Trabalhando a indisciplina na sala de aula

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1. Resumo

A presente pesquisa visou ampliar os conhecimentos sobre como trabalhar a indisciplina na sala de aula, tentando entender os motivos que contribuem para a mesma e buscando estratégias que podem reduzir seu impacto na sala de aula. Os objetivos foram: identificar as causas que levam o aluno a se comportar de forma inadequada; compreender a relevância da participação da família na vida escolar da criança; e pesquisar estratégias que poderão contribuir como alternativa para minimizar a indisciplina na sala de aula. Os métodos utilizados foram pesquisas bibliográficas em livros, artigos e revistas e teve embasamento teórico dos principais autores, Aquino (1996), Tiba (2013), Furlani (1995), Vichesse (2009) dentre outros. Começamos conceituando o que é disciplina e indisciplina, mostrando os possíveis fatores que contribuem para a indisciplina no contexto escolar, como elementos relacionados aos professores, alunos, família e instituição escolar, posteriormente analisamos possíveis soluções para tentar amenizar este problema. Nossos estudos identificaram que as causas da indisciplinas são diversas, sendo mais intensa nos casos onde os pais não participam da vida escolar da criança, sendo assim pesquisamos estratégias que poderão ser eficazes para os professores diante desse problema. Concluímos então que o problema da indisciplina na sala de aula não é um problema sem solução na medida em que haja comprometimento entre família e escola para construção de uma educação de qualidade para todos.

Palavras-Chaves:Indisciplina, Aluno, Escola, Família, Estratégias.

ABSTRACT

This research aimed to increase knowledge about working indiscipline in the classroom , trying to understand the reasons that contribute to it, and looking for strategies that can reduce their impact on the classroom. The objectives were to identify the causes that lead the student to behave inappropriately ; understand the importance of family involvement in school life of the child; and search strategies that can contribute as an alternative to minimize indiscipline in the classroom . The methods used were bibliographical research in books, articles and magazines and had theoretical basis of the principal authors, Aquino (1996), Tiba (2013), Furlani (1995), Vichesse (2009) among others. We started conceptualizing what is discipline and discipline , showing the possible factors that contribute to indiscipline in schools, as elements related to teachers, students , family and school institution subsequently analyze possible solutions to try to stem this problem. Our studies have identified the causes of indiscipline are diverse, even more so in cases where parents do not participate in school life of the child , and we search strategies that can be effective for teachers on this issue . We concluded that the problem of indiscipline in the classroom is not an unsolvable problem in that there is commitment between family and school to build a quality education for all .

Keywords:Indiscipline , Student, School , Family, Strategies .

2. INTRODUÇÃO

A indisciplina tem se tornado um dos maiores problemas enfrentados pelo educador nos dias de hoje, e ao mencionarmos este problema não podemos nos esquecer de levar em conta os aspectos que podem contribuir para o crescimento da indisciplina, como a realidade a qual o aluno está inserido.

A sociedade atualmente encontra-se cada vez mais indisciplinada, há indisciplina em toda parte, e como não haver na escola que é onde o aluno passa grande parte do seu tempo.

Podemos citar também o surgimento da indisciplina no contexto das relações emocionais entre professores e alunos. É fato que alguns professores não estão bem preparados para lidar com este problema e é nítida a influência dos professores sobre o desempenho dos estudantes. Neste sentido o ambiente escolar quando é capaz de agir como um elemento preventivo, certamente contribuirá para uma aprendizagem mais tranquila e eficiente.

Outro fato que contribui para a indisciplina é a ausência da família. Podemos observar que a autoridade familiar está em falência, pois a educação deve ser feita pela família e pela escola, pois ambos devem assegurar que o educando se desenvolva como um bom cidadão, que saiba praticar seus direitos e cumprir seus deveres.

Neste sentido o presente trabalho apresenta à seguinte problematizarão: o que tem levado ao aumento da indisciplina, e quais as estratégias que podem reduzir seu impacto na sala de aula?

Diante desse contexto, a presente pesquisa se propôs a alcançar os seguintes objetivos: identificar as causas que levam os alunos a se comportarem de forma indisciplinada,compreender a relevância da família na vida escolar da criança e pesquisar estratégias que poderão contribuir para minimizar o comportamento indisciplinar.

Diante dessa perspectiva pretendemos elaborar estratégias para serem trabalhadas na tentativa de criar um ambiente mais agradável para a aprendizagem, para que assim alunos e professores possam se relacionar da melhor maneira possível dentro da sala de aula, de forma que todos tenham autonomia, mas acima de tudo respeito um com os outros.

Esta pesquisa foi elaborada devido ao grande aumento da indisciplina na sala de aula, de modo geral, a indisciplina se apresenta como um obstáculo no processo ensino-aprendizagem, prejudicando o professor no exercício da sua função como educador e também toda a classe que poderá ter consequências negativas no aprendizado. Embora seja um assunto de muita discussão pairam no ar muitas dúvidas sobre sua origem, prevenção e tratamento.

Este trabalho foi de caráter bibliográfico e as pesquisas foram feitas mediante leitura de livros, revistas e artigos relacionados com a indisciplina. O presente trabalho buscou apresentar contribuições que possam ajudar os educadores a lidar com este tipo de problema, melhorando tanto a atuação do educando quanto a aprendizagem dos alunos.

Esta pesquisa será embasada de acordo com os estudos feitos pelos autores, Aquino (1996), Tiba (2013), Furlani (1995), Vichessi(2009), Vasconcelos (1984), Sinay(2012) e Spengler (2014), o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de apresentar contribuições relevantes, contribuindo assim para que o educador ampliem as percepções com relação a indisciplina escolar.

No primeiro capítulo começamos com uma definição da indisciplina segundo Holanda (1999, p.689) tentando deixar bem claro o que significa a palavra indisciplina, depois tentaremos entender como esse comportamento ocorre na sala de aula, e também as causas que podem levar a indisciplina, como também a relação entre professor e aluno, e a dificuldade que muitos professores têm encontrado para lidar com esse problema.

O segundo capítulo tentou compreender a importância da participação da família na vida escolar da criança, vendo a família como fundamental para a boa formação do indivíduo.

Por fim, no terceiro capítulo abordamos questões que poderão ajudar a minimizar a indisciplina no contexto escolar com o principal objetivo de contribuir para o bom aprendizado do aluno e o bom relacionamento na sala de aula.

3. A Indisciplina na Educação

3.1. Definindo indisciplina

Falar de disciplina hoje está se tornando cada vez mais complexo, partindo do pressuposto de que são vários os motivos que contribuem para este problema, mesmo que envolva um único sujeito, as causas costumam ser variadas.

A grande preocupação é que o aumento da indisciplina é um obstáculo no processo ensino-aprendizagem que prejudica não só o professor, mas o próprio aluno tem prejuízo, além de prejudicar toda a classe. Vejamos então o conceito de indisciplina segundo o dicionário Aurélio, Século XXI, dicionário da língua portuguesa:

Disciplina [do latim disciplina] s.f. 1- Regime de ordem imposta ou livremente consentida;2- Ordem que convém ao funcionamento regular duma organização (militar escolar etc.); 3-Relação de subordinação do aluno ao mestre ou instrutor; 4- Observância de preceitos ou normas; 5- Submissão a um regulamento. (HOLANDA, 1999, p. 689).

É importante ressaltar que professor não está bem preparado, e as escolas não estão prontas para lidar com este problema. A sociedade em si se encontra cada vez mais indisciplinada, há indisciplina em toda parte, e não podemos esquecer que a educação envolve a definição para a vida, portanto ela requer e exige que os profissionais exerçam um trabalho voltado para tais necessidades e objetivos. Assim a escola também deve rever seus conteúdos frente aos acontecimentos sociais que prejudicam a vida dos alunos como é o caso da indisciplina.

[…] indisciplina no contexto do desenvolvimento cognitivo dos estudantes, define-se indisciplina como a incongruência entre os critérios e expectativas assumidos pela escola (que supostamente refletem o pensamento da comunidade escolar) em termos de comportamento, e aquilo que demonstram os estudantes. (GARCIA, 1999, p.102).

A escola tem assumido em grande parte o compromisso com a educação, não só ensinar o aluno a ler e escrever, mas está sendo responsabilizada também pela educação moral, espera-se que hoje ela prepare o indivíduo para a vida, o que deveria ser obrigação da família, neste caso muitas crianças chegam à escola sem noções mínimas de educação o que contribui para gerar a indisciplina. Na opinião de Vinha:

O desenvolvimento moral é sempre construído, a criança nasce num período de anomia, que é uma ausência total de regras não tem noção do que é certo ou errado, e por volta dos três ou quatro anos elas começam a pedir regras, quando ela começa a perguntar ‘se isso pode’ se isso não pode’ se isso é do bem ou do mal’, quando ela faz isso ela entra num tipo de moral que é a heteronomia, que significa que a regulação vem do outro, é uma regulação externa. [...] por volta dos oito ou nove anos a criança começa a ter condições intelectuais para construir sua autonomia. (VINHA, 2009, página).

Neste caso, se o aluno não tem “educação” ele não possui valores que por fim não respeita as regras e muito menos quem as impõe, isso não quer dizer que o aluno deva ser passivo, aceitar tudo o que lhe é imposto, mas ter noção de seus direitos e também dos deveres aos quais ele tem como aluno. O professor também ao se deparar com este problema deve procurar resolvê-lo de forma apropriada, não deve usar o autoritarismo, pois isso pode criar mais conflito entre professor e aluno, o educador deve primeiro conhecer a realidade do seu aluno para assim encontrar a melhor forma de trabalhar com a indisciplina.

São várias as causas que podem levar o aluno a se comportar de forma indisciplinada, e ao abordamos este assunto não podemos esquecer que o professor é a figura fundamental nesta questão. Vivemos nos últimos anos uma mudança muito grande no mundo, que refletiu de maneira significativa na educação, passamos da falta de liberdade do aluno, para a autonomia, mas infelizmente nem todos sabem lidar de forma positiva com isso, muitos confundem liberdade com libertinagem achando que podem fazer o que bem entendem. Conforme afirma Hannah Arendt:

Embora certa qualificação seja indispensável para a autoridade, a qualificação, por maior que seja, nunca engendra por si só autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo. (ARENDT, 1992, p. 339)

(Raquel, insira um texto aqui, concluindo a citação, pois não pode terminar um tópico ou capítulo com citações).

3.2. O papel do professor e da escola

Não podemos esquecer também que a mudança não foi só referente ao aluno, pois o professor não se encontra mais acima destes, se tornaram mais passivos diante do educando, pois deixaram de ser o detentor do saber para ser transmissor, apesar de nem todos concordarem com esse novo aspecto, são obrigados a deixar o autoritarismo de lado para conviverem melhor com esse novo modelo de educando.

Mas, ainda assim o educador não pode esquecer que a escola ainda está em suas mãos e há uma possibilidade de recriar uma realidade onde as crianças se tornem verdadeiros cidadãos, mesmo com todas as dificuldades que o professor enfrenta, se torna herói à medida que assumem a humanidade e se utiliza dela como forma de tentar construir a autonomia e a crítica no interior do aluno, englobando-o dentro do processo particular.

O professor contemporâneo encontra muita dificuldade para assumir sua profissão, pois nos tempos modernos não podem agir de forma rígida como acontecia antes, sendo assim muitos se encontram perdidos e sem saber como agir. A autoridade do professor com a classe deve ser conquistada levando em conta o contexto que o aluno está inserido sem esquecer que vivemos em tempos modernos e que os alunos também acompanham a modernidade. Sendo assim não podemos ver qualquer manifestação por parte do aluno como indisciplina como vemos por parte de alguns professores que desejam que suas salas de aula sejam de total silêncio, marasmo e passividade. Vichessi (2009) esclarecendo, afirma que:

[...] é preciso entender que a indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra. A primeira são as morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. O segundo tipo são as chamadas convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos. [...] Afinal, o diálogo durante a aula pode não ser considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo tratado no momento, certo? Não é fácil distinguir entre moralidade e convenção. Frequentemente. Mistura-se tudo em extensos regimentos que pouco colaboram para manter o bom funcionamento da instituição e o clima necessário à aprendizagem em sala de aula. (VICHESSI, 2009, p. 80)

A indisciplina sempre esteve presente nas escolas, mas podemos ver que está crescendo cada vez mais, por isso professores, pais e dirigentes não conseguem exercer seu papel, sentindo-se assim, impotentes. O conhecimento do professor não é valorizado, nem mesmo pelas mídias, por isso para muitos alunos, não vale apena estudar, aprender, e menos ainda ter disciplina ou prestar atenção.

Neste caso vemos que a indisciplina é um fenômeno que tem ganhado destaque, infelizmente não por estar diminuindo, mas sim por estar aumentando cada vez mais.

Vichessi (2009) alerta que a escola deve assumir e cumprir seu papel:

As questões ligadas a moral e à vida em grupo devem ser tratadas como conteúdos de ensino. Caso contrário, corre-se o risco de permitir que as crianças se tornem adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer situação, incapazes de dialogar e cooperar. Pesquisa de 2002 com 120 universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva, na Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na escola para a resolução da vida adulta. Apenas 3% apontaram que os professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir. (VICHESSI, 2009, p. 85).

Para Estrela (1994, p. 31) não se pode falar em disciplina/indisciplina sem levar em conta o contexto sócio e histórico em que ela ocorre, pois toda educação tem o objetivo de inserir o indivíduo na sociedade. A disciplina social então assume um fim educativo de caráter mediato, e a disciplina educativa assume o caráter de fim imediato e um meio de educação. E Vasconcelos afirma que:

A disciplina consciente e interativa, portanto, pode ser entendida como o processo de construção da autorregulação do sujeito e/ou grupo, que se dá na interação social e pela tensão dialética adaptação-transformação, tendo em vista atingir conscientemente um objetivo. (VASCONCELOS, 1996, p. 247).

Outra coisa que não podemos deixar de dizer é que os conflitos jamais deixaram de existir na vida em comunidade e, na escola não poderia ser diferente, como educadores devemos saber lidar ou encontrar a melhor maneira possível de agir diante desses problemas. Não podemos querer também que os alunos saibam por eles mesmos a se portar diante dos colegas e professores, cabe a nós instruí-los quanto a isso. Conforme aponta Rego:

[…] a escola não pode se eximir de sua tarefa educativa no que se refere a disciplina. Se uma das metas da escola é fazer com que os alunos aprendam as posturas consideradas corretas (como por exemplo, apresentar atitude de solidariedade, cooperação e respeito aos colegas e professores), a prática escolar cotidiana deve dar condições para que as crianças não somente conheçam estas expectativas, mas também construam e interiorizem estes valores. (REGO, 1996, p. 99).

Para Vigotsky (2007 p. 24), o ser humano é fruto de suas relações sociais e sua interação com o meio, a aprendizagem está diretamente ligada ao desenvolvimento, e que a medida que aprende, o indivíduo se desenvolve e estrutura os processos internos, em especial o pensamento e a linguagem. Em sua teoria o autor destaca a importância da linguagem para a construção do pensamento e consequentemente para o desenvolvimento do indivíduo, juntamente com as relações de troca que estabelece com o outro e com o meio em que vive, podendo modificá-lo. Sendo assim afirma-se que o desenvolvimento humano está interligado ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Neste caso a formação de regras e condutas resulta do meio cultural e social em que o indivíduo está inserido. Assim a indisciplina é fruto desse meio, do entendimento dele e do convívio com seu grupo social. As proposições de Casamayor acentuam que:

Entende-se por indisciplina os comportamentos disruptivos graves que supõe uma disfunção da escola. Os comportamentos indisciplinados simplesmente obedecem a uma tentativa de impor a própria vontade sobre a do restante da comunidade. […] também se entende por indisciplina as atitudes ou comportamentos que vão contra as regras estabelecidas, as normas do jogo, o código de conduta adotado pela escola para cumprir sua missão: educar e instruir […] (CASAMAYOR apud AQUINO, 2006, p. 15).

Então, para Casamayor (2002, p. 30) a indisciplina é comportamento que além de fugir das regras que são impostas pela instituição é também uma tentativa do aluno chamar atenção e fazer com que sua vontade prevaleça sobre a vontade dos outros. Essas regras devem ser claras para que as crianças não tentem impor suas vontades. As instituições devem também apresentar regras breves e que não deixem dúvidas, tendo assim como pautar-se nelas para quando se fizer necessário aplicar as sanções cabíveis. Segundo La Taille:

A rigor, a disciplina em sala de aula pode equivaler à simples boa educação: possuir alguns modos de comportamento que permitam o convívio pacífico. Pura aparência, portanto, do qual não se procuram os motivos. Os alunos bem comportados pode sê-lo por medo do castigo, por conformismo. Pouco importa: seu comportamento é tranquilo. Ele é disciplinado. Isto é desejável? (AQUINO, 1996, p. 10).

Podemos analisar a indisciplina de três visões básicas: a primeira delas está nos olhares dos docentes simpatizantes do modelo tradicional que vê a disciplina como um conjunto de regras e atitudes que devem existir para conter comportamentos inadequados à aprendizagem. Esses profissionais veem a disciplina como forma de controle, garantindo o silêncio, a organização, a passividade e a imobilidade do aluno. Mendes (2008, p.139) relata dados que obteve em entrevistas com professores:

É uma certa ordem que temos que ter dentro da sala e na vida também. Sem isso nãodá para fazer nada. Ordem em termos de comportamento e organização.É um conjunto de atitudes que o aluno tem, que inclui sua relação com o professor e os colegas e seu interesse pelas atividades. A disciplina do escolar tem a ver com a sua conduta pessoal organização dos trabalhos. (MENDES, 2008, p.139).

A segunda envolve um olhar pessimista que é definido pelas ordens impostas, como, subordinação, submissão, castigo e coação. Neste caso a ação de disciplinar acaba se tornando uma força opressora que paralisa a capacidade de decisão e a criatividade do sujeito.

Esses pensamentos podem ter refletido de maneira equivocada das hipóteses emitidas pelo escolanovismo, movimento que surgiu da necessidade da renovação das práticas pedagógicas ligada a ruptura dos modelos tradicionais de educação. A escola nova representada por Dewey, Decroly, Montessori entre outros, não afastam a necessidade da disciplina, mas acredita que possa existir outras formas que não sejam tão rígidas, na qual o professor exerça seu papel como mediador da aprendizagem, como alguém capaz de incentivar a autonomia e responsabilidade dos educandos.

A terceira está relacionada a um olhar construtivista sobre a ação disciplinar, esta critica as compreensões ingênuas e pessimistas do disciplinamento. De acordo com esses estudos encontramos o autor Parrat-Dayan (2008, p. 8) afirmando que:

A disciplina não é um conceito negativo; ela permite, autoriza, facilita, possibilita. A disciplina permite entrar na cultura da responsabilidade e compreender que as nossas ações tem consequências. Quem olha para a disciplina como algo negativo não entende o que é.

A disciplina não deve ser vista como forma de repressão, mas sim como instrumento de libertação humana. A autora vai além das compreensões proibitivas e punitivas determinando um significado de obediência consciente, onde o sujeito participa e contribui na criação de regras de conduta considerando os valores e objetivos, os quais se pretende atingir. A disciplina é apresentada como forma de corrigir a ausência das metas anteriormente traçadas.

Koff; Pereira (1999, p. 149) destacam perspectivas positivas sobre o disciplinamento relacionando-o aos princípios de participação e cooperação afirmando assim nas suas falas:

[...] a disciplina não pode mais ser encarada, unicamente, como manutenção da ordem, através da obediência a regras preestabelecidas. É claro que esta “nova escola” deve superar a visão disseminada pela literatura clássica, onde o que importa é a moldagem do comportamento e o estabelecimento de atitudes aceitáveis. É imprescindível a existência de padrões de comportamento adequados à vida em grupo, mas é fundamental reconhecê-los culturais e passíveis de revisão. Uma dada situação pode exigir atitudes consideradas indisciplinadas em outros contextos. Do mesmo modo que, muitas vezes, reagir obedientemente representa abandonar a construção de ações originais e criativas. (KOFF; PEREIRA, 1999, p. 149)

(Raquel, insira um texto aqui, concluindo a citação, pois não pode terminar um tópico ou capítulo com citações).

4. Professor X aluno

Outra coisa que contribui muito para o crescimento da indisciplina é crise da autoridade do professor, que alguns alunos confundem o fato do professor não mais poder utilizar de castigos com liberdade excessiva ao ponto de não terem respeito nenhum por esse professional. Além disso, a controvérsia que cerca este termo situa-se dentro de um amplo processo denominado de “crise cultural” (FURLANI, 1995, p.12). Crise esta que ocorre devido aos questionamentos de ideias, valores e crenças que servia de referencial para a postura humana, revela-se inconsistente frente aos problemas criados por uma nova realidade.

Na área da educação, a busca desses novos valores e referenciais fez-se como modo de aprender um mundo comum a todos os homens, sanando a confusão a respeito do papel dos educadores e da autoridade decorrente deste. Entretanto, alguns paradigmas educacionais vigentes dos últimos anos tendem – de uma forma ou de outra- a desvalorizar a função dos professores no processo pedagógico. Em alguns casos, foi o professor reduzido ao papel de executor de políticas planejadas por tecnocratas, em outros foi identificados como autoritários, repressor etc. Com isto, ao ampliar sua importância quantitativa, o professor foi perdendo sua importância social, técnica e política. (FURLANI, 1995, p.12).

Neste caso o aluno obedece ao professor não por respeito a ele ou a sua autoridade, mas sim por não ter outra opção, uma vez que o modelo de autoridade autoritária se caracteriza pela ausência de diálogo, criando assim um círculo vicioso, pois o aluno que não respeita o professor age de maneira indisciplinada, e o professor por sua vez atua com mais autoridade piorando cada vez mais a situação.

O professor não deve negar sua autoridade, quando ele o faz abandona o exercício do poder de transmitir conhecimentos, disciplinar e avaliar seu relacionamento com os alunos que respeitem a singularidade de cada um e que seja fruto de uma reflexão. De fato há limites para essas ações do professor que são também pedagógicas, de relacionamento psicossocial e sociopolítico. O que podemos dizer é que a sociedade define o ser humano, neste caso professor e aluno, mas também o ser humano define a instituição de que participa e a sociedade, pois sua ação age diretamente no meio.

O professor ao abandonar o exercício de poder de que dispõe para o desempenho dos papéis, permite que toda a imposição do aluno seja aceita, sem serem disciplinados, o que pode levar também a uma luta pelo poder entre ambos, que terá mais probabilidade do aluno sair vencedor que dispõe de habilidades aceitas e legitimadas pela sociedade. (FURLANI, 1995, p. 39). E afirma ainda que:

O professor opta, assim pelo caminho de ignorar uma postura inadequada, quando seria necessário corrigir esses comportamentos, pois sabe-se que, muitas vezes as posturas extremistas ou inapropriadas representam um caso claro de testagem se os limites estabelecidos são mesmo válidos; ou são compensadas por outras fontes (tal como a atenção dos companheiros), apesar de o professor ignorá-las. (FURLANI, 1995, p.50).

Professores relatam ter muitas dificuldades de relacionamento com seus alunos, permitindo assim que alunos passivos ou distantes continuem desse modo por não perturbarem a aula. Neste caso este aluno está presente apenas em presença, pois sua função estimuladora está preenchida, apenas pelo corpo físico.

Neste caso o professor para não adotar práticas autoritárias se omite no desempenho de uma das suas funções, que é agir com o poder que tem diante da classe, deixando de desenvolver sua competência profissional e a oportunidade de aprender mais na interação com os demais seres humanos. E uma crítica nesse sentido é feita por Furlani.

Porém, não é somente o professor que pode adotar práticas autoritárias. O aluno também, quando traz para sala de aula preconceitos do seu grupo social. Alguns desses preconceitos pode relacionar-se com a classe social, o sexo, a raça, a idade, e outros aspectos “pessoais” do professor ou dos colegas. (FURLANI, 1995, p.51).

Este é mais um problema ao qual o professor é submetido, a discriminação trazida de casa pelos alunos. Preconceito este que não só os alunos são vítimas, mas também o professor. Os professores atribuem esse preconceito à questões econômicas, ou seja, os alunos podem não aceitar receber instruções e valores de uma pessoa que eles considerem inferior ou superior a sua classe socioeconômica.

Outro fator que contribui para uma classe indisciplinada é a situação dos professores correm de uma escola para a outra, o que leva esse profissional a uma grande recarga de estresse. Sem falar na falta de tempo para preparar suas aulas. Sendo assim são obrigados a atuarem contra a concentração dos alunos, com aulas mecânicas e cansativas. Que está de acordo com o que foi citado por Furlani.

Educadores indisciplinados, numa escola indisciplinada, não podem oferecer ao aluno a convicção de que vale a pena o esforço persistente, a concentração, o autodomínio, a autocrítica, o sacrifício de tempo, de lazer, necessário ao “ser disciplinado”. Ele só pode entusiasmar-se pelos objetivos e exigênciasda escola se tiver reconhecido seu esforço no sentido de fazer o melhor, se tiver oportunidade de repetição do aprendizado, se se sentir identificado com a escola e com os resultados que o estudo terá para sua vida. (FURLANI, 1995, p.53).

Vemos também que há muitas controvérsia diante do tema indisciplina, pois para o filósofo Kant (KANT apud AQUINO, 1996, p. 10) a disciplina é condição necessária para arrancar o homem de sua condição natural selvagem. Não se tratando de bons modos mas sim redimi-lo de sua condição animal. O autor afirma que permanecer sentado num banco escolar é necessário para que a criança aprenda a controlar seus impulsos e afetos.

Já para Aquino (1996, p.75) o que predomina é a imposição de regras e normas, a vida passa a ser controlada, o indivíduo passa a ser espectador passivo, enquanto as instituições manipulam até os seus mínimos gestos. E conclui que:

A escola, como qualquer outra instituição, está planificada para que as pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: “quanto mais igual, mais fácil de dirigir”. A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares, ou seja, de atividades que esquadriam o tempo, o espaço, o movimento, gestos e atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores, impondo aos seus corpos uma atitude de submissão e docilidade. (AQUINO, 1996, p.78)

Mas em controvérsia, se desejamos que os alunos tenham total senso de cidadania, ou autonomia, será necessário prepará-los, como cidadãos críticos autônomos, que serão capazes de resolver seus próprios conflitos, ou teremos uma indisciplina no sentido de incapacidade de participar, resolver, ou elaborar soluções necessárias no seu cotidiano escolar.

Para que uma escola seja disciplinada é precisoque todos os funcionários tenham uma postura comum, baseado em determinar e manter uma disciplina estudantil própria, sendo uma condição necessária para a convivência e também para o processo de aprendizagem. Romeu enfatiza que:

É importante ressaltar que tal diretriz disciplinar não deve se restringir a estabelecer um conjunto de normas que organizem o ambiente escolar, mas deve também orientar a própria cultura daquilo que a comunidade deseja em termos de desenvolvimento disciplinar. Afinal, a disciplina deve ser também um objetivo educacional (ABUD ROMEU, 1989, p. 89).

Neste caso toda instituição de ensino deve manter uma medida disciplinar a partir de um conceito claro daquilo que é considerado disciplina. Estas medidas deverão ser claras a qual se estabeleçam parâmetros disciplinares, informando tanto alunos quanto professores, norteando as estratégias e procedimentos que serão assistidos por toda comunidade escolar.

Outra coisa importante é fazer que essas medidas disciplinares antes de tudo sejam preventivas, que o professor utilize isso na sua atuação em sala de aula, e que sejam também incluídas no currículo.

Os elementos preventivos devem estar presente no espaço escolar, no sentido de haver um ambiente democrático onde haja diálogo e afetividade humana, onde se pratique direitos e deveres uns para com os outros, independente de ser aluno, professor ou funcionários, apenas se respeitem por serem indivíduos.

4.1. A importância da participação da família

4.2. A família e o papel educativo

É de conhecimento de todos nós que, cabe a família desempenhar o principal papel na construção da personalidade do sujeito em construção, já que é este o primeiro ambiente socializador do indivíduo. A partir daí já encontramos problemas na forma de comportamento dos alunos na medida em que cada qual carrega consigo uma bagagem diferenciada de comportamento, ou seja, cultura.

A presença da família na vida da criança é de total relevância em todos os momentos e não poderia ser diferente na vida escolar, pois quando a família participa torna-se mais fácil a integração dos alunos e melhora a qualidade da aprendizagem dessa criança.

E tanto para a criança, como para a escola a participação dos pais se torna uma ferramenta, fortalecendo seu vínculo com a comunidade. Quando essa parceria é feita o resultado será o sucesso, com certeza, pois a educação não é feita só em casa, ou só na escola. Como afirma Tiba:

A educação ativa formal é dada pela escola. Porém a educação global é feita a oito mãos: pela escola, pelo pai e pela mãe e pelo próprio adolescente. Se a escola exige o cumprimento de regras, mas o aluno indisciplinado tem a condescendência dos pais, acaba funcionando como um casal que não chega a um acordo quanto a educação da criança. O filho vai tirar o lucro da discordância pais/escolada mesma forma que se aproveita quando há divergências entre o pai e a mãe. (TIBA, 1996, p.1830).

É de total importância que as famílias se interessem pelos problemas dos filhos na escola, se é através do convívio familiar que eles adquirem os modelos de comportamento que exteriorizam na sala. Os alunos se comportam seguindo reflexos do seu comportamento habitual em casa, e hoje vivemos numa sociedade onde crianças e jovens em alguns casos não têm limites, nem tão poucas regras. Uma crítica neste sentido é feita por Aquino, (...) as crianças de hoje em dia não tem limites, não conhecem autoridade, não respeitam regras, a responsabilidade por isso é dos pais que teriam se tornado muitos permissivos, (AQUINO, 1998, p. 7).

Se analisarmos o comportamento das crianças de hoje, poderemos concluir que a maioria delas se encontra sem limites, sem regras, sem noção do que seja educação. Essas crianças pensam serem donas de si mesma, e não precisam receber nem respeitar ordem de ninguém.

Este tipo de criança geralmente são aquelas muito mimadas, que está acostumada a ter tudo ao seu alcance sem um mínimo de esforço, ao tempo e a hora. Quando esta chega à escola acha que tudo deve ser do mesmo jeito que é em sua casa, criando conflitos com o professor e também com os colegas de classe.

A indisciplina seria, talvez, o inimigo número um do educador como afirma Aquino (1996, p. 40) suas causas são várias, e, além disso, não está somente incluída no meio sociocultural, ou econômico. Giancaterino ressalta que:

A indisciplina em sala de aula e na escola tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos entre os educadores. Os grandes responsáveis pela educação de jovens como a família e a escola, não estão sabendo ou conseguindo cumprir seu papel. (GIANCATERINO, 2007, p. 87).

O aluno ao chegar à escola ele trás consigo toda sua bagagem, toda a sua vivência é demonstrada em sala de aula no decorrer do tempo. Sendo assim se temos um aluno com problemas em casa, de certo que isso mudará o seu comportamento na escola. As pessoas que convivem com esta criança, também influenciam muito no seu comportamento. A ação da família na vida da criança começa desde cedo, antes que a criança chegue à escola ela deve ter noções de educação, comportamento, respeito cabendo a família fazer isto. Conforme aponta Tiba:

Está na hora de fazer o filho a usar os padrões humanos de comportamento, utilizar a inteligência para superar as dificuldades e resolver os problemas, conhecer os ditames da ética, respeitar o próximo e o ambiente em que se encontra. Para adquirir qualidade de vida, precisará receber uma educação que parta dos princípios da coerência e da consequência. (TIBA, 1996, p.174).

Sendo assim percebemos que os pais não estão cumprindo o seu papel na criação dos filhos, pois ter filhos exige também que os pais imponham limites. Há crianças que não tem noções básicas de comportamento, muito menos princípios éticos e morais, são pessoas que simplesmente não sabem se comportar, muitas vezes por não ter em casa alguém que os cobrem o bom comportamento. De acordo com Vasconcelos, a família não está cumprindo com seu papel de civilização, o que é necessário para se formar um cidadão racional civilizado, pois é quando criança, que o cidadão começa a formar sua personalidade para toda sua vida. E comenta ainda: “[...] é muito comum ouvirmos dos professores a queixa de que os pais não estabelecem limites, não educam seus filhos com princípios básicos como saber se comportar respeitar os outros, saber esperar sua vez etc”. (VASCONSELOS, 1984, p. 182).

5. Educar, um problema para a família

Percebemos então o quanto é difícil para os pais de hoje educarem seus filhos, pois as informações estão por toda parte e nem sempre são relevantes para a criança. Neste caso os pais possuem dificuldades na transmissão de valores e até mesmo ao impor limites aos seus filhos, às vezes até mesmo sentem se coagidos por certas leis, ou com medo de provocarem algum trauma nos filhos. Podemos ver que as informações nem sempre chegam de maneira clara até as pessoas, pois segundo Aquino (1998, página) a permissividade excedente para a criança pequena, faz com que ela cresça achando que tudo lhe é permitido. Para que a criança saiba respeitar os limites e regras, de qualquer lugar que seja, é preciso que ela tenha aprendido desde o início de sua vida, com seus pais.

Mas o que vemos é uma situação bem diferente, onde a família delega as escolas não só o aprendizado, mas também a educação de seus filhos como afirma Weil:

Antigamente, a instrução dos filhos era dever exclusivo da família. Mas a vida foi se complicando e o conjunto dos conhecimentos e serem adquiridos por uma pessoa também se estendeu indefinidamente. O resultado disto é que a escola tomou, aos poucos, o encargo de instruir as crianças a os adolescentes. Muitos até lhe atribuem à missão de formar-lhes o caráter. Se a importância da escola é tão grande na educação dos nossos filhos, convém aos pais cercar de todo o carinho não somente a escolha do colégio, mas ainda a relação entre a família e o diretor e professores. (WEIL, 1988, p. 61).

Infelizmente há vários modelos de família hoje, e a que mais temos encontrado são estas que ficam aleatórias ao ensino aprendizagem de seus filhos, Sinay (2012, s/p) faz uma crítica à vida moderna onde pais confiam a educação de seus filhos para babás, escolas e até mesmo às novas tecnologias, como celulares, televisão e computadores. Isso porque se preocupam tanto com bens materiais que se esquecem do mais importante.

Essas crianças crescem com a noção equivocada, ou seja, achando que só o que importa é ter dinheiro e bens, se tornam assim pessoas que não respeitam pessoas, muito menos regras. Isso esta de acordo com o que foi citado por Sinay. “[...] o amor é uma construção contínua que se fortalece diariamente com responsabilidade e comprometimento, para dedicar tempo aos filhos, é preciso deixar outras coisas de lado”. (SINAY, 2012, s/p).

Em uma entrevista à revista época Sinay diz que, pais que não assumem responsabilidade com seus filhos, sempre existiram, e existirá sempre, mas hoje isto está se tornando um fenômeno tão amplo que nos leva a ter uma preocupação maior, pois estamos vendo uma geração de filho órfã de pais vivos. Conforme observado por Sinay:

Vivemos numa cultura do utilitarismo, em que se busca o material a qualquer preço e por qualquer caminho. As pessoas se medem pelo que possuem e não pelo que são. Os pais correm atrás do material e descuidam de seus filhos que, por sua vez, aprendem a valorizar apenas o bem material. Essa é a fórmula para criar filhos materialistas. (SINAY, 2012, s/p)

Os pais de filhos órfãos, não admitem estarem agindo errado com seus filhos, ou com a instituição de ensino deles, pois ao serem chamados na escola por motivos de indisciplina de seus filhos, reclamam e juram que os filhos não se comportam desta maneira em casa, ficando assim difícil de controlar tal situação. Os pais modernos acreditam que ser pai é comprar coisas para os filhos e deixá-los sempre junto com os demais a qualquer custo, esquecendo que regras e limites também são importantes para a boa formação do cidadão. E afirma que:

O medo vem de uma cultura que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Os pais tratam de comprar o amor dos filhos e temem que o cliente não esteja contente. O carinho dos filhos não se compra. Amor se constrói com presença, atitudes e assumindo a responsabilidade de liderar o caminho dessa vida em direção à autonomia. Para isso, há que se estabelecer limites, marcar as fronteiras, frustrar. Criar e educar é também frustrar, ensinar que nem tudo é possível. Só assim se ensina a escolher. E só quem escolhe pode ser livre. Os pais, no entanto, têm medo de não ser simpáticos, então se esquecem de ser pais, que é o que os filhos precisam. (SINAY, 2012, s/p).

A indisciplina pode ser causada por liberdade excessiva, mas pode também ter outros fatores que levam crianças a se comportarem mal, essas crianças podem estar passando por problemas emocionais, ou psicológicos, ou até mesmo outras anomalias que não são percebidas pelos pais, por isso é necessário que o professor junto com a equipe pedagógica da escola busque formas de ajudar esse aluno, esgotando todas as possibilidades. Conforme aponta Parrat-Dayan.

[...] O problema de indisciplina pode ser provocado por problemas psicológicos ou familiares, ou da construção escolar, ou das circunstâncias sócio-históricas, ou então, que a indisciplina é causada pelo professor, pela sua responsabilidade, pelo seu método pedagógico, etc. (PARRAT-DAYAN, 2009, p.2).

Podemos ver com clareza a diferença de conduta entre uma criança que os pais estão sempre na escola, quando são chamados nas reuniões, ou até mesmo para saber se está tudo normal, daquela as quais o professor nem conhece seus pais, pois quando são chamados na escola dificilmente atendem o chamado, e quando acontece algo de errado logo se encarregam de colocar a culpa no professor ou na escola, e o problema da indisciplina que deveria ser prioridade gera outros ainda mais complicados de resolver. E Antunes ressalta que:

O clima de ternura e afetividade em famílias onde os pais verdadeiramente amam seus filhos cerca-os de permanente proteção que só na escola ensina a dobrar e a negociar. Mas a escola possui também uma finalidade profissional [...] e ensina e ensina através da solidariedade a importância e o sentido do trabalho [...] Toda a escola é um centro epistemológico por excelência (ANTUNES, 2002, p.17).

Além disso, vivemos um período de liberdade onde tudo se pode, nada de repressão, sem contar os vários modelos de família que temos hoje, não só na questão de pais e filhos em si, mas também a forma de convívio que são improvisadas em torno da necessidade de criar os filhos.

Os pais de hoje se dedicam mais ao mundo do trabalho, perdendo cada vez mais o contato com seus filhos, não contribuindo muitas vezes com sua educação. Essas crianças muitas delas ficam de lá para cá, com um e outro, sem ter um modelo de valores a seguir, dependendo apenas da escola. Os próprios pais se encontram sem saber como lidar com essa situação como afirma Corrêa:

Pai e mãe sentem-se esmaecidos, confusos, ambivalentes quanto aos seus papéis e quanto aos valores a serem transmitidos aos filhos. A exposição a que estamos submetidos pela avalanche das transformações sociais, culturais e econômicas acaba por alterar os códigos e valores que são usados na formulação que possamos fazer de nós mesmos e da família. (CORRÊA, 2000, p. 130),

(Raquel, insira um texto aqui, concluindo a citação, pois não pode terminar um tópico ou capítulo com citações).

6. A família como alternativa

Outro grande problema para os pais é o tempo dedicado a se comunicar com seus filhos, a comunicação é de total importância para que os filhos tenham uma boa educação. Para Fernanda Spengler (2014, página), psicóloga e especialista em comportamento infantil a melhor forma de educar um filho e estabelecer uma relação de cooperação, é através da comunicação. Segundo a autora esse diálogo deve ser de maneira clara, motivadora e equilibrada.

Se eles estão com medo, você precisa ser acolhedor; Se eles estão animados, você precisa estar interessado; Se eles estão com raiva, você precisa ser paciente; Se eles estão agitados, você precisa conectar-se a eles de forma calma, Se eles estão com aceso intenso de raiva, você precisa ter paciência extra, porém firmeza. (SPENGLER, 2014, p. 16).

Embora seja difícil, é essencial que os pais procurem voltar mais atenção para seus filhos, há crianças que se comportam de maneira inadequadas implorando os pais um pouco mais de atenção. É preciso que os pais ouçam seus filhos, ouçam os professores, procurem resolver os problemas partindo do ponto inicial, não adianta mascarar ou adiar é preciso encarar para se chegar à solução. Spengler comenta:

Pense em uma árvore de maçãs, na qual nascem frutas danificadas, amarelas e amargas. Para uma solução imediata, poderíamos pintar as maçãs com tinta vermelha e corrigir as imperfeições. Assim, teríamos uma árvore de maçãs saudável e vistosa. Porém, com esta atitude, não atingiríamos a raiz da árvore, causa dos problemas nas frutas.(SPENGLER, 2014, p. 12).

A disciplina não deve ser imposta, mas construída por todos, e principalmente pela família e escola, pois tanto educar quanto instruir fazem parte da responsabilidade de pais e professores, ou seja, a educação de casa é complementada na escola, e a educação que se aprende na escola deve ser vivenciada em casa. Os pais devem educar em casa seus filhos e a escola ajuda por intermédio da educação escolar, agindo juntas para a uma boa formação de caráter.

A educação não deve ser pensada desvinculada da família, uma deve complementar à outra. A família deve estar sempre atenta as atividades que o aluno trás da escola, saber se ele estudou, se há dúvidas, isso independe de formação dos pais, não precisa ser letrado para cobrar estudo dos filhos, apenas se interessar pelas atividades deles. Segundo Oliveira:

As crianças passam o dia todo sozinhos, em casa ou na rua. E os pais responsáveis transferem para a escola toda, ou quase toda, a responsabilidade da educação de seus filhos: estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos. Fica a cargo do professor ensinar às crianças desde amarrar os sapatos, dar iniciação religiosa até colocar limites que já devem vir esclarecidos de casa. (OLIVEIRA. 2005, p.51).

Essa sociedade entre família e escola só será possível quando a família participar dentro e fora da escola. Os muros devem ser derrubados para que a participação da família aconteça de fato, e para que também o professor possa conhecer melhor o seu aluno, sua vida depois da escola. Assim ora como aluno ora como filho a criança aprende regras sociais e éticas e encontram seu lugar no mundo. Se qualquer uma falhar a criança será a mais prejudicada e encontrará dificuldade de se reconhecer como sujeito.

O que for delegado à família a escola não poderá fazer, e o que for delegado à escola a família também não poderá fazer, cada qual deverá cumprir seus papéis na formação do cidadão, para que estes também cumpram com seus papéis na sociedade.

Se a parceria entre família e escola for formada desde os primeiros passos da criança, todos terão muito a lucrar. A criança, que estiver bem vai melhorar e aquela que tiver problemas receberá a ajuda tanto da escola quanto dos pais para superá-los. (TIBA, 2005, p.183).

Neste caso, a escola deve investir no trabalho de conscientização dos pais, para que estes possam fazer seu trabalho em casa com seus filhos, agindo dessa forma a escola poderá contar com a ajuda dos pais, que a partir daí saberá de forma clara quais são as propostas da escola podendo transmitir a seu filho. A escola cria assim um clima de interação entre escola e família para construção de um novo sentido entre professor, alunos e o coletivo escolar, num clima de paz para uma boa convivência entre todos.

7. Estratégias para lidar com a indisciplina

7.1. Autoridade e Autoritarismo

A indisciplina tem se tornado um dos maiores problemas encontrados pela escola contemporânea, esse fato tem levado a várias discussões de como minimizar ou solucionar tal problema.

O presente trabalho não se trata de solucionar o problema, ou ainda, propor formas milagrosas, mas sim criar possibilidades para garantir que o processo ensino-aprendizagem alcance melhor resultados e menos conflitos entre alunos, professores e colegas nas salas de aula.

Este é um grande problema enfrentado pelo educador, pois além de perturbar, impossibilita o desenvolvimento educacional de alguns alunos.

Diante deste cenário, a escola deve em primeiro lugar contar com o projeto político pedagógico da escola, e com a colaboração de todos, desde os funcionários da escola, até a outra parte mais importante que é a família. Com esse intuito conseguirá desenvolver estratégias para lidar com este problema. Para Filho (2009. p. 274) devemos usufruir da criatividade na reforma escolar, utilizando programas que funcionam e estratégias eficazes.

O professor pode ser o primeiro a tomar a iniciativa de mudança de atitude, mas é preciso receber apoio da família que será de total importância, para se fazer uma educação para a cidadania, como afirma Tiba.

Hoje os novos paradigmas de uma sólida educação contemporânea exige não permitirmos que as crianças façam em casa e em suas perspectivas escolas o que não poderão fazer na sociedade. Elas devem ser ensinadas a praticar em casa a cidadania familiar, e na escola a cidadania escolar. (TIBA, 2013, p. 19).

A disciplina é um comportamento adquirido ao longo do trabalho cotidiano na sala de aula, e o professor para conquistá-la deve ter clareza no seu papel, e assumir autoridade diante dos alunos, o que é bem diferente de autoritarismo. A autoridade é algo conquistado e não imposto como é o caso do autoritarismo, como vermos em detalhes no quadro abaixo descrito por Vianna Moog (2002, s/p) num artigo publicado pela revista escola.

Um professor autoritário...

Um professor com autoridade...

...exige silêncio para ser ouvido;

...conquista a participação com atividades pertinentes;

...pede tarefas descontextualizadas;

...mostra os objetivos dos exercícios sugeridos;

...ameaça e pune;

...escuta e dialoga;

...quer que a classe aprenda do jeito que ele sabe ensinar;

...procura adequar os métodos às necessidades da turma;

...não tem certeza da importância do que está ensinando;

...valoriza o conteúdo de sua disciplina na construção do conhecimento;

...quer apenas passar conteúdos;

...adapta os conteúdos aos objetivos da educação e à realidade do aluno;

...vê o aluno como um a mais.

...vê o aluno como um ser humano.


Em virtude do quadro apresentado podemos ver quanta diferença há em duas palavras tão semelhantes, e de fato a educação não se faz sem autoridade, pois o aluno precisa de um referencial do professor, para que assim possam construir seus conhecimentos como afirma Tiba:

Os alunos só podem se comprometer com a escola, se ela promover uma educação participativa que estimule o treinamento da emoção. Para haver disciplina é necessária a presença de uma autoridade saudável. Para recuperar a autoridade, não é necessário se impor algo, é preciso que a mesma seja reconhecida através do afeto, do respeito, de maneira natural. Talvez o segredo esteja no desenvolvimento da autoestima. (TIBA, 2001, p 10).

A autoridade por parte do professor é de total importância, mas também é necessário criar vínculos afetivos com os alunos, para que eles se sintam seguros diante do educador para qualquer eventualidade.

O aluno deve ser respeitado pelo professor nas suas diferenças, e cada um de acordo com suas necessidades, sendo assim os alunos terão mais prazer no processo ensino aprendizagem, pois a convivência dentro da sala deve ser de harmonia, e esta deve ser conquistada através da convivência, conforme Guimarães.

É preciso ter “uma visão abrangente, integrada e dialética dos diferentes fatores que atuam na formação do comportamento e desenvolvimento individual”, pois, o comportamento disciplinado e/ou indisciplinado é aprendido, e neste sentido, além da escola lidar com o ensino sistematizado, ela influencia e desempenha importante papel no desenvolvimento de comportamentos. (GUIMARÃES, 1999, p. 95).

(Raquel, insira um texto aqui, concluindo a citação, pois não pode terminar um tópico ou capítulo com citações).

7.2. A Família como aliada

Uma educação participativa deve ser feita em conjunto com pais e professores. Esta iniciativa pode ser tomada pela própria escola, com coesão e transparência. Ao inserir os pais no contexto escolar, os diretores e orientadores devem ser bem claros ao expor o problema enfrentado, para que estes compreendam que somente com sua ajuda a escola poderá obter sucesso. Como afirma Piaget:

Uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva, pois a muita coisa que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades. (PIAGET, 2007, p. 50)

Desta forma ficará mais fácil resolver o problema da indisciplina, pois é de total importância que a família seja parceira da escola, e juntas compartilhem as responsabilidades cabíveis a ambas. O que devemos levar em consideração sempre é que, o mais importante é o êxito do aluno que dependem que família e escola estejam em harmonia, uma dando suporte à outra.

Sabemos que quando a família não consegue cumprir seu papel, a escola fica encarregada disso, ou seja, passa a desempenhar dupla função, e como não poderia ser diferente tenta se desdobrar para cumprir esta função extra, para que o aluno não saia prejudicado. Isso prejudica muito a atuação do professor que passa a ter além de ensinar o conteúdo, precisa ensinar também boas maneiras. Segundo Tiba (1996 p. 15) há pais que, acham que a escola é responsável por todo o desempenho do aluno desde saber o conteúdo até as boas maneiras, e quando a escola reclama jogam sobre ela as responsabilidades.

Por esse motivo a escola deve se preocupar também em educar essas crianças, criar formas de ensinar boas maneiras, boas condutas e respeitar as regras que serão necessárias para o bom convívio diário. De acordo com La Taille:

Crianças precisam sim aderir a regras e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não poderia ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola, e a sociedade como um todo.(LA TAILLE, 2002, p.9)

Segundo Aquino (1998, p.12) os pais e a escola devem se organizar de modo que a família se responsabilize pela conduta do aluno, e a escola pela formação de pensamento deste. Dessa forma a escola pode levar os pais a compreender seu trabalho, e levá-los a participar na medida de suas possibilidades no processo ensino-aprendizagem de seus filhos, trabalhando em prol das necessidades educativas da escola. Afinal,

[...] não se chega esse status de cidadão. É preciso que pais e professores ajudem no desenvolvimento desse cidadão: o filho precisa de ajuda educativa para buscar sua autonomia comportamental, independência financeira, competência profissional e realização profissional. (TIBA, 2013, p.20)

É visível que a relação entre família e escola é um fator positivo para o desenvolvimento escolar da criança, mas ainda há muitas dificuldades para superar até que se estabeleça uma relação positiva. Sabemos que estreitar uma relação requer mudanças de atitude tanto dos professores quanto dos pais. Conforme Parolim afirma:

Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa instituição. A escola tem sua metodologia filosofia, no entanto ela necessita da família para concretizar seu projeto educativo. (PAROLIM, 2003, p. 99)

(Raquel, insira um texto aqui, concluindo a citação, pois não pode terminar um tópico ou capítulo com citações).

7.3. Trabalhando a indisciplina na perspectiva dos alunos

Quando o aluno é inserido na escola, ele entra em contato com outras formas de cultura, muitas vezes completamente diferentes da sua. Neste caso a indisciplina se mostra nesse contexto da transmissão cultural onde os alunos se mostram resistente a cultura escolar, impedindo o trabalho da escola e também o da cultura em si.

Neste caso a escola deve trabalhar com esse aluno para que ele saiba exercitar o senso de cidadania, não para impedir o seu próprio conhecimento, mas sim para aprender a pensar e resolver conflitos, assim terá alunos aptos a participar de momentos, com total posicionamento diante das situações as quais forem solicitados.

Os ensinamentos devem servir para que o aluno aprenda a canalizar aquilo que ele tem de bom, para aquilo que lhe é útil. Conforme Aquino afirma:

Pois bem, este trabalho de incessante indagação, inspirado no trabalho científico, não requer que o aluno permaneça estático, calado, obediente. O trabalho do conhecimento, pelo contrário, implica a inquietação, o desconcerto, a desobediência. A questão fundamental está na transformação dessa turbulência em ciência, dessa desordem uma nova ordem [...] (AQUINO, 1996, p. 51).

É de conhecimento de todos a diversidade de cultura, origens, etnia, classes sociais e outros, que a escola recebe, é claro a heterogeneidade de pessoas que passam por ela. Mas apesar disso a escola deve dar aos alunos as competências básicas e a cultura em geral, comum a todas as ocupações nas sociedades tecnologicamente desenvolvidas.

Os alunos da forma que prossegue em sua escolaridade constroem suas esperanças com relação à escola e também com relação à indisciplina escolar.

A partir de estudos observamos que os alunos constroem suas próprias visões sobre a escola, e nestas visões a esperança de que ela seja melhor, que ensine de forma diferente. Observamos também que eles têm uma imensa vontade de serem ouvidos de participarem dos planejamentos e decisões. Este é o desejo dos alunos, uma escola que lhes permitem tais participações, assim além de importante será também aquela tão desejada. As proposições de Aquino:

O aluno é obrigado assim, a fazer funcionar essa grande engrenagem que é o pensamento lógico, independente do campo específico de determinada matéria ou disciplina, uma vez que a todos elas abrangem. A partir daí o barulho, a agitação, a movimentação passam a ser catalisadores do ato de conhecer, de tal sorte que a indisciplina pode se tornar, paradoxalmente, um movimento organizado, se estruturando em torno de determinadas ideias, conceitos, proposições formais.(AQUINO, 1996, p. 53).

Com certeza seria de total importância a participação dos alunos, pois eles através de seu ponto de vista ajudariam a compreender as situações decorrentes do cotidiano escolar e principalmente no que diz respeito à indisciplina.

Por isso é importante sabermos a opinião dos alunos sobre a indisciplina e também colocá-los a par dos acontecimentos decorrentes dela, assim os teremos como aliados e não como participantes do ato indisciplinar. Como afirma Aquino. Anteriormente, disciplina evocava silenciamento, obediência, resignação. Agora, pode significar movimento, força afirmativa, vontade de transpor aos obstáculos. (AQUINO, 1996, p. 53).

Por isso seria interessante que a escola deixasse um espaço para os alunos para que eles possam opinar e participar das decisões, criando assim uma forma do aluno contribuir e até mesmo ajudar a resolver a indisciplina quando for necessário.

7.4. Trabalhando com projetos

O RCNEI já via os projetos como estratégias para lidar com problemas conforme afirma:

Os projetos são conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos específicos construídos a partir de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de um problema para resolver ou um produto final que se quer obter. (BRASIL,1998, p. 57)

Sendo assim diante da problemática da indisciplina por que não recorremos também aos projetos como forma de amenizar este problema? Em primeiro lugar vamos deixar claro que há vários tipos de projetos, como por exemplo, temos projetos permanentes ou outros que duram apenas um período.

Os projetos nascem das necessidades reais da escola, ou seja, como no caso de uma turma que se encontra em condições extremas de indisciplina, o professor pode utilizá-lo como estratégia, podendo trabalhar com as crianças boas maneiras levando eles próprios a refletir sobre seus comportamentos.

Outra preocupação é que os projetos devem ser de interesse das crianças que segundo o RCNEI precisa ser significativos apresentando uma questão comum, e confirma:

Um dos ganhos de se trabalhar com projetos é possibilitar às crianças que a partir de um assunto relacionado com um dos eixos de trabalho, possam estabelecer múltiplas relações, ampliando suas ideias sobre um assunto específico, buscando complementações com conhecimentos pertinentes aos diferentes eixos. Esse aprendizado serve de referência para outras situações, permitindo generalizações de ordens diversas. (BRASIL, 1998, p. 57)

Para que o trabalho com projetos dê certo é preciso também que o professor não se esqueça de que a participação do aluno é de total importância no desenvolvimento deste, inclusive sua opinião. Todo o desenrolar das atividades devem ser planejadas com as crianças, tendo assim sua participação do começo ao fim do trabalho.

Trabalhar desta forma exige cooperação, esforço pessoal, desenvolvimento de estratégia e o mais importante planejamento, este tem que ser o primeiro a ser executado, pois não há um final relevante sem que antes tenha havido um planejamento. Sendo assim o professor contribui com a mediação nas etapas deste trabalho que será desenvolvido pelas crianças. Segundo Barbosa e Horn:

A vida dos seres humanos é constituída por constante elaboração e reelaborarão de projetos. Temos projetos simples, como realizar uma viagem no final de semana, escrever uma carta, e outros com grande grau de complexidade, como, por exemplo, escolher e aprender uma profissão. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 15).

Para Barbosa; Horn (2008, p.17) nós seres humanos somos dotados do desejo de conhecer, de aprender, sendo assim por que não utilizar os projetos como forma de atrair a atenção dos alunos, principalmente quando há uma classe com problemas de indisciplina.

O trabalho com projetos traz para o professor inúmeras possibilidades, e ainda trabalha a conscientização de que é preciso que os alunos se unam para chegar ao produto final, assim aprenderão também a trabalhar em equipe, e afirma que:

Essa proposta reflete o pensamento de uma escola ativa, onde meninos e meninas aprendem sobretudo ao partilhar diferentes experiências de trabalho em comunidade. O foco é a vida em comunidade e a resolução de problemas emergentes da mesma. Nesse contexto, a sala de aula funciona como uma comunidade em miniatura, preparando seus participantes para a vida adulta. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 17)

Além de ser uma alternativa contra a indisciplina, o trabalho com projetos pode também abrir possibilidades de novos conhecimentos, responder dúvidas, aumentar a criatividade e trazer autonomia aos alunos, e isto está de acordo com o que foi citado por Barbosa; Horn.

Os projetos permitem criar, sob forma de autoria singular ou de grupo, um modo próprio de abordar ou construir uma questão e respondê-la. A proposta de trabalho com projetos possibilita momentosa de autonomia e de dependência do grupo; momentos de cooperação do grupo sob uma autoridade mais experiente e também de liberdade; momentos de individualidade de sociabilidade; momentos de interesse e de esforço; momentos de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade do fato educativo. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 31)

Sendo assim podemos concluir que trabalhar com projetos pode sim ser uma alternativa para lidar com a indisciplina na sala de aula, levando o aluno a aprender a conviver melhor com os amigos e professores numa troca recíproca no dia-a-dia, construindo junto um momento agradável de aprendizagem.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo apontar as principais causas da indisciplina, os motivos que levam os alunos as se comportarem desta maneira, como também a importância da participação da família na vida escolar da criança, e para finalizarmos algumas estratégias que poderão ser utilizadas de forma a trabalhar este problema na sala de aula.

Concluímos que a indisciplina aumentou nos últimos anos, e que os motivos para esse aumento são vários, podendo suas causas estar ligadas a escola, a atuação do professor e também a família que hoje se encontra sem tempo para a educação de seus filhos.

Procuramos com este trabalho poder auxiliar a comunidade escolar no diagnóstico e tratamento das questões disciplinares, antes que se tenham prejuízos para os alunos. Os objetivos propostos nesse trabalho foram todos cumpridos, e esperamos que seja relevante para tratar a indisciplina de modo a não prejudicar os alunos no processo de ensino-aprendizagem.

Este trabalho foi de grande importância para nosso conhecimento, pois tivemos oportunidade de aprofundar nossos domínios sobre indisciplina, sendo assim teremos maior potencial para lidar com este problema na nossa atuação na prática profissional.

Em virtude dos fatos mencionados, acreditamos que a indisciplina é um problema que deve ser trabalhado de diversas formas, pois suas causas são variadas, e que a participação da família é de total relevância para conseguirmos combater e obter êxito, na aprendizagem dos alunos.

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Publicado por: RAQUEL LIMA MARQUES ALVIM

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