FORMAÇÃO DO ETHOS DISCURSIVO NO DISCURSO DE POSSE DA PRESIDENTA ELEITA: DILMA ROUSSEFF

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1. RESUMO

MARINHO, Daciléia Pereira. Formação do Ethos Discursivo no discurso de

Dilma Rousseff. Belém, 2012. Trabalho de Conclusão de Curso, Pós-Graduação “Lato Sensu” em Língua Portuguesa e Literaturas, Faculdade Integrada Brasil Amazônia - FIBRA

O objeto de estudo deste artigo é o discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff, primeira mulher eleita chefe de Estado da nação brasileira, outrora, comandada, exclusivamente, por homens desde sua concepção. O discurso em análise é datado de 01 de janeiro de 2011. Foi proferido no Congresso Nacional e ouvido atentamente por uma bancada selecionada, por outros Chefes de Estados, figuras ilustres da sociedade mundial e o povo em geral, que lotou a parte exterior do Congresso Nacional. Esse é um momento único que possivelmente marcou e marcará para sempre a história deste país. Pois pela primeira vez uma mulher chegou ao poder, deixando para trás todos os concorrentes, com quem travou embates políticos para chegar ao poder. Na sua fala, Dilma Rousseff alicerçou seu discurso em um Brasil, que mudou e continuará mudando, porque seu discurso dialoga com o discurso de seu partido político (PT), representado por seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva, que fora imprescindível para que a presidenta chegasse ao poder supremo no cenário político brasileiro. O termo presidenta será mantido em todo o trabalho, para enfocar o papel da mulher nesse cenário permeado por homens. É importante ressalvar que a pesquisa fora sedimentada teoricamente na Análise do Discurso de linha francesa. O artigo será alicerçado na concepção de Ethos discursivo, Cenas de enunciação, concepções de sujeitos e o poder persuasivo que permeia o discurso em análise, haja vista que todo discurso é movido por um poder tenaz em convencer o outro em crer no que está sendo proferido. O foco principal do artigo é fazer uma análise qualitativa que congregue as concepções teóricas que fundamentaram o trabalho.

Palavras-chave: AD. Ethos discursivo. Cenas de enunciação. Sujeito

2. INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste trabalho é trazer para o cerne da pesquisa uma abordagem sobre ethos discursivo, cenas de enunciação e o sujeito presentificado no discurso em questão. Trabalhar-se-á com a formação de cenas de enunciação presentes no discurso de Dilma Rousseff, haja vista que o discurso é recoberto por três cenas de enunciação. Está concepção se alicerçara na abordagem de Maingueneau (2011).

O artigo foi estruturado de acordo com a proposta do trabalho, que é fazer uma abordagem concisa e pertinente sobre Análise do Discurso, doravante AD, a formação do ethos discursivo concebido no discurso da presidenta eleita, cenas enunciativas e concepção de sujeito. Para essa análise é importante mencionar que o ethos discursivo dá-se no âmbito do próprio discurso; nessa perspectiva os antigos designam como ethos discursivo uma imagem de si capaz de persuadir seus interlocutores.

Com a referida pesquisa, pretende-se descortinar os argumentos imbuídos nas entrelinhas do discurso analisado capaz de persuadir os interlocutores, que, nesse sentido, se voltou para a classe dos trabalhadores, assim como as demais parcelas da sociedade, aqui, representada por estudantes, por empresários, pela imprensa e os intelectuais, realçando a importância da mulher brasileira nesta conjectura política.

Falar em AD é trazer para o escopo da pesquisa temas centrais que norteiam e sedimentam essa área de conhecimento. Considerando a relevância desses para a concepção do trabalho. A pesquisa volta seu olhar para uma concepção teórica que lhe serviu como alicerce e fundamentação.

Dentre as fundamentações, tem-se uma concepção da AD e seu percurso metodológico, a formação das cenas enunciativas, a concepção de ethos discursivo na perspectiva do filósofo grego Aristóteles, tendo em vista a relevância de seu estudo a esse respeito, assim como a concepção de sujeito dentro das três fases da AD. Posto que não se pode deixar de abordar tais assuntos, visto a relevância destes para o trabalho.

2.1. DESENVOLVIMENTO

2.1.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A análise do Discurso, doravante AD, surgiu na França, no final da década de 60, principalmente, em torno da obra de Michel Pêcheux e Jean Dubois, com o objetivo de explicitar os mecanismos discursivos que deram embasamento à produção de sentido.

Falar em AD é adentrar em um instigante campo do conhecimento relacionado à linguagem; é desnudar o caráter discursivo que perpassa todo enunciado, que é produzido com a finalidade de persuadir o interlocutor, que, para esse fim faz uso de mecanismos capazes de interagir com o outro.

A AD foi influenciada pelo linguista norte americano Z.S.Harris, que assim se pronunciara, fazendo um confronto desse campo de conhecimento com a linguística.

Análise do discurso dá uma multiplicidade de ensinamentos sobre a estrutura de um texto ou de um tipo de texto, ou sobre o papel de cada elemento nessa estrutura. A linguística descritiva descreve apenas o papel de cada elemento na estrutura da frase que o contém. A AD nos ensina, além disso, como um discurso pode ser construído para satisfazer diversas especificações, exatamente como a linguística descritiva constrói refinados raciocínios sobre os modos segundo os quais os sistemas linguísticos podem ser construídos para satisfazer diversas especificações (Harris, 1952 apud MAZIÉRE, 2007, p.07).

Antes de adentrar no campo de estudos da AD, faz-se necessário expor de maneira clara e objetiva as nuanças que compõem essa linha de pesquisa que, desde o limiar de suas investigações, teve um caráter interdisciplinar. Logo, é indispensável compreender a gênese desse estudo, para uma compreensão aprofundada.

O florescimento da AD deu-se em um espaço histórico permeado pela emergência de grandes mudanças no contexto da linguística, assim como, da sociedade como um todo.

Segundo Maldidier (1994), os precursores da AD foram Dubois (1970/1971), um linguista lexicólogo, que direcionara suas pesquisas para compreender os meandros da linguística, e o filósofo Pêcheux, que direcionara seus estudos a partir de uma releitura da obra de Marx feita pelo, também, filósofo Althusser(1970). Tem-se, ainda, dentro dessa abordagem o próprio Althusser(1970) que apresenta uma releitura da obra de Marx.

Em meio a esse preâmbulo de conhecimento, Althusser (1970) faz uma divisão da produção das ideologias em teorias: “Teoria das ideologias particulares” e “Teoria da ideologia em geral”. Para ele, a segunda deveria dar conta de evidenciar os mecanismos pelos quais as ideologias particulares se apropriam, pois são essas ideologias que determinam as relações de produção comum a todas as ideologias. Nessas abordagens teóricas, é importante salientar que o filósofo Foucault(1969) teve uma participação significativa no estudo da obra de Marx, todavia os teóricos concebiam-na com viés distinto. É da concepção foucaultiana a formação discursiva ou FD, isto é, o desempenho da linguagem em cada enunciado e formação ideológica, ou FI. É em meio a essa conjuntura política e ideológica que a AD amplia seus estudos.

De acordo com as pesquisas, AD apresenta três fazes significativas, que corroboraram para o desenvolvimento teórico científico de seus trabalhos: AD1, AD2 e AD3 respectivamente.

A primeira fase, (AD-1) trabalha uma análise de discursos mais “estabilizados”, pois, aqui, evidenciam-se, segundo as perspectivas dos analistas, discursos não tão polêmicos, uma vez que esses têm uma carga menor de significados, ou seja, uma menor abertura no que tange à variação de sentido, porque ocorre um silenciamento do outro. Nessa fase, eclodiu a noção de máquina ideológica, por meio da qual os processos discursivos são gerados. Como exemplos desses processos discursivos têm-se: manifesto comunista, manifesto liberal, e etc.

No que se refere (AD-2), o conceito de uma máquina de estrutura fechada começa a dirimir-se. Inicia-se o conceito de formação discursiva, doravante FD, pinçada do filósofo Foucault (1969), no qual esse processo vai desaguar na transformação da concepção do objeto da AD. Para Foucault (1969), a FD é “um conjunto de regras anônimas no tempo e no espaço que definiram uma época dada, e para uma área social, econômica, geografia ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa”.

De acordo com que fora abordado acima, uma FD é responsável pelo que pode ou não ser dito, haja vista que ela parte de um lugar determinado socialmente. Uma FD é formada por certa regularidade, pois concebe regras de formação, é um mecanismo de controle (FOUCAULT, 1969), que vai determinar o interno, ou seja, o que pertence, e o externo, isto é, o que não pertence a uma FD. Compreende-se que uma FD é sempre interpelada por outra FD, isto é, toda FD pertence a um espaço construído, que são os discursos que vieram de outros lugares.

Portanto, na fase AD2 não se pode conceber a ideia de estrutura fechada, pois o espaço de uma FD é sempre permeado por outras formações discursivas, de um feito que nessa fase, os olhares voltam-se para as relações entre as “máquinas discursivas”.

Diferentemente da AD1, em que se deu a construção de máquinas discursivas, e a AD2, em que se ampliam tais conceitos, A AD3 propõe, a desconstrução dessas máquinas discursivas, assim adotando a perspectiva, segundo a qual, os discursos que atravessam a FD, não se constituem independentemente um do outro, uma vez que esses são regulados por outros discursos, interdiscursos, que estruturam a identidade das FD.

Tendo em vista tudo que fora mencionado acerca da AD, questões pertinentes a AD serão abordadas, pois essas questões são relevantes para a concretude do terreno fértil que embasou sua linha de pesquisa.

Na seção seguinte, trabalhar-se-á as diferentes noções de sujeitos, que se desenvolveram no escopo da AD.

2.1.2. CONCEPÇÕES DE SUJEITO PARA ANÁLISE DO DISCURSO

Evidenciar-se-á como os diferentes tipos de sujeitos são concebidos em cada fase da AD, isso porque, cada fase percebe o sujeito de maneira distinta, posto que o sujeito está inserido em um espaço histórico-social, e, desse espaço, projetar-se-á de acordo com a fase de inserção.

A AD concebe o sujeito como aquele carregado de subjetividade, e esta subjetividade é o motor condutor para o posicionamento de cada sujeito inserido no discurso.

Na visão da AD-1, como cada processo é fomentado por uma “máquina discursiva” fechada, o sujeito é visto como indivíduo que fala, pois o sujeito é a fonte do próprio discurso, é assujeitado a essa máquina, que controla seu discurso, tendo em vista que esse discurso é submetido às regras de enunciação. Segundo Orlandi (2010, p. 32), esse sujeito é:

Pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ao controle sobre o modo pelo qual o sentido se constitui nele. Por isso é inútil, do ponto de vista discursivo, perguntar o que o sujeito quis dizer qual disse “X” (...). O que ele sabe não é suficiente para compreendermos que efeitos de sentido estão ali presentificados.

A AD-2 por sua vez percebe o sujeito, como aquele que não possui uma unicidade, o sujeito, assim, ocupa diferentes posicionamentos que dependerão dos diversos espaços interdiscursivos.

O sujeito, aqui, apresenta-se com a ideia de função, pois, vigora na AD2 o posicionamento de que o sujeito está inserido em mais de uma ideia. Assim como na AD-1, o sujeito na AD2 não está verdadeiramente livre para falar de qualquer maneira, visto que ele sofrerá influência de uma formação ideológica (FI). Sua fala é produzida em um determinado lugar e tempo, de modo que esse sujeito é essencialmente histórico e ideológico. Segundo Brandão (2009, p. 49), “sua fala é um recorte das apresentações de um determinado tempo histórico social.” Dessa forma, como ser projetado no espaço e no tempo orientado socialmente, o sujeito, na AD2, situa seus discursos em relação ao discurso do outro.

Já para AD-3, o sujeito é essencialmente heterogêneo, clivado, dividido. Essa nova vertente desenvolvera-se em torno dos trabalhos de Authier-Revuz, que evidenciou em seu trabalho essas características do sujeito. As análises, segundo essa abordagem, direcionam-se não mais para o consciente, mas para o inconsciente.

Na sequência do trabalho, expor-se-á a noção de ethos discursivo, visto a relevância deste para a concretude da análise.

2.1.3. CONCEPÇÃO DE ETHOS DISCURSIVO

Evidenciar ethos discursivo é retomar a perspectiva aristotélica, tendo em vista que fora por ele conhecido em seus estudos, para quem ethos está diretamente ligado ao caráter do orador. Diferentemente de Aristóteles, os romanos concebem por ethos, um dado preexistente que se apoia na autoridade individual e institucional do orador, pois, o termo estaria ligado à reputação de sua família, ao seu estatuto social e ao que se sabe de seu modo de vida.

É importante trazer para o escopo do trabalho outras perspectivas que são pertinentes à concepção de ethos. Evidencia-se, nesse momento, a visão de ethos pelo viés de Aristóteles, para quem o discurso estivera centrado em três perspectivas: o ethos, que é o discurso: o logos, que é o exercício da razão e o pathos, que age em direção aos interlocutores suscitando em ambos a emoção, paixão e o próprio ato de persuadir, é assim responsável em agir diretamente nas emoções de quem ouve o orador, isto é, o locutor responsável em proferir seu discurso em direção a uma determinada plateia, com o objetivo maior de interagir com essa. De acordo com o mencionado acima, Amossy (2005, p.31) fala sobre o tema da seguinte maneira:

O que o orador pretende ser, ele o dá entender e mostra: não diz que é simples ou honesto, mostra-o por sua maneira de se exprimir. O ethos está, dessa maneira, vinculado ao exercício da palavra, ao papel que corresponde ao seu discurso, e não ao indivíduo “real”, (apreendido) independentemente de seu desempenho oratório: é, portanto o sujeito da enunciação uma vez que enuncia que está em jogo.

De acordo com abordagem centrada na Retórica clássica, “1. O orador convencerá por argumentos, se, para bem dizer, ele começa por pensar. 2. Ele agradará pelos seus modos, se, para pensar bem, ele começa por viver bem”.

Aristóteles, diferentemente dos teóricos de sua época, os quais compreendiam que a persuasão não estaria no cerne dos estudos sobre ethos, posto que o ethos, segundo esses teóricos, não contribuiria para persuasão. Conquanto, o filósofo inseriu em sua abordagem sobre ethos a persuasão, argumento fortemente dissecado em sua Retórica. E, nesse contexto, Aristóteles emprega o termo epieikeia, que fora traduzido inicialmente por Doufour, por “honestidade”. De acordo com esse conceito, o orador que clarifica em seu discurso um caráter honesto pareceria mais digno de crédito aos olhos de seu auditório.

É indispensável mencionar-se que em suas conjecturas sobre a Retórica, Aristóteles, gradativamente distanciou-se do aspecto de ethos centrado unicamente no caráter. O filósofo no decorrer de sua obra afirma que “um homem rude não poderia dizer as mesmas coisas nem dizê-las da mesma maneira que um homem culto” (ARISTÓTELES, 2005, p.258).

Com isso, Aristóteles, assim como, outros da antiguidade clássica, afirma que os temas e os estilos escolhidos devem ser apropriados (oikeia) ao ethos do orador, o que ele chama de héxis, ao seu habitus, ou seja, ao seu tipo social. Esse termo é encontrado, também, na sociolinguística interacionista.

De acordo com o que fora abordado até o momento da visão de Aristóteles sobre ethos, tem-se, ainda, que evidenciar que o filósofo trabalhara com duas perspectivas distintas: uma centrada no termo ethos, o que significara de sentido moral e, por conseguinte, fundada na epieikeia, a qual engloba atitudes e virtudes como honestidade, benevolência ou equidade; outra centrada na abordagem de sentido neutro ou “objetivo”, que está direcionado a héxis. Aqui, reúnem-se termos como hábitos, modos e costumes ou caráter.

Descortinaram-se duas concepções distintas de ethos na visão de Aristóteles. É interessante notar que ambas completam-se em qualquer processo de atividade argumentativa. Essas abordagens não se excluem, sobretudo, porque em um dado momento elas se imbricarão sem ter como separá-las no discurso, haja vista que ambas caminham em direção ao interlocutor.

O ethos proposto pelo referido autor voltara-se para a persuasão de seus interlocutores, nessa direção, Aristóteles enumera três características relevantes que o orador (locutor) deveria ter para conseguir, com eficácia, direcionar seus discursos, que, por conseguinte, deveriam estar centrados no pathos, tendo em vista que essa característica, segundo o mesmo autor, é quem sobressai em seus interlocutores ou expectadores. Pois são essas características que inspirariam confiança: – a saber, phrônesis, a aratê e a eúnoia – “ter ar ponderado” (para phrônesis), “apresentar-se como homem simples e sincero” (araté) e dar “uma imagem agradável de si” (eúnoia). Essas características podem ser observadas no seguinte estudo de Aristóteles (2005, p.160)

Os oradores inspiram confiança por três razões que são, de fato, as que, além das demonstrações (apódeixis), determinam nossa convicção: (a) prudência/sabedoria prática (phrônesis), (b) virtude (areté) e (c) benevolência (eúnoia). Os oradores enganam [...] por todas essas razões ou por uma delas: sem prudência, se sua opinião não é correta ou, se pensando corretamente, não dizem – por causa de sua maldade – o que pensam; ou, prudentes e honestos (epieikés), não são benevolentes; razão pela qual se pode, conhecendo-se a melhor solução, não a aconselhar. Não há outros casos.

Procurou-se mostrar de maneira clara e objetiva como o filósofo grego concebera a concepção de ethos discursivo, assunto este presente em suas retóricas e essencial para o escopo deste trabalho. É importante mencionar, aqui, que o ethos está indispensavelmente ligado ao ato de enunciação, contudo não se pode ignorar que o público/interlocutor pode construir as mais diversas representações do ethos antes mesmo que o locutor/enunciador se pronuncie.

Trabalhar-se-á na próxima seção com a noção de Cenas de enunciação, tendo em vista que todo e qualquer discurso é recoberto por uma cena enunciativa.

2.2. CENAS DE ENUNCIAÇÃO

De acordo com Maingueneau(2011) há três tipos de cenas de enunciação. Trabalhar-se-á com esta abordagem, posto que a concepção abarca a necessidade da pesquisa e explicita as cenas que recobrem o discurso em análise.

2.2.1. CENA ENGLOBANTE

Esse tipo de cena está direcionado ao tipo de discurso, de uma feita que, os mais diversos tipos de discurso são recobertos por este tipo de cena. Aqui, presentifica-se os respectivos discursos como: religioso, político, publicitário, filosófico, literário, etc. No que se refere a este tipo de cena, faz-se necessário que todos sejam capazes de identificar os discursos e com que objetivo estes foram organizados, pois, aqui, se clarifica a interpelação do locutor direcionando seu discurso aos interlocutores, com o objetivo primeiro de persuadi-los.

2.2.2. CENA GENÉRICA

Este tipo por sua vez relaciona-se aos tipos de gêneros de discursos ou a um subgênero; como: o editorial, o turístico, a consulta médica, a lista telefônica etc. É importante salientar que esta cena estará incluída em uma cena maior, ou seja, na cena englobante, pois ela se caracteriza dentro de um discurso específico, resvalando para um subgênero discursivo, ressaltando a relevância de se perceber tal cena, para que o efeito do discurso cumpra seu papel.

2.2.3. CENOGRAFIA

Segundo Maingueneau (2011), a cenografia não é simplesmente um quadro, um cenário, como se o discurso aparecesse inesperadamente no interior de um espaço já construído e independente dele, é aqui que o ethos vai tomando corpo e voz, uma vez que a cenografia é a cena de fala que o discurso pressupõe para poder enunciar. Nesse sentido, a cenografia não é, somente, um quadro, ou um ambiente, como se o discurso ocorresse em um espaço já construído, isto porque a cenografia vai se delineando no decorrer do próprio discurso.

3. METODOLOGIA

O discurso analisado é o primeiro oficial de Dilma Rousseff. A análise se firma na proposta teórica da Análise do Discurso.

Trabalhou-se com três cenas enunciativas materializadas no discurso: cenografia, cena genérica e cena englobante. Assim como, com a corporificação do ethos discursivo representado pelo locutor. Na análise observou-se a caracterização do sujeito inserido no discurso.

Para ilustrar os aspectos da AD, foram transcritos excertos do discurso. Esses excertos estão em itálico para clarificar os argumentos.

Para evidenciar o posicionamento do locutor, no decorrer da análise, foram expostos aproximadamente de dois a seis excertos. Conforme a necessidade de se apresentar menos ou mais argumentos que corroborassem para reforçar os aspectos discursivos analisados.

Os excertos foram todos enumerados para uma melhor exposição

4. ANÁLISE

4.1. DISCURSO DE POSSE, 01 DE JANEIRO DE 2011.

Este foi escolhido em virtude da proposta do artigo, que fora fazer uma analise aportada teoricamente na AD, sob os aspectos discursivos envoltos neste discurso. Aqui, perceber-se-á o comportamento de uma mulher no cenário político brasileiro, que jamais tivera uma expressividade política, mas que consegue de forma heroica subir ao Planalto Central para que a faixa presidencial lhe fosse cingida ao corpo. E dessa maneira marcar definitivamente a história da política neste país.

Neste contexto de marco histórico, é interessante mencionar que o discurso da presidenta eleita apresenta aspectos políticos relacionados aos do ex-presidente, Luíz Inácio Lula da Silva, que se tornou a primeira pessoa popular a ocupar o Planalto Central.

Na análise, observou-se que há uma convergência política entre este discurso de Dilma Rousseff e o governo de seu antecessor.

  1. Venho para consolidar a obra transformadora do presidente Luís Inácio Lula da Silva, com quem tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao país, ao seu lado, nestes últimos anos.”

  2. De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do País.

  3. A maior homenagem que posso prestar a ele é ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar e investir na força do povo foi a maior lição que o presidente Lula deixou para todos nós”.

Dilma dialoga com toda a sociedade, inclusive com a classe dos trabalhadores, sobretudo com as mulheres.

Seu governo é o que mais apresenta a figura feminina na sua estrutura, e isso a distancia de todos os demais presidentes que governaram o país até exatamente 01 de Janeiro de 2011, data oficial da posse de Dilma Rousseff.

Com a presente análise pretende-se descortinar o discurso em questão e como as cenas enunciativas apresentam-se no interior do discurso e quais as principais características do ethos discursivo representado no papel de uma mulher , que com muita perspicácia chegara ao poder, construindo uma imagem positiva de si; e como se forjou a materialização do sujeito neste discurso.

No âmbito de interação e cenas enunciativas, o discurso erigiu suas propostas políticas; e no cerne dessas propostas estão imbuídos os argumentos usados pela presidenta, Dilma Rousseff, com o objetivo primordial de coadunar suas propostas políticas/ideológicas com os anseios da sociedade, de uma feita que não se pode separar os argumentos propostos daquilo que a sociedade espera da atual presidenta da república.

O discurso fora modelado para congregar tanto os anseios do povo, classe de trabalhadores, como os dos empresários brasileiros e os empresários estrangeiros que atuam no país, assim como a classe de intelectuais. Dilma Rousseff trabalha seus argumentos enunciativos para que esses argumentos alcance toda a sociedade, tanto as pessoas mais simples como as mais escolarizadas. Para isso, ela faz uso de uma linguagem simples.

O Brasil foi comandado durante oitos anos pelo Partido dos Trabalhadores, (PT) que tivera nesse período como comandante maior, Luís Inácio Lula da Silva, quem geriu o país nesse período.

O discurso de Dilma Rousseff, em alguns momentos procura dialogar com o governo de Lula. Para isso, é indispensável lembrar que a presidenta eleita é do mesmo partido de Lula, sendo assim comunga da mesma ideologia política. Sugere-se que o dialogo aconteça em virtude desse fato.

Dilma Rousseff foi militante política, em uma época em que o Brasil estivera imerso à ditadura militar, que cerceou o direito de liberdade política e cultural dos brasileiros, em função disso, a presidenta é bastante enfática em relação ao não cerceamento da liberdade de expressão, religiosa e liberdade da imprensa. Em seu discurso diz: “que prefere o barulho de uma empresa livre ao silêncio das ditaduras.”

Dilma Rousseff surgira no cenário político brasileiro no governo de seu antecessor. A ela foi incumbida à missão de gerir um dos projetos mais importantes no governo de Lula, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tinha como principal meta dirime parcela da pobreza extrema existente no país desde os primórdios de sua consolidação enquanto nação brasileira.

Ela sempre fora vista como uma mulher altamente técnica, e por alguns mãos de ferro, que levou o projeto ao extremo, e de certa feita conseguira seu objetivo, pois deu oportunidade para que milhares de pessoas conseguissem comprar a casa própria. Isso a enaltece em meio à sociedade, este projeto fora sempre o feito maior que o ex-presidente não cansava de exaltar. É nesse projeto que ela surge para o cenário político.

Dilma Rousseff é inexperiente politicamente, contudo muito articulada e firme em seu discurso, que congregara saberes e articulações políticas, frisando que o apoio de Lula fora indispensável para que obtivesse êxito em sua caminhada rumo à vitória eleitoral.

Aportado no que fora mencionado até o momento, o discurso em análise está inserido na terceira fase da AD, que concebe o sujeito como um ser heterogêneo, isto é, suas características são diversas, o sujeito é clivado, dividido. No discurso de Dilma se presentifica-se os interdiscursos, ou seja, os discursos outros inseridos no discurso da presidenta, neste sentido estes dialogarão entre si.

Este discurso foi proferido no Congresso Nacional, aqui, nesse momento, concebeu-se a cenografia do discurso, que esteve intimamente relacionado com a figura marcante e forte de Dilma Rousseff.

4.2. CENOGRAFIA

A partir desse momento trabalhar-se-á com o termo locutor/orador para identificar a pessoa do discurso representada por Dilma Rousseff.

O locutor/orador iniciou seu discurso como uma evocação ao povo brasileiro, e essa é reiterada no decorrer do discurso.

(4) “ Meus queridos brasileiros e brasileiras”

O locutor/orador não se refere ao povo como um todo, pois o particulariza em homens e mulheres, isso para frisar a importância feminina em seu governo. Um governo que é também voltado à mulher brasileira, que no cenário político sempre tivera um ínfimo papel, ou mesmo imperceptível. Todavia, a presidenta quer mudar essa história:

(5) Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres, também, possam, no futuro, ser presidenta; e para que —no dia de hoje—todas as mulheres, brasileiras, sintam o orgulho e a alegria de ser mulher.”

(6) “Não venho para enaltecer minha biografia; mas para glorificara vida de cada mulher brasileira. Meu compromisso supremo, eu reitero é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos!”

Aqui, nesse momento, já se tem uma cenografia concebida: uma mulher com muita bravura, aguerrida e destemida que profere seu discurso em direção aos seus interlocutores, que, nesse sentido, talvez, já consigam perceber a cenografia instaurada, de onde foi proferido o discurso de posse.

Ao mesmo tempo em que se consegue perceber a cenografia, notam-se também as demais cenas que recobrem o discurso.

4.3. CENAS ENGLOBANTE E GENÉRICA

O discurso em questão é político partidário, visto que suas características argumentativas/discursivas sedimentam este discurso, que tem como principal meta a persuasão, e por conseguinte está inserido na cena englobante, e nesse âmbito, tem-se uma mulher direcionando seu discurso a milhões de cidadãos brasileiros, seus interlocutores, evocando-os a construir um Brasil que seja do povo e para o povo.

  1. Queridos brasileiros e brasileiras. Para enfrentar estes grandes desafios é preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui.”

  2. E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular que, após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do país”.

De acordo com o que fora abordado até o momento, na análise, é relevante trazer para esta discussão uma característica que é tênue, mas é importante para o trabalho. A caracterização da cena genérica. Esta se associa a uma cena maior, isto é, à cena englobante, pois é nela que se presentifica o gênero do discurso, e nessa perspectiva os interlocutores precisam ter claro o sentido do discurso político partidário, para que ele cumpra seu papel. Nesta cena configura-se o discurso político partidário, que tem como objetivo principal persuadir e interagir com os interlocutores.

  1. Meus queridos brasileiros e brasileiras, Pela decisão soberana do povo, hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher.

  2. Sinto uma imensa honra por essa escolha do povo brasileiro e sei do significado histórico desta decisão.”

  3. E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular que, após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do país.

Consolidada essas características, evidenciar-se-á o ethos discursivo e suas características encontradas no discurso.

5. ETHOS DISCURSIVO

Neste momento, trabalhar-se-á em direção à formação do ethos discursivo, que nesse discurso se corporifica como um ethos consolidador e congregador, conforme os excertos abaixo:

(12) “Minha missão agora é de consolidar esta passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades.”

(13) Esta não é uma tarefa isolada de um governo, mas compromisso a ser abraçado por toda nossa sociedade. Para isso, peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem.”

Ora, humildemente, o locutor/orador representado por Dilma Rousseff reconhece a importância dessas ajudas, sem as quais não conseguirá alcançar suas metas. Nessa perspectiva, observa-se a pessoa do ethos que, apesar de sua força e seus esforços, necessita de outra pessoas de bem, como bem frisou em sua fala o locutor/orador.

O locutor/orador deixa nítido que não serão aceitas todas as ajudas, somente as pessoas que são de bem, logo sugere-se que as demais pessoas não farão parte desse novo governo.

(14) É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional.”

O locutor/orador, Dilma Rousseff, no decorrer deste discurso colocou-se como alguém consolidador e de bom caráter, que não aceitará qualquer ajuda, mas, somente, da sociedade de bem, que seja compromissada com as causas brasileiras. Esse é um argumento eficaz, que trabalha em direção a uma sociedade que seja correta e incorruptível, assim, o argumento encontra fortalecimento em todas as pessoas de bem que estão saturadas com: corrupção, marginalização e banalização da criminalidade.

Com essa assertiva o locutor/orador trabalha com uma forte argumentação, com a finalidade de convencer todos os interlocutores a aderirem às propostas políticas de seu governo. Com os argumentos, o locutor/orador se apropria de uma das características indispensável ao ethos: pathos, que dialoga com as mais diversas emoções dos interlocutores, e com isso o discurso foi construído eficazmente, e possivelmente, sensibilizando seus interlocutores.

(15) “Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais, e expandindo a exportação de nossa música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.”

(16)É, portanto, tarefa indispensável uma ação renovadora, efetiva e integrada dos governos federal, estaduais e municipais, em particular nas áreas da saúde, da educação e da segurança, o que é vontade expressa das famílias e da população brasileiras.”

(17) “Reitero meu compromisso de agir no combate as drogas, em especial ao avanço do crack, que desintegra nossa juventude e infelicita as nossas famílias.”

É importante mencionar que na totalidade do discurso é observado alguns aspectos políticos semelhantes ao governo de Lula, isso possivelmente aconteça em virtude de o plano de governo da presidenta eleita coadunar seus ideais políticos aos de seu antecessor. Logo, há a possibilidade de o ideário maior nesse discurso seja fazer com que o Brasil continue dando prova de seu poder econômico na esfera nacional e internacional.

Para isso, a presidenta trouxe ao escopo de seu discurso projetos relevantes para que esse desenvolvimento se perpetue e chegue a todos, tais como: saúde, diminuição da pobreza, uma educação que seja capaz de alcançar todas as camadas da sociedade, em especial aos menos favorecidos, porque no que tange à educação essa é a parcela que tem uma ênfase maior no seu governo . Para isso, fez uso do já consolidado PROUNI.

(18)A superação da miséria exige uma prioridade na sustentação de um longo ciclo de crescimento. É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para atuais e as novas gerações.”

(19) “No ensino médio, além do aumento público, vamos estender a vitoriosa experiência do PROUNI para o ensino médio e profissional (...).”

(20) “Consolidado o Sistema Único de Saúde será outra grande prioridade do meu governo.”

(21) “Para isso, vou acompanhar pessoalmente o desenvolvimento desse setor tão essencial para o povo brasileiro. O SUS deve ter como meta solução real do problema que atinge a pessoa que o procura, com o uso de todos os instrumentos de diagnóstico e tratamento disponíveis, tornando os medicamentos acessíveis a todos, além de fortalecer as políticas de prevenção e promoção da saúde.”

(22) “Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional: milhões de empregos estão sendo criados; nossa taxa de crescimento mais que dobrou e encerramos um longo período de dependência do FMI, ao mesmo tempo em que superamos nossa dívida externa.

(23) “Reduzimos, sobretudo, a nossa histórica dívida social, resgatando milhões de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros milhões a alcançarem a classe média.”

Nos excertos destacados, observa-se uma reiteração desses projetos no discurso, esses foram a base política do PT no governo anterior; e Dilma Rousseff os trás ao seu discurso, reinterando-os.

É importante salientar, ainda, nesta análise, outro projeto relevante e significativo, que no decorrer do discurso da presidenta fora enfatizado; o PAC.

O PAC tivera como pilar a própria Dilma Rousseff que estivera no comando deste, e no seu governo será liderado por uma mulher, que segundo a presidenta é de sua inteira confiança, assim como fora Dilma no governo passado, por isso comandou um projeto de tão significância, que sempre fora alvo de muito orgulho para o governo do PT.

(24) “Através do Programa de Aceleração do Crescimento e do Programa Minha Casa Minha Vida, manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos ministérios.”

(25)O PAC continuará sendo um instrumento de coesão da ação governamental e coordenação voluntária dos investimentos estruturais dos estados e municípios. Será também vetor de incentivo ao investimento privado, valorizando todas as iniciativas de constituição de fundos privados de longo prazo.”

No discurso em análise o exercício da razão, logos, caminhou na mesma direção do pathos, pois, ao mesmo tempo em que o locutor/orador desdobrou seu discurso de maneira muito consciente e, às vezes, racionalmente, contudo o discurso não deixou de ter uma carga emotiva, que suscitou nos ouvintes/interlocutores as mais diversificadas sensações e emoções, levando-os a se identificar com os argumentos que estão nas filigranas do discurso. Como pode ser observado, essas características ajuntam-se com um objetivo maior: persuadir os interlocutores.

(26)Sei, também, como é aparente a suavidade da seda verde-amarela da faixa presidencial, pois ela trás consigo uma enorme responsabilidade perante a nação.”

(27)Para assumi-la, tenho comigo a força e o exemplo da mulher brasileira. Abro meu coração para receber, neste momento, uma centelha de sua imensa energia.”

Nesta direção, o locutor/orador, Dilma Rousseff, estruturou o discurso de maneira perspicaz, conseguindo, assim, trabalhar o emocional dos interlocutores, para isso o locutor parafraseou um poeta, que fizera parte de suas lembranças, e assim se pronunciou:

(28)O correr da vida, diz ele, embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que a vida quer dá gente é coragem.”

Logo, esta será uma característica de seu governo: coragem para superar as adversidades e as mazelas sociais, que assolam o Brasil. Coragem para lutar, bravamente, por um país mais igualitário que consiga dirimir a marginalidade, que tanto envergonha o país; sem deixar de mencionar o esmagamento de toda brutalidade que acomete a mulher brasileira.

Nesse sentido, o locutor/orador expressa-se da seguinte maneira:

(29)É com esta coragem que vou governar o Brasil.” Mas mulher não é só coragem. É carinho também.”

(30)“O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são elementos fundamentais para a afirmação coletiva da nossa nação.”

Observadas as características do pathos e do logos, estas estão intimamente ligadas ao ethos, representado na figura de Dilma Rousseff. Neste sentido, o ethos corporificado pela presidenta materializou-se como um bravo guerreiro pronto a labutar por uma nação, que lhe confiou o voto.

Na fala de Dilma, seu governo será regado de sensibilidade. Pois o governo tem como figura principal uma mulher, que se tornou presidenta, que jamais deixará de julgar as causas com mãos firmes e fortes, mas ao mesmo tempo com sensibilidade e carinho como pôde ser observado na sua fala.

Após a análise, observaram-se aspectos significativos que corroboraram para se construir um perfil do ethos, representado por Dilma Rousseff, assim como as cenas que se presentificaram no discurso, e , por conseguinte, o sujeito concebido nesse discurso.

Dilma Rousseff, no discurso, corporificou-se como uma pessoa congregadora, que buscou trabalhar seus argumentos de maneira que pudesse chegar a todas as camadas da sociedade brasileira; nesse sentido, o ethos representado pela presidenta materializou-se como um bravo guerreiro, que lutará avidamente para fazer um governo justo e igualitário, que seja capaz de dirimir as mazelas que tanto constrangem o Brasil.

No que se refere às cenas presentes no discurso, observou-se a caracterização da cenografia, que fora delineada ao mesmo tempo em que a figura do locutor/orador fora construída; da mesma forma que se estruturou a cena englobante erigida no decorrer do discurso; assim como a estruturação da cena genérica.

Com relação à corporificação do sujeito no papel de Dilma Rousseff, este foi materializado no âmbito do próprio discurso e construiu uma imagem que pudesse interagir de forma eficaz com os interlocutores. É importante mencionar que a presidenta proferiu seu discurso de um lugar determinado, e é neste lugar que o discurso ganhou voz. Aqui, observou-se um sujeito que pensa que é verdadeiramente livre para dizer o que quer, mas não o é, porque todo o sujeito é movido por situações e lugares específicos de onde podem ou não se pronunciar de uma maneira ou de outra.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que o discurso analisado não se esgota na análise proposta aqui, visto a relevância deste para a história política da sociedade brasileira. Procurou-se abordar nesta pesquisa assuntos relevantes e pertinentes que venham contribuir para futuros trabalhos com interesse na Análise do Discurso.

Analisar o discurso de Dilma Rousseff fora importante e instigante na medida em que pela primeira vez na história do Brasil uma mulher chega ao cargo de Chefe de Estado e, possivelmente, marcará definitivamente a política neste país, que fora preponderantemente, comandado por homens, desde sua concepção.

Pela primeira vez, o povo dá voto e vez a uma mulher, que gravará o seu nome no quadro dos presidentes brasileiros, a partir deste momento político, os livros de história trarão em suas páginas o nome de uma mulher que governará o Brasil e o que isso representará para a democracia brasileira.

Dilma Rousseff, possivelmente, permanecerá no imaginário da população, multicultural e multirracial, chamada República Federativa do Brasil. Se seu governo alcançará os objetivos propostos, somente o tempo confirmará.

No decorrer da análise, observou-se a presidenta eleita coadunar suas ideias políticas às da sociedade brasileira, que fora evocada a auxiliá-la no governo. A presidenta ressaltou, incisivamente, a importância de todos estarem juntos para construir um Brasil mais justo e igualitário, onde a miséria e a fome não constranjam mais o povo, que faz parte da sociedade de bem.

Dilma Rousseff materializou seu discurso para congregar seus objetivos políticos aos da sociedade, como bem frisou , de bem, que está cansada das mazelas sociais. Na análise, o locutor/orador corporificou-se como um bravo guerreiro, apto a militar por um Brasil que seja forte economicamente e que não regrida o crescimento alcançado por seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva.

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BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 6. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2009.

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MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos Discursos. Tradução de Sírio Possenti. Curitiba: Criar, 2007.

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______. Cenas da Enunciação. Organização Sírio Possenti, Maria Cecília Pérez de Souza e Silva. São Paulo: Parábola, 2008

MAZIÈRE, Francine. A Análise do Discurso: histórias e práticas. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Cristina (orgs). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. v. 2. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: Princípios e procedimentos. 5. ed. Campinas, SP: Pontes: 2010.

ANEXOS

ANEXO A : Discurso de posse de Dilma Rousseff no Congresso Nacional

01/01/2011, às 8h25 - Portal Brasil

" Meus queridos brasileiros e brasileiras, Pela decisão soberana do povo, hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher.

Sinto uma imensa honra por essa escolha do povo brasileiro e sei do significado histórico desta decisão.

Sei, também, como é aparente a suavidade da seda verde-amarela da faixa presidencial, pois ela trás consigo uma enorme responsabilidade perante a nação.

Para assumi-la, tenho comigo a força e o exemplo da mulher brasileira. Abro meu coração para receber, neste momento, uma centelha de sua imensa energia.

E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular que, após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do país.

Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres, também, possam, no futuro, ser presidenta; e para que --no dia de hoje-- todas as mulheres, brasileiras, sintam o orgulho e a alegria de ser mulher.

Não venho para enaltecer a minha biografia; mas para glorificar a vida de cada mulher brasileira. Meu compromisso supremo, eu reitero é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos!

Venho, antes de tudo, para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este país já viveu.

Venho para consolidar a obra transformadora do presidente Luis Inácio Lula da Silva, com quem tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao país, ao seu lado, nestes últimos anos.

De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do País.

A maior homenagem que posso prestar a ele é ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar e investir na força do povo foi a maior lição que o presidente Lula deixou para todos nós.

Sob sua liderança, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da nossa história.

Minha missão agora é de consolidar esta passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades.

Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro grande brasileiro, incansável lutador, companheiro que esteve ao lado do Presidente Lula nestes oito anos: nosso querido vice-presidente, José Alencar. Que exemplo de coragem e de amor à vida nos dá este grande homem! E que parceria fizeram o presidente Lula e o vice-presidente José de Alencar, pelo Brasil e pelo nosso povo!

Eu e o vice-presidente Michel Temer nos sentimos responsáveis por seguir no caminho iniciado por eles.

Um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo da história. Ele sempre será, ao seu tempo, mudança e continuidade. Por isso, ao saudar os extraordinários avanços recentes, liderado pelo presidente Lula, é justo lembrar que muitos, a seu tempo e a seu modo, deram grandes contribuições às conquistas do Brasil de hoje.

Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional: milhões de empregos estão sendo criados; nossa taxa de crescimento mais que dobrou e encerramos um longo período de dependência do FMI, ao mesmo tempo em que superamos nossa dívida externa.

Reduzimos, sobretudo, a nossa histórica dívida social, resgatando milhões de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros milhões a alcançarem a classe média.

Mas, em um país com a complexidade do nosso, é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar sempre novas soluções.

Só assim poderemos garantir, aos que melhoraram de vida, que eles podem alcançar mais; e provar, aos que ainda lutam para sair da miséria, que eles podem, com a ajuda do governo e de toda sociedade, mudar de vida e de patamar.

Que podemos ser, de fato, uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo - um país de classe média sólida e empreendedora.

Uma democracia vibrante e moderna, plena de compromisso social, liberdade política e criatividade.

Queridos brasileiros e queridas brasileiras,

Para enfrentar estes grandes desafios é preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui.

Mas, igualmente, agregar novas ferramentas e novos valores.

Na política, é tarefa indeclinável e urgente uma reforma com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública.

Para dar longevidade ao atual ciclo de crescimento é preciso garantir a estabilidade, especialmente, a estabilidade de preços e seguir eliminando as travas que ainda inibem o dinamismo de nossa economia, facilitando a produção e estimulando a capacidade empreendedora de nosso povo, da grande empresa até os pequenos negócios locais, do agronegócio à agricultura familiar.

É, portanto, inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte.

Valorizar nosso parque industrial e ampliar sua força exportadora será meta permanente. A competitividade de nossa agricultura e da nossa pecuária, que faz do Brasil grande exportador de produtos de qualidade para todos os continentes, merecerá toda nossa atenção. Nos setores mais produtivos a internacionalização de nossas empresas já é uma realidade.

O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com o incentivo, o desenvolvimento, o apoio à agricultura familiar e ao microempreendedor. As pequenas empresas são responsáveis pela maior parcela dos empregos permanentes em nosso país. Merecerão políticas tributárias e de crédito perenes.

Valorizar o desenvolvimento regional é outro imperativo de um país continental, sustentando a vibrante economia do nordeste, preservando, desenvolvendo e respeitando do a biodiversidade da Amazônia no norte, dando condições à extraordinária produção agrícola do centro-oeste, a força industrial do sudeste e a pujança e o espírito de pioneirismo do sul.

É preciso, antes de tudo, criar condições reais e efetivas capazes de aproveitar e potencializar, ainda mais e melhor, a imensa energia criativa e produtiva do povo brasileiro.

No plano social, a inclusão só será plenamente alcançada com a universalização e a qualificação dos serviços essenciais. Este é um passo, dicisível e irrevogável, para consolidar e ampliar as grandes conquistas obtidas pela nossa população no período do governo do presidente Lula.

É, portanto, tarefa indispensável uma ação renovadora, efetiva e integrada dos governos federal, estaduais e municipais, em particular nas áreas da saúde, da educação e da segurança, o que é vontade expressa das famílias e da população brasileiras.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos.

Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do Presidente Lula. Mas, ainda existe pobreza a envergonhar nosso país e a impedir nossa afirmação plena como povo desenvolvido.

Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. É este é o sonho que vou perseguir!

Esta não é tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda nossa sociedade. Para isso, peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades empresariais e dos trabalhadores, das universidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem.

A superação da miséria exige prioridade na sustentação de um longo ciclo de crescimento. É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para as atuais e as novas gerações.

É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional.

Isso significa - reitero - manter a estabilidade econômica como valor Já faz parte ,alias, da nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia integrada a renda do trabalhador. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres.

Continuaremos fortalecendo nossas reservas externas, para garantir o equilíbrio das contas externas e bloquear e impedir a vulnerabilidade externa. Atuaremos decididamente nos fóruns multilaterais na defesa de políticas econômicas saudáveis e equilibradas, protegendo o país da concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos.

Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção.

Faremos um trabalho permanente e continuado para melhorar a qualidade do gasto público.

O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um estado provedor de serviços básicos e de previdência social pública.

Isso significa custos elevados para toda a sociedade, mas significa, também, a garantia do alento da aposentadoria para todos e serviços de saúde e educação universais. Portanto, a melhoria dos serviços públicos é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais.

Outro fator importante da qualidade da despesa é o aumento dos níveis de investimento em relação aos gastos de custeio. O investimento público é essencial como indutor do investimento privado e como instrumento de desenvolvimento regional.

Através do Programa de Aceleração do Crescimento e do Programa Minha Casa Minha Vida, manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos ministérios.

O PAC continuará sendo um instrumento de coesão da ação governamental e coordenação voluntária dos investimentos estruturais dos estados e municípios. Será também vetor de incentivo ao investimento privado, valorizando todas as iniciativas de constituição de fundos privados de longo prazo.

Por sua vez, os investimentos previstos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas serão concebidos de maneira a dar ganhos permanentes de qualidade de vida, em todas as regiões envolvidas.

Este princípio vai reger também nossa política de transporte aéreo. É preciso, sem dúvida, melhorar e ampliar nossos aeroportos para a Copa e as Olimpíadas. Mas é mais que necessário melhorá-los já, para arcar com o crescente uso deste meio de transporte por parcelas cada vez mais amplas da população brasileira.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Junto com a erradicação da miséria, será prioridade do meu governo a luta pela qualidade da educação, da saúde e da segurança.

Nas últimas décadas, o Brasil universalizou o ensino fundamental. Porém, é preciso melhorar sua qualidade e aumentar as vagas no ensino infantil e no ensino médio.

Para isso, vamos ajudar decididamente os municípios a ampliar a oferta de creches e de pré-escolas.

No ensino médio, além do aumento do investimento público, vamos estender a vitoriosa experiência do PROUNI para o ensino médio e profissionalizante, acelerando a oferta de milhares de vagas, para que nossos jovens recebam uma formação educacional e profissional de qualidade.

Mas, só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada, e sólido compromisso dos professores e da sociedade com a educação das crianças e jovens.

Somente com avanço na qualidade de ensino poderemos formar jovens preparados, de fato, para nos conduzir à sociedade da tecnologia e do conhecimento.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Consolidar o Sistema Único de Saúde será outra grande prioridade do meu governo. Para isso, vou acompanhar pessoalmente o desenvolvimento desse setor tão essencial para o povo brasileiro. O SUS deve ter como meta solução real do problema que atinge a pessoa que o procura, com o uso de todos os instrumentos de diagnóstico e tratamento disponíveis, tornando os medicamentos acessíveis a todos, além de fortalecer as políticas de prevenção e promoção da saúde

Vou usar, sim, a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado e o respeito ao usuário.

Vamos estabelecer parcerias com o setor privado na área da saúde, assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS.

A formação e a presença de profissionais de saúde adequadamente distribuídos em todas as regiões do país será outra meta essencial ao bom funcionamento do sistema.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

A ação integrada de todos os níveis do governo e a participação da sociedade é o caminho para a redução da violência que constrange a sociedade e as famílias brasileiras.

Meu governo fará um trabalho permanente para garantir a presença do Estado em todas as regiões mais sensíveis à ação da criminalidade e das drogas, em forte parceria com Estados e Municípios.

O estado do Rio de Janeiro mostrou o quanto é importante, na solução dos conflitos, a ação coordenada das forças de segurança dos três níveis de governo, incluindo - quando necessário - a participação decisiva das Forças Armadas.

O êxito desta experiência deve nos estimular a unir as forças de segurança no combate, sem tréguas, ao crime organizado, que sofistica a cada dia seu poder de fogo e suas técnicas de aliciamento de jovens.

Buscaremos também uma maior capacitação federal na área de inteligência e no controle das fronteiras, com uso de modernas tecnologias e treinamento profissional permanente.

Reitero meu compromisso de agir no combate as drogas, em especial ao avanço do crack, que desintegra nossa juventude e infelicita as nossas famílias.

O pré-sal é nosso passaporte para o futuro, mas só o será plenamente, queridas brasileiras e queridos brasileiros, se produzir uma síntese equilibrada de avanço tecnológico, avanço social e cuidado ambiental.

A sua própria descoberta é resultado do avanço tecnológico brasileiro e de uma moderna política de investimentos em pesquisa e inovação. Seu desenvolvimento será fator de valorização da empresa nacional e seus investimentos serão geradores de milhares de novos empregos.

O grande agente desta política foi e é a Petrobrás, símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética.

O meu governo terá a responsabilidade de transformar a enorme riqueza obtida no Pré Sal em poupança de longo prazo, capaz de fornecer às atuais e às futuras gerações a melhor parcela dessa riqueza, transformada, ao longo do tempo, em investimentos efetivos na qualidade dos serviços públicos, na redução da pobreza e na valorização do meio ambiente. Recusaremos o gasto apressado que reserva às futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

Queridos brasileiros e queridas brasileiras,

Muita coisa melhorou em nosso país, mas estamos vivendo apenas o início de uma nova era. O despertar de um novo Brasil!

Recorro a um poeta da minha terra natal: "Ele diz: o que tem de ser, tem muita força, tem uma força enorme".

Pela primeira vez o Brasil se vê diante da oportunidade real de se tornar, de ser, uma nação desenvolvida. Uma nação com a marca inerente, também, da cultura e do estilo brasileiros --o amor, a generosidade, a criatividade e a tolerância.

Uma nação em que a preservação das reservas naturais e das suas imensas florestas, associada à rica biodiversidade e a matriz energética mais limpa do mundo permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental.

O mundo vive num ritmo cada vez mais acelerado de revolução tecnológica. Ela se processa tanto na decifração de códigos desvendadores da vida, quanto na explosão da comunicação e da informática.

Temos avançado na pesquisa e na tecnologia, mas precisamos avançar muito mais. Meu governo apoiará fortemente o desenvolvimento científico e tecnológico para o domínio do conhecimento e para inovação como instrumento fundamental de produtividade e competitividade de nosso país.

Mas o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo econômico, ou no campo do desenvolvimento econômico puro e simplesmente, ele pressupõe o avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade.

Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais, e expandindo a exportação de nossa música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.

Em suma: temos que combater a miséria, que é a forma mais trágica de atraso, e, ao mesmo tempo, avançar investindo fortemente nas áreas mais modernas sofisticadas da invenção tecnológica, da criação intelectual e da produção artística e cultural.

Justiça social, moralidade, conhecimento, invenção e criatividade devem ser, mais que nunca, conceitos vivos no dia a dia da nação.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente, sem destruir o meio-ambiente.

Somos e seremos os campeões mundiais de energia limpa, um país que sempre saberá crescer de forma saudável e equilibrada.

O etanol e as fontes de energia hídricas terão grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, a eólica e a solar. O Brasil continuará também priorizando a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas.

Nossa política ambiental favorecerá nossa ação nos fóruns multilaterais. Mas o Brasil não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais.

Defender o equilíbrio ambiental do planeta é um dos nossos compromissos nacionais mais universais.

Meus queridos brasileiros e brasileiras,

Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira: promoção da paz, respeito ao princípio de não intervenção, defesa dos Direitos Humanos e fortalecimento do multilateralismo.

O meu governo continuará engajado na luta contra a fome e a miséria no mundo.

Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos; com nossos irmãos da América Latina e do Caribe; com nossos irmãos africanos e com os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos. Preservaremos e aprofundaremos o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Européia.

Vamos dar grande atenção aos países emergentes.

O Brasil reitera, com veemência e firmeza, a decisão de associar seu desenvolvimento econômico, social e político ao nosso continente.

Podemos transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao MERCOSUL e à UNASUl. Vamos contribuir para a estabilidade financeira internacional, com uma intervenção qualificada nos fóruns multilaterais.

Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença frente à existência de enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear, ao terrorismo e ao crime organizado transnacional.

Nossa ação política externa continuará propugnando pela reforma dos organismos de governança mundial, em especial as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Disse, ao início deste discurso, que eu governarei para todos os brasileiros e brasileiras. E vou fazê-lo.

Mas é importante lembrar que o destino de um país não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um:

Dos movimentos sociais,

dos que labutam no campo,

dos profissionais liberais,

dos trabalhadores e dos pequenos empreendedores,

dos intelectuais,

dos servidores públicos,

dos empresários,

das mulheres,

dos negros, dos índios e dos jovens,

de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação.

Quero estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, no semi árido nordestino, em todo seu serrões, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas.

Quero estar ao lado dos que vivem nos aglomerados metropolitanos, na vastidão das florestas; no interior ou no litoral, nas capitais e nas fronteiras do Brasil.

Quero convocar todos a participar do esforço de transformação do nosso país.

Respeitada a autonomia dos poderes e o princípio federativo, quero contar com o Legislativo e o Judiciário, e com a parceria de governadores e prefeitos para continuarmos desenvolvendo nosso País, aperfeiçoando nossas instituições e fortalecendo nossa democracia.

Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião.

Reafirmo que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e tantos outros da minha geração, lutamos contra o arbítrio e a censura somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos, no nosso País e como bandeira sagrada de todos os povos.

O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são elementos fundamentais para a afirmação coletiva da nossa nação.

Eu e meu vice-presidente Michel Temer fomos eleitos por uma ampla coligação partidária. Estamos construindo com eles um governo onde capacidade profissional, liderança e a disposição de servir ao país serão os critérios fundamentais.

Mais uma vez estendo minha mão aos partidos de oposição e as parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral. Não haverá de minha parte discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir deste momento, sou a presidenta de todos os brasileiros! Sob a égide dos valores republicanos.

Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para aturem com firmeza e autonomia.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Chegamos ao final desse longo discurso. Queria dizer a vocês que dediquei toda a minha vida a causa do Brasil. Entreguei como muitos aqui presentes, minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco não tenho ressentimento ou rancor.

Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem.

Esta às vezes dura caminhada me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu, sobretudo, coragem para enfrentar desafios ainda maiores. Recorro mais uma vez ao poeta da minha terra:

"O correr da vida, diz ele, embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem"

É com esta coragem que vou governar o Brasil.

Mas mulher não é só coragem. É carinho também.

Carinho que dedico a minha filha e ao meu neto. Carinho com que abraço a minha mãe que me acompanha e me abençoa.

É com este imenso carinho que quero cuidar do meu povo, e a ele - só a ele - dedicar os próximos anos da minha vida.

Que Deus abençoe o Brasil!

Que Deus abençoe a todos nós!"


Publicado por: DACILÉIA MARINHO RIBEIRO

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