As questões ambientais e o Ensino da Biologia

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1. RESUMO

Observa-se, nos dias atuais, inúmeras mudanças sociais, éticas e morais. Essas mudanças nos levam a repensar a família, o seu lugar, o seu papel e a sua importância na sociedade contemporânea, bem como os reflexos na educação. Pode-se dizer que os valores e as regras que regem o mundo alteram-se num ritmo acelerado e a escola não conseguiu ainda entender esta evolução tão rápida. Estes fatos refletem diretamente na sociedade, mais especificamente na escola e seus professores. À medida que a família e escola sofrem mútua interferência a qualidade do ensino oscila. Este estudo pretende verificar como as novas configurações familiares podem influenciar a escola, mais especificamente as questões ambientais e o ensino da Biologia.

Palavras-chave: Biologia, Educação, Famílias.

2. INTRODUÇÃO

A Escola, como qualquer outra instituição social, desenvolve e reproduz sua própria cultura. As famílias, os educadores e o sistema de ensino condicionam a qualidade de ensino e reforçam a vigência de valores, de expectativas e de crenças. Os professores afirmam que hoje, a realidade da escola é outra, porque hoje os alunos são outros, ou seja, novos valores e características com as quais os professores ainda não sabem bem como lidar.

Além disto, a escola vem se tornando uma necessidade da população, isto em conseqüência das transformações sócio-econômicas que a sociedade vem sofrendo, com as alterações nos modos de relações entre os indivíduos, além de mudanças no exercício das funções, em especial aquelas realizadas pelas mulheres. Essas passam, cada vez mais, a trabalhar fora de casa, motivadas pela necessidade de contribuir com a sobrevivência da família, ou pelo desejo de realização profissional, entre outros.

A migração em larga escala de populações rurais para centros urbanos industrializados, a diminuição no número de elementos da família, a quebra na rede de apoio familiar e de vizinhança e um distanciamento físico e psicológico entre os diferentes membros (irmãos, tios, avós) levam à procura de soluções para os cuidados da criança, complementares à mãe, fora do espaço familiar. Mesmo as mulheres que não trabalham fora têm procurado um espaço de socialização para as crianças, já que hoje contam com poucos recursos no espaço doméstico.

Nesse contexto, duas questões mostram-se especialmente relevantes e conflitantes: a função da família na educação e a qualidade dos serviços educacionais das escolas. Ensinar não é tarefa fácil. Isso está bem claro nos dias de hoje. Os educadores das escolas, além de especialistas em tarefas (aqueles que conduzem o ensino-aprendizagem dos alunos em sala de aula no que se refere a conteúdos e trabalhos a eles relativos), e isso juntamente com diretores, coordenadores pedagógicos, psicopedagogos e outros, precisam ser especialistas sócio-emocionais, o que significa saber trabalhar conflitos dentro e fora da sala de aula.

Verificamos que a família conjugal moderna, sacramentada pelo casamento civil e religioso, é composta por pai, mãe e filhos mudou. Cada um tinha um papel bem definido: o pai, considerado o provedor; a mãe, a cuidadora da casa, do bem-estar do marido e dos filhos e os filhos, inseridos neste contexto inquestionável, espelham-se nos pais como único modelo a ser seguido. Qualquer diferença à regra era considerada uma ameaça à ordem e à moralidade estabelecida pelos rígidos padrões, gerando desequilíbrio, preconceito e segregação.

Diferentemente daqueles tempos, observamos, nos dias atuais, inúmeras mudanças sociais, éticas e morais. Essas mudanças nos levam a repensar a família, o seu lugar, o seu papel e a sua importância na sociedade contemporânea, bem como os reflexos na educação. Pode-se dizer que os valores e as regras que regem o mundo alteram-se num ritmo acelerado e a escola não conseguiu ainda entender esta evolução tão rápida.

Estes fatos refletem diretamente na sociedade, mais especificamente na escola e seus professores. À medida que a família e escola sofrem mútua interferência a qualidade do ensino oscila. Este estudo pretende verificar como as novas configurações familiares podem influenciar a escola, mais especificamente as questões ambientais e o ensino da Biologia.

3. Famílias

Se a família, tradicionalmente, é capaz de proporcionar apoio e proteção aos seus membros, porque lhes garante segurança e estabilidade, com as novas estruturas familiares, torna-se cada vez mais difícil a adaptação das crianças e dos adolescentes. As novas estruturas, pela sua própria configuração, pelo seu caráter efêmero e, por isso mesmo, instável, dificultam a construção de valores, de crenças e de projetos de vida.

É inegável a importância de ambos os pais estarem juntos de seus filhos. Juntos, não no sentido da conjugalidade ou da família nos moldes tradicionais, mas no sentido de participar da vida dos filhos e cumprir a função básica da família, ou seja, definir sólidos e positivos pontos de referência, imprescindíveis ao bom desenvolvimento da criança e do adolescente. (MINUCHIN, 1979)

Podemos, contudo, indagar: de qual família estamos falando? A que família estamos nos referindo? Qual família buscamos? A família pode ser pensada sob diversos aspectos e sob os mais variados enfoques, a partir de diferentes referenciais acadêmicos. Ela pode ser vista como uma unidade doméstica, assegurando as condições materiais necessárias à sobrevivência de seus membros; uma instituição de referência e local de segurança; como formadora, divulgadora e contestadora de um vasto conjunto de valores, imagens e representações; um conjunto de laços de parentesco; ou, um grupo de afinidade, com variados graus de convivência e proximidade.

No entanto, seja qual for a definição ou o modelo de família que se pretende adotar, a tendência é a de considerar a figura dos pais como fundamental na vida dos filhos, embora nem sempre ambos estejam presentes. Pois, ao falarmos de pai ou de mãe, tanto no nível social quanto no individual, não estamos nos referindo apenas ao indivíduo que gera um filho, mas sim a uma função. (RAMIREZ, 1997)

A teoria da função materna nos ensina que a mãe (ou aquela que cuida) é a pessoa por meio da qual a criança inicia seu contato físico e emocional com o mundo. Trata-se, portanto, de uma pessoa com quem a criança mantém uma relação muito importante, considerada o alicerce para todas as outras relações que estabelecerá durante sua vida. Assim, o bom desenvolvimento e a saúde mental da criança dependem basicamente de fatores qualitativos e quantitativos da relação mãe/filho. (RAMIREZ, 1997)

Por sua vez, a função paterna atribuída, a princípio, ao pai, representa a oportunidade que o filho tem de conhecer novas relações, novos elementos do mundo. Se ao pai cabe garantir uma presença amorosa que dê sustentação para que a mãe cuide bem de seu filho, é ele também que, simbolicamente, vai tirando-o do colo materno, apresentando-lhe possibilidades de crescimento. Esse apoio afetivo e emocional alivia a ansiedade decorrente da separação mãe/filho. Desse modo, a função paterna serve para representar o outro que não a mãe, serve de ponte para a apresentação e aceitação da realidade pela criança. O pai, portanto, é o limite, a lei, a realidade. (HURSTEL, 1999)

Partimos do princípio que homem e mulher são filhos de um casal, ou seja, de uma mãe e de um pai, absorvendo as experiências vividas com ambos. Em suma, essas duas funções devem servir para acolher, transformar e significar as comunicações emocionais presentes, mas devem, também, desempenhar a lei e favorecer o crescimento e a criatividade dos filhos. A partir desse pressuposto, se, em todas as diferentes situações, só houver a função materna, o desenvolvimento do indivíduo ficará limitado.

Os diferentes papéis assumidos pela mulher, além dos de esposa e de mãe, trazem uma nova configuração da maternidade, o que, por sua vez, implica necessariamente uma nova configuração para o exercício da paternidade. Assim, o antigo padrão não mais responde às necessidades e às possibilidades da nova família. A mulher escolhe o companheiro, decide se ele vai ou não ser pai de seu filho, decide se o quer na convivência familiar. Ela se tornou, de alguma forma, pai e mãe na origem da criança. (RAMIREZ, 1997)

A nosso ver, isso pode levar a um desequilíbrio perigoso. Estamos testemunhando um momento de transição na história da humanidade. Se ontem pesava mais ou demais a autoridade do marido e do pai, hoje a balança pende para o outro lado, a mulher se adianta e dita às iniciativas. Ocorre então um desequilíbrio. O pai, a supremacia masculina na sociedade, está cada vez mais abalado nas suas bases. A tradicional família burguesa está deixando de se constituir como um modelo predominante. . (RAMIREZ, 1997)

A influência da ausência paterna durante o desenvolvimento de um filho é um tema novo e complexo. Examinar o impacto dessa ausência no amadurecimento psicológico, intelectual e comportamental de uma criança é tema que desperta especial interesse na atualidade, devido à modificação na estrutura familiar. Desse modo, estudar as novas configurações familiares, é de relevante interesse para a melhor compreensão das repercussões para a sociedade, mais especificamente para a escola pública. (HURSTEL, 1999)

4. Família: aspectos sociais e psicológicos

A família vem sofrendo mudanças importantes. O próprio conceito de família, tal qual a concebemos, data da idade moderna, sendo importante frisar que estamos falando da família ocidental moderna. Tal família é caracterizada pelo predomínio dos valores democráticos e igualitários, que tornam possível a idéia de igualdade e de direitos individuais de homens e de mulheres. A amplitude do conceito de família, no entanto, nos impele à busca de recortes que delimitem nossos horizontes, de modo a direcionar nossa discussão para as conseqüências da evolução da família, ressaltando o destino da figura paterna. (ROUDINESCO, 2003)

Na busca por definições de família, os estudiosos recorrem a critérios diferentes, como referência. Para Sarmento, uma família não se refere ao número de membros e à sua atividade predominante, mas sim ao tipo de vínculo de conveniência, de consangüinidade, de afinidade e de descendência. (ROUDINESCO, 2003)

Já na perspectiva sistêmica de Relvas, a família é um conjunto de pessoas que estabelecem entre si uma teia relacional. Nesse sentido, cada família possui um dinamismo próprio que lhe confere autonomia e individualidade. Para ele, a família integra as influências externas em combinação com forças internas, revelando uma capacidade auto-organizativa (RELVAS, 1996). Nesse enfoque, percebe-se um caráter mais recente na definição de família, que não leva em conta laços de consangüinidade ou descendência, mas a considera apenas “um conjunto de pessoas”, envolvidas por uma teia relacional. Essa visão retrata mais fidedignamente as famílias atuais.

Osório amplia ainda mais o conceito, ao apresentar outras variáveis envolvidas na definição, afirmando que a família é uma unidade grupal na qual se desenvolvem três tipos de relações pessoais: a aliança do casal, a filiação entre pais e filhos, e a consangüinidade entre os irmãos. Para ele, a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais, a família desenvolve, através dos tempos, funções diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais (RELVAS, 1996).

Complementando a linha de pensamento de Relvas, Minuchin afirma que a família não é considerada como uma estrutura fechada, mas sim como uma estrutura dinâmica, com padrões de interação circular, sujeitos a mudanças. O autor trata das relações que se estabelecem entre os membros da família a partir da formação dos vários subsistemas, que possuem regras e padrões de interação, os quais definem e caracterizam o relacionamento interpessoal entre os diferentes membros. Esses subsistemas são considerados como unidades sistêmicas/relacionais que exprimem as interações particulares, de acordo com os papéis desempenhados e as posições ocupadas. Podem-se considerar vários subsistemas: individual, parental, conjugal e fraternal (Minuchin, 1996).

Cornwell e Korteland (apud Relvas, 1996), considerando a interação e o funcionamento dos subsistemas familiares, enumeram três tipos de processos:

  • Coesão: relativamente aos laços afetivos e ao grau de autonomia no seio familiar, podendo variar entre extremamente alto ou extremamente baixo, o que se traduz respectivamente em famílias muito ligadas e com pouco nível de autonomia individual ou famílias com um baixo nível de ligação, famílias desligadas ou desagregadas (Sampaio apud Relvas, 1996, p.58);

  • Adaptabilidade: quanto à capacidade da família alterar os papéis de autonomia, as regras familiares e o estilo diante de situações de estresse; essa capacidade possibilita o ajustamento a alterações internas e externas, diferenciando-se as famílias que possuem um nível de adaptabilidade muito elevado, em que facilmente alteram as suas regras, ou aquelas denominadas famílias caóticas, ou famílias rígidas, que revelam um nível de adaptabilidade muito baixo, ou seja, muita resistência a alterar as suas regras em situações de estresse (Sampaio apud Relvas, 1996, p.58);

  • Comunicação: possibilidade de troca de informação entre os membros, processo central para construção de uma identidade própria. (Sampaio apud Relvas, 1996, p.58);

Em seus estudos, Relvas caracteriza a família como um organismo vivo sujeito a mudanças funcionais, estruturais e relacionais. Em vista disso, quando se tenta estudar uma família, mais importante do que estudar os elementos que a compõem é estudar a forma como eles se relacionam (Relvas, 1996).

Já para Pereira (Pereira apud Relvas, 1996), as mudanças sociais são refletidas diretamente nas características das famílias. O autor relaciona alguns fatores mutuamente influentes:

  • Queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos contraceptivos e de esterilização;

  • Tendência de envelhecimento populacional, gerando convivência entre as gerações;

  • Declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos vínculos matrimoniais constituídos, resultando no crescimento do número de pessoas vivendo sozinhas;

  • Aumento da taxa de coabitações, permitindo que as crianças recebam outros valores, menos tradicionais;

  • Aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa, principalmente por mulheres solteiras, que trabalham fora e têm menos tempo para cuidar da casa e dos filhos.

Para compreender como as famílias funcionam nas sociedades contemporâneas, é preciso estudar as interações e as relações entre os diferentes subsistemas familiares. É preciso também adotar como base um conceito de família que seja apropriado ao contexto histórico e sócio-cultural do qual essas famílias fazem parte. Devemos, então, adotar uma definição que englobe a pluralidade de formas familiares existentes em nossa cultura hoje, levando em conta as relações entre gerações coexistentes. Se a família se constitui numa representação, é também um grupo de convivência que se organiza de acordo com diferentes arranjos e se apresenta em distintas versões. Faz-se mister a evocação dos cenários que não apenas a marcam, mas que a compõem: a casa, a domesticidade, a intimidade e a escola.

Podemos identificar uma seqüência previsível de mudanças ou transformações na organização familiar, ao longo do ciclo vital da família. O modelo do sociólogo Duvall (apud Relvas, 1996) relaciona as transições, que ocorrem no ciclo vital, com as diferentes fases de desenvolvimento das crianças. Neste modelo, cada estádio é caracterizado por tarefas específicas:

  1. Casal sem filhos (estabelecimento de relação conjugal, preparação para a gravidez e para a parentalidade);

  2. Famílias com recém-nascidos (ajustamento à criança dependente);

  3. Famílias com crianças em idade pré-escolar (adaptação às necessidades e interesses da criança, no sentido de estimular e promover o desenvolvimento);

  4. Famílias com crianças em idade escolar (assunção de responsabilidades com as crianças em meio escolar e relacionamento com outras famílias na mesma fase);

  5. Famílias com filhos adolescentes (busca pelo equilíbrio entre a liberdade e a responsabilidade, partilha dessa tarefa com a comunidade, estabelecimento de interesses pós-parentais);

  6. Famílias com jovens adultos (permissão da separação e o ‘lançamento’ dos filhos ao exterior, com rituais e assistência adequada);

  7. Casal de meia-idade – ‘ninho vazio’ (reconstrução da relação do casal, redefinição das relações com as gerações mais velhas e mais novas);

  8. Envelhecimento (ajustamento à aposentadoria, aprender a lidar com o luto e a viver sozinho, adaptação ao envelhecimento).

A velha e tradicional família patriarcal, em uma visão social rigidamente estruturada, desapareceu, dando lugar à família moderna. Podemos descrevê-la pela ausência da figura poderosa de um pai, estando todos no mesmo plano, o que pode gerar grande confusão quanto às definições de papéis e ao exercício da autoridade. Essa situação evidencia importante problema referente às vicissitudes enfrentadas pela família em nossos tempos. Ainda que a rigidez patriarcal tenha sido superada, nem por isso a atual organização parece trazer menos problemas.

De acordo com pesquisas de Gomes Szymansk, realizada com famílias da periferia de São Paulo, as pessoas entrevistadas falavam da vida de sua família, como se a comparassem com alguma outra. Não a sua própria família, mas a outra parecia ser a certa, a boa, a desejável. Assim, ela define dois tipos de família:

  • Família pensada - na qual as relações interpessoais ocorrem de forma harmoniosa; os papéis são bem definidos e desempenhados; o pai é o provedor, a mãe só cuida de casa e dos filhos, e estes são comportados, obedientes e estudiosos;

  • Família vivida - na qual se encontra o concreto do cotidiano, que poderá estar ou não de acordo com a família pensada; vivendo a nostalgia de um modelo pensado e não realizado, gerando insatisfações e desencadeando vários problemas, essa família é considerada “desestruturada” ou incompleta, sendo responsabilizada por problemas emocionais, desvios de comportamento e pelo fracasso escolar da criança.

5. Modelos de famílias

De acordo com Roudinesco (2003), houve três grandes períodos na evolução da família. No primeiro, prevalece a família dita tradicional, cuja finalidade principal é a de garantir a transmissão de um patrimônio. Por isso, os casamentos são arranjados entre os pais, desconsiderando totalmente a preferência sexual e afetiva dos futuros esposos, unidos em idade precoce. A célula familiar está submetida a uma ordem imutável do mundo e à autoridade patriarcal, que substituiu a monarquia de direito divino.

No segundo período, a família moderna é orientada por uma lógica afetiva imposta no final do século XVIII e meados do XX. Baseada no amor romântico, a família moderna é formada pela reciprocidade dos sentimentos e dos desejos carnais dos cônjuges, que se unem pelo casamento. A divisão do trabalho entre os esposos é valorizada, mas a autoridade do pai é dividida, de um lado, com o Estado, também responsável pela educação dos filhos, e, de outro, com a mãe. A partir dos anos de 1960, no terceiro período, surge a família dita contemporânea ou pós-moderna, que une dois indivíduos em busca de relações íntimas ou realização sexual, ao longo de uma duração relativa. (Roudinesco, 2003)

Nesse cenário, a transmissão da autoridade vai se tornando indefinida e problemática, já que divórcios, separações e recomposições conjugais se diversificam e aumentam. Soma-se a isso a valorização de funções simbólicas, em detrimento de uma abordagem mais tradicionalista da família, centrada no estudo das origens míticas do poder paterno, do patriarcado ou do matriarcado. A família ocidental, na época moderna, deixou de ser o paradigma de um vigor divino ou do Estado, sendo cada vez mais dessacralizada, embora permaneça, paradoxalmente, como a instituição humana mais sólida da sociedade (Roudinesco, 2003)

Hoje, precisamos reconhecer que há vários modelos de famílias coexistindo, os papéis maternos e paternos são multidimensionais e complexos, e pais e mães podem desempenhar funções diferentes, em contextos culturais diferentes. Para compreender os modelos de família existentes, é preciso, sobretudo, estudar as interações e as relações desenvolvidas entre os diferentes subsistemas familiares, o contexto histórico, social e econômico, no qual as famílias estão inseridas, e a influência das famílias de diferentes contextos culturais do passado.

Edna Ponciano define a família brasileira, no período anterior à modernidade, como hierárquica, dizendo que:

a sociedade impõe tanto a homens quanto a mulheres papéis determinados, que devem ser seguidos sem nenhum acréscimo ou modificação pessoal. Os papéis são pré-definidos e imutáveis.” (Ponciano, 2006, p.15)

A autora caracteriza, ainda, o domínio do homem sobre a mulher e os filhos, típico do patriarcalismo, e demonstra o poder do pai, ao afirmar que a família não se restringe ao núcleo de pais e filhos, mas se estende a uma ampla comunidade, incluindo parentes variados, agregados, escravos e/ou serviçais (Ponciano, 2006).

Elizabeth Polity complementa as informações sobre o poder paterno:

A transmissão de autoridade passa, então, a ser feita do pai para o filho homem, em virtude de sua força física (para manter as conquistas) e da necessidade de uma educação diferenciada pelas classes sociais, o que não seria possível no coletivismo das sociedades matrilineares. Dessa forma, a função de transmitir a cultura e os valores da sociedade é, com freqüência, delegada ao pai. (Polity, 2004, p.11)

Cândido reforça a amplitude do poder paterno:

A autoridade paterna era praticamente ilimitada, pois os filhos permaneciam sujeitos ao pai e, enquanto este vivesse, continuavam a morar em sua casa ou em alguma propriedade sua. O sistema de parentesco era a forma pela qual os indivíduos se reconheciam no mundo – ser filho, parente, compadre ou escravo do senhor proprietário conferia os limites e possibilidades do indivíduo. O pai tinha a prerrogativa de todas as iniciativas econômicas, políticas e até mesmo jurídicas em relação à família e podia reagir com extrema violência a qualquer ameaça à honra doméstica. (Cândido apud Mendes, 2006, p.34)

A família patriarcal, então, evolui para a família afetiva, na qual a mulher obtém direitos de herança. Por sua vez, a família conjugal é assim definida:

A nova família conjugal é uma família íntima, que age e se movimenta dentro de delimitado espaço privado, sem criados, agregados e parentes em casa. (Mendes, 2006, p.55)

Há outros aspectos que diferenciam a família patriarcal da família conjugal. Na primeira, a comunidade subsiste concentrada na pessoa do pai; a família é um todo, em que as partes não têm sua individualidade reconhecida. Na segunda, cada membro tem sua individualidade respeitada e uma esfera de ação própria. A mulher e os filhos podem ter bens. Os direitos paternos são limitados e a lei prevê casos de perda do poder paterno.

Em comparação à família conjugal, Cândido demonstra o reflexo do poder paterno na família patriarcal, ao afirmar que esse modelo de família e sua ética dominante constituem a matriz que permeia todos os níveis da vida social. Tal modelo dominante estabelece paradigmas sociais que são cruciais para a sociedade como um todo. (Cândido apud Mendes, 2006)

O desenvolvimento da família moderna é acompanhado pela reformulação dos papéis do homem e da mulher no casamento, quais sejam: o homem, como responsável pela proteção material do filho, e a mulher, como responsável pela casa e iniciadora da educação infantil. O fato mais marcante dessa mudança é, inicialmente, a diminuição, seguida pela decadência, do papel do pai como líder do grupo. Nas regiões onde não há forte movimento de industrialização e imigração, o antigo sistema de valores resiste às mudanças e os padrões são apenas ligeiramente modificados. Não obstante, o modelo permanece subjacente ao sistema, como sinal de êxito e dominação. Ter uma família completa simboliza uma forma de superioridade social (Mendes, 2006).

Já as classes populares, em virtude de circunstâncias radicalmente diferentes, desenvolvem configurações específicas de família, que não seguem os padrões estabelecidos (Mendes, 2006). A diferenciação encontra-se pela presença de uniões conjugais precárias, dissolvendo-se e voltando a se refazer. A unidade mãe-pai-filho não é bem delimitada ou independente. A unidade familiar é porosa, permeada por outros grupos (de vizinhança, de parentes) com dinâmicas sociais próprias, muito diferentes daquelas apresentadas pelo modelo “moderno”.

Essa flexibilidade da unidade doméstica, sua abertura, existindo casas múltiplas no mesmo quintal, e as redes extensas de parentesco não deixam espaço para a intimidade entre o pai, a mãe e as crianças (Mendes, 2006). Como reflexo da família patriarcal, estão presentes os mesmos modelos de autoridade e os mesmos elementos característicos: o ideal do casamento romântico, o pai provedor, a mãe responsável pelo cuidado dos filhos. A conjuntura socioeconômica impede que tal ideal se concretize, mas ele continua hegemônico (Mendes, 2006).

Outro fato de destaque surge com a emancipação da mulher, a partir da qual as alterações familiares vão sendo feitas. Entre outras razões, porque a mulher passa a ter o poder sobre o seu próprio corpo e, portanto, sobre uma possível gravidez, tirando do homem a decisão quanto à procriação. O surgimento dos métodos anticoncepcionais oferece à mulher o direito ao prazer de desfrutar sua sexualidade.

A família começa a se confrontar e interagir com o aborto, a pílula, a inseminação artificial e o divórcio. O modelo de família conjugal (pai, mãe e filho) sofre alterações e novos arranjos, gerando modelos de família diversos, convivendo, entre eles, a família monoparental (mãe e filhos, ou pai e filhos), a família recomposta (mãe, padrasto e filhos do 1º casamento, convivendo na mesma casa com filhos do 2º casamento), homoparental (casais homossexuais que adotam um filho).

Ao passear pela descrição de tantos autores sobre a família, pensamos que as novas configurações familiares, apesar de estarem consolidadas e serem aceitas e reconhecidas pela sociedade, ainda não estão embasadas em alicerce próprio. Isso significa que elas adotam as características do modelo anterior de família, considerada obsoleta e portadora dos vícios da opressão patriarcal. Podemos supor que isso se deve a anos de influência da família patriarcal, sobre a qual estão fundamentadas as normas, os usos e os costumes, a legislação e outros parâmetros que regulam a vida em sociedade.

6. Novas configurações familiares, as questões ambientais e o ensino da Biologia.

A vida em sala de aula para o ensino de Biologia apresenta uma natureza social própria, pode-se considerar que a sala de aula de Biologia e o local de representação de uma diversidade de papéis sociais. Não se pode definir sala de aula de Biologia somente em cima de uma visão simplista que define uma sala de aula típica como um local, geralmente quadrado ou retangular, onde alunos e professores se encontram com a finalidade de ensinar e aprender Biologia. Geralmente os professores de Biologia encontram-se de pé e voltados na direção das crianças, que por sua vez se encontram sentados em carteiras distribuídas em fileiras ou em semicírculos. O número de alunos é sempre maior do que o de professores, o que não é um fator indicativo de poder de representação por parte destes jovens ou crianças. (ALMEIDA, 2001)

Esta visão superficial de sala de aula de Biologia de uma escola ilustra apenas o que é visível aos olhos dos que se interessa por este ambiente, não sendo suficiente para representar a verdadeira complexidade de sua natureza educacional do ensino da Biologia. Deve-se considerar a sala de aula como um ambiente de interação e aprendizagem, onde um misto de atividades ocorre simultaneamente. A visão superficial, entretanto, leva a uma falsa idéia de contextos pedagógicos, reduzidos pelo senso comum a uma incorreta banalidade, sendo generalizados e até mesmo padronizados. (ALMEIDA, 2001)

Mesmo que estas sala de aula de Biologia sejam freqüentadas por alunos da mesma idade, que possuam a mesma origem sócio-econômica e/ou lingüística, ou que tenham o mesmo professor, estas não são ambientes uniformes. A sala de aula de Biologia é uma comunidade particular, onde cada interação de professores e alunos é única e peculiar a um determinado contexto ou interação. Para que o ensino seja significativo deve ocorrer a interação entre o professor e o aluno. Se uma sala de aula de Biologia é tipicamente caracterizada pelo encontro entre um professor e um ou mais alunos, torna-se inviável a eliminação de qualquer um dos participantes da interação. A supressão de um dos elementos torna a fórmula “aula = professor de Biologia + aluno (s)” inaceitável, já que um evento aula não pode ser caracterizado como tal somente com a presença de um professor, sem se levar em conta a presença de alunos e vice-versa. (ALMEIDA, 2001)

A sala de aula de Biologia caracteriza-se por um misto de atividades e de identidades que coexistem e encontra-se em constante mudança, de acordo com os interesses e necessidades de diferentes naturezas, apontados pelos participantes da aula, bem como pelas necessidades advindas da aula como um fenômeno social. Assim sendo, não apenas atividades cognitivas desenvolvem-se neste contexto. As atividades cognitivas não podem caminhar sem a companhia da afetividade, nem serem construídas fora de um contexto social. Existe uma estreita relação de complementaridade entre o social, a afetividade e a inteligência, que convivem harmonicamente no contexto escolar. Deste modo, os aspectos sociais, afetivos e cognitivos atuam simultaneamente nas interações características do evento aula. Desse modo, é indispensável que o professor de Biologia (re)conheça as manifestações emocionais presentes em sua sala de aula e, a partir daí, conheça seus alunos não apenas nos aspectos social e cognitivo, mas também no emocional. (ALMEIDA, 2001)

Em relação ao processo educacional, por um longo tempo o processo de ensino e aprendizagem de Biologia foi visto como um processo individual. Tradicionalmente, a aprendizagem foi vista como tendo um início e um final demarcados, sendo separada do resto de nossas atividades. Entretanto, deve-se ver o processo de ensino e aprendizagem como mais uma atividade social na qual engaja-se enquanto agentes sociais de uma determinada comunidade.

Para Moita Lopes (2000, p.250) “a aprendizagem é um fenômeno social, no sentido que também é mediada pela interação entre participantes discursivos, atuando em conjunto na consecução de uma tarefa”. Desta forma, ensinar e aprender passam a ser atividades rotineiras, assim como dormir ou comer.

“O processo de ensinar e aprender Biologia pode ser visto como social pelo simples fato de sermos naturalmente seres sociais e pelo fato de a simples presença de outros participantes na prática de aprendizagem fazer com que demonstremos comportamentos diferentes daqueles que possuiríamos se estivéssemos sozinhos. (LOPES, 2000, p.251).

Enquanto agentes sociais inseridos em uma determinada comunidade, alunos e professores seguem normas sociais típicas deste contexto com o intuito de alcançar seu objetivo final: o aprendizado.

7. CONCLUSÃO

Verifica-se neste estudo que a interação em sala de aula, que em seu sentido amplo relaciona-se com qualquer troca de palavras entre pelo menos dois interlocutores, como entre professor de Biologia e o aluno ou aluno e aluno, possibilita assim a construção do conhecimento e, no caso do aprendizado é através dela que a sócio construção da linguagem pode ser atingida. Esta interação não deve restringir-se apenas a relações interpessoais entre alunos e professores em sala de aula de Biologia. Muito comumente podemos observar alunos e professores interagindo com as atividades propostas ou com o conteúdo apresentado, onde a partir de então negociam e/ou constroem seus conhecimentos. O professor de Biologia também leva para sala de aula seu discurso pessoal, enquanto agente social de uma determinada comunidade. Apesar de passarem desapercebidos e de não serem, geralmente, utilizados na prática pedagógica tradicional como possíveis formas de construção de conhecimento, os discursos pessoais docentes e discentes são igualmente produtivos para o processo pedagógico.

8. REFERÊNCIAS

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CUNHA, B. B., CARVALHO, L. F. Cuidar de crianças em creches: os conflitos e os desafios de uma profissão em construção. Caxambu, MG: 2002.

FORNEIRO, L. I. A organização dos espaços na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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OLIVEIRA, Z. M. Creches: crianças, faz de conta & cia. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

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Publicado por: Alexandre Ferreira de Oliveitra

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