Turismo e Libras, uma viagem que pode dar certo
índice
- 1. RESUMO
- 2. INTRODUÇÃO
- 3. INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
- 4. A SURDEZ, A SOCIEDADE E A LIBRAS.
- 5. LIBRAS Para Todos
- 6. MUSEU DO AMANHÃ E AQUARIO: SUA HISTÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO NO TURISMO.
- 6.1 Museu do Amanhã
- 6.1.1 Acervos do Museu do Amanhã.
- 6.1.2 Exposição Principal
- 6.1.3 Cosmos
- 6.1.4 Terra
- 6.1.5 Antropoceno
- 6.1.6 Amanhãs
- 6.1.7 Nós
- 6.1.8 Arquitetura e Sustentabilidade
- 6.1.9 Educativo
- 6.1.10 Acessibilidade
- 6.2 AQUARIO
- 6.2.1 ACESSIBILIDADE
- 7. METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS.
- 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 9. REFERÊNCIAS
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1. RESUMO
A Cidade do Rio de Janeiro, conhecida mundialmente como Cidade maravilhosa por conta de suas belezas naturais, ganhou recentemente dois importantes empreendimentos turísticos no revitalizado “Porto Maravilha”: “O Museu do Amanhã” e o “Aqua-Rio” e por conta disso, o local vem atraindo milhares de turistas dos mais diversos perfis. Porém, as localidades necessitam adaptar-se para que possa atender, com dignidade e respeito, deficientes auditivos, especialmente os surdos que necessitam da comunicação em LIBRAS. Utilizou-se o método de pesquisa exploratória, de características qualitativas e com aprofundamento sobre um grupo social ou organização. É sob este enfoque que se debruça esta pesquisa, tratando do uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) nos serviços voltados a atividade turística nos locais em questão, como meio de comunicação no atendimento ao turista surdo e a inclusão do mesmo como forma de minimizar o preconceito e maximizar a aceitação do surdo na sociedade.
Palavras-Chaves: Turismo; Surdo; LIBRAS; Inclusão; Comunicação
ABSTRACT
The city of Rio de Janeiro, known worldwide as a wonderful city due to its natural beauty, has recently won two important tourism projects in the revitalized "Porto Maravilha": "The Museum of Tomorrow" and "Aqua-Rio" the place has attracted thousands of tourists of the most diverse profiles. However, localities need to adapt so that they can meet, with dignity and respect, the hearing impaired, especially the deaf who need communication in LIBRAS. The method of exploratory research was used, with qualitative characteristics and with deepening on a social group or organization. This research focuses on the use of the Brazilian Language of Signals (LIBRAS) in tourism services in the places in question, as a means of communication in the care of the deaf tourist and the inclusion of the same as a way of minimizing prejudice and maximize the acceptance of the deaf in society.
Keywords: Tourism; Deaf; Pounds; Inclusion; Communication
2. INTRODUÇÃO
Todo e qualquer ser humano, independentemente de suas condições financeiras, com ou sem limitações físicas, necessita de um tempo livre para um descanso, e nada melhor do que o turismo, que engloba tantas atividades, para interagir neste sentido, pois ele é um instrumento que tem o poder de unir pessoas de diferentes culturas, de diferentes classes sociais.
Porém, desde os tempos remotos, o que se enxerga no turismo é uma visão voltada para atender a grande massa, ou seja, a maioria do público e este modelo padronizado não possui capacidade para atender as minorias, principalmente os deficientes.
Com isso, este trabalho busca analisar como a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é vislumbrada nos pontos turísticos “Museu do Amanhã” e “AquaRio”, situados na zona portuária do Rio de Janeiro, visto que a contribuição da LIBRAS é relevante para que deficientes auditivos sejam integrados na sociedade, onde os mesmos encontram muitas dificuldades de interagir com outras pessoas, pois esta língua é pouco difundida nos ambientes sociais. Ela é fundamental para o desenvolvimento dos deficientes em todas as esferas da sociedade.
Entende-se como LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de pessoas surdas no Brasil. (Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002)
Utilizando o modelo de pesquisa exploratória que tem por finalidade obter dados qualitativos e aprofundados sobre questões relevantes a um grupo social ou organização, Gil (2007, apud GERHARDT, SILVEIRA, 2009) diz que esta pesquisa tem por objetivo propiciar maior familiaridade com o assunto abordado, visando construir hipóteses e assim, torna-lo mais evidente. “A pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento e compreensão de um grupo social ou organização”. (GERHARDT 2009).
O reconhecimento da LIBRAS como primeira língua da comunidade de surdos está amparada sob a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002. A lei foi criada devido à luta pela conquista de direitos dos surdos em espaços de cidadania a exemplo de: escola, sociedade, igreja dentre outros que os levam a adquirir independência.
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar o nível de acessibilidade para pessoas surdas nos pontos turísticos, Museu do Amanhã e AquaRio, analisando se existe ou não a utilização da LIBRAS nestas localidades, possibilitando uma reflexão de seus representantes com relação aos deficientes auditivos, visto que a LIBRAS é o principal instrumento de comunicação destes deficientes, permitindo a eles um atendimento digno e humanizado.
Foi abordado como objetivo específico a análise in loco quanto:
- A existência de pessoas capacitadas no atendimento aos surdos;
- A existência de vídeo-interpretação de áudio para Língua Brasileira de Sinais;
- A existência de projeto para estes objetivos.
A relevância deste trabalho está na dificuldade encontrada pelo irmão da autora do presente trabalho, que se chama Rodrigo, com surdez congênita e, por conta da deficiência, ele encontra muita dificuldade para o convívio em sociedade. Com o aumento da oferta do turismo na região da zona portuária do Rio de Janeiro e o interesse de turistas dos mais diversos perfis, foi conveniente abordar como a LIBRAS está sendo tratada nestas localidades.
Rodrigo, hoje, está com 37 anos. A surdez o acometeu por conta da doença “rubéola”, doença esta que a mãe teve contato no sétimo mês de gestação. Apenas o contato foi suficiente para que ele nascesse sem nenhuma audição, visão prejudicada e um leve retardo mental. Após atingir idade adequada, foi matriculado em uma escola pública regular, no Rio de Janeiro, com uma professora intérprete o auxiliando. Seu aprendizado em LIBRAS foi mínimo, pois trocou de escola várias vezes, já que as professoras intérpretes pediam demissão com frequência. Aos 24 anos de idade, após o falecimento da mãe, Rodrigo foi morar em minha residência, Vila Velha (ES). Procurei uma escola para matriculá-lo e tive muitas dificuldades. Tentei a Escola Municipal Nice de Paula Agostini Sobrinho, onde a sobrinha Lorena já estudava, mas por conta da idade avançada de Rodrigo, não era permitido estar junto de crianças e adolescentes, por ser maior de idade. Fui orientada a matriculá-lo na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Tive um pouco de receio, pois o EJA era somente no horário noturno, muito perigoso para um surdo e a escola na qual encontrei vaga para matriculá-lo, Umef Deputado Mikeil Chequer, além de ficar em um local de comunidade, perigoso, não dispunha de intérpretes em LIBRAS e Rodrigo só fazia copiar conteúdos, sem nada entender. Em Vila Velha existe a Escola Especial de Educação Oral e Auditiva Professora Alécia Ferreira Couto, uma Instituição do Estado que dá suporte aos surdos matriculados na rede pública de ensino. Matriculei Rodrigo nesta Instituição e ali ele conseguiu aprender um pouco dos conteúdos passados na escola regular, onde as professoras intérpretes o ajudavam. Porém, no momento de realizar as provas, verifiquei que a letra não condizia com a dele, ou seja, um aluno ouvinte é quem fazia suas provas. Relatei esta questão ao diretor da escola regular, que viu com estranheza o meu relato e seguiu afirmando que o aluno Rodrigo, apesar de surdo, era muito inteligente e que era ele quem fazia as próprias provas. Provei ao diretor que quem fazia as provas eram alunos ouvintes. O diretor me pediu que, apesar desta situação acontecer, que eu mantivesse o aluno no colégio, pois a presença do Rodrigo estava fazendo bem a alguns alunos rebeldes e, por conta desta convivência, esses alunos estavam melhorando o desempenho na escola, o comportamento e, até mesmo, abandonando o vício das drogas, visto que, muitos desses alunos eram usuários de substâncias ilícitas. Mantive o Rodrigo na escola certa de que ele não avançaria no ensino, porém feliz em saber que ele, apesar da surdez, era muito querido por todos da escola.
Rodrigo concluiu o ensino fundamental no ano de 2007, cursou em dois anos. No final deste mesmo ano, fui chamada na escola pelo diretor que me pediu que deixasse que Rodrigo refizesse, por mais dois anos, o EJA, pois ele era um exemplo a ser seguido por todos os alunos ouvintes, sua presença na escola acalmava os ouvintes que, mesmo sem a LIBRAS, conseguiam entender o Rodrigo e se fazerem entendidos. Assim, Rodrigo ficou por mais dois anos nesta escola. Infelizmente, após terminar o ensino fundamental pela segunda vez, ele teve que parar de estudar. Seu aprendizado foi praticamente nulo, sem base alguma para fazer o ensino médio. Tentei mantê-lo ao menos na Escola Especial Oral e Auditiva Alécia Ferreira Couto, porém não foi permitido, pois para continuar na Instituição, ele deveria estar matriculado em uma escola regular.
Para que Rodrigo não ficasse no ócio, meu esposo, que era funcionário terceirizado da Chocolates Garoto, conseguiu com que ele fosse entrevistado para um emprego temporário na empresa. Infelizmente, o Rodrigo não conseguiu sequer preencher uma ficha com dados pessoais, pois não entendia o que a ficha pedia. Diante desta dificuldade, a intérprete da Chocolates Garoto, Fernanda Nogueira, conversou com meu esposo dizendo que até poderia dar o emprego a ele, porém ela relatou que a partir do momento em que a carteira de trabalho do deficiente é assinada, ele jamais conseguirá receber pensão por morte previdenciária, caso seus pais venham a falecer, cabendo a eles somente o benefício do Loas, por parte do Governo Federal. Como naquele período eu estava aguardando um recurso judicial para que Rodrigo recebesse as pensões por morte dos pais, que a Previdência Social já havia negado por duas vezes, achei relevante ele não trabalhar na Chocolates Garoto, visto que era um trabalho temporário e, diante de suas dificuldades, ele poderia não conseguir outros trabalhos e perder a pensão, que é um direito adquirido. Enfim, após alguns meses, as pensões que já estavam tramitando por três longos anos, foram deferidas.
Embora tenha parado com os estudos na rede regular de ensino, Rodrigo continuou seu aprendizado em LIBRAS, através da ”Fé”, recebendo visitas regulares em casa de voluntários cristãos que, através da língua de sinais, dialogam sobre conteúdos bíblicos, fazendo com que amplie seus horizontes e conviva com muitos outros surdos e ouvintes intérpretes, que são seus “irmãos na fé”. Ele frequenta reuniões e congressos direcionados à Comunidade Surda. Através da “Fé”, seu aprendizado em LIBRAS vem se ampliando e, por conta da convivência direta com outros surdos e ouvintes intérpretes, a prática acaba por melhorar sua comunicação.
Gostaria de deixar claro aqui que este relato sobre meu irmão, Rodrigo, se fez necessário para que todos possam entender o quanto foi e tem sido difícil esta caminhada e que este Trabalho de Conclusão de Curso foi em homenagem e inspirado nele e em muitos outros surdos que enfrentam tantas adversidades, por conta da deficiência.
O trabalho mostra como a comunicação em LIBRAS pode atuar como impulsionador de transformação social na medida em que existe uma reciprocidade entre deficientes e os agentes envolvidos. Cabe ressaltar ainda que, os pontos turísticos em questão assim como outros setores, devem implementar estratégias e instrumentos para a inclusão de pessoas com deficiência.
A partir dos pontos citados, que é a interação do surdo no turismo, a falta da comunicação em LIBRAS nas localidades turísticas, surgiu o interesse de realizar este trabalho na tentativa de eliminar esta barreira, visto que o turismo deve trabalhar a igualdade social, onde todos devem ser tratados, equitativamente, da mesma maneira, compreendendo a diversidade como regra, fazendo valer seus direitos que são garantidos por lei, de acordo com a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes:
Lei federal nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de deficiência, assegura ao deficiente o pleno exercício de seus direitos, incluindo a participação de atividades relacionadas ao Turismo, conforme Art. 2º:’[...] ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de ouros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem estar pessoal, social e econômico’ (Brasil.. 1989).
Lei Federal nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, capítulo VII da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização – art. 17, ‘promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização ás pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer’ (Brasil.. 2000).
O Ministério do Turismo lançou em 2006 a cartilha “Turismo e Acessibilidade: Manual de Orientações, com o propósito de servir de instrumento orientador sobre temas à acessibilidade e no ano de 2009, foi lançada a cartilha “Turismo Acessível – Introdução a uma Viagem de Inclusão” que teve por objetivo informar leis que garantem os direitos de acessibilidade aos deficientes. Ambos manuais envolvem todas as pessoas com deficiência: visual, auditiva, mental, física e múltipla, terminologia esta adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2007).
Como fora mencionado anteriormente, a autora deste trabalho teve a oportunidade cuidar de um irmão com surdez congênita fazendo com que olhe com mais sensibilidade e lute pelas causas desta minoria, conseguindo retratar com propriedade as dificuldades encontradas por ele e outros surdos no meio social por conta da convivência direta com estes. Percebe-se que existe uma grande carência quando o assunto é o atendimento ao turista surdo, onde a ausência da comunicação em LIBRAS é notória, o que proporcionaria a eles uma comunicação livre de intermediários. Por estes motivos, esta pesquisa se torna de grande importância para que se possa mostrar o quanto a língua de sinais é relevante para estes deficientes.
Diante desta realidade, deve-se evidenciar a importância da inclusão desta minoria, a Comunidade Surda, os quais totalizam cerca de cinco milhões de surdos da população brasileira (LIBRAS ON-LINE, 2013, p.06). Este quantitativo é um potencial elevado deste segmento, podendo ser bastante satisfatório caso seja bem explorado pelo trade turístico.
Para tanto, este trabalho se divide em quatro capítulos. No primeiro capítulo foi abordado as questões sobre pessoas com deficiência, inclusão social e o turismo, dando enfoque as diversas formas de deficiência e vislumbrando como o turismo trabalha com este público.
No segundo capítulo, foram abordados os temas “a Surdez, a Sociedade e a LIBRAS”, contou-se um pouco sobre a história da LIBRAS e as dificuldades encontradas pelos deficientes auditivos na sociedade.
No terceiro capítulo foram abordados os atrativos em questão, “Museu do Amanhã” e AquaRio”, foi contextualizado e relacionado ao turismo, dando ênfase à sua construção, história e a importância que eles representam, não só para a sociedade, mas para a área acadêmica.
No quarto e último capítulo demonstrou-se os aspectos metodológicos com o resultado da pesquisa realizada, detalhando como foi feita, seus pontos positivos e negativos.
Por fim, as considerações finais a partir da análise realizada e seus resultados, onde foi retratado o ponto de vista da autora diante de um tema que mexe muito com emoções, pelo convivo direto com surdo e a vivência das dificuldades encontradas para o convívio na sociedade preconceituosa na qual estão inseridos, em pleno século XXI.
3. INCLUSÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
Para o entendimento do que é a surdez, antes precisamos pensar a respeito do que seja a audição. De acordo com o Instituto Itard[1], 2017 (o que é deficiência auditiva?) “a audição é o sentido responsável por captar todo de informação sonora do nosso meio”. Sendo assim, uma pessoa é diagnosticada surda quando ocorre perda total do aparelho fonador, impedindo o reconhecimento sonoro. No entanto, temos também situações em que ocorre uma perda parcial da audição e não total. Nesses casos a pessoa consegue reconhecer alguns sons ou até mesmo diálogos, porém em uma escala audível mais baixa (RANGEL, 2013, p.10). Este grupo de pessoas é reconhecida pela medicina como deficientes auditivos.
É preciso que se esclareça que existem diferenças entre deficientes auditivos e surdos. A questão da surdez ultrapassa os limites da ciência e entra em um âmbito cultural, de identidade e aceitação da natureza surda. Principalmente de sua língua. Já o deficiente auditivo não possui necessariamente uma identidade, visto que, de uma maneira geral, ele compartilha com o mundo dos ouvintes compartilhando a mesma língua que eles, ainda que tenha dificuldade para acompanhá-la. Então, concluímos que “Surdo” é aquele que perdeu totalmente a capacidade de ouvir. “Deficiente Auditivo” é aquele que perdeu parte da capacidade de ouvir. (BOGAS, 2018).
Baseado nestas informações, o foco deste trabalho é voltado somente aos surdos e aos deficientes auditivos que necessitam da LIBRAS para sua comunicação, visto que os deficientes auditivos que participam do mundo dos ouvintes, necessariamente, não necessitam da LIBRAS como meio de comunicação.
Dados apontam a existência de, aproximadamente, 28 milhões de pessoas com surdez e isto representa mais de 10% da população brasileira (OMS, 2015). É muito importante conhecer o termo correto para designar esses indivíduos. Um termo muito utilizado: surdo-mudo é, com certeza, o mais arcaico e incorreto. O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela também seja muda.
A exemplo, Rodrigo, irmão da autora do trabalho, com surdez congênita, na maioria das vezes é chamado de “mudinho” por grande parte das pessoas que o conhecem, quando na verdade o termo correto é a palavra “surdo”, pois ele não fala por conta da surdez, embora possua suas cordas vocais perfeitas e ser capaz de produzir sons. Diante destes fatos, é notório que vivemos em uma sociedade onde a grande maioria desconhece o termo correto.
De acordo com Sassaki (1999, p.42), o termo deficiente auditivo pode conferir um tom pejorativo e preconceituoso, referindo-se a pessoa como sendo anormal ou portador de uma patologia, uma “deficiência”. O termo correto é “surdo”, é aquele que representa a real situação desses indivíduos.
Ainda, de acordo com Sassaki (2014, p.12 a 16), a condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou adjetivo “portador” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que está presente na pessoa.
A história dos surdos, suas lutas e sofrimentos, mostram o quanto é necessário permanecerem unidos e construírem uma identidade própria. Sua cultura é representada principalmente pela língua, elemento de união que permanece vivo nas comunidades. (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2019).
De acordo com Padenn (1989), a comunidade surda é um grupo de pessoas que mora em uma localização particular, compartilham metas comuns de seus membros e, de vários modos trabalham para alcançá-las. (PADENN, 1989:5)
As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, possuindo diferenças em relação aos hábitos, vestuários, situações socioeconômicas e, claro, variações linguísticas regionais. (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2019)
Quebrar o paradigma da deficiência é enxergar as restrições de ambos: surdos e ouvintes. Por exemplo, enquanto um surdo não conversa no escuro, o ouvinte não conversa debaixo d’água; em um local barulhento, o ouvinte não consegue se comunicar, a menos que grite e, nesse caso, o surdo se comunica sem problemas. Além disso, o ouvinte não consegue comer e falar ao mesmo tempo, educadamente, e sem engasgar-se, enquanto o surdo não sofre essa restrição. (SALLES, et al., 2004, p.38)
Cultura surda está ligada à ouvinte: surdos convivem diariamente com ouvintes e isso traz grande influência. Portanto, a comunidade surda de fato é só de sujeitos surdos, há também ouvintes – membros da família, intérpretes, professores, amigos e outros – que participam e compartilham os mesmos interesses comuns em uma determinada região. Para um melhor entendimento, o termo “cultura” significa um conjunto de comportamentos de um grupo que tem sua própria língua, valores, regras e tradições. (RANGEL, 2013, p.106)
Visando oferecer uma infraestrutura adequada a este público, faz-se necessário uma qualificação profissional de pessoas, como intérpretes em LIBRAS e instrumentos de apoio, para que os surdos possam ser atendidos com respeito e dignidade nas localidades turísticas, dando uma condição de melhor integração entre todos os agentes envolvidos. (SOUZA, 2014, p.173).
Os surdos assim como todo ser humano, tem o direito de gozar de todas as oportunidades dentro da sociedade. Com uma visão voltada à Comunidade Surda, o trabalho vislumbra um caminho para torná-los cidadãos com total independência e nada melhor do que o turismo para que sejam inseridos neste meio, visto que eles apresentam um perfil de um ser curioso e aventureiro e estão sempre em busca de novas experiências. (SOUZA, 2014, p.174).
Antes de entrarmos no assunto “surdos e deficientes auditivos” que é o objeto de pesquisa deste trabalho, vamos compreender um pouco sobre as diversas formas de deficiências que existem, iniciando com um texto do professor Stephen W Hawking[2], publicado no Relatório Mundial da Pessoa com Deficiência, 2012 - Preâmbulo (Secretaria dos Direitos da Pessoa com deficiência / São Paulo), ele declara que para se alcançar sucessos na vida, a deficiência não precisa e nem deve ser um obstáculo. Ele relata que durante toda a vida adulta sofreu de uma doença do neurônio motor, porém isso não o impediu de ter uma carreira de sucesso e vida familiar feliz. Se sentia muito sortudo este grande profissional em física teórica, a profissão assegurava apoio para viver uma vida que valesse a pena. Ele dizia que a maioria das pessoas com deficiência no mundo tem muita dificuldade até para sobreviver dia a dia, quanto mais ter uma vida produtiva e realizada. Ele declarou sobre a importância do “Relatório Mundial sobre a Deficiência”, afirmando que este representa uma grande contribuição para a nossa compreensão sobre a deficiência e o impacto deste sobre os indivíduos da sociedade, destacando as diversas barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência, tais como: atitudinais, física e financeira, alertando que está ao nosso alcance ir de encontro a estas barreiras; que removê-las é nossa obrigação moral; com participação e investimento de recursos financeiros e conhecimento suficiente para liberar o vasto potencial das pessoas com deficiência. Governantes mundiais não podem continuar a negligenciar as centenas de milhões de pessoas com deficiência cujo acesso à reabilitação, saúde, suporte, educação e emprego tem sido impugnado e que eles nunca tiveram a chance de brilhar. Ele encerra este texto com a seguinte frase: “É minha esperança que, a começar pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e agora com a publicação do Relatório Mundial sobre a deficiência, este século marque uma reviravolta na inclusão de pessoas com deficiência na vida da sociedade”. (STEPHEN W HAWKING, 2012)
De acordo com o Relatório Mundial da Pessoa com deficiência, 2012 (Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência/São Paulo), o ambiente onde uma pessoa vive tem um enorme impacto sobre a experiência e a grandeza de sua deficiência. Espaços enigmáticos criam deficiência ao produzirem barreiras à participação e inclusão. Citando como exemplo desses possíveis impactos negativos: um indivíduo surdo sem intérprete de língua de sinais; um usuário de cadeira de rodas em um prédio sem banheiro ou elevador acessíveis; uma pessoa cega que usa computador sem software de leitura de tela.
Ainda, de acordo com este relatório, a deficiência é uma questão de direitos humanos porque os indivíduos com deficiência se defrontam com desigualdades quando tem negado a eles o acesso democrático a serviços de saúde, educação, emprego, ou até mesmo sua presença e participação política devido a sua deficiência. Elas também estão sujeitas a terem sua dignidade violadas, quando são submetidas à violência, abuso, preconceito, ou quando tem sua eficiência desrespeitada. Alguns indivíduos com deficiência perdem sua autossuficiência quando são submetidos a esterilização involuntária, por exemplo, quando são enclausuradas em instituições contra sua própria vontade, ou quando são encarados como legalmente incapacitados devido a sua deficiência. (SEDPcD, 2012, cap.1 p.9)
No relatório da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Brasília, 2012, p.15), diz que indivíduos com deficiência são, antes de tudo, pessoas. Pessoas como outras quaisquer com personalidade, singularidade, contraste e protagonismo que batalham por seus direitos, que enaltecem o respeito pela dignidade, pelo brio e pela independência individual, pela absoluta e efetiva cooperação e envolvimento na sociedade e pelo equilíbrio de oportunidades, realçando, assim, que a deficiência nada mais é uma marca da condição humana.
No relatório da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Brasília, 2012, p.26-27) Algumas das várias finalidades da presente convenção é impulsionar, construir e afirmar o pleno exercício de todos os direitos humanos e autonomia para todas as pessoas com deficiência. “Comunicação” com alcance às línguas, a visualização de textos, o Braille, a comunicação tátil, bem como a linguagem simples, escrita e oral, os compostos auditivos e os meios de voz digitalizada e os modos e meios em formatos aumentativos e alternativos de comunicação acessíveis.; “Língua” engloba as línguas faladas e de sinais e outros meios de comunicação não falados.
O relatório da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Brasília, 2012, p.35-58) ressalta que a pessoa com deficiência tenha a oportunidade de viver de forma autônoma e igualdade com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, a informação, comunicação, serviços e instalações abertos ao público e isso compreende o reconhecimento e a supressão de barreiras à acessibilidade. Tendo direito também a que sua integridade física e mental seja reconhecida e respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas. Estar presente na vida cultural, com igualdade de oportunidades com as demais pessoas, com acesso a bens culturais em formatos acessíveis, como teatros, museus, bibliotecas, serviços turísticos, enfim, ter acesso a monumentos e locais de importância cultural nacional.
De acordo com o site Pedagogia ao pé da letra[3] (2019), deficiência é o termo empregado para definir a ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica, filosófica ou anatômica. As várias deficiências podem agrupar-se em cinco conjuntos distintos:
- Deficiência Visual – é a perda ou redução das funções básicas do olho e do sistema visual. Existem dois grupos de deficiência: a cegueira e a baixa visão
- Deficiência Mental – designação que caracteriza os problemas que acontecem no cérebro, mas que não afetam outras regiões ou áreas cerebrais.
- Deficiência Física – pode ser definida como diferentes condições motoras que acontecem as pessoas comprometendo a mobilidade, a coordenação motora geral e a fala, em consequências de lesões neurológicas, musculares, ortopédicas, ou más formações congênitas ou adquiridas
- Deficiência Múltipla – é a associação de duas ou mais deficiências primárias como física, mental, visual ou auditiva, no mesmo indivíduo. As pessoas com deficiência múltipla apresentam comprometimento que causam atrasos no desenvolvimento, na aprendizagem e na capacidade administrativa.
- E por fim, a Deficiência Auditiva, que é o alvo deste trabalho: trata-se da perda parcial ou total da audição em um ou ambos os ouvidos. Pode ser de nascença ou causada por doença.
Tipos de deficiência auditiva:
- Deficiência Auditiva Condutiva – são geralmente de grau leve ou moderado, variando de 25 a 65 decibéis e podem ser tratados com o uso de aparelho auditivo ou implante de ouvido.
- Deficiência Auditiva Sensorioneural – a perda de audição desse tipo decorre de danos ocasionados pelas células sensoriais auditivas ou no nervo auditivo. Pode ser de grau leve, moderada, severa ou profunda.
- Deficiência Auditiva Mista – associação de uma perda auditiva sensorioneural e condutiva, decorrente de problemas em ambos os ouvidos: interno, externo ou médio.
- Deficiência Auditiva Neural: comumente profunda e permanente, onde aparelhos auditivos e implantes cocleares não amenizam a deficiência auditiva, visto que o nervo não é capaz de transmitir informações sonoras ao cérebro.
Em se tratando da visão da sociedade em relação à deficiência auditiva, Skliar (2000) aponta que a surdez ainda está associada à experiência de falta, à deficiência. A própria ideia de deficiência denota desvantagem que o indivíduo deve suportar e, neste sentido, o surdo precisa suportar uma desvantagem na sua relação com o mundo circundante, ou com o mundo ouvinte. Salienta ainda a importância de se “optar” pelo caminho em que a surdez é vista como uma diferença política e uma experiencia visual e, assim, pensamos as identidades surdas a partir do conceito de diferença, e não de deficiência (...) a surdez como diferença nega uma atribuição puramente externa de ser surdo a uma característica marcante, como, por exemplo, não ouvir (SKLIAR, 2000 apud MOREIRA, 2008 p.15)
A surdez ainda está associada à experiência de falta, a deficiência. A própria ideia de deficiência denota desvantagem que o indivíduo deve suportar e nesse sentido o surdo deve suportar uma desvantagem na sua relação com o mundo circundante, ou com o mundo ouvinte. Skliar salienta a importância de se “optar pelo caminho em que a surdez é vista como uma diferença política e uma experiência visual e, assim, pensarmos as identidades surdas a partir do conceito de diferença, e não de deficiência (...) A surdez como diferença nega uma atribuição puramente externa do ser surdo a uma característica marcante, como, por exemplo, não ouvir” (SKLIAR, 2000, p.20).
Para Sales et al. (2010, p.48), o surdo, ou “[...]o indivíduo com incapacidade auditiva é aquele cuja percepção de sons não é funcional na vida comum. Aquele cuja percepção de sons ainda que comprometida, mas funcional com ou sem prótese auditiva é chamado de pessoa com deficiência auditiva. [...]”. É importante frisar que, se o sujeito faça uso de prótese ou aparelho auditivo e consiga captar sons, ele não deixa de ser deficiente auditivo, pois a definição de Sales refere-se à deficiência em si, e não para as possibilidades do indivíduo perante a sociedade para ouvir ou não.
Existem ainda diferenças significativas entre os termos “surdo” e “ensurdecido”. É diagnosticado como surdos os indivíduos que nasceram sem ouvir nenhum som. Já os ensurdecidos, de acordo com o dicionário do Aurélio, são aqueles que foram perdendo a audição ao longo da vida, tendo com isso sua função auditiva comprometida. Concluindo assim que a surdez congênita refere-se ao indivíduo que nasce surdo e com isso, não possui a capacidade de ouvir sons, tendo assim dificuldades na aquisição da língua materna, enquanto que o ensurdecimento é considerado uma perda de audição adquirida, ou seja, o indivíduo nasce com perfeita audição e por conta de doenças ou lesões a mesma fica comprometida.
De acordo com Gesser (2009, p.72), os graus de surdez estão classificados em decibéis (dB) e estão assim divididos: perda auditiva leve, moderada, moderadamente severa e a profunda. A surdez leve pode se agravar, tornando-se uma surdez profunda. Os limites de cálculo para classificar os grupos são definidos de acordo com a perda de decibéis. Até 25 dB considera-se normal, de 26 a 40 dB considera-se leve, de 41 a 55 dB considera-se moderada, de 56 a 70 dB considera-se severa e acima de 91 dB é considerada profunda. As pessoas que se enquadram neste último diagnóstico se comunicam, principalmente, através da LIBRAS.
Na medida da audição, o parâmetro normal representa 0 decibéis (dB). O padrão de audição de um indivíduo considerado normal é de perda de até 25dB. Quanto maior o déficit de decibéis, maior é a perda da audição. Portanto, existem diversos graus de surdez, dependendo à qual pessoas estão propensas, todavia percebe-se que a sociedade não está preparada para acolher a realidade deste público. (REGO, 1996).
Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz (Lei Estadual nº 4317, 2009).
A expressão “pessoa com deficiência” carrega um grande significado, que é a luta dos deficientes dentro de nossa sociedade, como analisa (LANNA JUNIOR, 2010),
“Pessoa com deficiência” demonstra que deficiência faz parte do corpo e principalmente, humaniza a denominação. Ser “pessoa com deficiência” é, antes de tudo, ser pessoa humana. É também uma tentativa de diminuir o estigma causado pela deficiência. (LANNA JUNIOR, 2010, p.17)
Mas como explicar sobre a visão do diferente, como analisar este padrão que surge desde o início da civilização, preconceitos são criados, e a pessoa, o outro que não se adequa a este padrão, sucintamente é banido?
De acordo com BOOF (2005), “o outro possui diversas categorias, existe o outro que à nossa porta bate, o outro que pertence a uma classe social econômica inferior ao da comunidade, o outro estrangeiro. Muitas vezes, tal indivíduo que partilha de nosso convívio é visto como inimigo, um invasor”.
3.1. Turismo, Inclusão e Acessibilidade.
Fala-se muito em inclusão social, mas verifica-se que pessoas com algum tipo de deficiência ainda são discriminadas nas comunidades em que vivem. Ações como a elaboração pela Organização das Nações Unidas (1975), da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, dispositivos da Constituição Federal do Brasil (1988), e tantas outras infinidades de Leis, Tratados e outras referências no âmbito Nacional e Internacional fundamentalmente Políticas que apontam à toda pessoa com deficiência garantir seus direitos básicos: liberdade, saúde, educação trabalho, cultura e lazer.
Pessoas com deficiência têm o direito …[...]ao respeito pela sua dignidade humana …[...]aos mesmos direitos fundamentais que os concidadãos …[...]a direitos civis e políticos iguais aos de outros seres humanos …[...]a medidas destinadas a permitir-lhes a ser o mais autossuficiente possível …[...] a tratamento médico, psicológico e funcional [e] [...]a desenvolver suas capacidades e habilidades ao máximo [e] [...]apressar o processo de sua integração ou reintegração social …[...]à segurança econômica e social e a um nível de vida decente …[...] de acordo com suas capacidades, a obter e manter o emprego ou se engajar em uma ocupação útil, produtiva e remunerada e se filiar a sindicatos [e] a ter suas necessidades especiais levadas em consideração em todas as etapas do planejamento econômico e social […] viver com suas famílias ou com pais adotivos e a participar de todas as atividades criativas, recreativas e sociais [e não] serem submetidas, em relação à sua residência, a tratamento diferencial, além daquele exigido pela sua condição […][a] serem protegidas contra toda exploração, todos os regulamentos e todo tratamento abusivo, degradante ou de natureza discriminatória […][e] a beneficiarem-se de assistência legal qualificada quando tal assistência for indispensável para a própria proteção ou de seus bens […] (ONU, dezembro 1975).
A sociedade como um todo, em se tratando de pessoas com deficiência, deveria se sensibilizar e olhar com mais carinho e cuidado por estes indivíduos, tentando ocupar os grandes vácuos que ainda persistem com relação ao cumprimento dos direitos dessas minorias, se debruçando sobre esta causa. A inclusão é um direito e não um favor.
Quando escutamos a palavra “âmbito social”, o significado remete a sociedade, como diz Fernandes (1973) “a sociedade é o que é público, é o mundo”. E pode-se reiterar que a sociedade pode ser considerada a justa colocação de indivíduos, pois nela sempre existirá mudanças, mudança que influencia a convivência social.
Conforme fora citado anteriormente, dados da OMS (2015), apontam que no Brasil há um total de 28 milhões de pessoas com surdez. Apesar de representarem 14% da população brasileira, estas pessoas não vivem em uma sociedade inclusiva.
De acordo com a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) de 2014, grande parte das prefeituras não estimulam políticas de acessibilidade, tais como lazer para pessoas com deficiência, turismo acessível e geração de trabalho e renda ou inclusão no mercado de trabalho.
De acordo com Turismo Criativo (2010), os primeiros indícios de uma rudimentar atividade turística, surge na Grécia Antiga onde se dava uma grande importância ao tempo livre, os quais eram dedicados à cultura, diversão, religião e desporto. Isto continua até os dias atuais onde o turismo vem se sobressaindo como fenômeno social, sendo capaz de constituir riquezas para determinado local, de agir na promoção e também na disposição de renda, de estimular direta e indiretamente a economia, promovendo o bem estar e a qualidade de vida por meio do progresso local e sustentável, assim como a evolução cultural dos indivíduos envolvidos, dado que está profundamente conectado com as relações interpessoais.
A inclusão social fundamenta-se no processo de dar possibilidades no sentido que todos os cidadãos tenham acesso a um momento de lazer e turismo, não importando sua condição. Assim, a sociedade precisa considerar as necessidades de todos, pensar nas diferenças e desenvolver um corpo social, uma coletividade na qual todos os locais sejam acessíveis a todos (ONU, 1982).
Reforçando esta ideia, o Ministério do Turismo (2004) ressalta que:
Todos os seres humanos têm direito a descansar, a um tempo de ócio, a um limite de horas trabalhadas e a férias pagas (...) o objetivo primário de todas as iniciativas de desenvolvimento turístico deve ser a realização plena das potencialidades de cada indivíduo como pessoa e como cidadão (BRASIL, 2004, p.5).
Todos os cidadãos, conforme sustenta a Constituição Federal em seu artigo 6º, têm direito ao lazer. O turismo, como uma forma de lazer ainda não é acessível a todos, especialmente para as pessoas com deficiência. Com isso, é necessário um olhar mais atento para este público. De acordo com o Artigo 6º da Constituição Federal, são direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
Conforme o Ministério do Turismo aponta, grandes são as dificuldades encontradas por boa parte do público com deficiência, em face do acesso a instalações e a equipamentos turísticos, pois não há qualificações específicas para um atendimento diferenciado. É bastante insegura a acessibilidade em locais públicos: faltam sinalização adequada, rampas de acesso, identificações sonoras, entre outras questões que facilitem o acesso ao turismo pelo público de pessoas com deficiência. (TURISMO ACESSÍVEL, 2015)
Diante de delicada situação, como estas citadas acima, percebe-se que são grandes os desafios de acessibilidade das pessoas com deficiência. Faz-se necessário mudanças de perspectiva para plena inclusão de pessoas com os mais variados tipos de deficiência ou necessidades especiais. Também, entende-se que as mudanças somente serão concebidas, só haverá inclusão de fato, quando houver tomada de consciência por parte das pessoas e de que à utilização dos espaços turísticos devem atender a todos, com igualdade. (KUNC, 1992)
Conforme visto, o lazer é direito de todos. É importante que a sociedade disponha de locais para isso, com inclusão das pessoas com deficiência neste cenário, pensando tanto na locomoção quanto na comunicação e demais modos de inserção em todos os ambientes turísticos. É necessário adequar os locais para que estes indivíduos interajam normalmente e estejam em constante bem-estar, não apenas tenham o desejo de participar de determinada atividade ou estar em algum local e não poder por conta da falta de acessibilidade (SASSAKI, 2003).
Schwarz e Haber (2009) sustentam que acessibilidade é:
[...] um cego que cruza a rua sozinho, porque o semáforo emite um sinal sonoro, avisando-o que pode atravessar, é um cadeirante que pode se locomover por conta própria, numa cidade sem buracos e sem obstáculos, é uma criança surda ter à disposição intérpretes de LIBRAS nas escolas públicas. Enfim, acessibilidade é o pleno direito de ir e vir – e permanecer (SCHWARZ; HABER, 2009, p.308).
3.2. Acessibilidade para os Surdos no Turismo.
Os surdos, por vezes, retêm seu desejo de visitar pontos turísticos sozinhos porque a sociedade não está apta a oferecer-lhes um atendimento personalizado em língua brasileira de sinais, por exemplo. Muitos não compreendem claramente o que lhes é dito, pois a oralização não é de domínio de todos. Com isso, o processo de comunicação e a experiência do passeio torna-se prejudicado pois, sem a compreensão e a comunicação, o indivíduo surdo não poderá aproveitar a experiência turística realizada. (STROBEL, 2008 apud LOPES, 2017, p.28)
A questão da comunicação é fundamental na prestação de serviços, tanto que a Norma Técnica da ABNT 15599:2008 diz que “a comunicação permeia a prestação de serviços: sem comunicação não há prestação de serviço”. Segundo Bueno (1998), o surdo, além de muitas vezes não ser compreendido, tem dificuldade em sentir-se seguro e satisfeito em determinados locais. Ele deseja desfrutar do turismo e conhecer novas realidades, aventurar-se. Neste contexto, é fundamental entender as necessidades específicas da pessoa com este tipo de deficiência, para que ele possa utilizar dos benefícios que o turismo proporciona. (BUENO, 1998 apud LOPES, 2017, p.29)
São relevantes a comunicação e a inclusão de acessibilidade para o perfil do visitante surdo, de modo que ele usufrua dos benefícios da prática turística, participando integralmente de todas as atividades. Muitas das atividades do dia-a-dia (como fazer o check-in no aeroporto, pedir um táxi, ir ao banco ou a uma consulta médica) são desempenhadas com facilidade por pessoas ouvintes, porém, estas mesmas atividades podem se constituir em grandes desafios para pessoas com deficiência. (BUENO, 1998 apud LOPES, 2017, p.29)
Vale a pena ressaltar uma situação que ocorreu no dia 28 de abril de 2019 na emergência do Sistema Único de Saúde (SUS), em Italva, região Noroeste Fluminense do Rio de Janeiro quando um casal de surdos chegaram a emergência com fortes dores e foram surpreendidos pela atitude do médico, Dr. Fred Nicássio, que começou a se comunicar em LIBRAS. O médico relatou que apesar de não ser fluente na língua de sinais conseguiu se comunicar e entender os sintomas. Dr. Fred, em uma entrevista ao G1, explica que a língua de sinais é uma matéria eletiva disponibilizada por algumas faculdades, mas, para ele, deveria ser obrigatória. Ele relata que: “é de suma importância que os médicos saibam ao menos o básico da LIBRAS. Eu já tive experiência na adolescência, então, para mim, foi algo mais fácil. Mas existia na minha faculdade a matéria eletiva, e pouquíssimos alunos faziam. Pelo menos na área da saúde, deveria ser de ensino obrigatório, como na fisioterapia, odontologia e enfermagem. Não sei se LIBRAS é disponível em todas as faculdades, mas, na minha, para minha sorte, tinha”, explica o médico. (MARQUES, 2019).
Para os sujeitos surdos, a comunicação é considerada a principal barreira, podendo chegar ao ponto de fazê-los sentir-se como um “estrangeiro” em seu próprio país (SKLIAR, 1998) Caso precise de qualquer orientação ou tenha uma dúvida, o indivíduo surdo não tem como pedir uma informação para qualquer pessoa da localidade, visto que sua comunicação é a LIBRAS. Uma ação trivial como essa se torna um desafio para o surdo, em razão das dificuldades de entender e ser entendido pela população que não tem domínio da língua brasileira de sinais (LOPES, 2017, p.29)
De acordo com CHAVEIRO 2005,
Conviver no universo das pessoas com deficiência envolve uma mudança de paradigmas, e, para os surdos, essa mudança ocorre quando são aceitos e respeitados e a LIBRAS possibilita ao surdo a interação social e intelectual, permitindo o acesso ao conhecimento científico e a integração interpessoal (CHAVEIRO, 2005, p. 418).
O não cumprimento das leis que regulamentam o acesso aos surdos por meio da LIBRAS desvaloriza os sujeitos com este tipo de deficiência. Deste modo, o país ainda enfrenta o grande desafio do paradigma de igualdade, pois os surdos não têm tido suas necessidades respeitadas. Também é importante destacar que esta desvalorização também ocorre no atendimento em locais públicos, uma vez que grande parte deles é sonora, seja por meio de avisos sonoros ou atendimento direto. Ainda não há uma maneira adequada de atendimento por meio da LIBRAS, não há um atendimento exclusivo para este público (SKLIAR, 1998).
A falta da comunicação faz com que o surdo seja prejudicado, não tendo o acesso às informações, sendo elas de forma total ou parcial, a qual dependendo do contexto, se torna essencial para a experiência turística. (LOPES, 2017, p.30). Embora o turismo tenha potencial para promover tudo isso, ainda é preciso que os locais de visitação possibilitem as facilidades para esta prática de maneira inclusiva e acessível.
Ao desejar se comunicar com uma pessoa surda, o ideal é chamar a atenção dela, seja sinalizando com a mão ou tocando-lhe o braço sutilmente. Diante de dificuldade de entendimento, o comportamento é sentir-se à vontade para pedir que a pessoa repita. É visível a necessidade de se adaptar o turismo a este público de pessoas surdas, com vistas a que consigam explorar os mesmos serviços de qualidade ofertados a pessoas ouvintes. (LOPES, 2017, p.31)
As condições de acesso são importantes para esta finalidade, tanto de profissionais para atendimento a pessoas surdas quanto, em outros casos de pessoas com deficiência. Em diversos âmbitos, é preciso mudança, pois falta a acessibilidade, especialmente o intérprete de LIBRAS (FEITOSA, 2010).
Em virtude destas situações, por vezes os surdos preferem fazer passeios e pequenas viagens acompanhados, sejam ouvintes ou outros surdos, o que acaba tornando-os de certo modo dependentes de alguém para desfrutar de atividades turísticas. Neste sentido, o Poder Público deve se colocar positivamente para promover a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecer alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização (MOURA, 2000 apud LOPES, 2017, p.32).
O artigo 2º do Código Mundial de Ética do Turismo, (2015, p.7) afirma que “as atividades turísticas devem respeitar a igualdade entre homens e mulheres, devem tender a promover os direitos humanos e, especialmente, os direitos particulares de grupos, especificamente crianças, idosos, deficientes, minorias étnicas e povos autóctones”. Boiteux (2003, p.113) suscita a discussão acerca deste artigo e constata a ideia de que as atividades do turismo devem respeitar a igualdade entre todos, promovendo os direitos humanos e os direitos de grupos, nos quais se incluem pessoas com deficiência auditiva. A inclusão do surdo no turismo perpassa significativa importância simbólica de acessibilidade. A oferta do turismo para os surdos beneficia o crescimento econômico proveniente da atividade turística e os inclui nesta prática. O Ministério do Turismo sustenta que a atividade turística é um importante meio de inclusão.
Para garantia dos direitos de pessoas surdas na acessibilidade ao turismo, foram criadas leis que asseguram a acessibilidade, Lei Federal nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Assim, o surdo poderá sentir-se livre para ir e vir, sabendo que será aceito e que terá seus direitos de comunicação resguardados. Com efeito, estas afirmações estão fundamentadas na clara percepção de que a pessoa surda deseja ter acesso a todos os seus direitos, inclusive o de conhecer lugares e culturas diferentes. Desta forma, visualiza-se que o turismo inclusivo pode ser utilizado como uma ferramenta para reduzir as desigualdades sociais. As atividades turísticas são grandes incentivadoras e possibilitam o respeito às diferenças e às necessidades de cada indivíduo, independentemente das limitações de cada ser humano. (SASSAKI, 2003 apud LOPES, 2017, p.33)
4. A SURDEZ, A SOCIEDADE E A LIBRAS.
Para que este objeto de estudo seja evidenciado, faz-se necessário observar a surdez de acordo com a legislação brasileira,
BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Para fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo do surdo por meio de experiencias visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua brasileira de Sinais – LIBRAS.
No Brasil, a LIBRAS é reconhecida como língua de uso dos surdos. É garantida pela Lei Federal 10.436, de 24 de abril de 2002 e é conveniente notar também que quase todos os estados brasileiros já têm esta lei em seu quadro, defendendo-a e tornando-a como a língua oficial dos surdos. Falar da importância desta lei refere-se ao grau de controle das formas de uso do processo. Assim o processo de disposição da língua de sinais no currículo é garantido por lei. A educação de surdos, seja na escola de surdos, seja na família, no âmbito profissional e na sociedade como um todo deve determinar e controlar, segundo a lei, a presença da língua de sinais garantindo sua proficiência entre os professores, funcionários e demais membros do contingente escolar. (BOTELHO, 2002)
De acordo com “Portal da Educação (Língua de Sinais: origem e história), as línguas de sinais não são universais, existindo diversas outras, como por exemplo a língua de sinais Francesa, a língua de sinais Americana, a língua de sinais Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Não há relatos específicos sobre sua origem, contudo destaca-se o começo de seu uso no ano de 1760 na cidade de Paris, França, onde o abade L’Epée [4]de aproximadamente sessenta anos fundou a primeira escola pública para surdos. (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2019)
Perlin (2002) destaca que a partir da fundação desta escola foi dado o início a multiplicação de profissionais surdos e ouvintes que se propagaram pelo mundo disseminando o uso de LIBRAS, foram criadas muitas outras escolas, onde além do uso das línguas de sinais nacionais, sondavam-se novos recursos na educação dos surdos. e a pesquisadora ainda entende o surdo como:
[...] ator principal no processo de celebrar a cultura surda, de lutar pelos direitos à diferença na educação, na política, nos direitos humanos. Trata-se de uma história que os oralistas reprimiram por julgarem a si mesmos como identidade única, mas que sobrevivem. (PERLIN 2002, p.12)
De acordo com a pesquisadora e doutora Perlin (1998), ser surdo é pertencer a um mundo de experiencia visual e não auditiva.
Para Quadros (2006, p.35), a língua de sinais “é uma língua espacial visual, pois utiliza a visão para captar as mensagens e os movimentos, principalmente das mãos, para transmiti-la”. As línguas de sinais se distinguem das línguas orais pela utilização do canal comunicativo, enquanto as línguas orais utilizam canal oral-auditivo, as línguas de sinais utilizam canal gestual-visual.
Segundo Quadros (2006), esta forma de linguagem é abundante, absoluta, coexiste com as línguas orais, mas é independente e possui estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas, morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas. É coerente e serve para atingir todos os objetivos de forma rápida e eficaz na exposição de necessidades, sentimentos, desejos, servindo integralmente para sustentar os processos mentais. A identidade surda, de acordo com Quadros, se constrói dentro de uma cultura visual, salientando que esta diferença precisa ser entendida não como uma construção isolada, mas como uma construção multicultural. Assim, compreende-se que a identidade dos surdos é a união de traços que os diferencia dos ouvintes, constituída por uma cultura particular, resultante das interações entre surdos. (QUADROS, 2006 p.57).
A identidade cultural surda é estruturada através do pertencimento a uma cultura, com isso, o surdo está sempre em situação de necessidade com o outro igual, sendo a cultura surda o local onde o surdo constrói sua particularidade de forma a confirmar a sua sobrevivência e a ter seu status dentro das diferentes culturas. (QUADROS, 2006)
Segundo Quadros (2001, p.59), "a cultura surda tem características peculiares, específicas diante das demais culturas". Quadros (2001, p.60) ainda acrescenta que "a cultura surda é multifacetada, é própria do surdo, se apresenta de forma visual onde o pensamento e a linguagem são de ordem visual e por isso é tão difícil de ser compreendida pela cultura ouvinte".
Esta conjuntura informada pelo autor acima citado elucida que cultura é a forma global de vida ou a experiência vivida de um grupo social, é estabelecida como um campo de forças peculiares que se expressam através da linguagem, dos juízos de valor, da arte, das motivações, etc., constituindo a ordem de um grupo, com seus códigos próprios, sua forma de organização e de reciprocidade. (QUADROS, 2006)
O surdo compreende o mundo de forma distinta dos ouvintes através de uma experiência visual e faz uso de uma linguagem própria para isso, a língua de sinais. Esta língua é, antes de tudo, a imagem do pensamento dos surdos e faz parte da experiência vivida da Comunidade Surda. Como aparato cultural, a língua de sinais também é remetida à significação social a partir de ponderações valorizadas, sendo aprovada como sistema de linguagem rica e independente. (QUADROS, 2006).
Faz-se necessário conhecer a base histórica sobre a educação de surdos e a LIBRAS, isto é considerado um passo primordial para que se dê início a um estudo que tem por finalidade destacar a importância da língua de sinais na educação destes sujeitos. Muitas mudanças foram obtidas, novos conceitos surgiram e, a partir de um novo cenário, iniciam-se pesquisas e estudos sobre desenvolvimento do deficiente auditivo. (SOARES, 1999)
Segundo Soares (1999), em meados do século XVI, Gerolamo Cardano (1501-1576), "sugeriu” um conjunto de ensinamentos que prometia uma ajuda educacional e social para os deficientes auditivos, declarando que podiam ser capazes e poderiam aprender e o melhor seria por meio da escrita. Neste interim, apareceram os primeiros educadores de surdos que colaboraram diretamente no desenvolvimento humano e social com todas as complexidades de pioneiros no processo de aprendizagem que existia na época. (SOARES, 1999, p.220)
Sobre o surgimento da LIBRAS, Menezes (2006, p.92) afirma que: O Brasil ainda era uma colônia portuguesa governada pelo imperador Pedro II quando a língua de sinais para surdos ancorou no país, mais precisamente no Rio de Janeiro. Em 1856, o conde francês Hernest Huet, surdo desde os doze anos de idade, desembarcou na capital fluminense com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material conduzido pelo conde originou à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). O primeiro órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos surgiu em 1857. Foi do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que saíram os principais propagadores da LIBRAS. A iconografia dos sinais, ou seja, a origem dos símbolos, só foi apresentada em 1873, pelo aluno surdo Flausino José da Gama. Ela é o resultado da mistura da Língua de Sinais Francesa com a Língua de Sinais Brasileira antiga, já empregada pelos surdos das várias regiões do Brasil.
Reily (2004), relata que "a língua de sinais que hoje conhecemos no Brasil, utilizada pelos surdos, teve origem na estrutura realizada por religiosos franceses", mais especificamente, com a chegada do já citado professor Hernest Huet, que, a convite de D. Pedro II, trouxe consigo uma “estratégia de combinações" para trabalhar com surdos no Brasil (REILY, 2004, p.114)
A educação do surdo no Brasil, data do século passado, na década de 1850, sob a Lei nº 839 de 26 de janeiro. Esta lei foi assinada por D. Pedro II quando aconteceu a fundação do Imperial Instituto dos Surdos. A fundação deste instituto é mérito de Hernest Huet, professor e diretor do Instituto que, ao chegar em nosso país, foi apresentado ao imperador, que oportunizou a fundação do Instituto Santa Terezinha em 15 de abril de 1829, oferecendo atendimento sócio pedagógico. (REILY, 2004)
Na década de 1990, a partir da Declaração de Salamanca, as políticas de orientação da Educação Especial despertaram uma mudança e passaram a ter subsídios na recomendação da inclusão. Pode-se encontrar nesta declaração a seguinte afirmação: “o surdo deve ser inserido de fato, para que possa ter sua cidadania respeitada” (Declaração de Salamanca, 1990, p.2)[5]. Por isso, julgamos ser necessário a existência de políticas convincentes. (SOARES, 1999)
Nos dias atuais, o Brasil defronta-se com um novo paradigma, o da Inclusão Social de pessoas com necessidades especiais, no rastreio de uma escola para todos, sem separações de sexo, raça, classe social para uma abordagem de educação abrangedora que esteja aberta para colher as diferenças. Isso significa atentar para as mudanças e diferenças, desta forma a inclusão social torna-se um direito adquirido no cenário brasileiro. (MENEZES, 2006)
Soares (1999) fala sobre a falta de conhecimento acerca desta língua ao dizer que a LIBRAS é vista como uma sistemática oral e, por ser considerada apenas como gestual, a cultura hegemônica ouvinte a condenaram e a desqualificaram, e com isso, consideraram-na imprópria. E muitas vezes também foi vista na educação do surdo como algo prejudicial à aquisição da linguagem oral, bem como a sua integração na sociedade. (SOARES, 1999, p.18)
Estes fundamentos perderam força na medida em que o tempo foi passando e o progresso nas pesquisas linguísticas acerca desta língua trouxe como influência o seu reconhecimento linguístico, atualmente já tem status linguístico, ou seja, já é declarada como língua. A LIBRAS é a língua natural dos surdos, mas para entender esta língua com sua natureza e propriedade faz-se necessário entender o conceito de língua e a sua importância na comunicação. (SOARES, 1999).
Soares (1999), afirma ainda que "a língua de sinais é uma linguagem genuína, com uma estrutura gramatical própria e com viabilidade de expressão em qualquer nível de raciocínio". Por ser tão absoluta e completa quanto a língua oral, é conveniente, pode e deve ser utilizada no processo ensino-aprendizagem, exercendo a progressão, a comunicação e a educação dos alunos marcados por uma falta, a audição. (SOARES, 1999, p.219)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual afirma o surgimento da “não discriminação” e enfatiza o direito de toda pessoa à educação. É dentro desta composição que a educação no Brasil abre um leque norteador, para atestar a todos sem segregação o direito à educação. Assim, as Constituições Brasileiras de 1967 e 1969, também levaram em estima os princípios da declaração citada. Em seu artigo 206, inciso I, estabelece a "igualdade de condições de acesso e permanência na escola" como um dos princípios para o ensino e aponta, como responsabilidade do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). (REILEY, 2004).
Ao se realizar um estudo da Lei Federal 10. 436 e seus parâmetros, examina-se que os pronunciamentos legais presentes se destinam a apontar para o acesso e a inclusão das pessoas surdas à educação. Com a legitimação da lei da LIBRAS, houve formações de parâmetros nunca estabelecidos. Esta lei foi publicada em abril de 2002 (Lei Federal nº 10.436, de 24 abril de 2002) e diz em seu artigo 1° - "É declarada como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros meios de expressão a ela associados". Definindo ainda em parágrafo único:
Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual motora com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (Lei Federal nº 10.436, de 24 abril de 2002).
A Lei Federal 10.436 reconhece a pertinência da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e com isso seu uso pelas Comunidades Surdas ganha suporte do poder e dos serviços públicos. Esta lei foi regimentada em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto de nº. 5.626/05 que determina a inclusão da LIBRAS como disciplina curricular no ensino público e privado, e nos sistemas de ensino estaduais, municipais e federais (Cap. II, Art. 3º). Este decreto, no capítulo VI, Art. 22, incisos I e II, determina uma educação inclusiva para os surdos, numa categoria bilíngue em sua escolarização básica, confirmando a estes alunos, educadores capacitados e a presença do intérprete nestas classes. (MENEZES, 2006)
Os intérpretes são ouvintes tradutores que se colocam entre os que ouvem e se expressam por voz e os que se comunicam por meio de gestos, sinais e alfabeto manual. Eles facilitam muito a comunicação, a compreensão dos surdos e o acesso as informações. O intérprete da LIBRAS é aquele que, tomando a posição do sinalizador ou falante, difundi os seus pensamentos, palavras e emoções, servindo de conexão entre dois gêneros de comunicação. (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2019)
O intérprete constitui um elemento de relevância na educação dos surdos, na esfera de classes regulares, pois um profissional que opera neste campo deve ser adequadamente capacitado para gerir a LIBRAS, possibilitando aos surdos obter informações escolares em língua de sinais, estendendo oportunidades para que os mesmos possam construir competências e habilidades na leitura e na escrita, transformando-os, portanto, letrados. (MENEZES, 2006)
Na atualidade existem leis em vigor que regulamentam a profissão e estabelecem a formação deste profissional. Uma dessas leis é a LEI Nº 12.319 DE 01.09.2010 que regulamenta a profissão de Tradutor e Interprete de Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS.
Mediante estes mecanismos legais, pode-se averiguar que a escola regular está legalmente resguardada para receber os alunos surdos em suas classes, pois a legislação brasileira já afirma a magnitude da linguagem de sinais na educação dos sujeitos surdos, como um componente que abre portas para a progressão e desenvolvimento global dos alunos que não ouvem, mas que são iguais àqueles que têm a audição. (MENEZES, 2008).’
Segundo Botelho (2002), na época atual recorre-se a uma pedagogia de inclusão que se baseia na mesma expondo que ela pode ser benéfica para a educação de todos os alunos, independente de seus talentos ou dificuldades. Ele afirma que a inclusão é possível e agrega as expectativas dos indivíduos apontados com necessidades especiais de estabelecer significativos laços de amizades, ampliando um desenvolvimento físico e cognitivamente e de serem elementos ativos na construção de conhecimentos. Estas são muitas das prerrogativas conduzidas para um ambiente de inclusão.
Introdução do intérprete em sala de aula é um importante progresso, o afinco de professores em aprender a língua de sinais no alcance do dever de todo professor de escolas inclusivas, aprender a LIBRAS para alcançar o objetivo de comunicar-se com seus alunos não ouvintes sem a presença de intérpretes, ou seja, de forma muito mais natural e humano. (BOTELHO, 2002, p.94)
O surdo não é inferior ao ouvinte, é cognitivamente proporcional, tem os mesmos conhecimentos e habilidades, porém é um sujeito que tem uma forma única, singular de aprender, pois compartilha duas culturas e necessita apropriar-se de ambas. A língua de sinais estabelece este vínculo e, com isso, é importante na educação dos surdos nas classes regulares.
O oralismo, ou filosofia oralista, usa a integração da criança surda à comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver e ampliar a língua oral (no caso do Brasil, o Português). O oralismo compreende a surdez como uma deficiência que deve ser reduzida através do excitamento auditivo. (GOLDFELD, 1997, p.30, 31)
Menezes (2006),
Salienta que a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, "reconhece a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão, e torna obrigatória sua adoção, pelo poder público em geral e por empresas concessionárias de serviços públicos". Esse reconhecimento é como uma forma de garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva. (MENEZES, 2006, p.98)
Botelho (2002) afirma que,
O estigma e o preconceito fazem parte do nosso mundo mental e atitudinal, tendo em vista que pertencemos a categorias - mulheres, negros, analfabetos, políticos, professores, judeus, velhos, repetentes na escola, pós-graduados, estrangeiros, desempregados que são recebidas com pouca ou muita ressalva por um grupo determinado. Não importa a qual grupo pertençamos, mas sim a qual queremos pertencer, e é direito de cada indivíduo escolher o lugar na sociedade a que melhor se adapte. (BOTELHO, 2002 p.26)
A principal estratégia é aceitar o deficiente auditivo com seriedade no alcance de um tratamento melhor aos diferentes. Então passa- se a observar que o mesmo precisa ser inserido. Apesar de tudo, ele está inserido, independente de toda discriminação e atrativo legal que tem este fundamento. Incluso em uma sociedade discriminadora e preconceituosa, o deficiente auditivo passa a carecer de amparo dos integrantes desta sociedade que o repele, para sua permanência e desenvolvimento. (BOTELHO, 2002, p.56)
5. LIBRAS Para Todos
De acordo com Quadros (2006), o intérprete configura como um mecanismo zeloso das políticas de inclusão para manter estudantes surdos nas escolas regulares, ponderando que o ensino impecável para os surdos deveria acontecer em escolas que empregassem a LIBRAS, como primeira língua. Entretanto, mesmo com a assistência do intérprete, inconsistências ainda transpassam a vida escolar de crianças e jovens surdos. O empecilho da comunicação não se projeta como fator único de limitação para o sistema de ensino deste grupo.
Lacerda (2006), salienta a experiência isolada vivenciada pelos surdos nas escolas inclusivas, quando muito, acompanhados de intérpretes. Na maioria das vezes, os surdos não constroem relações permanentes com os demais alunos, professores e funcionários pois, estes são ouvintes. Este fato compromete o aprofundamento de suas convivências, que são resumidas em trocas elementares de informações, por conta da não afinidade linguista.
A partir de 1996, o Brasil começou a receber uma atenção especial em relação a escrita de sinais, no qual surdos e profissionais começaram a acender interesse pelo sistema. Nos dias atuais, esta disciplina está inserida no curso Letras Libras, ofertada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que são distribuídas em polos de Ensino a Distância em vários Estados.
Pode ser que estes fatores estejam começando a mudar no Brasil, vislumbrando um novo cenário. No dia 28 de agosto de 2017, a Universidade Federal do Acre (UFAC) debateu, durante a 3ª Semana de Letras e LIBRAS o bilinguismo, a cultura e educação para surdos no estado, com o tema: “Inserção da LIBRAS como Disciplina no Ensino Regular”. O encontro, com início no dia 28, no Acre (Rio Branco) estendeu-se por uma semana, contando com a participação de estudantes, professores, ouvintes e surdos. Entre várias ideias e sugestões, uma em particular obteve notoriedade: “inserir a LIBRAS como disciplina no ensino regular”. Tanya Amara Felipe de Souza, professora e membro do Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) Rio de Janeiro, uma das palestrantes da semana, falou que: “nós precisamos colocar isso em destaque, colocar salas bilingues dentro das escolas e é isso que vamos tratar todos esses dias. O que vem a ser cultura surda e o porquê é tão importante criar esta sala bilingue dentro da escola”. Tanya Amara ainda abordou aspectos linguísticos e culturais da LIBRAS. Ela afirma: “do mesmo jeito que ouvintes adquirem a sua língua, no caso o Português no Brasil, e vão para a escola aprender a sua língua, os surdos têm também esse mesmo direito, adquirir a sua língua desde a creche até para sempre e, também, ter essa língua ensinada na escola”. Emerson Machado, professor pedagogo “surdo”, vive na pele a dificuldade para sua comunicação com outros alunos em sala de aula. Ele ficou muito animado e entusiasmado em saber que existe uma proposta de que a LIBRAS poderá ser lecionada nas escolas para alunos ouvintes. (JORNAL DO ACRE, 2017)
Um fato muito marcante aconteceu também na Escola Municipal Dom Silvio Maria Dário (Itapeva – S.P.) quando um aluno surdo chegou à escola, em 2016. Os alunos da turma, incomodados com a falta de comunicação e entrosamento com o surdo propuseram a direção da unidade aulas de língua de sinais para toda a turma. Para que a ideia pudesse ser colocada em prática, equipe gestora, docentes e estudantes trabalharam juntos para que, uma vez por semana, toda a turma tivesse aula de LIBRAS, ministrada pela intérprete do aluno surdo e pela docente de Português, que estava iniciando sua aprendizagem da língua. O projeto se deu ao longo do ano, onde o básico da LIBRAS fora aprendido, fazendo com que o aluno surdo se sentisse incluso na rotina escolar. Os estudantes levaram a iniciativa para além dos muros da escola, impactando toda a comunidade. Desenvolveram sinalizações em LIBRAS para os espaços da escola e criaram um coral, que realiza apresentações musicais em língua de sinais, em eventos culturais locais. Com a chegada de mais dois alunos surdos no ano seguinte, o projeto se intensificou, sendo ampliado às outras turmas. Após abraçar esta causa, toda a equipe da escola foi reconhecida por seu trabalho, sendo premiados no Desafio Criativos da Escola e pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. De acordo com a equipe, a comunicação entre ouvintes e não ouvintes acontece com naturalidade no cotidiano deles, oferecendo uma escola inclusiva e de qualidade a todos os alunos. (FARIA, 2018)
Já no Município de Vila Velha (E.S.), a Escola Municipal Nice de Paula Agostini Sobrinho (UMEF), desde o ano de 2006 é referência no atendimento aos surdos em todo o estado capixaba, por ser a única escola bilingue. Na rede municipal, um total de 47 alunos são atendidos. A escola conta com uma sala bilingue para alunos do 1º ao 5º ano. O espaço, onde a LIBRAS é a língua de instrução, conta com duas professoras bilingue. Já os alunos do 6º ao 9º ano, a escola conta com quatro intérpretes educacionais nas próprias salas de aula. O município trabalha de forma intensa para promover cada vez mais a inclusão na sua rede de ensino e, por conta disso, em 2013, a Secretaria de Educação da Prefeitura de Vila Velha (SEMED) retomou a formação para profissionais que atuam na Educação Especial do Município. Um dado primordial que faz parte do Projeto Pedagógico desta Unidade Educacional de Vila Velha é o fato da disciplina LIBRAS ser extensiva a todos os alunos, a partir do 6º ano, se estendendo até o 9º ano. E tal qual acontece na escola de Itapeva, a comunicação entre ouvintes e não ouvintes também ocorre com naturalidade na unidade de Vila Velha, tornando os surdos totalmente integrados ao ambiente escolar, oferecendo um local de inclusão e de qualidade a todos. (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, 2013)
Ainda no município de Vila Velha, Espírito Santo, vale a pena destacar a Empresa Chocolates Garoto S/A, que é uma indústria do ramo alimentício, sediada no bairro da Glória, pioneira na Inclusão de Deficientes Auditivos, sendo a maior empregadora de pessoas surdas no Estado. Desde o ano de 2000, a empresa tem inserido em seu plano de gestão os cursos de LIBRAS para seus colaboradores e parceiros internos. A Chocolates Garoto foi a primeira empresa do Estado a instalar o Terminal Telefônico para Surdos (TTS), que no ano de 2012 foi substituído por um equipamento ainda mais avançado: o VPAD, que é um vídeo fone utilizado para fazer ligações, à disposição dos surdos na portaria da empresa. Esta inovação fez da Companhia a primeira no país a instalar um sistema de comunicação em vídeo para seus colaboradores surdos. A empresa foi também pioneira na inclusão, no seu quadro profissional, da função de Tradutor e Intérprete de LIBRAS no ano de 2008, investindo continuamente em cursos de LIBRAS para ouvintes e não ouvintes. Inovou também com a criação do Curso de Matemática e Português como segunda língua para surdos colaboradores e da comunidade que concluíram o ensino médio, em parceria com a faculdade Estácio de Sá e a Caesarlibras Cursos Técnicos. “A criação deste curso surgiu da necessidade de atender a Comunidade Surda, levando-a a se apropriar da língua portuguesa, como segunda língua dentro da modalidade escrita, buscando qualificar os participantes para o ingresso no curso superior e no mercado de trabalho. Aos que já estão empregados, o objetivo é proporcionar mais autonomia no uso do português e dos conteúdos matemáticos”, explica Fernanda Nogueira, que é Tradutora e Intérprete de LIBRAS e uma das responsáveis pelo programa de Inclusão da Empresa Chocolates Garoto. Compartilhando respeito à diversidade, todas estas ações estão ligadas ao projeto de Criação de Valor Compartilhado (CSV), conceito na responsabilidade social corporativa desenvolvido na Empresa Nestlé e implantado na Chocolates Garoto, cuja proposta é mostrar que cada atividade corporativa tem potencial para produzir benefícios sociais. (NOROCK, 2014)
A Empresa Chocolates Garoto é também aberta à visitação turística, sendo muito visitada o ano inteiro. Está entre as dez maiores fábricas de chocolates do mundo. A Fábrica da Chocolates Garoto propõe um programa de visitação guiada, onde o turista conhecerá a história da Fábrica Capixaba e grande parte do processo de fabricação de seus chocolates, degustando os chocolates recém-fabricados durante o percurso. Além de visitar a fábrica, o tour conta também com visitas ao museu, para conhecer um pouco da história da fábrica e a lojinha da empresa, onde o turista poderá comprar uma grande variedade de produtos. A autora do presente trabalho já esteve em visita à empresa. (VIANA, 2018)
6. MUSEU DO AMANHÃ E AQUARIO: SUA HISTÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO NO TURISMO.
O centro da cidade do Rio de Janeiro foi o primeiro bairro a surgir na capital do Rio de Janeiro e, apesar de conservar edifícios residenciais, é um bairro predominantemente comercial e turístico e é também considerado o coração financeiro da cidade. (ARQUIVO GERAL – RJ, 2013)
Após estagnação de algumas décadas, que a partir dos anos de 1940 quando a classe média começou a migrar para novos imóveis na zona sul do Rio de janeiro onde, de acordo com dados do IBGE, cerca de 120 mil pessoas deixaram o coração da cidade. Nos últimos anos, o bairro vem ganhando notoriedade e novos empreendimentos estão sendo construídos, revitalizando áreas que há muito ficaram esquecidas e assim, aquecendo a região com muitos visitantes e turistas. (BRISO, 2015)
O centro da cidade do Rio de janeiro abriga construções fenomenais, como a ilustre Estação Central, a Praça XV, a histórica Igreja da Candelária, o Teatro Municipal, o Museu de Arte do Rio, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Museu Histórico nacional, o Paço Imperial, o Museu Nacional de Belas Artes, a histórica Confeitaria Colombo, dentre muitos outros e os mais recentes Museu do Amanhã e AquaRio.
O turista visitante que se dispuser a visitar o centro do Rio contará com infinidades atrações turísticas, contará também com uma excelente infraestrutura, especialmente no quesito transporte. O visitante que vier das regiões vizinhas Niterói, Ilha do Governador e Ilha de Paquetá, além do ônibus, poderá contar também com a Barca, que para na Praça XV e de lá, até o Museu do Amanhã, por exemplo, ele poderá optar por uma agradável caminhada (cerca de vinte minutos), ou poderá pegar um ônibus, contando com várias linhas. Visitantes da região da baixada fluminense do Rio de Janeiro poderá optar por Trens até a Central do Brasil e caminhar por cerca de quinze minutos ou pegar um ônibus. Existe também o Metrô, que a partir da estação da Uruguaiana, há duas opções de caminho a pé. Turistas que vem de outros estados brasileiros ou outros países conta com o aeroporto Santos Dumont, que fica a cerca de 3,5 km do Museu do Amanhã, por exemplo, e tem como opção, após desembarque, pegar o Veículo Leve Sobre Trilhos[6] (VLT), sentido Rodoviária Novo Rio, que é um outro meio dos turistas chegarem à cidade, pois a rodoviária recebe ônibus de vários estados brasileiros e alguns países vizinhos e optar por pegar o VLT, sentido aeroporto. Conta também com o terminal internacional de Cruzeiros, no Píer Mauá[7]. Após o desembarque dos turistas, os mesmos poderão acessar o VLT para conhecer o centro histórico da Cidade, incluindo o Museu do Amanhã e o AquaRio. (MUSEU DO AMANHÃ[8], 2015)
O VLT é um excelente meio de transporte para os turistas. Possui grandes janelas laterais dando condições de se apreciar e fotografar edifícios antigos, de arquiteturas diversas. O cenário composto pela Baía de Guanabara, Museu do Amanhã ao fundo e, à esquerda, o Museu de Arte do Rio, é um visual espetacular apreciado de dentro do VLT. Este transporte corta todo o centro da cidade, com várias estações de parada, dando acesso a todos os pontos turísticos do centro. (VICTORINO, 2016)
6.1. Museu do Amanhã
As informações referentes ao Porto Maravilha (2015), que são as várias referências seguintes, estão disponíveis em: http://portomaravilha.com.br/museu_amanha Acesso em 13 de abril 2019.
Majestoso e imponente, o Museu do Amanhã (Figura 1) é um ícone, uma verdadeira escultura da revitalizada região portuária do Rio de Janeiro. Seus preceitos são direcionados à sustentabilidade. Aborda importantes assuntos da história mundial para que possamos assimilar o que éramos no passado, o que somos no presente e o que seremos no futuro. É uma verdadeira exibição da arte, ciência e tecnologia.
Figura 1-Museu do Amanhã
Fonte – Viaje na viagem[9] Acesso em 03 de maio de 2019
A visita turística a este museu é uma autêntica viagem no tempo, onde a aventura vai além de tudo que pode ser explicado e compreendido, alçando também possibilidades de futuro, possibilidades essas que representam as consequências das ações humanas para com o mundo, tais como: poluição, desmatamento, hábitos de convivência, entre outros costumes não sustentáveis. “O Museu do Amanhã é o resultado de um diálogo muito consistente para que o edifício se alie à intenção de ser um museu para o futuro, como uma unidade educativa” (Santiago Calatrava). (PORTO MARAVILHA, 2015)
O projeto do Museu do Amanhã foi inteiramente sugestionado pela paisagem da zona portuária e da Baía de Guanabara. Como parte complementar do Projeto Porto Maravilha[10], foi feita a demolição do Elevado da Perimetral na intenção de revigorar a região portuária do Rio. Erguido no Porto Maravilha, ele sonda alternativas de constituição do futuro. Foi idealizado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava e seu batismo, sua inauguração pela Prefeitura do Rio se deu no dia 19 de dezembro de 2015. Arrimo cultural, científico e educativo do projeto de revitalização da Região Portuária, o museu é o retrato mais significativo do renascimento de uma área de cinco milhões de metros quadrados, parte da história do Rio e que enfrentava décadas de atraso e abandono. (PORTO MARAVILHA, 2015)
Calatrava nasceu na Espanha, na cidade de Valência, em 1951. Calatrava gradua-se na Universidade de Valência, no curso de Arquitetura em 1974. Cursou Urbanismo e Belas Artes e forma-se em Engenharia Civil pela Universidade de Zurique, na Suíça, e em 1981 torna-se doutor.
Dono de um sistema criativo único, Calatrava torna-se um dos maiores e mais importantes arquitetos da atualidade. Além dos grandes projetos, Calatrava desenvolve centenas de desenhos, aquarelas, para chegar ao seu ideal, chegando a criar um livro de esboço para cada projeto. (Frazão[11]. 2018)
Sua construção contou com o auxílio da fundação Roberto Marinho, com um custo total de cerca de 230 milhões de reais. No primeiro final de semana de sua inauguração e funcionamento, 17 de dezembro de 2015, recebeu cerca de 25 mil visitantes. O antigo píer desativado passou a abrigar uma construção pós-moderna, orgânica e sustentável que atualmente é um ícone da identidade regional e cultural da cidade do rio de Janeiro. O entusiasmo da instituição é exprimir um museu de artes e ciências que procura incentivar a renovação, difundir ascensão da ciência, transmitir os sintomas substanciais do planeta, além de contar com evidências que advertem sobre os apuros das mudanças climáticas, da devassidão ambiental e da falência, da ruína social. (PORTO MARAVILHA, 2015)
O abalo e influência que tudo isso tem para o nosso futuro é algo que não se pode avaliar, medir ou prever, sem dados científicos que o Museu do Amanhã nos apresenta, para atenção e compreensão, com um aperfeiçoamento entre equilíbrio, ciência e tecnologia. Tudo é programado digital e artisticamente, para que se alcance o todo e o tudo de cada um dos acontecimentos ali apresentados. Um local para se ampliar conhecimentos e de transformação nos modos de pensar e conduzir. (PORTO MARAVILHA, 2015)
O Museu do Amanhã é um local que todos, independentemente da idade ou condições físicas, deve-se ir ao menos uma vez. Não só na condição de assimilar um pouco mais sobre artes e ciências, mas também para degustar de um ambiente de tecnologia e sustentabilidade, para que se possa entender que compreender mais sobre o futuro é tão importante quanto tudo o que entendemos sobre o presente. (PORTO MARAVILHA, 2015)
O edifício conta com espinhas solares que se deslocam ao longo da claraboia, projetadas para acomodar-se às mudanças das condições ambientais. A exposição principal é predominantemente digital e foca em ideias ao oposto de objetos. O museu tem parcerias com importantes universidades brasileiras e instituições científicas globais, coleta de dados em tempo real sobre o clima e a população, de agências espaciais e das Nações Unidas. A instituição também conta com orientadores de inúmeras áreas, como astronautas, cientistas sociais e climatologistas. (PORTO MARAVILHA, 2015)
Como uma das âncoras do projeto de revigoramento urbano chamado Porto Maravilha, o museu recebeu, em 2015, como doação antes de sua inauguração, a escultura Puffed Star II (Figura 2), do conceituado artista norte-americano Frank Stella. O trabalho compreende de uma estrela de vinte pontas e seis metros de diâmetro que foi instalado no espelho d'água do museu, em frente à Baía de Guanabara. A escultura metálica, antes da doação para acervo permanente a céu aberto do museu, esteve em exposição na cidade de Nova York. (PORTO MARAVILHA, 2015).
Figura 2-Puffed Star II de Frank Stella[12]
Fonte - Revista Epoca[13]. Acesso em 03 de maio de 2019.
Uma das finalidades da construção do museu foi fortalecer, aguçar a identidade cultural e internacional da cidade do Rio de Janeiro. A cidade do Cristo Redentor sempre foi muito conhecida por suas belas praias e eventos notórios, como o carnaval, mas havia a necessidade do fortalecimento da diplomacia, da educação cultural. O Museu foi apresentado como uma estampa da reurbanização e organização da zona portuária. (PORTO MARAVILHA, 2015).
O edifício, em sua arquitetura e critério de sustentabilidade, integra-se como parte do conteúdo do Museu do Amanhã, estimulando a discussão de temas como utilização da energia solar, novas formas da arquitetura moderna, relação com a paisagem da cidade e regeneração da Baía de Guanabara. “Um passeio ao redor do Museu é um exemplo de sustentabilidade, de botânica, uma aula do que significa energia solar”, exemplifica Calatrava. “O edifício é como um organismo e se conecta diretamente com a paisagem.” (PORTO MARAVILHA, 2015)
O passeio se amplia pelos jardins, que se transformam em um novo parque para a cidade, com paisagismo assinado pelo escritório Burle Marx. O local foi beneficiado com espécies nativas e de restinga, com o objetivo de evidenciar as características da zona costeira da cidade do Rio de Janeiro, contribuir para a adaptação da vegetação, atrair mais a fauna da região e fortalecer a aparência didática do jardim. Em 5.500m² de área plantada, se distribuem 26 espécies diferentes, como ipês roxo e amarelo, quaresmeira, pau-brasil e pitangueira, além de arbustos nativos de restinga e palmeiras. Com um design abusado, arrojado e cobertura metálica de 3.810 toneladas, o museu exigiu equipamentos de avanços no Brasil, com a importação de maquinário necessário para dar formas fluidas ao concreto, matéria-prima principal do edifício. (PORTO MARAVILHA, 2015)
Idealizado como um dos ícones arquitetônicos do Porto Maravilha, projeto revolucionário da região portuária do Rio de Janeiro – maior projeto de desenvolvimento urbano, à época, em curso no país –, o Museu do Amanhã ocupa 15 mil metros quadrados, cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e área de lazer, numa área total de 34,6 mil metros quadrados do Píer Mauá. Sua forma longilínea, sugestionadas nas bromélias do Jardim Botânico, foi delineada de maneira a se incorporar à paisagem ao redor e, especialmente, deixar visível o Mosteiro de São Bento, um dos mais importantes conjuntos barrocos do país. O conjunto arquitetônico do entorno ainda inclui o edifício A Noite (primeiro arranha-céu da América Latina e sede da Rádio Nacional) e o Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros marcos. (PORTO MARAVILHA, 2015)
“A ideia é que o edifício fosse o mais etéreo possível, quase flutuando sobre o mar, como um barco, um pássaro ou uma planta”, explica o autor do projeto, o arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que passou temporadas na cidade e registrou seu processo criativo em mais de 600 aquarelas ao longo do projeto. A forma do edifício, porém, não é produto de uma pura metáfora ou uma ideia arquitetônica, destaca o arquiteto. “É o resultado de um diálogo muito consistente para que o edifício se alie à intenção de ser um museu para o futuro, como uma unidade educativa”, ele diz. (PORTO MARAVILHA, 2015)
O Museu do Amanhã harmoniza a firmeza da ciência e a linguagem expressiva da arte, tendo a tecnologia como suporte, em ambientes imersivos, instalações audiovisuais e jogos, criados a partir de estudos científicos desenvolvidos por especialistas e dados divulgados por instituições do mundo inteiro. Traz à cidade, pela primeira vez, a notabilidade de museu experiencial, no qual o conteúdo é apresentado de forma palpável, interativa e conduzido por uma narrativa. O espaço esmiúça o passado, apresenta tendências do presente e explora cenários possíveis para os próximos 50 anos a partir das perspectivas da sustentabilidade e da convivência. O edifício é cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e espaço para lazer. O museu conta ainda com auditório de 400 lugares, loja, cafeteria e restaurante. A área dedicada às exposições temporárias recebeu, como primeira mostra, a instalação audiovisual “Perimetral”, assinada por Vik Muniz, Andrucha Waddington e pelo escritório de design SuperUber, de Liana Brazil e Russ Rive. (PORTO MARAVILHA, 2015)
6.1.1. Acervos do Museu do Amanhã.
O material do Museu do Amanhã foi organizado com a participação de um time de mais de 30 consultores brasileiros e internacionais, nomes reconhecidos em diversas áreas, e será incessantemente atualizado a partir de dados e análises científicas de instituições do mundo todo. As experiências foram desenvolvidas por um extenso grupo de artistas e criadores – entre eles as produtoras O2 e Conspiração, o jornalista Marcelo Tas e o artista plástico americano Daniel Wurtzel –, reunidos, assim como os cientistas, a convite da Fundação Roberto Marinho. O museu também tem parceria com algumas das principais instituições da ciência no Brasil e no exterior, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). (PORTO MARAVILHA, 2015)
6.1.2. Exposição Principal
As informações referentes ao Museu do Amanhã (2015), que são as várias referências seguintes, estão disponíveis em: https://museudoamanha.org.br/pt-br/exposicao-principal Acesso em 13 de abril 2019.
A exposição principal do Museu do Amanhã funciona no segundo andar do prédio, e foi arquitetada pelo doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira, em parceria com uma equipe de consultores especializados que trabalharam na concepção do acervo. A seção convida o visitante a passar por uma experiência de cinco grandes narrativas que percorrem os pavilhões: Cosmos, Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós. Elas trazem a experiência da vida na terra com ângulos e recortes temporais distintos. Juntos, os materiais da exposição principal reúnem mais de 40 experiências diferentes realizadas em três línguas: português, espanhol e inglês. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015-Figura 3)
Figura 3 - Ícone do Museu do Amanhã
Fonte - Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019
Explora ainda seis grandes inclinações para as próximas cinco décadas: mudanças climáticas; alteração da biodiversidade; crescimento da população e da longevidade; maior integração e diferenciação de culturas; avanço da tecnologia e expansão do conhecimento. A exposição principal, com opinião museográfica do designer Ralph Appelbaum e direção de criação de Andrés Clerici, dividindo-se nas cinco áreas, a partir das cinco perguntas que guiam o museu :De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir? (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
6.1.3. Cosmos
O primeiro módulo de visitação da exposição principal é o Cosmos (Figura 4). Neste pavilhão, um grupo de visitantes é criado para entrar em um domo revestido com painéis de reprodução de vídeo, onde eles acompanham uma obra audiovisual de cerca de 8 minutos, em 360 graus, realizada pela produtora brasileira O2 Filmes. O filme esboça uma narrativa sobre a formação do universo e da vida na terra com sobreposições de animações digitais e imagens captadas em câmera que causam grande choque sensorial ao público. O vídeo é conduzido conjuntamente a um texto narrado em português, sem legenda, para que não seja desviada a atenção do visitante. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 4-Cosmos
Fonte - Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019.
6.1.4. Terra
A finalidade desta segunda etapa da exposição principal é fazer o visitante questionar sobre a pergunta "Quem somos?". Para esta seção, foram construídos três grandes cubos de sete metros de altura. Um deles fala sobre a vida como matéria. Do lado de fora, é apresentado, por um painel luminoso (Figura 5), o planeta Terra inteiro. Do lado de dentro, se demonstra as movimentações que fazem o globo mover-se, como o fluxo dos ventos, dos oceanos e das placas tectônicas. O segundo cubo, designado para representar a vida, mostra, na parede de fora, um delineamento do DNA dos seres vivos. Na parte de dentro, a segunda construção expõe imagens de diversos organismos que compõem um ecossistema, como animais e plantas. O terceiro e último cubo constitui o pensamento e apresenta, na parte interna, imagens e ilustrações que retratam de diversos momentos, ações e sentimentos da vida humana no planeta. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 5- Terra
Fonte Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019.
6.1.5. Antropoceno
O terceiro contorno da exposição principal do Museu do Amanhã trata de como a ação do homem mudou a geologia do planeta Terra, rabiscando um cenário atual e trazendo dados sobre os impactos ambientais e sociais deste choque entre humanos e o planeta. O nome "antropoceno"(Figura 6) foi retirado de um termo inventado por Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de Química de 1995. O prefixo grego antropo está associado com o ser humano; e o sufixo ceno recorda as eras geológicas. Para descrever os números e fatos, o Museu do Amanhã ergueu seis totens luminosos, de 10 metros de altura, que foram dispostos em círculos. Acomodados em assentos estofados, os visitantes assistem a vídeos transmitidos nestes painéis, com o objetivo de contestarem a ação humana no planeta Terra. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 6-Antropoceno
Fonte - Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019
6.1.6. Amanhãs
A quarta parte da visita à exposição principal do museu expressa sobre o mundo e a vida na Terra no futuro, buscando responder à pergunta: "Para onde Vamos?". Erguido em formato de origami, o pavilhão (Figura 7) conta com mais treze telas que revelam informações e ao mesmo tempo fazem uma pressuposição de como será o planeta e a vida no futuro, apresentando conceitos como o da hiperconectividade e resgatando a importância da sustentabilidade. O visitante é convidado a interagir com jogos, sendo que um deles - batizado "O jogo das Civilizações" - tem, como ideia, fazer com que os participantes coordenem os recursos do planeta pelos próximos 50 anos, a fim de garantir a preservação da humanidade. Outro game apresentado nesta seção do acervo é o "Humano", jogo desenvolvido pelo jornalista e produtor de conteúdo Marcelo Tas, e que tem, como finalidade, definir que em que tipo de ser humano do planeta o visitante do museu se encaixa. Para isso, são feitas sete perguntas sobre a personalidade dos jogadores. O design do game foi aprovado pela Fundação Roberto Marinho, uma das apoiadoras do Museu do Amanhã. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 7-Amanhãs
Fonte - Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019
6.1.7. Nós
O final do roteiro da exposição principal é o pavilhão "Nós", onde o visitante entra numa espécie de oca, ou casa dos povos indígenas do Brasil, que é ajustada com uma iluminação que simula o nascimento e o pôr do sol. A meta deste recorte da exposição é fazer com que o visitante reflita sobre si mesmo, e sobre como suas ações têm impactos para a sociedade e para o planeta. Ao centro da oca, localiza-se a única peça museográfica da exposição principal do Museu do Amanhã: uma churinga (Figura 8) feita de madeira, descoberta em um antiquário em Paris. O objeto é um artefato cheio de significado para as tribos aborígenes da Austrália. As inscrições feitas na peça de 2 metros de altura remetem uma ligação entre o passado, o presente e o futuro, e são desenhos que se correlacionam com a proposta da exposição principal do Museu do Amanhã. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 8-Nós; Oca; Churinga
Fonte – Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019.
Após este momento de reflexão, um belvedere (Figura 9) se abre sobre a Baía e o público volta ao “hoje” renovado, restaurado e revigorado.
Figura 9-Imagem da Baia de Guanabara
Fonte – Caminhos do Rio 2018 / Acesso em 03 de maio de 2019[14].
A experiência expositiva do museu se incorpora ainda ao Laboratório de Atividades do Amanhã, espaço de aperfeiçoamento e experimentação que promove ações ligadas à tecnologia, ciência e arte e ao Observatório do Amanhã, que vai exibir, catalogar e repercutir dados e análises das últimas pesquisas científicas e tecnológicas sobre temas relacionados ao museu. É do Observatório também a função de atualizar, de reciclar a exposição principal por meio do sistema Cérebro, que recebe informações e as distribui pela temática exposta. O sistema esquematiza a relação do museu com os usuários, registrando o percurso dos visitantes e o modo como acessam o conteúdo. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
6.1.8. Arquitetura e Sustentabilidade
Uma das âncoras do Porto Maravilha, o Museu do Amanhã dispõe de arquitetura sustentável e segue as particularidades para obter a certificação Leed (Liderança em Energia e Projeto Ambiental), concedida pelo Green Building Council. Entre suas diretrizes para sustentabilidade está o melhor aproveitamento de recursos naturais da região. A água da Baía de Guanabara é captada pelo museu com duas finalidades: para abastecer os espelhos d’água e para o sistema de refrigeração, onde é aproveitada na troca de calor. Após ser consumida na climatização, a água é devolvida mais limpa ao mar, num gesto simbólico. O sistema reduz a utilização de água potável. A água da chuva captada pela cobertura é utilizada como complemento para irrigação dos jardins, descargas dos vasos sanitários e lavagem dos pisos das áreas molhadas. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Figura 10 - Reuso de água
Fonte – Porto maravilha 2015 / Acesso em 03 de maio de 2019
Outro destaque que vale a pena retratar é a cobertura móvel do edifício, em que grandes estruturas de aço servem de base para as placas de captação de energia solar. Ao longo do dia, elas se movimentam como asas para acompanhar o posicionamento do sol. O prédio tem aletas que carregam 5.492 placas de painéis fotovoltaicos (Figura 11) para captação de energia solar. As placas, fracionadas em 24 módulos fixados na cobertura, acompanham o deslocamento solar (L-O) e produzem 250 KWh/ano, que correspondem à capacidade de fornecer energia para 4 milhões de lâmpadas incandescentes de 60w por uma hora. Além deste recurso, 2.532 luminárias LED garantem a eficiência. O projeto também considera como valorização a entrada de luz natural. O paisagismo, assinado pelo escritório Burle Marx, traz espécies nativas e de restinga, ressaltando a vegetação típica da região costeira da cidade, com cerca de 6 mil m² de área de jardins. (PORTO MARAVILHA, 2015)
Figura 11-Asas moveis dos coletores solares
Fonte – Museu do Amanhã 2016 / Acesso em 03 de maio de 2019.
O prédio, elegante e delicadamente, se debruça sobre espelho d’água de 9.200 m² reúne 55 mil toneladas de concreto estrutural, 4.300 toneladas de estruturas metálicas para a cobertura, e 76 mil litros de tinta. O museu conta ainda com 908 vidros, totalizando cerca de 3.800m². O jardim e passeio abertos aos visitantes são uma extensão da Orla Prefeito Luiz Paulo Conde, com 3,5km do Armazém 8 à Praça da Misericórdia, ao lado da Praça XV. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
6.1.9. Educativo
Assim como o Museu de Arte do Rio (MAR), que inovou com a proposta museológica de já nascer com uma escola (a Escola do Olhar), o Museu do Amanhã conserva relações estreitas com o contexto social, cultural e ambiental que o cerca e vai cumprir a responsabilidade ética de servir à educação. O programa de educação acolhe equipe interdisciplinar para visitas mediadas e escolares e propõe eixos temáticos para o debate com os alunos, trazendo as questões abordadas no museu, sua arquitetura, a Baía de Guanabara e a região histórica do entorno. O museu também encoraja e estimula atividades concebidas para incluir e conectar pessoas de diferentes faixas etárias, formações, regiões geográficas e contextos socioeconômicos. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
Com toda certeza, o Museu do Amanhã é uma das meninas dos olhos do Projeto Porto Maravilha.
6.1.10. Acessibilidade
O Museu do Amanhã tem a acessibilidade como premissa da construção física do prédio e, principalmente, da relação entre a equipe do Museu e seus visitantes. O Museu dispõe de pisos e maquetes táteis, rampas, cadeira de rodas, elevadores, fraldários, banheiros adaptados, visitas em libras e sinalização universal. O Museu apresenta ainda parcerias com órgãos públicos, escolas e instituições capacitada na formação de educadores para observar oportunidades de visitas adaptadas a pessoas com qualquer tipo de necessidade especial. Já o Programa de Educação, manifesta-se através de uma agenda de atividades para pessoas com deficiência e suas famílias, além de visitas mediadas para grupos escolares e não escolares onde o diálogo é regrado pela diversidade e inclusão. (MUSEU DO AMANHÃ, 2015)
6.2. AQUARIO
As informações referentes a Viajar é Demais (2018), que são as referências seguintes, estão disponíveis em: https://www.viajaredemais.com.br/america-do-sul/brasil/rio-de-janeiro/como-e-visitar-o-aquario-o-aquario-marinho-do-rio-de-janeiro/ Acesso em 14 de abril de 2019
A cidade do Rio de Janeiro é conhecida mundialmente por conta de suas belezas naturais e sendo assim, com uma inclinação natural para o turismo, sobretudo ligado ao mar e, há muito, merecia uma atração como o AquaRio (Figura 12), de visitação pública à nível internacional, afamado como o maior aquário marinho da América do sul e presenteia, não somente com belezas marinhas, mas conhecimentos, estudos e pesquisas. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Figura 12 - Fachada do Museu "AquaRio"
Fonte – Eaíférias - Acesso em 03 de maio de 2019.
É um fabuloso e gigantesco projeto que conta com o apoio de profissionais de reconhecimento nacional, como Guy Marcovaldi (criador do projeto TAMAR), o ambientalista José Truda Palazzo Jr. (criador do projeto Baleia Franca) e o biólogo Maurício Hostim (criador do projeto Meros do Brasil). O recinto AquaRio é um local moderno e versátil, com aquário virtual, museus de ciências, centro de pesquisas científicas, centro de educação ambiental e centro de conservação da biodiversidade. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Instalado na revitalizada zona portuária do Rio de Janeiro e inaugurado no dia 31 de outubro de 2016, o prédio do AquaRio, teve seu projeto preparado pelo arquiteto Alcides Horácio de Azevedo. Foi construído onde ficava o antigo prédio da Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem). Como a fachada é tombada, tiveram o cuidado de preservá-la e recuperá-la, conforme fora caracterizado pela Prefeitura. O prédio conta com cinco andares, vinte e oito tanques onde estão armazenados 4,5 milhões de litros de água salgada. Em seus tanques, existem oito mil animais de 350 espécies diferentes, de todos os oceanos. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
O maior tanque, batizado de “Oceânico” (Figura 13), é uma das grandes atrações, com uma vista panorâmica. Possui capacidade para 3,5 milhões de litros de água, conta com dois andares de altura e um túnel em acrílico passando por seu interior, com uma combinação da impressionante massa d’água com grande quantidade de seres marinhos. Além disso, há outros 24 tanques secundários em áreas específicas, onde o público (especialmente crianças) interagem com alguns animais expostos. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Figura 13-Tanque Oceânico
Fonte - AquaRio/Bruno Bartholini/Divulgação Acesso em 03 de maio de 2019.
O AquaRio possui o maior teto solar do Brasil. O telhado foi implantado e inaugurado antes mesmo da inauguração do Aquário. Sua inauguração se deu no dia 31 de maio de 2016 e é considerado o maior telhado inserido em áreas urbanas do país. Composto por cerca de dois mil painéis solares instalados em uma área de 6 mil metros quadrados, o telhado solar gera cerca de 77 mil quilowatts de energia por mês e isso equivale ao consumo mensal de 500 residências brasileiras. O telhado reduz em até 30% o gasto de energia elétrica consumido pelo AquaRio. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
O espaço, além de visitação turística, é reservado também à pesquisa, conservação e educação ambiental. Dentre as predominantes espécies presentes no aquário, estão: o tubarão enfermeiro (ginglymortoma cirratum); o tubarão de pontas brancas do recife (carcharhinus melana pterus); e o cação mangona (carcharin taurus). (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Turistas e visitantes que se dispõe a ir ao AquaRio, além de conhecerem os tanques, é oportunizado a eles a realização de atividades abundantes, sujeitas a cobranças adicionais, tais como: “dormindo no AquaRio”, onde o visitante pode passar uma noite no túnel que passa no meio do grande tanque “oceânico”; o “mergulho no tanque oceânico”(Figura 14), onde o visitante pode mergulhar junto com tartarugas, peixes, tubarões e arraias; o “peixe virtual”, onde o visitante pode criar um amigo virtual no início do passeio e interagir com ele ao longo do circuito e a “visita aos bastidores”, onde o visitante pode ver de perto aparelhagens que tratam a água dos recintos, o trabalho dos biólogos e o modo de realização da alimentação dos peixes. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Figura 14-Mergulho no AquaRio
Fonte - Marcos Serra Lima/ G1 Acesso em 03 de maio de 2019.
Encontra-se muitas outras atrações das quais os visitantes podem desfrutar, como: do “AquaRio virtual”, que é um aquário digital com peixes idealizados pelos visitantes; do “Museu da Ciência”, composto pela Estação de Plâncton e pela Exposição de conchas e do “Museu do Surf”, um espaço dedicado ao surf, elaborado pelo surfista Rico de Souza. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Como parte de sua estrutura, o AquaRio possui um café, um centro de pesquisa científica, um estacionamento e uma loja de souvenires, abrangendo alguns quiosques. É um produto de visitação pública 100% privado, contemporâneo, polivalente de educação, pesquisa, conservação, lazer, recreação e cultura, possibilitando a cidade do Rio de Janeiro oferecer a visitação de um espaço de propensões e tecnologias inovadoras e uma infraestrutura que proporciona conforto e deleite ao público. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Exibições estáveis e temporárias sobre os mais variados temas relacionados ao ambiente aquático estão disponíveis, na intenção de agregar aprendizado aos turistas visitantes e para assegurar a preservação de acervos e coleções científicas. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Há um centro de educação ambiental que incentiva palestras, eventos, festivais e cursos relativos às questões ambientais, além de um centro de pesquisa científica, que a partir do manuseio e manutenção dos animais em cativeiro, realiza pesquisas científicas nas diversas áreas da biologia veterinária, em contato direto com universidades e centros de pesquisa. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Em 2017, o AquaRio completou um ano com público recorde de 1,4 milhão de visitantes. Neste ano de 2017, o tanque inaugurou o Centro de Pesquisa Científica e projetou mais uma atividade extra, o programa “Dormindo no Aquário”. Vinte e dois novos tubarões chegaram ao longo do ano e mais de 100 mil estudantes participaram de visitas educativas de caráter pedagógico. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
O programa “Dormindo no Aquário” (Figura 15), projetado em 2017, arrebata crianças e adultos com oportunidade de dormir em um imenso aquário. Esta atividade é facultada às sextas-feiras para adultos e crianças, entre cinco e doze anos, e, aos sábados, exclusivamente para crianças.
Figura 15-Dormindo no AquaRio
Fonte - Riobookguide , 2018 / Acesso em 03 de maio de 2019.
Marcelo Szpilman, biólogo marinho e diretor-presidente do AquaRio, com mais de vinte anos de trabalho efetivo no ramo de preservação e cuidado de animais marinhos, autor de cinco livros na área (Guia Aqualung de Peixes, Aqualung to Fishes, Seres Marinhos Perigosos, Peixes Marinhos do Brasil e Tubarões do Brasil), conta que o projeto concebido há mais de 10 anos deverá ajudar a formar muitos biólogos marinhos e veterinários. O recinto AquaRio intensificou investimentos no campo acadêmico em seu Centro de Pesquisa Científica (Figura 16). Mais de 15 estudos em cooperação com as principais universidades do país (UFRJ, UERJ, UFF, USU e UCB) já estão em movimento, sendo dois pós-doutorados, cinco doutorados, quatro mestrados e cinco monografias. Um desses trabalhos, sobre o uso probióticos, como forma de combate ao desempenho de branqueamento de corais, foi publicado numa das principais revistas de microbiologia do mundo, transformando o Brasil pioneiro neste estudo. (VIAJAR É DEMAIS, 2018)
Figura 16-Laboratório de Pesquisa
Fonte -Lolepocket, Laboratório AquaRio 2016 Acesso em 03 de maio de 2019.
6.2.1. ACESSIBILIDADE
O diferencial encontrado no quesito acessibilidade foi na Central do Cadeirante (Espaço para troca de ideias e experiencias entre pessoas especiais), onde existe um post de Cristiane Martins Pereira com o seguinte relato: “No quesito acessibilidade, ele arrebenta. Existe uma estação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) pertinho dele. Dentro do prédio há estacionamento e para chegar à bilheteria, é só pegar o elevador, onde pessoas com deficiência pagam meia entrada. Para acessar os aquários, basta pegar um dos três elevadores, que são bem espaçosos. Na frente dos aquários, existem bancos para sentar-se e descansar. O lugar é bem escuro, porém o brilho dos aquários, ajudam na visualização do trajeto. Banheiro adaptado, apesar de pequeno é confortável e limpinho, consegui manobrar a cadeira sem problemas lá dentro. Com certeza é uma das meninas dos olhos do projeto Porto Maravilha” (PEREIRA, 2017).
7. METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS.
Visando alcançar os objetivos deste trabalho, a metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória. De acordo com Gil (2007, apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009) a pesquisa exploratória tem como objetivo propiciar maior familiaridade com o assunto abordado, visando construir hipóteses e torná-lo mais evidente.
Assim sendo, para a execução do presente estudo foi empregada a pesquisa exploratória qualitativa. Para Gerhardt (2009) “a pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma organização”.
Planejando dar mais clareza e objetividade ao trabalho, meu irmão surdo, Rodrigo, colaborador fundamental para que esta pesquisa de campo tivesse êxito, realizou a visita ao AquaRio e ao Museu do Amanhã, em minha companhia e, nesta mesma oportunidade, verifiquei a existência de acessibilidade e conheci como ocorre o processo de atendimento aos surdos, quando esta modalidade de atendimento se faz necessária. A partir dessas narrativas, será detalhado a seguir tudo o que ocorreu durante as visitas. Seus pontos positivos e negativos.
As visitas aconteceram no dia 24 de abril de 2019, começando pelo Museu AquaRio. No AquaRio, diferentemente do Museu do Amanhã, não existe gratuidade, em nenhum dos dias de visitas para deficientes. A modalidade existe somente para o acompanhante de pessoas que não conseguem se locomover sozinhas. A meia entrada, no valor de cinquenta e cinco reais, é válida para crianças acima de três anos, idosos, deficientes com comprovação e estudantes com comprovação.
Após verificarmos os valores, eu e Rodrigo nos dirigimos ao atendimento para adquirirmos as entradas e, antes de iniciar o tour, me dirigi ao atendimento, em busca de informações sobre a possibilidade de conseguir uma entrevista sobre a acessibilidade do surdo no Museu, explicando que seria para compor o Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo. Não obtive sucesso, pois não havia funcionários disponíveis para o atendimento solicitado. Recebi um número de telefone para o qual deveria ligar e agendar um horário para a entrevista. Porém, com o alerta a respeito da dificuldade de alcançar meu objetivo.
Entramos para a visita e, no percurso, abordei um monitor que estava disponível e indaguei se o Museu dispunha de intérprete em LIBRAS para acompanhar deficientes auditivos ou se ele, o monitor, dispunha de tal conhecimento. Ele afirmou não dispor de tal conhecimento, porém, que ele mesmo era a pessoa responsável por receber este tipo de público, em datas previamente agendadas, compostas por intérpretes voluntários que auxiliam os surdos, onde estas visitas acontecem mensalmente, em datas pré-definidas. Ele revelou, também, que estava disponível um QRcode para as explicações sobre as exposições. Porém, foi observado nos links que o código direciona para uma página em língua portuguesa, com um pequeno ícone em LIBRAS. Para maiores informações, o monitor solicitou que entrasse em contato pelo link do site do AquaRio.
Figura 17 - Rodrigo em visita ao AquaRio
Fonte - Passaroni, Cleide. 2019
Após encerrarmos nossa visita (Figura 17) ao AquaRio, o destino foi o Museu do Amanhã. Ao chegarmos, nos dirigimos ao balcão de atendimento para a compra dos bilhetes de entrada, que além de ser mais em conta em relação ao custo do AquaRio (dez reais, a meia entrada) o acompanhante do surdo teve gratuidade. No Museu do Amanhã, existe um dia da semana (terça-feira) onde a entrada para todo o público é gratuita. Antes de iniciarmos a visita ao Museu, foi solicitado um intérprete em LIBRAS para acompanhar o surdo e a atendente nos informou que o mesmo não se encontrava pois, já havia encerrado seu expediente. Expliquei a atendente o motivo pelo qual eu estava ali, relatando que era estudante de turismo, em fase de elaboração do TCC e questionei sobre a possibilidade de uma entrevista com algum funcionário para falar sobre acessibilidade do surdo no Museu. A atendente me passou um e-mail para que fosse realizado o contato com os funcionários Catiussa Silva e Bruno Santos, que eram os responsáveis para este assunto. Ela me relatou que o funcionário Bruno Santos é surdo e trabalha no Museu do Amanhã desde o ano de 2017. Segui para a visita com o Rodrigo (Figura 18), que ficou deslumbrado.
Figura 18- Rodrigo e Cleide em visita ao museu do amanhã
Fonte - Passaroni, Cleide. 2019
O contato através do e-mail foi feito no mesmo dia, porém, somente o Bruno Santos respondeu agendando uma entrevista para sábado, dia 27 de abril de 2019. Cheguei ao Museu para a entrevista no horário combinado e Bruno me atendeu com uma enorme simpatia. Apesar do meu baixo domínio de LIBRAS, foi possível entendê-lo e me fazer entender.
Durante a entrevista, indaguei há quanto tempo ele trabalha no Museu, se está satisfeito com o que faz, se atende muitos surdos no dia a dia e como se dá a visita guiada para os surdos. Ele deixou claro que gosta muito do que faz e que trabalha no Museu há dois anos, na modalidade de atendimento aos surdos. Já chegou a atender 250 surdos em um só dia, de uma só vez. Tal qual no AquaRio, as visitas para os surdos são agendadas previamente, porém Bruno está ali todos os dias em que o Museu abre. O agendamento se dá através de E-mail, Facebook, Instagram, sempre com ele, que tem uma enorme desenvoltura com tecnologia.
Na entrevista realizada, relatei que tenho um irmão surdo, Rodrigo, e que ele esteve no Museu para uma visita naquela mesma semana e não encontrou quem o acompanhasse para a visita guiada. Imediatamente, Bruno pediu licença, se levantou e disse que retornaria em alguns minutos. Ao retornar, trouxe consigo um tablet. Este tablet é destinado aos surdos quando vão visitar o museu, onde existem ícones com intérpretes narrando como se dá a visita guiada e com as explicações sobre cada uma das exposições, em LIBRAS. Ele questionou se a atendente não ofereceu tal dispositivo ao Rodrigo, para que ele tivesse uma noção do que acontece em todo o percurso da visita. Ao ver minha negativa em relação ao aparelho, Bruno balançou a cabeça com gestos negativos.
Foi notória a decepção do funcionário surdo quanto ao descaso de seus colegas de trabalho em relação ao público com a mesma deficiência. Quando questionado sobre outros funcionários em relação a LIBRAS, principalmente as recepcionistas, o mesmo relatou que falta vontade de ambas as partes: tanto do museu, quanto dos funcionários. Ele relatou a necessidade de que todos os funcionários saibam, ao menos, o básico da LIBRAS, para que o surdo possa ter um acolhimento mais humano no Museu. Relatou também que, assim que começou a trabalhar no Museu do Amanhã, três funcionários, a pedido da gerência, começaram a fazer o curso de LIBRAS e estavam tendo um bom desempenho. Porém, após alguns meses do término do curso, os funcionários foram demitidos. Os que foram contratados para substituí-los não tinham a LIBRAS e foi solicitado que fizessem o curso, porém, os mesmos não mostraram interesse. Segundo ele, o Museu não valoriza os funcionários que se esforçam para atender o público surdo. Palavras dele: “Não adiantar Museu investir funcionários, pagar curso, e depois mandar embora”.
De acordo com relato de Bruno, o Museu mostra pouco ou nenhum interesse em manter informações sobre acessibilidade do surdo. Relatou que ele próprio é quem procura fazer propaganda em suas redes sociais no sentido de atrair mais o público surdo. Foi notório um ar de tristeza em relação ao descaso por parte da Instituição.
O Museu do Amanhã conta com ferramentas necessárias para atender o público surdo e, no entanto, falta vontade e interesse por parte da Instituição. A inclusão só existe no papel, na prática, ainda falta muito para que ela aconteça. Ele deixou claro que não mede esforços para tentar atrair os surdos. Porém, os surdos, de acordo com palavras dele, são muito “pão duros”, “ser mão fechada”! “Querer tudo gratuito”. De acordo com ele, quando um surdo entra em contato para agendar uma visita a primeira pergunta que fazem: “É de graça”? Ele responde: “Só terça feira”! E o surdo responde: “Então, terça feira, agendar”!
Ao ser indagado sobre banheiros acessíveis para o caso de um surdo ficar preso, e, se existe algum dispositivo para chamar a atenção, ele respondeu que atualmente, isto é dispensável, pois, todos tem acesso ao aparelho de celular. Ao ser indagado sobre alarme de incêndio para o surdo no Museu, ele respondeu que existem luzes que, ao tocar o alarme, piscam para chamar a atenção do surdo. Ao ser questionado sobre o que poderia melhorar para atender os surdos, ele respondeu que o ideal seria que todos os funcionários dominassem, ao menos, o básico da LIBRAS e que a Instituição faça mais propaganda para atrair o público surdo. Quanto a acessibilidade no entorno do museu, Bruno diz achar muito boa, com sinais sonoros e luminosos durante as travessias por onde trafega o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), calçadas seguras, seguranças da prefeitura na localidade, bancos para descanso em várias partes do Píer, trajeto tranquilo e agradável durante o percurso até o Museu do Amanhã.
Ao final da entrevista, Bruno pediu que eu curtisse suas páginas nas redes sociais e que, se possível, compartilhasse os links voltados à acessibilidade do surdo no Museu do Amanhã, no sentido de ajudar a atrair mais o público surdo para aquela localidade turística. Informalmente, isso já vem ocorrendo, conforme observado por mim durante uma visita ao Píer Mauá, no dia primeiro de maio de 2019, quando a graduanda em turismo, Ana Cristina Santos Gomes, organizou um encontro de intérpretes e surdos, para promover a LIBRAS.
Quanto ao AquaRio, segui as instruções do monitor. Ele pediu que eu entrasse no site oficial da Instituição e enviasse uma solicitação, via e-mail, para agendar uma entrevista. O e-mail foi enviado e a resposta veio bem rápida. Tudo que precisaria ser feito para que fosse agendada a entrevista seria preencher um formulário e enviá-lo de volta. Porém, o formulário é destinado a um público da área de pesquisa, em ciências naturais, não cabendo nos moldes das ciências humanas. Pede-se uma infinidade de dados. É o mesmo formulário dos cientistas que irão realizar pesquisas dentro do AquaRio. A autora do presente trabalho de graduação estava buscando somente informações sobre acessibilidade do surdo no AquaRio. Diante de tamanha burocracia para solicitar uma entrevista sobre o assunto, optou-se pela não realização da entrevista, mantendo apenas a conversa informal com o monitor da Instituição que deixou bem claro como se dá a acessibilidade do surdo naquela localidade, que é através de agendamento em datas pré-definidas, ocorrendo uma vez ao mês, com pessoas voluntárias intérpretes em LIBRAS, auxiliando os surdos nas visitas guiadas.
Resultado da pesquisa
- AquaRio
- Ausência de atendimento ao surdo;
- Falta de pessoal preparado;
- Recursos áudio visuais insuficientes;
- Burocracia no atendimento específico;
- Museu do Amanhã
- Prós
- Funcionário Surdo capacitado e engajado;
- Vídeo Interpretação de áudio para LIBRAS, em tablet e aplicativo;
- Disponibilização de curso de Libras aos funcionários;
- Contras
- Carência de pessoas qualificadas;
- Ausência de indicações visuais;
- Descaso quanto aos recursos disponíveis;
- Baixa valorização dos colaboradores que buscam capacitação;
- Falta de divulgação direcionada a comunidade surda;
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho mostrou que, tornar um ambiente acessível a todos, é um direito e um dever, democratizando os espaços, de modo a proporcionar a inserção e a inclusão social, livres de discriminação.
O tratamento deste tema tem uma importância fundamental, pois, coloca em foco um direito humano e social, visto que poucas pesquisas se dedicam a compreender e apontar caminhos possíveis à inclusão do deficiente, principalmente do surdo, na esfera do turismo.
Garantir a inclusão social absoluta em todos os setores da sociedade é uma tarefa penosa e árdua, especialmente, no turismo. Para ter a possibilidade de assegurar um atendimento qualificado, acessível e adequado a todos, é necessário dinamismo e uma integração conjunta de múltiplos fatores para que se alcance o êxito. O turismo é uma das atividades mais populares que conhecemos, onde todas as pessoas, sem exceção ou distinção, podem e devem realizá-la de forma plena, para se sentirem revigorados.
O trabalho aqui exposto teve como foco o Museu do Amanhã e o AquaRio. Vimos que o Museu do Amanhã é um exemplo de local acessível e que possui as ferramentas possíveis para isso. Sua construção se deu no interesse de ser acessível a qualquer cidadão, sendo um modelo de equipamento de lazer e cultura, seguindo as normas básicas de acesso. Foi observado que há pouca vontade por parte da Instituição quando o assunto é o atendimento ao surdo, visto que possui as ferramentas necessárias para garantir a acessibilidade, mas esta não ocorre de forma plena.
No Museu AquaRio, foi verificado que falta muito para a acessibilidade ser plena. Faltam recursos áudio visuais, informações essenciais e ausência de pessoas preparadas adequadamente ao atendimento do surdo. Na busca de informações sobre o atendimento específico aos surdos, esbarrou-se em um processo burocrático que dificultou a realização da entrevista sobre acessibilidade.
Para que a inclusão seja plena, o foco principal é a Educação. Foi salientado, no presente trabalho o quanto a educação pode influenciar na inclusão social do surdo, em todos os sentidos. A inserção, no Projeto Político Pedagógico (PPP) de duas escolas municipais, em dois Estados diferentes, deixou claro o diferencial alcançado em relação ao sentimento de pertencimento por parte do aluno surdo.
A filha da autora do presente trabalho, Lorena, teve a oportunidade de estudar em uma dessas escolas, Escola Municipal Nice de Paula Agostini Sobrinho, onde ela teve a disciplina LIBRAS por quatro anos, no ensino fundamental. Isso foi muito relevante, pois Rodrigo, que à época estava morando em nossa casa, se sentia perdido por não conseguir se comunicar. O aprendizado em LIBRAS por Lorena fez a diferença para uma convivência familiar feliz, ou seja, Rodrigo se sentia seguro e adaptado ao ambiente familiar. O conhecimento adquirido por Lorena, gradativamente, era passado aos pais onde, os mesmos, também conseguiam se comunicar com Rodrigo.
As Políticas Públicas deveriam agir no sentido de tornar a LIBRAS como disciplina obrigatória em todas as esferas da educação, como disse a professora Tanya Amara do INES: “desde o jardim de infância até para sempre”, visto que a LIBRAS é a segunda língua oficial do Brasil. Da mesma forma que existem o Inglês e o Espanhol como disciplinas obrigatórias, por que não a LIBRAS? Isso faria uma enorme diferença em todos os âmbitos da sociedade, pois aprendendo o básico da LIBRAS a convivência com o surdo seria mais humana. Um compreendendo o outro. Isso, com certeza, iria se refletir em todos os setores da sociedade, inclusive no turismo, em um futuro bem próximo, pois crianças e jovens de hoje serão os profissionais do futuro, trabalhando nas mais diversas áreas, atendendo de forma igualitária a todos, um atendimento humanizado, conforme ocorreu com o médico Fred Nicássio, citado neste trabalho.
A partir do momento que as Políticas Públicas para a LIBRAS atingirem todas as camadas educacionais e profissionais, poderemos dizer que, a inclusão social do surdo se tornou uma realidade.
9. REFERÊNCIAS
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BOTELHO, Paula. Linguagem e Letramento na Educação dos Surdos: ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
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[1] Empresa privada de treinamento profissional, especializada em Educação Inclusiva. “Jean Itard em vez de classificar, buscou compreender; em vez de excluir, optou por educar.” Disponível em: https://institutoitard.com.br Acesso em 01 de junho de 2019.
[2] Stephen Hawking (1942-2018) foi um físico inglês que apesar de paralisado por uma doença degenerativa, se tornou celebridade por produzir algumas teorias fundamentais da física moderna. (Disponível em: https://www.ebiografia.com/stephen_hawking/ Acesso em 30 de abril de 2019).
[3] Pedagogia ao pé da Letra -Disponível em: https://pedagogiaaopedaletra.com/tipos-de-deficiencia/ Acesso em 14 de abril de 2019)
[4] Charles – Michel de l’Épée foi um educador filantrópico francês, do século XVIII, que ficou conhecido como “pai dos surdos”. Disponível em: https://ensinesuasmaosafalar.blogspot.com/2016/07/charles-michel-de-lepee-e-educacao-de.html Acesso em 14 de abril de 2019.
[5] A Declaração de Salamanca é considerada um dos principais documentos mundiais que visam a inclusão social, ao lado da Convenção de Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos de 1990. Ela é o resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de desinstitucionalização manicomial que surgiram a partir das décadas de 60 e 70. (https://www.educabrasil.com.br/declaracao-de-salamanca/) Acesso em 03 de maio de 2019.
[6]VLT e sua história. Disponível em: https://www.vltrio.com.br/#/ Acesso em 18 de abril de 2019
[7] Píer Mauá – terminal internacional de cruzeiros. Disponível em: https://www.piermaua.rio/historia/ Acesso em 18 de abril de 2019
[8] Museu do Amanhã – Disponível em: https://museudoamanha.org.br/pt-br/content/como-chegar Acesso em 14 de abril 2019.
[9] www.viajenaviagem.com/2016/01/museu-do-amanha-dicas-para-visitar/.
[10]Porto Maravilha. Foi concebido para a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da região portuária. Disponível em http://www.portomaravilha.com.br/. Acesso em 26/03/2019.
[11] Santiago Calatrava. Disponível em: https://www.ebiografia.com/santiago_calatrava/ acesso em 13 abril de 2019
[12] Frank Stella é um artista plástico contemporâneo norte-americano. Seu trabalho abrange pintura, objetos, artes gráficas e projetos arquitetônicos. Nasceu em 12 de maio de 1936(Disponível em: http://arteseanp.blogspot.com/2012/10/frank-stella.html Acesso em 18 de abril de 2019.)
[13] https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/viajologia/noticia/2016/08/boulevard-olimpico-da-rio-2016-traz-novas-cores-ao-velho-cais-do-porto.html
[14] https://www.caminhosdorio.net/site/wp-content/uploads/2018/04/DSCN7072.jpg
Publicado por: Cleide Parazio Passaroni
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