não utilizam as vestimentas mencionadas.

É natural que nenhum artista (como marca ou como pessoa) está preparado para uma acusação de incitação a um ataque terrorista, mas é necessário existir – e existiu na época – uma gestão de crises, pois, com o sucesso da marca, ela se torna pública e assunto na mídia, que, em uma primeira tragédia, irá procurar um culpado. Manson (1999) contradiz, porém, tudo que os veículos jornalísticos davam como verdade – que o cantor era uma influência ao ataque dos alunos – e discorre através de uma discussão que já é feita há muito tempo e ainda continua, que é o fácil acesso a armas dos adolescentes e a cobertura da mídia em relação a tragédias. Ainda para Manson (1999), “a mídia se infiltrava, sem perder uma lágrima, entrevistando os pais de crianças mortas, televisionando os funerais”.

“1. Em uma crise, os problemas mudam. Se o problema que desencadeou a crise não desaparecer nas primeiras 24 ou 48 horas, a mídia tende a deslocar o alvo para outros aspectos. A melhor maneira de evitar essa “transferência de problemas” é enfrentá-los diretamente, mostrar que a atuação está sendo rápida e concentrar a atenção no que vem sendo feito para garantir que não voltarão a ocorrer. 2. A pessoa que fala em nome da organização é decisiva. Deve ser confiável, ter conhecimentos técnicos, sólidos antecedentes profissionais, temperamento sereno, facilidade de comunicação e habilidade para estabelecer relações cordiais com os jornalistas. Na fase inicial de uma crise, quanto mais alto o cargo do porta-voz, melhor é. Depois, à medida que a crise desacelera, bastará o trabalho feito pelo diretor de relações públicas ou de comunicações corporativas. 3. Informar desde o início e de forma permanente. Dessa maneira, a empresa demonstra que não tem nada a ocultar e que está enfrentando o problema de modo responsável. Além disso, se a comunicação com a mídia for feita regularmente, evitará o pior: que seja criado um vazio de informação e os jornalistas se ponham a preenchê-lo com questões menores e irrelevantes, que servem apenas para manter a história em posição de destaque. 4. Estimular a entrada pela “porta da frente”. Se os jornalistas não forem recebidos pela “porta da frente”, acabarão recorrendo a ex-funcionários, informantes ou testemunhas anônimas para obter informações. 5. Adiantar-se na curva. É fundamental preparar relatórios e colher dados anteriores, para antecipar-se a cada notícia negativa ou acusação que possa surgir. Ao descobrir que os jornalistas estão para revelar uma notícia que não beneficia a empresa, o porta-voz deve mostrar-se disponível e tornar-se a melhor fonte de informação”. (MCLOUGHLIN, 2004)

Contudo, a estratégia de gestão de crise de Marilyn Manson, ao rebater as acusações, não funcionou muito bem em um curto prazo – após alguns anos da tragédia, Mansou voltou aos palcos e teve uma grande dificuldade de seguir fazendo apresentações, pois as casas de shows não queriam contratar o maior produto do artista, que é o show, com receio de novos ataques e/ou represálias de grupos que se opunham contra a banda, fazendo, portanto, com que a turnê fosse cancelada e o vocalista se afastasse da vida pública por um ano, fato esse que fez com que a marca Marilyn Manson fosse mal vista até mesmo pelos seus consumidores (fãs).

6.5. Integração entre as áreas da comunicação

Para que a mensagem seja entregue com eficiência ao público e para que este veja e assemelhe a imagem do artista e/ou banda da forma que ele pretenda, é preciso haver uma harmonia e integração entre os setores de comunicação, a marca – nesse caso, o artista ou banda – e público. Segundo Trevisan (2010), a comunicação integrada “tem como conceito básico a sinergia e a integração entre as diversas áreas, ferramentas e necessidades comunicacionais de uma organização.

Para que haja essa harmonia no meio musical, é necessário que os profissionais da comunicação do artista tenham o mesmo objetivo em mente e se unam entre assessoria de imprensa, relações públicas, publicitários, marketing, artista e empresários. Usaremos como exemplo a banda Steel Panther, que tem como sua principal característica o humor – você achando graça ou não; imagine que, no palco, a banda tenha atitudes humorísticas, mas a sua comunicação com o público, em entrevistas e redes sociais, seja séria e concreta. Qual seria o sentido de a banda seguir uma direção e sua comunicação oposta?

A integração dessas áreas da comunicação das figuras anti-heroicas da música deixa de ser, nesse momento, em prol de um simples cliente, mas agora se torna parte construtiva e da manutenção da marca, de sua identidade e imagem. É importante, portanto, assim como toda empresa e marca, analisar a reação de seu público para com a comunicação do artista, pois são exatamente essas pessoas que consomem o produto das bandas, ou seja, ingressos de shows, álbuns, músicas e merchandising oficial.

O estudo de campo também é algo fundamental para o sucesso da marca de um artista, saber o que o público pensa e, mais do que isso, precisa é de extrema importância para uma boa gestão de marca. Segundo Roxie (2018), a marca Alice Cooper teve sua consolidação através da junção entre Cooper e seu empresário, Shep Gordon, que conseguiu visualizar o que o público do artista queria ver.

“A persona Alice Cooper, eu acho, que foi estabelecida através do show ao vivo, primeiro. As pessoas se chocaram com o que Alice estava fazendo no palco, Shep Gordon viu que as pessoas estavam chocadas e ele empurrou o tanto que podia, empurrou a banda, empurrou Alice a ir ainda mais ao extremo, ir mais além em cada álbum. E, no fim do dia, foi uma combinação de ter um show muito intenso, mas ter ótimas músicas nesse show. As músicas que ainda tocamos no nosso set são as que estabeleceram ele durante sua carreira”. (ROXIE, 2018)

7. CONCLUSÃO

Podemos concluir, portanto, que a figura do anti-herói musical, por mais natural que pareça para o público, é uma obra criada propositalmente por seu autor, que busca unir gostos pessoais (como filmes e músicas) com a necessidade do público ao qual ele quer atingir, mostrando, assim, uma personagem que se baseia em comportamentos de um determinado grupo ou pessoa. É importante que esse artista e/ou banda que decidiu criar uma persona e imagem anti-heroica deva, ainda, criar uma integração entre o seu discurso e a sua imagem, para que não haja, assim, um duplo entendimento de significado de imagem.

A marca pessoal de um artista é, portanto, na maioria das vezes, uma antagonização do comportamento natural fora dos palcos, que tem, ainda, elementos que fogem do padrão social da época ou local, tornando, assim, algo único, grande e inovador.

Além disso, percebemos também o quão importante é ter um bom profissional para gerenciar a marca pessoal deste artista, e que esteja disposto por um bom tempo, pois, além de se tornar uma figura pública, será alvo constante de protestos, boatos e conspirações, por não seguir os padrões naturais de comportamento da sociedade. Com isso, trata-se de suma importância a integração entre as áreas de comunicação desse artista – assessoria de imprensa, relações públicas, publicitários, empresários e o próprio artista, para que não haja desentendimentos e incoerências entre os discursos públicos do mesmo e/ou fusão da persona que está nos palcos e aquela que está por trás das ações.

A gestão de crises, com todos os elementos descritos acima, passa a ser peça-chave na carreira de artistas que criam imagens anti-heroicas, pois estes mostram figuras, comportamentos e atitudes que não são tão comumente vistas na sociedade e, portanto, muitas vezes não são compreendidas em sua essência e até mesmo não são aceitas.

Podemos então dizer que, por mais que seja uma tendência antiga, a figura do anti-herói sempre estará presente na sociedade, questionando os padrões de comportamento da mesma, porém, assim como tais comportamentos, as atitudes presentes nas figuras do anti-herói na música irão, naturalmente, evoluindo, tornando tal persona ainda mais presente na vida das pessoas e, consequentemente, aumentando suas vendas e valor da marca.

8. REFERÊNCIAS

#VAMOSMUSICALIZAR. Entrevista: Michael Starr (Steel Panther). 2015. Disponível em: . Acessado em 31 Out. 2018.

#VAMOSMUSICALIZAR. Entrevista: Nita Strauss (Alice Cooper). 2014. Disponível em: . Acessado em 31 Out. 2018.

#VAMOSMUSICALIZAR. Turnê de King Diamond em comemoração ao Abigail será lançada em DVD e Blu-Ray. 2017. Disponível em: . Acessado em: 05 Mai. 2018.

AAKER, David. On Branding: 20 princípios que decidem o sucesso das marcas. Bookman Editora, 2015.

ARISTÓTELES. Poética. Tradução Eudoro de Sousa. 2. ed. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. 1990. Série Universitária. Clássicos de Filosofia.

BOSTIC, Jeff Q. et al. From Alice Cooper to Marilyn Manson. Academic Psychiatry, v. 27, n. 1, p. 54-62, 2003.

BRASIL, E! Vip. Entrevista Alice Cooper no E! Vip Brasil. 2011. (08m23s). Disponível em: . Acessado em: 04 Mai. 2018.

CAMBRIDGE DICTIONARY. Disponível em: . Acessado em: 05 Mai 2018.

CARDOSO FILHO, Jorge; JANOTTI JR, Jeder. A música popular massiva, o mainstream e o underground: trajetórias e caminhos da música na cultura midiática. Comunicação & música popular massiva. Salvador: Edufba, p. 18, 2006.

COOPER, Alice. Love it to Death. Warner Bros. Records. Chicago, Illinois. 1971.

DA SILVA, Valmor. Os poderes do mal e as máscaras do diabo. Revista Pistis & Praxis: Teologia e Pastoral, v. 3, n. 1, p. 121-135, 2011.

EXAME. Influenciadora Digital: profissão é a nova aposta do mercado, diz master coach. 2018. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/dino/influenciadora-digital-profissao-e-nova-aposta-de-mercado-diz-master-coach/> Acessado em: 26 de nov 2019

FERNANDES, Mafalda Pinheiro. A marca pessoal em contexto de carreira: a relação entre auto-gestão de carreira e personal branding. 2015. Tese de Doutorado.

GATTAZ, Luiz Daniel. Anti-heróis: uma tendência mais velha que a humanidade. Disponível em: . Acessado em: 01 Mai. 2018.

GALVANI, Carlos Eduardo Brandão. Imagens do Diabo na MPB. Revista Correlatio, n. 3, abr./2003, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo. Disponível em: . Acessado em: 01 Mai. 2018.

GUAZZELLI FILHO, Eloar. Canini e o anti-herói brasileiro: do Zé Candango ao Zé-realmente-carioca. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2009.

KISS. Revenge. Mercury Records. New York. 1992.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall, p. 318. 2000.

LONDON, Manuel; MONE, Edward M. Career management and survival in the workplace: Helping employees make tough career decisions, stay motivated, and reduce career stress. Jossey-Bass, 1987.

MANSON, Marilyn. Columbine: whose fault is it?. Rolling Stone, v. 28, 1999.

MATOS, Andityas Soares de Moura Costa; GOMES, Ana Suelen Tossige. A Proposta de uma Forma-de-Vida Anárquica na obra e Giorgio Agamben: Uso Inoperoso e Não Constituinte Do Poder. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, n. 71, p. 48. 2018

MATOS, Olgária Chain Féres. Construção e desaparecimento do herói: uma questão de identidade nacional. Tempo social, v. 6, n. 1/2, p. 83-90, 1994.

MCLOUGHLIN, Barry. Um plano de comunicação eficaz. HSM Management.[Internet], 2004.

METAL Evolution: Shock Rock. Direção: Sam Dunn, Produção: Scot McFayden. Estados Unidos: VH1, 2012.

MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. São Paulo: UNESP, p. 130. 2003.

MONTOYA, P. e VANDEHEY, T. The personal branding phenomenon: realize greater influence, explosive income growth and rapid career advancement by applying the branding techniques of Michael, Martha & Oprah”. Estados Unidos: Createspace Pub, 2002

NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Nascimento da bruxaria: da identificação do inimigo à diabolização de seus agentes. São Paulo: Imaginário, 1995.

PETERS, Tom. The Brand Called You; Fast Company, 10. 1997. . Acessado em: 21 Set 2019.

PUCCI, Bruno. O riso e o trágico na indústria cultural: a catarse administrada. Sociologia e Educação: leituras e interpretações. São Paulo: Avercamp, p. 97-112, 2009.

ROXIE, Ryan. Entrevista concedida a Pedro Gianelli Lemos Zago. 16 nov. 2018. [A entrevista encontra-se transcrita no Anexo 4 desta monografia]

TAVARES, Judy Lima. A construção do Persona Digital: Nova identidade assumida pelos integrantes da Web 2.0. Biblioteca Online das Ciências da Comunicação, 2010.

TREVISAN, Nanci Maziero. O mito da comunicação integrada. Comunicação & Inovação, v. 3, n. 6, 2010.

TRINDADE, Eneus; PEREZ, Clotilde. Os múltiplos sujeitos da publicidade contemporânea. Revista de Gestão dos Países de Língua Portuguesa, v. 8, n. 4, p. 25-36, 2009.

9. ANEXOS

9.1. Anexo 1: Entrevista com Kim Bendix Petersen – King Diamond

Pedro Gianelli: A sua imagem é rodeada por mitos e rumores que conseguem assustar qualquer criança por aí. Qual é o mito mais sem noção que você já ouviu? Aquele que você pensou: “eu não acredito que eles estão dizendo isso”.

King Diamond: Bom, eu sei que, muitas das vezes, o meu crew[9] que é responsável por contar essas histórias para as pessoas, porque eles acham engraçado. Teve uma bem engraçada, que tinham vários fãs do lado de fora do local do show, fazendo barulho, e alguém disse para eles: “vocês não vão querer incomodá-lo, ele está dormindo no seu caixão”. Até teve uma rádio que me perguntou se eu dormia no caixão, eu disse: “ah, por favor! Não todas as noites” (risos).

Fotografia 6: Kim Bendix Petersen

Fonte: Alchetron

Fotografia 7: King Diamond

Fonte: Roadie Metal

9.2. Anexo 2: Música Unholy – Kiss

Unholy

I was there through the ages
Chained slaves to their cages
I have seen you eat your own
I'm the cycle of pain
Of a thousand year old reign
I'm suicide and salvation
The omen to nations
That you worship on all fours

I'm the infection and famine
That's knocking at your door

That's why you're feeling so

Unholy
Oh, I was created by man, you know I'm....
Unholy
Yeah, yeah, yeah, yeah

I am the incubus
I lay the egg in you
The worm that burrows
Through your brain

 

But you are the beast
That calls me by my name

You send your children to war
To serve bastards and whores
So now you know
You created me
On the day that you were born

Unholy
I was created by man, yeah I'm the Lord of the flies, you know I'm
Unholy
From the left hand of power comes the father of lies
Unholy - Unholy!

I lay you down to sleep
Your soul to keep
Better cross your heart before you die
And now you know
Know that you are mine

That's why you're feeling so

Unholy, Unholy, Unholy - Unholy!!8

8Tradução livre – Profano
Eu estava lá através das eras
Acorrentando escravos em suas celas
Eu vi vocês comerem a si mesmos
Eu sou o ciclo da dor
De um reino de mil anos
Eu sou suicídio e salvação
A profecia às nações
Que você adora em todo o tempo
Eu sou a infecção e a doença
Que está batendo em sua porta
É por isso que você se sente tão
Profano
Oh, eu fui criado pelo homem, você sabe, eu sou
Profano
Yeah, yeah, yeah, yeah
Eu sou o Incubus
Eu coloco o ovo em você
O verme que abre buracos
Pelo seu cérebro

Mas você é a besta
Que me chama pelo meu nome
Você manda suas crianças à guerra
Para servir bastardos e prostitutas
Então agora você sabe
Você me criou
No dia em que você nasceu
Profano
Eu fui criado pelo homem, sim, eu sou o senhor das moscas, você sabe, eu sou
Profano
Da mão esquerda do poder vem o pai das mentiras
Profano
Eu lhe deito para dormir
Sua alma para guardar
Melhor fazer o sinal da Cruz antes de você morrer
Mas agora você sabe
Sabe que você é meu
É por isso que você se sente tão
Profano (4x)

9.3. Anexo 3: Música Ballad of Dwight Fry – Alice Cooper

Ballad of Dwight Fry

Mommy where's daddy?
He's been gone for so long.
Do you think he'll ever come home?

I was gone for fourteen days
I coulda been gone for more
Held up in the intensive care ward lyin on the floor

I was gone for all those days but I, was not all alone
I made friends with a lot of people in the danger zone

See my lonely life unfold
I see it every day
See my only mind explode
Since I've gone away

I think I lost some weight there and I'm sure I need some rest
Sleepin’ don't come very easy in a straight white vest

Should like to see that little children
She's only four years old--- old
I'd give her back all of her play things

even, even the ones I stole

See my lonely life unfold
I see it everyday
See my lonely mind explode
when I've gone insane

I wanna get out of here
I wanna, I wanna get out of here
I gotta get out of here
I gotta get out of here
Igotta get out of here I gotta get out of here I gotta get outa'here
Ya gotta let me out of here
Let me outta here
I gotta get outta here
Let me outta here
I gotta get outta here
Let me outta here
I gotta get outta here

See my lonely life unfold
I see it everyday
See my only mind explode
Blow up in my face

I grabbed my hat and I got my coat and I, I ran into the street
I saw a man that was choking there
I guess he couldn't breathe
Said to myself this is very strange
I'm glad it wasn't me
But now I hear those sirens callin' and so I am not free

I DIDN'T WANNA BE
I DIDN'T WANNA BE
I DIDN'T WANNA BE
(See my lonely life unfold)
I DIDN'T WANNA BE
(I see it every day)
LEAVE ME ALONE I DIDN'T WANNA BE
DON'T TOUCH ME!!!!
See my lonely mind explode
when I've gone INSANE!!!9

9Tradução livre – Ballad of Dwight Fry

Mamãe, cadê o papai?
Ele anda sumido tempo demais
Você acha que ele voltará para casa?

Estive longe por quatorze dias
Poderia estar longe por mais
Preso na ala de tratamento intensivo, deitado no chão

Estive longe por todos esses dias, mas eu, não estava só
Fiz amizades com um monte de pessoas na área de perigo

Veja minha vida solitária se desdobrar
Eu a vejo todo dia
Veja minha única mente explodir
Desde que eu fui embora

Acho que perdi algum peso lá e eu tenho certeza, eu preciso de um descanso
Sono não vem com facilidade em uma camisa de força

Gostaria de ver aquela pequena criança
Ela tem apenas quatro anos de idade - idade
Eu lhe devolveria todos os seus brinquedos
Inclusive aqueles que eu roubei

Veja minha vida solitária se desdobrar
Eu a vejo todo dia
Veja minha solitária mente explodir
Quando eu ficar insano

Eu quero sair daqui
Eu quero, eu quero sair daqui
Eu preciso sair daqui (x2)
Eu preciso sair daqui eu preciso sair daqui
Eu preciso sair daqui sair daqui
É vocês precisam me deixar sair daqui
Me deixem sair daqui
Eu preciso sair daqui
Me deixem sair daqui
Eu preciso sair daqui
Me deixem sair daqui
Eu preciso sair daqui

Veja minha vida solitária se desdobrar
Eu a vejo todo dia
Veja minha única mente explodir
Estourar na minha cara

Peguei meu chapéu e meu casaco e eu, eu corri pra rua
Eu vi um homem que sufocava ali
Suponho que ele não conseguiu respirar
Disse para mim mesmo, 'Isto é muito estranho'
Feliz que não era eu
Mas agora ouço aquelas sirenes chamando portanto não estou livre

EU NÃO QUERIA ESTAR AQUI
EU NÃO QUERIA ESTAR AQUI
EU NÃO QUERIA ESTAR AQUI
(Veja minha vida solitária se desdobrar)
EU NÃO QUERIA ESTAR AQUI
(Eu a vejo todo dia)
ME DEIXEM EM PAZ EU NÃO QUERIA ESTAR
NÃO ME TOQUE!!!
Veja minha mente solitária explodir
Quando eu ficar INSANO

10. Anexo 4: Entrevista com Ryan Roxie

Pedro Gianelli: Eu tenho certeza que Alice é um personagem de palco. Você pode me dizer como ele realmente é fora do palco?

Ryan Roxie: Alice Cooper é um dos grandes exemplos de como sua marca pode ser diferente do que você é. No palco, Alice Cooper é um vilão, um louco e um monstro. Mas fora do palco, ele é totalmente o oposto de tudo isso, porque ele faz muito pela comunidade da música, faz muito para outros músicos, eu sou um deles, uma vez que ele me deu um trabalho, e ele faz muito pelos seus fãs, faz muito mais além do que um músico poderia fazer pelos seus fãs, ele é sempre gentil e atencioso com seus fãs. Sabe, no palco, é esse personagem louco, mas fora do palco ele é muito... filantropo.

Pedro Gianelli: Eu também posso te listar que existem outros cinco tipos diferentes de personas no palco do Alice Cooper. Existe uma preocupação entre vocês de seguir a persona Alice Cooper ou é algo que cada um de vocês realmente é no palco?

Ryan Roxie: Eu acho que o que nós somos no palco é uma magnificação do que somos na vida real. Acho que tudo que acontece no palco se torna um pouco maior, mais alto e mais teatral. Mas existem elementos que temos sempre fora do palco. Eu sou uma pessoa que fala muito, tanto no palco quanto fora (risos). Se você vier ver um show solo meu, vai perceber que gosto de falar no intervalo de uma música e outra, gosto de falar no ônibus de turnê, então eu uso meu personagem tanto no palco quanto fora dele.

Pedro Gianelli: Como nós já conversamos diversas vezes sobre isso, você já tocou com diferentes bandas, diferentes formações. Como você desenvolveu, e ainda desenvolve, sua marca pessoal? Sabe, Ryan Roxie como uma marca.

Ryan Roxie: Não importa com qual formação que toquei, seja ela com Alice Cooper, outras bandas ou até mesmo minha própria banda, ou com Slash ou Gilby [Clarke], sempre tento me estabelecer como um guitarrista de Rock n’ Roll, não um guitarrista de Heavy Metal, não um guitarrista de Blues, não um guitarrista Pop, mas a combinação desses três estilos, para mim, é Rock n’ Roll. Rock n’ Roll tem peso, tem melodia, mas também tem estilo. E tenho conseguido incorporar todas essas três coisas no meu estilo de tocar por todos esses anos e, consequentemente, incorporo na minha marca também.

Pedro Gianelli: E também sabemos que Shep Gordon tem uma grande importância na carreira do Alice. Alguma vez eles já te falaram como foi a ideia na criação da persona Alice Cooper?

Ryan Roxie: A persona Alice Cooper, eu acho, que foi estabelecida através do show ao vivo, primeiro. As pessoas se chocaram com o que Alice estava fazendo no palco, Shep Gordon viu que as pessoas estavam chocadas e ele empurrou o tanto que podia, empurrou a banda, empurrou Alice a ir ainda mais ao extremo, ir mais além em cada álbum. E, no fim do dia, foi uma combinação de ter um show muito intenso, mas ter ótimas músicas nesse show. As músicas que ainda tocamos no nosso set são as que estabeleceram ele durante sua carreira.


[1] A anarquia, entendida por autores clássicos como o télos do anarquismo ou como a finalidade que os movimentos libertários devem ter sempre em vista, ganha novos sentidos a partir dos diálogos que se estabelecem com pensadores contemporâneos e críticos – ainda que não pertencentes ao cânone do anarquismo – que extraíram das experimentações vivenciadas por sua geração outras possibilidades de agir e viver. Assim, a anarquia torna-se também “luta por liberdade no presente”, mostrando-se como potência nas atitudes que liberam o viver. (MATOS, Andityas Soares de Moura Costa; GOMES, Ana Suelen Tossige. P. 48)

[2] A banda Kiss é composta por quatro integrantes oficiais, que se fantasiam em todos shows para simbolizar The Demon/O Demônio (Gene Simmons), Starchild (Paul Stanley), Homem-Gato (Eric Singer) e o Homem do Espaço (Tommy Thayer).

[3] Segundo o site Exame, em 2018, no Brasil, possuíamos mais de 50 mil digital influencers.

[4] Ryan Roxie é guitarrista da banda Alice Cooper de 1996-2006 e 2012-presente. A entrevista foi concedida por telefone e a transcrição desta se encontra na seção Anexo 4, p. 43.

[5] O denominado mainstream (que pode ser traduzido como “fluxo principal”) abriga escolhas de confecção do produto reconhecidamente eficientes, dialogando com elementos de obras consagradas e com sucesso relativamente garantido. (CARDOSO FILHO, Jorge; JANOTTI JR, Jeder. p. 18)

[6] Single do álbum de Alice Cooper que possui o mesmo título da música. Lançado em 6 de junho de 2000, pela Spitfire Records.

[7] Em entrevista ao site #VamosMusicalizar, 2014.

[8] Todos na banda, que possui o mesmo nome de seu vocalista, adotaram nomes que são a junção de nomes de atrizes ou cantoras famosas com sobrenomes de serial killers, sendo assim: Marilyn Monroe + Charles Manson.

[9] Uma equipe de pessoas com habilidades especiais que trabalham juntas. (CAMBRIDGE DICTIONARY).


Publicado por: Pedro Gianelli

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.