Ilustração Digital: A experiência do sensível nos movimentos femininos

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1. Resumo

Este trabalho propõe uma discussão em torno das ilustrações digitais como veículos sensíveis e sua mobilização nos movimentos femininos em rede. A metodologia consiste na análise do projeto Aurélia - Dicionário ilustrado de mulheres, que se dedica a preservar e recontar a história feminina através de imagens disponíveis na internet. O objetivo é refletir sobre como a interação com as ilustrações pode sensibilizar e instigar mudanças sociais através da representatividade, visibilidade e desestabilização de estereótipos construídos referentes às mulheres. A partir de uma problematização em torno do conceito de estética relacionada às mídias digitais, busca-se entender a experiência do sensível e sua relação com os processos culturais atrelados às artes mecânicas. Na interação emocional entre objeto e sujeito, por meio das ilustrações digitais, vê-se a possibilidade de recontar e recriar o passado em uma perspectiva feminina.

Palavras-chave: Mídias digitais. Ilustrações digitais. Internet. Mulher. Estética. Sensível. Movimentos femininos. Representatividade. Arte.

Abstract

This paper proposes a discussion around digital illustrations as sensitive vehicles and their mobilization in female networked movements. The methodology consists in the analysis of the project Aurélia - Illustrated Dictionary of Women, which is dedicated to preserving and retelling women's history through images available on the Internet. The goal is to reflect on how interaction with illustrations can sensitize and instigate social change through the representativeness, visibility and destabilization of constructed stereotypes regarding women. From a problematization around the concept of aesthetics related to digital media, one seeks to understand the experience of the sensible and its relationship with the cultural processes linked to the mechanical arts. In the emotional interaction between object and subject, through digital illustrations, one sees the possibility of retelling and recreating the past in a feminine perspective.

Keywords: Digital media. Digital illustrations. Internet. Woman. Aesthetics. Sensitive. Feminine movements. Representativeness. Art.

2. INTRODUÇÃO

A proposta desse trabalho surge da necessidade de representação das mulheres, sendo bastante influenciada pelos ensinamentos da minha avó, Dayse de Abreu Ferreira, mulher, divorciada e advogada, que lutou pelos seus direitos por meio da educação e nunca deixou de expressar sua força feminina.

Tive o propósito de realizar um levantamento de questões com foco na sensibilidade existente na ilustração digital, uma forma de arte capaz de estimular indivíduos através da sua estética visual possibilitando uma intervenção na sociedade. Para isso, desenvolvi um pensamento usando como exemplo a página do Dicionário Aurélia, projeto que se dedica a construir uma memória coletiva feminina por meio do ambiente digital, reunindo suas histórias.

Primeiramente, achei de grande importância abordar o início da vida pública das mulheres, no intuito de esclarecer o papel feminino na sociedade e porque sua representatividade é indispensável até os dias atuais. Para isso, usei Adeus ao feminismo? de Margareth Rago, brasileira, formada em História e Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutora em História pela UNICAMP e publicou inúmeros trabalhos no campo da História e Filosofia, além de abordar sobre o feminismo; e Mulheres Públicas de Michelle Perrot, especialista em história do século XIX, historiadora e professora da Universidade de Paris VII e ganhadora do Prémio Femina de Ensaio.

Em seguida, abordo o Aurélia como meu objeto de estudo, um dicionário ilustrado de mulheres, criado pela ilustradora Cecília Silveira no ano de 2015. Usando do Facebook como plataforma para sua fanpage e do Tumblr para seu blog, cria uma espécie de galeria em ordem alfabética de ilustrações compostas por biografias de mulheres consideradas importantes tanto pela autora, quanto pelo público que acessa o site. E através dessas ilustrações pensar a possibilidade da experimentação do sensível por seus receptores. Como material de apoio, foram utilizados entrevistas com a autora, disponíveis na web, assim como Elas merecem ser lembradas: feminismo, emoções e memória em rede, de Tatiane Leal, que trata sobre o projeto Dicionário Aurélia, e levando em conta o comportamento das mulheres que consomem desse conteúdo na página do projeto e as intenções da autora por trás das imagens.

Com isso, uso Arte e Agência do Alfred Gell para trazer a argumentação das existências de agências passivas presentes nas artes e, como, a arte pode influenciar o observador do mesmo modo que o observador pode ressignificar o objeto de acordo com a sua carga cultural.

A partir disso, para esclarecer sobre os movimentos sociais e sua relação com as emoções, me baseio na obra de Manuel Castells, Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet, associando às ilustrações do Aurélia.

E, finalizando, trago como base as obras Arte e mídia: perspectivas da estética digital de Priscila Arantes, crítica de arte, diretora técnica e curadora do Paço das Artes, possui doutorado em comunicação e semiótica e pós-doutorado na área de estética e arte em meios tecnológicos, pela Unicamp; e Estética digital: Sintopia da arte, a ciência e a tecnologia de Claudia Giannetti, teórica e investigadora especializada em arte contemporânea, media art e arte, ciência e tecnologia, considerada como uma das especialistas mais relevantes no campo da arte digital do âmbito internacional; no intuito de criar reflexões em torno de uma ressignificação da estética da arte digital ligada ao sensível e porque arte e interação não estariam dissociados no espaço da web.

Imaginei que seria indispensável, para um trabalho que visa tratar de mulheres, uma pesquisa bibliográfica com maior peso feminino. Assim, Perrot, Arantes, Giannetti e Rago me ajudaram a desenvolver um trabalho que trata de representatividade e, além disso, realmente fazê-la.

3. A busca do feminino no universo das imagens

3.1. Breve análise histórica da vida pública feminina

Abordar sobre a igualdade de gênero é uma questão que se dá necessária quando, na história, o papel principal foi dito masculino. As mulheres foram deixadas de lado, colocadas como subordinadas, “suprimidas da história” (RAGO, 1995/1996). O conservadorismo criou uma referência de feminilidade considerada ideal, excluindo e silenciando mulheres.

Abaixo, obra inacabada representa a “presença-ausência” da mulher. Homme et femme sous un parapluie (homem e mulher embaixo de um guarda-chuva), por Gustave Caillebotte (1848-1894).

Imagem tirada da internet. (HOMME, 20--?).

O feminismo questiona como o homem veio criando a imagem da mulher, defende o direito à educação e propõe uma visão feminista da história, focando em novos conceitos, em fontes documentais ignoradas e apontando a extrema necessidade de um novo discurso histórico, com o intuito de denunciar a decisão masculina de qual passado deve ser lembrado ou esquecido.

O feminismo adquire uma enorme importância ao questionar a organização sexual, social, política, econômica e cultural de um mundo profundamente hierárquico, autoritário, masculino, branco e excludente. (RAGO, 1995/1996).

As mulheres são vistas como caóticas, são atribuídos a elas títulos de megeras e responsáveis pelas desordens nas cidades, esses pensamentos se enraízam na ideia da diferença e o desequilíbrio entre os sexos, onde a vida pública se destina ao sexo masculino e as tarefas domésticas se destinam ao sexo feminino, considerando que manter a mulher dentro de casa seria benéfico para a família e para a organização da sociedade.

Elas inquietam os organizadores da cidade, que vêem nas multidões, onde elas estão tão presentes, o supremo perigo. Os psicólogos das multidões (Gustave Le Bon, Gabriel de Tarde, Hippolyte Taine…) atribuem a elas os excessos da Revolução. Autoras dos massacres de setembro de 1792, incendiárias da Comuna, capazes de qualquer excesso, são as megeras e as fúrias de todas as insurreições. (PERROT, 1997).

A mulher pública do século XIX tinha uma imagem de musa, representando as tentações do homem. Não era considerado possível a ela ser uma pessoa pública e, ao mesmo tempo, “madonna” (PERROT, 1997), esposa, dona de casa. Ser ambos era algo inacessível, a vida pública para a mulher era através da prostituição, vista como incapaz de governar ou participar de alguma forma da história, esses eram papéis masculinos. “Para os homens, o público e o político, seu santuário. Para as mulheres, o privado e seu coração, a casa”. (PERROT, 1997).

Enquanto os homens se vestiam de preto em suas reuniões, retratando suas vidas ocupadas, suas esposas tinham o papel de representar a grandeza de seus maridos, seguindo os códigos indumentários, usando joias, seu único poder era o estético.

A burguesia reproduz esse modelo segundo uma divisão dos papéis sexuais que delega às mulheres a ostentação do luxo e do lazer. […]É preciso […] obedecer os códigos indumentários de uma moda exigente, sobre a qual já reinam os grandes costureiros, organizadores do espetáculo, usar jóias que, como um estandarte, proclamam a riqueza de um marido. (PERROT, 1997).

E por outro lado, com o dever de servir os desejos irreprimíveis do homem, as prostitutas, vítimas de um sistema que as fazem como objetos de prazer, marginalizadas, sofrem por falta de direitos e por tráfico de mulheres. Esses são os exemplos de vida pública de mulheres do século retrasado, onde para o homem se destinavam grandes conquistas, para elas, satisfazer seus prazeres e representar suas riquezas.

Consideradas um exutório necessário da sexualidade masculina dita irreprimível, a prostituição é comumente regulamentada segundo um sistema francês que conquistou a Europa. Fichadas, as mulheres públicas recebem visitas médicas regulares e são, quando preciso, encerradas nos hospitais-prisões […] O controle é exercido sobretudo sobre as clandestinas, não raro mulheres que recorrem ocasionalmente à prostituição por razões econômicas, sem querer fazer daquilo uma profissão. A polícia dos costumes persegue-as e prende-as impiedosamente. […] levadas à delegacia e submetidas a exames médicos à força. Muitas delas abriram processos, que revelaram o escândalo e a ausência do direito de livre circulação para as mulheres, incongruentes na cidade noturna. (PERROT, 1997).

No século XIX, os lugares destinados às mulheres, são quase exclusivos para o sexo feminino - lavanderias, magazines, salões de chá. Enquanto outros lugares como político, judiciário, intelectuais e esportivos, são destinados aos homens, praticamente proibidos para o sexo oposto. Resultando em uma segregação sexual do espaço público.

Nesse período, as mulheres já trabalhavam em lavanderias ou como empregadas domésticas, mas o cargo de chefia cabia somente ao homem. Os trabalhadores dos magazines, que antes eram compostos pelo sexo masculino, passam a ser mulheres a partir de 1870. Seguindo uma hierarquia, os postos de comando continuam sendo ocupados por homens, que vigiavam estritamente as trabalhadoras, que só foram permitidas a se sentarem durante o trabalho, depois da chamada “lei das cadeiras” em 1900, na França. Os magazines eram como palácios de consumo e, apesar de possuírem setores masculinos, a clientela era maioritariamente feminina.

Além dos lugares serem destinados a certo tipo de gênero, o que também cooperava para essa separação eram os hábitos alimentares que eram influenciados pelos locais de sociabilidade. Para os homens se destinavam clubes, pubs e cafés, onde discutiam sobre esportes e política. Para as mulheres, patisseries e casas de chá. Quanto mais um lugar era politizado menos apropriado para elas. Doces, leite e chá eram costumeiramente servidos em lugares pouco viris para o homem frequentar, sendo consideradas comidas mais para o público feminino. Para assuntos mais “masculinos”, discutidos em bares, acompanhavam-se comidas mais apropriadas, como vinho e carne.

As práticas alimentares são, de fato, sexuadas. Os homens têm, em todo caso, sua sociabilidade própria, onde o jogo, o esporte e a política ocupam um lugar de honra. […]À medida que estes lugares supostamente se politizam, as mulheres deles são excluídas. (PERROT, 1997).

O círculo, um lugar para a sociabilidade politizada de homens franceses. A presença de mulheres não era apropriada. “Sem as mulheres, a sociedade não pode ser nem agradável nem picante [...]” (MADAME DE STAËL, 1802).

Jean Béraud, Le cercle, Museu de Orsay, Paris, 1911. Imagem tirada da internet. (LE, 20--?).

Regras de comportamento e vestimenta começaram a ser ditadas a elas. Através da moda e das escolas a ideia da mulher decente foi se propagando e sendo aplicada. Tinham que se vestir como mulheres, não podendo usar calças, não podiam fumar em público e os cabelos deviam ser domados. Sua arma de sedução, usados como símbolo da luta pela emancipação, os cabelos eram cortados cada vez mais curtos, representando a modernização da mulher.

Mulheres jovens e solteiras deveriam, cada vez mais, seguir as regras de como se portar na rua, sem movimentos bruscos, fala e olhar baixos. As mais velhas e casadas podiam andar mais livremente, pois não atraiam sexualmente os homens. Já as mulheres do povo, tinham que viver mais nas ruas, pois era de onde tiravam seu sustento, vendendo mercadorias, lavando roupas, entregando pães que faziam em casa ou buscando água das fontes, fazendo alguma renda extra. As lavanderias eram os lugares de fala dessas mulheres do povo, mas acabaram sendo substituídas por máquinas para controlar as doenças epidêmicas na cidade.

Lugar de fala das mulheres, a lavanderia é muitas vezes descrita como lugar de conflitos. Realidade, provavelmente, mas também pretexto para representar brigas de mulheres, verbais e eventualmente físicas, que excitam a imaginação masculina. De fato, quem pinta as mulheres, senão os homens, na imensa maioria dos casos? Oportunidade de ressaltar essa desigualdade que estrutura necessariamente a nossa visão das coisas. (PERROT, 1997).

As mulheres que trabalhavam nas lavanderias, queriam elas de volta, pois era um lugar que, além de tirarem seu sustento, também era de sociabilidade feminina. Era nesse local onde elas se comunicavam, se ajudavam, se confrontavam e também festejavam. Era através da lavanderia que ficava-se sabendo dos segredos da cidade. Os gestos e olhares eram mais importantes do que o espaço em si e, mediante a isso, mães passavam ensinamentos a suas filhas sobre o público e o privado. Com isso as palavras e sua circulação se tornam mais importantes do que a organização social. Conforme as mulheres foram sendo expulsas de pubs e bares, segundo a politização crescente desses locais, elas foram, de algum modo, se reunindo em outros, para falarem sobre boatos, notícias da cidade, fofocas. Nesse quesito, o espaço deixa de ter tanta importância e a palavra passa a ser o principal, pois era através desses círculos de conversas femininos que suas opiniões públicas passam a ser exprimidas.

Na nossa cultura, a ideia de que a mulher está destinada ao silêncio está extremamente arraigada. Presas no espaço privado da casa, elas passam muito tempo longe da palavra pública. Por mais que ainda estivessem destinadas às atividades subalternas, elas dominaram as formas de escrita, primeiramente por cartas, depois pelo jornalismo.

A partir do século XVIII, através das conversações dos salões, que eram cada vez mais políticas, as mulheres passam a ter um local importante em relação aos homens, não de igualdade, pois somente eles poderiam ser filósofos e escritores, mas na questão da posse de informação. Elas começam a ser donas de casa informadas, que discutem sobre tudo. Contudo, com a revolução política, acreditava-se que deveria haver uma ruptura entre a política e os salões, já que política era, e ainda é, algo a ser levado a sério, um negócio para os homens e não deveria estar relacionado às frivolidades dos salões. A oratória, ligada aos costumes políticos, era considerada viril, de eloquência masculina, superior as conversas efeminadas dos salões.

Apesar disso, a frequência das mulheres em convenções políticas era cada vez maior, mas suas confrontações e interrupções, que demonstravam seu interesse pelo debate público, fazem com que sejam proibidas de falar sobre política e são expulsas das tribunas. Talvez, por serem tão ouvidas, elas são afastadas e impedidas de participar, com isso, ter acesso à palavra pública se tornou cada vez mais difícil, fazendo com que a única saída fosse se fingir de homem.

George Sand, vestida de homem para entrar na Câmara dos Deputados, bem como Flora Tristan. Adelheid Popp, confundida com um homem por falar bem em público. Marie d’Agout escrevia sob o pseudônimo Daniel Stern. Delphine Gay assinava suas crônicas como “Le Vicomte de Launay”. Jane Dieulafoy “a dama que se vestia de homem” (PERROT, 1997). Isabelle Eberhardt, guerreia sob o nome de Mahmoud, em Marrocos. Incontáveis são exemplos de mulheres se vestindo do sexo oposto para possuírem os mesmos direitos.

Falar em público, para as mulheres, era algo desabitual, sempre permaneciam em silêncio, os discursos eram para os homens. Jeanne Chauvin, Marguerite Durand, Maria Vérone, Louise Weiss e Yvonne Netter foram todas advogadas e, por sua prática profissional, eram excelentes oradoras, em razão a isso, tomaram a frente de manifestações feministas no século passado. Adelheid Popp, com seu discurso sobre o trabalho das mulheres, faz com que os trabalhadores tenham dúvidas sobre sua identidade e supõem que ela seja, na verdade, um homem vestido de mulher, pois somente homens sabiam se pronunciar daquele jeito. Essas histórias deixam claro a exclusão das mulheres do direito à cidadania política.

Club patriotique des femmes (Clube patriota das mulheres), por P. E. Lesueur, séc. XVIII. Querendo participar da política, mulheres formaram grupos patriotas, em trinta cidades, para conversarem, lerem textos e jornais, fazerem petições etc. Na imagem, elas usam a touca “à Constituição”, representando sua vontade para se tornarem honestas cidadãs.

Imagem tirada da internet. (CLUB, 2019).

Com a melhora dos correios e o aumento das estradas de ferro, trocar cartas se torna um hábito generalizado. Escrever sobre as notícias se torna uma necessidade e papel principal da mulher nas famílias, com isso, despropositadamente, essas correspondências acabam expressando a visão política feminina. Além disso, através da educação de mães para filhas e filhos, elas expõem suas opiniões, desempenhando, nessas formas, um papel público.

Receber, trocar notícias “frescas” torna-se uma necessidade e o papel epistolar das mulheres torna-se intenso. Mas ele é principalmente familiar. As mulheres são, por assim dizer, as secretárias da família dispersa, cujos laços elas mantêm. Acidentalmente se trata de política nessas correspondências privadas, cuja maior parte desapareceu. (PERROT, 1997).

A imprensa, principal forma da expressão pública quando não se tinha concorrentes na mídia, era, inicialmente, parte do mundo masculino, que liam em locais reservados para eles, como clubes, círculos e cafés. Contudo, as mulheres iniciaram suas leituras de jornais, cautelosamente, pelos rodapés, onde se guardavam as crônicas e os romances destinados mais para o público feminino. Essa divisão de temas e o prazer escondido da leitura, torna o hábito de ler jornais mais um local de separação de gênero, no qual mulheres não eram bem recebidas.

Le repos (O descanso), por Edgar Degas (1880). A menina bailarina descansa lendo.

Imagem tirada da internet. (LE, 20--?).

Com o interesse feminino pela leitura de jornais cada vez mais crescente, a imprensa começa a se dedicar por temas de viagem, moda e notícias em geral dos quais as atraem. A partir daí, mulheres começam não somente a ler cada vez mais, como também a serem redatoras e até diretoras. Nesse processo de interação entre escritoras e leitoras, cria-se uma rede de comunicação entre mulheres fazendo, dos jornais, um local da expressão feminina. Le Journal des Dames, Le Journal des Demoiselles, Isis, La Femme Libre, La Femme Nouvelle, La Tribune des Femmes, L’Opinion des Femmes, La Donna, entre muitos outros, são apenas alguns dos inumeráveis jornais lançados, em apenas 40 anos, destinados ao público feminino. A criação de jornais tornou-se um modo da manifestação do feminismo, uma profissão cada vez mais acessível às mulheres, que significava, ao mesmo tempo, ter voz ativa na opinião pública e liberdade de movimento (PERROT, 1997). Com essa abertura, a imprensa marca a entrada das mulheres na vida pública, um grande avanço nas condições femininas.

3.2. Aurélia - Dicionário ilustrado de mulheres

Com isso em mente, percebe-se como é preciso de uma reflexão sobre como o passado foi contado e também por quem foi contado. Abrir espaço para as mulheres mostrarem outro ponto de vista e poderem atuar livremente. Mesmo com tantos pré-conceitos sobre o sexo feminino durante os tempos, as mulheres sempre estiveram aptas e atuantes na história, a forma de contá-la as apagou, contorcendo a história alocando a mulher como uma figura passiva de criação. Se vê necessário lembrar do passado feminino como um peso para definir suas raízes, criar uma memória, e não esquecer das suas lutas, direitos e reivindicações.

Cecília Silveira, ilustradora e mestre em Crítica de Arte e Arquitetura, criou o Aurélia - Dicionário ilustrado de mulheres, projeto que tem como foco histórias de mulheres importantes. O projeto possui esse nome como uma brincadeira entre o dicionário, nacionalmente famoso, Aurélio, e o índice de ilustrações, arranjado em ordem alfabética, de mulheres reais e suas biografias.

Na plataforma do Facebook o Aurélia possui uma fanpage com 2.245 curtidas e funciona como um veículo para as ilustrações de Cecília, que recebem em média, 60 curtidas cada uma. Essas ilustrações são compartilhadas no Facebook e linkam com uma página da internet chamada Tumblr, onde a bibliografia da personagem feminina ilustrada está disponível. Através dessas redes sociais, Cecília oferece acesso a um conteúdo feminino não muito comum, e além disso a possibilidade de compartilhá-lo com outras pessoas.

Página inicial do site do Dicionário Aurélia na plataforma Tumblr. (AURÉLIA, 2015b).

Biografia descrevendo Amelinha Teles no site do Aurélia no Tumblr. (AURÉLIA, 2015b).

Ilustração na página do Facebook do Dicionário Aurélia, representando a escritora Chimamanda Ngozi Adichie, nascida na Nigéria, em 1977. Cresceu na cidade Universitária de Nsukka e aos dezenove anos se mudou para os Estados Unidos. Estudou comunicação e ciência política na Universidade de Drexel e depois foi transferida para a Universidade de Connecticut. Recebeu título de Master of Arts em Estudos Africanos pela Universidade de Yale e ganhou uma bolsa de estudos do Instituto Radcliffe de Estudos Avançados da Universidade de Harvard. Teve seus primeiros livros premiados, sendo o terceiro, chamado “Americanah”, selecionado pelo New York Times como um dos 10 Melhores Livros de 2013. E em 2014 foi nomeada uma dos 39 escritores mais importantes com idade menor que 40 anos no projeto Festival Hay e Rainbow Book Club. Chimamanda usa da sua experiência pessoal para falar sobre a inclusão e a consciência sobre como é ser mulher nos dias atuais no seu livro “We Should All Be Feminists” (2014), adaptado da sua conferência TED (Technology; Entertainment; Design).

Imagem tirada da internet. (AURÉLIA, 2015a).

O Dicionário Aurélia foi criado no ano de 2015 que, de acordo com sua idealizadora, possui o intuito de “conferir visibilidade, humanizar, valorizar, inspirar, dar protagonismo, empoderar, desestabilizar estereótipos e convenções de gênero, compartilhar e evocar histórias de mulheres através de ilustrações e sucintas biografias.” (AURÉLIA, 2015b).

A proposta da Cecília Silveira, ao citar figuras femininas importantes, mostra como a mulher também foi participativa no decorrer dos tempos. Fazendo lembrar do seu passado para que, agora, no presente, se lembrem que também fazem parte de algo que, nos livros, as definem como personagens secundárias. “O feminismo denuncia e critica. Logo, deve ser lembrado.” (RAGO, 1995/1996). Quebrando o hábito de homens contarem a História de acordo com suas próprias perspectivas e propondo uma nova metodologia. Através de ilustrações Cecília conta como mulheres gostariam de serem lembradas e passa adiante uma nova visão do passado e presente feminino.

Gabriela Leite, nascida em São Paulo em 1951. Cursava Ciências Sociais, em 1969, na Universidade de São Paulo, mas não chegou a concluir o curso trocando a faculdade pela prostituição. Se tornou ativista pelos direitos das prostitutas no Brasil, iniciando um trabalho nacional de organização a favor desses direitos. Em 1980 começou a promover os encontros nacionais das prostitutas e também criou o jornal “Beijo da rua”, fazendo circular novos discursos e afirmar as prostitutas como sujeitos sociais. No começo dos anos 1990, fundou a ONG Davida que defende os direitos das mulheres da vida. Também idealizadora da grife Daspu, onde o nome é uma provocação à loja Daslu, a maior loja de artigos de luxo do país.

Imagem tirada do site do Aurélia. (AURÉLIA, 2015b).

Através dessa coletânea de ilustrações, mulheres de hoje em dia entram em contato com histórias de mulheres que foram e são importantes de alguma forma para a sociedade, quebrando o conceito da figura feminina caótica, ou da mulher pública ser somente para o agrado masculino. Mostra uma visão de que, apesar de não terem citado, mulheres também foram cientistas, pesquisadoras, autoras, possuíram títulos, batalharam pelos seus direitos e Cecília, com o seu projeto, vem mostrando uma nova forma de relatar o passado de forma mais igualitária.

Claude Cahun nasceu com o nome Lucy Renée Mathilde Schwob, em 1894 em Nantes, na França. De uma família judia, aos dezoito anos começou a se interessar por fotografia, onde retratava a si mesma, como por exemplo sua foto representando um levantador de pesos com uma camisa escrita “não me beije, estou em treinamento”. Com 25 anos se mudou para Paris com a sua companheira chamada Suzanne Malherbe, que mais tarde veio a trocar seu nome para Marcel Moore. Em 1938, com o perigo da guerra, elas se mudam para Jersey, continuando seus papéis de resistência contra o nazismo. Em 1944 foram condenadas a prisão pela confecção de dezenas de documentos falsos. Felizmente, a guerra acaba, mas Claude nunca chegou a voltar a Paris. Foi fotógrafa, poeta, guerreira de resistência, prisioneira, surrealista, dentre muitas outras coisas, além de explorar a arte tecnológica. Foi banida das narrativas do surrealismo, removida da história por não se encaixar nos rótulos de “mulher”, “escritora”, “lésbica”.

Imagem tirada da internet. Auto-retrato, Claude Cahun (1927). (CLAUDE, ca. 2010).

Ilustração de Claude Cahun por Cecília Silveira. Foto retirada da página do Facebook Aurélia. (AURÉLIA, 2015a).

Cecília, usa do Facebook como uma ferramenta de comunicação com outras mulheres, ela compartilha suas ilustrações e através dessas postagens ela faz um call to action (uma forma de chamar o público para saber mais sobre o assunto) incluindo um link, para o Tumblr do Aurélia, onde as leitoras poderão acessar uma pequena biografia sobre a figura representada. A imagem que a ilustradora criou serve como um chamado para a leitura, através dela, Cecília dá acesso a informações que não são comumente achadas em livros de história.

Malala Yousafzai, ilustrada por Cecília Silveira, nascida no Paquistão, em 1997. Ativista a favor da defesa do direito de meninas à educação, com 11 anos escrevia em um blog na BBC, contando o cotidiano de uma menina estudante do vale do Swat, sob domínio talibã. Usava o pseudônimo Gul Makai, por questões de segurança. O New York Times, pouco tempo depois, publicou um documentário sobre o cotidiano de Malala e com isso, sua popularidade aumentou fazendo ser nomeada para o Prêmio Internacional da Criança. Em 2012 sofreu uma tentativa de assassinato, ficando em estado gravíssimo e sendo transferida para um hospital na Inglaterra. Com essa tentativa de assassinato foi lançada uma petição da ONU com o slogan “I am Malala”, exigindo que todas as crianças estivessem matriculadas em escolas até o final do ano de 2015, o que incentivou a retificação da primeira lei do direito à educação no Paquistão. Em 2013, Malala foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. No mesmo ano, discursou a favor do acesso universal à educação na sede da ONU. Em 2014, foi nomeada para o World Children’s Prize, na Suécia. E em 10 de outubro foi anunciada atribuição do Nobel da Paz para Malala, por sua luta a favor do acesso de crianças à educação. A jornalista Christina Lamb escreveu a biografia de Malala, chamada “Eu, Malala - a minha luta pela liberdade e pelo direito à educação”, que foi banida das escolas privadas do Paquistão por má influência e desrespeitar o islão. Malala gostaria de voltar à sua terra natal e se imagina como primeira-ministra, seguindo o exemplo de Benazir Bhutto.

Imagem retirada da página do Facebook Aurélia. (AURÉLIA, 2015a).

3.3. Agência das artes visuais

Ao visualizar uma imagem, pode-se absorver inúmeras mensagens e além disso, a própria imagem pode transferir uma ideia que nela foi depositada. De acordo com Alfred Gell, para entender melhor sobre essas mensagens, seria necessário tratar a obra como parte das relações sociais, na justificativa de que os objetos de arte possuem uma ação social sobre as pessoas. Ou seja, esses objetos possuem uma agência passiva, que foi depositada neles e/ou creditada a eles por aqueles com quem se relacionam.

Essas obras foram construídas com a intencionalidade do artista, essa intencionalidade é precipitada no objeto, que começa a emanar essa agência passiva, que atua sobre outras pessoas. Sendo assim, entrar em contato com um objeto de arte, é estar sujeito às influências dele.

A ideia de agência é uma estrutura culturalmente prescrita que serve para pensar sobre a causalidade, quando se supõe que um acontecimento foi (em um sentido vago) pretendido de antemão por alguma pessoa-agente ou coisa-agente. (GELL, 1998).

Como foi dito acima, a intenção de Cecília ao criar o Dicionário Aurélia foi de, principalmente, empoderar o sexo feminino, essa intencionalidade foi colocada nas suas ilustrações que quando acessadas podem transmitir essa agência. Podemos observar essa influência quando mais de 2 mil mulheres escolheram acompanhar as publicações da página do Facebook e, além disso, curtem, ato que mostra efeito entre pessoa e objeto; opinam, comentando, ou sugerindo novas personalidades; e compartilham, fazendo essa mensagem, inserida nas ilustrações, se propagar.

Cecília Silveira, tendo intenções por trás da criação de suas ilustrações, se torna uma agente social. Sendo suas criações os agentes secundários que carregam em si a agência, ou seja, as intenções de Cecília.

Como agentes, eles não estavam exatamente onde seus corpos estavam, mas em muitos lugares (e tempos) diferentes simultaneamente. Essas minas eram componentes de sua identidade como pessoas humanas, tanto quanto suas impressões digitais ou as ladainhas de ódio e medo que inspiraram suas ações. (GELL, 1998).

No projeto Dicionário Aurélia, Cecília Silveira expõe seu objetivo de empoderar e dar visibilidade às mulheres. Essas intencionalidades possuem conexões com os processos culturais em que a autora se identifica, fazendo do seu objeto artístico, também uma objetificação desses processos culturais. Suas obras, portadoras dessa intencionalidade, são componentes da identidade de Cecília. Espalhadas pela internet, elas carregam em si pedaços de sua personalidade, seja em relação a suas experiências como mulher, ou como a necessidade de representação, essas características estão instaladas nas suas ilustrações, como se partes da artista estivessem espalhadas no meio digital, disponíveis no espaço e tempo, o que Gell chama de “personitude distribuída”. E entrar em contato com esses objetos, é também estar em contato com a personalidade de sua criadora. Essas imagens, compartilhadas pelo Dicionário Aurélia, emanam a agência passiva, citada por Gell, logo, as pessoas que curtiram a página na internet, ao visualizarem essas ilustrações, estarão sujeitas às suas influências.

Os desenhos, ao terem sido fabricados, além de possuírem índices de quem os fabricou, indexando suas origens, ele também tem a capacidade de indexar a recepção de um público para o qual foi destinado, sendo ressignificado, e portando não somente uma significação do seu ato de fabricação, mas também de com quem se relacionou. Esses artefatos, quando criados, se tornam objetificações de certas apropriações culturais. Objetificam processos culturais. Quando o consumidor se apropria de um objeto, pode recontextualizá-lo de acordo com o os seus próprios sentidos e significados. As ilustrações de mulheres importantes criadas com a intenção de conscientizar sobre igualdade de gênero, possui além dessa significação, também a do seu receptor, que, no caso do Aurélia, o público ao qual foi destinado, são mulheres, que podem ressignificar essas ilustrações ou simplesmente, acrescentar significados a elas, podendo serem vistas como um exemplo, motivação ou uma abertura para a fala da mulher etc.

Assim, como qualquer objeto de arte indexa suas origens na atividade de um artista, ele também indexa sua recepção por um público, o público ‘para’ o qual ele foi particularmente feito. (GELL, 1998).

Visto que a representação numa arte visual só se dá através do reconhecimento, entrar em contato com uma ilustração do Dicionário Aurélia sem ter acesso a alguma informação, não seria consideravelmente eficaz. Junto com a imagem vêm sucintas informações, como o nome da figura feminina, seu local e ano de nascimento e também o link para sua biografia, o que já poderia ser necessário para instigar sua leitura. Mas, além das informações disponíveis na página do Facebook para uma descrição mais detalhada do projeto, existe ainda a possibilidade de fazer comentários nas imagens compartilhadas, que possibilita essa troca de informações, favorece o reconhecimento e assim, a representação.

Só se pode falar de representação na arte visual onde há semelhança suscitando o reconhecimento. Há situações em que pode ser necessário explicitar para alguém que determinado índice é uma representação icônica de um sujeito pictórico particular. O “reconhecimento” pode não ocorrer espontaneamente, mas, uma vez que a informação necessária é fornecida, os sinais de reconhecimento visual devem estar presentes; do contrário, o reconhecimento não se concretiza. (GELL, 1998).

Podemos então pensar essa arte digital como veículo de significados que foram colocados no objeto pelo seu autor, como propõe Gell sobre agência passiva dos artefatos. A ilustração digital tendo sido criada com intencionalidade, possui essa agência passiva, que emana para seus observadores, e está sujeita a suas interpretações. Esta seria também responsável por uma carga cultural imposta por quem a criou e se ela for reconhecida por com quem se relaciona, se torna efetiva ao transmitir essa agência.

O meio digital, onde essas ilustrações foram disponibilizadas, proporciona às leitoras uma forma de comunicação mais recíproca, tendo a liberdade de comentar e propor novas personalidades para serem ilustradas e abordadas. Criando essa comunicação de mão dupla, como consumidoras desse tipo de conteúdo e também como opinantes, as mulheres podem ter voz para contar suas próprias histórias de acordo com suas perspectivas.

Comentários de suas usuárias. Imagem tirada da página do Facebook Aurélia. (AURÉLIA, 2017a).

3.4. Movimentos sociais na internet

Como visto anteriormente, a representação só se dá através do reconhecimento, e a partir das informações disponibilizadas no Aurélia sobre as mulheres ilustradas pode-se reconhecer e assim permitir uma representação. Partindo desse ponto, baseando essa perspectiva na fala de Manuel Castells de que todo comportamento humano é emocionalmente motivado, pode-se, então, pensar que, ao se deparar com alguma ilustração, que já possui o intuito de representar, sendo acertadamente reconhecida por seus espectadores, emoções possam surgir.

De fato, a mudança social envolve uma ação individual e/ou coletiva que é, em sua essência, emocionalmente motivada, da mesma forma que todo comportamento humano, segundo recente pesquisa em neurociência social². (CASTELLS, 2012).

Uma imagem é capaz de passar sentimentos, e esses podem inibir ou estimular algo em seu espectador, podem influenciar pessoas a fazerem parte de algo, de um propósito do qual acreditam, por raiva, ou por esperança. Esses sentimentos são combustíveis para uma possível mudança. Uma imagem no qual o observador se reconhece, defende seus interesses, do qual ele entende, ou se sente parte, estimula, não só emoções, como também o compartilhamento. Esse compartilhamento impulsiona o nascimento, como também, a morte, de um movimento.

Essas ilustrações podem ter capacidade de exercer a representatividade das mulheres, mostrando sua força, sua importância e, através disso, desse sentimento de pertencimento, faz com que as usuárias compartilhem também essas histórias. Essa ação do compartilhar chama outras pessoas, que se sintam representadas, para participar desse movimento, essa é uma característica importante que as redes sociais podem proporcionar, o compartilhamento de informações sobre as personalidades ilustradas, representatividade das mulheres e com isso, a continuação do movimento.

No Aurélia, os desenhos são usados como atrativo para uma leitura mais profunda sobre a biografia da personalidade retratada, é necessário que o observador se reconheça primeiro na imagem para que, então, leia o texto. O reconhecimento ao visualizar a imagem, pode ser desenvolvido por sentimentos de esperança, raiva, medo, e está profundamente ligado ao processo cultural do qual aquela pessoa pertence. Esses sentimentos levam a uma ação, a efetivação da intencionalidade da autora, a continuação do projeto e, também, como a parceria com projetos semelhantes que visam realizar o mesmo objetivo.

Imagem da parceria realizada entre o Aurélia e o Festival Feminista de Lisboa. Imagem retirada da internet. (MULHERES, 2019).

Castells conta que os movimentos sociais são induzidos pela desconfiança em instituições políticas, o que pode levar as pessoas a se sentirem injustiçadas e com isso, tentarem soluções com as próprias mãos, podendo haver uma ação coletiva para que alguma mudança aconteça de acordo com as suas demandas. E isso pode ser considerado um risco, porque a ordem social e estabilidade das instituições políticas expressam relações de poder. Com isso, seria necessária alguma emoção que ajudaria a superar o medo e a desafiar esses poderes, apesar do perigo. A mudança social envolve uma ação que é emocionalmente motivada. A raiva impulsiona uma atitude. O medo inibe, desenvolve a ansiedade e, com isso, leva ao comportamento de evitar o perigo. Porém, pode ser superado pelo compartilhamento e pela identificação com o outro, fazendo a raiva assumir o controle e assim, tomando atitudes de risco.

Desta forma, é possível entender que movimentos sociais a favor das mulheres tenham nascido de algum sentimento de injustiça, fazendo com que elas se unissem para conquistar seus propósitos. Da mesma forma que o Aurélia surgiu, partindo de situações de iniquidade, mulheres se reuniram nesta plataforma, para debates e conversas de apoio, para que se sentissem pertencentes de uma luta, reconhecendo e ultrapassando seus medos, para que, assim, um sentimento de coragem tomasse conta e, com isso, mudanças pudessem ser feitas.

Da mesma forma que mulheres foram influenciando mulheres, dentro dessas redes, para que seus objetivos fossem cumpridos, movimentos foram inspirando novos movimentos através de exemplos e gerando sentimento de esperança de uma transformação social. A rede capacitou esse contato, com sua facilidade de acesso e rapidez, acelerando esse processo de interação entre pessoas para que pudessem se comunicar e se unir para o cumprimento de seus objetivos.

Esses movimentos podem ganhar força através do compartilhamento nas mídias. A rede social, sendo um local de sociabilização horizontal, pode proporcionar uma comunicação mais fluída entre os usuários, podendo compartilhar suas experiências e se identificarem uns com os outros. Esse ato de compartilhar pode unir grupos que possuem o mesmo propósito, servindo de exemplo para outros grupos e chamando outros usuários para se unirem ao movimento. A tecnologia facilita o processo de mobilização social e assim, de uma mudança social.

Mas movimento sociais não nascem apenas da pobreza ou do desespero político. Exigem uma mobilização emocional desencadeada pela indignação que a injustiça gritante provoca, assim como pela esperança de uma possível mudança em função de exemplos de revoltas exitosas em outras partes do mundo, cada qual inspirando a seguinte por meio de imagens e mensagens em rede pela internet. Além disso, a despeito das profundas diferenças entre os contextos em que esses movimentos surgiram, há certas características que constituem um padrão comum: o modelo dos movimentos sociais na era da internet. (CASTELLS, 2012).

Com essa iniciativa e muitas outras que possuem o mesmo propósito, disponíveis na web, o contato com a história de figuras femininas se torna acessível, esclarece sua participação e dá espaço às suas falas. Usar da internet pode ser adequado para se alcançar um grande número de pessoas, passar informação e dar mais oportunidades para as mulheres opinarem. Através dessa nova metodologia do “contar” pode-se proporcionar uma visão feminista da história.

3.5. Estética das artes da mídia digital

A estética não é só o estudo do belo e da arte, mas também está ligada a experiência do sensível. Aesthesis vem do grego e significa: aquilo que é sensível e deriva dos sentidos. Para Kant a experiência do belo se manifesta no plano sensível e é uma experiência autônoma, ou seja, que independe de qualquer outro interesse como a moral e a ética. A beleza estaria na atitude desinteressada do sujeito. A estética seria uma espécie de conhecimento relacionado à sensibilidade.

As primeiras teorias estéticas privilegiaram o estudo sobre o objeto de arte em si, mais do que o sujeito que entra em contato com esse objeto. Esse objeto é muito mais definido pelo sentimento que ele causa no sujeito do que pelas suas qualidades intrínsecas, por exemplo. Apenas depois da Idade Moderna que isso muda.

A tecnologia era vista como prejudicial para o mundo das artes, por ser algo mecânico achava-se insensível. Como a arte tecnológica podia se reproduzir, acreditava-se que tinha somente o âmbito de vender como uma forma de negócio e, assim, perdendo seus princípios estéticos. Como se os mecanismos técnicos causassem o fenômeno da perda da aura das obras de arte, essencial no processo de produção artística. A reprodutibilidade faria com que o caráter intrínseco do objeto de perdesse, bem como sua relação com seu produtor e seu receptor.

Os meios de comunicação e as formas de reprodução fazem com que haja uma desintegração da aura do objeto. Com isso, perde-se a autenticidade e unicidade da obra. Mas, ao mesmo tempo, enquanto se perde seu valor culto e sua aura, adquire-se acessibilidade. Por não se ter mais uma existência única, ganha-se a qualidade de acessar a todos. Ao contrário do “objeto aurático” (ARANTES, 2019) em que há o distanciamento, na arte tecnológica há uma aproximação entre o objeto e o seu observador, pois ela não está localizada em seus lugares habituais, como museus e galerias, ela está ao alcance do seu receptor, no seu espaço cotidiano.

Além dessa aproximação, a tecnologia foi capaz de trazer algo que Walter Benjamin chama de “inconsciente óptico”, uma nova forma de se observar o mundo proporcionada somente pela arte tecnológica e que aos olhos são imperceptíveis, como uma dissecação da realidade:

O mágico e o cirurgião estão entre si como o pintor e o cinegrafista. O pintor observa em seu trabalho uma distância natural entre a realidade dada e ele próprio, ao passo que o cinegrafista penetra as vísceras dessa realidade. (BENJAMIN, 1931).

A questão principal, não seria tanto a tecnologia poder corrigir o olhar e a percepção humana, mas que, através dessa nova forma de arte, pode-se ver um novo real antes invisível, podendo mudar, assim, sua percepção do mundo.

A partir disso, se vê necessário redefinir o papel da estética do meio digital, que não fosse relacionada a beleza ou a verdade, mas ligadas a “informações estéticas mensuráveis matematicamente” (ARANTES, 2019). Para Mario Costa a estética das mídias estaria muito mais preocupada com as formas de comunicação que se desenvolvem nas manifestações artísticas (ARANTES, 2019), se distanciando do pensamento do objeto estático. Enquanto que, para Peter Weibel, as artes tecnológicas se encontram em uma visão mais sistêmica, com isso, a estética centrada no objeto se desloca para uma estética centrada nas situações relacionais, cessando a divisão entre sujeito e objeto. Longe do pensamento de obra acabada, a arte das mídias digitais seria dinâmica, interativa, onde sujeito observador e objeto não poderiam ser separados. Assim, a arte digital é percebida pela forma que interage com seu receptor.

Tendo isso em mente, Priscila Arantes surge com o termo Interestética, a estética da interface, mas, além disso, como o prefixo indica, se refere a troca e ao fluxo de informações. Ela propõe, então, que a obra interfaceada é muito menos obra acabada e muito mais uma criação em processo exposta na interface para que seja complementada por suas relações com o “interator” (ARANTES, 2019). Pensar a arte tecnológica a partir de uma visão sistêmica é entender que ela não é uma obra fechada, mas em desenvolvimento. Ela só pode ser entendida por meio dessas interações que se cria através do computador e o receptor.

A produção artística sempre foi estabelecida como imitação da natureza. Com a crise desse conceito, houve o questionamento à idealização da admiração do sujeito pelo objeto. Para reforçar mais ainda essa ideia, vieram as artes participativas, mostrando que a relação entre público e obra era extremamente importante. Além disso, para continuar com essa proposta, as artes das mídias digitais evidencia que a obra se realiza a partir das suas relações com o público.

A interestética, portanto, deve ser vista como uma estética híbrida que dilui os limites, trazendo para seu interior as inter-relações e interconexões com outras áreas do saber. É uma estética que rompe com qualquer idéia de fronteira rígida entre perto e longe, artificial e natural, real e virtual. Em suas diferentes manifestações, a partir dos trabalhos de telepresença, net-arte, realidade virtual ou vida artificial, a interestética revela uma forma de compreensão da arte na qual as searas se misturam e se hibridizam continuamente. (ARANTES, 2019).

Essas obras de arte digitais possibilitam parar um segundo para uma reflexão dentro de um universo da instantaneidade e da velocidade, realizando uma comunicação com os internautas, agindo de forma contrária aos excessos do meio digital. As funções da arte tecnológica seriam “transformar em forma poética as questões que afligem o homem na sociedade contemporânea”. (ARANTES, 2019).

A sociabilidade humana se dá através de redes de diálogo, como sistemas de linguagem. A arte, existindo nessa rede, faz parte desse meio, com isso, não podendo ser algo autônomo, independente da percepção do sujeito. Esse pensamento vai contra o conceito de estética tradicional, onde se vê como possível encontrar valor estético objetivo fora do sujeito e da obra.

Podem existir diferentes definições da arte já que dependem da própria aceitabilidade de cada observador. Com isso, pode-se dizer que, não há somente uma única e definitiva explicação sobre a arte.

O observador (ou a comunidade) é quem aceita ou recusa uma manifestação como formulação de um critério implícito ou explícito de aceitabilidade aplicada a partir de sua maneira de entender. Logo, a inclusão ou não de uma obra ou ação no domínio da arte, assim como no sentido estético conferido a essa obra ou ao conjunto de manifestações artísticas, é uma operação feita pelo observador (seja este o realizador ou não da obra ou ação) ou pela comunidade. (GIANNETTI, 2002).

É o observador quem aceita uma obra, então, ela somente é incluída nos critérios artísticos e nos sentidos estéticos por quem a observa e de acordo com seus próprios critérios. Assim, o domínio da arte é um consenso entre os membros de uma sociedade, sendo dependentes de uma relação sociocultural. Com isso, a teoria estética deveria basear-se nas questões “inter-relacionais”. (GIANNETTI, 2002)

Giannetti fala da arte como uma criação livre da mente humana, como reflexão sobre o mundo e diferentes explicações sobre o meio que a obra e o sujeito vivem. Com a criação de uma obra, estamos sujeitos a interação com outras pessoas e suas realidades, esse diálogo dá lugar ao intercâmbio de informações. “A arte, ao se valer desse processo, assume a finalidade de Weltveränderung, de transformação do mundo como dilatação de nossas realidades[...]” (GIANNETTI, 2002). Essa interação, através da arte, é capaz de oferecer uma nova experiência sensitiva e cognitiva.

É através da capacidade emocional do sujeito que é definida a sua forma de dialogar. Mudanças emocionais podem acarretar mudanças na sua base de argumentos racionais, não podendo uma ser separada da outra. Assim, abordar sobre arte, não seria somente uma experiência racional. As emoções e a experiência sensorial presentes na interação com uma obra são inseparáveis do processo dialógico. (GIANNETTI, 2002).

Com isso, Giannetti formula a hipótese de que a função da arte seja a transformação do mundo através dessa expansão da realidade e, assim, de nosso conhecimento e experiências. Essa transformação se daria a partir de interações e de como elas são feitas mediante o estado emocional no qual os sujeitos se encontram.

Fatou Diome, imagem tirada do Tumblr do Aurélia. (AURÉLIA, 2015b).

A comunicação, vinda primeiramente do objeto, não poderia ser algo que impusesse aceitação dos observadores, já que, de acordo com Giannetti, existem muitas realidades e todas são igualmente válidas. O receptor da obra pode captar a mesma mensagem transmitida por fazer parte da mesma realidade, ou se encontrar em uma realidade diferente, onde pode haver a hipótese de agir negativamente ou com indiferença. Consequentemente, a obra não poderia impor uma mensagem sobre o observador e esperar que seja aceita e compreendida, pois, dessa forma, não haveria comunicação, seria somente um discurso. Ela, então, deveria agir como um chamado para uma nova percepção de mundo e através disso, criar a possibilidade de transformação de um novo sentido de conhecimento.

[...] alguns desses fundamentos podem ser resumidos nas seguintes idéias: as explicações da arte são constitutivamente não reducionistas e não transcendentais; a função de arte é a dilatação de nossa(s) realidade(s), conhecimentos e experiências; esse processo pode se realizar de forma dialógica ou consensual (sedução) ou por meio da canonização (controle ou coação). (GIANNETTI, 2002).

A interação entre observador e objeto deveria, então, ser considerada uma capacidade inerente ao ser humano, já que o observador não pode ser colocado independentemente do meio com o qual se relaciona, podendo se relacionar tanto com uma obra quanto com esse meio. Com isso, a observação não pode existir sem o observador, uma vez que ela nasce dessa interação sujeito-objeto. O processo de interação de uma obra só pode ser analisado e compreendido como uma forma de comunicação a partir de um certo contexto. Do ponto de vista da Endoestética (GIANNETTI, 2002), a obra virtual só possui esse domínio por sua interação contínua com o observador e não é capaz de existir de forma autônoma, visto que está sempre sujeita à contribuição do receptor.

A questão seria, que nós, humanos, fazendo parte desse universo, não poderíamos observar de fora sem sermos subjetivos. O estudo baseado nessa Endoestética permite a criação de espaços virtuais, como uma expansão do nosso mundo real, como ele poderia ser, talvez nos ajudando a entender as consequências de nossas ações no nosso próprio meio, com uma perspectiva de fora sobre situações recorrentes ao espaço de dentro.

Para aproximar-se de forma externa a modelos de mundo, a Endofísica propõe trabalhar como exomodelos (modelos externos) de endossistemas (sistemas internos), utilizando, para isto, instrumentos como os computadores. (GIANNETTI, 2002).

Com isso, buscar o sentido da arte digital e suas estéticas nos levaria a entender como, através da sua própria linguagem, é possível criar um diálogo com quem observa e, portanto, expandir a percepção humana do outro.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendeu-se, por intermédio deste trabalho, levantar reflexões em torno da representatividade feminina por meio das ilustrações digitais de Cecília Silveira, no Dicionário Aurélia e sua contribuição para o movimento feminino na web. Visto que, através da história, a narrativa feminina foi deixada à parte, uma nova forma de contar se mostrou necessária.

Propôs-se, como objetivo geral, buscar entender a ilustração digital como um possível veículo da sensibilidade através dos movimentos femininos, analisando sua capacidade de estimular alguma mudança social referente a visibilidade da mulher. Levando em consideração uma nova teoria estética, relacionada às artes digitais que aborda sobre as questões emocionais estarem atreladas aos processos dialógicos, pode-se pensar na experiência do sensível vinculada às ilustrações digitais quando há interação com seus receptores, uma vez que a ação humana seria racional e, ao mesmo tempo, emocional. Assim, falar sobre arte também seria uma experiência sensitiva, ou seja, as emoções presentes na interação com a obra são inseparáveis do processo dialógico.

Posto que, a partir das relações sócio-culturais surge o domínio da arte, por meio de um consenso social e que, a teoria estética da artes digitais deveria, então, basear-se nessas questões relacionais, que são intrínsecas ao indivíduo e ligadas ao emocional, supõe-se que, por intermédio da obra, cria-se um diálogo entre observador e criador, possibilitando uma interação sensitiva. Essas relações, ligadas ao sensível, podem ser um veículo para uma mudança através de movimentos sociais em rede, mediante a uma mobilização. A interação com a arte digital funcionaria como mais um instrumento do processo de criação da obra, como a tinta, ou um pincel, onde sua comunicação não fosse considerada somente uma consequência, mas como parte essencial dela e para seu continuar, sendo uma obra inacabada que estaria sempre em construção pelas relações que cria. E a expansão da visão sobre o mundo se daria por meio dessa interação continuada, através dela seria possível enxergar o outro, possibilitando a empatia, em um espaço que possibilita compartilhamento interminável.

Com isso, movimentos femininos, como o Dicionário Aurélia, que possuem o intuito de representar as mulheres, mobilizam indivíduos que se sintam sensibilizados pelo seu propósito, através das ilustrações digitais e, recontam, juntas, a História de uma perspectiva feminina, exprimindo suas vozes, criando uma nova metodologia do contar, exercendo a representatividade.

Através dessas imagens, o Aurélia pôde proporcionar uma forma de questionamento de como e por quem o passado foi contado, mudando conceitos criados por homens para definir mulheres, dando visibilidade para o público feminino e evidenciando características, que foram ditas masculinas, em personalidades femininas, como pensadoras, revolucionárias, criadoras e donas da sua própria história no intuito de reverter papéis extremos da prostituição e da dona de casa, tão distantes, mas que possuíam o mesmo propósito, enaltecer e servir aos homens.

Como uma lavanderia, a comunidade digital põe a fala feminina em evidência, mais importante que o espaço em si, contrariando a concepção de que mulheres estão destinadas ao silêncio, elas escrevem "lavando" antigos paradigmas e, através dessa expressão, exercem seu papel de pessoa pública e seu direito à cidadania, como participantes da vida em sociedade.

Refletindo sobre o meio digital e suas possibilidades, seria interessante pensar sobre seus mecanismos e a forma como são utilizados hoje em dia. Dentre incontáveis situações de violência, protegidas pelo anonimato e distanciamento oferecidos pela internet, pode-se, através das reflexões oferecidas neste trabalho, pensar em outras maneiras desse veículo ser utilizado para a expansão da percepção humana do outro. Movimentos femininos, encontrados na rede, inspiram novos movimentos, se solidificam e crescem através da comunicação e compartilhamento de suas ideias e imagens, movidos pelo sentimento de esperança para uma futura mudança. Diante de tanto ódio espalhado na web, por meio do sensível das artes, pode-se tornar o espaço digital um local de busca por um propósito e, assim, a possibilidade de uma transformação da realidade. A função da arte tecnológica seria transformar em forma poética as questões que afligem a mulher na sociedade contemporânea.

Este trabalho focou em questões em torno das ilustrações digitais nos movimentos femininos, porém a proposta apresentada não se aplicaria somente para este tipo de movimento, podendo, também, ser considerada a realização de um estudo do sensível em novas formas de expressões artísticas digitais que possuem diferentes propósitos sociais. Além disso, seria interessante realizar uma busca sobre diferentes formas que o meio digital poderia favorecer essas mudanças.

O curso de Produção Cultural de Rio das Ostras, que estuda a estética em torno das artes e a problemática do acesso a produções artísticas, poderia investigar mais a fundo a estética das artes tecnológicas presentes em um espaço virtual que possibilita tal acessibilidade. E estudar o meio digital como uma plataforma eficiente na distribuição de informação e aproximação do público com a arte. Podendo, também, basear-se em autoras, pensadoras, não somente desse meio, como a Priscila Arantes e a Cláudia Giannetti, mas, inclusive, de outras áreas, dando visibilidade para seus trabalhos e, ainda, demonstrando representatividade para suas alunas e futuras produtoras culturais.

Assim como essas proposições, para desenvolver este trabalho, foram utilizadas, maioritariamente, referências bibliográficas de autoria feminina para, de fato, praticar o que aqui está sendo proposto: criar representatividade, debater padrões impostos e dar visibilidade para as mulheres. Além disso, para a conclusão prática desta monografia, foi utilizada da internet para a criação de um grupo de alunas do curso de Produção Cultural - Rio das Ostras, inscritas na matéria de Trabalho de Conclusão de Curso II, para que, juntas, discutissem e finalizassem seus respectivos trabalhos. Criou-se, então, mais um espaço de fala de mulheres para sua união e alcance de seus objetivos. E que, dessa forma, a internet possa ser utilizada para expandir nosso olhar sobre o outro, por meio da interação, possibilitando uma transformação cultural.

5. REFERÊNCIAS

ANASTASSAKIS, Zoy. Apontamentos para uma antropologia do design. In: 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, 2008, Porto Seguro, Bahia, Brasil.

ARANTES, Priscila. Arte e mídia: perspectivas da estética digital. Senac, 2019.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

GIANNETTI, Claudia. Estética digital: Sintopia da arte, a ciência e a tecnologia. L'Angelot, 2002.

GELL, Alfred. Arte e agência. Ubu Editora LTDA-ME, 2018.

LEAL, Tatiane. Elas merecem ser lembradas: feminismo, emoções e memória em rede. Intercom-Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 40, n. 2, 2017.

PERROT, Michelle; FERREIRA, Roberto Leal. Mulheres públicas. São Paulo: Editora Unesp, 1998.

RAGO, Margareth. Adeus ao feminismo? Feminismo e (pós) modernidade no Brasil. Cadernos Ael, v. 2, n. 3/4, 1996.

5.1. Digitais

AURÉLIA. Facebook, 2015a. Disponível em: . Acesso em: 15 de julho de 2019.

AURÉLIA. Tumblr, 2015b. Disponível em: . Acesso em: 15 de julho de 2019.

CLAUDE Cahun. Disponível em: . Acesso em: 13 de outubro de 2019.

CLAUDIA Giannetti. Disponível em: . Acesso em: 01 de novembro de 2019.

CLUB patriotique des femmes. Disponível em: . Acesso em: 26 de outubro de 2019.

HOMME et femme sous un parapluie. Disponível em: . Acesso em: 26 de outubro de 2019.

LE cercle. Disponível em: < https://www.akg-images.com/archive/Le-cercle-2UMDHUHRGN48.html>. Acesso em: 26 de outubro de 2019.

LE repos. Disponível em: . Acesso em: 27 de outubro de 2019.

LUZIA Margareth Rago. Disponível em: . Acesso em: 31 de outubro de 2019.

MULHERES Feministas. Disponível em: . Acesso em: 06 de novembro de 2019.

O poderoso discurso de Madonna ao ser eleita mulher do ano. Disponível em: . Acesso em: 11 de outubro de 2019.

PRISCILA Arantes. Disponível em: . Acesso em: 01 de novembro de 2019. 


Publicado por: Nicole Marega Coutinho

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