Prática de Leitura como Desempenho Linguístico e Desenvolvimento da Cidadania

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1. Resumo

A prática de leitura amplia significativamente o desempenho linguístico e contribui diretamente para o desenvolvimento da cidadania, fornecendo conhecimento e uma melhor postura perante todas as situações no âmbito social. O presente trabalho apresenta um conjunto de ideias embasadas em alguns autores que defendem a importância da prática de leitura na vida das pessoas, tendo como principal ferramenta de incentivo e disseminação desse hábito as estratégias de ensino no ambiente escolar, que devem ser constantemente aprimoradas e realizadas com o intuito de despertar nos alunos o gosto pela leitura, expondo os inúmeros benefícios que ela pode trazer também para a vida extraescolar. O avanço tecnológico e científico também foi alavancado graças a pesquisas que certamente envolveram análises e estudos minuciosos por meio de muita leitura deixando ainda mais evidente a amplitude da contribuição social da prática de leitura. Muitos problemas impedem a implantação de metodologias eficazes para que o ensino atinja o nível ideal de aproveitamento em práticas de leitura, para que essas práticas possam refletir-se na sociedade. Um desses problemas é a falta de investimento suficiente para fornecer os instrumentos necessários que a educação exige para gerar resultados positivos. Na pesquisa realizada na escola Centro de Ensino Maura Jorge de Melo em Lago da Pedra – MA foi possível observar essa questão, quando há uma estrutura física adequada, falta um direcionamento pedagógico específico para a prática de leitura e assim não há a complementação entre pontos fundamentais para impulsionar a leitura nas escolas.

Palavras-chave: Prática de Leitura. Incentivo. Educação. Cidadania.

Abstract

Reading practice significantly expands linguistic performance and directly contributes to the development of citizenship, providing knowledge and a better posture in all situations in the social sphere. The present work presents a set of ideas based on some authors who defend the importance of reading practice in people's lives, with teaching strategies in the school environment as the main tool to encourage and disseminate this habit, which must be constantly improved and carried out. in order to awaken in students the taste for reading, exposing the countless benefits that it can also bring to extra-school life. Technological and scientific advancement was also leveraged thanks to research that certainly involved detailed analysis and studies through a lot of reading, making even more evident the extent of the social contribution of reading practice. Many problems prevent the implementation of effective methodologies so that teaching reaches the ideal level of achievement in reading practices, so that these practices can be reflected in society. One of these problems is the lack of sufficient investment to provide the necessary instruments that education requires to generate positive results. In the research carried out at the Centro de Ensino Maura Jorge de Melo school in Lago da Pedra - MA it was possible to observe this issue, when there is an adequate physical structure, there is a lack of specific pedagogical direction for the practice of reading and thus there is no complementation between fundamental points to boost reading in schools.

Keywords: Reading Practice. Incentive. Education. Citizenship.

2. INTRODUÇÃO

Através da leitura o ser humano desde criança adquire informações importantes sobre o mundo ao seu redor e até mesmo de longe do lugar em que se situa. A leitura é essencial para o desenvolvimento de um indivíduo, pois ela traz vários benefícios para um bom desempenho na vida social.

A sociedade atual exige do cidadão um bom desempenho linguístico, visto que a necessidade de comunicação em todos os setores é muito grande, no trabalho, na universidade, na política e em várias outras camadas da sociedade.

A leitura é a principal atividade que pode desenvolver o domínio linguístico em uma pessoa, por isso deve ser incentivada desde as séries iniciais da educação básica para que assim a criança cresça com esse hábito e continue praticando durante sua vida adulta, sempre adquirindo novas informações e ampliando a sua bagagem de conhecimento. O papel da escola é incentivar a prática de leitura dentro e fora da sala de aula, desenvolvendo atividades com diferentes tipos de leitura, desde a leitura silenciosa à leitura compartilhada.

As escolas brasileiras precisam implantar mais estratégias que garantam o incentivo à leitura aos alunos para alavancar o desenvolvimento intelectual, cultural e consequentemente econômico do país, uma vez que a criticidade adquirida no hábito da leitura provoca um desejo de sempre se aperfeiçoar mais e assim a leitura estará proporcionando um grande avanço no mercado de trabalho através dos profissionais qualificados que tiveram contato com a leitura desde cedo e portanto reconhecem a importância da mesma e os benefícios que ela traz.

Quando se lê com frequência sobre variados assuntos é indiscutível que se terá um domínio linguístico maior e muito mais informações fixadas na memória, só isso já coloca um leitor habitual à frente de pessoas que não têm o costume de ler em várias ocasiões da vida social como disputa por uma vaga de emprego, debates, palestras entre outros casos que envolvam a necessidade de uma boa comunicabilidade.

Ao longo desse trabalho será evidenciado a importância da prática de leitura para o desenvolvimento da cidadania, uma vez que praticando bem a leitura é acionado no indivíduo leitor uma série de emoções que o levarão ao caminho da descoberta e do conhecimento, contribuindo também para seu desempenho linguístico que por sua vez é bastante relevante para esse desenvolvimento. Para tanto, vários itens são abordados com o objetivo de demonstrar a relação da leitura com os diversos campos de atuação que sustentam a vida em sociedade. Inicialmente é apresentada uma visão geral sobre os benefícios da prática de leitura pelos indivíduos, sejam eles estudantes formais ou não. Em seguida são expostas várias contribuições sociais onde muitas descobertas e invenções que hoje facilitam bastante a vida do homem exigiram muitas pesquisas e consequentemente a prática de leitura, isso porque antes de contribuir para a sociedade a prática de leitura contribui para a formação individual do cidadão funcionando como um excelente instrumento de harmonização nas relações interpessoais e no próximo tópico é observada como uma verdadeira fonte de inspiração para produções escritas. Serão sugeridas estratégias de como as escolas podem incentivar a prática de leitura e tornar esse hábito mais comum na vida dos alunos levando-o para além dos muros da escola, permitindo assim, que o conhecimento seja expandido e alcance o máximo de pessoas possível, o suficiente para mudar o comportamento de boa parte da população que vive estagnada na neutralidade sem poder para se posicionar socialmente. E por último será apresentado os resultados de uma pesquisa de campo realizada no município de Lago da Pedra – MA, especificamente na escola Centro de Ensino Maura Jorge de Melo com o objetivo de analisar o nível de intimidade dos alunos com a prática de leitura, observando quais metodologias já existem para incentivar a leitura e identificando quais precisam ser implantadas para melhorar esse incentivo.

3. BENEFÍCIOS GERAIS ADQUIRIDOS ATRAVÉS DA PRÁTICA DE LEITURA

É inegável que a leitura proporciona vários benefícios de maneira geral na vida de jovens e adultos. A primeira lição que se ensina às crianças e é incentivada pelos pais é a ler e a escrever, porque por unanimidade toda a sociedade concorda que é de suma importância a aprendizagem da leitura e da escrita para a sobrevivência nas comunidades humanas atuais. No entanto, após esse aprendizado da leitura decodificada não há um incentivo suficiente para que as crianças continuem praticando a leitura como há para que elas aprendam a ler e a escrever nos primeiros anos da educação básica. Segundo Silva:

A atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das sociedades letradas. Tal presença, sem dúvida marcante, e abrangente, começa no período de alfabetização, quando a criança passa a entender o significado potencial de mensagens registradas através da escrita. Após esta fase de iniciação, o aluno continua a se encontrar com livros-textos (materializados, na prática escolar, sob a forma de livro- adotado, texto-base, bibliografia obrigatória, leitura suplementar, apostila etc...) ao longo de toda a sua trajetória acadêmica. (SILVA, 2011, p. 35)

Este trecho do livro “O ato de ler” de Ezequiel Theodoro da Silva, aborda o viés introdutório deste trabalho, em que após ter o primeiro contato com a leitura, nos primeiros anos de escola, o aluno continua tendo acesso à mesma nas séries seguintes até concluir o ensino básico, e nesse intervalo a escola tem a função de oferecer os métodos de incentivo necessários para que os alunos permaneçam com o hábito da leitura ao longo da vida.

Mesmo sabendo de todos os benefícios que a prática de leitura pode trazer aos alunos, ainda existe pouco incentivo e pouca iniciativa para a promoção de projetos que ofereçam esse incentivo por meio de técnicas inovadoras e consistentes na motivação de tal prática. A própria escola evidencia a importância da leitura, mas deixa a desejar na hora de colocar em prática e fornecer o material e conteúdo específicos para esse fim.

A prática de leitura torna os alunos mais curiosos e mais criativos, dois quesitos essenciais para um bom desempenho nas atividades escolares, que por sua vez, também se reflete fora da escola se o aluno for bem instruído a expandir o conhecimento adquirido por meio da leitura.

Além de curiosidade e criatividade um dos principais benefícios que a prática de leitura também pode gerar é a eloquência discursiva demonstrada pelos leitores em muitas situações de interação social. Sabe-se que o ato de se expressar bem, utilizando corretamente as regras gramaticais e vários mecanismos linguísticos como a persuasão, é bastante decisivo em vários momentos da vida dos cidadãos: entrevistas de emprego, apresentações de trabalhos científicos e até mesmo discursos políticos.

Na sociedade atual o domínio da língua se torna cada vez mais necessário e é aí que a prática de leitura se mostra fundamental, proporcionando a aquisição desse domínio linguístico. Mesmo depois de concluir o ensino básico e até mesmo superior os cidadãos precisam continuar exercitando a leitura para permanecerem atualizados na sua área de formação e até mesmo no mundo de maneira geral. Além do domínio linguístico a prática de leitura torna os cidadãos mais críticos e seguros perante os desafios acadêmicos e profissionais impostos pelo mercado de trabalho. Em suma, curiosidade, criatividade, eloquência discursiva, domínio linguístico, criticidade e segurança são apenas alguns dos inúmeros benefícios que a prática de leitura pode fornecer aos cidadãos em geral.

A leitura oferece o melhor e mais eficiente portal para o mundo do conhecimento - senão o único, porque de certa forma toda transmissão de conteúdo e informação é feita por meio direta ou indiretamente dela considerando os diversos tipos de leitura que vão além da leitura decodificada. Nesse contexto Silva afirma:

As experiências conseguidas através da leitura, além de facilitarem o posicionamento do ser do homem numa condição especial, são, ainda, as grandes fontes de energia que impulsionam a descoberta, elaboração e difusão do conhecimento. Qualquer síntese nova provinda da área educacional, ou mesmo fora dela, requer a análise e sistematização de informações que, mesmo dentro de uma sociedade supostamente tendendo ao “imagismo” da TV, raramente são visuais ou não verbais. Em outras palavras: a produção e divulgação da ciência e da cultura parecem caminhar por meio de veículos que se utilizam da expressão escrita; assim sendo, pelo menos na grande maioria das vezes, o livro, o periódico, a revista especializada são os meios mais práticos para a circulação do conhecimento. (SILVA, 2011, p. 44)

Nesse trecho do livro “O ato de ler”, o autor Ezequiel Theodoro da Silva evidencia a importância da leitura no processo de elaboração e divulgação do conhecimento, onde mesmo havendo um grande consumo de informações disponibilizadas na TV, é na leitura que se encontra a verdadeira fixação, facilitando a descoberta quando se investiga ou até mesmo quando não se procura, e a elaboração de produções escritas que auxiliarão em pesquisas posteriores e na difusão do conhecimento.

Dessa forma é totalmente impossível abrir mão da prática de leitura quando se almeja uma evolução intelectual, êxito profissional, especialização educacional ou qualquer outra perspectiva que vise o desenvolvimento pessoal, pois sendo o exercício contínuo da leitura uma forma de expandir os horizontes do conhecimento, a falta dele é bloquear as principais vias de acesso à aprendizagem, deixando o indivíduo sempre estagnado.

4. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DA LEITURA

No âmbito social a leitura atribui um valor positivo aos que a praticam frequentemente, são várias as contribuições desde o primeiro contato com as letras no jardim de infância ao desempenho em uma jornada de trabalho de muitos anos de experiência. Em qualquer meio de interação social a prática de leitura apresenta sua contribuição, levando aos interlocutores, através da memória, as informações e conhecimentos adquiridos e, assim, enriquecendo e proporcionando várias opções de continuidade às situações discursivas.

Se para a comunicação no meio social e para a realização do exercício da cidadania por meio da oralidade a leitura é de suma importância, para a realização de produções escritas a leitura é indispensável, uma vez que quanto maior for o volume de materiais lidos, maior será a eficiência do trabalho desenvolvido, seja ele científico, acadêmico, ou mesmo a produção de uma obra literária.

Desde o surgimento da escrita na antiguidade e, consequentemente, da leitura, o processo de interação social evoluiu bastante e as sociedades passaram a se tornar cada vez mais civilizadas. Nos dias atuais é notório a percepção da contribuição da leitura em todas as descobertas científicas responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico e industrial. A leitura envolve vários atores e necessita de cada um para obter a sua eficácia, por isso é tão importante para a formação do cidadão e evolução da sociedade, pois todo cidadão devidamente ativo profissional e socialmente, certamente é um bom praticante de leitura.

A leitura é o processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita. Nesta compreensão intervêm tanto o texto, sua forma e conteúdo, como o leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios. Para ler necessitamos, simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de decodificação e aportar ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias; (SOLÉ, 1998 p. 23)

Solé evidencia que a leitura envolve todo um processo que vai além das palavras que compõem o texto, pois considera-se também as experiências e objetivos do leitor. E foi essa dinâmica que possibilitou várias transformações sociais ao longo da história e continua sendo a base para o funcionamento da sociedade atual e das mudanças que ainda virão.

Há vários trabalhos que tratam da importância da leitura para o desenvolvimento da vida em sociedade, em todos os campos de atuação há uma parcela de contribuição da leitura, até mesmo onde não se percebe facilmente a presença de materiais impressos ou qualquer outro que possibilite a leitura. No campo, por exemplo, principalmente em pequenas áreas onde o proprietário tenha pouca condição financeira e a maioria das atividades é realizada manualmente, geralmente para a subsistência e devido à falta de assistência governamental; todas as informações e instruções sobre o trabalho agropecuário: preparação do solo, plantio, colheita, técnicas de criação de bovinos e outros animais, são passadas hereditariamente de forma oral. Se todas essas técnicas e demais informações fossem registradas dariam um ótimo material escrito, disponível para consultas que poderiam ser utilizadas até cientificamente, conciliando assim a leitura com o serviço campestre, ampliando sua contribuição social.

A prática de leitura é sempre importante para manter qualquer pessoa atualizada sobre as questões sociais mais relevantes que acontecem diariamente no mundo e para ter mais autonomia na formação de opinião se tornando assim menos vulnerável ao ataque de informações falsas que circulam na internet. O gosto pela leitura não prende o leitor apenas a um gênero, o verdadeiro leitor experimenta um pouco de tudo que a leitura oferece, e é isso que o mantém atualizado e seguro para saber quais informações deve ou não incluir na sua bagagem de conhecimento.

4.1. A importância da leitura na formação do cidadão

Toda forma de aprendizagem requer algum tipo de leitura, até mesmo para ligar e manusear um aparelho eletrônico novo é preciso que se leia as instruções do manual, e para tomar um medicamento é preciso que se leia a receita. Enfim, desde que se obtêm a capacidade da decodificação das palavras é necessário que a utilize corriqueiramente para a realização de tarefas simples, e quando o indivíduo é de alguma forma impedido de usá-la por algum problema visual por exemplo, sentirá uma enorme dificuldade para executar tarefas que antes era habitual. Pequenas ações que passam despercebidas e são realizadas quase que automaticamente, mostram a importância da leitura no cotidiano de todos.

Ao perceber a importância da leitura nos mínimos detalhes da vida, fica evidente que na formação do cidadão ela é uma peça chave, que deve ser introduzida desde cedo na escola, buscando demonstrar todo o seu vasto horizonte de conhecimento e explorar variados gêneros e temas, proporcionais a cada nível e faixa etária que os alunos estiverem cursando. Desse modo a escola, por meio da prática de leitura, fornecerá os meios adequados para que cada indivíduo desempenhe sua função social e esteja apto ao exercício da cidadania. Nesse contexto, Libâneo explica a qualidade social e cidadã do ensino:

Na reflexão e no debate sobre a qualidade da educação e do ensino, os educadores têm caracterizado o termo qualidade com os adjetivos social e cidadã -, isto é, qualidade social, qualidade cidadã -, para diferenciar o sentido que as políticas dão ao termo. Qualidade social da educação significa não apenas diminuição da evasão e da repetência, como entendem os neoliberais, mas refere-se à condição de exercício da cidadania que a escola deve promover. Ser cidadão significa ser participe da vida social e política do País, e a escola constitui espaço privilegiado para esse aprendizado, e não apenas para ensinar a ler, a escrever e a contar, habilidades importantes, mas insuficientes para a promoção da cidadania. (LIBÂNEO; OLIVEIRA e TOSHI, 2006, p. 145)

A citação de Libâneo é bem clara em relação ao forte papel social que a escola tem sob sua responsabilidade. Esse papel será desempenhado com sucesso se forem observadas a qualidade social e a qualidade cidadã do ensino, pois as duas estarão sempre se complementando, uma vez que recebendo boas orientações e uma formação pautada no bem comum e no espírito coletivo, o indivíduo certamente desenvolverá legalmente sua função social e será um exemplo que mostrará positivamente a participação da escola na formação dos cidadãos.

Formar cidadãos não significa só oferecer o ensino básico com toda uma grade curricular, ou o ensino superior com toda a sua especialização, mas significa também transmitir valores essenciais para uma boa convivência social, onde cada cidadão além de exercer com eficiência sua atividade profissional também exerça retamente sua função social, observando os ideais de liberdade e igualdade.

5. Os benefícios da leitura nas relações interpessoais

As conversas simples entre familiares, amigos e colegas de estudo ou de trabalho podem facilmente ser enriquecidas se for recíproco o compartilhamento literário entre eles e social a finalidade de leitura que se venha a compartilhar, pois são inúmeros os materiais de leitura disponíveis que abordam a função social da leitura em caráter humano e educativo. A leitura, além de conhecimento, oferece harmonia às pessoas, pois permite a reflexão individual que leva o leitor a repensar algumas atitudes e planejar mudanças positivas em suas relações pessoais e profissionais. Cosson em “Letramento Literário” fala sobre esse papel humanizador da leitura, especificamente da leitura literária:

Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É por isso que interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela ficção. (COSSON, 2012, p. 17)

É esse poder de enxergar o outro que dá à leitura seu papel humanizador, e isso é que gera harmonia entre as pessoas, onde cada um reconhece o valor do outro, entra no mundo do outro sem sair do seu próprio mundo. A leitura proporciona esse sentimento de compreensão, que é necessário para que haja uma sociedade mais justa e mais humana.

Vários conflitos atingem a sociedade por falta de harmonia entre os civis e principalmente entre as autoridades, falta a compreensão de todos para a resolução de desses conflitos, mas compreensão é um sentimento bastante raro em um mundo onde cada vez mais cresce o egoísmo. Cosson aborda esse poder de compreensão que a literatura tem:

É por possuir essa função maior de tornar o mundo compreensível transformando sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas que a literatura tem e precisa manter um lugar especial nas escolas. Todavia, para que a literatura cumpra seu papel humanizador, precisamos mudar os rumos da sua escolarização. (COSSON, 2012, p. 17)

Foi muito bem colocado por Cosson esse papel humanizador que a literatura tem e o papel da escola nesse processo. O presente trabalho, embora trate da leitura de maneira geral, também discorre sobre o texto literário, porque a literatura está contida no processo de leitura e é uma excelente estratégia de incentivo à prática da mesma que será abordada com mais detalhes posteriormente.

A escola precisa estar adaptada a esses novos rumos da escolarização, pois a sociedade está sempre evoluindo e com isso surge a necessidade de adequação dos indivíduos nessa nova sociedade e como sempre é da escola a função de levar o conhecimento e a educação suficientes para a formação desses indivíduos:

A tensão que a escola se encontra, no entanto, não significa seu fim como instituição social educativa ou início de um processo de desescolarização da sociedade. Indica, antes, o início de um processo de reestruturação dos sistemas educativos e da instituição tal como a conhecemos. A escola de hoje precisa não apenas conviver com outras modalidades de educação não formal, informal e profissional, mas também articular-se e integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados para um novo tempo. (LIBÂNEO; OLIVEIRA e TOSCHI, 2006, p. 52-53)

A prática de leitura é um fator significativo nesse processo de reestruturação, pois sua aplicação eficiente no ensino permite o desenvolvimento social por estar sempre em contato com a informação e com o conhecimento, acompanhando assim a evolução linguística e de comportamento das pessoas no decorrer do tempo.

O fator “evolução linguística” é bastante importante nas relações interpessoais, principalmente no relacionamento dos mais velhos com as novas gerações, pois estas já nasceram após várias transformações linguísticas e aprenderam a falar a língua atualizada, enquanto aqueles ainda conservam alguns vocábulos ou pronúncias que não se utiliza mais. A falta de informação pode levar os jovens a acharem que seu avô ou avó está falando errado, quando na verdade só está fazendo uso do vocabulário que aprendeu a falar e de fato fazia parte da gramática. Isso pode ser considerado preconceito linguístico, assim como há entre falantes de diferentes regiões e de diferentes camadas sociais. A prática de leitura é o principal canal para conseguir eliminar esse preconceito, porque além de fornecer as informações sobre as variações sincrônicas e diacrônicas da língua também aciona o sentimento humanizador e compreensivo capaz de estabelecer a harmonia no modo de viver das pessoas.

6. A PRÁTICA DE LEITURA COMO DESEMPENHO LINGUÍSTICO

Ler diariamente, um livro, uma revista, um artigo, faz com que se exercite a língua e adquira várias habilidades em relação ao uso linguístico, tornando mais preparado qualquer indivíduo na realização de discursos, palestras, debates e várias outras situações que exijam bons argumentos e boa dicção. O principal objetivo da língua é permitir a comunicação entre os seres humanos, pois todos os países ao redor do mundo têm uma língua oficial para que haja essa comunicação. Quando alguém fala, é ouvido, compreende e dá uma resposta, houve comunicação, no entanto, muitas pessoas não utilizam a língua apenas para uma simples conversa, mas como um mecanismo de expressão social por meio de vários canais: livros, jornais, artigos, filmes, documentários. E para que haja essa expressão social se exige do autor um domínio linguístico.

O desempenho linguístico depende da frequência de contato que o indivíduo tem com a língua, principalmente a língua escrita por ser mais sistemática. Como toda atividade para ser realizada necessita de prática para um bom desempenho, as relacionadas à língua necessitam mais ainda, uma vez que a língua está sempre se modificando e evoluindo com o passar do tempo, portanto, uma das primeiras coisas que um escritor ou alguém que queira ou necessite se expressar publicamente por meio das palavras, deve fazer é atualizar-se em relação a ela, analisando os diversos gêneros textuais existentes, estabelecendo relações de proximidade e divergências entre eles com o intuito de aprofundar-se no gênero adequado para transmitir a mensagem que deseja. Sobre essa etapa da produção textual Koch e Elias afirmam que:

Dominar um gênero consistiria no próprio domínio da situação comunicativa, domínio esse que se pode dar por meio do ensino das aptidões exigidas para a produção de um gênero determinado. O ensino dos gêneros seria, pois, uma forma concreta de dar poder de atuação aos educadores e, por decorrência, aos seus educandos. Isso porque a maestria textual requer – muito mais que os outros tipos de maestria – a intervenção ativa de formadores e o desenvolvimento de uma didática específica. (KOCH e ELIAS, 2011, p. 61)

Koch e Elias explicam no que consiste o domínio de um gênero textual e ainda apresentam exemplos de como se obtêm o domínio em um gênero determinado, onde deixa claro a parcela pedagógica de contribuição na construção do domínio linguístico e na evolução do seu desempenho por meio de práticas de ensino bem planejadas pelos educadores.

Conhecer vários gêneros textuais é muito importante para a aquisição de um bom desempenho linguístico, afinal as situações diárias que a sociedade impõe exige esse conhecimento. Compreender notícias em telejornais exige que o leitor saiba as características desse gênero, enviar ou receber cartas, iniciar conversas entre familiares, atender um telefonema, entre outras, também são práticas linguísticas que envolvem vários gêneros textuais que precisam ser conhecidos para serem desenvolvidas. Alguns gêneros apresentam semelhanças entre si, enquanto outros se diferem muito, isso varia de acordo com a finalidade de cada um, o fato é que toda atividade linguística, principalmente escrita, produzida por um indivíduo falante, é feita utilizando-se de um gênero textual. Para explorar essa diversidade de gênero a fim de adquirir melhor desempenho linguístico é necessário que se pratique a leitura de forma contundente e constante, pois a comunicação é de suma importância para a humanidade, mas o conhecimento da língua e a arte de usá-la em toda sua amplitude como meio de expressão social é de fato libertador.

Não é fácil conseguir um domínio linguístico suficiente para realizar tarefas discursivas que necessitem de um conhecimento preciso da língua, e também não acontece em um passe de mágica. Muitas pessoas passaram por toda a educação básica e até pelo ensino superior e não conseguiram adquirir o desempenho linguístico condizente com o grau de estudo que têm. Certamente isso está relacionado à falta da prática de leitura, pois é impossível conseguir um conhecimento amplo oferecido por um curso de graduação se ele for buscado apenas presencialmente na instituição, assim também acontece na educação básica, o aluno que lê mais, descobre mais, aprende mais, raciocina mais e, portanto, sabe mais. É esse hábito que deve ser despertado nos alunos para que eles se tornem cidadãos com uma bagagem de conhecimento maior e um melhor desempenho linguístico.

6.1. Desenvolvendo habilidades produtivas através da prática de leitura

Um grau mais elevado no domínio da língua consequentemente despertará habilidades produtivas que servirão para futuros leitores levarem adiante essa arte primordial que é a leitura. Quando se tem facilidade com o uso das palavras, se almeja deixar registrado, seja em prosa ou em poesia, o retrato da realidade. A leitura tem esse poder de despertar o interesse produtivo nos leitores, uma vez que aguça a criatividade e a vontade de narrar fatos reais ou fictícios. Do início ao término da leitura de um romance, conto, crônica ou qualquer gênero, o leitor entra para o mundo dos personagens e se identifica com algum deles, faz análises, críticas e observações, ou seja, participa também do texto. A opinião do leitor é bastante relevante para o autor, afinal alguém só escreve porque sabe que a obra será lida. Sob essa mesma visão, Irandé Antunes, no livro “Aula de Português”, afirma:

A atividade de leitura completa a atividade da produção escrita. É, por isso, uma atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação dos sinais gráficos. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções pretendidos pelo autor. (ANTUNES, 2003, p 67)

Não há produção escrita sem uma boa prática de leitura, pois, como disse Antunes, uma atividade completa a outra. Assim como para ler algo é necessário explorar o conhecimento prévio, de mundo, para produzir algo se exige mais ainda um amplo grau de conhecimento, que por sua vez se adquire por meio da leitura. Produzir não é simplesmente lançar palavras aleatoriamente sobre o papel, é preciso que haja lógica entre as ideias e conteúdo suficiente para preencher as lacunas necessárias que um bom texto exige para deixa-lo completo. Além da organização estrutural o autor também precisa pensar no aspecto interativo do texto, onde precisa deixar abertos os caminhos para a fruição do leitor, possibilitando a aproximação adequada do texto com o leitor. Antunes ainda reitera:

Muito, mas muito mesmo, do que se consegue aprender do texto faz parte de nosso “conhecimento prévio”, ou seja, é anterior ao que lá está. Um texto seria inviável se tudo tivesse que estar explicitamente presente, explicitamente posto. O que é pressuposto como já sabido, o que é presumível a partir do conhecimento que temos de como as coisas estão organizadas, naturalmente, já não precisa ser dito. (ANTUNES, 2003, p 67)

É sob essa lógica que os bons autores escrevem seus textos, buscam apresentar temas que facilmente serão identificados pelos leitores, permitindo que estes façam as associações precisas para a boa interpretação, relacionando seus conhecimentos prévios com a ideia posta pelo autor. Dessa forma a atividade de leitura será bem mais proveitosa e eficiente e promoverá um incentivo ao leitor que se sentirá convidado e conduzido definitivamente ao mundo da leitura.

7. INCENTIVO À PRÁTICA DE LEITURA NAS ESCOLAS

Incentivar a prática de leitura nas escolas é fundamental para o desenvolvimento da educação e requer uma atenção especial de todo o corpo docente para que esse incentivo gere resultados. Para tanto é necessário trabalho, determinação e principalmente investimento para a realização de projetos, oficinas de leitura e várias outras técnicas que possam motivar os alunos a iniciar uma leitura e continuar mantendo o contato frequente com a mesma. Esse é o principal fator para a inserção de qualquer pessoa no mundo da leitura “motivação”, até mesmo qualquer outra atividade que alguém vá realizar se não tiver uma boa motivação dificilmente a fará, e se fizer certamente o resultado não será dos melhores, é importante que se tenha isso em mente, a leitura deve gerar bons resultados, por isso sua prática deve ser frequente e produtiva. Sobre essa motivação aos alunos, Solé comenta:

Motivar as crianças para a leitura não consiste em que o professor diga: “fantástico! Vamos ler!”, mas que elas mesmas o digam – ou pensem. Isso se consegue planejando bem a tarefa de leitura e selecionando com critério os materiais que nela serão trabalhados, tomando decisões sobre as ajudas prévias que alguns alunos possam necessitar, evitando situações de concorrência entre as crianças e promovendo, sempre que possível, aquelas situações que abordem contextos de uso real, que incentivem o gosto pela leitura e que deixem o leitor avançar em seu próprio ritmo para ir elaborando sua própria interpretação. (SOLÉ, 1998, p. 92)

Solé ressalta a importância da motivação no incentivo à prática de leitura e esclarece que essa motivação não deve ser pressionada, mas pelo contrário, deve-se procurar estratégias que façam os alunos sentirem desejo de iniciar a leitura por conta própria e sem a preocupação de ler melhor ou mais rápido que os demais, evitando assim situações de competição.

Tornar a prática de leitura numa atividade diária traz muitos benefícios para os alunos que vão além do desempenho na escola e da obtenção de boas notas, possibilita vantagem em vários âmbitos da sociedade: na escola ou universidade, no trabalho, nas relações pessoais e em qualquer ambiente que se utilize a comunicação.

O ato de ler com frequência desenvolve um bom domínio discursivo, produtivo e interativo, pois o contato frequente com a leitura permite uma intimidade maior com a língua vernácula e portanto possibilita um melhor aproveitamento na execução de atividades linguísticas diariamente exigidas no meio social, seja na universidade, no trabalho ou nas redes sociais, a forma como se escreve e se fala sempre será observada e muitas vezes cobrada.

Diante de tantos benefícios adquiridos com a prática de leitura, logo percebe- se que ela está intrinsicamente relacionada à qualidade profissional, visto que é tida como fundamental no processo de qualquer formação acadêmica ou técnica, responsáveis pela inserção de novos integrantes no mercado de trabalho; e que incentivá-la é o mínimo que as escolas devem fazer para um avanço educacional significativo e consistente capaz de respaldar no comportamento individual de cada leitor e assim gerar uma consciência coletiva da população no que diz respeito à situação social atual.

A fixação de conteúdos exigidos em vestibulares e concursos públicos só se consegue com muita leitura e releitura. Quando já se tem o hábito de ler fica mais fácil estudar sobre qualquer assunto porque já se tem um conhecimento prévio maior e por isso facilita a compreensão e interpretação de textos, é como começar uma corrida a alguns passos à frente dos adversários. Afinal, em um mundo cada vez mais globalizado quem tem mais informação certamente está em vantagem.

Portanto, o incentivo à prática de leitura é um grande desafio que a escola precisa vencer, visto que a situação educativa atual nas escolas públicas do Brasil está bem abaixo do ideal, muitas escolas ainda não têm a leitura como uma prática constante para que os alunos possam ser incentivados. Muitas vezes as atividades de leitura não ultrapassam a superficialidade dos textos.

A situação da leitura no Brasil é bastante contraditória: convivem, lado a lado, a preparação “carente” do professor de leitura e as recomendações irrealistas das autoridades educacionais. A política é do “deixa como está para ver como é que fica” aumentando dia a dia o volume da crise. Com isto em mente, pergunta-se: será que os cursos de preparação de professores não deveriam dar mais atenção ao ato de ler como parte integrante e fundamental da educação dos alunos? Será que as recomendações governamentais não deveriam atingir o nível das ações concretas? (SILVA, 2011, p. 41)

Silva faz uma observação realista da situação como a leitura é encarada nas escolas brasileiras, ainda de forma contraditória ao que é ideal para um pleno desenvolvimento de uma sociedade. A preparação de professores é o principal fator que contribui para essa situação, pois não existe na grande maioria das escolas um olhar específico para o ato de ler, cursos específicos de preparação voltada para a leitura. Por isso é necessário urgentemente que essa questão seja observada pela esfera governamental e com isso, disponibilizado o investimento suficiente para essa preparação. Segundo Silva, (2011, p. 37) “Na ausência de informações que orientam uma prática mais eficiente, o ensino da leitura parece ser realizado ao acaso, fazendo com que os professores ajam através do ensaio-e-erro quando da abordagem de materiais escritos junto a seus alunos.” Dessa forma nunca haverá um desenvolvimento adequado no ensino de leitura, sem a preparação específica para essa área. É preciso que os próprios professores de leitura sejam praticantes de leitura, e para isso também é preciso incentivo, investimento e entusiasmo. Oferecer cursos de especialização pode ser uma forma de investir e incentivar para que os educadores sintam-se entusiasmados a transformar suas práticas de ensino de leitura.

Deixar o ensino de leitura ser realizado ao acaso é uma negligência do Estado e das instituições de ensino, pois ambos devem participar de todo o processo educativo em todas as suas especificidades, é preciso que a escola exija a colaboração do estado, mas cumpra sua obrigação de executar sua prática com eficiência, visando sempre atualizar suas estratégias e aperfeiçoar o sistema para oferecer a educação necessária para a manutenção da sociedade.

7.1. Estratégias de incentivo à prática de leitura

Como já é sabido, incentivar a leitura é um fator decisivo na formação dos cidadãos de qualquer sociedade linguística, pois como foi apresentado anteriormente, são vários os benefícios adquiridos com essa prática. Uma das questões que são abordadas nas escolas, em formações e encontros pedagógicos é o fato de como incentivar para tornar a prática de leitura um hábito comum entre os estudantes, onde as aulas sejam dinâmicas e atrativas em se tratando da leitura. Não basta simplesmente encher os alunos de livros e exigir a leitura completa destes a cada semana, trata-se de estabelecer estratégias para construir um ambiente favorável em que os alunos possam sentir-se livres e atraídos a adentrarem no mundo da leitura. Inovar as aulas de língua portuguesa é algo bastante discutido no meio educacional e o principal motivo dessa discussão é o fato de o ensino de português, na maioria das escolas, priorizar o ensino da gramática descontextualizada, utilizando-se de palavras e frases soltas, o que impossibilita a prática de leitura, pois o ensino da gramática sem a interdisciplinaridade com os próprios campos da língua portuguesa não permite o desenvolvimento integral do cidadão. Irandé Antunes no livro “Aula de Português” aborda exatamente essa questão:

Portanto, a questão maior não é ensinar ou não ensinar gramática. Por sinal, essa nem é uma questão, uma vez que não se pode falar nem escrever sem gramática. A questão maior é discernir sobre o objeto do ensino: as regras (mais precisamente: as regularidades) de como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos. Por exemplo, quais as regras para a produção e leitura de um resumo, de uma resenha, de uma notícia, de um requerimento, de um aviso, entre muitos outros. Uma subquestão daí derivada é a de como ensinar tais regularidades, com que concepções, com que objetivos e posturas, desenvolvendo que competências e habilidades. Cabe lembrar que toda língua possui, para além da gramática, um léxico variado, que também precisa ser amplamente conhecido, o que significa dizer que a gramática sozinha nunca foi suficiente para alguém conseguir ampliar e aperfeiçoar seu desempenho comunicativo. (ANTUNES, 2003, p 88)

Nesse trecho, Antunes evidencia que não é necessário perder tempo se prendendo ao ensino exclusivo de regras gramaticais, uma vez que todo falante utiliza tais regras na comunicação diária, mesmo sem saber que se trata de sujeito ou predicado por exemplo. O que deve haver no ensino da língua é a demonstração do uso funcional da mesma na própria realidade circundante dos alunos, onde aos poucos estes vão percebendo que as regras apresentadas no livro didático fazem parte da sua comunicação oral todos os dias, em casa, na igreja, na rua e na escola com os colegas e professores.

A partir dessa maneira de encarar as aulas de português fica mais fácil para os professores encontrarem estratégias de incentivo à prática de leitura. O aluno perceberá que no simples ato da sua fala em uma conversa com os amigos estará fazendo uso das regras gramaticais ensinadas pelo professor na escola. Com base nisso o professor pode indicar textos curtos com temas variados de acordo com o gosto demonstrado pelos alunos e solicitar que façam resumos e discutam em sala de aula suas interpretações acerca dos textos lidos. Pode ser solicitado também que os alunos produzam textos, paródias por exemplo, de suas histórias prediletas. Dessa forma o professor estará colocando em prática a criatividade que a leitura desperta nos alunos. É importante explorar bem essa criatividade dos alunos, pois quanto mais o professor exigir mais ele conseguirá extrair e mais o aluno se interessará para produzir, é claro que essa exigência deverá ser feita proporcionalmente à etapa de ensino em que se encontra o aluno e de maneira organizada, sempre com algum objetivo.

Existem vários mecanismos linguísticos que podem auxiliar os professores a desenvolverem atividades de leitura, inclusive muitos trabalhos produzidos com exemplos, instruções e reflexões sobre esses mecanismos. O empenho e a criatividade do professor são características essenciais para que se obtenha sucesso no planejamento e execução das aulas.

É importante ressaltar que a prática de leitura não é desenvolvida e estimulada apenas nas aulas de português, essa é uma tarefa destinada ao ensino de maneira geral, é evidente que o ensino de Língua Portuguesa constitui um leque maior de possíveis estratégias para o desenvolvimento dessa prática, mas todas as disciplinas dependem da leitura para serem abordadas e por isso a leitura pode ser exercitada também nelas. Um professor de Geografia certamente observa o domínio de leitura dos alunos e quando percebe que um aluno que está prestes a concluir o ensino fundamental apresenta dificuldade de leitura, ele como bom profissional planejará sua aula levando a este aluno atividades que além de fornecer o conteúdo específico proporcione meios de exercitar a leitura.

Neste ponto é importante lembrar que todo professor, por adotar um livro ou mesmo por produzir ou selecionar seus textos transforma-se, necessariamente, num corresponsável pelo ensino e encaminhamento da leitura. Em outras palavras, a leitura é uma “exigência” que está presente nas disciplinas acadêmicas oferecidas pela escola e, por isso mesmo, os respectivos professores são, implícita ou explicitamente, orientadores de leitura. Ressalte-se que textos de natureza diversa (Literatura, Ciências, Matemática etc...) vão exigir abordagens diferentes de leitura para se chegar ao seu significado. Porém, por razões diversas, a responsabilidade pela orientação da leitura e pela formação do aluno-leitor é deixada somente aos alfabetizadores e aos professores de Comunicação e Expressão. Assim, se os alunos não aprendem a ler e se existe uma crise da leitura na escola brasileira, a culpa não é do corpo docente como um todo, mas somente dos professores de Português. (SILVA, 2011, p. 38)

A citação acima mostra que considerar a leitura como atividade somente de responsabilidade dos professores de Português é como responsabilizá-los também por qualquer problema ou crise no desempenho de leitura nas escolas brasileiras. A prática de leitura é responsabilidade de todo o corpo docente, uma vez que toda atividade envolve a necessidade da realização da leitura para que se compreenda e responda ou desenvolva o que foi solicitado. Dessa forma a situação que se encontra a escola brasileira, o mérito ou a falha deve ser atribuído a todo o sistema de ensino, assim como as estratégias de incentivo à prática de leitura devem ser compartilhadas com todas as áreas de acordo com as especificidades de cada uma.

7.1.1. Por meio da literatura

Sem dúvida a exploração da literatura como estratégia de incentivo à prática de leitura pode ser eficaz, desde que haja a abordagem correta e completa das obras literárias explorando todo o seu contexto e o valor social que elas contêm. Os primeiros contatos que o aluno tem com a literatura é por meio da literatura infantil quando as escolas utilizam alguns textos para auxiliar na alfabetização. Mesmo nessa fase a literatura deve ser abordada com mais objetivos além da simples alfabetização, que não pode ser deixado de lado, evidentemente, mas que seja ensinada como uma expressão da realidade. Os textos infantis são apropriados para o mundo das crianças, neles as crianças encontram emoções e aventuras e podem interpretá-las a seu modo mesmo sem a capacidade de decodificar as palavras ali escritas, apenas através da leitura feita pelo professor.

Pensando na literatura por essa perspectiva, as instituições de ensino podem desenvolver seu projeto pedagógico com esse propósito. É necessário que seja repensado a maneira de alfabetizar, que tradicionalmente utiliza pequenas frases apenas com o intuito de ensinar a junção das sílabas para a formação das palavras. Frases que até são retiradas de textos da educação infantil, mas sem a menor exploração estética do texto.

Introduzir a literatura de maneira mais reflexiva desde cedo nas escolas é muito importante para que os alunos aprendam a lidar com esse tipo de atividade e cheguem mais preparados, quando começarem a estudar com mais frequência a literatura nacional, a partir do ensino médio e consequentemente ser mais exigida nos vestibulares. Cada vez mais são abordadas questões acerca do ensino da literatura, com a intenção de erradicar o seu uso superficial. Esse ensino deve ser executado de maneira eficaz valorizando toda a sua amplitude pedagógica, desenvolvendo habilidades e competências que se concretizarão na melhoria do ensino em geral.

Quando o aluno desenvolve habilidades a partir da exploração correta de uma obra literária certamente ele foi incentivado a ler sem a pressão de ter que aprender as regras de gramática, mas livre para sentir a emoção transmitida através do texto. Pois, a leitura literária é utilizar seu conhecimento de mundo para compreender o sentido dos textos e mergulhar numa aventura prazerosa e desafiadora que provoca o desejo de manter sempre o contato com a leitura, mas não simplesmente com a leitura das letras, que estão sobre a superfície do papel e sim da leitura humanizadora onde o leitor interage com o texto. Segundo Cosson:

O efeito de proximidade que o texto literário traz é produto de uma inserção profunda em uma sociedade, é resultado do diálogo que ele nos permite manter com o mundo e com os outros. Embora essa experiência possa parecer única para nós em determinadas situações, sua unicidade reside mais no que levamos ao texto do que no que ele nos oferece. É por essa razão que lemos o mesmo livro de maneira diferente em diferentes etapas de nossas vidas. Tudo isso fica ainda mais evidente quando percebemos que o que expressamos ao final da leitura de um livro não são sentimentos, e sim os sentidos do texto. E é esse compartilhamento que faz a leitura ser tão significativa em uma comunidade de leitores. (COSSON, 2012, p. 28)

É através desse significado que a leitura se mostra relevante para a formação de cidadãos plenos e aptos a executarem seu papel social garantindo o futuro da nação. A literatura entra nesse processo como mediadora do conhecimento, desde que seja incorporada ao ensino com essa finalidade, sem restringir seu conteúdo a atividades limitadas e técnicas que andam longe de abranger toda a sua diversidade temática.

7.1.2. Por meio da literatura de cordel

A literatura de cordel é um gênero bastante rico no que diz respeito à transmissão de valores sociais e culturais e possui características que despertam interesse e curiosidade em todos os níveis de ensino, podendo ser facilmente utilizada como estratégia de incentivo à prática de leitura na escola. Por sua estrutura métrica com a presença forte das rimas e uma pitada de humor, sua poesia é bastante atrativa e adequada para ser aplicada em sala de aula.

A leitura de um poema por muitos é considerada mais prazerosa que a de um texto em prosa, e quando se trata de cordel esse prazer é maior ainda, pois apresenta uma marca expressiva da oralidade, por isso é exigido muito o uso da entonação de voz para uma boa declamação. A arte teve origem no Nordeste, mas atualmente é sucesso em todo o brasil, inclusive alguns artistas são reconhecidos nacionalmente.

O contato dos alunos com o cordel certamente provocará o interesse pela leitura, além de oferecer informações importantes sobre uma determinada região promovendo assim uma interdisciplinaridade que é essencial no ensino e uma exigência da BNCC em uma de suas competências gerais: “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural” (BNCC, p. 09). É importante que o cordel seja implantado no ensino e explorado pelos alunos e professores afim de conseguir demonstrar seu valor linguístico, histórico e cultural, pois essa literatura expressa o modo de falar e de viver de todos os brasileiros sendo bem mais marcante na região nordeste.

O professor deve usar sua criatividade para realizar aulas inovadoras, onde os alunos pratiquem a leitura e tenham liberdade de se expressar a partir de suas interpretações e até realizar suas próprias produções. A exploração da literatura de cordel serve como uma introdução dos alunos ao mundo da leitura, onde pretende-se despertar o entusiasmo nos alunos gerando o hábito e incentivando à prática em todos os gêneros textuais. Dessa forma é possível apresentar aos alunos o amplo universo que a leitura proporciona e, consequentemente, toda a diversidade linguística por meio dos gêneros literários.

7.1.3. Explorando gêneros textuais do cotidiano

Alguns gêneros literários têm características que facilitam sua aplicação no processo de ensino-aprendizagem por apresentarem em sua estrutura fatores que conversam com a realidade dos alunos e tematizam exatamente o gosto pessoal deles pela leitura. Mesmo ainda não sendo leitores vorazes ou até mesmo não tendo desenvolvido essa habilidade, os alunos tendem a gostar de certas histórias transmitidas oralmente por amigos e familiares. Geralmente são contos ou narrativas que apresentam animais falantes, histórias que sempre chamam a atenção dos alunos, principalmente os da educação infantil. Mas não é só na educação infantil que esses gêneros podem ser utilizados, nas séries finais do ensino fundamental eles também são considerados um excelente instrumento de leitura, principalmente o conto por ser curto e conter uma estrutura simples de ser interpretada.

O primeiro contato com a leitura sempre é por meio desses textos simples e curtos que apresentam a estrutura adequada para estimular a curiosidade das crianças. Como já foi exposto aqui anteriormente, mesmo utilizando textos como esses para a alfabetização é necessário que se faça atividades de caráter reflexivo e dinâmico impulsionando o raciocínio dos alunos e permitindo que eles avancem para as séries seguintes com capacidade de ler e interpretar textos de gêneros mais complexos. É preciso tornar mais criativos os métodos de ensino da linguagem para permitir que os alunos já cresçam entendendo a verdadeira função da linguagem na sociedade e já conheçam bem os principais meios para a sua utilização.

Ao ensinar a escrita de uma nova palavra para uma criança é importante ensinar também o sentido que essa palavra tem em função de outras que a criança já conheça, afim de que esta consiga com mais facilidade ler frases e compreender a mensagem emitida e não pensar que se trata apenas de letras que juntas formam palavras, mas não se atentar para o conteúdo expressado por elas. Muitas vezes o ensino se reduz a atividades de soletração de palavras, onde o aluno identifica letra por letra e depois as sílabas e formam uma palavra que nem é utilizada no seu vocabulário. Portanto, fica mais fácil para o aluno decodificar algo que ele já conheça enquanto falante. Como é comum na educação infantil relacionar letras e palavras com desenhos, certamente facilitará na aprendizagem das palavras, pois como já é conhecida oralmente pelo aluno, ao ver a imagem imediatamente ele a identificará.

Essas estratégias contribuem muito para o incentivo à prática de leitura, pois é evidente que os alunos se interessarão mais por algo que eles possam entender do que por textos cheio de palavras desconhecidas ou que tratam de histórias distantes do seu contexto ou gosto pessoal. É pior ainda quando é feito apenas o uso de frases soltas e inventadas de imediato pelos professores. Fazer tal uso para exemplificar algo ou sanar pequenas dúvidas é inevitável, mas tornar isso uma rotina nas aulas de alfabetização é decadente.

Ao utilizar os contos e fábulas para incentivar a leitura o professor consegue prender a atenção dos alunos naquele mundo representado pelas histórias e com isso pode realizar as estratégias planejadas para explorar a criatividade das crianças. Pode por exemplo solicitar à turma que juntos escrevam seu próprio conto ou fábula e auxiliá-los com os elementos textuais na hora da escrita. Outra estratégia pode ser a utilização de pequenas apresentações teatrais, apenas com algumas cenas que possam ser realizadas em sala ou outro ambiente próximo que seja adequado, apenas para dinamizar os textos lidos e mostrar a diversidade de sensações e emoções que a leitura pode proporcionar.

Assim, quanto mais precisa a definição das dimensões ensináveis de um gênero textual, mais o trabalho didático facilitará a sua apropriação como (mega)instrumento e possibilitará o desenvolvimento de capacidade de linguagem diversas a ele relacionadas. Quanto mais claramente o objeto do trabalho é descrito e explicado, mais ele se torna acessível aos alunos não só nas práticas linguajeiras de aprendizagem, como em situações concretas de interação pela linguagem. (KOCH E ELIAS, 2011, p. 74)

Tudo é questão de planejamento, criatividade e uma boa didática. A leitura oferece um vasto horizonte para a exploração da linguagem em sala de aula, cabe às instituições de ensino desenvolvê-la para que ela se torne bem mais presente na vida dos cidadãos como instrumento de expressão social.

A aproximação dos alunos com a leitura é algo que deve estar sempre sendo promovido no ambiente escolar, para que os mesmos se apeguem a este ato como a um objeto valioso que não se pode perder e nem tampouco deixá-lo guardado no fundo do baú, mas que carregue sempre consigo, fazendo dele um utensílio indispensável para sua conduta e aprimorando-o a fim de agregá-lo ainda mais valor.

7.1.4. Por meio da tecnologia

Os últimos tempos têm se mostrado bastante evoluído tecnologicamente, é só olhar em volta para perceber essa evolução, sempre há uma novidade no mercado para facilitar ainda mais a vida do ser humano, como é colocado na BNCC, página 473: “A contemporaneidade é fortemente marcada pelo desenvolvimento tecnológico. Tanto a computação quanto as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) estão cada vez mais presentes na vida de todos,” de fato, a tecnologia trouxe inúmeras vantagens em quase todas as ações humanas e, com isso seu uso adequado pode impulsionar um grande desenvolvimento social a começar pela educação que é o pilar estrutural de toda sociedade desenvolvida, uma vez que:

Essa constante transformação ocasionada pelas tecnologias, bem como sua repercussão na forma como as pessoas se comunicam, impacta diretamente no funcionamento da sociedade e, portanto, no mundo do trabalho. A dinamicidade e a fluidez das relações sociais – seja em nível interpessoal, seja em nível planetário – têm impactos na formação das novas gerações. É preciso garantir aos jovens aprendizagens para atuar em uma sociedade em constante mudança, (BNCC, p. 473)

Com o grande avanço das tecnologias, as instituições de ensino têm uma aliada para aprimorarem suas metodologias. O mundo está cada vez mais digital e o acesso à internet já é realidade até em muitas áreas rurais onde a pouco tempo atrás eram bastante isoladas. Mas essa evolução tecnológica não chega ainda de forma pedagógica e didática como um excelente mecanismo para a aquisição de conhecimento em muitas escolas e, é nisso que o sistema de ensino deve focar, investir na tecnologia e ampliar o olhar dos estudantes para essa área.

A maioria dos jovens utilizam a internet para navegar nas redes sociais e se entreter em jogos, aplicativos de músicas e vídeos e, assim o uso para fins educativos se restringem a atividades solicitadas pelos professores. A quantidade de jovens que utilizam a internet para estudar e pesquisar materiais de leitura não é a ideal, o que é lamentável, pois nunca o conhecimento esteve tão fácil de se adquirir, no entanto, o interesse por busca-lo parece cada vez mais raro.

A prática de leitura pode ser muito bem estimulada por meio das tecnologias digitais, pois há muitos materiais educativos disponíveis e fáceis de serem acessados, basta uma boa orientação dos professores na busca de livros que se encaixem no conteúdo e na metodologia planejados. Isso torna mais prático e mais barato o estudo de leitura, visto que a maioria dos alunos brasileiros são de famílias pobres e estudam em escolas públicas.

As escolas precisam explorar bem essas possibilidades oferecidas pela globalização por meio das mídias digitais e da internet. Precisam também se adaptar às novas gerações de jovens e aos novos gêneros que surgiram com esse processo. Se o contato mais frequente dos alunos com a leitura é por meio de conversas em redes sociais, a escola tem que incluir esse gênero na sua grade curricular, relacionando com os demais gêneros e exercitando assim a diversidade linguística existente em qualquer sociedade falante.

A música também é bastante divulgada na internet não só entre os jovens mas entre todas as pessoas e é utilizada para diversão, descontração, inspiração, concentração e tantas outras coisas. Com isso letra e ritmo se encaixam perfeitamente, levando aos ouvintes um conjunto de memórias, emoções, sotaques e poesia, ampliando o conhecimento e a cultura, portanto, pode facilmente ser introduzida nos planos de aula utilizando os recursos digitais que a tecnologia oferece como mais um meio de incentivo à prática de leitura.

8. ANÁLISE SOBRE A PRÁTICA DE LEITURA NA ESCOLA CENTRO DE ENSINO MAURA JORGE DE MELO

Com base na reflexão feita acerca da importância da prática de leitura na vida dos cidadãos e do seu incentivo de forma mais contundente na educação básica é apresentada agora uma pesquisa de campo realizada na escola Centro de Ensino Maura Jorge de Melo do município de Lago da Pedra – MA, realizada com o objetivo de identificar os pontos negativos e positivos do ensino local quanto às metodologias utilizadas para promover a prática de leitura.

Por causa da pandemia da covid-19 as aulas não estão sendo presenciais e a pesquisa foi feita virtualmente por meio das redes sociais. Foi enviado um questionário para a diretora geral Michelle Reardd Cavalcanti Medeiros e para a professora de Língua Portuguesa e Literatura, Cristiane Carneiro Brandão Sousa com as seguintes questões: Os alunos gostam de praticar a leitura? Quais atividades são desenvolvidas na escola com o intuito de incentivar a prática de leitura? A escola oferece os instrumentos básicos para que o aluno tenha acesso à leitura (biblioteca, internet, direcionamento pedagógico)? Quais problemas dificultam o incentivo à prática de leitura na escola?

As respostas obtidas em consenso foram respectivamente: “infelizmente não”, “temos uma minibiblioteca a disposição dos alunos, mas não temos um projeto que os incentive a ler”, “sim, mas poderia ser melhor” e “acredito que falta um esforço conjunto da escola para mobilizar um projeto que desperte o gosto pela leitura”.

As respostas da professora e diretora da escola demonstram o quanto o ensino ainda precisa ser melhorado em relação à prática de leitura, visto que há pouca iniciativa e pouco esforço para mudar essa realidade. É preciso tanto equipamentos e estrutura adequados, como de planejamento e capacitação, e isso só é possível com um esforço conjunto, como afirmaram as educadoras respondendo à última questão. E realmente a grande dificuldade para inserir a prática de leitura nas escolas é a falta de conciliação desses fatores, estrutura e capacitação, porque um depende do outro, quando se fala em inserir a prática de leitura nas escolas, não significa apenas aumentar a quantidade de atividades de leitura, mas sim a qualidade da desta, que as atividades desenvolvidas sejam capazes de revelar habilidades, despertar interesses e transformar a maneira de encarar a leitura, que por muitas vezes é considerada pelos alunos monótona e cansativa. Por isso, uma boa estrutura, sem profissionais capacitados e comprometidos com a causa, não surtirá o efeito suficiente para que aconteça essa transformação, do mesmo modo profissionais com todas essas qualidades, não conseguirão um bom desempenho faltando os materiais de suporte adequados.

A pesquisa também questionou os alunos das três séries do ensino médio sobre o contato deles com a leitura, fazendo as seguintes perguntas: “você gosta de ler?”, “você acha a prática de leitura importante para o desenvolvimento do cidadão?”, “você gosta de atividades escolares que envolvem a prática de leitura?”, “você já leu algum livro (completo) este ano?”

Ao todo 25 alunos responderam o questionário onde 76% destes afirmaram que gostam de ler enquanto 24% disseram que não gostam. A maioria concorda que a prática de leitura é importante para o desenvolvimento do cidadão, 96%, e apenas

1 aluno não acha a prática de leitura tão importante, ou seja, 4% dos que responderam. 84% declararam que gostam de atividades que envolvem a prática de leitura e 16% disseram que não. 40% não leram nenhum livro nesse ano, 16% leram pelo menos 1 livro e 44% leram 2 ou mais livros durante esse ano.

Os resultados da pesquisa mostram um número relativamente baixo de alunos que gostam de ler e que já leram algum livro esse ano, se for levado em consideração o tipo de leitura e o que os levou a concluir a leitura de um livro. Quando o único livro lido por um aluno foi indicado pelo professor pode-se dizer que esse aluno ainda não despertou o gosto pela leitura.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das reflexões feitas sobre a prática de leitura baseada em estudos de vários teóricos, foi possível perceber que a sua contribuição para a construção de uma sociedade melhor é indiscutível. Ao longo desse trabalho foram mostradas algumas dessas contribuições que a leitura deixa para a vida pessoal e social dos cidadãos que a praticam frequentemente desde cedo, evidenciando a importância de seu incentivo nas escolas, que são os principais ambientes para o exercício da prática de leitura. Foram observadas várias dificuldades existentes nas instituições de ensino para promover o incentivo à prática de leitura, estas advindas da falta de investimento pelo governo e de um esforço maior das próprias instituições de ensino.

O presente trabalho demonstrou tanto a importância da prática de leitura nas escolas como na vida profissional, apresentando algumas situações que deixam claro o papel humanizador que a leitura proporciona a quem a busca, como meio de aquisição de conhecimento e aprimoramento de suas ações como profissional e como pessoa. Os benefícios adquiridos a partir da leitura são duradouros e podem ser útil em qualquer ocasião que exija atividade linguística. A intenção de explorar esse tema foi reunir o máximo de benefícios possíveis para servir como um material de incentivo à prática de leitura e expor algumas estratégias que possam facilitar esse incentivo nas escolas para que assim, por meio da leitura, as pessoas se tornem mais compreensivas perante as tensões que afetam constantemente o país. A prática de leitura funciona como um canal que leva não só o conhecimento, mas também discernimento e harmonia contribuindo para um ótimo desempenho linguístico e para um sucedido desenvolvimento da cidadania.

Ao término desse trabalho, observa-se que os resultados obtidos por meio das pesquisas bibliográficas, apontam uma situação delicada da prática de leitura no Brasil, pois o número de alunos que praticam a leitura por iniciativa própria ainda é bem reduzido, tendo em vista a quantidade total dos estudantes que compõem a educação básica do país. A pesquisa de campo também retrata essa mesma situação, isso demonstra o grande desafio que a educação precisa vencer, estabelecendo metas e desenvolvendo novos métodos didáticos para despertar o prazer que a leitura oferece. As estratégias apresentadas aqui podem ser úteis para a educação nesse processo de incentivo à prática de leitura, porque procuram utilizar os recursos presentes na vida cotidiana dos alunos desde as primeiras palavras que eles conseguem decodificar às primeiras histórias que eles conseguem ler.

Portanto, cabe às autoridades governamentais investir em programas de profissionalização adequados e específicos que revolucionem o ensino da leitura, tornando sua prática mais frequente nas escolas, uma vez que já foram apresentados benefícios suficientes para afirmar que a partir da prática de leitura se obtêm um maior equilíbrio na sociedade, em detrimento da harmonia que ela proporciona aos leitores e da capacidade de reagir positivamente ante às situações que se apresentem, demonstrando o papel humanizador da leitura.

10. REFERÊNCIAS

ANTUNES, Maria Irandé. Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018.

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2012.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

KOCH, Ingedore Vilaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2011.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. O Ato de Ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia de leitura. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

SOLÉ, Isabel. Estratégia de Leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Questionário para pesquisa de campo

Entrevistado(a):

  1. Os alunos gostam de praticar a leitura?

  2. Quais atividades são desenvolvidas na escola com o intuito de incentivar a prática de leitura?

  3. A escola oferece os instrumentos básicos para que os alunos tenham acesso à leitura? (Biblioteca, internet, direcionamento pedagógico)

  4. Qais problemas dificultam o incentivo à prática de leitura na escola?

Questionário para pesquisa de campo (aos alunos)

Entrevistado:

  1. Você gosta de ler? ( ) sim

( ) não

  1. Você acha a prática de leitura importante para o desenvolvimento do cidadão?

( ) sim

( ) não

  1. Você gosta de atividades escolares que envolvam a prática de leitura? ( ) sim

( ) não

  1. Você já leu algum livro (completo) este ano? ( ) sim, 1

( ) sim, 2 ou mais ( ) não li


Publicado por: Lucas Albuquerque Sousa

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