O fim do Clube dos 13: como a Rede Globo controla o futebol brasileiro

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1. RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo entender os caminhos que levaram a construção do monopólio da Rede Globo de Televisão sobre o Campeonato Brasileiro de futebol. Para tanto, esta monografia desenvolve uma relação histórica entre futebol, televisão e governo brasileiro, por meio da revisão bibliográfica de estudiosos, bem como a realização de um estudo de caso sobre o episódio da renovação dos direitos de transmissão de imagem de 2011, quando uma ruptura entre os clubes de futebol brasileiros e o Clube dos 13, que os representava, mudou o panorama esportivo nacional, gerando maiores receitas e uma diferença na arrecadação de cada agremiação. Para o estudo de caso, foram analisadas as declarações de Azenha et al (2014) e as ações da mídia esportiva brasileira, aqui tomadas por ESPN Brasil, jornal Lance!, revista Placar e TV Record

Palavras-chave: Rede Globo; futebol; Clube dos 13.

2. Introdução

O futebol é, provavelmente, o maior fenômeno esportivo popular brasileiro, além de ser uma referência cultural importante no país. Em números, o esporte movimenta 11 bilhões de reais por ano, sendo que mais de 370 mil pessoas vivem do futebol no Brasil através de empregos formais e, ao todo, são 783 clubes oficiais, que empregam mais de 30 mil trabalhadores e geram mais de dois bilhões por ano1. Justamente por seu poder econômico, o esporte também possui relevância social, pois é encarado, ainda mais em países emergentes ou de terceiro mundo, como um trampolim socioeconômico. No Brasil, nove milhões de rapazes, entre dez e 16 anos de idade, anualmente, tentam vaga nas categorias de base dos clubes brasileiros. Poucos são aprovados nas peneiras2 e apenas 5% tornam-se profissionais3.

Os valores envolvidos o tornam uma indústria, que envolve além de jogadores e torcedores, uma série de fatores extracampo, mas não menos importantes, como produtos licenciados, especulação imobiliária - principalmente em época de copa do mundo, com a construção das novas arenas - projetos sociais, projetos de marketing e mídia, aqui sendo utilizada por todas as plataformas: rádio, internet (plataformas digitais), jornal impresso e, especialmente, a televisão.

Futebol e televisão apresentam-se como dois fenômenos de entretenimento massivos na sociedade mundial. Ambos partilham da recepção da maioria dos brasileiros. A partir desse cenário, faz-se necessário entender como estes dois elementos se aproximaram, de forma a criar em torno de um evento esportivo o espetáculo a ser explorado pela televisão, que, nesta monografia, será exemplificada pela Rede Globo, pois a mesma é a detentora dos direitos de transmissão de imagem do principal campeonato nacional: o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Esta pesquisa teve como objetivo entender quais foram os caminhos que levaram a Rede Globo a possuir o monopólio dos direitos de transmissão do campeonato nacional até os dias atuais. Mais especificamente, entender as relações acerca do futebol, tanto em sua relação com a televisão, quanto com as esferas políticas brasileiras. Para tanto, no que tange as relações entre futebol e Brasil, foi realizada a revisão bibliográfica de autores como Guterman (2009), Jennings (2011, 2014), Mendes e Rossi (2014) e outros, que escreveram livros, artigos e dissertações a respeito do tema, bem como revistas e notícias retiradas dos principais portais esportivos do Brasil. A mesma metodologia é utilizada para o segundo capítulo, com destaque para Herz (1986) e Morelli e Priolli (2000), e para o terceiro capítulo, com Azenha et al (2014) e Santos (2013).

A relevância dessa monografia dá-se justamente pela importância do futebol para o Brasil. Os valores movimentados são altos, assim como é grande o número de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente. A importância atribuída ao esporte pode ser conferida em decorrência da aproximação do governo federal ao longo da história brasileira. Também se justifica pela pouca produção acadêmica de pesquisas semelhantes.

Para entender como a Rede Globo conseguiu estabelecer seu monopólio sobre o futebol brasileiro, será realizado um estudo de caso sobre o episódio da renovação dos direitos de transmissão de 2011 e a cassação da cláusula de preferência na renovação feita pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em outubro de 2010, o Cade acabou com direito de preferência da Rede Globo na negociação pelos direitos de televisão do Campeonato Brasileiro. O acordo feito pelo órgão com a emissora e o Clube dos 13 passou a valer para as negociações de 2012 a 2014. O órgão havia julgado que se tratava de uma possível formação de cartel. Antes da decisão do Cade, a Globo tinha o direito de cobrir qualquer proposta concorrente, mesmo que ela tenha acontecido em sistema de envelope fechado. Após a decisão do Conselho, a emissora teve que concorrer igualmente com as emissoras rivais. Porém, mesmo com uma proposta mais vantajosa da TV Record, os clubes implodiram o Clube dos 13 e negociaram de maneira particular com a Globo, dando prosseguimento ao monopólio.

Compreende-se por estudo de caso, neste trabalho:

O estudo de caso é um meio de organizar os dados, preservando do objeto estudado o seu caráter unitário. Considera a unidade como um todo, incluindo o seu desenvolvimento (pessoa, família, conjunto de relações ou processos etc.). Vale, no entanto, lembrar que a totalidade de qualquer objeto é uma construção mental, pois concretamente não há limites, se não forem relacionados com o objeto de estudo da pesquisa no contexto em que será investigada. Portanto, por meio do estudo do caso o que se pretende é investigar, como uma unidade, as características importantes para o objeto de estudo da pesquisa. (GOODE, HATT. 1979, p. 422)

Trata-se de uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. É um método qualitativo, cuja a maior parte das citações são feitas por Goode e Hart (1979) e Yin (2001). Segundo Gil (1995, p.58), o estudo de caso não aceita um roteiro rígido para a sua delimitação, mas é possível definir quatro fases que mostram o seu delineamento: delimitação da unidade-caso; coleta de dados; seleção, análise e interpretação dos dados e elaboração do relatório. Essa monografia pretende adotar uma sistemática semelhante, selecionando os personagens envolvidos, coletando os dados, desenvolvendo uma análise e redigindo as conclusões.

O estudo de caso mapeará e desenvolverá a participação de todos os envolvidos no episódio estudado, separando os mesmo em grupos de estudos específicos, de acordo com suas similaridades. Logo, os papéis desempenhados por Rede Globo, Clube dos 13, Record, RedeTv, Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Kleber Leite, Juvenal Juvêncio e Andrés Sanchez foram descritas no grupo 1: comportamento político das pessoas e entidades que comandam o futebol brasileiro e no grupo 2: Comportamento dos veículos de comunicação interessados em adquirir os direitos de transmissão de imagem. Cada clube integrante do clube dos 13 (Palmeiras, Santos, São Paulo, Corinthians, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Bahia, Vasco, Atlético-MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Sport, Goiás, Guarani-SP, Vitória-BA, Juventude-RS, Portuguesa e Atlético-PR) tiveram suas ações narradas no grupo 3: comportamento dos clubes no processo de renovação dos direitos de transmissão e as ações da mídia esportiva, com ênfase nas coberturas proporcionadas por ESPN Brasil, Record, Revista Placar e o jornal Lance!, foram descritas nessa pesquisa no grupo 4: a cobertura da mídia esportiva em relação ao episódio de renovação dos direitos de transmissão.

A Rede Globo aparece como principal interessada no enfraquecimento do Clube dos 13, enquanto o mesmo era o responsável por, desde 1987, negociar os direitos de televisão e distribuir aos clubes. Record e RedeTv surgem como interessadas nos direitos de transmissão no momento em que o Cade cassa a cláusula de renovação automática com a Globo. A CBF, que possui os próprios interesses na negociação, por meio de Andrés Sanchez, então presidente do Corinthians, trabalha pelo enfraquecimento do Clube dos 13, enquanto presidentes de todos os clubes membros da entidade se dividem entre quem apoiar. Por fim, há a descrição da cobertura que os veículos de comunicação citados deram ao acontecimento, que, por se tratar de uma questão de conflito de interesses, não foram tratadas nos veículos das Organizações Globo.

A fim de ilustrar como estão distribuídos e como funcionam os direitos de transmissão de cada campeonato no Brasil, foi realizado um estudo comparativo com outros países, demonstrando como funciona a distribuição dos jogos e qual a influência que a televisão consegue ter no esporte, quando é detentora destes direitos.

Esta monografia foi desenvolvida em três capítulos, sendo estes divididos em subcapítulos. O primeiro capítulo discorre a respeito da relação entre o futebol e o Brasil, suas relações políticas e contexto histórico. O segundo capítulo trata sobre a televisão e a Rede Globo, as relações do veículo de comunicação com o futebol e uma breve explicação sobre como funciona a distribuição dos direitos de transmissão de imagem dos campeonatos esportivos. O terceiro capítulo traz o estudo de caso do episódio da renovação de 2011, que ilustra toda a pesquisa e serve para entender quais foram os caminhos percorridos pela Rede Globo para consolidar seu monopólio acerca dos direitos de transmissão do campeonato brasileiro de futebol. E por fim, há as considerações finais que apresentam algumas análises a partir dos resultados obtidos com a pesquisa.

3. Capítulo I: Futebol e o Brasil

3.1. Contexto histórico:

O primeiro jogo registrado no país foi entre São Paulo Railway e The Gas Works Team, em 14 de abril de 1895. A “súmula” foi feita por Charles Miller, considerado o responsável por trazer o esporte para o Brasil, embora provavelmente o futebol já fosse jogado por aqui.

A revolução industrial tinha espalhado pelo mundo milhares de britânicos, praticantes do futebol, para trabalhar em fábricas, ferrovias e no comércio. Um deles, o professor escocês Alexander Watson Hutton desembarcou em Bueno Aires em 1882, com um livro de regras, bolas, camisas e chuteiras [...] Antes de parar na capital argentina, havia escalas em Santos e no Rio de Janeiro [...] foram várias experiências extraoficiais com o futebol no país antes do marco zero determinado por Charles Miller. (MENDES, ROSSI, 2014, p.22)

O futebol começou no Brasil como um esporte elitista, inicialmente jogado pela junção de emigrantes ingleses e a elite cafeeira paulistana. O primeiro estádio de futebol no Brasil foi uma adaptação do Velódromo Paulistano e era baseado no amadorismo. A partir de 1907, as classes mais baixas da sociedade começaram a participar da disputa, fato que transformaria o esporte. O avanço da indústria em São Paulo possibilitou que tantos brasileiros, quanto imigrantes, principalmente italianos, tomassem conhecimento do esporte e começassem a praticá-lo em campos de várzea.

[...] ainda que seus times tivessem de jogar na Liga Suburbana de Futebol, criada em 1907, e não na liga oficial da cidade, cujo estatuto vetava atletas “de cor”. Em São Paulo, os times se agruparam primeiramente na Várzea do Carmo [...] o nome várzea, por essa razão, acabou servindo para designar qualquer time ou campo com características amadoras. (GUTERMAN, 2009, p. 36)

Entre 1920 e 1950, ocorreram os anos de transição para o profissionalismo. O futebol cresceu e tornou-se negócio, ainda que incipiente. Os clubes se multiplicaram e, em busca de vitórias e campeonatos, as agremiações tiveram que derrubar antigos preconceitos. Jogadores negros foram inseridos ao jogo no qual a raça branca era maioria, assim como os pobres, que começaram a perceber que o futebol podia ser um trampolim socioeconômico. Quanto ao amadorismo, por mais que insistissem em continuá-lo, os grandes clubes já pagavam premiações aos atletas, em casos de vitórias. Era o famoso "bicho", como descreve Guterman (2009):

A crise do falso amadorismo no futebol e a popularidade do esporte inglês no Brasil, com o irresistível acesso das classes baixas ao universo antes reservado as elites [...] de certa forma emula a transformação crítica do Brasil na época, levando a intelectualidade brasileira a discutir de modo apaixonado não somente os modelos políticos, mas também, [...] a própria identidade nacional (GUTERMAN, 2009, p. 55)

Com o passar dos anos, o profissionalismo ganhou destaque e foi instituído quando Getúlio Vargas, em seu governo provisório, decretou que o futebol se tornaria profissional. Vargas foi o primeiro presidente a aproveitar o poder aglutinador do esporte. Usou o futebol como força política e investiu na seleção, tornando o Brasil "O País do futebol". Mussolini já havia usado o futebol a favor da Itália Fascista, nas copas de 1934 e 1938 e Getúlio, cujo governo provisório em muito se assemelhava ao modelo italiano, instalou estrutura parecida.

Entre 1939 e 1944, essa figura mítica reuniu milhares de pessoas no estádio do Vasco, em São Januário, para de tempos em tempos anunciar alguma nova medida em favor dos trabalhadores. Estava claro que Getúlio entendeu o poder que aquele espaço, o estádio de futebol, tinha sobre a massa. Sua esperteza foi unir as pontas (GUTERMAN, 2009, p. 80)

No período seguinte, entre o fim da ditadura do Estado Novo4 e a volta de Vargas ao governo, o Brasil foi governado por Eurico Gaspar Dutra, presidente que pouca atenção deu ao futebol. Getúlio Vargas voltou ao poder pelo voto direto e antes de terminar seu mandato, suicidou-se. Em seguida, veio o governo de Juscelino Kubitschek, que industrializou o país, criou Brasília e investiu na produção artística, cultural e esportiva. João Havelange assumiu o poder da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e designou Paulo Machado de Carvalho, à época dono da TV Record, intitulado o "Marechal de vitória" por jornais da época, para cuidar da seleção que disputaria a Copa da Suécia, em 1958. Vicente Feola foi escolhido para ser o técnico e conseguiu conquistar o título mundial. O mesmo elenco, com a mudança de alguns jogadores e do técnico Aymoré Moreira, que assumiu o lugar de Feola, ganhou a copa seguinte, no Chile, em 1962. A aliança entre Paulo Machado de Carvalho e João Havelange é a primeira relação entre televisão e o esporte. Por meio do futebol, Machado de Carvalho começou a ameaçar a liderança da Tupi, principal emissora de televisão da época, do grupo pertencente a Assis Chateaubriand5.

Em 1964, os militares deram um golpe e tomaram o poder. Começava a ditadura militar, que comandaria o Brasil até 1985. Foram os chamados anos de chumbo. Para melhorar a imagem do regime, os militares brasileiros apostaram no futebol como plataforma de propaganda institucional. Os times do Santos, de Pelé, Botafogo, de Garrincha, além da primeira academia do Palmeiras, excursionavam levando o nome do Brasil pelos demais países. Para complementar o trabalho iniciado com a propaganda era necessário ganhar a Copa do Mundo disputada no México, em 1970. O Brasil ganhou o torneio e juntamente com o milagre econômico, o regime se manteve forte. Esse período mostra como a seleção representava o autoritarismo que reinava no país:

Saldanha demitido por Havelange na noite de 17 de março de 1970. No instante seguinte, foi para as ruas, chamou os jornalistas de plantão e, para explicar sua queda, deu a célebre entrevista em que insinuou que Médici pediu a convocação do centroavante Dario. (GUTERMAN, 2009, p. 169)

Após o tricampeonato no México, a seleção entrou em uma entressafra de jogadores. Os craques da década passada saíram da seleção, casos de Pelé, Gerson e Tostão, por exemplo. Já os atletas da década seguinte ainda não estavam prontos para o fardo, como Zico, Sócrates e Falcão. Na Copa de 1974, o Brasil teve campanha mediana. Nesse período, o Governo militar, em um processo iniciado por Médici e continuado por Geisel, usou o futebol como instrumento político em proporções ainda maiores. Em 1971, por imposição federal, foi criado um campeonato realmente nacional, envolvendo todas as regiões do Brasil. Estava criado o Campeonato Brasileiro, ou Brasileirão, como é popularmente conhecido, que veio substituir o antigo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O campeonato, que começou com 20 times em sua primeira edição, foi inflado constantemente até 1979, quando 94 clubes disputaram a competição. O governo federal usava o Campeonato Brasileiro como forma de agradar regiões distintas do país, a fim de se manter no poder: “Em 1979, o Brasileirão atingiu seu pico, com 94 times. Era a época do bordão: ‘Onde a Arena6 vai mal, um time no nacional.” (GUTERMAN, p. 181, 2009).

Com o campeonato nacional disputado por muitas equipes, os regulamentos mudavam ano após ano. “A tendência de ter mais e mais times e regulamentos mirabolantes acentuou-se em 1976”7. Esse panorama, junto com a administração ineficiente dos dirigentes, levou o futebol brasileiro a um colapso financeiro. Os clubes brasileiros aumentaram sua dívida. Santos e Botafogo passaram a cobrar cachês mais caros que o da seleção brasileira, para excursionar pela Europa. Mesmo recebendo a quantia de US$ 30 mil por excursão (a seleção ganhava US$ 10 mil), o Santos entrou em um período de recessão, só voltando a faturar depois de 1978, com a primeira geração de "meninos da Vila" (GUTERMAN, p. 188, 2009).

O presidente Geisel deu início à abertura lenta e gradual do regime político. A década de 1980 começou com o Brasil passando dez anos com crise na economia e com a hiperinflação. O sucessor de Ernesto Geisel, o chefe do Serviço Nacional de Informação, João Figueiredo, sofreu pressão durante a abertura política. Ao final da década, o país conseguiu retornar ao regime democrático. Nesse período, o futebol brasileiro teve que se abrir para o mercado externo. Os clubes passaram a estampar publicidade em suas camisas, além de obterem outros meios de patrocínio. Além disso, a Europa se abriu e o país passou a ser exportador de craques, que saíam daqui para trabalhar no velho continente. Outro ponto de destaque aconteceu nessa década. Em 1987, os clubes rebelaram-se contra a CBF e organizaram o campeonato por conta própria, por meio do recém criado Clube dos 13. Foi o início do monopólio da Rede Globo e que será descrito com mais detalhes no segundo capítulo.

Com a proposta de modernização do futebol, esses times criaram um campeonato próprio, vendido a um pool de empresas – Coca Cola, Varig e Rede Globo. Assim, as camisas de quase todos os times eram patrocinados pela Coca Cola, as equipes viajavam pela Varig, e a Globo deteve o monopólio das transmissões. (GUTERMAN. p. 232, 2009)

A partir da década de 90, o Brasil entrou de fato em seu período democrático. O primeiro governo foi o de Fernando Collor de Mello8, único presidente a sofrer impeachment na história do país. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso9 assumiu e estabilizou a economia, com o Plano Real, iniciado por ele mesmo no governo de Itamar Franco. A seleção, por sua vez, ganhou o tetracampeonato em 1994. Quatro anos depois, Fernando Henrique Cardoso foi novamente eleito. Em 2002, a seleção brasileira conquistou o Pentacampeonato e Luis Inácio “Lula” da Silva10 foi eleito. O então presidente, notoriamente Corintiano, em 2010, ajudou diretamente o presidente do clube, à época, Andrés Sanches, a conseguir o financiamento para a construção do Estádio de futebol do Corinthians, utilizado como palco de abertura da Copa do mundo de 2014, em jogada política que envolveu diretamente CBF, o extinto Clube dos 13, Juvenal Juvêncio, Rede Globo e o governo do Estado de São Paulo.

Na briga política da Copa, Lula foi ao Morumbi [...] Teixeira, único a não comparecer, articulou com Serra e Kassab a exclusão do campo do São Paulo.Em 2009, intensificou sua costura pelo poder no alto comando da CBF. [...] Essa relação de Sanchez com presidente da CBF se estendia à Globo. [...] Preocupado com o forte lobby, Fábio Koff antecipou a eleição do Clube dos 13 de novembro de 2010 para 12 de abril. E teve de compor com outro nome de força: Juvenal Juvêncio. [...] Por 12 votos a 8, Koff venceu Kleber Leite [...] A guerra havia começado. [...] Dois meses após a disputa pelo comando do C13, Ricardo Teixeira deu o maior dos golpes em seu principal inimigo: o Morumbi foi oficialmente excluído da Copa do Mundo no Brasil. (AZENHA, et al; p. 299, 2014)

Em 2014, foi realizada no Brasil a Copa do Mundo, contabilizando trinta e duas seleções, que vieram ao país disputar o título. Entre a escolha do Brasil como país sede, até a realização do evento, passando por construção ou reforma de doze estádios de futebol, em diferentes estados brasileiros, muito se discutiu em relação ao futebol, tanto na esfera política quanto desportiva. A Copa das Confederações, em 2013, foi marcada por protestos em todo o território nacional. Na abertura da Copa, em 2014, a Presidente Dilma Rouseff foi vaiada por torcedores presentes no estádio e em campo, a seleção foi desclassificada na semifinal, perdendo por sete a um para a seleção da Alemanha.

3.2. As ligações políticas

Nessa monografia, entende-se por ligações políticas as relações ocorridas ao longo dos anos entre pessoas ligadas ao esporte com o poder governamental brasileiro, em suas diversas esferas e ramificações, seja na relação direta com o comandante do executivo, ou em relações mais diluídas, entre diversas pessoas, como no conjunto de deputados do Congresso Federal.

Ao longo de sua história, o futebol, por diversas vezes, esteve vinculado de alguma maneira ao Estado e seus governantes. Fora do Brasil, alguns episódios tornaram-se famosos como o caso de Ernst Jean-Joseph, zagueiro da seleção do Haiti, que por ser pego no exame antidoping, foi preso e torturado por dois anos11 e a Copa do Mundo de 1978, vencida pela anfitriã Argentina, após interferências do governo militar argentino.

Na copa de 1978, o Brasil retornou invicto da Argentina, mas sem o título, apenas com um honroso terceiro lugar. A explicação não é exatamente esportiva, tem a ver com um jogo que até hoje gera polêmica: a goleada de 6 x 0 do anfitrião em cima do Peru, placar que tirou o Brasil da final contra a Holanda. Em todo esse episódio esteve presente a mão da ditadura argentina, que precisava esticar seu governo e compensar seus métodos cruéis com “pão e circo”. (MARTOLIO, p. 91, 2014)

No Brasil, o futebol surge quase que instantaneamente ligado às atividades políticas. A seleção brasileira, campeã sul-americana em 1919, contava apenas com jogadores cariocas e paulistas. No entanto, o racha das oligarquias que comandavam o país fez com que as autoridades pensassem em uma maneira de unir o país por meio do futebol, principalmente introduzindo elementos fora do Eixo Rio-São Paulo. Devido às dimensões continentais do país e ao precário sistema de transportes, seria impossível imaginar um torneio que congregasse as distantes regiões. A solução encontrada foi fazer um torneio de seleções estaduais, dividindo as seleções por regiões e com o campeão de cada região fazendo as finais em São Paulo e no Rio de Janeiro.

As federações estaduais foram escolhidas a dedo pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e os convidados a participar do torneio representavam não só os estados de maior desenvolvimento econômico do país, como também eram os que possuíam restrições ao governo Epitácio Pessoa e ao futuro presidente Artur Bernardes. O país foi dividido em três zonas e as seleções jogariam entre si em cada uma delas. Na Zona Norte12: Bahia e Pernambuco, dois dos estados líderes na Reação Republicana, juntavam-se ao Pará, tradicional opositor do governo central desde os tempos do Império.

Na Zona Central, outro líder de oposição, o Rio Grande do Sul, dividia o grupo com o Paraná. Os campeões desses dois grupos viriam ao Rio de Janeiro e a São Paulo para disputar as fases finais com os dois primeiros colocados do grupo denominado Zona Sul, formado por São Paulo e Minas Gerais, os líderes do governo, na época da “política do café com leite”13, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

O futebol foi usado pela CBD, órgão plenamente envolvido com o governo na execução dos Jogos Sul-Americanos de 1922, e pelo governo para subterfúgios políticos, para um jogo diplomático entre os estados. Os jogos faziam parte do programa oficial dos festejos do Centenário, juntamente com a Exposição Internacional, inaugurada a sete de setembro de 1922. Os jogadores campeões da seleção brasileira de futebol receberam um gordo prêmio em dinheiro do governo, em projeto aprovado em Congresso Nacional. (MALAIA, 2011)

A partir de 1930, Getúlio Vargas também utilizou o futebol para unir o país. “O projeto getulista abrangia o esporte como central para a transformação do brasileiro e também para superação das diferenças políticas.” (GUTERMAN, p. 71, 2009). Vargas tomou medidas para estatizar o controle do esporte no país. Lutou pela implantação do profissionalismo e determinou que o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, que depois se tornaria o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), trabalhasse em cima da imagem dos atletas, a fim de estereotipar uma imagem de raça brasileira. Getúlio Vargas também foi o primeiro presidente a começar a receber atletas em residência presidencial, para cumprimentá-los por vitórias em competições internacionais, hábito que seria mantido por todos os sucessores no cargo.

De maneira mais concreta, o ex-presidente teve três atuações marcantes: a intervenção na legislação esportiva em 1933, tornando jogadores amadores em profissionais e atraindo uma nova classe de trabalhadores, a nomeação de Lourival Fontes para chefe da delegação na Copa do Mundo de 1934 e a preparação para a Copa do Mundo de 1938.

A seleção que disputou a Copa de 1938 foi a perfeita tradução dos objetivos do varguismo. Sua formação incluiu jogadores negros e brancos, inspirando conclusões sobre as vantagens da miscigenação brasileira, inclusive no que diz respeito à harmonia social, tão perseguida pelo regime. Leônidas da Silva, o “diamante negro”, era o símbolo de um time feito para levar ao mundo a força de um que se afirmava como singular, razão pela qual recebeu atenção especial de Getúlio em pessoa quando o time se despediu para disputar o certame na França. (GUTERMAN, p. 81, 2009)

A partir da ascensão de Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, conhecido como João Havelange14, à presidência da CBD, em 1956, o futebol passou a ser utilizado com muito mais frequência como plataforma política, com a seleção brasileira sendo obrigada a realizar amistosos pelo mundo, em lugares de pouca tradição esportiva, como Oriente Médio, a fim de agradar companheiros do presidente da Confederação Brasileira de Desportos. Porém, foi com o advento do regime militar, em 1964, que essa relação se estendeu para o esporte em sua totalidade.

O período da história brasileira em que esta relação foi mais evidente é a Ditadura Militar (1964-1985), cujo golpe que a instaurou completou 50 anos no fim de março. Neste período - especialmente entre 1967 e 1971, no governo do general Médici -, a agência especial de relações públicas ligada ao Regime promoveu a associação entre a imagem da Seleção Brasileira e o governo militar. Peças publicitárias, sobretudo os chamados filmetes que eram veiculados nos canais de televisão, eram protagonizadas por jogadores da Seleção Brasileira. O próprio Pelé chegou a ser garoto propaganda do governo Médici e teve seu nome vinculado a um projeto educacional, o Plano Pelé para a Educação, no qual parte da arrecadação da loteria era destinada à construção de escolas. (COSTA, 2014)

A utilização do futebol começou com o General Artur da Costa e Silva15, que sucedeu Castello Branco16 no poder. Foi seu o primeiro contato com João Havelange, no intuito de trabalharem na preparação da seleção brasileira para a copa de 1970.

Ciente das pressões que estava sofrendo, o presidente Costa e Silva definiu que o futebol seria uma boa forma de acalmar os ânimos da população e convocou uma reunião com o então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD - atual CBF), João Havelange, e com o vice, Paulo Machado de Carvalho. Nessa reunião, Artur da Costa e Silva afirmou que ‘o Brasil não pode perder este campeonato. Temos de dar um jeito de qualquer forma [...]. Em 1970 o Brasil estará disputando essa taça do mundo. Como presidente, gostaria que o povo brasileiro, ainda na minha gestão, festejasse a conquista’ como ficou registrado na edição de 4 de dezembro de 1968 de A Gazeta Esportiva. (FRANÇA, 2014)

Depois que Emilio Garrastazu Médici assumiu o governo militar, em 1969, sendo este um verdadeiro admirador do futebol, o esporte passou a sofrer ingerência direta do Presidente da república. Os casos mais famosos foram a demissão de João Saldanha17, técnico da seleção e crítico do regime militar, e a convocação de Dario18 para a seleção que disputaria a Copa do Mundo de 1970, no México. “Num desabafo, uma tia de Dario afirmou: ‘Ninguém queria o Dario na seleção. Se não fosse o presidente Médici pedir, ele nem seria convocado. Foi o presidente quem o ajudou’.” (GUTERMAN, p. 171, 2009)

Após a conquista no México, os jogadores campeões mundiais foram agraciados por Médici com a importância de 25 mil cruzeiros a cada atleta, em uma atitude irregular, já que o dinheiro foi repassado pela Caixa Econômica Federal. Além disso, de acordo com Guterman (2009), os jogadores, por meio do capitão Carlos Alberto Torres19, pediram ao presidente que fossem poupados do pagamento de impostos sobre seus salários. Contudo, o aspecto mais importante de toda a utilização política do esporte foi a formalização da integração nacional do país pela via do futebol. O projeto iniciado anos atrás com Getúlio Vargas foi ampliado, agora com ajuda de novas tecnologias. A Loteria Esportiva20 foi criada e no mesmo ano, um campeonato nacional de clube também saiu do papel. Em 1971 era oficializado o Campeonato Brasileiro de Futebol, com 20 clubes. Ano após ano, as vagas foram aumentando para atender as demandas de outros estados, até que em 1979, 94 times disputaram o torneio nacional. Nessa época também, a televisão deu início as transmissões esportivas como um produto fixo na grade de programação e não esporadicamente, como acontecia antes.

Além do regime militar, o futebol brasileiro era politicamente utilizado por seu gestor, João Havelange, em sua trajetória para chegar à presidência da Federação Internacional de Futebol Associados (FIFA). O presidente da CBD iniciou em 1966, um trabalho de bastidores para conseguir se eleger presidente da FIFA. Então bicampeão mundial com a seleção brasileira, ele começou a levar a seleção brasileira para diversas áreas desconhecidas do mundo do futebol, mas que votavam igualmente ao Brasil nas eleições da entidade que governa o futebol mundial. Frustrado pelo fracasso da seleção na Copa de 1966, Havelange novamente se animou após a conquista da Copa do mundo de 1970 e partiu em busca de votos mundo afora, utilizando a seleção brasileira como moeda de troca.

Muitos dos dirigentes que agora desembarcavam para se hospedar no Steigenberger tinham conhecido Havelange e gostado dele. Ele tinha levado a Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo para jogar em países “amigos” e, em gesto calculadamente atencioso, deixara todo o dinheiro arrecado pelos jogos nas mãos de seus agradecidos anfitriões. (JENNINGS, p. 22, 2011)

O trabalho feito por Havelange funcionou e em 1974 ele foi eleito presidente da FIFA, cargo que ocupou até 1998.

Em 1982, um grupo de jogadores do Sport Club Corinthians Paulista resolveu criar um novo esquema de tomada de decisões no clube, o que ficaria conhecido como a “Democracia Corinthiana”. Todos podiam votar nas questões importantes do dia a dia da equipe e a maioria venceria. Esse espírito migrou para as questões sociais e os jogadores passaram a tomar parte nos movimentos políticos que surgiam na sociedade, como as Diretas Já21. Ao fazerem isso, os jogadores deram visibilidade aos movimentos, utilizando a força do futebol para propagar os ideais de democracia.

Em 1989, Ricardo Terra Teixeira22, genro de João Havelange, se elegeu Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sucessora da CBD. Após assumir o cargo, Teixeira utilizou politicamente os campeonatos e torneio nacionais em duas ocasiões. A primeira foi logo ao iniciar seu mandato, ao criar a Copa do Brasil.

Prestações suaves de uma conta que teria sua parcela mais gorda paga já no primeiro dia de Ricardo Teixeira na presidência da CBF. Da primeira assembleia geral, [...] saiu a proposta de criação de um torneio com 32 clubes representando todos os estados. [...] O nome, Copa do Brasil. Politicamente, a competição era um sucesso irrefutável. Garantia a todas as federações ao menos um representante no segundo principal torneio do país [...] Em 1989, Zico foi processado por Ricardo Teixeira após afirmar que o torneio era deficitário e fora criado para pagar o apoio à candidatura do presidente da CBF. (MENDES, ROSSI. p. 142-143, 2014.)

A segunda vez foi em 2003, quando, segundo Mendes e Rossi (2014), Teixeira deu um golpe nas ligas de clubes e não homologou os torneios organizados pelas mesmas. No lugar desses campeonatos, criou o Campeonato Brasileiro de pontos corridos, que ocupa oito meses do calendário esportivo.

Ao longo dos anos 90, Ricardo Teixeira utilizou dinheiro proveniente do futebol para costurar acordos e apoios políticos.

A CBF passou a financiar campanhas para prefeito, governador, deputado e senador por intermédio das federações. Ricardo Teixeira autorizava doações às entidades estaduais que repassavam o dinheiro aos candidatos. Um fluxo habitual, que crescia consideravelmente em períodos eleitorais. No último quadrimestre de 1998, ano de eleições estaduais e presidenciais, as remessas da CBF para as federações beiravam os 500 mil reais mensais, contra 300 mil reais no restante do ano. Lógica repetida em 2000, ano de eleições municipais. (MENDES, ROSSI. p. 144, 2014)

Esse comportamento da CBF fez com entre 2000 e 2001, fosse instaurada no Senado uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)23, à respeito das relações de Ricardo Teixeira com as federações e clubes e na Câmara, uma CPI para investigar os contratos existentes entre a empresa fabricante de materiais esportivos, Nike, e a CBF. De acordo com Jennings (2014), a CPI do Senado, cujo presidente foi Álvaro Dias-PSDB, produziu um relatório de 951 páginas incriminando Ricardo Teixeira. Porém, o mesmo não sofreu sanções graças à chamada “bancada da bola”, grupo de políticos aliados à CBF no congresso nacional. “Consagrada em 2001, quando o então deputado e presidente do Vasco, Eurico Miranda, liderava o grupo, a bancada da bola tornou-se conhecida pela troca de favores entre clubes, CBF e objetivos de alguns parlamentares.” (CRUZ, 2014)

Em 2012, após uma série de denúncias de corrupção, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF e em seu lugar assumiu José Maria Marin24, que por sua vez, possuía forte relação com a história política brasileira. Seu discurso contra Vladimir Herzog25, enquanto era deputado pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que dava sustentação política ao regime militar, é considerado como um dos motivos para a morte do jornalista da TV Cultura.

O desempenho de Marin foi suficientemente bom para impressionar Ricardo Teixeira, que o nomeou vice-presidente da CBF em 2008. Em março de 2012, momento em que as revelações que fiz a respeito das propinas de Teixeira o forçaram a sair da CBF (e da Fifa), Marin era o substituto mais dócil e conveniente. Ele já tinha provado que compartilhava dos mesmos pontos de vista de Teixeira acerca do futebol: se algo pode ser manipulado, manipule. Na cerimônia de premiação dos vencedores da Copa São Paulo de Futebol Junior, Marin foi flagrado por câmeras de TV surrupiando uma medalha. Três meses depois, o jornalista esportivo brasileiro Juca Kfouri desenterrou o discurso proferido por Marin na Assembleia Legislativa de São Paulo, em outubro de 1975, acusando Vlado Herzog. Juca culpou Marin pela prisão e morte do jornalista. (JENNINGS, p. 168, 2014)

Em 2015, em operação realizada pelo Federal Bureau of Investigation (FBI)26, Marin foi preso e aguarda julgamento.

Esse breve apanhado da relação histórica e atual entre o país, enquanto unidade política, e o futebol, esporte de maior repercussão no território nacional, demonstra como existem relações intrínsecas entre poder governamental e esporte quando muito dinheiro está envolvido. Desta maneira, serve também para ilustrar o estudo de caso que se realizará nessa monografia, pois as negociações entre futebol e televisão envolvem cifras milionárias e, atualmente, até bilionárias, como no caso da Inglaterra27. Além do fator mercadológico, a televisão no Brasil também possui relações estreitas e históricas com o poder político, como se verá a seguir.

4. Capítulo II: A televisão e a Rede Globo

4.1. Breve histórico e contextualização

A palavra televisão foi criada em 1900, durante um congresso em Paris, quando o francês Constantin Perskyi descreveu um equipamento à base de selênio, que conseguiria transmitir imagens à distância. O título de sua tese era “televisão”, mistura da palavra grega tele (longe) e da latina videre (ver). Aproveitando-se dessas ideias e aprimorando-as, em 1925 o inglês John Baird inventou o aparelho televisor e por consequência, a televisão.28

No Brasil, a televisão começou em 18 de setembro de 1950, trazida por Assis Chateaubriand, que fundou o primeiro canal de televisão no país, a TV Tupi. Nos anos 1950, a TV teve no país um caráter de aventura, sendo os primeiros anos marcados pela aprendizagem, com improvisos ao vivo, pois o videoteipe ainda não exista. O alto custo do aparelho televisor, que era importado, restringia o seu acesso às classes mais abastadas. Os recursos técnicos eram primários, dispondo as emissoras apenas do suficiente para manter as estações no ar.

Chateaubriand entrou nos anos 50 dividido entre a campanha presidencial, a consolidação do Museu de Arte de São Paulo e a realização do velho sonho de implantar no Brasil a quarta estação de televisão do mundo (e a primeira da América Latina). Quando circulou a notícia de que o Brasil ia entrar na era da TV, o projeto já estava muito avançado. (MORAIS, p. 496, 1994)

Assis Chateaubriand queria aumentar seu conglomerado de mídia, os Diários Associados, e para isso, resolveu trazer a televisão para o Brasil. Como na época o equipamento não era produzido no país, toda a aparelhagem teve de ser trazida dos Estados Unidos. Junto aos seus funcionários, foi buscar todos os equipamentos que chegaram por navio no porto de Santos no dia 25 de março de 1950, no litoral do estado de São Paulo. Os equipamentos eram todos encomendados da Radio Corporation of America (RCA). As imagens geradas não passaram do saguão do prédio dos seus Diários Associados, que possuía alguns aparelhos de televisão instalados.

O dono dos Diários Associados (que já eram conhecidos como Diários e Emissoras Associados) tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, onde entregara a Meade Brunnet e David Sarnoff, diretores da RCA, os 500 mil dólares que representavam a primeira prestação de uma compra total de trinta toneladas de equipamentos no valor de cinco milhões de dólares. (MORAIS, p. 498, 1994)

Em 10 de setembro, foi realizada uma transmissão pela TV Tupi ainda em sua fase experimental. O conteúdo exibido era um filme onde o ex-presidente brasileiro Getúlio Vargas relatava seu retorno à vida política. Então, no dia 18 de setembro de 1950, Chateaubriand coloca no ar oficialmente a TV Tupi em São Paulo. O transmissor de televisão comprado da RCA foi colocado no topo do prédio Banco do Estado de São Paulo. O logotipo do canal era um pequeno índio, e como não havia televisores ainda em São Paulo e nem outro lugar do país, Chateaubriand espalhou 200 aparelhos em lugares "estratégicos" da cidade de São Paulo. Segundo Morais (1994), conta-se que estes aparelhos, importados, não conseguiriam chegar ao país no dia da primeira transmissão por problemas alfandegários. Sabendo disso, Chateaubriand utilizou de sua influência, que atingia diversos âmbitos, e antecipou a chegada destes aparelhos.

Em janeiro de 1951, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra29, a Rádio Globo requereu sua primeira concessão de televisão. O requerimento foi analisado pela Comissão Técnica de Rádio, que emitiu um parecer favorável à concessão, aprovada pelo governo dois meses depois, no dia 13 de março. A essa altura, porém, o país tinha um novo presidente, Getúlio Vargas. Dois anos depois, em janeiro de 1953, contrariando o parecer da Comissão Técnica, Vargas voltou atrás e revogou a concessão. Foi somente em julho de 1957, que o então presidente Juscelino Kubitschek30 aprovou a concessão de TV para a Rádio Globo e, em 30 de dezembro do mesmo ano, o Conselho Nacional de Telecomunicações publicou um decreto concedendo o canal 4 do Rio de Janeiro à TV Globo.31

Em 1962, um acordo assinado entre a Time-Life32 e o Grupo Globo proporcionou a Roberto Marinho33 o acesso ao capital necessário para comprar equipamentos e infraestrutura para a criação da TV Globo. O acordo foi questionado em 1965, por deputados federais na CPI da TV Globo, pois seria ilegal segundo o artigo 160 da Constituição da época34, que proibia a participação de capital estrangeiro na gestão ou propriedade de empresas de comunicação. A CPI terminou com parecer desfavorável à emissora, mas mesmo assim a situação da TV Globo foi oficialmente legalizada. Então, Roberto Marinho resolveu encerrar o contrato com a Time-Life.

Em junho de 1965, descobriu-se que um concorrente em potencial da Tupi, a recém-inaugurada TV Globo, fora financiada por um grupo estrangeiro, a multinacional Time-Life, o que feria a Constituição. A denúncia foi investigada numa CPI criada por pressão da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), presidida por João Calmon [...]. Embora os parlamentares tivessem concluído pela irregularidade do acordo da Globo, não houve consequências legais e, em março de 1967, pouco antes de deixar o governo, Castello Branco considerou as acusações infundadas e arquivou o inquérito. (PILAGALLO, p. 208-209, 2012)

A TV Globo foi oficialmente fundada em 1965. Os primeiros meses da emissora produziram um resultado abaixo do esperado, o que levou à contratação de Walter Clark para o cargo de diretor-geral da emissora. Ele, então, foi o responsável pela criação do padrão Globo de qualidade: “Clark participa de todos os processos de consolidação do denominado padrão Globo de qualidade – de uma grade de programação que teve por princípio a localização de um telejornal entre duas telenovelas.” (BORRELI, PRIOLLI, p. 19, 2000).

A partir de 1968, a emissora deu início ao processo de consolidação de sua grade de programação e influência. Foi nessa época que o governo federal, liderado por Costa e Silva, deu prioridade ao desenvolvimento de um sistema de telecomunicações, criando o Ministério das Comunicações e concedendo à população uma linha de crédito para a compra de televisores. Esse aspecto, somado ao advento do videoteipe35, possibilitou o cenário em que se dá o início da TV Globo como uma rede de emissoras afiliadas, tornando-se então a Rede Globo. O primeiro programa a atuar em rede foi o Jornal Nacional, primeiro telejornal em rede nacional, ainda hoje transmitido pela emissora.

A fixação de uma grade horizontal e vertical de programação – base da estrutura e do padrão organizativo da emissora e viável, tecnicamente, após o aparecimento do videoteipe – articulada ao redor deste projeto para o prime-time, podem ser considerados elementos dos mais significativos na constituição do monopólio de audiência exercido pela Globo, até final dos anos 80. (BORELLI, PRIOLLI, p. 19, 2000).

De acordo com Borelli e Priolli (2000), desde o seu início, a Rede Globo esteve envolvida com os acontecimentos políticos relevantes do país. Já da sua criação, o alinhamento ao regime militar mostrou-se como sendo um dos pilares da construção de sua liderança no mercado. A partir de 1964, com a subida dos militares ao poder, houve um novo alinhamento econômico que interferiu diretamente no desenvolvimento da TV. Velhos grupos organizados politicamente perderam força.

No caso televisivo, há os exemplos do grupo Simonsen, do qual fazia parte a TV Excelsior, e o grupo dos Diários Associados, da antiga TV Tupi. A TV Globo, por outro lado, beneficiou-se com a nova conjuntura [...] Os militares, no intuito de estabelecer uma integração nacional que pudesse levar sua ideologia de norte a sul do país, investiram e apostaram nos meios de comunicação, em particular na TV. [...] Enfim construiu as bases para o desenvolvimento da TV e de um mercado interno, mas cobrou esses benefícios em fidelidade política. Muito da estética limpa e despolitizada ou oficialesca da Globo deve-se a esse universo político. (BORELLI, PRIOLLI, p. 86-87, 2000)

Em 2013, após a série de manifestações que aconteceram no mês de junho no país, as Organizações Globo reconheceram o apoio dado ao regime militar e, em novo editorial, reconheceram a ação de apoio como um erro36.

Após caminhar alinhada ao regime, a Globo envolveu-se em outro episódio de repercussão política de maneira polêmica. No dia 25 de janeiro de 1984, foi ao ar, pela primeira vez em rede, aquele que é considerado o primeiro grande comício das Diretas Já37, realizado na Praça da Sé, em São Paulo. Naquele dia, o telejornal exibiu uma reportagem e o apresentador do telejornal anunciou o comício como sendo parte das comemorações dos 430 anos da cidade de São Paulo: “Do ponto de vista da televisão, o fato central foi a omissão de cobertura, por parte da RGTV38, de qualquer evento relacionado a campanha das Diretas-Já.” (BOLAÑO, BRITTOS, p. 111, 2005)

Outros casos foram o Proconsult, a edição do debate eleitoral de 1989, entre Luís Inácio Lula da Silva e Pedro Collor de Mello e a cobertura das eleições presidenciais de 2006. O primeiro, conhecido como caso Proconsult, ocorreu em 1982. A Rede Globo foi acusada de ter participado de uma tentativa de fraudar as eleições para o cargo de governador do Rio de Janeiro, impossibilitando a vitória de Leonel Brizola, candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT). A empresa Proconsult, contratada pela Justiça Eleitoral para apurar os votos do pleito, desenvolveu um sistema informatizado de apuração dos votos que, no entanto, não batia com a apuração paralela divulgada pelo Jornal do Brasil.

A candidatura de Leonel Brizola não agradava ao regime militar e muito menos à RGTV, que tinha outras preferências, conforme revelou o ex-diretor da sua Divisão de Análise e Pesquisas, Homero Sanchez, que à época de sua entrevista, não pertencia mais à RGTV, demitido que foi em consequência de sua ação como conselheiro informal de Brizola durante as eleições, esmiuçou o papel que a RGTV desempenhou na tentativa frustrada de fraudar a eleição para impedir a vitória de Brizola. (BOLAÑOS, BRITTOS, p. 105, 2005)

O episódio marcou a rivalidade entre Rede Globo e Leonel Brizola (PDT), que em 1994 conseguiu obter um direito de resposta na justiça brasileira. Seu texto foi lido no Jornal Nacional, pelo apresentador Cid Moreira39. Em relação ao personagem, Roberto Marinho chegou a declarar seu antagonismo:

Como exemplo desse exercício de poder, o "Times" cita o antagonismo de Roberto Marinho como governador do Rio, Leonel Brizola: “Num determinado momento, eu me convenci de que o Sr. Leonel Brizola era um mau governador’, afirmou o empresário”. “Ele transformou a Cidade Maravilhosa num pátio de mendigos e marginais. Passei a considerar o Brizola perigoso e lutei, realmente usei todas as minhas possibilidades para derrotá-lo nas eleições.” (HERZ, p. 12, 1986)

A edição do debate presidencial de 1989 foi outra situação bastante questionada pelos críticos da Rede Globo. A emissora é acusada de ter ajudado a eleger o candidato a presidente Fernando Collor de Mello (PRN) nas eleições de 1989, através da manipulação de trechos do último debate entre Collor e o candidato petista Luís Inácio Lula da Silva (PT). Na época do debate, já no segundo turno, as pesquisas apontavam um empate técnico entre os dois candidatos; logo, o confronto na televisão seria decisivo para definir a disputa. Segundo Boni, a Central Globo de Jornalismo fez uma edição favorável a Collor, não seguindo a orientação da direção da empresa para que o tratamento fosse imparcial.40 Já Roberto Marinho, diante da declaração de Boni, afirmou que o então vice-presidente das Organizações Globo não entendia de eleições e que o Jornal Nacional tinha sintetizado de maneira correta o debate, visto que Collor havia se saído melhor.41

Em 2006, a emissora foi criticada pela cobertura das eleições presidenciais. Luiz Carlos Azenha, repórter da emissora à época, foi destacado para cobrir o candidato Geraldo Alckmin (PSDB), em sua campanha eleitoral. Azenha afirmou42 que houve a intenção de prejudicar o Partido dos Trabalhadores (PT) na cobertura. De acordo com o jornalista: "tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser esquecidas porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula". Além disso, Azenha afirma43 que uma reportagem de sua autoria, prejudicial ao candidato a governador de São Paulo, José Serra (PSDB), foi censurada pela Rede Globo. Em resposta, as Organizações Globo rebateram as acusações, afirmando sua imparcialidade nas eleições e Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, processou Azenha por danos morais. Em 2013, a justiça deu ganho de causa à Ali Kamel e condenou Azenha a pagar R$ 30 mil reais em danos44.

Haja vista os exemplos citados neste subcapítulo, nota-se que a televisão construiu ao longo de sua existência, um poder político e econômico, que tem penetração não apenas nas instâncias de poder estatal, mas também na vida da população em geral, pois reproduz formas de comportamento e seleciona as informações que ditam o pensamento coletivo. A relação com o mundo esportivo intensifica esse poder de penetração, dado a natureza passional e o aporte financeiro do esporte. “O esporte assumiu um papel tão fundamental para o faturamento das TVs que a compra de um evento pode significar o sucesso ou fracasso de uma empresa de comunicação.” (AZENHA et al, 2014, p. 271). Com o futebol, esporte mais popular do Brasil, a relação não é diferente, como se verá a seguir.

4.2. A televisão e as relações com o futebol

O primeiro jogo ao vivo de futebol foi transmitido por uma emissora alemã, em 1936, mostrando o empate entre as seleções da Alemanha e da Itália45. A partir de então, a relação entre o veículo de comunicação e o esporte tornou-se cada vez mais próxima. No Brasil, a TV Record, de Paulo Machado de Carvalho, “foi a primeira TV a transmitir um jogo, Santos e Palmeiras, direto da Vila Belmiro” (GUTERMAN, p. 123, 2009). Foi graças ao advento do futebol em sua programação, que, de acordo com Guterman (2009), a TV Record começou a ameaçar a liderança da Tupi em São Paulo. Porém, até o momento, não havia comercialização de direitos de transmissão de campeonatos. Os jogos apenas eram escolhidos aleatoriamente e televisionados, seguindo esquema semelhante às transmissões feitas pelas emissoras de rádio.

Em 1970, a Rede Globo comprou os direitos de transmissão da Copa do Mundo de Futebol, realizada no México. Foi a primeira cobertura de um torneio esportivo pela emissora. Durante as transmissões dos jogos e boletins, a Rede Globo alcançou altos índices de audiência. O jogo contra a Inglaterra atraiu mais telespectadores do que a transmissão da chegada do homem à lua46. Ao longo da década de 1970, o esporte ganhou espaço na programação da Rede Globo.

Quando em julho de 1974, [...] o telejornal passou a dedicar um espaço no seu noticiário para mostrar o resultado dos jogos nos campeonatos regionais e nacional. [...] Em 1978, a Globo passou então a apresentar para o telespectador brasileiro tudo sobre a seleção e a competição, desde os preparativos para os jogos até a análise completa dos jogos. [...] No início da década de 1980, o Jornal Nacional passou a apresentar, aos sábados, um bloco inteiro sobre esportes. (MEMÓRIA GLOBO, p. 128-130, 2005)

A emissora, ao longo de sua trajetória de coberturas esportivas, sofreu algumas críticas. A primeira diz respeito à escolha de horários para a transmissão das partidas de futebol. Como detentora dos direitos de transmissão, a Rede Globo determina os horários que os jogos do Campeonato Brasileiro serão exibidos, tanto na montagem da programação da TV aberta, quanto TV por assinatura e pay-per-view. Para priorizar sua programação em TV aberta, a emissora há vários anos opta por escalar jogos às 22 horas, após o final da novela subsequente ao Jornal Nacional. Essa escolha de horário desagrada à maior parte dos torcedores47. Este ano, a emissora resolveu reconsiderar esse horário, em razão dos protestos dos torcedores48.

Outro ponto de discórdia da emissora com os clubes e torcedores é em questão aos patrocinadores das agremiações que não patrocinam a Globo. Há uma decisão editorial de não falar os Naming Rights49 de torneios, estádios e equipes profissionais. Na emissora, o Red Bull Brasil é “RB Brasil”, o Audax, quando se chamava Pão de Açúcar Esporte Clube, era “PAEC”. O estádio do Palmeiras, desde a inauguração, o tem sido chamado de “Arena Palmeiras”, ao invés do verdadeiro nome, Allianz Parque. Em 2000, a Rede Globo entrou em conflito com o presidente do Vasco da Gama, ao exibir uma reportagem mostrando Eurico Miranda dando preferência à continuidade do jogo, em detrimento de feridos no estádio, na final da Copa João Havelange50. Porém, em outro vídeo, gravado e transmitido pela própria emissora posteriormente, mostra Eurico Miranda dizendo que a prioridade era o atendimento das vítimas. Em retaliação, o presidente do Vasco estampou gratuitamente a marca do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), emissora concorrente da Globo, em sua camisa na partida final remarcada, transmitida pela Rede Globo.

No entanto, as relações mais marcantes da emissora são com a Fifa e CBF. Com a Fifa, a Rede Globo envolveu-se em transações financeiras por meio da empresa ISL, que era a responsável por negociar os direitos de transmissão da Copa do Mundo. Foi descoberto que em 1998, a emissora participou de irregularidades nos contratos dos direitos das Copas de 2002 e 2006.

Os rapazes de Weber, obviamente, arregaçaram as mangas e saíram pelo mundo vendendo os direitos da ISL. Em julho de 1998, a empresa negociou uma fatia dos direitos para a brasileira Rede Globo de Televisão, que pagou uma entrada de 60 milhões de dólares. Até, nada esquisito. Acontece que um saco de 22 milhões de dólares desse dinheiro supostamente deveria seguir direto para a Fifa, mas não foi o que aconteceu. O adiantamento pago pela Globo parou em Weber. [...] Mas nos adiantamos. Agora ainda estamos em 2002 e a Fifa está ficando nervosa com o dinheiro da Globo. (JENNINGS, p. 142-145, 2011).

De acordo com Azenha et al (2014), após a falência da ISL, em 2001, a justiça suíça começou a investigar e ao descobrir o desvio do dinheiro enviado pela Rede Globo, a mesma veio até o Brasil e entrevistou Marcelo Campos Pinto, diretor da divisão de esportes da Rede Globo. Desta maneira, descobriu-se o modo de operar da emissora, no que diz respeito à compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo. A operação se dava por meio da Globo Overseas, empresa da família Marinho, que criou uma empresa nas ilhas Virgens Britânicas, com o nome de Empire.

Um ano depois, a Empire foi extinta. Com o capital, a Globo Overseas comprou os direitos de transmissão da ISL. A Receita considerou que foi uma forma de sonegar impostos. Por conta disso, a Globo foi multada em mais de R$ 615 milhões. Em episódio ainda nebuloso, uma auditora fiscal deu sumiço no processo, que teve que ser refeito. (AZENHA, et al. p. 278, 2014)

Em 2012, a Record alegou ter oferecido o dobro do valor pago pela Globo pelas Copas do Mundo de 2010 e 2014, mas a Fifa renovou o contrato com a mesma. Para as Copas de 2018 e 2022, a Record disse que nem sequer foi avisada de que havia um processo de licitação para concorrência e que a Fifa negociou diretamente e secretamente com a Globo51.

No diz respeito à CBF, o relacionamento entre entidade e emissora já passou por momentos de apoio e de ataques de ambos os lados. A emissora faz a cobertura da seleção brasileira com exclusividade desde 1970. Na Copa do Mundo de 2002, Fátima Bernardes52 foi a única jornalista a ter permissão de viajar com os jogadores dentro do ônibus da delegação. Em 2006 e 2010, a Globo foi a única emissora a entrevistar o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, depois da seleção ser eliminada nas duas Copas do Mundo.

Os negócios de Teixeira passam por seus laços com a TV Globo, herdados das relações históricas entre a emissora do Jardim Botânico e Havelange. Globo e Teixeira eram parceiros nas negociações dos direitos de TV dos principais torneios de futebol do País. Mas a parceria foi arranhada uma única vez, há 13 anos, quando a TV, de forma surpreendente, resolveu investigar a fundo as negociatas do dono da bola do futebol brasileiro. A relação esfriou. E houve retaliações. (AZENHA, et al. p. 288, 2014)

Em agosto de 2001, foi ao ar uma edição do programa Globo Repórter, que trazia uma reportagem especial sobre a crise na seleção brasileira. “Pela primeira e talvez única vez, Ricardo Teixeira foi atacado pelo antigo aliado” (AZENHA et al, p.291, 2014). Ainda de acordo com Azenha et al (2014), o pedido para as investigações da equipe de jornalismo partiu da direção da Rede Globo. O ataque ao presidente da CBF teria acontecido em resposta a renovação do contrato de exclusividade de transmissão de jogos da seleção brasileira entre os anos de 1999 e 2002. Teixeira abriu concorrência para outras emissoras, e, portanto, uma reportagem especial contendo detalhes da investigação que acontecia no Senado e na Câmara contra o presidente da CBF, o que a Globo chamou de “CPI do futebol”, foi veiculada em sua programação. Após retaliações dos dois lados, eles se acertaram.

Em 2002, ano seguinte ao Globo Repórter, o contrato de exclusividade na transmissão dos jogos da seleção foi renovado com a CBF e permanece até hoje. A paz voltava ao reino dos poderosos do futebol brasileiro. Ricardo Teixeira ficou próximo como nunca de Marcelo Campos Pinto, o homem da Globo Esportes. Com a dupla em sintonia, a CBF passou a ser uma extensão da Globo – e vice-versa. (AZENHA et al. p. 294, 2014)

Ainda em relação a Marcelo Campos Pinto, diretor da divisão de esportes da Rede Globo, a Revista Placar o enquadrou em quinto lugar em uma lista das pessoas mais influentes do futebol brasileiro. “[...] bastava saber o paradeiro de Teixeira. De tão amigos, Marcelo é cotado para ser o sucessor do dirigente. O diretor da Globo Esportes ganhou espaço nos bastidores por negociar contratos de transmissão de jogos.” (PERRONE, 2010, p. 52)

Em 2009, outra vez TV Globo e Ricardo Teixeira entraram em atrito. Dessa vez, o motivo foi a tentativa da emissora carioca de conversar com o Clube dos 13 para que o mesmo convencesse os clubes a retomarem o campeonato brasileiro por mata-mata53. A CBF, por sua vez, defendia a manutenção do Campeonato Brasileiro por pontos corridos54, fórmula adotada em 2003 e que vigora até hoje. Ao saber da conversa paralela da Globo com os clubes, Teixeira ameaçou alterar os horários de exibição das partidas, além de proibir os jogadores da seleção brasileira de darem entrevistas55. Pouco tempo depois as partes se acertaram.

A última questão envolvendo a Rede Globo que será abordada nesse subcapítulo trata do Clube dos 13 e possui ligação direta com o estudo de caso a ser feito no capítulo III. Diz respeito sobre a quantia paga aos clubes de futebol no Brasil, por conta da transmissão dos jogos no campeonato nacional. A emissora injeta mais de um bilhão de reais no futebol e corresponde por cerca de 28% do total de receitas dos clubes brasileiros, desde que o acordo pela transmissão foi feito em 201156. De acordo com o que foi negociado com cada clube, Flamengo e Corinthians recebem aproximadamente R$ 100 milhões cada um, enquanto outros clubes recebem bem abaixo desses valores57. A divisão tem gerado reclamações dos outros clubes brasileiros, que temem que aconteça algo parecido com o modelo espanhol, onde Real Madrid e Barcelona faturam muito mais que as demais equipes, o que faz com que apenas esses dois clubes disputem os títulos, salvo raras exceções.58

4.3. O Clube dos 13 e a Rede Globo

Em 1987, a Rede Globo, que até então focava suas coberturas na Seleção Brasileira, conseguiu os direitos exclusivos do Campeonato Brasileiro de Futebol, com a criação do Clube dos 13 e a Copa União. Os clubes venderam o campeonato para a Globo, que a partir deste momento construiu seu monopólio sobre o futebol no Brasil.

O Clube dos 13 foi uma entidade fundada em 1987, pelos treze maiores clubes à época: Internacional-RS, Grêmio-RS, Cruzeiro-MG, Atlético-MG, São Paulo-SP, Santos-SP, Corinthians-SP, Palmeiras-SP, Bahia-BA, Vasco da Gama-RJ, Botafogo-RJ, Flamengo-RJ e Fluminense-RJ. Posteriormente, o Clube dos 13 aumentaria seu quadro de membros, chegando a 20 clubes associados, com a admissão de Portuguesa-SP, Guarani-SP, Sport-PE, Goiás-GO, Juventude-RS, Vitória-BA e Atlético-PR, porém sem perder o nome original. A entidade tinha a função de negociar os direitos de transmissão de campeonatos como o Brasileiro com as emissoras de rádio e TV e também dialogar com a CBF acerca das formas de disputa dos campeonatos nacionais.

Desde o momento de sua criação e ao longo de sua trajetória, o Clube dos 13 esteve ligado com a Rede Globo. Em 1987, revoltados com a incapacidade financeira da CBF, que não possuía verba para organizar o campeonato nacional, os clubes acima listados se uniram, criaram a entidade e organizaram a Copa União, válida como o campeonato nacional de 1987. “A Rede Globo desembolsou 3,4 milhões de dólares para transmitir três jogos por rodada” (MENDES, ROSSI, p. 121, 2014). Foi decidida a disputa em dois módulos, verde e amarelo, com clubes representando respectivamente a primeira e segunda divisão. A interferência posterior da CBF gerou uma briga em torno do campeão de fato, que percorre no Supremo Tribunal Federal (STF) até hoje, mas que não será tratada nesta pesquisa, haja vista sua extensão e porque não é objeto de estudo dessa monografia.

Vista por muita gente como uma revolução que não deu certo por causa da CBF, a Copa União trazia na sua concepção uma série de vícios que se repetiriam na segunda tentativa do Clube dos 13 de organizar o Campeonato Brasileiro, em 2000: a Copa João Havelange foi buscar Fluminense e Bahia na segunda divisão. [...] A revolução do Clube dos 13 nasceu de uma virada de mesa tipicamente brasileira. (MENDES, ROSSI. p. 122, 2014)

No imbróglio que se deu a reta final do campeonato, a CBF, segundo Mendes e Rossi (2014), fechou acordo com o SBT para a transmissão da partida final. O Clube dos 13, por meio de Flamengo e Internacional, representantes na fase final, respeitou o acordo com a Rede Globo e negou-se a jogar contra Sport e Guarani, criando um impasse que dura até hoje, pois tanto Sport quanto Flamengo se consideram campeões59.

Em 1996, Fábio Koff, ex-presidente do Grêmio, assume o comando da entidade, cargo que ocupou até o fim do Clube dos 13. Para levar mais público aos estádios, o Clube dos 13 decidiu mudar as regras de transmissões de jogos ao vivo para emissoras de televisão. Em novembro de 1996, a entidade passou a restringir as exibições para as praças em que estivessem sendo disputadas as partidas. Em seguida, assinou um contrato com a Rede Globo, em uma parceria que se renovou até o episódio da implosão do Clube dos 13 e que, posteriormente, seria descoberto que havia uma cláusula de renovação automática, sendo isso algo proibido, por se tratar da necessidade de licitação pública. De acordo com Mendes e Rossi (2014), a preferência pela Globo de maneira formal no contrato se dava também graças a um episódio de 1996, quando na televisão por assinatura, o Clube dos 13 tinha contrato com as Organizações Globo, enquanto as equipes não filiadas à entidade, possuíam contrato com a Abril. Na prática, aconteceu de jogos entre partidas de equipes do Clube dos 13 passavam nos canais da Globo, enquanto jogos das demais equipes eram transmitidas pela Espn Brasil. Quando o confronto era entre equipes dos dois lados, a partida não era televisionada.

A relação entre TV Globo e Clube dos 13 se desgastou ao final dos anos 2000. O episódio, porém, é o tema do estudo de caso, e será abordado no terceiro capítulo dessa monografia.

4.4. Distribuição dos direitos esportivos na televisão

Cada país, cada liga esportiva, tem sua própria maneira de negociar os direitos de transmissão com as televisões. Atualmente, o modelo inglês é tido como o ideal60. Na Grã-Bretanha, a negociação é feita coletivamente, por meio da liga dos clubes (Premier League) e o dinheiro é dividido em três partes61: 50% dividido igualmente entre os clubes, 25% de acordo com a posição do time no último campeonato e 25% proporcional à média do número de jogos transmitidos na temporada anterior. A Liga inglesa recebe 5,1 bilhões de libras e, além das empresas privadas Sky e BT, a BBC inglesa, televisão pública, tem direito a transmitir alguns jogos do campeonato.

Na Alemanha, os direitos de transmissão são negociados coletivamente e a divisão é igualitária. O dinheiro da televisão é distribuído não só entre os times da Bundesliga (Primeira divisão nacional), mas também entre as equipes da segunda divisão. É o único contrato das grandes ligas que também inclui a segunda divisão. A partir da terceira divisão do país, quem cuida é a Federação Alemã (DFB), não a liga. O valor do acordo é de 628 milhões de Euros por temporada62. É levada em consideração a posição do time na tabela, atribuindo um peso maior às temporadas mais recentes. Uma parte do dinheiro recebido pela TV vai para um fundo da liga. O resto é distribuído assim: 80% é para a Bundesliga e 20% a segunda divisão.

Em Portugal, assim como na Espanha e no Brasil, a negociação é feita individualmente com cada clube. Os direitos são repassados a duas empresas, privadas, a Sport TV e a TVI, e os valores são em torno de 120 milhões de reais63. Os casos mais peculiares são os da Espanha e da Argentina. Na Espanha, os direitos são negociados individualmente com cada time. Entre as ligas europeias, a espanhola é o que a tem a divisão mais desigual e os dois principais times do país, Real Madrid e Barcelona, recebem mais de sete vezes o valor que os demais clubes. Na última renovação dos direitos de transmissão, Real Madrid e Barcelona receberam 140 milhões de euros cada um64. O Valência, segundo colocado na distribuição recebeu 48 milhões de euros. O Atlético de Madrid vem em seguida, com 42 milhões de euros, depois um grupo de três times com 32 milhões de euros e vai diminuindo até o último grupo, que recebe 18 milhões de euros. A negociação envolve três emissoras, duas privadas e uma pública, que se alternam a cada ano.

No caso Argentino65, em 2009, o governo federal, liderado pela presidente Cristina Kirchner, ordenou o rompimento da Associação do Futebol Argentino (AFA) com o grupo Clarín, desafeto do governo federal. Desde então, o futebol argentino foi “estatizado” e tem todos os jogos transmitidos por uma emissora pública. O governo paga 600 milhões de pesos por temporada. A Argentina também o único país dessa lista a negociar com a televisão por meio de sua confederação (A AFA é o equivalente à CBF no Brasil).

No Brasil66, desde o fim do Clube dos 13, episódio que será estudado no próximo capítulo, a televisão negocia separadamente com cada clube da primeira divisão. Na televisão aberta, a TV Globo é detentora dos direitos de transmissão com exclusividade e repassa a permissão de transmitir um jogo por rodada, a sua escolha, para a TV Bandeirantes. A divisão do montante financeiro é feita em duas etapas67. Uma parte é o dinheiro proveniente com o contrato da televisão aberta, que é fixo e corrigido pelo IPCA68 e as cotas de cada clube são estabelecidas pelos índices de audiência que os respectivos jogos geram para a emissora. Outra parte é variável e é calculada em cima das vendas de pacotes de pay-per-view69 de cada clube, do canal Premiere, que faz parte das Organizações Globo. As tabelas a seguir mostram quais as quantias recebidas pelos principais clubes brasileiros, referente, respectivamente ao contrato com a televisão aberta70 e pay-per-view71, no período entre 2012 e 2014:

Tabela das quantias recebidas pelos contratos com a televisão aberta

Tabela das quantias recebidas pelos contratos com o pay-per-view:

No que diz respeito à TV por assinatura, as Organizações Globo, por meio de seus canais fechados, Premiere e SporTV, também possuem os direitos de transmissão dos campeonatos nacionais com exclusividade, mas perde para outras emissoras em torneios internacionais, ainda que com participação de clubes brasileiros. A tabela a seguir, que encerra esse capítulo, mostra como estão divididos atualmente os direitos de transmissão entre as emissoras de TV por assinatura no Brasil72.

Tabela dos direitos de transmissão de imagem por emissora:

5. Capítulo III - Os direitos de transmissão do campeonato brasileiro

5.1. Estudo de caso: Episódio da renovação de 2011

Neste capítulo será desenvolvido o estudo de caso sobre o episódio da renovação dos direitos de transmissão de imagem do Campeonato Brasileiro de futebol. Esta monografia, até este ponto desenvolvida sob a metodologia da revisão bibliográfica, agora retoma o que foi explicado na introdução e passa a desenvolver neste capítulo um estudo de caso que se configura por uma coleta de dados, de acontecimentos ocorridos no período estudado. Esses dados serão posicionados em quatro grupos, cada qual compreendendo um conjunto de elementos relativo ao caso, que foram divididos da seguinte forma: grupo de elementos 1: comportamento político das pessoas e entidades que comandam o futebol brasileiro, grupo de elementos 2: comportamento dos veículos de comunicação interessados em adquirir os direitos de transmissão de imagem, grupo de elementos 3: o comportamento dos clubes no processo de renovação nos direitos de transmissão e grupo de elementos 4: a cobertura da mídia esportiva em relação ao episódio de renovação dos direitos de transmissão.

O primeiro grupo traz os elementos que atuaram de maneira ativa no episódio estudado, sendo que alguns personagens atuaram como pessoa física, casos de Andrés Sanchez, Juvenal Juvêncio e Kleber Leite, enquanto outros personagens atuaram como representantes de entidades, casos de Ricardo Teixeira e Fabio Koff, representando, respectivamente, CBF e Clube dos 13. O grupo de elementos 2 descreve como foi o comportamento dos veículos de comunicação interessados em adquirir os direitos de transmissão de imagem. Nesse grupo, os veículos de comunicação são compreendidos como empresas interessadas em um produto e não como emissoras de televisão e veículos jornalísticos.

O terceiro grupo de elementos descreve o comportamento de cada clube integrante do Clube dos 13 ao longo do episódio. Por fim, o quarto grupo de elementos descreve como foi a cobertura da mídia esportiva em relação ao caso estudado, compreendendo, desta vez, os veículos de comunicação como emissoras e veículos jornalísticos. Os casos foram construídos e narrados principalmente com base nas declarações de Azenha et al (2014), obra escrita por Luiz Carlos Azenha, Amaury Ribeiro Jr; Tony Chastinet e Leandro Cipoloni, que traz um retrato, devidamente documentado, das ações corruptas ocorridas no mundo do futebol.

Após a coleta e posicionamento no grupo de elementos, cada grupo foi descrito e posteriormente interpretado.

5.2. Grupo de elementos 1: Comportamento político das pessoas e entidades que comandam o futebol brasileiro

Tabela das personagens estudadas neste subcapítulo 3.2:

 

O caso é narrado com base nas declarações de Azenha et al (2014) e Schreiber (2013). Neste caso, entende-se como comportamento político o conjunto de ações tomadas por pessoas e entidades, ações estas que possuem caráter relacionado a cargos políticos do mundo do futebol.

O caso a ser estudado, ocorrido em 2011 e com desdobramentos nos anos seguintes, teve início em abril de 2010, na eleição para presidente no Clube dos 13. Fabio Koff, presidente da entidade desde 1995, lançou-se candidato para o sexto mandato consecutivo. De acordo com Azenha et al (2014, p. 296), tanto Rede Globo, até então parceira do Clube dos 13, quanto Ricardo Teixeira, presidente da CBF à época, decidiram lançar um candidato para fazer frente a Fabio Koff. O escolhido para ser o candidato foi Kleber Leite, empresário e ex-presidente do Flamengo, tendo o então presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, como aliado na campanha política.

A entidade ganhou corpo e se tornou a protetora dos interesses políticos e econômicos dos maiores clubes do País, especialmente na negociação dos direitos de transmissão. Nesse jogo, a Globo, parceira do grupo desde o nascimento, sempre teve prioridade. Mas ter o poder de comprador era uma arma muito poderosa nas mãos do Clube dos 13. Ricardo Teixeira e Globo sabiam disso: a solução para eles era óbvia: tomar o comando do grupo. (AZENHA et al, 2014, p. 296)

Kleber Leite, nascido em 1949, foi jornalista esportivo e, posteriormente, tornou-se empresário no ramo de marketing esportivo, criando a primeira agência brasileira de publicidade em estádios de futebol, a Klefer. Em 1994, elegeu-se presidente do Flamengo-RJ, cargo que ocupou até 1998, e partir de então, figura entre os principais dirigentes esportivos do Brasil. Azenha et at (2014, p. 297), afirma que Ricardo Teixeira foi o responsável por trabalhar e lançar a candidatura de Kleber Leite à presidência do Clube dos 13.

Andrés Sanchez, nascido em 1963, começou a carreira profissional trabalhando como feirante aos 14 anos. De acordo com Azenha et al (2014, p. 297), iniciou uma empresa no ramo de embalagens plásticas e ao longo dos anos, abriu e fechou uma série de empresas, em processo que a Receita Federal ainda investiga. Aos 27 anos, ele fundou uma torcida organizada do Corinthians, nomeada de Pavilhão 9, em referência a um dos setores do Complexo Penitenciário do Carandiru. Foi convidado por Alberto Dualib, presidente do Corinthians entre 1993 e 2007, para ser o coordenador das divisões de base do clube e logo cresceu politicamente dentro da agremiação, também graças a sua relação com Luís Inácio Lula da Silva. “Com a eleição de Lula em 2002, Sanchez cresceu no clube. Até hoje, faz propaganda de sua amizade com o líder do PT, partido do qual é filiado desde a década de 80.” (AZENHA, et al. 2014, p. 298)

Em 2004, de acordo com Azenha et al (2014, p. 298), Sanchez foi responsável por fazer a parceria entre Corinthians e a empresa Media Sports Investiments (MSI), do bilionário russo Boris Berezovsky. A princípio a parceria trouxe resultados e, após receber uma injeção de verba da MSI, o Corinthians foi campeão do campeonato brasileiro de 2005, o que levou Sanchez ao cargo de diretor de futebol. No entanto, em 2006, a Polícia Federal e o Ministério Público acusaram o clube e a empresa de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, o que levou a dissolução da parceria e à renúncia do presidente Alberto Dualib, em 2007. Andrés Sanchez assume então a presidência do Corinthians e começa a participar ativamente da politica desportiva brasileira. Em 2010, Andrés Sanchez foi eleito como a sétima de pessoa de maior influência no futebol brasileiro73. Em 2011, assumiu como diretor de seleções CBF e em 2014, elegeu-se deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

A eleição para a presidência do Clube dos 13 estava inicialmente marcada para ocorrer em novembro de 2010. No entanto, preocupado com as ações de Globo e Ricardo Teixeira, Fábio Koff antecipou para abril do mesmo ano. Com a antecipação, Fábio Koff ganhou o pleito e reelegeu-se, com 12 votos a favor (Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Guarani, Internacional, Palmeiras, Portuguesa, São Paulo e Sport-PE) e oito contra (Botafogo-RJ, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Goiás, Santos, Vasco e Vitória). Para compor a chapa, Koff aliou-se com Juvenal Juvêncio, à época presidente do São Paulo FC e adversário político de Ricardo Teixeira.

Em outubro de 2010, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)74, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF)75, cassaram uma cláusula presente nos contratos firmados entre Organizações Globo e Clube dos 13, que na prática dava preferência automática à emissora em licitações de direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol, em processo que corria no Cade desde 1997.

No processo em questão, reconheceu-se o exercício de posição dominante por parte da emissora na negociação dos direitos de transmissão das temporadas de 1997 a 1999 e na continuidade dos contratos do direito de preferência na renovação. Disputa envolvendo CBF, TVA, Clube dos 13, Globo e Globosat chegou ao STJ. No caso em exame, a TVA havia celebrado em 1993 contrato com a CBF tendo por objeto a cessão dos direitos de transmissão das temporadas de 1997 a 2001 do Campeonato Brasileiro [...]. Em 1997, o Clube dos 13, por sua vez, celebrou contrato com a Globo Comunicações e Participações Ltda, relativo a transmissão das temporadas de 1997, 1998 e 1999 daquela competição. (SCHREIBER, 2013, p. 234)

A cláusula em questão dava a prioridade de compra para a Rede Globo, que podia igualar os valores propostos por outras emissoras, além de possuir um ágio de 10% sobre qualquer proposta, ou seja, se a proposta dos concorrentes fosse apenas 10% superior à da TV Globo, a emissora ficava com os direitos76. Outro ponto modificado do contrato é que os direitos sobre o Campeonato Brasileiro eram comercializados unicamente, congregando todas as plataformas: televisão aberta, televisão fechada, pay-per-view, internet e celular. Após intervenção do Cade, as plataformas deveriam ser negociadas separadamente.

Em dezembro de 2010, poucos meses antes da renovação dos contratos de transmissão e da implosão do Clube dos 13, Fábio Koff, de acordo com Azenha et al (2014, p. 305), em retaliação à Rede Globo e a CBF, contratou uma pesquisa para saber quais eram os horário preferidos dos torcedores para assistirem aos jogos de futebol. A pesquisa mostrou que nas cidades médias, o horário favorito era o das 20 horas e 30 minutos, enquanto nas cidades de grande porte, o horário favorito era o das 21 horas. A pesquisa contrastava com horários determinados pela TV Globo, das 19 horas e 30 minutos e 22 horas. Uma possível mudança nos horários das partidas acarretaria em alterações no horário nobre da TV Globo, composto com duas telenovelas intercaladas com o Jornal Nacional.

Considerando o conteúdo exposto no grupo 1, percebe-se que o triunvirato responsável por comandar o futebol brasileiro, composto à época por CBF, esta personificada por Ricardo Teixeira, Rede Globo e Clube dos 13, este personificado por Fabio Koff, após um longo período de convivência harmoniosa, partiram para um conflito em busca de mais poder. Cada um utilizou as armas à disposição. TV Globo usou o dinheiro que possui, Koff utilizou os contratos de transmissão de imagem e Teixeira usou sua influência política nos bastidores. Ao buscar aliados, cada trouxe quem julgava ser necessário para vencer: Koff apostou em Juvenal Juvêncio, enquanto Globo e CBF trouxeram Andrés Sanchez e Kleber Leite para a disputa.

A disputa pelo comando do Clube dos 13 foi o início de todo o cenário existente no período de renovação dos direitos de transmissão de imagem e da realidade que permeia o futebol brasileiro até hoje. Na ocasião, Fabio Koff saiu vencedor, porém poucos meses depois perderia a força, assim como a CBF. Apenas a Rede Globo conseguiu manter sua posição no futebol nacional.

5.3. Grupo de elementos 2: Comportamento dos veículos de comunicação interessados em adquirir os direitos de transmissão de imagem

Tabela das personagens estudadas neste subcapítulo 3.3:

Com o anúncio de que seria realizado um processo licitatório, em envelopes fechados e com a competição sendo negociada separadamente nas diversas plataformas de transmissão, sendo que a maior quantia oferecida ganharia a licitação, o Clube dos 13 marcou a renovação dos direitos de transmissão do campeonato Brasileiro para março de 2011. Diversos grupos e veículos de comunicação entraram no processo, conforme mostra a tabela a seguir77:

Tabela de veículos de comunicação disputando o processo de licitação:

A negociação que envolve um volume maior de dinheiro é o da televisão aberta, principal fonte de receita dos clubes. A TV Record fez uma proposta de R$ 912 milhões78 para obter os direitos de transmissão para o triênio 2012, 2013, 2014. A RedeTV fez uma proposta de R$ 1,5 bilhões79, que foi a ganhadora da licitação. A TV Globo, em fevereiro de 2011, um mês antes da abertura dos envelopes, retirou-se do processo de licitação e começou a procurar os clubes separadamente ao Clube dos 13, fazendo tratativas individuais. Foi o início da implosão do Clube dos 13 e do episódio estudado nesse capítulo. A TV Record somente percebeu o movimento da Globo quando a mesma já tinha acertado com oito clubes e, a partir de então, decidiu negociar individualmente com os clubes. A RedeTV foi a única a manter-se fiel ao processo de licitação até o final.

Considerando o grupo 2, nota-se que após a ruptura do Clube dos 13 com a Rede Globo e a intervenção do Cade, que dividiu a licitação para plataformas de mídia separadas, os mais diversos veículos de comunicação, de todas as plataformas (mídia impressa, digital, televisão e móvel) fizeram propostas, no intuito de possuir os direitos de transmissão. Ao perceber os altos valores envolvidos, a dedução possível é de que o futebol deve proporcionar ao veículo um retorno ainda maior de lucro, seja com a publicidade ou comercialização do produto esportivo. A Rede Globo, ao sair do processo de licitação, quando notou que sua proposta financeira era a menor, assumiu uma postura antidemocrática, pois negociar individualmente com os clubes mostrou-se como uma forma de burlar a livre concorrência. Esse ato foi o início do desmanche do Clube dos 13, pois os clubes renegaram a entidade.

A demora da Record em negociar individualmente com as equipes foi decisiva para perder a batalha contra a Globo, pois a mesma assinou rapidamente com oito clubes. Como se propunha a pagar mais do que a emissora carioca, se tivesse iniciado as conversas individuais junto com a Rede Globo, talvez a TV Record tivesse conseguido acertar com os clubes.

5.4. Grupo de elementos 3: O comportamento dos clubes no processo de renovação dos direitos de transmissão

Tabela das personagens estudadas neste subcapítulo 3.4:

Em 22 de fevereiro de 2011, Andrés Sanchez, parceiro autoproclamado da Rede Globo e da CBF80, retirou-se do Clube dos 13 e rompeu com a entidade, desfiliando o Sport Club Corinthians Paulista da liga composta pelos demais clubes. Em seguida ao Corinthians, o Flamengo também retirou do Clube dos 13 a permissão para negociar em seu nome, para poder negociar individualmente com a Rede Globo. Os três clubes cariocas membros da entidade seguiram o Flamengo e anunciaram seu afastamento para negociar em separado com a emissora carioca.

De acordo com Azenha et al (2014, p. 307), a atitude do presidente do Corinthians teve dois motivos. O primeiro foi a pedido de Globo e CBF. O segundo foi para atacar Juvêncio. “A decisão do presidente do Corinthians de atacar o Clube dos 13 teve um custo: a vingança de Juvenal Juvêncio. A implosão da entidade era a segunda derrota do presidente do São Paulo.” (AZENHA, et al, 2014, p. 307) A primeira derrota havia sido a derrota do Morumbi81 para a aberta da Copa do Mundo de 2014, preterido em relação ao estádio do Corinthians, em Itaquera, zona leste de São Paulo.

O Flamengo decidiu negociar individualmente com a TV Globo por duas razões. A primeira é que considerava, assim como o Corinthians, que sua cota de televisão era muito baixa pela divisão feita pelo Clube dos 13. Flamengo e Corinthians são os clubes de maior torcida no Brasil e consequentemente os que conseguem mais audiência em transmissões televisivas, logo o clube julgou que deveria ganhar mais do que o Clube dos 13 propôs82. O segundo motivo83 foi a discussão sobre quem seria o verdadeiro campeão de 198784 e possuidor da taça das bolinhas85. O Botafogo decidiu negociar os direitos a parte, afirmando que desta maneira, conseguiria dobrar o valor arrecado, em comparação à quantia distribuída pelo Clube dos 13. À época, foi noticiado que o clube negociou com a TV Globo porque devia dinheiro a emissora, graças a empréstimos realizados nas cotas de transmissões posteriores86. Fluminense e Vasco decidiram negociar em conjunto com os demais cariocas e por isso também se afastaram do Clube dos 13 para negociar separadamente com a Rede Globo.

Após os quatro clubes cariocas e o Corinthians, o Grêmio, o Coritiba e o Cruzeiro também resolveram negociar diretamente com a TV Globo87. O Coritiba foi o sexto clube a sair da negociação com o Clube dos 13. À época, as três equipes declararam que dobrariam as quantias recebidas negociando diretamente com a emissora carioca88.

Com oito dissidentes, o Clube dos 13 levou a licitação adiante, contando ainda com 12 clubes: Atlético-PR, Atlético-MG, Bahia, Goiás, Guarani, Internacional, Palmeiras, Portuguesa, São Paulo, Santos, Sport e Vitória-BA. A TV Record, ao perceber o movimento da Rede Globo em negociar separadamente com cada clube, saiu do processo de licitação e também tentou negociar individualmente com cada equipe89. Portanto, como concorrente única, a RedeTV ganhou a licitação e foi anunciada pelo presidente do Clube dos 13, Fabio Koff, como a nova detentora dos direitos de transmissão. No entanto, mesmo com o Clube dos 13 decretando a RedeTV como a emissora licenciada, a Rede Globo continuou negociando com os demais clubes. Na semana seguinte ao anúncio do vencedor da licitação, Sport-PE, Palmeiras e Santos também deixaram o Clube dos 13 para negociarem em particular90. Sport-PE, assim como o Flamengo, estava estremecido com Fabio Koff, em virtude do imbróglio de quem seria o campeão da Copa União de 198791. Palmeiras e Santos alegaram que negociando diretamente com a Globo, aumentariam os rendimentos e por isso julgavam necessário deixar de lado o acordo com a Rede TV92. Desta maneira, 11 clubes se colocaram contrários ao acordo feito pelo Clube dos 13 e se negaram a assinar com a RedeTV, pois já haviam feitos acordos com a Rede Globo. Os demais clubes, ao perceberem os valores arrecadados pelas equipes que fechavam contrato com a Globo, começaram a sair do acordo com o Clube dos 13. Internacional, Goiás, Portuguesa, Guarani e Bahia fecharam contratos com a Globo, alegando razões financeiras93. Apenas três clubes se mantiveram fiéis ao Clube dos 13 e ao acordo com a RedeTV: Atlético-MG, São Paulo e Atlético-PR.

O Atlético-PR possui relação estremecida com a Rede Globo desde 2006, por não concordar com os valores pagos pela emissora nos direitos de transmissão relativos ao campeonato estadual do Paraná. Em 2007 e 2008, por não concordar com os valores oferecidos, o clube se negou a assinar o contrato de transmissão do campeonato e todas as suas partidas não puderam ser televisionadas94. O São Paulo Futebol Clube também esteve ao lado do acordo com a RedeTV, pois seu presidente era Juvenal Juvêncio, vice-presidente do Clube dos 13 e parceiro político de Fabio Koff, além de, de acordo com Azenha et al (2014, p. 308), ser inimigo político declarado de Ricardo Teixeira e Andrés Sanchez.

No episódio da renovação de 2011, as equipes se mantiveram alinhadas ao Clube dos 13 até o momento que a RedeTV cancelou o contrato, haja vista que apenas três clubes poderiam ter seus jogos televisionados. Após a desistência da RedeTV, o Atlético-MG foi o último a acertar o contrato com a Rede Globo. O presidente da agremiação à época, Alexandre Kalil, se negou a negociar com a Globo e a assinatura do contrato com a emissora, depois que todos os demais clubes já o tinham feito, foi realizada pelo conselho deliberativo do clube, pois Kalil se recusou95. Após a assinatura do Atlético-MG, ficou formalizada a renovação de contrato com a Rede Globo. O contrato com a RedeTV foi cancelado e as agremiações esportivas se desfiliaram do Clube dos 13, o que fez a entidade encerrar suas atividades.

Considerando o grupo 3, percebe-se que as agremiações preponderantes para o processo de implosão do Clube dos 13 foram Flamengo e Corinthians. Por serem os clubes de maior torcida do Brasil, são também as equipes que mais arrecadam com verba de televisão e comercialização das marcas. Por isso, essas equipes possuem demasiada força política entre os demais clubes. O Corinthians, em São Paulo, ainda possui rivais que tentam competir em verba e força. Mas o Flamengo, assim que tomou uma posição, foi prontamente seguido por seus rivais no Rio de Janeiro.

Começava a implosão da entidade que havia nascido em 1987 para defender os grandes clubes. No mesmo dia, os quatro principais times do Rio de Janeiro tomaram o mesmo caminho do Corinthians. Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo não se desfiliaram, mas comunicaram ao Clube dos 13 que fariam por conta própria a negociação dos direitos de transmissão de seus jogos [...]. O resumo da história era o seguinte: Corinthians e Flamengo, as duas maiores torcidas do Brasil, estavam fechados com a Globo. (AZENHA et al, 2014, p. 306)

A Rede Globo traz para o seu lado esses clubes, oferecendo-lhes um valor muito acima dos demais clubes. Essas equipes trabalham para convencer os clubes menores a também fecharem com a emissora carioca. Um clube vai puxando o outro, e também é pertinente reconhecer a TV Globo elevou a cota de todos os clubes. Das três agremiações que mantiveram a sua posição e o acordo com o Clube dos 13, apenas o Atlético-MG o fez por convicção ideológica. Atlético-PR e São Paulo posicionaram-se ao lado do Clube dos 13 por terem divergências financeiras e políticas, respectivamente, com a TV Globo. Porém, tiveram que reconhecer que não poderá realizar um campeonato com três clubes.

5.5. Grupo de elementos 4: A cobertura da mídia esportiva em relação ao episódio de renovação dos direitos de transmissão

Tabela das personagens estudadas neste subcapítulo 3.5:

No período compreendido entre abril de 2010 até a assinatura do Atlético-MG e a formalização da renovação com a Rede Globo, a mídia esportiva, em especifico, ESPN Brasil, Record, Revista Placar e Jornal Lance! noticiaram cada etapa do processo de renovação dos direitos de transmissão. A cassação da cláusula foi noticiada por concorrentes da Rede Globo, que resolveram entrar na disputa pelos direitos de transmissão que aconteceria na renovação de contrato em 2011. A ESPN Brasil96, antiga TVA e pertencente ao grupo Disney97, fez reportagens que se posicionavam ao lado do Clube dos 13, como no exemplo da reportagem “Cade pode processar clubes que negociarem cotas sem falar com o clube dos 1398. A reportagem não é assinada por nenhum repórter ou colunista da emissora e traz a informação de que os clubes dissidentes poderiam sofrer sanções jurídicas ao negociarem em separado com a Rede Globo. Outra reportagem a respeito do tema, também não assinada, é a “À lá Globo, Record já negocia individualmente com 11 clubes99. A reportagem já não mencionava a necessidade de os clubes continuarem o processo de licitação, pois a RedeTV ainda estava no processo, além de trazer a informação de que as propostas e valores que a TV Record ofereceu aos clubes estavam sendo repassadas ao Congresso Nacional100 e ao Cade, enquanto a Rede Globo fazia as negociações sem comunicar aos órgãos competentes para o caso. Dois artigos, escritos por Paulo Vinicius Coelho101 e Mauro Cezar Pereira102, principais jornalistas da ESPN Brasil à época, intitulados, respectivamente, “O motim do Clube dos 13 acabou103 e “Flamengo foi campeão em 1987 no campo, não na ‘canetada’ de cartola104, traziam apoio dos jornalistas ao Clube dos 13 e repúdio a maneira como a Rede Globo conduziram as negociações. Em abril de 2013, a emissora, em seu programa de entrevista semanal, entrevistou Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, que disse ter conversado com Andrés Sanchez durante a renovação dos direitos de transmissão de imagem e implosão do Clube dos 13. Kalil afirmou105 que Andrés Sanchez implodiu o Clube dos 13 por ter recebido a promessa de que ganharia um estádio ao fazer isso.

A TV Record, enquanto esteve no processo de licitação e, posteriormente, realizando tratativas individuais com os clubes, não fez coberturas jornalísticas a respeito da renovação do contrato de direitos de transmissão. No entanto, após a Rede Globo conseguir renovar o contrato, a emissora paulista, de acordo com Azenha et al (2014, p. 309), passou a realizar matérias atacando a CBF e Ricardo Teixeira. “E a Record não podia ouvir o nome de Ricardo Teixeira. Dez anos após a Globo, chegava a vez da emissora paulista expor a verdade sobre o presidente da CBF” (AZENHA et al, 2014, p. 309) De junho a setembro de 2011, foram veiculadas 18 matérias sobre Ricardo Teixeira e a CBF.

De acordo com Azenha et al (2014, p. 310), a Rede Globo se esforçou para blindar Ricardo Teixeira, mandando equipes de jornalismo para fazer reportagens frequentemente com o então presidente da CBF, sempre realizando perguntas que somente eram favoráveis à Teixeira, nunca perguntando sobre os escândalos de corrupção em que estava envolvido. Após a série de denúncias da Record e um perfil publicado pela Revista Piauí, Ricardo Teixeira começou a ser investigado pelo Ministério Público e, de acordo com Azenha et al (2014, p. 317), teve que renunciar ao cargo, pois acabou isolado politicamente e precisou sair do país para não ser indiciado e preso.

O jornal Lance! e seu portal na internet, o Lancenet!, foi o veículo de comunicação que mais publicou reportagens a respeito do processo de renovação dos direitos de transmissão de imagem. Entre fevereiro e abril de 2011, ao menos uma reportagem foi publicada pelo veículo, que possui periodicidade diária. O jornal foi o único veículo a publicar na íntegra o edital de licitação lançado pelo Clube dos 13106. Dentre as reportagens e colunas publicadas pelo jornal, duas se destacaram. A primeira foi a coluna de Marcelo Damato107, editor do jornal, intitulada “TV Globo deu sinal verde ao motim”, na qual Damato cita a emissora como responsável pelo boicote dos clubes ao Clube dos 13.

A rebelião dos clubes do Rio e do Corinthians contra o Clube dos 13 tem o dedo da Rede Globo. A emissora sinalizou que daria condições vantajosas a Corinthians e Flamengo para atrair para seu lado os clubes de maior torcida do Brasil. Dessa maneira, atendeu as pretensões desses clubes de receber um tratamento diferenciado. Não está claro se essas condições envolvem dinheiro vivo, espaço de mídia para a promoção desses clubes ou ambos. Os clubes do Rio, para terem melhores condições de negociação, decidiram aderir logo ao movimento. Calcularam que teria mais a ganhar do que a perder. [...] Com a adesão do Coritiba, do Paraná, iniciou-se uma nova fase do movimento, de adesão dos clubes médios e grandes indecisos. A meta é reunir pelo menos dez clubes. O Palmeiras pode ser mais um a aderir, mas a estratégia de Arnalto Tirone (presidente do clube) é a oposta: em vez de pensar no dinheiro que pode ganhar, ele quer evitar desgaste politico por apostar no cavalo errado. (DAMATO, 2011, p. 24)

A segunda reportagem foi um editorial publicado pelo jornal, em março de 2011, em que criticava os personagens envolvidos em todo o processo de renovação dos direitos de transmissão, intitulado: “Essa gente se merece”:

Fabio Koff, por mais que agora tente mudar sua biografia, pulando para o lado do bem, por anos esteve a serviço da CBF. [...] Transformou o Clube dos 13 em um balcão de corretagem de direitos de transmissão e, irônico o destino, enfrenta a mais grave crise da história exatamente no momento que tentava agir de forma diferente [...] sem favorecimentos àquela emissora (TV Globo). [...] O São Paulo, desde a presidência de Carlos Miguel Aidar no Clube dos 13, sempre reconheceu o Flamengo como o legítimo campeão brasileiro de 1987. Mas o São Paulo, agora na figura de Juvenal Juvêncio, não pestanejou em receber a famigerada Taça das Bolinhas com a atitude arrogante de sempre [...] Aliás, Juvenal é o mesmo que critica o continuísmo na CBF, que não tolera a perpetuação de Ricardo Teixeira. [...] Patrícia Amorim jurou vingança, desfiou ódio mortal à Teixeira quando viu a Taça das Bolinhas nas mãos dos rivais. Mas somente uma semana depois estava lá, faceira, orgulhosa e sorridente, derretendo-se de amores pelo mesmo Teixeira que, maquiavelicamente, e somente por isso, declarou o Flamengo campeão de 87. [...] Pior fez Mauricio Assumpção, que um dia foi ao Clube dos 13, aprovou as regras da negociação dos direitos e, no dia seguinte, não apareceu mais por lá. [...] Ah, e tem Andrés Sanchez! Alguém tem dúvidas de a quem ele está servindo? Amigo da CBF, sabotou a negociação profissional dos direitos. [...] Pobre futebol brasileiro. Essa gente se merece. (LANCE!, 2011, p. 02)

Mesmo nas matérias em tom informativo, o jornal Lance! mostrou-se mais alinhado a continuidade do Clube dos 13 e o processo de licitação como era previsto, publicando reportagens como “Negociação perigosa108, que alertava para o fato de que os clubes dissidentes poderiam ser processados na justiça comum, caso negociassem individualmente com a Rede Globo. Outra reportagem, intitulada, “Licitação já corre risco109, traz um apêndice explicando que caso a Rede Globo conseguisse renovar os direitos de transmissão de imagem, ela começaria a moldar o calendário brasileiro conforme sua vontade, retornando para o sistema de competição conhecido como mata-mata, abolindo o atual sistema de pontos corridos. “A lógica dos pontos corridos é que os clubes se mantenham em atividade em todas as rodadas. Mas, para os interesses da Globo, é melhor um grande jogo do que dez medianos.” (LANCE!, 2011, p. 25). Outra reportagem, com o título de “Rebeldes têm dívida no Clube dos 13110” fazia um levantamento de que os clubes dissidentes da entidade possuíam dívidas com a mesma, e que a ruptura com o Clube dos 13 só era possível por meio de empréstimos feitos com a Rede Globo. “Esses clubes só verão dinheiro novo em outubro. Mas, é claro, a Globo pode fazer um novo adiantamento.” (LANCE!, 2011, p. 25)

A Revista Placar, da Editora Abril, durante todo o processo de renovação dos direitos de transmissão de imagem, apenas uma vez falou diretamente sobre o tema, em reportagem publicada na edição número 1353, em abril de 2011. Na reportagem, feita sem assinatura de nenhum repórter ou colunista, a revista apenas traçou quais foram as ações adotadas pelos personagens ao longo do processo, já que a edição foi às bancas quando o Clube dos 13 já não existia mais.

Considerando o grupo 4, é possível perceber que, com exceção da Revista Placar, que não emitiu opinião nem fez cobertura extensiva, os demais veículos jornalísticos se posicionaram contra a Rede Globo e CBF. A ESPN Brasil optou por não se declarar institucionalmente contra a TV Globo e a maneira como conduziu as negociações, mas deram espaço para que seus comentaristas o fizessem. Também exibiu reportagens que, ao serem analisadas, era possível perceber que se posicionavam ao lado do Clube dos 13 e contrários à CBF. A Record, em comunicado oficial, criticou a postura da Rede Globo. No entanto, em programas jornalísticos, a emissora optou por atacar Ricardo Teixeira, ao invés da emissora carioca.

O jornal Lance! foi, entre todos, o veículo que mais se mostrou insatisfeito com os rumos do processo de renovação dos direitos de transmissão de imagem. Além das reportagens produzidas sobre o tema, também emitiu um editorial, de conteúdo opinativo e palavras fortes, mostrando a indignação do veículo com a postura da Rede Globo, CBF, clubes e o próprio Clube dos 13.

5.6. Considerações sobre o estudo de caso

Os quatro grupos juntos demonstram em sua trajetória a falência do Clube dos 13, a renovação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de futebol e o monopólio que a Rede Globo exerce sobre o esporte, por meio do dinheiro que faz circular entre os clubes. Estes, por sua vez, são dependentes das verbas provenientes da televisão e, para aumentar suas cotas, foram capazes de acabar com a própria liga, única entidade representativa dos clubes no Brasil, já que a CBF é responsável por representar as Federações estaduais e a seleção brasileira. A ruptura dos clubes com o Clube dos 13, conforme demonstrado no grupo de elementos 1, teve motivos de ordem política e econômica. O Clube dos 13 decretou seu fim quando declarou guerra a CBF e Rede Globo.

O grupo de elementos 3 demonstra que os clubes que votaram em Fábio Koff, ou mudaram de lado posteriormente, ou foram penalizados ao final, recebendo cotas inferiores ao que poderiam obter. Os presidentes de Corinthians e São Paulo, respectivamente Andrés Sanchez e Juvenal Juvêncio, confundiram seus papéis de administradores de clubes de futebol e utilizaram suas posições em clubes de relevância no cenário nacional para articularem ataques contra os lados que lhe eram convenientes, conforme demonstraram os grupos de elementos 1 e 2. Andrés Sanchez, que perdeu em um primeiro momento, na eleição do Clube dos 13, obteve a vitória em seguida, ao conseguir um contrato com a TV Globo, aumentando o volume dinheiro recebido. O grupo de elementos 3 também mostrou que cada clube pensou exclusivamente em benefício próprio, sendo que o Flamengo optou por ser a equipe mais bem remunerada no país pela televisão.

De acordo com os dados obtidos no grupo de elementos 2, pode-se perceber que a Rede Globo utilizou-se de prática contrária a livre concorrência para renovar os contratos de transmissão com os clubes, quando optou por abandonar o processo de licitação. Porém, também não se nega que graças a essa prática, as quantias arrecadadas pelas agremiações aumentaram, gerando receitas que permitiram mais investimentos no futebol brasileiro. Mas, mesmo com o aparente benefício em relação aos clubes, a atitude da TV Globo de implodir o Clube dos 13 demonstra como a emissora tem controle sobre o esporte.

Por fim, o grupo de elementos 4 demonstra como a mídia esportiva mostrou-se parcial ao longo do processo. Alguns, porém, de maneira moderada. Posicionaram-se contra Globo e CBF, mas somente quando perceberam que estavam fora da disputa pelos direitos de transmissão. Com a exceção do jornal Lance!, que declarou sua posição editorial e institucional, os demais veículos esconderam-se atrás de reportagens que traziam a mensagem desejada, mas vestidas de jornalismo imparcial.

6. Considerações finais

O futebol é o esporte de maior apelo no Brasil. Desde que começou a ser praticado no país, foi conquistando cada vez mais adeptos e simpatizantes. Torcer por uma equipe, ter um clube de preferência tornou-se parte quase obrigatória da vida moderna brasileira, uma maneira de pertencer a um grupo social e de fazer parte de algo maior, que une ou separa as pessoas. Tanta importância trouxe o dinheiro e a lógica capitalista para o esporte, tornando o mesmo em um negócio, em uma indústria. Quando algo cresce dessa maneira, atrai os setores mais poderosos da sociedade. Por isso, desde a ascensão de Getúlio Vargas, o poder governamental passou a construir laços com o futebol, que se tornaram continuadamente mais fortes. Na história brasileira contemporânea, o período militar (1964 a 1985), em especial, utilizou o esporte de maneira mais visível. Interferiu descaradamente nas competições nacionais e na seleção brasileira, a fim de propagar os ideais do regime, assim como aproveitar o sucesso de uma época de ouro do futebol brasileiro.

O mesmo período militar também soube utilizar de maneira muito inteligente a televisão. Em uma época sem internet, redes sociais e uma população ainda composta por bastantes analfabetos, a televisão surge como o principal meio de propagação de informações. Era mais atraente que o rádio, por transmitir som e imagem concomitantemente. Também não exigia um grau exagerado de formação intelectual, como os jornais. Roberto Marinho, dono da Rede Globo de televisão, parte de um conglomerado muito maior, as Organizações Globo, soube aproveitar o momento de se lançar um novo canal de TV. Construiu sua força econômica por meio de um acordo com o grupo norte-americano, Time-Life, e construiu sua força política por meio do apoio ao regime militar. Após se estabilizar no mercado e alcançar o topo no panorama televisivo brasileiro, a Rede Globo voltou seus olhos para um dos produtos mais rentáveis, porém ainda pouco explorado no país, o futebol. Quando, em 1987, apareceu a oportunidade de adquirir os direitos de transmissão do esporte nacional de maior repercussão, a TV Globo não titubeou e comprou o campeonato, iniciando a trajetória de controle do esporte. O longo período comandando o futebol resultou no racha das instituições que o comandam, que teve seu auge entre 2010 e 2011, no caso estudado no terceiro capítulo desta monografia.

Parceiras comerciais de longa data, TV Globo e Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2010, percebem que o Clube dos 13 possui um artefato muito poderoso em mãos, os contratos de transmissão de imagem do campeonato brasileiro de futebol. Desde 2007, a concorrência, principalmente a TV Record, sinalizava com ofertas volumosas para obter os direitos de transmissão. Rede Globo e CBF, então, resolvem colocar alguém de confiança na chefia do Clube dos 13. Quando não atingem tal objetivo, Fabio Koff, presidente do Clube dos 13 resolve retaliar, justamente retirando da Rede Globo o direitos de transmissão. Neste ponto, começa o maior trabalho de bastidores realizado nos últimos anos. A Rede Globo desrespeita o processo de licitação, prática esta garantida pela lei federal n° 8.666 de 1993 como a melhor maneira de lidar nas relações de interesse público, e começa a negociar particularmente com cada clube, oferecendo mais dinheiro do que ganhavam antes, porém não dando a oportunidade de negociarem em conjunto, o que garantiria melhor divisão de cotas entre as equipes.

A atitude da Rede Globo não apenas separou os clubes e consequentemente destruiu o Clube dos 13, mas também criou um abismo entre o faturamento das equipes. Clubes como Flamengo e Corinthians chegam a ganhar quase três vezes mais do que agremiações como Botafogo, por exemplo. O futebol brasileiro sempre foi um caso único no mundo, pois possuí 12 clubes considerados grandes, que se alternam na disputa de títulos. Depois de firmados esses contratos com a Globo, a tendência é de que o Brasil siga as ligas europeias e que poucas equipes se mantenham no topo. A concorrência também não seguiu os caminhos mais corretos. A Record, depois de um tempo, tomou o mesmo rumo que a TV Globo. A RedeTV fez uma proposta que dificilmente teria condições bancárias de manter.

A mídia esportiva também mostrou sua parcialidade no episódio. A Record manteve-se calada enquanto acreditava ter chances de ganhar os direitos de transmissão. Após perceber que a Rede Globo já tinha conseguido atingir tal objetivo, passou a atacar, em reportagens, a CBF e seu presidente, Ricardo Teixeira. ESPN Brasil e Jornal Lance!, enquanto estiveram disputando os direitos do campeonato brasileiro em plataformas menores, também se mostraram amenos nas críticas. Após perderem, atacaram todos os envolvidos: clubes, CBF, Rede Globo e Clube dos 13. A emissora do grupo Disney apesar de não se manifestar publicamente, deu liberdade total para seus comentaristas criticassem os personagens, além de, assim como a Record, começar a destrinchar as relações controversas de Teixeira e CBF. O Jornal Lance!, foi o único a se posicionar claramente contra toda a situação, a nomear os envolvidos e criticar publicamente, assumindo sua postura editorial.

O objetivo principal desta pesquisa era entender quais foram os caminhos que levaram a Rede Globo de Televisão a obter o monopólio sobre os direitos de transmissão de imagem do Campeonato Brasileiro de futebol. Ao realizar a revisão bibliográfica e histórica produzidas nos capítulos I e II, percebe-se que a aproximação da Rede Globo e do futebol com as esferas de poder governamental fortaleceram ambos, propiciando uma aproximação entre o maior esporte brasileiro e a maior emissora de televisão do país. Esses foram os caminhos da construção do monopólio Global. O terceiro capítulo ilustrou como essa relação, atualmente, está fortalecida e dificilmente será quebrada.

Por fim, é importante ressaltar que o episódio estudado nessa pesquisa ainda promove reflexos no futebol brasileiro. Ao final de 2015, os direitos de transmissão serão novamente renovados. A Rede Globo já começou a negociar individualmente com cada equipe, para a renovação. TV Record e Esporte Interativo, canal que recentemente foi comprado por um grupo norte-americano de mídia, o Grupo Turner, aparecem como os concorrentes do momento. O cenário atual do futebol é de renovação com a Rede Globo, o que tende a aumentar ainda mais o abismo orçamentário das equipes de maior torcida, Flamengo e Corinthians, fato que, na opinião do autor dessa monografia, seria a falência do futebol brasileiro.

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Anexo: Memorial

Quando me formei no ensino médio, em 2009, estava tão preocupado em ingressar em alguma universidade pública estadual que nem preocupei em escolher um curso que gostasse. O resultado foi que passei nas principais do estado: USP, Unesp e Ufscar. Porém, em cada uma dessas, me inscrevi para uma graduação diferente e nenhuma me serviu. Seis meses após entrar na Unesp, eu larguei a graduação e fiquei um tempo fora da vida acadêmica. Quando me decidi por jornalismo e resolvi retornar à faculdade, tive que escolher entre a PUC-Campinas e novamente a Unesp, as duas que passei. Contrariando as pessoas ao meu redor, escolhi a Pontifícia Católica. Depois de um ano, percebi que não gostava de jornalismo. Mas não podia desistir de outra graduação, seria um desgosto sem fim para meus pais, então continuei mesmo sem gostar. Foi a melhor decisão que tomei.

Não mudei de opinião em relação à profissão de jornalista. Ainda não a quero. Mas ao permanecer na graduação, pude crescer como homem e cidadão. Conheci pessoas excelentes e passei por dificuldades que moldaram minha maneira de enxergar a realidade. Criei uma visão crítica do mundo ao meu redor e expandi minha mente para horizontes interessantes. Um desses horizontes foi a pesquisa acadêmica. Sempre tive para mim que faria mestrado e doutorado, para trilhar os passos de minha mãe, ainda que em outra área. Esforcei-me para ao longo da graduação me envolver com esse universo. Participei de um grupo de estudos de iniciação científica em filosofia, como voluntário, para aprender os macetes básicos. Fui um dos poucos alunos que deu a devida importância às disciplinas de pesquisa aplicada em jornalismo, produzi e publiquei dois artigos científicos, sob orientação dos professores Fabiano Ormaneze e Marcia Rosa e, finalmente, cheguei a tão sonhada monografia, único trabalho de toda a graduação que realmente quis fazer, do princípio ao fim.

Durante todo o ano de 2015, elaborei dois projetos de pesquisas similares. Um para a disciplina de projeto experimental na PUC e outro para o projeto de mestrado enviado para o Labjor-Unicamp. Parei de trabalhar para me dedicar a pesquisa acadêmica e me apaixonei ainda mais por essa área, mesmo que seja uma área escorregadia, cheia de percalços. Esse projeto experimental tem participação fundamental em minha formação, por ser o primeiro trabalho desenvolvido por mim, desde sua elaboração, ainda em 2014, até sua conclusão final, que resultou nesta monografia apresentada. É quase como se fosse um filho, uma criação, que obviamente contou com a ajuda e participação da minha orientadora, bem como de outros amigos ao longo do processo. Mas para sempre ficará marcado como uma obra de Danilo F. Christofoletti.

1 Estudo realizado e publicado pela fundação Getúlio Vargas (FGV). Disponível em http://sportv.globo.com/site/programas/sportv-news/noticia/2012/03/estudo-futebol-pode-movimentar-ate-r-62-bi-com-mudancas-no-calendario.

2 É o termo popular que designa os testes realizados por crianças e adolescentes que buscam vagas nos clubes brasileiros.

3 PLACAR. São Paulo: Editora Abril, n° 1358, setembro, 2011.

4 Período existente entre 1937 e 1945, quando Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e instalou uma ditadura, caracterizada pela centralização do poder, nacionalismo, desenvolvimento industrial, econômico e jurídico.

5 Assis Chateaubriand foi um magnata das comunicações no Brasil entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1960, dono dos Diários Associados, maior conglomerado de mídia da América Latina, que em seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica. Também foi o responsável por trazer a primeira televisão para o país, a TV Tupi. Teve importante participação política na vida política brasileira, nas palavras de Morais (1994) “Um observador que pudesse prever o futuro diria que Chateaubriand ainda seria obrigado a conviver com os charutos de Vargas não por seis meses, mas até a morte do homem que acabara de conhecer”

6 Aliança Renovadora Nacional. Partido político que dava sustentação política ao regime militar

7 Almanaque do Brasileirão, 2015, Editora Alto Astral

8 Fernando Collor de Mello foi Presidente da república entre 1990 e 1992, ano em que sofreu impeachment e se retirou da presidência, sendo substituído por Itamar Franco. O governo de Collor de Mello foi marcado por escândalos pessoais e pelo Plano Collor, o qual foi uma tentativa de controlar a inflação brasileira, mas que não funcionou.

9 Fernando Henrique Cardoso foi Presidente do Brasil entre 1994 e 2002. Ficou conhecido pelo Plano Real, que controlou a inflação no país e pelas privatizações ocorridas ao longo de seu mandato.

10 Luis Inácio Lula da Silva foi Presidente entre 2003 e 2010. Seu governo ficou marcado pelas iniciativas sociais, como Bolsa Família e pelo escândalo do mensalão.

11 MARTOLIO, Edgardo. Glória Roubada: o outro lado das copas. São Paulo: Figurati, 2014

12 As zonas não foram decididas de acordo com o critério geográfico, mas simplesmente separadas em três: Times do norte, do centro e do sul do país e cada clube foi colocado em uma zona de acordo com sua história no cenário esportivo brasileiro. A zona sul, formada por clubes de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, representavam a elite política e esportiva do país até então.

13 Período histórico quando os Estados de Minas Gerais e São Paulo, principais produtores de leite e café, respectivamente, revezavam-se na presidência do país.

14 Jean-Marie Havelange, ou João Havelange, filho de pai suíço, disputou como nadador duas Olimpíadas e foi o mais importante dirigente esportivo brasileiro, tendo dirigido a CBD entre 1956 e 1974 e da FIFA entre 1974 e 1998.

15 Artur da Costa e Silva foi o segundo general a presidir o Brasil, durante o período de ditadura militar. Sofreu um derrame em 1969, o que abreviou seu mandato.

16 Humberto de Alencar Castello Branco foi o primeiro presidente militar no período da ditadura. Governou de 1964 até 1967.

17 João Saldanha foi jornalista e treinador de futebol. Dirigiu o Botafogo-RJ em 1957 e a seleção brasileira em 1969. Militou no Partido Comunista e morreu em 1990.

18 Dario José dos Santos foi jogador de futebol. Ficou conhecido como Dadá Maravilha e é o quinto maior goleador brasileiro na história, com 926 gols.

19 Carlos Alberto Torres é ex-jogador e técnico. Atuando como lateral direito, foi o capitão do tricampeonato na Copa do Mundo do México, em 1970.

20 O nome verdadeiro é Loteca. É uma modalidade de loteria mantida pela Caixa Econômica Federal, cujo objetivo é acertar os resultados das partidas de futebol.

21 Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. 

22 Presidente da Confederação Brasileira de Futebol entre 1989 e 2012. Em seu período no comando da entidade, conquistou duas Copas do Mundo (1994 e 2002) e foi investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito entre 2000 e 2001.

23 Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é uma investigação conduzida pelo Poder Legislativo, que transforma a própria casa parlamentar em comissão para ouvir depoimentos e tomar informações diretamente. O pedido de instauração de uma CPI no Congresso pode ser feito por um terço dos Senadores ou um terço dos Deputados Federais

24 José Maria Marin é advogado, político e dirigente esportivo brasileiro. Era membro da Arena, partido político que dava sustentação à ditadura militar brasileira. Seu discurso contra Vladimir Herzog é considerado um dos motivos da prisão e morte do jornalista. Foi Presidente da CBF entre 2012 e 2015.

25 Vladimir ou Vlado Herzog foi um jornalista brasileiro. Era diretor da TV Cultura quando foi preso e assassinado por militares. Sua morte é tida como um dos alicerces na luta pela redemocratização.

26 É uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, servindo tanto como uma polícia de investigação, quanto serviço de inteligência interno (contra inteligência). O FBI tem jurisdição investigativa sobre as violações de mais de duzentas categorias de crimes federais

27 Em fevereiro desse ano, a Premier League, liga inglesa de futebol composta por clubes da primeira divisão britânica, anunciou o novo contrato de direitos de transmissão de imagem do campeonato nacional, em concorrência vencida pelas empresas Sky e BT, no valor de 5,1 bilhões de libras por três anos. Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/483236_premier-league-negocia-direitos-de-transmissao-por-r-22-bilhoes

28 BRAUNE, Bia. RIXA. Almanaque da TV. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

29 Marechal Eurico Gaspar Dutra, foi Ministro da Guerra e Presidente do Brasil. Governou entre 1946 e 1951

30 Juscelino Kubitschek de Oliveira era médico e foi Presidente da República entre 1956 e 1961. Foi o responsável por construir a capital do país, Brasília.

31 MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

32 Empresa norte-americana, uma das maiores em venda de áudio e vídeo no mundo.

33 Roberto Pisani Marinho nasceu em 1904 e faleceu em 2003. Foi jornalista e empresário, dono do Grupo Globo de 1925 à 2003. Foi um dos homens mais poderosos e influentes do país no século XX. Construiu um dos maiores impérios de comunicação e foi um dos homens mais ricos do mundo. Herdou o jornal O Globo, fundado pelo pai Irineu Marinho, em 1925 e começou a formar o conglomerado de veículos de comunicação, mais tarde chamado de Organizações Globo, hoje Grupo Globo, com a inauguração da Rádio Globo em 1944. Conservador na política e liberal na economia, Marinho fez seus veículos de comunicação tomarem posição política alinhada ao seu pensamento. Participou dos governos de Getúlio Vargas e dos militares e embora tenha ignorado inicialmente o movimento popular de Diretas-Já, apoiou Tancredo Neves e José Sarney na Nova República e na eleição presidencial de 1989, Marinho apoiou Fernando Collor de Mello.

34 Constituição de 1946.

35 Videoteipe consiste numa fita de material plástico que tem uma cobertura de partículas magnéticas, usada para o registro de imagens televisivas. Seu uso permitiu a gravação prévia de programas destinados a transmissões posteriores. Designa também o processo de registro das produções de televisão em fitas magnéticas.

36 Início do editorial: “Diante de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe militar de 1964. A lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal do Brasil” e o “Correio da Manhã”, para citar apenas alguns. Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais. Naqueles instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de sindicatos — Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” — e de alguns segmentos das Forças Armadas. Na noite de 31 de março de 1964, por sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros navais comandados pelo Almirante Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril. Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo editorial: “Ressurge a Democracia”. A divisão ideológica do mundo na Guerra Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e capitalistas, se reproduzia, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil, ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart, iniciada tão logo conseguiu, em janeiro de 1963, por meio de plebiscito, revogar o parlamentarismo, a saída negociada para que ele, vice, pudesse assumir na renúncia do presidente Jânio Quadros. Obteve, então, os poderes plenos do presidencialismo. Transferir parcela substancial do poder do Executivo ao Congresso havia sido condição exigida pelos militares para a posse de Jango, um dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele tempo, votava-se no vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma combinação ideológica contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente da UDN e o vice do PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise institucional. A situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos sargentos, liderado por marinheiros — Cabo Ancelmo à frente —, a hierarquia militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu. Naquele contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no Brasil uma democracia. Os militares prometiam uma intervenção passageira, cirúrgica. Na justificativa das Forças Armadas para a sua intervenção, ultrapassado o perigo de um golpe à esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto que, como prometido, foram mantidas, num primeiro momento, as eleições presidenciais de 1966. O desenrolar da “revolução” é conhecido. Não houve as eleições. Os militares ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes de receber a faixa”. Editorial na íntegra está disponível em: http://oglobo.globo.com/brasil/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604.

37 Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizaria com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira.

38 Abreviação de Rede Globo de Televisão, adotada pelo autor.

39 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ObW0kYAXh-8

40 MEMÓRIA GLOBO, p. 211, 2005.

41 MEMÓRIA GLOBO, p. 211-212, 2005.

42 Disponível em: http://www.viomundo.com.br/denuncias/globo-consegue-o-que-a-ditadura-nao-conseguiu-extincao-da-imprensa-alternativa.html.

43 Disponível em: http://www.viomundo.com.br/denuncias/globo-consegue-o-que-a-ditadura-nao-conseguiu-extincao-da-imprensa-alternativa.html

44 Disponível em: http://www.conjur.com.br/2013-mar-28/justica-rio-condena-luiz-carlos-azenha-indenizar-ali-kamel-30-mil.

45 UNZELTE, Celso - O Livro de Ouro do Futebol; Editora Ediouro, 2002

46 MEMÓRIA GLOBO, p. 56, 2005.

47Disponível em: http://esporte.ig.com.br/futebol/2015-09-11/jogos-as-22h-tem-o-menor-indice-de-aprovacao-de-torcedores-diz-pesquisa-da-cbf.html

48 Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/502720_cbf-vai-conversar-com-globo-para-acabar-com-jogos-das-22-horas-de-quarta-feira

49 Em português significa “direito de nome”. São os direitos de propriedade do nome de um local, no caso do futebol, dos estádios, clubes e torneios. Empresas pagam milhões para estampar sua marca nos estádios de futebol mundo afora.

50 Copa João Havelange foi o Campeonato Brasileiro de 2000. Foi o segundo torneio nacional organizado pelo Clube dos 13, pois a CBF estava impedida legalmente de atuar, em razão de um litígio na justiça com o Gama-DF. A final do campeonato foi disputada entre Vasco e São Caetano e, durante o jogo, o alambrado da arquibancada do estádio de São Januário despencou, deixando muitos feridos e fazendo com que o então Governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, decretasse o fim do jogo.

51 Disponível em: http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-2014/record-ataca-globo-acusa-fifa-de-mentir-e-promete-acao-judicial,8d6b1d81c499a310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html.

52 Jornalista e apresentadora da Rede Globo. Foi apresentadora e editora do Jornal Nacional entre 1998 e 2011, ao lado do também jornalista e marido, William Bonner

53 Sistema de disputa baseado nos playoffs norte-americanos. Consiste em uma fase de classificação, seguida por uma disputa de dois jogos, ida e volta, quando apenas um clube se sai vencedor e avança a próxima fase, enquanto o perdedor é desclassificado. Foi o sistema adotado pelo Brasil até 2002

54 É uma fórmula de disputa baseada nos principais campeonatos europeus. Todos os clubes se enfrentam e dois turnos, ida e volta, e quem fizer mais pontos ao final da competição é declarada campeão. No Brasil, esse sistema é adotado desde 2003.

55 LANCE!. Guerra é declarada. São Paulo: 18 de out. de 2009, p. 24.

56 PIRES, Breiller. Milagre Brasileiro. PLACAR. São Paulo: Editora Abril, n° 1358, p. 43, set. 2011

57 SIQUEIRA, Igor. O dinheiro da televisão. LANCE!. São Paulo:16 de set. 2015, p. 25

58 SIQUEIRA, Igor. O dinheiro da televisão. LANCE!. São Paulo:16 de set. 2015, p. 25

59 O regulamento previa dois módulos. No Módulo Verde ficaram os membros do Clube dos 13, mais Coritiba, Santa Cruz e Goiás, totalizando 16 clubes. No Módulo Amarelo, também ficaram 16 clubes. A CBF determinou que os dois primeiros de cada Módulo fizessem o quadrangular final para determinar o campeão brasileiro de 1987. Campeões e vices de cada módulo formaram o quadrangular final. Apesar do Clube dos 13 ter concordado antes com o quadrangular entre campeões e vices dos dois Módulos, com seu representante Eurico Miranda assinando na CBF um documento em nome do Clube dos 13 comprometendo-se ao quadrangular, ocorreu que Flamengo e Internacional, os primeiros colocados do Módulo Verde, abdicaram de participar do quadrangular final, não se apresentaram nas datas definidas e foram eliminados por WO perante Sport e Guarani, os primeiros colocados do Módulo Amarelo, que fizeram seus jogos, com o Sport consagrando-se campeão brasileiro de 1987. Contudo, o Flamengo se declarou campeão brasileiro de 1987 por ter vencido o Módulo Verde.

60 Disponível em: http://trivela.uol.com.br/como-e-distribuido-o-dinheiro-da-tv-em-outros-campeonatos-mundo/.

61 Disponível em: http://trivela.uol.com.br/como-e-distribuido-o-dinheiro-da-tv-em-outros-campeonatos-mundo/.

62 Disponível em: http://trivela.uol.com.br/como-e-distribuido-o-dinheiro-da-tv-em-outros-campeonatos-mundo/.

63 LANCE!. Rachas renderam fortunas. São Paulo: 24 de fev. de 2011, p. 27

64 LANCE!. Rachas renderam fortunas. São Paulo: 24 de fev. de 2011, p. 27

65 LANCE!. Rachas renderam fortunas. São Paulo: 24 de fev. de 2011, p. 27

66 PLACAR. São Paulo: Editora Abril, n° 1364, março, 2012.

67 LANCE!. O dinheiro da televisão. São Paulo: 15 de set. de 2015, p. 25

68 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. É o índice oficial do Governo Federal para medição das metas inflacionarias contratadas com o FMI. Foi instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das companhias abertas.

69 Expressão em inglês, que significa “pagar para ver”. É o nome dado a um sistema no qual os que assistem televisão podem adquirir uma programação específica, a qual desejem assistir, comprando por exemplo, o direito a assistir a determinados eventos, filmes ou outros programas.

70 PERRONE, Ricardo. TV paga mais para Palmeiras, 16° colocado, do que para São Paulo, vice. UOL Dezembro/2014. Disponível em: http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/2014/12/classificacao-contradiz-risco-de-espanholizacao-do-brasileiro/.

71 LANCE!. O dinheiro da televisão. São Paulo: 15 de set. de 2015, p. 25

72 PLACAR. São Paulo: Editora Abril, n° 1364, março, 2012.

73 PERRONE, Ricardo. Os poderosos chefões. PLACAR: São Paulo, n° 1345, p. 52. Agosto/2010

74 O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é uma autarquia federal brasileira, vinculada ao Ministério da Justiça, que tem como objetivo orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico. O Cade tem o papel de julgar sobre matéria concorrencial os processos encaminhados pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça e a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. Desempenha os papéis preventivo, repressivo e educativo, dentro do mercado brasileiro. Foi criado pela lei nº 4.137, de 10 de setembro de 1962, no governo do presidente João Goulart. De sua criação até o ano de 1991, permaneceu praticamente inativo, sendo um instrumento do Estado em ações de combate ao crime contra a economia popular e contra o desabastecimento de determinados produtos essenciais, além de atuar contra agentes econômicos que atentaram contra o Congelamento de Preços nos Plano Cruzado e Plano Verão. A lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, revogou a lei nº 4.137 e transformou o CADE em uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça. Em 2011, a lei nº 12.529 alterou as atribuições do CADE e instaurou a obrigatoriedade de análise prévia em atos de concentração.

75 O Ministério Público Federal (MPF) do Brasil faz parte do Ministério Público da União (MPU), que também é composto pelo Ministério Público do Trabalho, pelo Ministério Público Militar e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Juntos, o MPU e os Ministérios Públicos Estaduais formam o Ministério Público do Brasil. O Chefe da instituição é o Procurador-Geral da República, cargo atualmente ocupado por Rodrigo Janot de Barros. As atribuições e os instrumentos de atuação do Ministério Público estão previstos no artigo 129 da Constituição Federal. O Ministério Público possui autonomia na estrutura do Estado, não pertencendo a qualquer dos três Poderes. Tem a garantia constitucional de não ser extinto nem ter suas atribuições repassadas a outras instituições. Esta autonomia inclui orçamento próprio, gestão própria e autonomia funcional. Os procuradores e promotores têm a independência funcional assegurada pela Constituição. Assim, estão subordinados a um chefe apenas em termos administrativos, mas cada membro é livre para atuar segundo sua consciência e suas convicções, baseado na lei. Os procuradores e promotores podem tanto defender os cidadãos contra eventuais abusos e omissões do Poder Público quanto defender o patrimônio público contra ataques de particulares de má-fé. Cabe ao Ministério Público Federal defender os direitos sociais e individuais indisponíveis (direito à vida, dignidade, liberdade, etc.) dos cidadãos perante o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os tribunais regionais federais, os juízes federais e juízes eleitorais.

76 Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/178538_apos-reuniao-com-o-cade-clube-dos-13-anuncia-fim-da-vantagem-de-10-da-globo-por-direitos-de-tv.

77 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011, p. 25.

78 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/com-racha-no-clube-dos-13-record-desiste-de-proposta-de-transmissao-do-brasileiro-dymg1u72atm314t3apuoxj8lq.

79 Disponível em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2011/03/11/redetv-faz-proposta-de-r-15-bilhao-e-sai-vencedora-da-licitacao-do-c13.jhtm.

80 Fala de Andrés Sanchez: “Sou amigo do Ricardo Teixeira mesmo, sou amigo da Globo mesmo” (AZENHA et al, 2014, p. 308)

81 Estádio Cícero Pompeu de Toledo, do São Paulo Futebol Clube

82 LANCE!. Rachas renderam fortunas. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

83 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL1570550-9825,00-PATRICIA+AMORIM+SOBRE+A+TACA+DAS+BOLINHAS+A+BRIGA+APENAS+COMECOU.html.

84 Imbróglio entre Sport-PE e Flamengo, pelo título da Copa União de 1987, já explicado no capítulo 2.3 dessa monografia. A questão chegou ao Supremo Tribunal Federal em março de 2015 e será decidida em última instância. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-mar-13/campeonato-brasileiro-1987-decidido-supremo.

85 A Copa Brasil, popularmente conhecida como Taça de Bolinhas, é um troféu criado em 1975 para premiar o primeiro clube do Brasil a vencer o Campeonato Brasileiro de Futebol três vezes seguidas ou cinco vezes alternadamente a partir de 1976. Foi criada pela CBF e após muita polêmica, a decisão de a taça ser dada ao São Paulo Futebol Clube foi tomada em 14 de abril de 2010. Com essa decisão, a CBF confirma o entendimento do Tribunal Regional Federal em considerar o Sport Club do Recife o campeão brasileiro de 1987. A Taça de Bolinhas foi entregue ao São Paulo Futebol Clube no dia 14 de fevereiro de 2011 pela Caixa Econômica Federal, mesmo tendo o Flamengo conseguido uma liminar para impedir a entrega. No dia 21 de fevereiro de 2011 a CBF reconheceu o Flamengo como campeão em 1987. Para a referida entidade esportiva, houve dois campeonatos brasileiros naquele ano, um conquistado pelo Flamengo, outro pelo Sport. Internacional e Guarani são os vices. O Flamengo ingressou com um pedido de busca e apreensão na 50.° Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, visando a recuperação da Copa Brasil. O juiz Gustavo Quintanilha Telles de Menezes determinou como medida cautelar a devolução da taça à Caixa Econômica Federal até que haja uma decisão final. No dia 22 de fevereiro de 2011, O juiz Gustavo Quintanilha Telles de Menezes, da 50ª Vara Cível do Rio de Janeiro, determinou que o São Paulo tinha 24 horas para devolver o troféu à Caixa Econômica Federal. A taça deve ficar em posse da CEF até que a situação seja resolvida. Apesar de uma decisão da Justiça ter determinado que o São Paulo deveria devolver a taça à Caixa Econômica Federal, o clube só foi fazê-lo em 4 de maio de 2012, após determinação de que força policial fosse usada se necessário.

86 Disponível em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2011/03/11/sem-c-13-botafogo-afirma-que-arrecadara-o-dobro-em-direitos-de-transmissao.jhtm.

87 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

88 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

89 Segue o texto na íntegra, veiculado pela Record em nota à imprensa: “A Rede Record vem a público informar que apoiava o modelo de negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro no triênio 2012/2014 proposto pelo Clube dos 13 em acordo com o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Mas, infelizmente, a concorrência dividiu o C13. A entidade ficou fracionada em clubes que defendiam o processo iniciado com a carta convite, agremiações que pretendiam negociar os direitos em separado e aqueles que vieram a público pedir a total desvinculação do processo e do agrupamento. Alguns clubes, antes de ouvir qualquer proposta por parte da Record, já indicam que têm acordos pré-acertados com outra emissora. Os responsáveis por estes acordos que prejudicam os torcedores, clubes e patrocinadores devem vir a público para revelar como foram as negociações e qual o valor acertado previamente, sem concorrência, sem transparência e baseados nos mesmos princípios que ajudaram a reduzir o poder dos clubes, prejudicaram o faturamento das agremiações, limitaram a exposição de patrocinadores e impuseram horários estranhos para a prática do futebol, além de transformar o mais popular esporte do País num mero exportador de talentos. Diante desta atitude a Record informa que não aceita participar de um jogo com cartas marcadas. O quadro, neste momento, gerou incerteza jurídica. Diante disso, não há convicção de que a proposta vencedora tenha os direitos de transmissão dos jogos de todos os clubes. Há ainda a possibilidade de que uma agremiação possa abandonar o C13 enquanto o contrato ainda estiver em vigor. Assim, a Record decidiu não apresentar proposta ao Clube dos 13. A emissora volta a manifestar seu desejo de participar da concorrência democrática, caso os clubes entrem em acordo, garantindo estabilidade jurídica a quem apresentar a melhor proposta. E, se os clubes desejarem seguir numa negociação em separado, a Record reafirma que pretende apresentar propostas com padrões de transparência e regras claras. Mais uma vez, esta é a forma que a Record encontra para contribuir com a evolução e o desenvolvimento do futebol brasileiro, proporcionando uma transmissão de primeira do esporte preferido da nação”. Disponível em: http://esportes.r7.com/futebol/noticias/rede-record-desiste-da-concorrencia-do-clube-dos-13-para-exibir-brasileirao-de-2012-a-2014-20110311.html.

90 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

91 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

92 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

93 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

94 LANCE! Negociação perigosa: Dissidentes estão livres do Termo de Conduta do Clube dos 13, mas podem ser processados. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

95 Disponível em: http://www.lancenet.com.br/atletico-mineiro/Alexandre-Kalil-solta-verbo-Globo_0_467353406.html.

96 ESPN Brasil é uma rede de televisão por assinatura brasileira esportiva. É a franquia local da ESPN sendo a única filial controlada diretamente pelo The Walt Disney Company através da American Broadcasting Company, mesmo com a venda de 20% de participação para a Hearst Corporation. Transmite eventos esportivos de várias modalidades, tanto nacionais quanto internacionais.

97 The Walt Disney Company, conhecida popularmente como Disney, é uma empresa multinacional estadunidense de mídia de massa sediada no Walt Disney Studios, em Burbank, Califórnia. É um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do planeta por receita. A Disney foi fundada em 16 de outubro de 1923, por Walt Disney e Roy Oliver Disney com o nome de Disney Brothers Cartoon Studios e estabeleceu-se como pioneira na indústria de animação, até diversificar seus produtos para filmes em live-action, redes de televisão e parques temáticos. A companhia também operou sob o nome Walt Disney Studio e Walt Disney Productions. A empresa leva seu nome atual desde 1986, época em que expandiu suas produções para o teatro, rádio, música, publicidade e mídia online. A Disney tem a propriedade e opera a rede de televisão ABC; redes de televisão por assinatura, como Disney Channel, ESPN e ABC Family; divisões de publicidade, de merchandising e de teatro. O Mickey Mouse é o símbolo principal da The Walt Disney Company.

98 Disponível em: http://teste.m.espn.uol.com.br/noticia/178600_cade-pode-processar-clubes-que-negociarem-cotas-sem-falar-com-o-c13.

99 Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/179306_a-la-globo-record-ja-negocia-individualmente-com-11-clubes-diz-jornal.

100 Colegiados composto pelos membros somados de Câmara dos Deputados e Senado Federal

101 Paulo Vinícius de Mello Coelho nascido em 1969, também conhecido como PVC, é um jornalista esportivo brasileiro. Sua atuação como comentarista de futebol é marcada pelo conhecimento tático exposto na coluna Prancheta do PVC (no jornal e na TV), em que destrincha os esquemas táticos dos times, além de uma memória apurada com a qual faz frequentes citações a times do passado. Trabalhou na Editora Abril como repórter da Placar. Ganhou os prêmios Abril de 1993, 1995 e 1997, pela melhor matéria de esportes da editora. Trabalhou nos jornais Lance!, Folha de S. Paulo e Estadão. Foi comentarista da ESPN Brasil entre 2000 e 2014 e chefe de reportagem entre 2002 e 2009, junto com Mauro Cezar Pereira. Cobriu as Copas do Mundo de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Em 2015, começou a trabalhar pela emissora Fox Sports.

102 Mauro Cezar Pereira nascido em 1963 é um jornalista esportivo. Trabalhou nos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Foi editor da Revista Placar e desde 2004 é comentarista da ESPN Brasil, onde até 2009 acumulou a função de chefe de reportagem. Trabalhou nas Copas do Mundo de 1990, 1994, 2002, 2006, 2010 e 2014.

103 Disponível em: http://espn.uol.com.br/post/177780_o-motim-do-clube-dos-13-acabou.

104 Disponível em: http://espn.uol.com.br/post/177070_fla-foi-campeao-em-1987-no-campo-nao-na-canetada-de-um-cartola.

105 Disponível em: http://espn.uol.com.br/noticia/323393_kalil-andres-tinha-estadio-prometido-para-detonar-o-clube-dos-13.

106 Disponível em: http://www.lancenet.com.br/minuto/Brasileirao_0_433156888.html.

107 Jornalista e editor do jornal Lance!

108 LANCE! Negociação perigosa: Dissidentes estão livres do Termo de Conduta do Clube dos 13, mas podem ser processados. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

109 LANCE!. Licitação já corre risco. São Paulo: 24 de fev. de 2011.

110 LANCE!. Rebeldes têm dívida no Clube dos 13. São Paulo: 24 de fev. de 2011.


Publicado por: Danilo Fontanetti Christofoletti

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