Arborização viária - conceitos e propostas

índice

  1. 1. RESUMO
  2. 2. Introdução
  3. 3. A importância da vegetação em vias públicas
    1. 3.1 Melhoria microclimática
    2. 3.2 Diminuição da poluição atmosférica
    3. 3.3 Melhoria estética das cidades
    4. 3.4 Ação das árvores sobre a saúde humana
    5. 3.5 Ganhos sociais e econômicos
  4. 4. Planejando a arborização viária
    1. 4.1 A arborização de vias e sua inserção nas políticas públicas
    2. 4.2 A inter-relação de fatores
    3. 4.3 O espaço físico disponível
  5. 5. As redes elétricas aéreas e subterrâneas
    1. 5.1 Rede elétrica aérea convencional
    2. 5.2 Rede elétrica aérea compacta
    3. 5.3 Rede elétrica subterrânea
  6. 6. Poda
    1. 6.1 Por que podar?
    2. 6.2 Princípios gerais
    3. 6.3 Tipos de poda
      1. 6.3.1 Tipos de podas de manutenção
      2. 6.3.2 Técnicas de corte para poda de manutenção para livrar a rede elétrica aérea
    4. 6.4 Ferramentas, equipamentos acessórios e equipamentos de segurança
    5. 6.5 Critérios
  7. 7. Avaliando a arborização
    1. 7.1 Tipos de inventário
    2. 7.2 Dados a serem coletados
    3. 7.3 Processamento de dados: uso de softwares para inventário e processamento da arborização de vias públicas
      1. 7.3.1 Microsoft Excel®
      2. 7.3.2 Microsoft Access®
      3. 7.3.3 Arbor et Salus
      4. 7.3.4 City Trees! Lite®
    4. 7.4 Apresentação e análise dos dados inventariados
  8. 8. A arborização atual nas cidades de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro
    1. 8.1 São Gonçalo
      1. 8.1.1 Antonina
      2. 8.1.2 Paraíso
    2. 8.2 Niterói
    3. 8.3 Rio de Janeiro
      1. 8.3.1 Centro
      2. 8.3.2 Copacabana
      3. 8.3.3 Maracanã
      4. 8.3.4 Méier
      5. 8.3.5 Tijuca
  9. 9. Propostas para um manual técnico de arborização viária para as cidades de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro
    1. 9.1 Parâmetros para arborizar as calçadas
      1. 9.1.1 Largura da calçada
      2. 9.1.2 Covas de plantio
      3. 9.1.3 Mudas
      4. 9.1.4 Sistema radicular
      5. 9.1.5 Altura total do tronco e da sua primeira bifurcação
      6. 9.1.6 Material genético das mudas
      7. 9.1.7 Espaçamentos entre as árvores
      8. 9.1.8 Disposições do plantio
    2. 9.2 A escolha das espécies
      1. 9.2.1 Aspectos a serem considerados
      2. 9.2.2 Espécies passíveis de plantio na rede viária
  10. 10. Referências Bibliográficas
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1. RESUMO

O presente trabalho aborda, baseado em diversos autores, itens referentes à arborização viária, esclarecendo ao leitor de seus benefícios, custos e entraves. Além disso, os capítulos finais são destinados a apresentar a atual arborização presente nas vias de alguns bairros das cidades fluminenses de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro e a fazer propostas para um manual técnico de arborização desses lugares.

Palavras-chave: Arborização Viária; Manual Técnico; São Gonçalo; Niterói; Rio de Janeiro.

ABSTRACT

This paper addresses, based on various authors, items related to street tree program, clarifying the reader of its benefits, costs and barriers. Moreover, the final chapters are intended to present the current tree program pathways present in some neighborhoods of the cities Sao Goncalo, Niterói and Rio de Janeiro in the State of Rio de Janeiro and make proposals for a technical manual arborization of these places.

Key-words: Street Arborization; Technical Manual; Sao Goncalo; Niterói; Rio de Janeiro.

2. Introdução

Para ROTERMUND et al. (2012), as árvores numa cidade trazem diversos benefícios: o melhoramento climático, a redução da poluição atmosférica, o controle de enchentes, a valoração social e econômica em comparação aos espaços não arborizados e a contribuição para a redução da violência de uma localidade. BOBROWSKY e BIONDI (2012) acrescentam a esses benefícios a colaboração com a saúde psicológica e comunitária dos habitantes urbanos e a utilização na arquitetura e estética paisagística.

Segundo a SVMA (2005), a gestão pública dispõe de vários meios técnicos para propiciar uma melhor qualidade de vida aliada à conservação ambiental, sendo que, dentre estes meios, está o planejamento, a implantação e a manutenção da arborização urbana.

Todavia, de acordo com GUZZO (s.d.), muitos são os problemas causados no confronto de árvores inadequadas com equipamentos urbanos, como fiações elétricas, encanamentos, calhas, calçamentos, muros, postes de iluminação etc. Estes problemas facilmante identificados provocam, na maioria das vezes, um manejo inadequado e prejudicial às árvores. É comum vermos árvores podadas drasticamente e com muitos agravos fitossanitários, como presença de cupins, brocas, outros tipos de patógenos, injúrias físicas como anelamentos, caules ocos e podres e galhos lascados.

Paralelamente a essa situação corriqueira nas cidades brasileiras, soma-se o fato da escassez de árvores ao longo das ruas e avenidas. Assim sendo, um manejo constante e adequado destinado especificamente para a arborização de ruas é de fundamental importância. Este manejo deve abranger as etapas relacionadas ao plantio, à condução de mudas, às podas e às extrações necessárias. E, para que seja posto em prática um sistema municipal que dê conta de toda demanda de serviços, é preciso considerar a necessidade de uma legislação municipal específica, medidas administrativas voltadas a estruturar o setor competente para execução dos trabalhos – focando, principalmente, em mão-de-obra qualificada e equipamentos apropriados – e o envolvimento com empresas que ajudem a sustentar financeiramente os projetos e ações idealizados e com a população em geral.

BOBROWSKY e BIONDI (2012) consideram que, na esfera do macroplanejamento urbano, a vegetação arbórea presente nas calçadas atua como eixo estruturador espacial. E o uso padronizado da arborização proporciona às cidades características próprias que ajudam no seu reconhecimento.

Segundo SILVA FILHO e BORTOLETO (2005) e SUCOMINE e SALES (2010), as iniciativas particulares de plantios na arborização de ruas geram um aspecto irregular da mesma, uma vez que são introduzidas espécies diferentes e por vezes inadequadas e potencializadoras de problemas e prejuízos. Um dos motivos deste acontecimento é a falta de planejamento e gestão ambiental pública.

Para a SMA (2008), o conceito de arborização urbana compreende toda cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades ocupando áreas livres públicas e coletivas, as áreas livres privadas e acompanhando o sistema viário.

Este trabalho abordará especificamente a arborização urbana que acompanha ruas e avenidas, ou seja, a arborização viária. São as árvores encontradas ao longo de calçadas, nos canteiros centrais e nas rotatórias das vias.

Os capítulos finais são dedicados a estudar fotos de exemplares arbóreos presentes nas vias das cidades de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro e a apresentar sugestões, baseadas em diversos autores e nas experiências de outros estados, para a elaboração de um manual técnico de arborização viária para os municípios fluminenses citados.

3. A importância da vegetação em vias públicas

De acordo com a COPEL (2009), os benefícios proporcionados pelas árvores são geralmente classificados como benefícios ecológicos, estéticos, econômicos e sociais. E, juntamente a estes, MILANO e DALCIN (2000) valorizam benefícios como o bem-estar, à significância histórica e cultural e os aspectos psicológicos da comunhão do ser humano com a natureza.

Para GUZZO (s.d.), algumas contribuições significativas na melhoria da qualidade do ambiente urbano são: purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases; melhoria do microclima da cidade; redução na velocidade do vento e; influência no balanço hídrico, favorecendo infiltração da água no solo e provocando evapo-transpiração mais lenta.

3.1. Melhoria microclimática

GREY e DENEKE (1978 apud MILANO e DALCIN, 2000) ressaltam que embora uma árvore sozinha não afete tanto sua vizinhança em termos climáticos, grupos de árvores ou mesmo muitas árvores espalhadas podem ser bastante eficientes na melhoria microclimática, contribuindo assim para a condição humana de conforto.

HEISLER (1974 apud MILANO e DALCIN, 2000) explica que as árvores, por intermédio de suas folhas, absorvem radiação solar, o que diminui a reflexão e proporciona sombra. A sensação de conforto à sombra deve-se ao fato de não haver aquecimento provocado pela radiação solar direta. Neste sentido, SCHUBERT (1979 apud MILANO e DALCIN, 2000) lembra que a contribuição das árvores como protetoras é grande: as árvores e outros vegetais interceptam, refletem, absorvem e transmitem radiação solar, melhorando a temperatura do ar no ambiente urbano. No entanto, a eficiência do processo depende das características da espécie utilizada, tais como forma e tamanho da folha, densidade foliar e tipo de ramificação.

A influência das árvores sobre a temperatura pode ser verificada pelo processo de evapotranspiração. Dados apresentados por LOMBARDO (1990), por exemplo, indicam diferenças térmicas de até 10º C entre áreas bem arborizadas na periferia rural e outras mal arborizadas no centro da cidade de São Paulo.

3.2. Diminuição da poluição atmosférica

As árvores no ambiente urbano, segundo SMITH e DOCHINGER (1976 apud MILANO e DALCIN, 2000), têm considerável potencial de remoção de partículas e gases poluentes da atmosfera. As folhas das árvores podem absorver gases poluentes e prender partículas sobre sua superfície, especialmente se forem pilosas (com pelos), cerosas ou espinhosas. No entanto, SCHUBERT (1979 apud MILANO e DALCIN, 2000) ressalta que a capacidade de retenção ou tolerância a poluentes varia entre espécies e mesmo entre indivíduos da mesma espécie. Segundo LAPOIX (1979), cortinas vegetais experimentais implantadas em plena cidade parecem capazes de diminuir em 10% o teor de poeira do ar.

BERNATZKY (1980 apud MILANO e DALCIN, 2000) e GREY e DENEKE (1978 apud MILANO e DALCIN, 2000) explanam que, a princípio, quatro diferentes processos de atenuação da poluição gasosa podem ser citados: filtragem ou absorção, oxigenação, diluição e oxidação.

É informado por LAPOIX (1979) que determinados vegetais têm grande capacidade de filtragem de compostos químicos como dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3) e flúor (F). GREY e DENEKE (1978 apud MILANO e DALCIN, 2000), por sua vez, acreditam que os vegetais cumprem um importante papel na redução da poluição do ar através de processos de oxigenação (introdução de oxigênio na atmosfera) e diluição (mistura do agente poluente com o ar fresco).

Em geral, os poluentes são absorvidos pelos estômatos (poros existentes na superfície das folhas que permitem as trocas gasosas entre a planta e o meio ambiente). Segundo BENNETT e HILL (1975), as células vegetais estão imersas em meio aquoso no qual os gases podem ser dissolvidos e, eventualmente, metabolizados e transportados para outras partes da planta. Além disso, as folhas, ramos e troncos filtram os particulados atmosféricos ao atuarem sobre a velocidade do vento e facilitarem a deposição de partículas. Então, através da renovação continuada das folhas e da lavagem pelas águas pluviais, as árvores se tornam auto-renováveis e excelentes absorvedoras da poluição do ar.

Paralelamente à absorção atua a oxidação. Por exemplo, MANNING e FEDER (1980) verificaram que quando o SO2 é absorvido pelos estômatos, o gás é dissolvido em água, resultando na formação de dois compostos: o sulfeto de hidrogênio e o sulfito. Estes são fotooxidados a sulfato, um composto menos tóxico para a planta. É sugerido por RUGE (1972 apud MILANO e DALCIN, 2000) que, assim como o SO2, o CO e os óxidos de nitrogênio, em concentrações não letais, podem ser neutralizados por oxidação através do metabolismo das plantas.

Em todo caso, devem-se considerar as concentrações em que o poluente se encontra na atmosfera. Quanto a isto, SMITH (1974), baseado em extensa revisão da literatura, sugere três classes de relações para a interação entre a poluição e as árvores:

  1. Quando as concentrações de poluentes são baixas, as árvores desempenham um importante papel em sua retenção;

  2. Em concentrações moderadas, as árvores podem ser afetadas, ocorrendo, por exemplo, predisposição ao ataque de pragas e doenças e diminuição na absorção de nutrientes, na taxa fotossintética e na taxa de reprodução;

  3. Em altas concentrações, os poluentes induzem a aparição de sintomas agudos e pode sobrevir a morte do indivíduo arbóreo.

3.3. Melhoria estética das cidades

A equipe técnica da SMA (2008) afirma, quanto aos benefícios estéticos, que as árvores têm a capacidade de: adicionar cores ao cenário urbano com as flores, as folhas e os troncos; promover modelos de paisagens e identidade local, através de espécies; anular a monotonia de pavimentos e alvenaria; introduzir elementos naturais e linhas suaves orgânicas no meio urbano composto de materiais artificiais e de linhas geométricas; adicionar dinamismo à paisagem da cidade através dos aspectos de mudança de cor, queda e brotação das folhas, floração e frutificação.

De acordo com SCHROEDER e CANNON (1987 apud MILANO e DALCIN, 2000) as árvores viárias têm um poderoso impacto sobre como as pessoas julgam a qualidade das áreas residenciais, contribuindo consideravelmente para a qualidade visual das vias.

SCHUBERT (1979 apud MILANO e DALCIN, 2000), REETHOF e HEISLER (1976 apud MILANO e DALCIN, 2000) destacam a importância da atuação arbórea na proteção contra visibilidade de cenas desagradáveis, fornecendo proteção contra luzes noturnas incômodas e ainda podendo proporcionar privacidade.

E NELSON (1976 apud MILANO e DALCIN, 2000) indica haver concordância entre pessoas sobre a atratividade de cenas de ordem ambiental e as possibilidades e funções estéticas das árvores de acordo com suas qualidades físicas.

3.4. Ação das árvores sobre a saúde humana

Além da ação sobre o microclima e contra a poluição, as árvores são consideradas por sua ação antimicrobiana. LAPOIX (1979) cita o exemplo polêmico da Floresta de Fontainebleau (Paris, França) na qual foram medidos 50 germes/m3 de ar enquanto que numa grande loja parisiense foram medidos 4.000.000 germes/m3 de ar.

De acordo com BERNATZKY (1980 apud MILANO e DALCIN, 2000) e HOEHNE (1944), as árvores das cidades satisfazem as próprias necessidades estéticas das pessoas. Sendo que MILANO e DALCIN (2000) acreditam que a crescente exigência da sociedade por áreas verdes urbanas e campanhas ambiental-conservacionistas como um todo confirmam a atuação psicológica das árvores para o bem-estar do homem.

3.5. Ganhos sociais e econômicos

Como benefícios econômicos da arborização viária, GREY e DENEKE (1978 apud MILANO e DALCIN, 2000) e BALTAR et al. (2006) apontam a redução do consumo de energia destinada aos condicionadores de ar, proporcionada pela sombra das árvores no verão de países tropicais. E GOLD (1977 apud MILANO e DALCIN, 2000) e BARTEINSTEIN (1981 apud MILANO e DALCIN, 2000) indicam a valorização de áreas e imóveis pela presença de arborização, uma vez que observaram um aumento no valor das taxas de aluguel combinado com a diminuição da disponibilidade de imóveis numa rua comercial de Seattle, EUA, arborizada para preparação da Feira Mundial de 1962, ao contrário de ruas similares não arborizadas.

É lembrado pela SMA (2008) que as árvores encontradas nas rodovias são consideradas um patrimônio público e, enquanto a maioria dos bens públicos deprecia com o passar do tempo, o valor das árvores aumenta desde seu plantio até sua maturidade.

4. Planejando a arborização viária

MILANO (1991) defende que cada cidade apresenta particularidades, determinantes de condições especiais de distribuição e composição de vegetação urbana. MILANO e DALCIN (2000) mencionam a necessidade de caracterização da socioeconomia e cultura locais, considerando-se aspectos legais, uso e ocupação do solo e expectativas da população quanto às questões ambientais, para, então, se dar o devido encaminhamento ao plantio e ao manejo de árvores viárias.

4.1. A arborização de vias e sua inserção nas políticas públicas

MILANO (1996) explica que o planejamento da arborização viária, em princípio, não precisa ocorrer no mesmo contexto do planejamento urbano como um todo. Entretanto, são significativas as vantagens em termos de resultados possíveis, quando isso ocorre. Quando a arborização é planejada isoladamente, não se pode desconsiderar o planejamento urbano já existente e, muito menos, o conjunto de normas específicas nesse sentido. Daí uma estreita relação entre quaisquer iniciativas de arborização e “políticas urbanas” e “legislações municipais” existentes. Inserem-se nesse contexto considerações abrangentes sobre planos diretores urbanos, seus zoneamentos e diretrizes, códigos de obras e posturas municipais, bem como leis e normas específicas relativas ao ambiente e à arborização urbana.

De acordo com MILANO (1991), um plano, para sua eficácia, requer que seja tratado no conjunto de suas etapas: o planejamento em si; a implantação ou proteção da arborização existente e; a gestão e manejo dessa arborização. Esta última fase é a mais difícil e onerosa de todas, dado o caráter de perpetuidade que apresenta.

4.2. A inter-relação de fatores

MILANO e DALCIN (2000) consideram que, de um modo geral, o processo de planejamento da arborização de ruas de uma cidade deverá, em quaisquer circunstâncias, considerar a inter-relação dos seguintes fatores básicos condicionantes: o ambiente urbano, o espaço físico disponível e as características das espécies arbóreas. CANDORIN e MELLO (2011) mencionam ainda o tipo de solo como um dos principais pontos influenciantes.

Por exemplo, alfeneiro (Ligustrum lucidum) e flamboyant (Delonix regia) são espécies conhecidas como “campeãs de agressão” ao pavimento de passeios, razão pela qual não são recomendadas ou são recomendadas com restrições de plantio. Todavia, não são seguidas recomendações de especialistas, como WYMAN (1972 apud MILANO e DALCIN, 2000), o qual defendia que deve ser deixado um espaço livre de pavimento de 6 m² para o crescimento das árvores urbanas. Pesquisas realizadas em Curitiba – PR por MILANO (1984), Maringá – PR por MILANO (1988), Apucarana – PR por FUPEF (1992), Vitória – ES por PMV (1992) e Cascavel – PR por COPEL (1994) indicam que plantios destas espécies realizados de maneira coerente a essa recomendação de área livre não apresentaram problemas de danos ao pavimento dos passeios ou, quando apresentaram, eles não foram significativos. Essas mesmas pesquisas indicaram que há correlação entra a redução de área livre e o aumento dos problemas nos pavimentos provocados pelas raízes. MILANO e DALCIN (2000) atribuem parte do problema ao nível de compactação dos solos urbanos, indicando que somente uma análise integrada, relacionando as características das espécies, o espaço disponível e as características do ambiente local, nesse caso o solo, seria capaz de apontar uma solução de planejamento adequada.

4.3. O espaço físico disponível

WYMAN (1972 apud MILANO e DALCIN, 2000) considera que um planejamento urbano adequado deveria prever, entre o meio-fio e as propriedades privadas, uma determinada faixa de área gramada, reservada para o plantio de árvores de ruas, e garantir que linhas de utilidade (luz, telefone, água e esgoto), acima ou abaixo da terra, não constituíssem obstrução aos plantios.

Também é lembrada por SOUZA (1973) a importância da adequação entre o porte das árvores e a largura de ruas e passeios.

A rede elétrica, na visão de MIRANDA (1970), é um problema contornável utilizando-se de espécies de pequeno porte e, consequentemente, evitando-se podas deformantes. Já MILANO (1988) sugere que as árvores de grande porte apresentem vantagens quando há espaço para que suas copas, uma vez ultrapassada a fiação, cresçam livremente.

5. As redes elétricas aéreas e subterrâneas

Para VELASCO et al. (2006), um dos primordiais desafios para a arborização viária de uma cidade é a disputa entre as árvores e as redes elétricas pelo espaço das calçadas.

Exemplo disso é que AES ELETROPAULO (2010) fez um levantamento de dados cujo resultado mostra que, no verão, mais da metade das interrupções de energia é ocasionada pela queda de árvores e galhos nos cabos, principalmente, devido às fortes chuvas. Em função do tamanho das árvores e do comprometimento das vias públicas, muitas vezes as equipes das companhias de energia elétrica precisam esperar vários procedimentos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros para começar a atuar para restabelecer a energia.

Nos subcapítulos a seguir serão abordados os tipos de redes de distribuição de energia elétrica e sua relação com a arborização viária.

5.1. Rede elétrica aérea convencional

Segundo SARDETO (1999), a rede convencional se caracteriza pelos cabos condutores nus, apoiados sobre isoladores de vidro ou porcelana, fixados horizontalmente sobre cruzetas de madeira, nos circuitos de média tensão e, verticalmente, nos circuitos de baixa tensão. Esse tipo de rede fica desprotegido contra interferências do meio ambiente, apresenta altas taxas de falhas e exige que sejam feitas podas drásticas nas árvores, visto que o simples contato do condutor nu com um galho de árvore pode provocar o desligamento de parte da rede.

VELASCO et al. (2006) lembram que o custo de poda, no caso da rede convencional, varia de acordo com a altura da árvore, se já atingiu a rede primária ou se está apenas interferindo na rede secundária. Pois na rede secundária, a poda pode ser feita com turmas de linha morta, isto é, com a rede desligada; já na rede primária, em geral, a poda é executada com turmas de linha viva, ou seja, com a rede ligada.

Na Figura 1 é apresentado um modelo de rede convencional.

FIGURA 1: Modelo de rede convencional (GOOGLE IMAGES, 2013)

5.2. Rede elétrica aérea compacta

De acordo SEGATTO (2008) e VELASCO et al. (2006), a rede compacta, também conhecida como rede protegida, foi desenvolvida pela empresa Hendrix W&C. Essa rede é composta por três condutores encapados, porém não isolados, apoiados em espaçadores ou em separadores, sustentados por um cabo mensageiro de aço e seus acessórios.

Segundo SEGATTO (2008), pelo fato de a rede compacta possuir os condutores cobertos de material polimérico, é mínima a possibilidade de corrente de fuga em caso de contato acidental dos condutores com objetos aterrados (árvores). ANGELIS et al. (2011) constatam que a qualidade no fornecimento de energia tende a melhorar em relação à rede elétrica aérea convencional, pois reduzem-se as interrupções sofridas nas redes por contato com os galhos.

VELASCO et al. (2006) argumentam que o custo de implantação da rede compacta é praticamente o mesmo que o da rede convencional e há uma redução de 80% no seu custo de manutenção quando comparado à rede convencional.

A Figura 2 exibe o conjunto base para a rede elétrica aérea compacta.

Figura 2: Conjunto principal formado por mensageiro, espaçador e cabo de força. (SEGATTO, 2008)

5.3. Rede elétrica subterrânea

Para BOCCUZZI et al. (1997), o sistema subterrâneo de distribuição de energia elétrica é mais complexo e mais oneroso, porém apresenta benefícios como: redução das interrupções no fornecimento causadas pela exposição dos circuitos aos agentes externos; redução da poluição visual, uma vez que são eliminados os fios aéreos; aumento da segurança para a população, com diminuição do risco de acidentes; redução dos custos de manutenção, como podas excessivas de árvores.

De acordo com a LIGHT (2001 apud VELASCO et al., 2006), os equipamentos básicos a serem utilizados são: cabo de 240 mm² de cobre (para rede de média tensão), cabo de 240 mm² de alumínio armado (para rede de baixa tensão), terminais de alta tensão (para cabo 95 mm² Al) e transformador pedestal de 300 kVA.

A Figura 3 apresenta uma visão panorâmica da cidade de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul, onde a maior parte da rede de distribuição de energia elétrica é subterrânea.

Figura 3: A cidade de Campo Grande – MS e seu sistema subterrâneo de distribuição energética. (GOOGLE IMAGES, 2013)

6. Poda

A poda de árvores é, para MILANO e DALCIN (2000), o método de manejo da arborização urbana de maior significado e importância e o resultado desta prática, aliado ao plantio, é o ponto máximo de interatividade com a população, o poder público e a mídia. O trabalho de poda é um facilitador para o relacionamento harmonioso da arborização com seu espaço, o que incrementa os resultados esperados, garante longevidade da arborização e corrige e/ou minimiza os efeitos de um planejamento inadequado.

Os conhecimentos das características das espécies mais utilizadas na arborização de ruas, das técnicas de poda e das ferramentas corretas para a execução da poda permitem que esta prática seja feita de forma a não danificar a árvore.

Mas, por outro lado, MILANO e DALCIN (2000) concluem que a poda é, hoje, o ponto fraco dos responsáveis pela arborização devido à prática de técnicas desatualizadas, por profissionais pouco ou nada capacitados, sem planejamento prévio e como solução imediatista para problemas de diferentes origens.

6.1. Por que podar?

Enquanto SOUZA (1973) e o DPJ (1977) preconizam a poda como uma maneira de dar forma à planta, seja visando solucionar uma forma estética preconcebida, seja visando solucionar problemas com a fiação aérea, MIRANDA (1970) admite apenas a realização de podas de limpeza, para a supressão de galhos secos, quebrados, supérfluos ou “ladrões” e considera quaisquer problemas com a fiação aérea como resultado de inadequada seleção de espécies. KIELBASO e KOELLING (1975 apud MILANO e DALCIN, 2000) observam, no entanto, que a poda pode ser feita com três finalidades:

  • Para melhorar a aparência, corrigindo malformações;

  • Como manutenção, retirando galhos secos, danificados ou doentes;

  • Como segurança, tirando galhos que estejam sobre a fiação elétrica e possam provocar prejuízos acidentais.

Além disso, o problema da poda em árvores viárias é tão significativo que, de acordo com ULRICH (1987 apud MILANO e DALCIN, 2000), as empresas de fornecimento de energia elétrica dos Estados Unidos gastam, anualmente, em torno de um bilhão de dólares para manter as árvores longe de seus cabos condutores e propiciar acesso e facilidades para manutenção, sendo que a maior parte desse custo anual refere-se a podas de abertura de espaço em árvores urbanas. Tanto para diminuir esses custos quanto para otimizar o trabalho de manutenção, geralmente condicionado a orçamentos reduzidos, JOHNSTONE (1983 apud MILANO e DALCIN, 2000) propõe a instituição de métodos de manejo como:

  • Estabelecimento de apropriada periodização da poda;

  • Poda de árvores pelo “método lateral”;

  • Remoção e/ou relocação de árvores problemas e;

  • Uso de reguladores de crescimento.

6.2. Princípios gerais

De acordo com MICHAU (1987 apud MILANO e DALCIN, 2000), alguns princípios fundamentais para a poda devem ser considerados:

  1. Não existem cortes naturais – todo corte provoca distúrbios no balanço fisiológico existente entre a parte aérea e as raízes;

  2. Todo corte é perigoso – quanto maior o número de cortes de poda, maior o número de lesões, todas funcionando como portas de entrada para organismos apodrecedores, especialmente fungos;

  3. Todas as podas inadequadas causam danos irreversíveis que podem tornar-se aparentes somente após alguns anos;

  4. É recomendável que as lesões resultantes da poda sejam mínimas – existem controvérsias quanto à necessidade e eficiência dos curativos e se as lesões devem ou não ser tratadas, mas atualmente vigora a ideia de que podas bem realizadas dispensam tratamentos curativos com impermeabilizantes.

  5. Cortes reduzem os benefícios derivados das árvores – a diminuição da copa reduz o processo metabólico essencial da folhagem da copa e também a forma e sombra das árvores;

  6. Poda é sempre uma atividade intensa – em cada caso é necessário considerar o quanto toda rotina de corte é importante e que economia de recursos ou redução de despesas pode ser realizada sem desrespeito aos padrões e normas;

  7. Podas insensatas enfraquecem a árvore: a poda não somente traz perigos à árvore, mas também a enfraquece, em grau dependente do número e extensão das lesões (a árvore é forçada a repor as partes removidas e, sem folhagem suficiente, não consegue produzir a assimilação necessária para o crescimento do calo cicatricial que fecha a ferida). Por outro lado, as condições estressantes do meio urbano (solos alterados, características da superfície, impermeabilização, poluição) deverão, necessariamente, ser consideradas antes de uma intervenção de poda, durante a qual as árvores não deverão apresentar deficiência alguma. As consequências de podas incorretas não podem ser eliminadas por podas posteriores. A poda é um método cabível somente quando as árvores estão vigorosas e não sofrem de deficiências nutricionais, sendo que a aplicação de quantias prescritas de fertilizantes deve ser feita anteriormente ou, no mais tardar, durante a atividade de poda, isso para evitar danos severos, especialmente pragas e doenças.

6.3. Tipos de poda

Distintos autores consideram diferentes tipos de poda que, basicamente, podem ser classificados, segundo sua finalidade, em: formação, adequação de porte, limpeza e regeneração de acordo com BALENSIEFER e WIECHETECK (1985); formação, limpeza e regeneração para CEMIG (s.d.) e; formação, manutenção e segurança segundo KIELBASO e KOELLING (1975 apud MILANO e DALCIN, 2000) e SEITZ (1990).

A SMA (2008) afirma que muitas espécies utilizadas na arborização urbana, quando plantadas em lugares abertos, tendem a desenvolver ramos laterais, formando sua copa a partir da base. A poda de formação consiste na eliminação dos ramos inferiores, conservando, pelo menos, 1/3 do volume original da copa para não prejudicar o crescimento da muda.

Já a poda de manutenção, de acordo com MILANO e DALCIN (2000), é aquela realizada para manter copas já bem desenvolvidas, corrigir falhas ou garantir segurança ao tráfego e à população. Esse tipo de poda objetiva a observação e a correção de desenvolvimentos ou crescimentos perigosos para a árvore, para as pessoas ou para o tráfego; a manutenção da altura do fuste1 e; a eliminação de galhos senis, secos ou doentes.

EHSEN (1987 apud MILANO e DALCIN, 2000) explica que a poda de segurança, por sua vez, é aquela realizada para prevenir acidentes iminentes, quando podas anteriores foram executadas incorretamente ou onde o ambiente urbano sofreu alteração, tornando-se incompatível com a copa da árvore. Realiza-se a redução de superfícies que possam servir de alavanca ou ponto de apoio para o vento e também a remoção de alavancas perigosamente longas.

6.3.1. Tipos de podas de manutenção

Para GUZZO (s.d.), as podas de manutenção podem der divididas em:

  • Poda de limpeza: executada em árvores jovens e adultas, com o objetivo de remover galhos secos, doentes ou ramos ladrões.

  • Poda de conformação: poda leve em galhos e ramos que interferem em edificações, telhados, iluminação pública, derivações de rede elétrica ou telefônica, sinalização de trânsito, levando-se em consideração o equilíbrio e a estética da árvore.

  • Poda para livrar a fiação aérea: adotada em árvores de médio e grande portes sob fiação, visando evitar a interferência dos galhos com a mesma. O ideal é o preparo da árvore desde jovem.

6.3.2. Técnicas de corte para poda de manutenção para livrar a rede elétrica aérea

Ainda para GUZZO (s.d.), a poda de manutenção para livrar a rede elétrica aérea pode ser efetuada de quatro maneiras diferentes, dependendo de cada situação e da espécie que será podada.

  • Poda em “V”: é a remoção de galhos internos da copa, que atingem a fiação secundária energizada ou telefônica, dando aos ramos principais a forma de V, permitindo assim o desenvolvimento da copa acima e ao redor da rede elétrica.

  • Poda em “furo”: consiste na manutenção da poda em “V”, com o desenvolvimento da copa acima e ao redor da fiação. É necessária a remoção constante das brotações desenvolvidas ao redor dos fios.

  • Poda de formação de copa alta: a copa é direcionada a se formar acima da rede elétrica. Consiste na remoção dos ramos principais e/ou secundários que atingem a fiação. Quando existe fiação primária energizada, a formação de copa alta não é possível.

  • Poda de contenção de copa: é a redução da altura da copa, com o objetivo de mantê-la abaixo da fiação aérea. É utilizada essencialmente em árvores plantadas sob fiação primária energizada.

6.4. Ferramentas, equipamentos acessórios e equipamentos de segurança

Segundo SEITZ (1990) e EHSEN (1987), excetuando-se aquelas de impacto (facão, foice, machado), que produzem seções imprecisas e riscos para o operador, são várias as ferramentas utilizadas para poda, de acordo com o tipo de corte, sendo necessário estarem sempre limpas, afiadas e bem conservadas. Para BERNATZKY (1980 apud MILANO e DALCIN, 2000), a desinfecção das ferramentas, por sua vez, evita a dispersão de doenças, especialmente após a remoção de madeira infectada.

De acordo com MILANO e DALCIN (2000), as ferramentas adequadas para podas de formação, em que ocorre o corte de galhos finos, são a tesoura de poda, para ramos de até 2 cm de diâmetro, e a serra de poda (curva e de lâmina estreita) para os mais grossos. Para os galhos finos e altos deve ser usado o podão. Nas Figuras 4, 5 e 6, têm-se, respectivamente, ilustrações da tesoura de poda, da serra de poda e do podão.

Já a poda de manutenção, realizada em árvores adultas, em geral de grande porte, majoritariamente requer equipamentos de maior porte. Para os ramos finos, utilizam-se as ferramentas já descritas. Para os galhos mais grossos, com até 15 cm de diâmetro, deve-se usar serras com dentes maiores, mais largas e mais compridas. Acima deste tamanho os galhos deverão ser cortados com motosserras (Figura 7). O acesso aos galhos se faz por meio de escadas, andaimes ou plataformas elevatórias.

Na poda de segurança, em que ocorre a eliminação de porções consideráveis da copa, é comum a utilização de serras de dentes grandes e motosserras, normalmente trabalhando a partir de plataformas elevatórias, contando com o auxílio de cordas ou outro equipamento para a sustentação dos galhos cortados (grossos ou em posição desfavorável).

Figura 4: Tesoura de poda (GOOGLE IMAGES, 2013).

Figura 5: Serra de poda (GOOGLE IMAGES, 2013).

Figura 6: Podão (GOOGLE IMAGES, 2013).

Figura 7: Motosserra (GOOGLE IMAGES, 2013).

Para GUZZO (s.d.), os equipamentos acessórios são: as escadas, cordas e plataformas elevatórias ou cestos.

E os equipamentos de segurança são: capacete com fixação no queixo, óculos para evitar serragem nos olhos, protetores auriculares para os operadores de motosserras, luvas de couro e sapatos com solado reforçado. MILANO e DALCIN (2000) reforçam que o uso de cinto de segurança é imprescindível quando o trabalho for realizado sobre escadas ou plataformas e a SMA (2008) aponta a necessidade de coletes refletores, primordialmente em local onde houver trânsito de veículos.

6.5. Critérios

Partindo-se do conceito de que a poda sempre é uma agressão à árvore, GUZZO (s.d.) recomenda que ela sempre deva ser feita de modo a facilitar a cicatrização do corte, caso contrário, a exposição do lenho permitirá a entrada de fungos e bactérias, responsáveis pelo apodrecimento de galhos e tronco e pelo aparecimento das conhecidas cavidades (ocos).

Segundo GUZZO (s.d.), MILANO e DALCIN (2000) e SMA (2008), as podas severas e descopagens devem ser evitadas, pois causam danos como o apodrecimento da madeira, ressecamento da casca e do câmbio expostos à insolação, enfraquecimento do sistema radicular e, ainda, prejuízos estéticos à árvore. E são onerosas e ineficientes para propiciarem o desenvolvimento de novas brotações que deverão ser eliminadas novamente no ano seguinte.

SEITZ (1990) e SHIGO e SHORTL (1984 apud MILANO e DALCIN, 2000) explanam que no local de inserção do galho no tronco existem duas importantes estruturas de proteção que deverão ser preservadas intactas, pois têm ação decisiva contra organismos degradadores do lenho do galho, impedindo a disseminação destes. São elas: a crista da casca, na parte superior, e o colar, na parte inferior.

De acordo com PLANTANDO VIDA (2011), deve-se tomar cuidado no momento da poda para não danificar a região da crista da casca superior e colar do ramo, pois isso implicará negativamente na cicatrização do mesmo. A má cicatrização do caule pode acarretar a entrada de patógenos na planta e provocar o seu apodrecimento, que põe em risco a vida humana devido ao aumento de queda de suas partes ou do todo.

A remoção dos galhos, sobretudo aqueles com diâmetros maiores, requer uma execução profissional. Para MILANO e DALCIN (2000), é errado cortar rapidamente do topo para a base do colar, pois o galho pode lascar e a casca do lado de baixo do colar pode descarnar ou rasgar. Segundo a RGE (2010), quando o galho tem mais de 5 cm de diâmetro, para a realização da poda, é necessário adotar o método denominado de três cortes (Figura 8). Primeiramente, faz-se um corte na parte inferior do galho, a uma distância do tronco equivalente ao diâmetro do galho, ou no mínimo 30 cm. Este corte não precisa ser profundo, sendo 1/3 do diâmetro do galho suficiente. O próprio peso do galho dificultará a ação da serra. O segundo corte é feito na parte superior do galho, distante de 2a 3 cm acima do corte inferior, até a ruptura do galho. O terceiro corte visa eliminar o toco remanescente (a Figura 9 exibe a ausência desta etapa). Para KIELBASO e KOELLING (1975 apud MILANO e DALCIN, 2000), sem estar sendo forçado pelo peso do galho, este corte muitas vezes deve ser feito de baixo para cima, preservando-se o colar e a crista de casca intactos. Isto porque a serra nem sempre pode ser corretamente posicionada na parte superior do galho, por causa do ângulo de inserção muito pequeno.

O corte dos galhos pesados sem os três cortes provocará danos no tronco logo abaixo do galho, apresentando descascamento ou extração de lascas do lenho (Figura 10), além disso, por meio do primeiro e do segundo cortes pode-se direcionar a queda do galho.

A Figura 11 indica uma árvore com tronco bem cicatrizado após uma poda bem sucedida que utilizou do método dos três cortes.

Figura 8: Ilustração do método de três cortes (PLANTANDO VIDA, 2011).

Figura 9: Poda mal realizada na qual foi deixado o “toco” (PLANTANDO VIDA, 2011).

Figura 10: Árvore com sanidade comprometida devido à poda ineficiente (PLANTANDO VIDA, 2011).

Figura 11: Cicatrização completa de tronco de árvore cuja poda foi bem realizada (PLANTANDO VIDA, 2011).

7. Avaliando a arborização

É muito comum a emissão de opiniões sobre a arborização de uma cidade, quando se diz ser ela bem ou mal arborizada. O conceito de bem ou mal, no entanto, implica, além do aspecto quantitativo, o aspecto qualitativo.

De acordo com GONÇALVES et al. (2007), para diagnosticar o estado em que se encontra a arborização urbana de uma cidade, o técnico precisa de um exame no qual ele possa se basear. E esse exame é o inventário. Para GREY e DENEKE (1978 apud MILANO e DALCIN, 2000), os inventários são fundamentados em diferentes metodologias e podem apresentar diferentes graus de precisão.

Segundo GONÇALVES et al. (2007), após a realização do inventário, geralmente, obtém-se dados referentes à quantidade e qualidade da arborização. Esses dados devem ser processados e as informações extraídas darão origem ao diagnóstico de arborização. Dessa forma será conhecida a condição real da arborização, identificando-se as necessidades básicas de manejo, fundamentais para o bom gerenciamento da mesma.

7.1. Tipos de inventário

GONÇALVES et al. (2007) e MILANO (1993) explicam que os inventários podem ser completos ou por amostragem. Em regra, a utilização de procedimentos de amostragem configura-se como solução mais rápida e barata para a avaliação da arborização de ruas dentro dos graus de precisão pré-estabelecidos.

Os inventários totais podem ser quantitativos, qualitativos ou ambos. NUNES (1992) explica que em cidades pequenas geralmente faz-se uso de inventário quali-quantitativo total. Isso porque o tempo de trabalho tende a não ser muito longo, representando custos menos elevados. Já no caso de cidades de médio e grande porte, quando se faz uso do censo, este geralmente tem objetivo apenas quantitativo, sendo a espécie a única característica que se permite anotar além do número de árvores. Caso contrário o censo pode demandar uma quantidade de custos levada, o que muitas vezes torna-se inviável para o município.

Assim, a vantagem da realização do censo é a obtenção de informações (características e parâmetros) reais da população estudada. Já a principal desvantagem é a limitação quanto ao tamanho da população, sendo mais difícil aplicá-lo em grandes populações, em função dos custos elevados e do maior tempo necessário para sua execução.

Nos casos em que a enumeração completa não pode ser aplicada, emprega-se a amostragem, que deve ser representativa da população. Para que esta forneça estimativas confiáveis, é necessário conhecer os métodos de amostragem, assim como empregá-los corretamente. Uma vez que a amostra seja representativa da população, os resultados dos estudos serão confiáveis.

Para MEUNIER (2001 apud GOLÇALVES et al., 2007), sistema de amostragem é o conjunto de técnicas, métodos e processos utilizados em um levantamento amostral, com vistas a auferir maior eficiência, flexibilidade e custos compatíveis. E GONÇALVES et al. (2007) e MILANO e DALCIN (2000) esclarecem que a amostragem pode ser: aleatória, sistemática, estratificada, e por conglomerados.

A eficiência dos inventários por amostragem foi comprovada ao longo do tempo e suas vantagens principais são: custo reduzido, maior rapidez e maior amplitude.

Como as características da arborização variam de uma cidade para a outra, deve-se possuir um conhecimento das potencialidades dos métodos de amostragem, para que seja possível selecionar o mais adequado para cada situação.

7.2. Dados a serem coletados

Segundo OLIVEIRA e TAVARES (2012), de modo geral, os parâmetros a serem avaliados são:

  1. Localização da árvore (coordenadas geográficas, nome da rua, lado da rua, número da casa);

  2. Características das árvores (espécie, porte, fitossanidade, altura total, altura da primeira bifurcação, diâmetro do tronco, circunferência do tronco, diâmetro de copa, tipo de copa, fenologia da espécie, condições do sistema radicular);

  3. Características do meio (largura das ruas e calçadas, quantidade e tipo de tráfego, dimensões de plantio, área livre ou área de crescimento, espaçamento de plantio e espaçamento entre as copas, posição do vegetal em relação à fiação aérea, posição do vegetal em relação às redes subterrâneas, compatibilidade da arborização com a iluminação pública, pavimentação dos passeios, presença de redes de serviços, afastamento predial, tipo de forração na área de crescimento);

  4. Serviços já executados, tais como: irrigação, controle de pragas e doenças, remoção e replantio;

  5. Ações recomendadas, que tratam das necessidades de manejo.

7.3. Processamento de dados: uso de softwares para inventário e processamento da arborização de vias públicas

Para armazenar e gerenciar os dados de inventários arbóreos urbanos pode-se utilizar, basicamente, dois tipos de programas: os específicos, ou seja, que foram elaborados exclusivamente para esse fim e os adaptados, que são programas comerciais bastante conhecidos dos usuários da informática, de modo geral, destacando-se as planilhas eletrônicas e os gerenciadores de banco de dados.

O ideal seria utilizar softwares específicos para o armazenamento de dados e a geração dos relatórios da arborização, mas, devido à dificuldade de serem encontrados no mercado nacional, acaba-se utilizando os chamados programas adaptados, quando viável. E essa viabilidade depende, em grande parte, do volume de dados e da quantidade de informações que se pretende obter dos mesmos.

7.3.1. Microsoft Excel®

Em termos de planilha eletrônica, o programa Excel é um dos que apresenta alta disponibilidade no mercado, tendo sido muito usado para processamento de dados de inventário de arborização, especialmente em cidades pequenas, onde a quantidade de dados não é tão grande.

Uma desvantagem do programa Excel é que ele não gera listas de relatório como fazem os softwares específicos, mas quando se trata de análise dos dados é eficiente, apesar de exigir um trabalho maior por parte do operador.

7.3.2. Microsoft Access®

O Microsoft Access também pode ser utilizado para processamento e gerenciamento dos dados de inventários de arborização urbana. Embora sua operação seja mais complexa que a do Excel, ele pode gerar relatórios personalizados com ótima apresentação final. De um modo geral, pode-se dizer que esse programa é um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD) que permite ao usuário a criação, a manipulação e o gerenciamento de banco de dados relacionais.

Acredita-se que a maior contribuição para o estudo de árvores urbanas é funcionar como banco de dados inserido em outros programas, como acontece no caso do Arbor et Salus, cujo banco de dados foi montado em Access. Além disso, pode-se trabalha só com o próprio Access para armazenar, relacionar dados e obter relatórios da arborização, mesmo que seja um pouco mais difícil que em programas específicos. DALCIN (1994) reconhece o grande potencial do Access para processar dados referentes às com árvores urbanas, tendo usado-o em diversos trabalhos que realizou.

7.3.3. Arbor et Salus

O programa Arbor et Salus, de acordo com DEF – UFV (s.d.), foi desenvolvido por Wantuelfer Gonçalves e Leacir Nogueira Bastos na tentativa de suprir uma lacuna existente no campo da utilização dos sistemas de informações computadorizadas no manejo da arborização no Brasil. O software foi desenvolvido no departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa. Ele contém seis módulos, sendo três de cadastro (logradouro, indivíduo e espécie) e os demais de configuração dos dados, de consultas e de emissão de relatórios, nos quais os dados, resumidos em totais, médias, porcentagens, entre outros, são apresentados por nível de endereçamento ou espécies selecionadas.

A pior desvantagem é tida como sua não comercialização, embora sua capacidade permita prestar uma enorme contribuição, ainda mais quando se trata de locais com endereçamento impreciso.

7.3.4. City Trees! Lite®

O City Trees! Lite v1.0 é, segundo GONÇALVES et al. (2007), um simulador de manejo, produzido nos Estados Unidos, voltado para a arborização urbana e foi projetado apara servir a dois propósitos. O primeiro é ser utilizado por engenheiros para fazer simulações de manejo, cuja finalidade é facilitar complexas decisões de manejo envolvendo árvores de rua. Dessa forma, o usuário pode simular um dado tipo de manejo e observar como seria no futuro, se realmente tivesse sido tomada tal decisão. O segundo propósito seria funcionar como ferramenta de treinamento para estudantes ou funcionários. Este programa é uma atualização do Urban Forest 1985.

Uma das grandes vantagens desse software é permitir a simulação de cenários futuros. Suas principais desvantagens é que ele não está disponível no mercado brasileiro, tendo que ser importado, existindo ainda o problema do idioma e que sua estrutura pré-definida pode dificultar a obtenção de algumas análises específicas, as quais não estejam programadas no sistema de rotina.

7.4. Apresentação e análise dos dados inventariados

GONÇALVES et al. (2007) explicam que o inventário termina com a obtenção das estatísticas dos dados levantados, normalmente apresentados em formas de frequências absolutas e relativas. Assim, o diagnóstico inicia-se com a discussão dessas estatísticas e as possíveis conclusões. Para maior inteligibilidade, essas estatísticas podem ser apresentadas em quadros únicos ou em quadros separados e o técnico deverá escolher entre eles a melhor maneira para a facilidade de análise.

8. A arborização atual nas cidades de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro

Foram percorridos bairros das cidades fluminenses de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro. As visitas técnicas foram fotografadas e buscou-se traçar um panorama do atual momento de arborização viária nestes lugares.

8.1. São Gonçalo

No município de São Gonçalo esteve-se nos bairros de Antonina e Paraíso. As Figuras 12, 13 e 14 representam o bairro de Antonina. E as Figuras 15, 16, 17 e 18 o bairro de Paraíso.

8.1.1. Antonina

A Figura 12 é referente a um trecho da Rua Dr. Nilo Peçanha (uma das mais importantes da cidade). Nesta altura do logradouro evidencia-se uma calçada estreita com uma muda de árvore de médio porte em desenvolvimento. Observou-se ainda que a área permeável ao redor da planta é pequena e que a muda, quando crescer, tende a entrar em contato com a fiação elétrica aérea convencional existente na via.

Figura 12: Rua Doutor Nilo Peçanha, altura do nº 860 – Antonina – São Gonçalo / RJ

A Figura 13 apresenta um plantio de arbustos feito junto a um muro residencial. Segundo BOBROWSKY e BIONDI (2012), atos como esse muitas vezes se devem a falta de atuação do Poder Público na arborização das vias e prejudicam a locomoção de pedestres.

Figura 13: Rua Álvaro Esteves, nº 15 – Antonina – São Gonçalo / RJ

A Figura 14 exibe uma visão panorâmica na Rua Dr. Nilo Peçanha, na altura do bairro Antonina (A via em questão passa por cinco bairros: Centro, Estrela do Norte, São Miguel, Antonina e Mutondo). Existem no local mudas de árvores aparentemente de médio e/ou grande porte; estas não impedem a circulação de pedestres e/ou veículos; no momento da vistoria não estavam encostando-se à fiação elétrica aérea presente na via; as áreas permeáveis ao redor do sistema radicular são pequenas. Além disso, não há estacas para segurar as espécies jovens e a altura da 1ª bifurcação no caule da segunda árvore que aparece na Figura é baixa, propiciando atos de vandalismo.

Figura 14: Rua Doutor Nilo Peçanha, altura do nº 843 – Antonina – São Gonçalo / RJ

8.1.2. Paraíso

Nas Figuras 15 e 16 é exibida uma árvore jovem e de médio porte cuja copa encosta-se à rede elétrica aérea convencional da via. Seu tipo de tronco é frágil e a área drenante que o circunda é pequena. Foi verificado que não havia impedimento à circulação de pedestres e/ou veículos.

Figura 15: Rua Comandante Ari Parreiras, altura do nº 2179 – Paraíso – São Gonçalo / RJ

Figura 16: Rua Comandante Ari Parreiras, altura do nº 2179 – Paraíso – São Gonçalo / RJ (outro ângulo)

A Figura 17 expõe uma árvore de grande porte cuja copa encontra-se com a fiação elétrica aérea convencional da rua. Seu tronco inibe ações depredatórias e sua raiz não está evidente superficialmente, entretanto o espaço para infiltração de água e desenvolvimento de raiz ao redor do caule é insuficiente e a calçada é estreita para o uso de uma árvore deste porte.

Figura 17: Rua Comandante Ari Parreiras, altura do nº 2177 A – Paraíso – São Gonçalo / RJ

A Figura 18 é a foto que registra uma visão geral da Rua Comandante Ari Parreiras, onde é possível inferir-se a existência de pouca arborização e uma fiação elétrica aérea convencional.

Figura 18: Visão geral da Rua Comandante Ari Parreiras, altura do nº 2079 – Paraíso – São Gonçalo / RJ

8.2. Niterói

Depois, fotografaram-se as árvores viárias de Niterói. Nesta cidade visitou-se o bairro do Centro. As Figuras 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26 e 27 o representam.

A Figura 19 exibe a arborização presente no canteiro central da Avenida Visconde do Rio Branco, na altura do Terminal Rodoviário Roberto Silveira. Nota-se que o solo de amplo canteiro é permeável, facilitando a infiltração de água da chuva e a aeração do solo. O sistema elétrico da via é subterrâneo (apesar de existir um fio pendido). O porte das espécies não apresenta impedimento algum à iluminação pública.

Figura 19: Avenida Visconde do Rio Branco (em frente ao Terminal Rodoviário Roberto Silveira) – Niterói / RJ

Na Figura 20, tem-se uma árvore de médio porte que possui entorno drenante considerável, não impede o trânsito de pedestres ou veículos, possui raiz compatível com o local e apresenta tronco de diâmetro largo, porém cuja altura da primeira bifurcação baixa.

Figura 20: Avenida Visconde do Rio Branco (em frente ao Mc Donald’s) – Niterói / RJ

As Figuras 21 e 22 revelam duas árvores de grande porte, de frente para a estação das barcas. Seus sistemas radiculares não prejudicam a pavimentação, seus portes e suas copas não causam danos à iluminação pública nem ao movimento dos pedestres e veículos. Além disso, por não serem frutíferas nem caducifólias (sem folhas), reduzem-se eventuais riscos e incômodos para a população. Devido ao fato de a rede elétrica ser subterrânea, não há contato com fios em ambos os casos.

Figura 21: Avenida Visconde do Rio Branco (em frente à estação das barcas) – Niterói / RJ

Figura 22: Avenida Visconde do Rio Branco (em frente à estação das barcas) – Niterói / RJ (2)

Mais adiante está a foto de uma árvore de pequeno porte adulta (Figura 23). Ela possui área permeável compatível, seu sistema radicular está de acordo com a pavimentação da via, ela não atrapalha o trânsito de veículos ou pedestres e não faz contato com fiação elétrica. Outrossim, o diâmetro à altura do peito (DAP) é satisfatório para inibir atos de vandalismo.

Figura 23: Avenida Visconde do Rio Branco (altura da Rua José Clemente) – Niterói / RJ

A Figura 24 expõe uma árvore em desenvolvimento de grande porte cuja copa não encosta-se com fiação elétrica. Seu tronco fino coopera com ações de destruição tanto por parte de vândalos como de intempéries. Seu sistema radicular não está evidente superficialmente, entretanto o espaço para infiltração de água e desenvolvimento de raiz ao redor do caule é insuficiente para uma muda de árvore de grande porte. Verificou-se também que a existência da planta no local não causa obstáculos aos transeuntes nem aos veículos.

Figura 24: Avenida Visconde do Rio Branco (altura da Rua Aurelino Leal) – Niterói / RJ

Na Figura 25 seguinte, tem-se a fotografia panorâmica da Rua Quinze de Novembro (parte próxima ao Plaza Shopping), onde é possível notar-se a existência de um canteiro central com arbustos e palmeiras, a ausência de fiação elétrica aérea e raízes de pouco impacto sobre o solo.

Figura 25: Rua Quinze de Novembro – Centro – Niterói / RJ

Na Figura 26 verifica-se o plantio de uma muda de árvore de pouca altura e tronco fino, o que facilita a ação arruinante de vândalos e de intempéries. A área permeável ao redor da planta é suficiente, não se verifica contato com fios elétricos nem o embaraço da passagem de pedestres ou veículos.

Figura 26: Rua Quinze de Novembro (lateral da Delegacia da Receita Federal do Brasil – 7ª R.F.) – Centro – Niterói / RJ

Na Figura 27 repara-se uma árvore adulta de grande porte. Seu tronco grosso diminui o risco de destruição por vandalismo ou intempéries. Porém, o sistema radicular está evidente na superfície e sua área drenante ao redor da raiz não é compatível com o porte da espécie. Verificou-se que planta não causa obstáculos aos veículos, mas, apesar de não haver contato com fiação elétrica, a árvore ser perenifólia (provida de folhas) e não-frutífera, devido ao seu tronco torto e pendido, se torna um perigo para pedestres, especialmente aqueles com deficiência visual.

Figura 27: Rua Almirante Teffé, altura do nº 620 (esquina da Praça do Rink) – Centro – Niterói / RJ

8.3. Rio de Janeiro

No município do Rio de Janeiro foram visitados os bairros do Centro, Copacabana, Méier, Maracanã e Tijuca. A Figura 28 mostra o Centro, as Figuras 29, 30, 31, 32, 33 e 34 exibem Copacabana, a Figura 35 expõe o Maracanã, as Figuras 36, 37, 38, 39, 40 e 41 representam o Méier, e as Figuras 42 e 43 apontam a Tijuca.

8.3.1. Centro

O primeiro logradouro carioca fotografado foi a Rua Primeiro de Março, na qual se observou (Figura 28) uma árvore de grande porte, cuja copa causava um bom sombreamento para a rua. A rede elétrica era subterrânea, não havendo contato de fios com a espécie. Verificou-se área drenante ao redor do tronco e não impedimento para o trânsito de pedestres e veículos. Além disso, o tronco apresentava-se forte, diminuindo as probabilidades de vandalismo e queda por intempéries. Pelo fato de a árvore examinada não ser frutífera, reduzem-se os riscos de acidentes com transeuntes.

Figura 28: Rua 1º de Março, altura do Paço Imperial – Centro – Rio de Janeiro / RJ

8.3.2. Copacabana

Em visita ao bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, fotografou-se a 1ª árvore de grande porte na Rua Tonelero (Figuras 29 e 30). A mesma estava envolta por um pequeno canteiro com vegetações rasteiras, harmonizava-se com o calçamento e a pavimentação da via, possibilitando o livre acesso de pedestres e veículos, propiciava um considerável sombreamento e o diâmetro de seu tronco e a altura da primeira bifurcação inibiam atos de vandalismo. Não se verificou a ocorrência de ramos ladrões. Como único ponto desfavorável, constatou-se o caiamento de seu tronco. Sendo que, de acordo com GUZZO (s.d.), a cal é tóxica para os liquens que vivem nos troncos das árvores

Figura 29: Rua Tonelero, altura do nº 185 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ

Figura 30: Rua Tonelero, altura do nº 185 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ (outro ângulo)

A Figura 31 apresenta a 2ª árvore de grande porte fotografada na Rua Tonelero. Como aspecto negativo, suas raízes estão em evidência acima da superfície causando até mesmo levantamento do calçamento. Como prós, apesar de existir ema placa atrás da espécie, a primeira não está escondida pela segunda, uma vez que há um distanciamento entre elas; a copa da árvore também não afeta a rede elétrica, pois a fiação da rua é subterrânea; há um amplo sombreamento proporcionado pela árvore e sem causar umidade nas construções próximas. Com exceção do quesito radicular, a árvore, em conjunto com outras, oferece à via um aspecto bonito e saudável.

Figura 31: Rua Tonelero, altura do nº 197 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ

Já a Figura 32 mostra outra árvore de grande porte no bairro de Copacabana, agora na Rua Siqueira Campos. A árvore aparentemente entra em contato com alguma fiação elétrica aérea, mas não atrapalha o trânsito de pedestres em de veículos. Seu sistema radicular não está em plena evidência acima da superfície, porém nota-se que não existe entorno drenante ao redor do caule. Este apresenta diâmetro à altura do peito (DAP) que embaraça ações de vândalos.

Figura 32: Rua Siqueira Campos, altura do nº 60 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ

A Figura 33 mostra um conjunto de exóticas árvores adultas de grande porte na Av. Atlântica. Seus troncos são visivelmente tortos e aparentam cair. Notou-se que as árvores podem representar um perigo aos pedestres, especialmente àqueles com deficiência visual. Verificou-se que ainda que as espécies não causam obstáculos aos veículos e que não há contato com fiação elétrica.

Figura 33: Avenida Atlântica, altura do nº 2822 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ

Em seguida, visitou-se a Rua Francisco Otaviano. Na fotografia (Figura 34) são mostrados o tronco e o sistema radicular de uma árvore de grande porte. Nota-se que a área drenante em torno da árvore é insuficiente para o desenvolvimento de sua raiz, pois o calçamento da rua encontra-se danificado.

Figura 34: Rua Francisco Otaviano, altura do nº 38 – Copacabana – Rio de Janeiro / RJ

8.3.3. Maracanã

A Figura 35 mostra a fotografia de uma árvore de pequeno porte adjacente ao muro da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Observa-se o não contato com fiação elétrica e entorno permeável, porém vale ressaltar que a fragilidade do tronco facilita a ação de vândalos.

Figura 35: Rua São Francisco Xavier, altura do nº 524 (muro da UERJ) – Maracanã – Rio de Janeiro / RJ

8.3.4. Méier

Após isso, visitou-se o bairro do Méier. As Figuras 36 e 37 mostram uma árvore cuja poda removeu por completo a copa e os ramos de um dos lados de um tronco bipartido. Nas fotografias nota-se também que não há uma área permeável em volta da árvore, provocando danos ao calçamento e impossibilitando a infiltração de água e a aeração do solo.

Figura 36: Avenida Amaro Cavalcante, próximo ao nº 157 – Méier – Rio de Janeiro / RJ

Figura 37: Avenida Amaro Cavalcante, próximo ao nº 157 – Méier – Rio de Janeiro / RJ (detalhe)

Nas Figuras 38 e 39, foi observado que a copa de uma árvore plantada ao longo da mais conhecida via do bairro impede parcialmente a visão de uma placa de trânsito de orientação de destino.

Figura 38: Rua Dias da Cruz, altura do nº 49 – Méier – Rio de Janeiro / RJ

Figura 39: Rua Dias da Cruz, altura do nº 49 – Méier – Rio de Janeiro / RJ (outro ângulo)

Na Figura 40, tem-se uma visão generalizada da arborização de canteiro central na Rua Dias da Cruz, onde foi notada a presença de árvores do tipo palmeira, com raízes pivotantes e que não interferem na pavimentação da via. Além disso, verificou-se espaços permeáveis em torno dos troncos e a existência de rede elétrica subterrânea, proporcionando um ambiente mais seguro e harmônico visualmente, de forma que as copas das árvores não entram em contato com a fiação.

Figura 40: Rua Dias da Cruz – Méier – Rio de Janeiro / RJ

A Figura 41 exibe uma foto que evidencia uma muda de altura não superior a 1 metro plantada ao longo da via. Há área permeável ao redor da muda e protetores para evitar danos mecânicos. Ao lado da muda, tem-se a disposição de uma sacola de lixo provavelmente apoiada num dos protetores. Assim sendo, apesar do uso de protetores e da reserva de área drenante, plantios desse tipo são inadequados, pois o porte da muda favorece o vandalismo e a deixa mais exposta às intempéries como ventos fortes e tempestades.

Figura 41: Rua Dias da Cruz, altura do nº 99 – Méier – Rio de Janeiro / RJ

8.3.5. Tijuca

No bairro da Tijuca, fotografou-se outra muda com tronco fino (Figura 42), facilitando atos depredatórios. Observou-se ainda que, apesar do tronco de pequeno diâmetro à altura do peito (DAP), a altura da muda era considerável e foi limitado um espaço drenante ao redor.

Figura 42: Rua Conde de Bonfim, altura do nº 7 (em frente ao supermercado Mundial) – Tijuca – Rio de Janeiro / RJ

A Figura 43 é um print screen do Google Maps (modo de tela cheia). A Figura mostra a arborização de grande porte ao longo da Rua Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto, no bairro da Tijuca. É possível notar a presença de um número satisfatório de indivíduos arbóreos para o espaço em questão e que as copas das árvores do lado direito da rua estão bem acima da fiação elétrica aérea convencional, não causando transtornos.

Figura 43: Rua Engenheiro Enaldo Cravo Peixoto – Tijuca – Rio de Janeiro / RJ (GOOGLE EARTH-MAPS, 2013).

9. Propostas para um manual técnico de arborização viária para as cidades de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro

Segundo dados do IBGE (2010), a região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro era a segunda mais populosa do Brasil com 11.708.247 habitantes. Sendo que destes, 6.320.446 residiam na capital Rio de Janeiro, 487.562 em Niterói e 999.728 em São Gonçalo.

Apesar da significância social, econômica, histórica e cultural das três cidades citadas, não se verificou, na literatura revisada, a existência de manuais das prefeituras relativos à arborização urbana viária de nenhum desses locais. De acordo com a CPFL (2008), desconhecendo os requisitos técnicos inerentes ao assunto, os diversos atores sociais envolvidos, interferem na arborização das ruas causando prejuízos de natureza ecológica, estética e funcional.

Desta maneira, nos subcapítulos a seguir pretende-se fazer propostas, em conformidade com os estudos de diversos autores, para a elaboração de um manual técnico de arborização para as cidades fluminenses de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro.

9.1. Parâmetros para arborizar as calçadas

BIONDI (1987) diz que até a década de 1980, a maior parte das preocupações de muitos que lidavam com a arborização viária era plantar sem, contudo, utilizar de alguns critérios fundamentais necessários ao bom desempenho das árvores. MILANO e DALCIN (2000) consideram que, a partir da década de 1990, devido ao aumento do monitoramento subsequente ao plantio, foram introduzidas técnicas complementares de condução, tanto na fase inicial de crescimento como na maturidade da planta.

Segundo MIRANDA (1970), SANTIAGO (1970) e SOUZA (1973), as rodovias, pelas variadas funções que assumem, apresentam uma série de características que devem ser cuidadosamente analisadas. A largura das rodovias e das calçadas, a posição das redes de fiação elétrica e telefônica, a posição e profundidade das redes de água e esgotos, o afastamento das construções e o tipo de tráfego local influem diretamente na determinação do porte da espécie a utilizar e na localização e espaçamento das covas de plantio.

9.1.1. Largura da calçada

Para SVMA (2005), em calçadas com largura inferior a 1,50 metros, não é recomendável o plantio de árvores. As calçadas deverão ter uma largura mínima de 2,40 metros em locais onde não é obrigatório o recuo das edificações em relação ao alinhamento e de 1,50 metros nos locais onde esse recuo for obrigatório.

Em calçadas com largura igual ou superior a 1,50 metros e inferior a 2,00 metros, é recomendado apenas o plantio de árvores de pequeno porte com altura até 5,00 metros.

Nas calçadas com largura igual ou superior a 2,00 metros e inferior a 2,40 metros, as árvores podem ser de pequeno ou médio porte com altura até 8,00 metros.

Já em calçadas com largura igual ou superior a 2,40 metros e inferior a 3,00 metros, poderão ser plantadas árvores de pequeno, médio e grande porte com altura de até 12,00 metros.

E nas calçadas cuja largura supere os 3,00 metros, poderão ser plantadas árvores de pequeno, médio e grande porte com altura superior a 12,00 metros.

9.1.2. Covas de plantio

É recomendado por MIRANDA (1970) e SOUZA (1973) a utilização de covas com, no mínimo 50 cm x 50 cm x 50 cm, devendo-se aumentar essas dimensões de acordo com as condições físicas e químicas do solo. Segundo SVMA (2005), as covas devem ter medidas de, pelo menos, 60 cm x 60 cm x 60 cm. Já BALMER e ZAMBRANA (1977 apud MILANO e DALCIN, 2000) consideram necessárias covas 60 centímetros mais largas e 15 centímetros mais profundas do que o torrão envolvente das raízes, sendo que a posição da muda na cova deve ser tal que permaneça à mesma profundidade em que estava no viveiro.

Para SOUZA (1973), a terra usada para o preenchimento das covas deve ser fértil e, em solos pobres em nutrientes, pode-se usar uma mistura, em partes iguais, de terra de boa qualidade e esterco curtido de curral ou composto orgânico.

9.1.3. Mudas

9.1.4. Sistema radicular

Tanto para SVMA (2005) quanto para MILANO e DALCIN (2000), as mudas devem ter adequadas condições fitossanitárias. SVMA (2005) estabelece a imprescindibilidade de sistemas radiculares bem formados e consolidados em grandes embalagens preferencialmente de plástico, tecido de aniagem ou jacá de fibra vegetal. MILANO e DALCIN (2000) e ROTERMUND et al. (2012) defendem a necessidade de evitar-se o transporte de mudas em torrão ou raiz nua, dado o risco de danos ao sistema radicular e posterior morte da muda.

9.1.5. Altura total do tronco e da sua primeira bifurcação

De acordo com SOUZA (1973) o tronco deve ter pelo menos 2,00 metros de altura, do qual já se destacam os ramos principais da futura copa, em número de dois a quatro. Uma altura mínima de 3,00 metros é recomendada por MIRANDA (1970). Já SVMA (2005) aconselha uma altura mínima de 2,50 metros para as mudas plantadas em vias públicas.

Quanto à altura da primeira bifurcação, SVMA (2005) e GONÇALVES et al. (2007) defendem que ela deve ser de, no mínimo, 1,80 metros. Para MILANO e DALCIN (2000) o menor valor aceitável para esse quesito são 2,00 metros.

Segundo MILANO e DALCIN (2000), para as árvores que deverão formar copa acima da fiação aérea, mudas com alturas de aproximadamente 4,00 metros são as mais desejáveis. E, nesse caso, a altura da primeira bifurcação deve, preferencialmente, chegar aos 3,00 metros ou mais.

9.1.6. Material genético das mudas

De acordo com SANTAMOUR JR (1969 apud MILANO e DALCIN, 2000) é essencial que as mudas sejam produzidas a partir de material genético de procedência conhecida, com comprovada adaptação climática e demais características desejáveis. Para PANASITI (1994 apud MILANO e DALCIN, 2000), pequenos detalhes podem ser grandes diferenciais: por exemplo, para espécies dioicas, pode-se optar por plantar unicamente exemplares masculinos ou femininos, em função de suas características específicas, como, respectivamente, ausência de frutos ou exuberância da floração. Em Mendoza (Argentina), plantam-se apenas exemplares masculinos de Morus alba (amoreira), que não têm frutos, evitando-se que o chão das ruas fique cheio de amoras. A produção de mudas dessa espécie é feita vegetativamente, utilizando-se, como matrizes, árvores com os demais atributos objetivados, além do sexo.

9.1.7. Espaçamentos entre as árvores

Visando garantir um bom desenvolvimento da copa e do sistema radicular, a SVMA (2005) exorta que o espaçamento mínimo entre árvores de pequeno porte deve ser de 5 metros; entre árvores de médio porte, de 8 metros e; entre árvores de grande porte, de 12 metros. COZZO (1950 apud MILANO e DALCIN, 2000) indica espaçamentos de 6 a 12 metros, independentemente do porte da árvore. Já MILANO e DALCIN (2000) defendem que, em todo caso, deve ser considerado como espaçamento mínimo o diâmetro de copa médio da árvore adulta.

9.1.8. Disposições do plantio

No que se refere às disposições de plantio, para o bom desenvolvimento das raízes, DPJ (1977) recomenda guardar uma distância mínima de 1 metro do meio-fio e 5 metros das construções.

A seguir, no Quadro 1, baseado em SVMA (2005), constam as distâncias mínimas que as árvores, de acordo com o seu porte, devem guardar de alguns elementos urbanos.

Quadro 1: Distância mínima em relação aos diversos elementos de referência existentes.

Elemento de referência

Distância a ser guardada de acordo com o porte da árvore (m)

Porte pequeno

Porte médio

Porte grande

Esquinas

5,00

5,00

5,00

Iluminação pública

5,00

5,00

5,00

Postes

3,00

4,00

5,00

Hidrantes

1,00

2,00

3,00

Instalações subterrâneas

 

1,00

 

1,00

 

1,00

Ramais de ligações subterrâneas

 

1,00

 

3,00

 

3,00

Mobiliário urbano

2,00

2,00

3,00

Galerias

1,00

1,00

1,00

Caixas de inspeção

2,00

2,00

3,00

Fachadas de edificações

 

2,40

 

2,40

 

3,00

 

Guias rebaixadas, gárgulas, faixas de travessia

 

 

1,00

 

 

2,00

1,5 x R, adotando-se R = raio da circunferência circunscrita à base do tronco

Transformadores

5,00

8,00

12,00

Outras espécies arbóreas

 

5,00

 

8,00

 

12,00

9.2. A escolha das espécies

Segundo a COPEL (2009), muitos problemas na arborização de ruas se devem à presença de espécies impróprias devido à desarmonia com as redes elétricas e à inadequação ao passeio urbano. Este cenário exige do município e da concessionária de energia, atenção especial na realização de diversos tratos silviculturais, tais como podas e substituições. A escolha correta da espécie, aliada às melhores práticas de manejo de vegetação junto a sistemas elétricos, evita a interferência das árvores nos bens e nos serviços públicos.

9.2.1. Aspectos a serem considerados

MILANO e DALCIN (2000) mencionam que, além do efeito estético, a arborização das vias deve apresentar benefícios como a melhoria microclimática e a minimização dos efeitos das poluições atmosférica e visual. Por isso, as características das espécies devem ser consideradas na seleção para utilização na arborização de ruas. MIRANDA (1970), SANTIAGO (1970) e SOUZA (1973) observam, além do aspecto estético da árvore, as seguintes características: forma e dimensão da copa; tipo de folhas, flores, frutos e raízes; velocidade de crescimento; adaptabilidade climática; resistência às pragas, doenças e poluição.

Dos outros atributos que as árvores para arborização de ruas devem apresentar, SOUZA (1973) destaca a rusticidade para suportar as precárias condições do meio e a resistência a pragas e doenças. Neste particular, HIMELICK (1976 apud MILANO e DALCIN, 2000) afirma que é grande a importância de fatores ambientais, como deficiência de água e nutrientes no solo, baixas temperaturas e poluição na predisposição de plantas a uma maior susceptibilidade de doenças.

Para WEIDHASS (1976 apud MILANO e DALCIN, 2000), a seleção de espécies resistentes no desenvolvimento de melhores árvores para uso urbano, além de ser um método biologicamente sadio e ambientalmente construtivo, não implica grandes despesas de operação e força humana, comuns no controle de pragas.

Segundo MIRANDA (1970), algumas características indesejáveis são: crescimento rápido, folhas grandes e caducas, flores e frutos grandes ou carnosos e raízes superficiais. SVMA (2005) sugere evitar espécies que tenham espinhos, acúleos, cerne frágil ou caule e ramos quebradiços, sejam suscetíveis ao ataque de cupins, brocas ou agentes.

De acordo com CPT (2010), o uso de árvores frutíferas, com frutos de tamanho pequeno, pode atrair aves, entretanto, não é recomendado o uso de espécies de frutos grandes, pois estes podem representar perigo para os pedestres e para os veículos estacionados nas vias públicas.

Para o professor Dr. Wantuelfer Gonçalves2, espécies com frutos comestíveis devem ser evitadas, pois eles estimulam a depredação das árvores. Os frutos das árvores em vias públicas, normalmente, estão contaminados pela poluição causada pelas indústrias e pelos escapamentos dos veículos automotores, tornando-se perigosos para o consumo humano.

9.2.2. Espécies passíveis de plantio na rede viária

A seguir serão apresentados os Quadros 2, 3 e 4 fundamentados em SVMA (2005), contendo informações sobre espécies de pequeno, médio e grande portes que são passíveis de plantio no sistema viário.

Quadro 2: Espécies de pequeno porte (até 5 m de altura) ou arbustos conduzidos para arborização em vias públicas.

Nome

científico

Nome

popular

Origem

DAP (cm)

Cor da

floração

Tipo de

frutificação

Diâmetro

copa (m)

Porte (m)

Observações

Acca

sellowiana

feijoa, goiaba-

da serra

 

PR a RS

 

20

 

vermelha

 

baga3

 

3

 

3-4

resistente ao frio, atrai fauna

 

Bauhinia

blakeana

 

unha ou

pata-de-vaca

 

HongKong

 

35

 

carmim

 

-

 

4-6

 

5

crescimento rápido, flores atraem avifauna

Bauhinia

cupulata

unha ou

pata-de-vaca

 

PI, GO

 

35

 

branca

 

legume4

 

4

 

5

 

atrai morcegos

 

Bixa orellana

 

urucum

Região

Amazônica

até Bahia

 

25

 

rosa

 

cápsula5

 

4

 

3-5

 

muito ornamental

 

Caesalpinia

pulcherrima

flamboyant-

zinho

barba de

barata

Ásia e

América

Tropical

 

20

laranja-

avermelhada

 

legume

 

3

 

3-4

 

crescimento rápido

Callistemon

speciosus

 

calistemon

 

Austrália

 

20

rosa ou

vermelha

 

cápsula

 

3

 

5

 

muito ornamental

Grevillea

banksii

grevilha de

jardim

 

Austrália

 

25

 

vermelha

 

folículo6

 

3

 

4-5

ramos frágeis, atrai beija-flores

Talipariti

tiliaceum var.

pernambucense

 

algodão da

praia

 

Região NE

até SP

 

30

 

amarela

 

cápsula

 

4

 

3-5

 

tolera terrenos

encharcados

 

Metrodorea

nigra

 

caputuna-

preta

 

BA até PR

 

30

 

rosa

escuro

 

cápsula

 

3

 

4-5

sementes atraem avifauna, crescimento lento

Stifftia

crysantha

 

Diadema

 

BA até SP

 

25

 

amarela

 

aquênio7

 

3

 

3-5

 

muito ornamental

 

Tabebuia

heptaphylla

 

ipê-rosa-

anão

 

SP

 

25

 

rosa

 

síliqua8

 

2

 

3

flores atraem avifauna, variedade anã

Quadro 3: Espécies de médio porte (de 5 a 10 m de altura) para arborização em vias públicas.

Nome

científico

Nome

popular

Origem

DAP (cm)

Cor da

floração

Tipo de

frutificação

Diâmetro

copa (m)

Porte (m)

Observações

Aegiphila

sellowiana

 

tamanqueiro

MG, RJ e SP

 

30

 

creme

baga vermelha

 

4

 

4-7

 

atrai avifauna

 

 

Allophyllus

edulis

 

 

 

fruto de pombo

América

tropical, CE,

MT, BA, RJ,

SP, PR, SC e RS

 

 

 

35

 

 

 

creme

 

 

baga vermelha

 

 

 

4

 

 

 

6-10

 

 

atrai avifauna, flores melíferas9

Bauhinia

forficata

unha ou pata

de vaca

SP, RJ e MG

40

branca

legume

 

4

 

5-9

flores atraem morcegos, possui espinhos

Cassia

leptophylla

 

falso

barbatimão

 

PR e SC

 

40

 

amarela

 

legume

 

6

 

8-10

 

muito ornamental

Dictyoloma

vandellianum

 

tingui-preto

 

BA até SP

 

30

 

branca

 

cápsula

 

4

 

4-7

crescimento rápido, atrai avifauna

Esenbeckia

grandiflora

 

guaxupita

América

do Sul

 

30

 

branca

 

cápsula

 

2

 

4-7

madeira dura e durável

Jacaranda

macrantha

caroba,

carobão

 

RJ, SP, MG

 

30

 

roxa

 

cápsula

 

3

 

10

folhas caducas, flores atraem avifauna

Jacaranda

puberula

 

carobinha

 

RJ, SP, PR,

SC, RS

 

40

 

roxa

 

cápsula

 

3

 

5-7

folhas caducas, flores atraem avifauna

Murraya

paniculata

 

falsa-murta

Ásia

Tropical

 

30

 

branca

baga

vermelha

 

4-6

 

4-7

crescimento lento, perfumada, frutos atraem avifauna

 

Senna

spectabilis var.

excelsa

 

 

 

pau-de-orelha

 

 

NE do Brasil

 

 

40

 

 

amarela

 

 

legume

 

 

5

 

 

6-9

crescimento rápido, resistente a seca e a solos

pobres, folhas caducas

Senna

macranthera

 

manduirana

CE até

SP e MG

 

30

 

amarela

 

legume

 

4

 

6-8

crescimento rápido, decídua

 

 

Senna

multijulga

 

 

 

pau-cigarra

aleluia

 

 

Brasil

 

 

40

 

 

amarela

 

 

legume

 

 

6

 

 

6 - 10

qualquer tipo de solo, floração precoce, flores e

frutos alimentam aves

Tabebuia

chysotricha

 

 

ipê amarelo

ES, RJ

SP, PR,

SC

 

40

 

amarela

 

síliqua

 

3

 

6 - 10

folhas caducas, flores atraem avifauna

Quadro 4: Espécies de grande porte (maiores que 10 m de altura) para arborização em vias públicas, preferencialmente canteiros centrais, com dimensões compatíveis.

Nome

científico

Nome

popular

Origem

DAP (cm)

Cor da

floração

Tipo de

frutificação

Diâmetro

copa (m)

Porte (m)

Observações

Andira

fraxinifolia

 

angelim-doce

MA, BA, até SC

 

40

 

roxa

 

baga

 

10

 

6-12

frutos atraem morcegos, pioneira rústica

Balfouroden-

dron

riedelianum

 

 

pau-marfim

Argentina

Paraguai, MG, SP,

PR, SC, RS, MS

 

 

90

 

 

branca

 

 

sâmara10

 

 

8

 

 

20-30

 

 

folhas caducas

 

Caesalpinia

echinata

 

pau-brasil

 

CE até RJ

 

100

 

amarela

 

legume

 

12

 

12

usada para fins educativos, flores melíferas

 

Caesalpinia

leiostachya

 

 

 

pau-ferro

 

 

PI até SP

 

 

100

 

 

amarela

 

 

legume

indeiscente11

 

12

 

20-30

folhas caducas, ramos quebram com o vento,

tronco ornamental

 

Cassia

ferruginea

 

 

chuva-de-ouro

canafistúla

 

CE, GO, MG, RJ,

SP, PR

 

 

70

 

amarela

(cachos)

 

legume

indeiscente

 

 

8

 

 

10-15

crescimento rápido, folhas caducas, frequentes nas matas primárias

Clitoria

fairchildiana

 

 

sombreiro

Região Norte do

Brasil

 

70

 

lilás

 

legume

 

8

 

8-12

rústica, crescimento rápido, folhas caducas

 

Copaifera

langsdorffii

 

 

copaíba,

pau-de-óleo

CE, MT, MS, GO,

MG, BA, RJ, SP,

PR

 

 

80

 

 

branca

 

 

legume

 

 

6-10

 

 

10-15

brotação cor de vinho na primavera, sementes

atraem aves

 

Cupania

vernalis

 

 

 

camboatá

Bolívia, Paraguai,

Uruguai, MG, SP,

PR, SC, RS, MS

 

 

70

 

 

creme

 

 

cápsula

 

 

5 - 10

 

 

10-20

 

 

frutos atraem aves

Cybistax

antisyphilitica

ipê-de-flor

verde

 

Brasil

 

40

 

verde

 

síliqua

 

4

 

6-12

solo de boa drenagem, cerrado

Erythrina

falcata

 

corticeira-da-

serra,

mulungu

BA, MS, MG, RJ,

SP a RS

 

90

 

vermelha

 

legume

 

8-10

 

20-30

madeira fraca, folhas caducas, folhas atraem avifauna

Erythrina

verna

 

 

mulungu

MG, SP, BA, ES,

RJ

 

70

 

vermelha

 

legume

 

8

 

10-20

flores atraem aves, crescimento rápido, folhas

caducas, espinhos

Holocalyx

balansae

 

alecrim-de-

campinas

 

SP até RS

 

80

 

branca

 

baga

 

6

 

15-25

rústica, crescimento lento, frutos atraem morcegos

Lafoensia

glyptocarpa

 

mirindiba-

rosa

 

BA até SP

 

60

rosea-

branca

 

cápsula

 

6-15

 

15-25

crescimento médio a rápido, rústica

 

Lafoensia

pacari

 

 

 

dedaleiro

 

MS, RJ, SP, PR e SC

 

 

60

 

branco-

amarelo

 

 

cápsula

 

 

6

 

 

10

folhas caducas, qualquer tipo de solo, resitente ao

frio, madeira fraca

 

Licania

tomentosa

 

oiti

 

PE, PI até MG

 

50

 

branca

 

drupa 12

 

6-15

 

8-15

crescimento lento a médio, atrai fauna em geral

Machaerium

villosum13

jacarandá-paulista

MG, RJ, SP, PR e SC

 

80

 

creme

 

sâmara

 

8

 

15-30

espécie secundária tardia, perenifólia

Myrocarpus

frondosus

cabreúva-

amarela

MG, RJ, até RS e BA

 

90

verde-

amarela

 

sâmara

 

15

 

20-30

 

folhas caducas

Myroxylon

peruiferum

cabreúva-

vermelha

 

Brasil

 

100

 

branca

 

sâmara

 

7-10

 

10-20

folhas caducas, desenvolvimento lento

Nectandra

megapotamica

 

canela preta

Paraguai, Uruguai,

PR, SC, RS

 

60

 

creme

 

baga

 

10-20

 

15-25

frutos atraem avifauna

Nectranda

rigida

canela

ferrugem

Venezuela e Brasil (exceto NE)

 

70

 

branca

 

baga

 

6

 

15-20

 

frutos atraem aves

 

Ocotea

odorifera

 

 

canela

sassafrás

 

 

BA ao RS

 

 

70

 

branca

creme

 

 

baga

 

 

8-10

 

 

15-25

frutos atraem aves, copa densa com galhos

pendentes quando isolada

 

Platycyamus

renellii

 

pau-pereira

folha de bolo

BA, MG, ES, GO,

SP

 

60

 

roxa

 

legume

 

6

 

10-20

 

folhas caducas

Pterodon

emarginatus

faveira,

sucupira lisa

MG, GO,

MS, MT, SP

 

40

 

rosa

 

sâmara

 

8

 

8-15

folhas caducas, crescimento lento

Tabebuia

ochracea

 

 

piúva, ipê

do cerrado

Argentina, MS,GO,

MG, SP, PR

 

50

 

amarela

 

síliqua

 

4-6

 

8-14

flores atraem avifauna, folhas caducas

Tabebuia

umbellata

 

 

ipê-amarelo-

do-brejo

 

MG, RJ, até RS

 

50

 

amarela

 

síliqua

 

10

 

10-15

 

flores atraem avifauna

Taluma

ovata

pinha-do-

brejo

 

MG até RS

 

90

 

branca

agregado

estrobili-

forme

 

8

 

20-30

 

atrai aves

Vochysia

tucanorum14

pau-de-

tucano

MG, SP, GO, MS,

RJ

 

40

 

amarela

 

cápsula

 

7

 

12

pioneira, tolerante a qualquer tipo de solo

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1 Altura de fuste correspondente à distância vertical entre o terreno e a base da copa.

2 Dr. Wantuelfer Gonçalves é graduado em Engenharia Florestal pela UFV (1977), mestre em Ciências Florestais pela UFV (1989) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP (1994). Atualmente é professor associado nível 1 da Universidade Federal de Viçosa. Tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Paisagismo.

3 Fruto do tipo carnoso que só libera as sementes quando é aberto ou apodrece. Ex.: tomate e pimentão

4 Fruto característico das plantas leguminosas (Fabaceae), também conhecido por vagem.

5 Fruto seco que se abre através de poros ou por fendas longitudinais, por exemplo: papoula, mamona,

tabaco, paineira, algodão, etc.

6 Fruto seco, simples e deiscente. É o mais simples dos frutos e é encontrado nos fósseis das Angiospermas.

Exemplo: peroba.

7 Fruto seco, indeiscente e monospérmico (só uma semente).

8 Fruto seco, alongado e bivalve, cujos grãos aderem alternadamente a duas suturas longitudinais e opostas.

9 Flor melífera é aquela cujo néctar pode ser utilizado pelas abelhas para produzir mel.

10 Sâmara é um fruto seco, de pericarpo expandido em asa membranosa, o que facilita sua dispersão pelo vento.

11 Indeiscente é o fruto que não se abre naturalmente na época da maturação. Ex: noz

12 Drupa é um fruto carnoso com uma única semente, sendo esta aderida ao endocarpo de maneira que só pode ser separada mecanicamente. Ex.: pêssego.

13 MACHAERIUM villosum Vogel: banco de dados. Disponível em: <http://www.esalq.usp.br/trilhas/lei/lei03.php>. Acesso em: 07 fev. 2013.

14 VOCHYSIA tucanorum: banco de dados. Disponível em: <http://www.paisagismodigital.com/port/item.aspx?id=100092-Vochysia-tucanorum>. Acesso em: 07 fev. 2013.     


Publicado por: Vanessa Barboza dos Santos

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