Raízes do Olhar - As Pinturas Rupestres Brasileiras e Releituras na Atualidade
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1. RESUMO
A presente monografia tem como objetivo conceituar a arte rupestre dentro das artes visuais, apontar as pinturas rupestres brasileiras e suas principais tradições encontradas em diversas regiões do país e refletir sobre as formas possíveis de releituras na atualidade. Ressalta a importância do ensino da arte rupestre em sala de aula como ferramenta essencial para a construção do fazer artístico a ser construído a partir da história do homem primitivo para promover o sentimento de pertencimento e a valorização dos povos ancestrais. O estudo tem como base a pesquisa bibliográfica. Traz uma reflexão acerca da aplicação do termo “arte” sobre os registros rupestres e o que motivou o seu uso. Apresenta as principais tradições de pinturas e gravuras encontradas nos sítios arqueológicos localizados no Brasil. Demonstra a importância de colocar o aluno em contato com a arte rupestre fazendo uma conexão entre passado e presente, utilizando ferramentas e técnicas atuais que despertam o interesse e trazem a percepção de que a arte evolui e se manifesta de diferentes formas ao longo do tempo.
Palavras-chave: Arte Rupestre. Pintura Rupestre. Ensino de Arte. Releitura. Atualidade.
2. INTRODUÇÃO
A presente monografia intitulada “Raízes do Olhar: As pinturas rupestres brasileiras e releituras na atualidade” busca apresentar os aspectos estéticos dos registros rupestres no Brasil a partir da análise dos traçados, materiais empregados, habilidade manual, abstração e estilização das formas e sua permanência e releituras na atualidade.
Para este fim, elege-se como problema: Quais são os aspectos estéticos das pinturas rupestres brasileiras e como eles permanecem e são apropriados na atualidade?
O estudo se propõe a identificar o conceito de pintura rupestre, no campo das Artes Visuais, caracterizar as pinturas rupestres brasileiras, descrever as possibilidades de apropriação e releitura das imagens deixadas pelas comunidades pré-históricas brasileiras, levantar as semelhanças entre o fazer artístico pré-histórico e contemporâneo a partir da observação dos registros rupestres e experimentação por meio da releitura.
Os registros rupestres representam as primeiras expressões estéticas de nossa espécie e têm sido estudados não apenas como fontes antropológicas e históricas, mas também, como produções artísticas importantes para o entendimento de como os povos antigos se comunicavam e registravam sua vida cotidiana, sobretudo para conhecer os elementos que eram utilizados nos traçados, na obtenção das cores e pigmentos, convidando a uma reflexão sobre as dificuldades encontradas naquela época para a elaboração dos desenhos gravados nas rochas, o que pode ser explorado em sala de aula com o intuito de despertar o interesse dos alunos sobre essa arte ancestral fazendo um contraponto com as facilidades da atualidade, tanto no que tange à comunicação, quanto ao fazer artístico.
Essa motivação partiu de uma experiência realizada pelo Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas que ofertou oficinas de arte rupestre aos alunos com utilização de materiais simples, muitos deles encontrados na natureza.
A prática dinâmica permitiu, ainda, o debate sobre arte antiga e contemporânea. Explorar o tema em sala de aula a partir da releitura se faz relevante para exercitar o olhar e repensar o fazer artístico.
Refletir sobre a importância desses registros pode contribuir para a valorização do patrimônio artístico, cultural e histórico, formando cidadãos comprometidos com a causa da preservação dessa riqueza pré-histórica.
No Brasil, há inúmeros sítios arqueológicos que contém pinturas rupestres carentes de conservação e pesquisa.
Neste campo, o artista Guataçara Monteiro, formado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Vale do Paraíba, estudioso da cultura e arte popular brasileira, promove viagens culturais para a região da Amazônia, Cariri e Sítio Arqueológico da Serra da Capivara, apoiando e incentivando as comunidades locais.
Para o presente estudo, foi adotado o método de pesquisa bibliográfica de consulta a fontes secundárias a partir da fundamentação teórica, por meio da qual, foram selecionados os autores que tratam do tema. Estes foram pesquisados utilizando a ferramenta do Google Acadêmico.
Os artigos e livros apontados nas referências foram lidos e fichados para a elaboração dos textos aqui apresentados.
A monografia está estruturada em cinco tópicos, sendo introdução, três capítulos e considerações finais.
No primeiro capítulo será apesentado o conceito da arte rupestre no campo das artes visuais, apontando a importância das pinturas rupestres como relevantes registros de como o homem vivia e se comunicava na pré-história.
O segundo capítulo falará sobre as pinturas rupestres brasileiras e suas principais tradições. Apresentando suas peculiaridades e traços característicos salientando a importância de compreendê-las a fundo para oportunizar sua apropriação e releituras o que poderá promover maior valorização dos povos nativos.
O terceiro capítulo abordará as formas de apropriação e as possibilidades de releitura e permanência, revelando exemplos de como trabalhar a arte rupestre em projetos culturais, nos espaços informais e, também, em sala de aula.
Nas considerações finais serão encontradas as conclusões do presente estudo e um convite para que pesquisas sobre esse tema sejam continuadas e aprofundadas.
3. O CONCEITO DA ARTE RUPESTRE NO CAMPO DAS ARTES VISUAIS
As pinturas rupestres configuram-se como importantes registros de como os povos pré-históricos viviam. Por meio destes, é possível conhecer o modo de vida e tomar contato com a cultura de cada época.
Para Justamand (2019, p. 5) “as pinturas rupestres funcionavam como uma forma de transmissão integrada dos conhecimentos acumulados de uma dada cultura. As rochas serviam como uma espécie de “lousa” para as populações que as produziam.
Devido a sua grande importância, “convenciona-se chamar de “arte” essas expressões plásticas que fornecem acessos valiosos para o estudo de várias fases da história da humanidade.” (ITAÚ CULTURAL, 2020).
Os primeiros registros de arte rupestre no Brasil tiveram início no século XVI com o advento da colonização europeia no continente americano. (JUSTAMAND, 2017).
Gaspar (2003, p. 4) afirma que “o hábito de perpetuar mensagens em pedras e paredões tem longa duração e diferentes significados.” Porém, no século XIX, chegou-se a acreditar que tais registros eram meramente estéticos, cumprindo o papel de satisfazer um gosto, atribuindo um significado simplista e limitante à arte rupestre.
Com a descoberta de registros em locais de difícil acesso e os padrões encontrados entre os painéis revelou-se o aspecto restrito desse ponto de vista, conforme afirma Gaspar (2003, p. 16), abaixo:
Com a descoberta de Lascaux e as profundas transformações ocorridas nas ciências sociais – relacionadas às inovações teóricas do estruturalismo –, constitui-se uma nova maneira de perceber os grafismos rupestres. Essa nova abordagem tem suas origens nos trabalhos do linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), cuja teoria revolucionou o entendimento da linguagem ao considerá-la como um sistema de comunicação.
Além de compor o sistema de comunicação dos povos antigos, expressar, sentimentos, registrar cenas do cotidiano e símbolos ritualísticos, pode-se considerar a arte rupestre como uma das manifestações mais antigas das artes visuais.
Justamand (2007) apud Farias (2017, p. 19) elucida o conceito de arte rupestre:
Sob a tarja de arte rupestre entendem-se todas as inscrições, pinturas ou gravuras deixadas pelos humanos em suportes fixos de pedra, ou seja, as rochas. O termo rupestre vem do latim rupes-is, que significa rochedo. Elas são obras imobiliárias, não podem ser removidas do local onde foram feitas. Foram gravadas nas paredes e tetos de abrigos nas cavernas ou ao ar livre, como é o caso das pinturas dos paredões da região de Pacaraima, em Roraima. Foram feitas pelos primeiros artistas e artesãos há milhares de anos atrás. Na Europa, há mais de 35 mil anos, já no Brasil as mais antigas estão próximas a 30 mil anos.
Dessa forma é possível identificar onde a arte rupestre se encaixa dentro do tempo e do espaço e quais eram as técnicas utilizadas pelos artesãos há mais de 30 mil anos.
Segundo Aguiar (2012, p. 2), “esses artistas da pré-história usavam diferentes técnicas para efetuar seus desenhos, seja extraindo pigmentos de minerais ou percutindo uma pedra contra um paredão rochoso.”
As pinturas rupestres dividem-se em monocrômicas, quando representadas em uma única tonalidade, e policrômicas, que se utilizam de duas ou mais cores para a composição dos desenhos. Quanto às gravuras, se dividem em picoteadas e polidas, sendo a primeira obtida por percussão e a segunda por fricção (AGUIAR, 2012).
Britto et al. (2014, p. 3) pontua que dentre os materiais utilizados para compor as pinturas rupestres estão o barro, sangue, saliva, carvão e extrato de folhas e embora os registros sejam encontrados em paredões ao ar livre, a escolha para realizá-los era sempre por locais mais protegidos.
Alguns arqueólogos discordam em atribuir o termo “arte” para os registros rupestres, preferindo denominá-los de “grafismos”, como demonstra Gaspar (2003, p. 5):
Assim, o domínio da arte nas sociedades consideradas simples está particularmente integrado à rotina da comunidade, reforça tradições e tende a estar vinculado ao domínio ritual. Alguns arqueólogos chegam a sugerir que “arte” é um termo inadequado, sendo mais pertinente denominar as sinalações pelo termo “grafismo”. Considero “arte rupestre” uma expressão já consagrada e que pode ser mantida, especialmente se tratada no sentido sugerido por André Prous – ao enfatizar que as palavras “arte” e “artista” tem a mesma raiz latina que “artesão”, sendo arte o conhecimento de regras que permite realizar uma obra perfeitamente adequada a sua finalidade. É esse o sentido que atribuo à expressão “arte rupestre”.
Ainda de acordo com Gaspar (2003, p. 24), estavam, “de um lado, aqueles que não consideram a arte rupestre um tema digno de estudo e, do outro, os que a percebiam como uma manifestação carregada de significados.”
Funari e Noelli (2002, p. 98) afirmam que “a arte rupestre talvez seja a mais impressionante manifestação artística, das mais antigas a terem chegado até nós.”
Aguiar (2012, p. 3), entende que a arte rupestre ultrapassa a estética e a própria arte. Além da beleza, as inscrições e pinturas rupestres tem a capacidade de comunicar mensagens, assemelhando-se a um sistema de escrita. Conhecer seu significado é uma tarefa árdua, uma vez que para tal, seria necessário conhecer a fundo os códigos desses signos. Interpretá-los demanda estudo do local, conhecimento do entorno e como se dava a relação dos homens primitivos com o ambiente.
Pellini (2021), ao relatar sua experiência no sítio Céu Estrelado, traz a reflexão sobre a importância das visitas de campo serem realizadas também no período noturno, quando a percepção sobre a paisagem e a relação com o entorno mudam, oportunizando novas leituras e experiências. Em suas exatas palavras reflete:
Não vou negar que a luz do dia facilita muita coisa, mas a que custo? Penso que ao focarmos o nosso trabalho quase que exclusivamente no período diurno, deixamos de fora uma série de experiências que podem ser decisivas para a interpretação do sítio e da paisagem, afinal de contas nossa vida não acontece só de dia (PELLINI, 2021, p. 73).
A reflexão trazida por Pellini reforça a importância de conhecer o entorno para enriquecer a experiência e se aproximar de uma interpretação mais exata sobre o significado das inscrições e pinturas rupestres, o que tem sido um grande desafio para os arqueólogos.
Apesar dos desafios encontrados, as pesquisas atuais têm apresentado uma mudança de percepção sobre a evolução do homem primitivo a nível cultural e cognitivo. Novas descobertas na Índia somadas a outras ao redor do mundo, enfraqueceram as teorias simplistas, levando ao reconhecimento da inteligência e criatividade do homem primitivo (PEREIRA, 2016).
Com o avanço das pesquisas tem-se comprovado que tais registros transmitiam mensagens de uma geração para a outra como destaca Justamand (2014, p. 135):
A produção das pinturas proporcionava amplo prazer estético. Suas técnicas eram transmitidas de uma geração para outra. Todos aprendiam brincando e, nesses momentos de descontração, as convenções grupais eram transmitidas e consolidadas.
Evidências apontam para a importância de se lançar um olhar holístico sobre a arte rupestre, considerando todos os seus aspectos. O entendimento do termo “arte” aplicado aos registros rupestres pode oportunizar a apropriação das técnicas utilizadas na época, contextualizando para o tempo presente, enquanto fortalece o contato com a cultura de um povo ancestral e o sentimento de pertencimento.
4. PINTURAS RUPESTRES BRASILEIRAS: TRADIÇÕES E COMPLEXOS
As pinturas rupestres são encontradas em todos os continentes e entre elas é possível identificar semelhanças, mesmo estando em locais distantes umas das outras.
No Brasil, embora a arqueologia científica tenha se desenvolvido a partir da metade do século XIX e início do século XX, os primeiros registros rupestres brasileiros, datam do século XVI, quando a colonização do continente americano pelos europeus teve seu início (JUSTAMAND et al., 2017).
Pinturas com as mesmas características são agrupadas em “tradições”. Por estas, entende-se pinturas rupestres com as mesmas características e que foram realizadas por povos de uma determinada região com hábitos semelhantes.
Gaspar (2003, p. 5) acredita que as pinturas eram feitas por especialistas, porém estes não podem ser comparados aos profissionais das artes como os conhecemos na atualidade, que a arte rupestre fazia parte do dia a dia da comunidade, possibilitando aos povos primitivos fortalecerem tradições, geralmente ligadas à esfera ritualística e define que:
A tradição arqueológica implica uma certa permanência de traços distintivos que são geralmente temáticos. Já os estilos, uma das unidades recorrentemente utilizadas pelos estudiosos, são subdivisões estabelecidas a partir de critérios técnicos (GASPAR, 2003, p. 23).
Para Justamand et al. (2017, p. 155), “a classificação da arte rupestre brasileira encontra-se segmentada em tradições e agrupamentos que estão espalhados pelas várias regiões do Brasil”,
37 estilos, 19 tradições, 3 grandes tradições, 6 subtradições, 8 variedades, 13 fases, 7 fácies, 8 categorias, algum ‘conjunto estilístico’, alguma ‘unidade estilística’ e também um complexo estilístico. E, no entanto, não questionamos do que se trata: simplesmente existem. Dispor de tão importante quantidade de unidades taxonômicas de sínteses impõe para os que trabalham em arte rupestre a necessidade de conhecê-los em profundidade para poder com eles operar (CONSENS E SEDA, 1980, p. 33).
O mapa abaixo apresenta a distribuição das principais tradições da pintura rupestre encontradas no território brasileiro:
Figura 1 - Mapa das principais tradições rupestres do Brasil
Fonte: Gaspar (2003)
A Tradição Amazônica reúne pintura e gravura e sua característica principal é a presença de grafismos de antropomorfos dando mais ênfase para a face do que para o corpo. Caracteriza-se, também, pela forte presença de traços abstratos (PROUS E PEREIRA, 1992 apud JUSTAMAND, 2017).
Segundo Gaspar (2003, p. 47) a tradição Amazônica é “ainda pouco estudada, principalmente se comparada às tradições Planalto, Nordeste ou São Francisco, que já contam com levantamentos sistemáticos e detalhados.”
Figura 2 - Pintura Rupestre Monte Alegre (Tradição Amazônica)
Fonte: Pereira (2019)
As pinturas rupestres da Tradição São Francisco são encontradas ao longo de todo o Vale do Rio São Francisco nos estados de Minas Gerais, Bahia, Piauí, Sergipe, Mato Grosso, Tocantins e Goiás com forte predominância do geometrismo. São encontrados, também, grafismos de antropomorfos e zoomorfos (SCHMITZ, 1981 apud JUSTAMAND, 2017).
Figura 3 - Pintura Rupestre Serrote dos Caboclos (Tradição São Francisco)
Fonte: Rupestre Web Brasil (2015)
A Tradição Planalto é encontrada em sítios localizados no Planalto Central entre Paraná e Bahia conforme explica Gaspar (2003, p. 43):
A tradição Planalto está presente em muitos sítios do Planalto Central brasileiro, do Paraná até a Bahia, sendo o seu foco principal o centro de Minas Gerais. A maioria dos sítios apresenta grafismos pintados em vermelho, embora ocorra também alguns nas cores preta, amarela e mais raramente branca. Muitos animais estão representados, entre eles cervídeos, peixes, pássaros e mais raramente tatus, antas, porcos-do-mato e tamanduás. Aparecem algumas formas geométricas e figuras humanas também foram pintadas; quando são muito esquematizadas, formam conjuntos de pequenas figuras filiformes que parecem cercar os animais.
Figura 4 - Pintura Rupestre Santana do Riacho (Tradição Planalto)
Fonte: Soares (2010)
A Tradição Litorânea caracteriza-se por ser uma tradição de gravuras rupestres com predominância de formas geométricas que incluem ondas, círculos, losangos, ampulhetas, riscos e depressões elípticas. Localizadas no litoral catarinense geralmente em ilhas de difícil acesso e perigosos como paredões voltados para o alto mar (GASPAR, 2003; JUSTAMAND, 2017).
Figura 5 - Gravura Rupestre Ilha do Campeche SC (Tradição Litorânea)
Fonte: Gaspar (2003)
A Tradição Geométrica contempla pinturas cujas principais características são os grafismos em linha, círculos concêntricos, labirintos, retângulos, flechas, pegadas de pássaros e grafismos astronômicos. As cores encontradas são vermelha, amarelo escura e branca. Localizada em diversos estados das regiões Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Seu caráter abstrato dificulta a interpretação (PROUS, 2007 apud JUSTAMAND, 2017).
De acordo com Gaspar (2003, p. 34):
Em decorrência da grande área de distribuição e de uma certa variedade, André Prous a subdivide em meridional e setentrional. As manifestações mais setentrionais referem-se a sítios gravados nas imediações dos rios, particularmente nas proximidades de cachoeiras. Muitos blocos gravados costumam ser cobertos pelas águas durante as enchentes, o que parece ter sido uma escolha dos gravadores. As gravuras geralmente são polidas, ocorrendo muitas depressões esféricas, chamadas de cupuliformes pelos arqueólogos.
Figura 6 - Itaquatiaras de Cachoeira do Letreiro – RN (Tradição Geométrica)
Fonte: Gaspar (2003)
A Tradição Meridional se caracteriza pela presença de gravuras rupestres contendo pegadas de animais como onças, porco-do-mato, aves e cervídeos. Também são encontradas formas geométricas não figurativas como o tridáctilo. Essa manifestação ocorre nas regiões sul e centro-oeste do Brasil (PROUS, 1992 apud JUSTAMAND, 2017).
De acordo com Gaspar (2003, p. 33), nos sítios do Rio Grande do Sul “as gravuras foram feitas no arenito, principalmente através da técnica de incisão ou de polimento, tendo sido, muitas vezes, a superfície da pedra previamente preparada através de picoteamento.”
A respeito das características das gravuras e temáticas encontradas na tradição meridional, Gaspar (2003, p. 33) afirma que:
Os sulcos não são muito profundos, tendo menos de 1cm de profundidade, e em alguns sítios foram encontrados vestígios de pigmentos de diferentes cores (preto, branco, marrom e roxo) que formam gravuras geométricas lineares. A temática é considerada pobre e pode ser dividida em dois grupos. Um dos estilos caracteriza-se pela presença de traços retos paralelos ou cruzados, sendo alguns curvos. A combinação de traços retos às vezes forma o que se costumou chamar de “tridáctilos”.
Figura 7 - Exemplo da Tradição Meridional. Canhemborá, Nova Palma (RS).
Fonte: Gaspar (2003)
A Tradição Agreste reúne pinturas cujas principais características são a menor variedade temática, uso de técnicas mais simples em sua elaboração e ausência de traçado de contorno, uma vez que não dominavam essa técnica. Em seus registros não são identificadas formação de cenas (PESSIS, 1999 apud JUSTAMAND, 2017).
Gaspar (2003, p. 45) afirma que “a tradição Agreste manifesta-se nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí, caracterizando-se pela presença de grandes figuras, geométricas ou biomorfas, sendo que as figuras humanas lembram espantalhos.”
Figura 8 - Antropomorfos e animais estáticos da tradição Agreste. Parque Nacional Serra da Capivara (PI)
Fonte: Gaspar (2003)
A Tradição Nordeste reúne pinturas de antropomorfos, zoomorfos e fitomorfos de fácil reconhecimento visual. São encontrados antropomorfos agrupados formando cenas de caça, dança, ritos e sexo (JUSTAMAND, 2017).
A manifestação dessa tradição é encontrada nos estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Ceará, em algumas regiões da Bahia e norte de Minas Gerais (GASPAR, 2003).
Gaspar (2003, p. 45) salienta que “as cenas são tão bem organizadas que se revelam uma verdadeira tentação para o observador, que tem a nítida impressão de poder decodificar as mensagens veiculadas pelos pintores.”
Figura 9 - Pedra do Mirador, Parelhas – RN (Tradição Nordeste)
Fonte: Macedo (2009)
Cada uma das tradições e agrupamentos com sua peculiaridade a ser identificada e estudada em profundidade oportuniza a correta apropriação desse conhecimento, o que possibilitará releituras a partir das artes visuais e maior valorização dos povos nativos, até hoje relegados a segundo plano.
5. FORMAS DE APROPRIAÇÃO: RELEITURAS E PERMANÊNCIAS
A arte é de grande importância para formação dos alunos. A eles deve ser oportunizado um ensino dinâmico e diverso que estimule a criatividade em suas produções e ao mesmo tempo proporcione a valorização dos povos que a produziram ao longo do tempo (FARIAS, 2017).
Conforme ressalta Arslan e Iavelberg (2006) apud Farias (2017, p. 14):
O aluno, sujeito da aprendizagem, constrói seus saberes em arte ao estabelecer relações entre o percurso de criação de seus trabalhos e reflexão pessoal sobre as diferentes linguagens, tendo como referência a diversidade da arte produzida ao longo da história.
Arte e história estão interligadas e possibilitam a construção de uma identidade. Barbosa (2005) apud Farias (2017, p. 15) complementa:
Sem o conhecimento da arte e história não é possível a construção da identidade nacional. A escola seria o lugar em que se poderia exercer o princípio democrático de acesso a informação e a formação estética de todas as classes sociais, propiciando-se na multiculturalidade brasileira uma aproximação de códigos culturais de diferentes grupos.
As ideias de Arslan, Iavelberg e Barbosa se complementam e reforçam a importância da arte como elemento construtivo dos saberes ligados à história dos povos, levando os alunos a desenvolverem-se a partir do fazer artístico que os coloca em contato com linguagens diversas de diferentes grupos culturais.
Para trabalhar com a arte rupestre em sala de aula se faz necessário reunir os aspectos estéticos que se conectam com as artes visuais e aspectos históricos que dão sentido ao que as imagens rupestres significam e simbolizam.
Importante se faz analisar o papel que a arte rupestre exerce nas disciplinas de História e Artes Visuais a fim de possibilitar uma aprendizagem mais relevante para os alunos. (FARIAS, 2017).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 20):
Desde o início da história da humanidade, a arte tem se mostrado como uma práxis presente em todas as manifestações culturais. O homem que desenhou um bisão em uma caverna pré-histórica teve de aprender e construir conhecimentos para difundir essa prática. E, da mesma maneira, compartilhar com as outras pessoas o que aprendeu. A aprendizagem e o ensino da arte sempre existiram e se transformaram, ao longo da história, de acordo com normas e valores estabelecidos, em diferentes ambientes culturais. Não faz parte das intenções deste documento ter a pretensão de discorrer sobre todas as transformações ocorridas. Entretanto, aconselha-se ao leitor um aprofundamento em relação à história do ensino da arte.
A seguir serão apresentados exemplos de apropriação e releitura no que tange à arte rupestre.
O artista paraense, radicado no Vale do Paraíba, São Paulo, Guataçara Monteiro, formado em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Vale do Paraíba, estudioso da cultura e arte popular brasileira, promove viagens para a região da Amazônia, Cariri e Sítio Arqueológico da Serra da Capivara, apoiando e incentivando as comunidades locais de cada uma das regiões a produzir arte a partir de suas raízes, explorar seu potencial e a fazer renda, realizando um importante trabalho social, por meio de sua empresa, Guataçara Brasil.
O artista possui uma linha de cerâmicas com reproduções de registros rupestres produzidas em parceria com ceramistas da região da Serra da Capivara. Em seu perfil profissional no Facebook, o artista divulgou um trabalho de Capacitação em Cultura Popular Brasileira envolvendo as pinturas rupestres da Serra da Capivara no Piauí. A postagem conta que ele iniciou sua pesquisa sobre pinturas e gravuras amazônicas aos 16 anos e desde então soube de um dos maiores aglomerados de arte rupestre da América do Sul. As palavras do artista sobre este projeto:
Há 2 anos, estamos gestando uma imersão cultural na Serra da Capivara, tendo as Danças Circulares e Danças Folclóricas do estado do Piauí, como fio condutor do curso, atrelados a visitas a sítios arqueológicos, museus, oficinas com artistas locais, contato com cooperativas e associações de artesãos, além de grandes surpresas. Convidamos você a participar desta aventura cultural, que nos possibilitará imergir em nossa ancestralidade, por meio da arte, danças, contato com a natureza e conexão com o Sagrado. (GUATAÇARA BRASIL, 2019).
Figura 10 - Tigela Veado
Fonte: Guataçara Brasil (2019)
A Prefeitura de Lagoa Santa, MG, incentiva as diversas manifestações culturais e artísticas, conforme detalhado em seu site:
A casa de Cultura Rota Rupestre foi fundada em 2014, tendo como principal objetivo a valorização, divulgação e incentivo as diversas formas de manifestação artística e cultural. O grupo funciona dentro de um sistema voltado para a economia solidária. O objetivo é incentivar os produtores e artesãos oferecendo cursos e qualificações, além de possíveis espaços para comercialização dos produtos. A Casa de Cultura Rota Rupestre já promoveu vários cursos e capacitações em parcerias com SEBRAE, EMATER e UEMG. Atualmente disponibiliza mais de 15 oficinas de artesanato periodicamente. (PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGOA SANTA, 2019).
Com esse incentivo, a artesã, Marcia Fernanda Rodrigues, criou uma linha de objetos artesanais inspirados na pintura rupestre, a partir de pesquisas realizadas na região cárstica de Lagoa Santa, MG. Com o apoio do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), foi desenvolvido um artesanato local com forte identidade cultural ligado à arte rupestre. Que além de disseminar a cultura rupestre, gera renda para a comunidade, fomentando a economia local. (NATIVUS RUPESTRES, 2016).
Figura 11 – Mandala Rupestre
Fonte: Nativus Rupestres (2016)
No ano de 2008, três artistas plásticos participaram de uma exposição coletiva intitulada “O rupestre sob três olhares” em Natal, RN. Esse trabalho surgiu com o objetivo de revisitar a arte rupestre. Luciano Rocha, Pedro Régis e Clarice Rick, buscaram inspiração na arte da pré-história para compor suas peças. Luciano Rocha apresenta uma série de obras inspiradas nesse estilo, embora seu trabalho seja mais ligado à arte contemporânea. Pedro Regis sempre trabalhou com arte rupestre utilizando diversos elementos, dentre eles, estopa, junco, pedra e bambu. Clarice Rick é especializada em fósseis e utiliza cola, madeira e papel em suas produções (SANTOS, 2008).
Figura 12 – Cartaz Divulgação da Exposição
Fonte: Blog Luciano Rocha (2008)
Considerando os exemplos acima, conclui-se que novas formas de abordagem para o ensino da arte rupestre podem surgir a partir destes. Eles podem servir de inspiração e serem adaptados em sala de aula.
Farias (2017, p. 21) compreende que “as imagens e suas características proporcionam diversas manifestações visuais a serem compreendidas e apreciadas. Assim, observa-se a relevância de proporcionar ao aluno o contato com a Arte rupestre.”
A análise da arte pré-histórica nas aulas de Artes Visuais irá fazer com que os alunos ampliem sua capacidade de refletir sobre o processo de criação daquele grupo, questionando sua motivação ao criar as pinturas e gravuras nas rochas. Afinal, o que eles queriam comunicar? Esse questionamento vai despertar a curiosidade e oportunizar um maior aprendizado.
O mundo atual caracteriza-se entre outros aspectos pelo contato com imagens, cores e luzes em quantidades inigualáveis na história. A criação e a exposição às múltiplas manifestações visuais gera a necessidade de uma educação para saber ver e perceber, distinguindo sentimentos, sensações, ideias e qualidades contidas nas formas e nos ambientes. Por isso é importante que essas reflexões estejam incorporadas na escola, nas aulas de Arte e, principalmente, nas de Artes Visuais. A aprendizagem de Artes Visuais que parte desses princípios pode favorecer compreensões mais amplas sobre conceitos acerca do mundo e de posicionamentos críticos. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, 63).
Muitas são as possibilidades de proporcionar uma rica experiência aos discentes, porém, alguns estudos apontam que a arte rupestre é tratada de forma superficial pelos professores como relata Farias (2017, p. 44):
É possível compreender que a Arte rupestre é trabalhada de forma superficial pelos professores, pois os mesmos argumentaram algumas metodologias utilizadas, assim destaca-se a necessidade de um trabalho mais contínuo com a Arte rupestre tendo em vista a sua importância ao desenvolvimento artístico do aluno, como também a sua aprendizagem de História de forma mais satisfatória.
Nos anos de 2015 e 2016 foi proporcionada uma rica experiência com a arte rupestre, através da disciplina de Arte, nas escolas estaduais e municipais de Pelotas no Rio Grande do Sul para alunos dos 3º, 4º, 5º e 6º anos.
Lemos e Zamperetti (2017) desenvolveram oficinas sobre arte rupestre apoiando-se na interdisciplinaridade, integrando o conteúdo das artes visuais com outras áreas do conhecimento. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.
Assim, surgiu o interesse de realizar um projeto, que pudesse trabalhar vários saberes, utilizando materiais simples, que podem ser encontrados na natureza e que são de fácil acesso para os alunos. Tal trabalho tem o intuito de promover uma reflexão sobre a pintura rupestre, que foi feita pelos homens pré-históricos, mas que pode gerar ideias para se pensar a arte contemporânea. (LEMOS E ZAMPETTI, 2017, p. 3).
O trabalho consiste, inicialmente, na apresentação de figuras de animais, plantas, pessoas e sinais gráficos presentes nos livros de história da arte, uma vez que a coordenadora do projeto acredita ser importante o manuseio de livros impressos pelos alunos. Foram disponibilizados alguns metros de papel pardo sobre o chão do espaço onde a atividade foi desenvolvida e antes do fazer artístico, os alunos foram chamados para uma roda de conversa sobre os homens pré-históricos que realizavam pinturas e desenhos nas paredes das cavernas registrando cenas do cotidiano. Os estudantes foram chamados a refletir sobre a semelhança da arte rupestre com o grafite que é uma forma de deixar marcas nas paredes cujas imagens remetem a sentimentos e ideais de um determinado grupo social, proporcionando conhecimento sobre o dia a dia das pessoas que habitam essas áreas e manifestam sua arte nos espaços públicos (LEMOS E ZAMPERETTI, 2017).
Figura 13 – Painel desenvolvido pela turma do 6º ano
Fonte: Lemos e Zamperetti (2017)
Ainda trazendo para o contexto atual, foi proposto aos alunos o registro do momento por meio da selfie. Utilizando seus smartphones, os estudantes puderem registrar imagens de si mesmos fazendo uso de uma ferramenta atual com a qual estão familiarizados e que desperta interesse. Em um segundo momento foram apresentados materiais como argila, carvão, frutas de coloração forte, cascas de árvores e legumes para que os discentes criassem os pigmentos que seriam aplicados sobre o papel pardo que simulou a parede de uma caverna. Cada um dos alunos pôde se expressar, elaborando seus desenhos e suas pinturas tendo como inspiração a pintura rupestre. O resultado foi satisfatório os alunos se surpreenderam com o resultado. O material foi compartilhado para proporcionar um ambiente solidário onde um respeita o espaço e o tempo do outro (LEMOS E ZAMPERETTI, 2017).
Figura 14 – Selfie durante oficina
Fonte: Lemos e Zamperetti (2017)
A partir da experiência relatada acima, nota-se a importância de contextualizar a arte rupestre comparando-a com a arte produzida na atualidade. Iniciar a atividade fazendo uso de objetos que são familiares aos alunos, comparando a arte rupestre ao grafite despertou o interesse dos estudantes. O conhecimento foi construído aos poucos a partir de algo que lhes é familiar mostrando a ligação entre passado e presente que se conversam e assemelham, levando os alunos a refletirem sobre a evolução das técnicas e linguagens que foram aprimoradas ao longo do tempo.
Ao acessar o universo da arte rupestre, os alunos podem entrar em contato com a história e costumes de um povo ancestral, proporcionando uma rica experiência estética e artística que vai contribuir para a construção da sua própria identidade como sujeito.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente monografia propôs, como objetivo geral, identificar os aspectos estéticos dos registros rupestres no Brasil a partir da análise dos traçados, materiais empregados, habilidade manual, abstração, estilização das formas e sua permanência e releituras na atualidade.
A partir da pesquisa bibliográfica foi constatado que o termo “arte” aplicado aos registros rupestres não é unanimidade entre os arqueólogos. De um lado estão os pesquisadores que preferem denominá-los de grafismos e acreditam não serem dignos de estudo e do outro, os que reconhecem a riqueza do simbolismo ali contido.
Verificou-se que as pinturas rupestres são registros importantes sobre a forma de vida dos povos pré-históricos e que através delas o homem primitivo se comunicava e acumulava conhecimento transmitindo-o ao longo do tempo.
No século XIX chegou-se a acreditar que se tratava de um registro meramente estético, mas a descoberta de registros rupestres em locais de difícil acesso, revelou que além de compor o sistema de comunicação dos povos antigos, pode-se considerar a arte rupestre a expressão mais antiga das artes visuais.
A interpretação das imagens continua sendo um desafio para os estudiosos da área, uma vez que se faz necessário considerar o entorno e refletir sobre o contexto dentro do qual elas foram criadas.
Constatou-se que a pintura rupestre é encontrada em vários continentes e é possível encontrar semelhanças entre elas mesmo estando distantes umas das outras. Os registros que reúnem as mesmas características são agrupados em tradições apontando que foram realizados por povos de uma determinada região com hábitos semelhantes.
No Brasil os registros são encontrados em diversas regiões do país e dentre as tradições, foram destacadas as principais a saber: Amazônica, São Francisco, Planalto, Litorânea, Geométrica, Meridional, Agreste e Nordeste. Cada uma delas com a sua peculiaridade revela a riqueza e a importância de conhecê-las a fundo para que este conhecimento possibilite criar releituras na atualidade promovendo, assim, maior valorização dos povos antigos.
A pesquisa salientou que o ensino da arte se faz importante para estimular a criatividade a partir do contato com o que foi produzido no passado, observando sua evolução, oportunizando aos alunos a construção de saberes que irá oportunizar o fortalecimento de sua própria identidade como sujeito.
O estudo levantou exemplos de como a arte rupestre pode ser trabalhada na atualidade. Apresentou o trabalho do artista plástico Guataçara Monteiro que desenvolveu um projeto de Capacitação em Cultura Popular Brasileira envolvendo visitas ao sítio arqueológico da Serra da Capivara no Piauí, dentre outras atividades, promovendo uma rica experiência aos participantes. Expos o artesanato de Marcia Fernanda Rodrigues que com apoio da Prefeitura de Lagoa Santa – MG e do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), desenvolveu uma linha de artesanato rupestre com forte identidade cultural, que além de fomentar a economia local, dissemina a arte rupestre na atualidade. Discorreu sobre a exposição coletiva “O rupestre sob três olhares” que reuniu o trabalho dos artistas plásticos, Luciano Rocha, Pedro Regis e Clarice Rick, cada um com fazendo uso de sua linguagem para produzir arte dentro dessa temática. Relatou o trabalho que duas professoras promoveram para os alunos das escolas municipais e estaduais de Pelotas-RS. Trabalharam com a interdisciplinaridade reunindo diversas áreas do conhecimento. A abordagem partiu de referências que lhes eram familiares, como os grafites nas áreas urbanas e selfies para promover uma reflexão de como os registros são feitos na atualidade e como eram feitos no passado. Após essa introdução, os estudantes puderam experimentar a arte rupestre desde a confecção dos pigmentos até a reprodução dos registros rupestres.
Em todos os casos acima, se provou a importância de abordar o tema com maior profundidade aliando ao ensino das artes as demais áreas do saber, o que irá enriquecer a experiência e contribuir para a construção do conhecimento e do pensamento crítico.
Mesmo se tratando de um tema relevante, concluiu-se que a arte rupestre ainda é pouco explorada no ensino das artes visuais. Sendo tratada de forma superficial e isolada, deixa de contribuir para a construção de uma identidade nacional, uma vez que se trata de uma arte ancestral produzida pelos primeiros habitantes do nosso país.
Diante da necessidade de fomentar o ensino da arte rupestre e a produção artística a partir de suas técnicas ancestrais, o presente estudo serve como uma provocação para que a partir dele, novas pesquisas surjam e sejam continuadas, a fim de proporcionar aos alunos uma profunda reflexão sobre a evolução das artes visuais e das diferentes linguagens que foram se manifestando ao longo do tempo.
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GUATAÇARA BRASIL. Há 2 anos, estamos gestando uma imersão cultural na Serra da Capivara, tendo as Danças Circulares e Danças Folclóricas do estado do Piauí, como fio condutor do curso, atrelados a visitas a sítios arqueológicos, museus, oficinas com artistas locais, contato com cooperativas e associações de artesãos. Igaratá, 20 de maio de 2019. Facebook: guatacarabrasil. Disponível em: https://www.facebook.com/guatacarabrasil/photos/a.208977372510193/2657381064336466/?type=3&theater Acesso em: 03 ago. 2020.
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Publicado por: Juliana Gallicchio Valerio
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