AS ADAPTAÇÕES DO RÁDIO NA ERA MULTIMÍDIA E AS MUDANÇAS NO PERFIL DA AUDIÊNCIA

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1. RESUMO

O rádio tem passado por adaptações, tanto no seu formato de transmissão quanto na sua linguagem. Com isso, as emissoras de rádio têm buscado se adequar, acompanhando a tecnologia e fazendo-o ser não mais apenas sonoro. Em qualquer lugar, o som que, antes, já tinha a mágica de romper fronteiras, agora, está ainda mais forte. O rádio virou imagem, foi para internet, se reinventou. No tocante à audiência, o público também tem mudado suas formas de consumir mídia. O presente artigo analisa, baseado em estudos específicos, as adaptações pelas quais o rádio passou, e tem passado, e as mudanças comportamentais da audiência acerca das preferências na hora de ouvir as programações. A proposta é compreender como as emissoras têm se portado diante das novas tecnologias, quais experimentações têm dado certo, no chamado rádio multimídia, e o perfil do ouvinte moderno, cada vez mais exigente.

PALAVRAS-CHAVE

Rádio; multimídia; Convergência; ouvinte moderno;

ABSTRACT
Radio has undergone adaptations, both in the delivery format and in its language. With that, the emissors of radio have sought to fit in, following the technology and making the sound not just more audible. Somewhere, the sound, before, already had a magic of breaking borders, now, is even stronger. The radio was created, it went to the internet, it came back and how good it was! As for the audience, the public has also changed its ways of consuming media.

This article analyzes, based on specific studies, how the radio adaptations passed, and have passed, and how behavioral changes of the audience over the hours in the programming of listening as schedules. The proposal is constituted as issuers of new gates to new technologies, which are experienced as certain, there is no radio key, and the profile of the modern listener, increasingly demanding.

KEYWORDS
Radio; multimedia; Convergence; modern listener;

2. INTRODUÇÃO

O consumo de mídia tem mudado no universo tecnológico ao qual estamos inseridos. Com isso, especificamente no rádio, tema deste estudo, adaptar as transmissões, levando-as às mais variadas plataformas, a fim de conquistar mais ouvintes, tem sido a principal estratégia das emissoras para não perder audiência.

O presente artigo pretende apresentar uma apreciação acerca das características do rádio moderno. Portanto, propõe-se uma análise acerca das características deste meio, evidenciando o seu processo evolutivo, as adaptações de ordem tecnológica pelas quais vêm passando e as alterações no modo com que os ouvintes têm consumido mídia. Como as emissoras de rádio têm se portado diante das novas tecnologias? Quais os aspectos observados pelos ouvintes na hora de sintonizar uma rádio? As experimentações/adaptações têm dado certo?

Ainda que um pouco resistente às novas tecnologias, o rádio conserva a tradição de ser o tipo mídia mais presente na vida dos indivíduos. Além disso, a ressalva é que toda esta transição pela qual tem passado, tem aumentado o seu poder de penetração. Ferrareto (2000, apud VELHO, 2009), exemplifica esta influência do rádio na sociedade.

Hoje, num país de analfabetos como o nosso, onde quem frequentou as escolas, morre de preguiça de ler, o rádio assume o papel de leitor, de intérprete, confidente para muita gente. Não é à toa que 98% dos brasileiros têm rádio - a TV não chega em todo lugar, mas o rádio chega. Isto é, o rádio foi e é uma máquina popular e democrática para a disseminação de informação e entretenimento. (FERRARETO, 2000, apud VELHO, 2009, p. 1).

Com a chegada de dispositivos como os tablets e smartphones, e dos aparelhos que podem ser instalados nos automóveis, o rádio se tornou uma peça móvel, compacta, permitindo, assim, maior mobilidade. Outro ponto interessante a ser observado, como explica Cunha (2005, p.1), é que “em tempos de tantas tecnologias digitais o rádio manteve sua forma original, analógica”, este, que o consagrou por décadas como principal fonte de informação, entretenimento e por deter uma enorme facilidade de chegar às grandes massas. A ressalva é que, apesar de conservar o modelo tradicional do AM e do FM, o rádio foi absorvendo, ao longo do tempo, as tecnologias que seriam as supostas responsáveis pela sua extinção. Quem frisa este processo de adaptação é Neuberger (2012), numa análise dedicada a como o rádio tem se portado na era da convergência de mídias.

Como se nota, o rádio está sempre buscando novas saídas para as dificuldades que vão surgindo ao longo dos seus quase 90 anos de existência no Brasil. Quando se pensa que não há mais sobrevida para o veículo, ele ressurge das próprias tecnologias que poderiam sufocá-lo enquanto veículo de comunicação. (NEUBERGER, 2012, p. 133).

A televisão, a exemplo, foi uma das invenções que, ao chegar, despertou rumores sobre o fim do rádio. No entanto, hoje, o que ocorre, na verdade, é uma incorporação de um ao outro no chamado rádio televisionado. Emissoras de rádio, com muita frequência, transmitem as imagens de seus estúdios, ao vivo, tanto pelas redes sociais, quanto pelos seus sites na internet, numa espécie de TV, que abraça o velho meio. Uma consideração importante é que algumas emissoras já transmitem toda a programação via live, que, traduzido do inglês, significa “ao vivo”. Isso tem permitido maior engajamento com o ouvinte, apresentando um novo modelo de mídia que rompe as convencionais programações apenas sonoras. O rádio em imagem é tido, aliás, como o rádio do futuro.

Para a elaboração deste artigo foram utilizadas obras de autores especializados no estudo do meio rádio. Tratam-se de estudos específicos, com variados eixos de abordagem, num panorama, guarnecido de uma análise de todo o processo de transformação, pelo qual passa esta mídia, das tendências da atualidade, para a ampliação e aprimoramento das transmissões, e das novas tecnologias que, cada vez mais, têm dado autonomia aos indivíduos na hora de se informar, entreter e participar dos conteúdos os quais consomem. Destacam-se, como referências deste estudo, livros e artigos científicos que também foram fundamentais para a elaboração da análise das transformações comportamentais dos ouvintes de rádio, no tocante ao modo com que acompanham as programações.

3. AS ADAPTAÇÕES DO RÁDIO NA ERA MULTIMÍDIA

As obras analisadas para a produção deste artigo compreendem ensaios que trazem variadas argumentações no que diz respeito ao futuro do rádio. Em tempos de uma audiência que oscila constantemente, segundo Lopez et. al (2015), experimentar tem sido a saída para manter ou aumentar os índices no IBOPE. Contudo, alguns empecilhos, sejam eles de ordem econômica ou até mesmo de conservadorismo, fazem com que alguns veículos resistam às tendências do mercado o que, consequentemente, gera reflexos na audiência.

É possível pensar em novas experiências de interatividade por parte dos usuários, que, ao longo das modificações sofridas pelo rádio, ganharam mais autonomia, mais proximidade com os produtores de conteúdo e novas possibilidades no consumo desses meios. Os avanços tecnológicos tornaram possível o surgimento de rádios em multiplataformas. Exemplo disso foi a criação de dispositivos móveis, como telefones celulares, tablets, notebook e netbooks, que permitiram, por exemplo, o surgimento de webrádios e, portanto, a experiência de se ouvir conteúdos radiofônicos em diferentes ambientes e situações.  (LOPEZ et. al, 2015, p. 190).

Com a chegada da internet, em meados de 1995, e o crescimento acentuado de pessoas adeptas à tecnologia, surgiu um novo modelo de rádio: as webradios, exclusivas do ambiente virtual. A possibilidade de se ter uma emissora de rádio fora dos padrões tradicionais e podendo ser acessada de qualquer lugar do mundo é um marco. Outro aspecto bastante positivo é que não há necessidade de concessão federal para funcionamento ou o pagamento dos direitos autorais a artistas e compositores. Neuberger (2012), menciona que, com a internet, há um reforço à ideia do rádio sem fronteiras.

Entre as mudanças gerais que o rádio pela Internet apresenta está a ruptura de fronteiras, que possibilita o acesso a esse meio de qualquer parte do mundo e a qualquer hora, o que caracteriza, por sua vez, uma nova concepção de espaço e tempo radiofônico. Como se pode notar, em termos de rádio na web ou webrádio, o caráter uniforme do meio se transformou em multimídia, porque assume tanto características sonoras quanto visuais nas páginas da web, estabelecendo uma estrutura mais rica e variada, promotora de uma nova discursividade. (NEUBERGER, 2012, p. 126).

Ao citar o futuro do rádio, Prata (2008) afirma que a migração para o digital é a tendência para o meio rádio. Mas, segundo a autora, isto não quer dizer necessariamente a digitalização das ondas hertzianas, mas uma nova forma de transmissão que se dá pela internet. Hoje, são inúmeras webrádios, dos mais variados segmentos, que podem ser acessadas de qualquer lugar do mundo, ao vivo ou no formato on demand. Os estilos musicais são os mais variados possíveis, algumas com sessões que dividem estes estilos, possibilitando, assim, que o ouvinte tenha liberdade para ouvir aquilo que é de seu interesse. Esta ferramenta nos modelos tradicionais, AM e FM, não pode ser executada e o ouvinte tem de mudar de estação caso não queira ouvir tal conteúdo.

Nas webrádios há de tudo um pouco. Conteúdo esportivo, musical, jovem e adulto, notícias, entretenimento, humor, etc. Outro fator que Prata (2008) observa é que as rádios já conhecidas também passaram a ofertar a transmissão on-line, isto é, um único produto midiático podendo ser acessado simultaneamente no aparelho de rádio e no computador.

Emissoras analógicas que migram para a web, mesmo tendo a concessão, sabem que na internet é possível fazer qualquer tipo de programação sem interferência estatal. A luz no fim do túnel de que falávamos está justamente nessa proliferação das webradios e na conseqüente entrada no mercado radiofônico de todos os tipos de emissores, tanto os interessados em manter o atual status quo, quanto aqueles que, possivelmente, poderão deixar acontecer - ou até determinar! - a inversão de papéis na interação, proporcionando ao público vivenciar o papel de produtor de conteúdo e, quem sabe, até ter o domínio do microfone. (PRATA, 2008, p.7).

Neuberger (2012), em outro momento, cita a autonomia que as rádios online dão ao ouvinte ao oferecer os chamados podcasts, no formato de rádio on demand, anteriormente citado, contendo os arquivos das transmissões e disponibilizados na rede. Neste modelo, logo após determinado conteúdo ser veiculado, sua íntegra é publicada em um espaço dedicado ou no próprio site da emissora. É uma independência que o ouvinte tem para acompanhar a programação, extemporaneamente.

Não é mais preciso esperar o programa favorito ter início; as informações podem ser obtidas a qualquer momento. Os podcasts oferecem a praticidade da mobilidade, pois podem ser ouvidos na web, mas também apresentam a possibilidade de serem baixados para aparelhos móveis como MP3, MP4, celular, smartphone, tablet, etc. (NEUBERGER, 2012, p. 127).

Assim, complementando, segundo Ferrareto (2010, apud NEUBERGER, 2012), o rádio multimidiático, definição do rádio que pode, além do áudio, trazer vídeo, imagens, texto, tudo incorporado, tanto nas redes sociais quanto nos sites das emissoras, é um exemplo de formato que reforça a ideia de uma nova linguagem, de um “novo rádio”.

A agregação de informações complementares, como textos, fotos, gráficos, vídeos também cria novos horizontes para o veículo no rumo da multimídia, um dia tido como moribundo. Assim, ganham todos: radiodifusores e ouvintes, que passam a ser chamados de 'usuários multimídia'. (NEUBERGER, 2012, p. 137, apud FERRARETO, 2010)

Atualmente, sobretudo no jornalismo, o fortalecimento da relação emissor/receptor é mais evidente. Carro-chefe de muitas emissoras, hoje, com a tecnologia e sua diversidade de aplicativos (apps), internet, entre outros, o ouvinte/leitor/receptor passou a participar, ativamente, da produção do conteúdo que consome - enviando fotos, vídeos, áudios, e das programações enquanto transmitidas, ao vivo, através dos comentários e mensagens diretas. Para Neuberger (2010, p.138), “tal multiplicidade de propósitos acaba ‘desvirtuando’ a principal característica do veículo, que é usar somente o áudio, o que proporciona uma sensação mais intimista em quem o acompanha”.

Seja num problema em sua rua, num flagrante pela cidade, a participação de quem acompanha as programações é tida como um feedback instantâneo do efeito das mensagens enunciadas. No rádio, o indivíduo que, antes, logo na sua invenção, tinha um consumo mais coletivo das programações, mudou de perfil. Segundo Lopez et al (2015, apud LOPEZ, 2010, p. 188), antes, “a interação entre audiência e emissora era preponderantemente assíncrona, através de cartas, passa a predominar a sincronia, com a presença em auditórios”.

Agora, com um perfil mais individualista, isso desde a década de 1930, segundo Moreira (1999, apud LOPEZ et. Al, 2015), as pessoas passaram a recorrer ao rádio como um companheiro não somente nas horas vagas.

Temos então que o consumo que era baseado na coletividade familiar é substituído pelo individualismo, pelo diálogo entre o locutor da rádio e o ouvinte e, assim, o rádio tornou-se, para os ouvintes, pano de fundo para a realização de outras atividades. É a conversão do meio em uma trilha sonora do cotidiano, como destaca Moreira (1999). O rádio se transforma, portanto, em um companheiro a quem milhares de pessoas recorriam – e ainda recorrem – diariamente. (MOREIRA, 1999, apud LOPEZ et. al, 2015, p. 187)

Todas as mudanças pelas quais o rádio tem passado, configuram um cenário que não é exclusivamente dele. Os novos modelos de transmissão, programações com alta qualidade sonora ou visual, equipamentos modernos, as mídias sociais, sites, enfim, todos estes, são fatores que acompanham um público cada vez mais exigente. Cabe salientar que tudo que é inovador interfere no modo com que os indivíduos consomem conteúdo, com números de engajamento, positivos ou não.

Desse modo, é possível pensar em novas experiências de interatividade por parte dos usuários, que, ao longo das modificações sofridas pelo rádio, ganharam mais autonomia, mais proximidade com os produtores de conteúdo e novas possibilidades no consumo desses meios. (LOPEZ et. al., 2015, p. 190)

O mercado radiofônico, desde a década de 1960, quando a TV chegou ao Brasil, além da hipótese de ter o seu fim decretado, foi passando por uma estagnação, como explica Bianco (1996), se referindo à queda nas receitas e às constantes oscilações na audiência. Esta recaída fez com que os donos das rádios passassem a repensar o modelo ao qual estavam gerindo.

A escassez de verbas tem provocado reações do radiodifusores empresários. Novas estratégias gerenciais e de marketing - em parte impulsionadas pelos avanços tecnológicos - estão sendo implementadas com tal velocidade que, num curto espaço de tempo, vão incomodar aqueles que exploram o veículo de modo pouco profissional. O sistema de transmissão em rede de multigeração digital via satélite, a segmentação da programação para públicos de gostos variados e o uso de táticas promocionais agressivas e competitivas são alguns exemplos dessas mudanças, que reposicionam as emissoras no mercado e ameaçam a situação daqueles que permanecem estagnados. (BIANCO, 1996, p.8)

Atualmente, no Brasil, operam cerca de 9.512 emissoras de rádio, no AM, FM, ondas curtas e ondas tropicais. A maioria delas são as chamadas rádios comunitárias, um tipo de concessão radiofônica que permite exploração do serviço sem fins lucrativos. As rádios comerciais, presentes, principalmente, nas grandes cidades, e que vendem o espaço publicitário, ainda são as dominantes nos índices de audiência e é essa proposta comercial que, desde que criada, na década de 1920, possibilitou a sobrevivência das emissoras. Antes dessa época, conforme Bianco (1996), a ideia de caráter educativo para as rádios, defendida pelo fundador da primeira emissora do Brasil, Roquete Pinto, prevalecia, e ninguém saia daquele modelo. Quando houve a mudança na legislação, conforme explica Bianco (1996), o rádio passou por uma fase de experimentação que favoreceu o desenvolvimento do meio.

A introdução da publicidade provocou mudanças no modo de produção da programação; as emissoras puderam estruturá-la em bases mais duradouras. O rádio cultural-educativo cedeu lugar aos programas populares voltados ao lazer e à diversão. Música popular, horários humorísticos, novelas, programas de auditório e concursos do rei e da rainha do rádio eram alguns dos produtos oferecidos ao público numa programação pontilhada pelos "reclames". Para manter esse padrão de qualidade e a competitividade no mercado, as emissoras trataram de se organizar como empresas. (BIANCO, 1996, p.2)

O rádio, hoje, resume sua principal fonte de renda na venda do espaço, seja ele em spots comerciais ou em testemunhal, modelo de anúncio em que o apresentador atesta credibilidade e qualidade ao produto ou serviço. Depois disso, com a chegada da tecnologia, a possibilidade de arrecadação aumentou uma vez que os sites e apps, acessados pelos ouvintes, podem também apresentar a marca do anunciante. Sendo assim, as variadas formas de anúncio têm suma importância para a sobrevivência das emissoras de rádio.

4. AS MUDANÇAS NO PERFIL DA AUDIÊNCIA

Estudar a audiência, saber os seus gostos, acompanhar a tecnologia e propor uma programação que atenda aos interesses dos ouvintes, seja no estilo musical, em programas populares ou segmentados, é uma tendência do rádio contemporâneo. As emissoras, com isso, têm se dedicado a inaugurar e experimentar novas programações em busca de conquistar a “fidelidade dos ouvintes”, termo usado por Prata (2008). Principalmente nas programações de conteúdo popular, com linguagem informal, prestação de serviços, entretenimento, música, enfim, há a prova de que a ideia de investir neste modelo tem dado certo. Essa característica de proximidade com o público, ainda segundo Lopez et. al (2015), é vista como o forte em matéria de publicidade, pois fala com e para o povo. Isso, consequentemente, gera retorno financeiro para as rádios.

Acerca do perfil da audiência do rádio, a ressalva é a particularidade do meio conservar, por décadas, alto poder de alcance. Nas principais capitais do país, por exemplo, as rádios concentram maior diversidade de anúncios quando comparadas às outras mídias. São milhões de pessoas que acompanham, diariamente, programas dos mais variados gêneros. Mas o que as pessoas analisam na hora de escolher qual rádio ouvir?

Com a possibilidade da concorrência, as rádios oferecem, na maioria das vezes, o mesmo modelo de programação em determinados horários. Mas, o que influencia a escolha, segundo Prata (2002), são alguns aspectos que podem ser facilmente identificados quando se sintoniza certa emissora. A exemplo, em um estudo sobre a fidelidade dos ouvintes de rádio na cidade de Belo Horizonte, segundo a autora, quatro tipos de emissoras de rádio têm tendência a serem as mais ouvidas: as focadas no público adulto, com programação mais informativa; as segmentadas, com conteúdo predominante; as tradicionais – que mantêm os mesmos programas durante anos, e as evangélicas.

Estes aspectos apontados no estudo da autora ilustram o que se pretende a partir deste artigo: desvendar a razão de algumas emissoras crescerem sua audiência, enquanto outras mantêm ou perderam números no IBOPE.

Para Lopez et. al (2015), as mudanças no perfil da audiência exigem uma readequação, já que a comunicação agora é feita com o meio e entre seus usuários. É neste raciocínio que não basta incrementar tecnologia, é preciso, também, remodelar a programação já que o ouvinte, cada vez mais, tem exigido flexibilidade das fontes onde busca, principalmente, a informação e o entretenimento.

Com a mudança no cenário social e a consequente alteração do perfil dos sujeitos que compõem essa audiência, ela passou a ser mais intensa – em quantidade e conteúdo –, mais informativa, mais diretamente relacionada à informação. Não se trata simplesmente do ouvinte que liga para a emissora para contar sua história e sugerir uma pauta ou pedir um aconselhamento – o que deixa o protagonismo nas mãos da emissora e de seus comunicadores. Agora, a audiência não só escuta, mas investiga, busca informações, produz áudios, fotografias, vídeos, integra sistemas colaborativos que são fonte para as emissoras. (LOPEZ et, al, 2015, p. 194).

Prata (2016) observa que, principalmente, as emissoras voltadas ao público adulto têm exclusividade dos ouvintes, uma vez que a principal característica dos indivíduos é serem conservadores, dificilmente mudando suas convicções, e isso se reflete nas emissoras que têm este público como alvo.

A pessoa na maturidade tende a ser conservadora em seus hábitos, suas amizades e seus relacionamentos. Com o ouvinte de rádio não é diferente. As emissoras voltadas para o público jovem, por exemplo, registram grande oscilação de audiência, pois quem é mais novo está sempre à procura de tudo o que é diferente, até mesmo uma programação de rádio. Assim, trabalhar com um público mais maduro é buscar um ouvinte conservador que, se gostar do que está ouvindo, se transformará numa pessoa fiel àquela determinada programação. (PRATA, 2016, p. 922).

Quanto ao público jovem, citado pela autora, entendê-lo é o principal desafio das emissoras de rádio. O jovem é versátil, gosta do que é descontraído, leve e que lhe proporciona liberdade. Contudo, a atual geração com faixa etária entre 18 e 30 anos tem se mostrado adepta à tecnologia. Com a infinidade de plataformas de conteúdo musical sendo lançadas ou ganhando popularidade, o jovem tem deixado o rádio e aderido a elas.

Num panorama, trata-se um público que tem preferência musical momentâneo, na mistura de ritmos e que, em sua maioria, não se interessa, ou pouco se interessa, por conteúdo jornalístico ou popular. Há uma lacuna quase que impreenchível entre a geração atual e a dos seus genitores.

O jovem ouve rádio em busca de música, de futebol e de entretenimento. Se a emissora não atende ao seu gosto musical, ele simplesmente muda de dial. Um ponto importante é que em busca deste público as emissoras de rádio têm promovido uma série de mudanças nos modelos de engajamento, investido nas redes sociais e em uma nova linguagem para as suas transmissões. O resultado é que as emissoras de rádios que têm estudado e acompanhado as mudanças no perfil da audiência têm saído na frente.

Porém, outra observação a ser feita é a de que as pequenas emissoras não têm condição de mudar bruscamente o seu modelo de programação. Essas adaptações têm de ser graduais, até para não causarem estranhamento no público. Neuberger (2012), fala do rádio multimídia como um potencializador do veículo, porém que exige investimentos.

O novo rádio, apesar de trazer um mundo de possibilidades, traz também uma série de inquietações para as pequenas emissoras, já que a estrutura das mesmas normalmente é precária e o número de funcionários, condizente, com as receitas, é pequeno. Assim, trabalhar como locutor ou como repórter será, possivelmente, uma dupla jornada. Estar adequado às novas tecnologias fará com que haja a necessidade de se trabalhar em ramos que antes eram distantes da realidade do rádio, ou seja, textos, fotos e vídeos. (NEUBERGER, 2012, p. 145)

Entretanto, vale ressaltar que é um jogo de concorrência. Com as constantes mudanças no perfil da audiência, mesmo que algumas emissoras se mantenham líderes resistindo às adaptações do concorrente, cedo ou tarde, se algo for mais atrativo no outro dial, consequentemente, o ouvinte migrará. Analisando esta teoria, mesmo que lentamente, a maioria das emissoras de rádio está aderindo a esta modernização.

Acerca das rádios evangélicas, elas têm aumentado a sua presença no mercado nacional. Tendo em vista que emissoras de rádio são concessões do Governo Federal, numa espécie de “aluguel”, as emissoras evangélicas apresentam caráter educativo, não podendo obter lucro com publicidade. Mantidas por entidades religiosas, elas transmitem os encontros de seus membros, ao vivo, ou programas de caráter estritamente voltado aos adeptos da religião. Uma característica destas rádios é que elas têm ganhado, cada vez mais, ouvintes, e, segundo Prata (2016), apresentam maiores índices de fidelidade.

Ainda segundo Prata (2002), há fatores que condicionam a fidelidade dos ouvintes e, estes, neste estudo, devem, também, ser analisados no ensaio das mudanças no perfil da audiência. O primeiro destes fatores, segundo a autora, é a tradicionalidade, no qual o ouvinte por conhecer a rádio, tem segurança naquilo que ouve. Após, vem a interatividade, com a participação dos ouvintes sendo marcada pela organização de um espaço livre, mas sem abusos. O terceiro fator é a credibilidade. Para Prata (2002, p. 15), neste, “o ouvinte é marcado pela certeza de ouvir a verdade pois tal emissora noticiou. A emissora, então, passa a formar opinião”. Outra ressalva da autora é que, no aspecto comercial, é, principalmente, a credibilidade quem sustenta financeiramente as emissoras rádios. O quarto fator apontado como determinante na fidelidade do ouvinte a uma emissora é a qualidade. Segundo Prata (2002, p.16), “o padrão de transmissão é primordial para conquistar o ouvinte. Além disso, o som de primeira linha e uma programação bem distribuída dão retorno aos seus idealizadores”. O quinto e último fator é a seriedade, no qual, para Prata (2002, p. 17), “é a junção de todos os outros fatores, garantindo uma imagem sólida, de confiança”.

Neuberger (2012)), cita que não basta apenas transmitir a programação pela internet ou no som digital, é preciso buscar formas de engajar o público, mantê-lo ativo e satisfeito com o que está consumindo. Para o autor, isso se explica pelo fato de os ouvintes não buscarem apenas qualidade do som, mas um serviço multimídia, interativo, mais adequado com os padrões tecnológicos atuais.

Segundo Lopez et. al (2015), o novo rádio tem uma nova audiência. E esta audiência fala, mostra e demanda atualização e visibilidade. Acompanhar estas transformações, porém é saber lidar com o novo, sendo dinâmico e flexível.

5. ANÁLISE

O rádio não é mais o mesmo. Na era multimídia as programações que, antes, se limitavam à emissão de sons, num formato centenário, agora, abrem espaço para novas experimentações acerca do fazer rádio. O meio se tornou imagem, foi para a internet e com essa infinidade de formatos, foi se aperfeiçoando e já pode ser acessado de qualquer lugar do mundo, seja pelas páginas dedicadas na web ou nos apps, disponíveis para aparelhos móveis.

Em um panorama, o rádio tem passado por uma recriação de seus padrões de programação. No tocante à audiência, a instantaneidade das notícias, o aspecto de ser um meio com alto poder de alcance, a credibilidade das informações, entre outros, são o que podemos definir como determinantes para todo este sucesso conquistado ao longo de tantas décadas. Um público expressivo, que acompanha e que participa das transmissões, ativamente, também é um fator que permite uma compreensão de toda a influência exercida pelo rádio sobre a sociedade.

Certamente que todas essas mudanças vão determinar uma nova maneira de se fazer rádio, bastante diferente das atuais formas. Hoje o conteúdo que é produzido pelo rádio é feito por profissionais que até conhecem e se relacionam com os novos meios, mas poderiam ser chamados de imigrantes digitais. Mas o público ainda é, também, imigrante digital. Porém, daqui a alguns anos, as gerações genuinamente digitais – aquelas nascidas sob o signo das novas tecnologias – passarão a ter acesso às mídias e, com toda a certeza, irão desejar - e exigir! - novos formatos de programação e novas formas de se interagir com o veículo. (PRATA, 2008, p. 8)

Dos estudos de mídia consultados para este trabalho, as conclusões dos autores, bem como aos principais pontos abordados, dão conta de que o comportamento da audiência tem mudado consideravelmente e que, com estas mudanças, o termo concorrência tem sido usado com mais frequência.

Outro ponto a ser analisado é que há emissoras que, simplesmente, diante da diversificação dos modelos de produção, tendências momentâneas, dentre outros, resistem e acabam por perder espaço. A ressalva é que as emissoras tradicionais possuem um público acostumado com seu formato e alterá-lo não é tão fácil assim. Sobretudo, dependendo da faixa etária dos ouvintes, uma modernização traria alguns pontos negativos.

Fato é que a tecnologia é um dos maiores desafios, principalmente se tratando de emissoras menores, com baixa receita. No entanto, em situações de insuficiência para aparelhamento de última geração, alinhar o perfil de um público, traçando estratégias para melhorar os índices no IBOPE, mantendo seu modelo, e ouvindo este público, numa espécie de feedback, seja uma das saídas para algumas emissoras de rádio.

As rádios que mantêm por anos os mesmos comunicadores são exemplo de que não é preciso mudar toda a programação de uma vez, até mesmo por uma questão estética e de mercado. Aprimorá-la, inovando e investindo em tecnologia já é um bom começo. Mesmo que mínimas as mudanças têm de ser feitas.

O consumo de mídia apenas acompanha a tecnologia, que a curto prazo mudou radicalmente a humanidade. Quem é que consegue viver sem o celular? Sem acessar a internet ou ler as notícias? A resposta, no geral, é quase ninguém. A comunicação mudou e muda num ciclo constante. Diante de tudo isso, para Bianco (1996), no rádio, investir na capacitação dos colaboradores também é uma boa estratégia. Isso por que com as inovações, a tendência é de que quem não se adapta não possa mais exercer tal função. No jornalismo este aspecto é bem evidente. Para a autora, é preciso sintonia entre comunicador e público.

Profissionalizar ainda mais a programação é um caminho para sobreviver. O modelo tradicional de programação - dirigida a todo tipo público - perde espaço para a segmentação. A tendência hoje é fazer programação acertada, em sintonia com o gosto, comportamento, valores e atitudes do público que pretende atingir. Não basta ter noção do público; é preciso ter marketing certeiro e criar uma marca da emissora. É preciso ser diferente do concorrente. (BIANCO, 1996. p. 15).

Outro aspecto, segundo Neuberguer (2012), são as experimentações do rádio digital. Trata-se, portanto, da ilustração de uma mudança que se faz necessária pois o som digital tem mais qualidade, nitidez, e partir do momento em que for introduzido, a preocupação com as produções terá de ser maior.

O conteúdo também precisa ser revisto, já que não basta oferecer a mesma programação analógica em formato digital, uma vez que os ouvintes não buscam apenas qualidade do som, mas um serviço multimídia, interativo, mais adequado com os padrões tecnológicos atuais. (NEUBERGER, 2012, p. 143)

Complementando, diante de todos os aspectos colocados, conforme Neuberguer (2012), a convergência dos meios deve ser destacada como a tendência diante das adaptações tecnológicas e das mudanças no consumo de mídia por parte dos indivíduos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rádio vive uma nova era. As webrádios, sem a burocracia que rege as concessões federais para a radiodifusão tradicional, se tornam um negócio promissor. Além de não terem regulamento quanto a publicidade, renovação da outorga de funcionamento, elas também não precisam pagar os direitos autorais a quem possui propriedade intelectual sobre as músicas veiculadas no modelo comercial. Talvez isso precise ser revisto pelos órgãos competentes. Trata-se, de certo modo, de concorrência. O que muda é o canal onde são transmitidas as programações.

A internet foi um marco para a humanidade. Para o rádio isso não foi diferente. Todo este universo multimidiático só foi possível graças à sua chegada e à sua popularidade. Sem exageros, cabe dizer que o rádio contemporâneo não possui apenas ouvintes. Ele agora tem leitores, telespectadores, comentaristas, produtores populares, reforçando a ideia do conteúdo cidadão.

Citando essa revolução pela qual o rádio passa, a nova resolução anunciada pelo governo federal, na qual as emissoras do tradicional AM (amplitude modulada), que, por 80 anos, foi o principal método de transmissão radiofônica, será extinto e as emissoras migrarão para o FM, a experiência de rádio no Brasil tende a ser algo inovador. Em tese, uma rádio FM apresenta qualidade sonora, notadamente, superior às AM. É o rádio se reinventando, acompanhando a modernidade e ampliando seu alcance.

Esta migração que ocorre de modo gradual, uma vez que o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, representa um marco para a radiodifusão no país. Com cerca de 1.781 rádios AM, segundo o próprio Ministério, o Brasil deterá uma quantidade expressiva de rádios FM, num modelo de som digital, o que melhorará, e muito, principalmente, a experiência de quem recebe as transmissões.

Por fim, diante de toda esta análise, das adaptações do rádio na era multimídia e também das mudanças no perfil da peça-chave para as emissoras, o ouvinte, conclui-se que a tecnologia veio para somar aos modelos de transmissão e programação. Cabe, portanto, adequação, aperfeiçoamento, investimento, estudo, ampliação e o desejo de fortalecer um meio que há tantos anos é fonte de saber, de lazer, de cultura, de entretenimento. O rádio é sem fronteiras, é leve, é simples, objetivo e encurtador de distâncias. Se o público muda, é preciso mudar também. Afinal, quem resiste ao futuro? Experimentar, criar laços, entender gostos, atender anseios e sair na frente é sinônimo de ser presente, dinâmico e moderno.

O rádio é emoção, é informação na hora e na medida certa. Em qualquer lugar, o som que, antes, já tinha a mágica de romper fronteiras, agora, está ainda mais forte. O bom e velho amigo, que, por tantos anos transmitiu novelas, programas de auditório, se reinventa e vive uma nova era.

7. REFERENCIAL TEÓRICO

BIANCO, Nélia R. Del. Tendências da programação radiofônica nos anos 90 sob o impacto das inovações tecnológicas. Universidade de Brasília (UnB). Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). 1996. ARTIGO.

CUNHA, Magda. Não é mais possível pensar o rádio como antes. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). ARTIGO. Porto Alegre: Faculdade de Comunicação Social (Famecos). 2005.

GRISA, Jairo Ângelo. Os Sentidos Culturais da Escuta: Rádio e Audiência Popular. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999. ARTIGO.

JUNG, Milton. Jornalismo de rádio. 4.ed. LIVRO. São Paulo: Editora Contexto, 2011. (Coleção Comunicação).

LOPEZ, Débora CRISTINA, et al. Audiência radiofônica: a construção de um conceito a partir da metamorfose do meio. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Ação midiática, 2015. ARTIGO.

NEUBERGER, Rachel Severo Alves. O rádio na era da convergência das mídias. 1.ed. LIVRO. Cruz das Almas: Editora UFRB, 2012. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

PRATA, Nair. A fidelidade do ouvinte de rádio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, XXV, 2002, SALVADOR/BA. ARTIGO. Salvador:

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PRATA, Nair. A fidelização do ouvinte e as estratégias de audiência no rádio. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), 2016. 8ª SOPCOM. ARTIGO.

PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, XXXI, 2008, NATAL/RN. ARTIGO. NATAL: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2008.

VELHO, Ana Paula Machado. A linguagem do rádio multimídia. Universidade Estadual de Maringá. Centro Universitário de Maringá. Maringá, 2009. ARTIGO. Disponível em: . Acesso em: 20 de março de 2018. 

 

Trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, do Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel, sob orientação da Profª Dª Virgínia Borges Palmerston.

Por Gilcelio Silva Lemes - Graduando em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH.


Publicado por: Gilcelio Lemes

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