ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DA CASCA DE BARBATIMÃO (Stryphnodendron adstringens (MART) COVILLE), NO TRATAMENTO DE INFECÇÕES OPORTUNISTAS EM MULHERES DE IDADE FÉRTIL COM INFECÇÕES OU INFLAMAÇÃO CRÔNICA EM UMA COMUNIDADE DE ARACAJU/SE

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1. RESUMO

O uso indiscriminado de medicamentos sintéticos, a exemplo de antibióticos e antiinflamatórios corticoides, por mulheres em idade fértil, para tratamento de infecções e inflamações sem diagnóstico definido, têm levado ao aparecimento de infecções, como vulvovaginites causadas por fungos e leveduras. O objetivo deste trabalho é demonstrar através de pesquisa bibliográfica, que estas infecções podem ser tratadas com o uso de droga vegetal, a exemplo do Stryphnodendron adstringens Mart., popularmente conhecida por Barbatimão. Estudos Científicos indicam que a alta concentração de taninos nesta planta tem eficácia contra bactérias e fungos, em especial o fungo do gênero Cândida, além de baixa toxicidade. Com a oferta de antifúngicos restrita em função dos efeitos colaterais provocados pelo uso em longo prazo, somado aos efeitos indesejados do uso de antibióticos e corticoides, na maioria das vezes a população opta pelo tratamento caseiro com plantas medicinais. O uso crescente de drogas vegetais e fitoterápicos no Brasil despertou o interesse científico que fornece a partir de pesquisas subsídios sobre a eficácia ou não da substituição por medicamentos sintéticos, muitas vezes com preço inacessível, por plantas medicinais. Conclui-se então que desde que prescrito e acompanhado por profissional habilitado, pode se obter os efeitos desejados com o uso da droga vegetal S. adstringens, no tratamento de infecções fúngicas oportunistas, tipo Candidíase causadas, por fungos do gênero Cândida, um tipo de levedura, dos quais a Cândida albicans é o mais comum.

Palavras Chave: Medicamentos, Candidíase, Drogas Vegetais, Barbatimão.

ABSTRACT

The indiscriminate use of synthetic drugs, such as antibiotics and steroid anti-inflammatory drugs, by women of childbearing age to treat infections and inflammation without a definite diagnosis have led to the onset of infections, such as fungal and yeast vulvovaginitis. The objective of this work is to demonstrate through bibliographic research that these infections can be treated with the use of plant drugs, such as Stryphnodendron adstringens Mart., Popularly known as Barbatimão. Scientific studies indicate that the high concentration of tannins in this plant has efficacy against bacteria and fungi, especially the fungus of the genus Cândida, in addition to low toxicity. Because of the long-term side effects of antifungal drugs, coupled with the unwanted effects of antibiotics and corticosteroids, most people opt for home treatment with medicinal plants. The growing use of plant drugs and herbal medicines in Brazil has aroused the scientific interest that provides from researches subsidies on the effectiveness or not of the substitution by synthetic medicines, often with inaccessible price, for medicinal plants. It is concluded that, since prescribed and accompanied by a qualified professional, the desired effects can be obtained with the use of the vegetable drug S. adstringens, in the treatment of opportunistic fungal infections, Candidiasis type caused by fungi of the genus Cândida, a type of Yeast, of which Cândida albicans is the most common.

Key words: Medications, Candidiasis, Plant Drugs, Barbatimão.

2. INTRODUÇÃO

Em dois anos de atendimentos com terapias de acupuntura e fitoterapia, observamos um número maior de pacientes do sexo feminino, em idade fértil, acometidas de inflamação crônica (sem diagnóstico definido), acompanhadas de infecções urinárias recorrentes e candidíase vulvovaginal recidivante, tendo como agente etiológico a levedura Cândida albicans. Após a aplicação de diversos protocolos sem sucesso, constatamos o uso recente por estas mulheres de antibióticos prescritos pelos médicos, para o controle do processo inflamatório, na maioria das vezes sem processo infeccioso associado ao quadro, ou anti-inflamatórios esteroides por longo período.

Este programa de tratamento da medicina convencional, praticado com muita frequência na unidade única de saúde – SUS nos motivou a pesquisar o uso de uma planta medicinal com atividade antifúngica, que não apresentasse efeitos colaterais, desde que usado de forma correta e acompanhado de um profissional de saúde.

Sabendo-se que os fatores citados como os mais importantes facilitadores da infecção por Cândida albicans são: gravidez, diabetes, baixa imunidade, uso de antibióticos e/ou anti-inflamatórios esteroides e associações de estrogênios sintéticos e progestínicos, na forma de anticoncepcionais, observamos que as mulheres em idade fértil, que não se enquadram nestes fatores, apenas fazem uso destes medicamentos e não são orientadas quanto ao controle de ingestão de glicose, apresentam com mais frequência desequilíbrios da microbiota fúngica no organismo, quando diagnosticadas com inflamação crônica.

Considerando que uma dieta rica em carboidratos simples pode agravar o processo inflamatório e predispõe a infecção por Cândida albicans, é possível que a dieta adequada e o uso de extrato de uma planta medicinal com ação anti-inflamatória e antifúngica sejam a melhor opção de tratamento frente ao uso de antibióticos e/ou anti-inflamatórios esteroides, por apresentar eficácia e baixos efeitos colaterais.

A planta escolhida para pesquisa no presente trabalho é do gênero Stryphnodendron Mart., membro da família Leguminosa. Stryphnodendron adstringens Mart. É uma árvore do cerrado brasileiro, conhecida popularmente por “barbatimão”. (NUNES et. al, 2003).

O Stryphnodendron adstringens é rico em taninos, alcaloides, flavonóides, terpenos, estilbenos, esteroides, inibidores de proteases (como a tripsina) que podem ser responsáveis pela sua atividade anti-inflamatória e supostamente antimicrobiana. (FERREIRA, 2013).

A planta S. adstringens conhecida como “Barbatimão”, é uma importante planta medicinal, com propriedades medicinais comprovadas, possuindo em sua casca e em suas folhas, substâncias ativas como taninos condensados que em doses consideradas seguras, inibiram com sucesso o crescimento da Cândida albicans, o que representa um novo potencial para o tratamento de candidíase utilizando uma prática alternativa e complementar como a fitoterapia, podendo perfeitamente substituir os antifúngicos sintéticos tradicionais, diminuindo os efeitos colaterais e o aparecimento de novas patologias decorrentes destes.

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Analisar a eficácia antifúngica do extrato da casca de Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville, no tratamento de infecções oportunistas por Cândida albicans, em mulheres de idade fértil com inflamação crônica em uma comunidade de Aracaju/SE.

3.2. Objetivos Específicos

  • Caracterizar a ação farmacológica da casca de Stryphnodendron adstringens;

  • Avaliar a ação dos taninos sobre a candidíase, como infecção oportunista durante tratamento de inflamação crônica;

  • Verificar a relação quantidade/ação de taninos sobre micro-organismos patogênicos;

  • Investigar a toxicidade do extrato de Stryphnodendron adstringens.

4. METODOLOGIA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo, exploratório e descritivo a partir de revisão bibliográfica, onde aborda a atividade antifúngica da casca de Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville, no tratamento de infecções oportunistas por Cândida albicans, em mulheres de idade fértil com inflamação crônica em uma comunidade de Aracaju/SE.

É delimitada em capítulos, onde o primeiro apresenta os componentes fundamentais dos fungos e infecções por Cândida albicans. No segundo capitulo é feita considerações gerais acerca do uso de medicamentos antibacterianos e anti-inflamatórios, e no terceiro capitulo uma abordagem acerca de plantas medicinais e fitoterápicos, o barbatimão como auxiliar no tratamento de Infecções oportunistas e sua toxicidade. Por fim, as considerações finais com apresentação da viabilidade da utilização da droga vegetal como antifúngico e sua eficácia.

5. DESENVOLVIMENTO

5.1. Componentes fundamentais dos fungos e infecções por Cândida albicans

Observa-se um índice crescente de efeitos colaterais pelo uso indiscriminado de antibióticos para tratamento de processos inflamatórios sem diagnóstico definido, como inflamação crônica com dores generalizadas, principalmente em mulheres em idade fértil, que apresentam infecções urinárias recorrentes e candidíase vulvovaginal recidivante, tendo como agente a levedura Cândida albicans. Faz-se necessário procurar tratamentos alternativos, com preços mais acessíveis, apresentando eficácia, sem, no entanto, provocar efeitos colaterais importantes. A planta medicinal conhecida por barbatimão já é utilizada largamente de forma popular no Nordeste do Brasil e pode ser usada com certa segurança, aliada a uma dieta balanceada no auxilio nestes tipos de patologias.

Os fungos são organismos eucariontes, unicelulares (leveduriformes) ou multicelulares (filamentosos). A maioria dos fungos é originada dos esporos e conídios que para germinarem, necessitam de calor e umidade resultando daí em tubos germinativos. O ciclo de vida dos fungos se dá em duas fases. Uma caracterizada por atividades alimentares, e outra reprodutiva, onde os fungos podem realizar reprodução sexuada ou assexuada. (MORAES, 2009).

O gênero Cândida está formado por 163 espécies, e aproximadamente 10 são responsáveis por infecções no homem, causadoras de micoses superficiais ou invasivas nos seres humanos. A espécie mais importante é a C. albicans. Castro (2006, apud, SILVA, 2002). As espécies de Cândidas são encontradas em algumas partes do corpo humano como comensais, podendo atuar como patógenos oportunistas, quando em condições especiais, tais como: baixa imunidade, doenças crônicas e uso de medicamentos tipo antibióticos, anticoncepcionais e corticoides, usados por longos períodos.

Micoses oportunistas são infecções causadas por fungos de baixa virulência que colonizam o corpo humano são e tornam-se patogênicas sempre que houver um ambiente propício. A candidíase que também recebe o nome de monilíase tem como mais frequente o agente etiológico Cândida albicans, levedura que normalmente é isolada na boca, intestino, vagina e pele de pessoas saudáveis. (TRABULSI, 1991).

A presença de doenças crônicas como diabetes melitus, gravidez, uso de roupas justas, absorventes higiênicos e absorvente intra-vaginal, deficiências imunológicas específicas, além dos hábitos higiênicos restritos e/ou inadequados, podem levar a contaminação vaginal. Dentre eles a higiene anal realizada no sentido do ânus para a vagina, e os resíduos de fezes nas calcinhas poderiam ser a origem das leveduras no desenvolvimento da candidíase vulvovaginal (CVV). Da Rosa (2004, apud, SOBEL, 1993; SPINILLO, 1997; GEIGER, 1996). Quanto ao uso de antibióticos, estes parecem estar associados à destruição da microbiota bacteriana vaginal, diminuindo a competição por nutrientes, o que favorece o surgimento da Candidíase vulvovaginal. Rocha (2007, apud, SOBEL, 1990).

A Cândida albicans é um fungo com capacidade patogênica, sendo o sistema imune um importante modulador desta resposta. A contenção da invasão do patógeno no hospedeiro exige uma resposta rápida, geralmente exercida pelo sistema imune inato, o qual desenvolve prontamente e precede a expansão clonal de linfócitos antígenos-específicos. O sistema imune inato consiste de células Natural Killer, complemento, proteínas plasmáticas e células fagocíticas. De Rossi (2011, apud, ISMAIL et al., 2002). Ele tem efeito antifúngico direto pela destruição do patógeno e sinalização para as células do sistema imune adaptativo, por meio da produção de citocinas e de quimiocinas pró-inflamatórias, indução de atividades co-estimulatórias e apresentação de antígeno. De Rossi (2011, apud, ROMANI, 2004).

Candidíase vulvovaginal é uma patologia ginecológica frequente, estimando-se que a maioria das mulheres apresentará ao menos um episódio da infecção no decorrer de sua vida, sendo que boa parte terá um segundo episódio e uma pequena parcela terá de 3 a 4 episódios por ano. Victal (2003 apud, CLANSY at. al. 1999). Então é possível considerar três variáveis para a candidíase: a primeira em que a Cândida foi achada em exames de rotina, sem, entretanto, ter nenhum sintoma característico, chamadas de portadoras sãs, a segunda que apresenta sintomas específicos, mas sem apresentar recorrência depois de tratada, chamada de infecção não complicada e a terceira que se apresenta com episódios recorrentes, chamada de candidíase vulvovaginal complicada. (SIMÔES, 2005).

A infecção quando presente apresenta sintomas característicos de outros tipos de infecções do trato geniturinário em mulheres, como prurido persistente, ardor, corrimento vaginal em grumos, semelhante a leite talhado. Com frequência a vulva e a vagina encontram-se edemaciadas e hiperemidas, algumas vezes acompanhadas de ardor ao urinar e sensação de queimadura. Álvares (2007, apud, SOBEL, 1990). As lesões podem-se estender por períneo, região perianal e inguinal. Álvares (2007, apud, ALMEIDA FILHO, 1995). Em casos típicos, nas paredes vaginais e no colo uterino aparecem pequenos pontos branco-amarelados se intensificando no período menstrual, quando a acidez vaginal aumenta. Álvares (2007, apud, SALVATORE, 1980).

A presença de ciclos menstruais irregulares tem sido identificada como relevante fator de risco para a CVV. A gravidez, o uso de contraceptivos orais de altas doses e a terapia de reposição hormonal, por serem situações de hiperestrogenismo, determinam altos níveis de glicogênio, resultando um aumento do substrato nutricional dos fungos e favorecendo a infecção da mucosa vaginal. (ROSA, 2004).

O diabetes mellitus não controlado promove alterações metabólicas, como o aumento dos níveis de glicogênio, que podem ser significativas para o surgimento de colonização e infecção por Cândida. O controle glicêmico adequado, associado a mudanças comportamentais, reduz o risco de colonização e infecção por Cândida spp. entre diabéticos. Rocha (2007 apud, DE LEON et. al, 2002).

O Tratamento das infecções causadas por Cândidase se limitam usualmente a prescrição de dois grupos de antifúngicos: os poliênicos, sendo a nistatina e anfotericina B associada ao antibiótico tetraciclina e os derivados azólicos, tais como: miconazol, cetoconazol, fluconazol. (COSTA, 2003). Mesmo sendo a anfotericina B, o antifúngico mais eficaz, seu uso é restrito pela sua alta toxicidade. A lesão renal é o mais importante efeito tóxico e ocorre na grande maioria dos pacientes. Além disso, apresenta diversos efeitos colaterais, como: distúrbios gástricos, febre, calafrios, tromboflebite, hepatotoxicidade, reações alérgicas, entre outros. Quanto à nistatina é altamente tóxica quando usada por via sistêmica. As demais classes de antifúgicos, embora apresentem baixa porcentagem de efeitos tóxicos graves, têm reconhecidamente muitos efeitos colaterais. Castro (2006 apud, BATISTA, 1999; GALVADA, 2003; SERRACARBASSA, 2003).

Muitas drogas antifúngicas podem causar citotoxicidade ao fígado e rins do hospedeiro quando usadas terapeuticamente, pelo fato dos fungos seres eucariontes e possuírem semelhança às células humanas. Não existem vacinas padronizadas para prevenir infecções fúngicas, uma situação atribuída à complexidade do patógeno e suas sofisticadas estratégias de sobrevivência no hospedeiro e evasão de resposta imune. Podemos considerar que a longevidade da Cândida, assim como, sua transição de comensal para patogênica consiste na relação do fungo com o sistema imune. (DE ROSSI, 2011).

Nos últimos anos, houve um aumento do número de infecções invasivas causadas por espécies de Cândida não albicans. Castro (2006, apud, DURAN, 2003; LINARES, 2003). Estudos apontam para o uso indiscriminado de antifúngicos, que por um processo de seleção, tornaram alguns fungos menos susceptíveis a determinadas drogas. Castro (2006, apud, CIRAK, 2003; FRANZ, 1999; NUCCI, 2002; PANIZZO, 2000).

A resistência ocorre por um processo de seleção natural. As infecções por Cândida mais susceptíveis as drogas estão gradativamente sendo substituídas por infecções causadas por cepas mais resistentes. Dentre as espécies de Cândida mais susceptíveis estão a C. albicans, e entre as menos susceptíveis estão a C. glabrata e C. krusei. Os fracassos nos tratamentos estão levando os cientistas a pesquisarem drogas de espectro maior, que por sua vez causam maiores efeitos colaterais para os pacientes. (CASTRO, 2006).

É importante a orientação por parte dos profissionais de saúde às mulheres quanto à necessidade de exames que comprovem o diagnóstico da infecção, para identificação do micro-organismo causador da patologia, visto que alguns sintomas são similares os de outras patologias, inclusive bacterianas.

5.2. O uso de medicamentos antibacterianos e antiinflamatórios

Antibióticos e anti-inflamatórios são drogas distintas, mas que, por terem nomes parecidos, podem ser confundidos na sua utilização. Os antibióticos são específicos para o tratamento de infecções causadas por bactérias. A inflamação é uma resposta a um agente agressor pelo sistema imunológico, que tem diversas origens, sendo a infecção uma causa comum de inflamação. O antiinflamatório é constituído de substâncias que vão diminuir os sintomas indesejados da reação de defesa do organismo, como febre, rubor e dor.

5.2.1. Antibióticos

Com a descoberta dos antibióticos a medicina teve um avanço espetacular no tratamento de infecções causadas por bactérias. Entretanto, esta classe de medicamentos é ineficaz nos tratamentos de infecções por virais, fúngicas e parasitológicas. Com duas classes de atuação, existem os bactericidas, quando matam as bactérias, e bacteriostáticos, quando apenas impedem sua multiplicação.

O uso de antibióticos por longos períodos ou mesmo de vários tipos em curto espaço de tempo, leva ao aparecimento de infecções fúngicas em pessoas imunodeprimidas, pela ação de eliminação de bactérias e a preservação dos fungos. Assim, ele reduz a competição por espaço e alimentos, facilitando a vida destes que colonizam o organismo, levando a multiplicação e ação patogênica. “Desconhecimento da prescrição de antimicrobianos quanto a doses, intervalos e diluições, contribuem para o insucesso no tratamento e surgimento de reações adversas nos pacientes”. (MOTA, 2010).

O organismo humano é colonizado por uma microbiota diversificada em locais como trato gastrointestinal, pele e genitália. Esses sítios colonizados sofrem pressão seletiva gerada pelo uso dos antimicrobianos que acabam por eliminar parte das bactérias existentes e permitir que as demais sobrevivam e promovam um desequilíbrio.

Ao longo dos anos, o uso indiscriminado de substâncias antibióticas levou ao surgimento de bactérias resistentes as mesmas, causando um dos maiores problemas para a medicina moderna. O aparecimento de infecções recorrentes e de difícil controle deu início ao surgimento de infecções oportunistas por outros micro-organismos, principalmente por comensais do organismo humano.

5.2.2. Corticoides

Corticoides são hormônios esteroides produzidos pelas glândulas suprarrenais, que se localizam sobre os rins. Corticoides sintéticos, também chamados de antiinflamatórios corticosteroides, constitui um dos maiores progressos da farmacologia moderna. Eles são sintetizados a partir do cortisol, derivado do colesterol, um hormônio normalmente fabricado pela glândula suprarrenal. (PINHEIRO, 2017).

De acordo com Pinheiro (2017), os efeitos colaterais ou indesejados, vão do aumento de peso, hipertensão, trombose, entre outros, se destaca a candidíase oral ou genital.

É comum a prescrição inadequada pelos médicos, assim como, a automedicação pelos brasileiros que recorrem à farmácia sempre que apresenta algum problema de saúde, fazendo o uso de analgésicos, antiinflamatórios e antes da obrigatoriedade da receita médica, do uso de antibióticos. (Anvisa, 2010). O uso de medicamentos como anticoncepcionais, antibióticos e as várias formas de imunodeficiências adquiridas, predispõem a candidíase vaginal e podem estar envolvidas em episódios de reinfecção por este fungo. De Rossi (2011, apud, KIRKPATRICK, 1984; COLOMBO; GUIMARÃES, 2003).

Os medicamentos devem ser vistos como recursos utilizados para obter benefícios como a cura, de uma doença ou então o alívio de sintomas incômodos ou incapacitantes. Os benefícios esperados com sua utilização devem ser maiores do que os riscos decorrentes do seu emprego. Portanto, não se recomenda a automedicação nem mesmo a prescrição de corticoides por profissionais de saúde, baseado em sintomas clínicos, sem exames específicos que firmem o diagnóstico do paciente, principalmente mulheres em idade fértil, que possivelmente fazem uso de contraceptivos orais, devendo estes estarem atentos as interações medicamentosas, além dos efeitos adversos provocados pela ingestão equivocada ou por longo período.

5.3. ​​Considerações gerais acerca de plantas medicinais e fitoterápicos

Considerando a quantidade de antifúngicos e antimicrobianos existentes no mercado, mas que apresentam toxicidade, efeitos colaterais importantes e criando resistências dos micro-organismos, além dos preços praticados, muitas vezes inviabilizando o acesso por parte da população, podemos dizer que existe uma limitação terapêutica para o tratamento destas patologias, levando estes pacientes a fazerem uso de drogas vegetais in natura. O uso de plantas medicinais é considerado cultural no Brasil, com a passagem de conhecimentos por gerações, na maioria das vezes de forma oral. Este conhecimento é tão diverso e para muitas destas comunidades é o único recurso terapêutico. (MELO et. al, 2007; MELO, 2011).

Ao longo do tempo têm sido registrados variados procedimentos clínicos tradicionais utilizando plantas medicinais. Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir da segunda metade do século XX, existem obstáculos básicos na sua utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos. (JUNIOR, 2005, p. 519).

A OMS define planta medicinal como sendo “todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semi-sintéticos”. Júnior (2005 apud, BULLETIN OF THE WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998, p. 520).

Segundo JUNIOR (2005, p. 520), fitoterápico é todo medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando-se exclusivamente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, com benefício para o usuário. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos do seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. É o produto final acabado, embalado e rotulado. Não podem estar incluídas substâncias ativas de outras origens, não sendo considerado produto fitoterápico quaisquer substâncias ativas, ainda que de origem vegetal, isoladas ou mesmo suas misturas. O fitofármaco, que por definição é a substância ativa, isolada de matérias-primas vegetais ou mesmo, mistura de substâncias ativas de origem vegetal.

A utilização de drogas vegetais para produção de medicamentos se apresenta como solução viável em relação aos produtos sintéticos, tanto pela ação terapêutica e segurança, quanto pelos custos para fabricação e aquisição pelo consumidor final. Benini (2011 apud, FUZÉR; SOUZA, 2003).

Segundo pesquisas realizadas pelo Jardim Botânico de Nova York, a utilização de conhecimentos tradicionais (indígenas e de outras comunidades) aumenta a eficiência do processo de seleção e investigação de plantas em busca de suas propriedades medicinais em mais de 400%. Benini (2011 apud, ARNT, 2001).

Existem limitações terapêuticas, no tratamento de infecções causadas por fungos, bactérias e parasitas, como a resistência aos medicamentos, a toxicidade da droga, interações medicamentosas e a biodisponibilidade insuficiente das drogas que estão disponíveis atualmente no mercado, isso têm chamado a atenção para o desenvolvimento de medicamentos que seriam capazes de tratar infecções que adquirem resistência, a obtenção de novos agentes contra fungos, bactérias e parasitas Ferreira (2013 apud, MELO et al., 2009, HERZOG-SOARES et al., 2002).

5.3.1. ​​​​​​​Aspectos gerais sobre o Barbatimão (S. adstringens)

O barbatimão é representado por cinco espécies pertencentes à família Leguminosae: Stryphnodendron adstringens, S. obovatum, S. polyphyllum, S. coriaceum e S. rotundifolium, com distribuição geográfica em todas as regiões do país, principalmente no Bioma do Cerrado. Stryphnodendron adstrigens é uma espécie pertencente à família Fabaceae e a subfamília Mimosoideae. A família Fabaceae possui ampla distribuição geográfica e é considerada uma das maiores famílias, com cerca de 650 gêneros e 18.000 espécies (OCCHIONI, 1990). É considerada uma espécie perenifólia com altura variando de 2 a 8 metros, o tronco é tortuoso de 20 a 30 cm de diâmetro, no qual a parte interna do cerne é vermelha, rígida e possui troncos com cascas rugosas e rígidas que se desprendem facilmente. De Lima (2017 apud, SOARES et al., 2008; FELFILI et al., 1999).

As folhas dessa espécie são bipinadas, apresentando 5 a 8 pares de pinas, com 6 a 8 pares de folíolos em cada pina. A floração ocorre no período de setembro a novembro, período em que brotam pequenas flores creme-esverdeadas assentadas em inflorescências que possuem forma de espiga. A frutificação ocorre entre os meses de novembro as junho, os frutos são vagens cilíndricas de 6-9 cm de comprimento, com inúmeras sementes de coloração verde (imaturos) ou parda (maduros). De Lima (2017 apud, LORENZI & MATOS, 2002).

Arvore do cerrado brasileiro, hoje encontrada em quase todas as regiões, é usada popularmente em forma de decocto das cascas, por via oral, assim, como banhos, para o tratamento de diversas infecções e assepsia de ferimentos. (OCCHIONI, 1990). Entretanto, apenas à espécie S. adstringens é denominada de barbatimão verdadeiro, embora todas estas espécies apresentem potencial terapêutico. Além da propriedade cicatrizante, o barbatimão também possui outras propriedades medicinais, como agente hemostático, anti-inflamatório (MELLO, 1997).

É conhecida popularmente por diferentes nomes como barba-de-timão, barbatimão, barba-de-timan, borãozinho-roxo, barbatimão-verdadeiro, barbatimão-vermelho, além de possuir os seguintes sinônimos: Acácia adstringens Mart., Stryphnodendron barbatiman Mart., Stryphnodendron barbadetiman. (Vellozo) Mart. Pereira (2013, apud SOUZA et al., 2007; FONSECA e LIBRANDI, 2008; SOARES et al., 2008; FERREIRA et al., 2009).

A descoberta dos segredos medicinais do barbatimão foi realizada pelos povos indígenas que, inicialmente, o chamavam de Ibatimó, cujo significado é árvore que aperta, ou seja, adstringente. A casca da planta foi levada para a Europa sob o nome de “casca brasileira adstringente” De Lima (2017 apud, GLASENAPP, 2007). O barbatimão está inscrito na Farmacopeia Brasileira. TEIXEIRA (2009 apud, FARMACOPEIA BRASILEIRA, pp. 126, 1959).

5.3.2. ​​​​​​​Composição química do extrato da casca de barbatimão (S. adstrigens)

O Stryphnodendron adstringens é rico taninos condensados (20 a 30%), flavonoides, flobafenos, mucilagens, materiais resinosos, ácido tânico, amido, alcaloides, açúcares solúveis. (MARTINS & SANTOS, 1995). São estas substâncias que podem ser responsáveis pela sua atividade anti-inflamatória e supostamente antimicrobiana. “Os taninos presentes nessa planta são os principais componentes vegetais que possuem a propriedade de precipitar as proteínas da pele e das mucosas, transformando-as em substâncias insolúveis”. Ferreira (2013 apud, ABIFISA, 2010, MONTEIRO; DE ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005, VASCONCELOS et al., 2004).

Os resultados das análises desenvolvidas em folha, casca e caule de S. adstringens evidenciaram que a folha apresenta maior teor de compostos fenólicos seguidos da casca e caule. Os valores encontrados demonstram que as folhas podem ser usadas como matéria prima para extração de compostos fenólicos principalmente, os flavonoides e taninos. (MACEDO, 2008).

A produção de taninos está ligada a fatores ambientais, tais como escassez ou excesso de água. As cascas coletadas na estação úmida devem ser preferíveis para usos medicinais, pois o conteúdo de compostos ativos é maior nesse período. Há um aumento no metabolismo primário do barbatimão, como novas folhas e flores. O clima úmido e quente também aumenta a proliferação de insetos e microrganismos patogênicos, o que significa a necessidade de um maior nível de defesa endógena (SANTOS, 2006).

“As espécies Stryphnodendron são notáveis pela produção de flavonóides glicolisados nas folhas”. Oliveira (2007 apud, SANTOS et al. 2002). É importante a presença de saponinas para os efeitos medicinais do barbatimão, por esta ser capaz de romper a membrana celular dos micro-organismos. Oliveira (2007 apud, TAIZ & ZEIGER, 1991). O resultado positivo para cumarinas nas folhas de S. adstringens contribui com o registro de uma afinidade química com outras famílias. Oliveira (2007 apud, RIBEIRO & KAPLAN, 2002). As cumarinas podem ser antioxidantes como os flavonóides, pois são capazes de quelar íons de ferro e evitar peroxidação lipídica. Oliveira (2007 apud, MARTIN et al, 1996).

A detecção de alcaloides e a maioria dos testes para revelar esteroides e de triterpenóides produziram resultados negativos nas folhas de S. adstringens, assim como, o teste para derivados antraquinônicos obteve resultado negativo, mas observou-se resultado positivo para resinas. De maneira geral as resinas são produtos complexos do metabolismo secundário e estão envolvidos na regulação do balanço hídrico e na proteção contra patógenos. Oliveira (2007 apud, TAIZ & ZEIGER, 1991).

A amostra dessecada das folhas de S. adstringens apresentou 7,5% de quantidade de água, estando dentro dos padrões considerados normais pela Farmacopéia Brasileira. A presença de quantidade excessiva de água em drogas vegetais propicia o desenvolvimento de fungos, bactérias, insetos e hidrólise (deterioração de proteínas) de constituintes da droga. Daí a necessidade do estabelecimento de limites de umidade para drogas vegetais, em geral, na faixa de 8 a 14%. Oliveira (2007 apud, FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988).

Estudos mostram que a fração de acetona obtida a partir de extrato bruto de cascas de S. adstringens tem atividade antiinflamatória potente. É evidente como adjuvante na artrite em ratos, um modelo inflamatório crônico que compartilha certas características com artrite reumatóide em humanos. Lima (1998 apud, GOURET et al, 1976). Fração de acetona de S. adstringens demonstrou a presença de muitas substâncias, como taninos, chalcones e compostos triterpenóides que têm também ação antinflamatória. (LIMA et all, 1998).

Investigado o potencial antifúngico de um extrato, frações e subfrações obtidas de S. adstringens em Cândida spp. Concluiu-se que purificação do extrato bruto mostrou que a atividade antifúngica da fração aquosa era maior do que a fração de acetato de etilo, assim como, possuiu baixa toxicidade às células humanas. Esta fração da casca do barbatimão interferiu no crescimento e expressão de fatores de virulência da levedura, mostrando ação similar a Nistatina, entretanto foi menos eficaz que o Fluconazol, que são antifúngicos comerciais usados frequentemente contra candidíase. (ISHIDA, 2006).

5.3.3. ​​​​​​​O barbatimão como auxiliar no tratamento de infecções oportunistas

É importante que junto ao tratamento para dores generalizadas, acompanhadas de candidíase na forma de infecção urinária, seja adequada a dieta alimentar, que deve ser pobre em carboidratos simples, considerando que a glicose pode agravar o processo inflamatório e provocar recidiva da infecção por Cândida albicans, associada ao uso do extrato de Stryphnodendron adstringens, por possuir a possibilidade de ser usada como recurso terapêutico eficaz.

Experimentos com frações ricas em S. adstringens inibiram com sucesso o crescimento da Cândida albicans, o que representa um novo potencial para o tratamento de candidíase utilizando uma prática alternativa e complementar como a fitoterapia. Dantas (2013 apud, GLEHN et al., 2012). No entanto, seu uso é contraindicado, em mulheres gestantes. As sementes do barbatimão (Stryphnodendron polyphyllum) foram testadas em ratas grávidas na qual se encontrou diminuição do peso dos ovários e do peso e medidas dos corpos lúteos gravídicos das ratas. A partir de então, acredita-se que o efeito do barbatimão ocorra através de alterações da zona basal da placenta, acarretando a morte embrionária e atrofia do corpo lúteo Dantas (2013 apud, VITRAL et al. 2007).

Ferreira (2013 apud, ISHIDA ET al., 2006) sugere à ação antifúngica do Stryphnodendron adstringens, a partir de pesquisas de comparação, usando medicamentos de referência específicos para tratamento de infecções por fungos e extrato do barbatimão, observando-se uma atividade satisfatória da planta no que diz respeito aos fatores de crescimento e virulência, além de apresentar baixa toxicidade às células infectadas pela C. albicans, podendo ser usada em substituição ao medicamento convencional usado para candidíase. “Por meio dos estudos etnobotânicos e da confirmação de sua eficácia terapêutica, a espécie foi inserida na lista da Relação Nacional de Plantas Medicinais Interesse ao SUS” (RENISUS) “junto às espécies vegetais com potencial medicinal de interesse ao SUS”. Dantas (2013 apud, MEIRA et al., 2013).

Rebecca et al. (2002) estudaram a farmacologia preliminar do barbatimão e observaram que o extrato aquoso da casca tem significativo efeito cicatrizante sobre feridas. Os mesmos autores demonstraram que o extrato aquoso do barbatimão possui atividade antinflamatória, analgésica e uma atividade protetora da mucosa gástrica.

Destaca-se que a tintura de S. adstringens apresentou atividade antifúngica apenas para espécie Cândida albicans, sem potencial terapêutico para as demais espécies do gênero Cândida. (CAVALCANTI et al, 2010).

Pesquisas mostram que para a tintura de S. adstringens, na concentração de 20%, há a formação de halos médios de inibição de 17,8 mm sobre a C. albicans, comparados aos extratos aquosos e alcoólicos na concentração de 10%, que obtiveram halos maiores de inibição. Assim, deve-se considerar a eficácia do barbatimão sob diversos veículos e concentrações, sobre amostras laboratoriais de Cândida. Cavalcanti (2010 apud, SANTOS et al, 2009).

Luiz e colaboradores (2015) também demonstraram por ensaio de micro diluição a ação antifúngica do extrato de Stryphnodendron adstringens frente a C. albicans, assim como a sua ação inibitória sobre a formação de biofilme produzida pela levedura. Neste estudo, os autores identificaram, a partir da casca do caule de Stryphnodendron adstringens, frações que continham proantocianidinas, taninos poliméricos. Estas frações apresentaram atividade candidicida e foram capazes de inibir a formação de biofilme de C. albicans, com ação similar aos antifúngicos convencionais, como anfotericina e fluconazol, mostrando assim seu potencial terapêutico em candidíase.

Para a atividade antibacteriana o extrato hidroalcoólico de barbatimão apresentou ação eficaz para as cepas Streptococcus mitis e Lactobacillus casei. Acredita-se que o extrato hidroalcoólico bruto do barbatimão pode ter potencial antibacteriano para uso na prevenção da cárie dentária. (SOARES, 2008).

Thomazi, Bertolin e Pinto (2010) testaram a atividade antibacteriana da casca e da folha de S. adstringens, verificando que a casca teve maior ação antimicrobiana frente às seguintes bactérias: Proteus mirabilis, Staphylococcus epidermidis, Enterobacter sp, Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus aureus, Staphylococcus sp., Escherichia coli, BGN-NF, Citrobacter sp., Enterobacter aggomerans, Pseudomonas aeroginosa, Klebsiella oxytoca.

A atividade antigenotóxica de extratos de folhas de Stryphnodendron adstringens e o potencial antioxidante dos extratos in vitro apresentam teor alto de compostos fenólicos, flavonoides e proantocianidinas e todos com ação antioxidante, confirmando os ótimos efeitos do barbatimão como agente anticancerígeno. Ferreira (2013 apud, SANTOS-FILHO, FERREIRA E GOUVEIA, 2011).

A casca de S. adstringens apresenta atividade antibacteriana contra todas as espécies de Staphylococcus testadas. Estas espécies estão presentes na pele e membranas mucosas dos seres humanos. São patógenos importantes e causam amplo espectro de doenças, desde infecção urinária até doenças da pele, dos tecidos moles, ossos e infecções oportunistas. Thomazi (2010 apud, MURRAY et al, 2006).

Outro estudo realizado por Ishida, Nakamura e Rozental (2009), mostrou a atividade antifúngica dos taninos obtidos do Stryphnodendron adstringens em relação ao crescimento, pigmentação e tamanho da cápsula do Criptococcus neoformans, e constataram que os taninos também foram capazes de interferir na expressão de fatores de virulência do C. neoformans, levando ao desequilíbrio da homeostase celular, inibição da fermentação, crescimento, pigmentação e formação; e tamanho da cápsula polissacarídica do fungo, podendo ser considerado um Cândidato a novos agentes antifúngicos.

De acordo com Lopes et al. (2009) as propriedades do barbatimão dividem-se em: antibacteriana (23,53%), antifúngica (29,41%) e antiofídica (11,76%), sendo estas propriedades encontradas em 66,66% na casca do caule e 33,33% nas folhas.

5.3.4. Toxicidade do Barbatimão (S. adstrigens)

Os produtos fabricados a partir de plantas medicinais possuem diferentes compostos naturais procedentes do metabolismo primário e secundário do vegetal, que são responsáveis pelas propriedades terapêuticas (ALMEIDA et al., 2010).

Devem-se considerar os efeitos colaterais do uso da planta pelos seus constituintes, assim como os riscos pela manipulação inadequada da espécie vegetal. Embora seja frequente o uso de fitoterápicos pela população, são poucos os estudos encontrados de toxicidade do barbatimão.

O principal constituinte químico do barbatimão são os taninos. Devido à habilidade de ligar-se às proteínas e outras macromoléculas, por sua adstringência, os taninos também apresentam atividades tóxicas. Outro mecanismo de toxicidade é o fato desses, complexarem-se com facilidade a íons metálicos. Sistemas biológicos, incluindo micro-organismos, necessitam de íons metálicos como cofatores enzimáticos. Um exemplo dessa toxicidade são ratos quando tratados com bebidas ricas em compostos fenólicos tiveram redução da absorção de ferro. Ferreira (2013 apud, SCALBERT, 1991 apud MONTEIRO; DE ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005).

Por meio da determinação da dose letal 50% (DL50), 0,31mg/ml do extrato hidroalcoólico das folhas de barbatimão foram suficientes para causar a morte de camundongos quando administrado por via intraperitoneal. Após cerca de cinco minutos, os animais apresentaram paresia posterior, angustia respiratória, palidez, prostração, cianose e morte. (ALMEIDA et al, 2010).

O extrato liofilizado da casca de barbatimão administrado por via oral em camundongos possui baixa toxicidade. Doses de até 2000 mg/kg não foram capazes de provocar sinais de toxicidade e morte, porém, a partir de 2699mg/kg os animais apresentaram hipoatividade e morte. Outro achado importante foi o menor ganho de peso dos animais que receberam o extrato da casca do barbatimão em doses superiores a 800mg/kg, fator determinado pela interferência na absorção de proteínas (REBECCA et al., 2002).

Lima (1998) realizou estudos em animais para avaliar a ação tóxica do barbatimão e verificou que os resultados dos testes farmacológicos sugerem que, de acordo com a dose, o extrato da casca possui substâncias capazes de afetar o Sistema Nervoso Central, o Sistema Respiratório e o Trato Gastrointestinal.

A avaliação da segurança da fração de polímero rico em proantocianidinas obtida da casca do caule de Stryphnodendron adstringens (barbatimão) para utilização como um agente farmacológico indicou que fração do polímero rico em proantocianidina (F2) obtido a partir de casca do caule de S. adstringens não tem atividade genotóxica. Assim, o uso de F2 parece ser seguro a respeito da genotoxicidade, e esta fração tem potencial como um agente farmacológico, principalmente de tratamento antifúngico Ferreira (2013 apud COSTA et al., 2010).

Portanto, deve-se fazer o uso do decocto ou tintura, com segurança, sendo contraindicado para grávidas ou lactantes, e utilizada por no máximo 10 dias, devendo descansar por um período igual se for continuar o tratamento com o vegetal, usá-lo por mais um período de 10 dias.

6. CONCLUSÃO

A utilização de produtos naturais, derivados de plantas, como alternativa terapêutica para o tratamento de diversas doenças é importante assunto para discutir e pesquisar, já que várias comunidades no Brasil usam plantas medicinais, e na maioria das vezes, só possuem estas disponíveis.

O exame da literatura dos últimos 20 anos mostrou um avanço nos estudos da planta Barbatimão (S. adstringens), com o uso popular para diversas patologias. Hoje as análises dos resultados de diversas pesquisas proporcionam segurança em substituir medicamentos sintéticos com ação antifúngica pela planta em estudo, já que os sintéticos apresentam limitações terapêuticas, efeitos colaterais importantes e provocam com o tempo de uso, resistência do micro-organismo ao remédio.

A Candidíase vulvovaginal é uma patologia ginecológica frequente causada pela Levedura Cândida albicans, estimando-se que a maioria das mulheres apresentará ao menos um episódio da infecção no decorrer de sua vida. Os tratamentos normalmente se limitam a prescrição de dois grupos de antifúngicos: os poliênicos, e os derivados azólicos, ambos apresentando toxicidade e nem sempre resultado eficaz.

A planta Stryphnodendron adstringens conhecida como “Barbatimão”, que foi o objeto de estudo desta revisão bibliográfica, é uma importante planta medicinal, com propriedades medicinais comprovadas, possuindo em sua casca em suas folhas, substâncias ativas como taninos condensados que em doses consideradas seguras, inibiram com sucesso o crescimento da Cândida albicans, o que representa um novo potencial para o tratamento de candidíase utilizando uma prática alternativa e complementar como a fitoterapia, podendo perfeitamente substituir os antifúngicos sintéticos tradicionais, evitando assim efeitos colaterais, que somados aos existentes em função do uso de antibióticos e/ou antiinflamatórios corticoides, podem comprometer a qualidade de vida de mulheres em idade fértil.

Outras pesquisas demonstram que o barbatimão tem significativo efeito cicatrizante sobre feridas, além de possuir atividade anti-inflamatória, analgésica, antimicrobiana, antiparasitária, além da ação sobre enzimas de veneno de serpentes, assim como, atividade protetora da mucosa gástrica.

É de suma importância que se busque alternativas terapêuticas mais viáveis para a população, que a comunidade médica passe a prescrever fitoterápicos, assim como, instruam seus pacientes ao uso seguro das plantas de uso popular, escolhendo-as a partir da existência de estudos científicos sérios, que comprovem suas eficácias, ou mesmo a existência ou não de toxicidade aguda ou crônica e os seus efeitos colaterais. Existem diversos trabalhos sobre o uso da planta barbatimão que podem nortear o seu uso de forma racional e segura para algumas patologias, inclusive do trato geniturinário em mulheres.

Ressalta-se que é importante considerar os efeitos colaterais do uso da planta pelos seus constituintes, assim como os riscos pela manipulação inadequada da espécie vegetal. Embora seja frequente o uso de fitoterápicos pela população, não são conclusivos os resultados encontrados de toxicidade do barbatimão. Portanto, deve-se fazer uso de forma segura para alcançar os resultados esperados e evitar as reações adversas.

Nesta Perspectiva, mesmo que as pesquisas apontem para o uso racional seguro das diversas formas de uso do barbatimão é preciso estudos mais aprofundados em humanos que comprovem realmente a existência dos efeitos tóxicos ou não, a longo prazo no organismo humano, assim como, os demais efeitos atribuídos a esta planta, porque além de ajudar as pessoas a utilizarem de forma correta, podem fornecer material promissor para estudos sobre o desenvolvimento de drogas antifúngicas e com demais ações terapêuticas.

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Publicado por: ELISABETH CRISTINA CORREIA MELLO

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