De “Feito Em Casa” a “Duas Cidades”: Música independente e a pluralidade cultural brasileira
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1. Introdução
Música independente? Na concepção mais simples possível do termo, é aquela música dissociada de gravadoras. É um som que muitas vezes não tem uma perspectiva mercadológica, ou que às vezes até tem, mas acaba ofuscado pela visibilidade dos grandes selos e dos grandes artistas.
Quando o Brasil conquistou a independência de Portugal, em 1822, era dito que esse era o primeiro passo para o país se reconhecer, tanto cultural quanto socialmente. Uma vez independentes, os brasileiros poderiam “andar com as próprias pernas” e ter a própria organização. Agora, em 2018, encontra-se o momento para levantar a pauta da independência musical, discutida silenciosamente desde os anos 70.
Criou-se uma indústria fonográfica no país, muito influenciada pelo padrão norte-americano, entre o final do século XIX e o início do século XX. A primeira empresa que arriscou a produzir discos no Brasil, a Zonophone Company (hoje integrada à Warner), abriu uma loja no Rio de Janeiro em 1909, e foi a partir dali que o negócio foi adquirindo forma. Essa indústria se tornou a responsável por divulgar e fazer toda a rotatividade necessária para o funcionamento desse mercado musical. Ela, no entanto, não representa mais (se é que já representou) a totalidade de músicos no Brasil. Ela não consegue dar conta. O Brasil, grande do jeito que é, possui uma variedade enorme de hábitos e de culturas, de pensamentos e de estilos musicais.
Nunca se pôde pensar que a música nacional se resume necessariamente ao que é tocado nas rádios. Isso porque diversos movimentos musicais ao longo da história do país adicionaram um pouco a mais na cultura, na difusa identidade brasileira. Mas, como é de se esperar, o mercado é focado em estilos específicos. Não são todos os privilegiados.
O emergente mundo digital deixou os músicos independentes mais eufóricos em relação a uma revolução no modo como o mercado trata as produções nacionais. Eles estão se contorcendo para sair de baixo da terra[1].
Mas os ventos estão mudando. A internet, as redes sociais e os aplicativos online chegaram para tomar a indústria fonográfica de assalto, abrindo um imenso leque de oportunidades para aqueles que não possuem visibilidade, ou logo, para os independentes.
Muita coisa mudou com a chegada desses dispositivos modernos. Agora as músicas são mais baratas, ao mesmo tempo que são mais fáceis de ser produzidas, gravadas e compostas. As possibilidades são infinitas. Possibilidades essas que preocupam a hegemonia das gravadoras na indústria. Existem muitos artistas, engajados com seus próprios propósitos estéticos ou culturais, que estão criando algo diferente do que fomos acostumados a ouvir. Misturam influências, não seguem padrões e estão conquistando um público cada vez maior a partir da própria divulgação. E a melhor parte nisso tudo: estão mostrando o quão plural é a música do Brasil, o quão colorida é a nossa cultura. Defendem seus próprios objetivos, desde valorizar a cultura da periferia até propor uma ressignificação sonora. Eles mostram que ninguém precisa falar deles para que ganhem visibilidade. Os próprios independentes fazem por onde. Nenhum gênero musical caracteriza a música brasileira. E eles são a prova disso.
O objetivo desta pesquisa é levantar dados sobre a atual indústria fonográfica brasileira e buscar comprovar que os novos meios proporcionaram diversidade musical (e, consequentemente, cultural), novas maneiras de divulgar uma canção e maneiras mais acessíveis de gravar. Busquei descobrir se os novos meios atribuem voz a uma quantidade maior de pessoas, que podem, assim, mostrar suas vivências e peculiaridades culturais em suas obras.
Esta pesquisa se justifica por analisar a explosão da cultura digital, que encurtou os espaços, diminuiu os custos e colocou grandes e pequenos artistas no mesmo patamar. De acordo com o autor norte-americano Chris Anderson, músicas underground começaram a ganhar popularidade conforme o tempo passava, devido à gradativa força da internet nesse cenário. Conforme mudavam os meios de comunicação, a tecnologia digital barateou o custo das ferramentas de produção, e as deixou mais próximas das pessoas, dando oportunidade para novos produtores e compositores realizarem seu sonho de tornar suas músicas acessíveis para uma grande quantidade de pessoas. Softwares de edição de áudio tornaram tudo mais fácil para esses novos produtores.
Além disso, a internet facilitou o modo como se distribui música. Sites, e-mails, redes sociais... Antes de responsabilidade das gravadoras, agora o próprio artista pode se divulgar da maneira que considera melhor. É um momento delicado que representa uma mudança significativa na produção musical. Mesmo assim, para Anderson, “o campeão ainda é campeão, mas as vendas daí resultantes perderam o viço do passado” (2006, p. 2). Isso porque a competição aumentou e a visibilidade dos artistas de grandes gravadoras disputa espaço com os independentes. Agora que têm voz, eles estão se impondo e conquistando esse espaço, tornando o universo musical mais democrático. É um momento da pluralidade cultural brasileira se afirmar com maior força, e considero que a música é o principal meio para isso.
Para a realização deste trabalho, foi necessário revisitar a história da música independente nacional. Não é de hoje que existem produtores independentes. O que mudou foi o destaque e a visibilidade aos quais passaram a ser suscetíveis. Para essa viagem temporal, foi utilizado o livro “História da Música Independente”, publicado originalmente em 1988 pelo autor Gil Nuno Vaz. Ele conta a história dos primeiros selos e álbuns brasileiros lançados de forma independente que fizeram certo barulho na indústria e no modo como se faz música em geral.
Em um determinado momento da história moderna (que, não por acaso, coincide com a ascensão da internet), os meios de produção passaram para as mãos de muitos. Isso ficou evidente em áreas que variam desde o cinema, onde as câmeras digitais contribuíram para o nascimento de pequenos film makers, até a imprensa, com ferramentas como os blogs, além de sites colaborativos como a Wikipedia. A música, é claro, se encaixa nisso também. Para analisar esse fenômeno, foi utilizado o livro “A Cauda Longa”, escrito por Chris Anderson, já citado acima. Lançado em 2006, antes de uma era tomada totalmente por serviços de streaming (em que o usuário tem completa liberdade para consumir o conteúdo que quiser, na hora que quiser), Anderson já foi capaz de comprovar, através do início dessa nova era, o impacto que os novos meios viriam a causar no mercado da comunicação e na indústria cultural.
Outros livros utilizados incluem “Reação em Cadeia” (de 2013), em que o autor Bruno Nogueira fala sobre as transformações que a indústria da música sofreu com o advento da internet, e “Lira Paulistana – um delírio de porão”, lançado em 2014 por Riba de Castro, que fala sobre a história e importância do Lira Paulistana para o cenário musical paulista.
E, é claro, levou-se muito em conta o atual mercado nacional. Quem chegou, quem está chegando e quem já estava no jogo. Para a elaboração desse trabalho, os objetos abordados serão analisados a partir de três vertentes básicas do processo da produção musical. A primeira de é a produção propriamente dita, isto é, como a música é feita. Para isso, foram usados como referência exemplos do início da produção independente nacional, como o selo Lira Paulistana, exemplos da década de 90, como a Banguela Records e o Monstro Discos, e exemplos mais atuais, como o Laboratório Fantasma. A vertente da distribuição, a maneira pela qual o produto vai chegar ao ouvinte, foi representada por exemplos de festivais de música independente, uma vez que shows ao vivo são pressupostos como a melhor forma de se divulgar um artista. Falamos sobre a questão estética também, ou seja, sobre como ela se apresenta nas músicas atualmente, como é pensada e como mostra determinado posicionamento cultural e social em relação ao artista. Um dos exemplos analisados, e talvez o principal nome do movimento independente atual na música brasileira, foi o grupo BaianaSystem,
Coletamos também informações sobre hábitos de consumo musical de algumas pessoas, como forma de buscar comprovar a hipótese de que é um cenário muito rico. O público abrangeu um total de 178 pessoas, em sua maioria jovens estudantes entre 18 e 24 anos. Essas pessoas responderam a perguntas sobre seu conhecimento de música brasileira, sobre seus artistas favoritos, e sobre o papel da música na cultura nacional. Minha suposição, ao criar o formulário, era me deparar com pessoas que, apesar de achar que conhecem nossa música, focam apenas no mainstream. A plataforma utilizada para o recolhimento desses dados foi o Formulários do Google, que fornece opções para criar um questionário e compartilhá-lo com outras pessoas. Uma outra pesquisa, feita de maneira semelhante na mesma plataforma, foi dirigida apenas a músicos independentes, objetivando a colheita de dados de opiniões de que está vivendo o cenário sobre a produção e a divulgação musical brasileira.
Foram realizadas entrevistas com os jornalistas e críticos musicais Guilherme Guedes e Arthur Dapieve. Ambas as entrevistas foram feitas de acordo com o método de entrevista em profundidade de Jorge Duarte (2005). Nelas, os entrevistados dão seus depoimentos sobre a época, sobre o cenário musical e sobre a importância desses movimentos para a cultura brasileira.
Foram usados como base para o desenvolvimento da pesquisa shows do BaianaSystem, para ver se representam uma inovação no jeito de se fazer shows (por exemplo, a apresentação do grupo nos festivais Lollapalooza e Rock in Rio). Foram estudados a fundo também edições passadas de festivais independentes já consagrados, como o Abril Pro Rock, o Goiânia Noise, mas também novos como o Festival Tenho Mais Discos Que Amigos, para concluir sobre sua influência no cenário musical. Além disso, usamos a trajetória de artistas como Emicida, Letrux e Charlie Brown Jr. para analisar casos de independentes que caíram no gosto popular e acrescentaram mais diálogo à música nacional. Recortes históricos também serão usados para fomentar o ponto de vista de que a independência musical se trata também de uma questão estética.
Todos se mostram fundamentais para o entendimento de uma estrutura que ampliou a perspectiva cultural do país, ao misturar e criar gêneros e reinventar conceitos.
2. “Feito Em Casa”: A história das gravadoras independentes no Brasil
“Ele fez uma canção bonita
Pra amiga dele
E disse tudo que você pode
Dizer pra uma amiga
Na hora do desespero
Só que não pode gravar
E era um recado urgente
E ele não conseguiu
Sensibilizar o homem da gravadora
E uma canção dessa
Não se pode mandar por carta
Pois fica faltando a melodia
E ele explicou isso pro homem:
‘Olha, fica faltando a melodia’”
(“Canção Bonita”, do grupo Rumo)[2]
A música independente é um fenômeno observado desde o seu nascimento. O autor Gil Nuno Vaz analisou a época de surgimento das primeiras produções independentes que ganharam notoriedade em território brasileiro em seu livro “História da Música Independente”, lançado em 1988. O autor analisa o termo independente através do depoimento de músicos. De acordo com Vaz, Luiz Lucas, do grupo Língua de Trapo (originado em 1979), contou que o modo como a palavra é usada deu a entender que, no final das contas, esse tipo de músico acaba sendo mais dependente do que todos, diante da dificuldade em obter reconhecimento.
O autor associa a produção independente a uma evolução no panorama estético da música brasileira. Apesar dos aspectos mercadológicos e econômicos que marcam esse tipo de produção, ele insiste em analisar o mundo musical independente através de uma perspectiva estética. Para Vaz, os independentes, com suas propostas diferentes do comum, acrescentam algo de novo ao panorama da MPB.
Os ousados compositores independentes tinham em suas melodias e arranjos elementos que não eram comuns para a música popular de então. Dentre esses elementos, temos formulações atonais (que não seguem o padrão tonal das escalas convencionais), além de complexas rítmicas que causavam certo estranhamento para o ouvinte, muitas vezes baseadas na música erudita modernista (CAVAZOTTI, 2000). Esse estranhamento levou a cantora Tetê Espíndola a ser vaiada em um festival organizado pela TV Globo em 1981, em que cantou uma música composta por Arrigo Barnabé, outro artista independente[3].
A maior liberdade encontrada pelos independentes para compor e escrever músicas acabava por resultar em sons experimentais que demonstravam sua atitude estética. O grupo Zimbo Trio por exemplo, tinha seu trabalho voltado para a mistura de diferentes vivências musicais, misturando a sonoridade do jazz com a da bossa nova e a da MPB. Isso ficou evidente desde o lançamento do primeiro disco, com selo homônimo.
Ao se aproximar do final de uma década de 70 cheia de clichês e saudosismos estilizados, o cenário paulista independente ficou conhecido como a “Virada Paulista” (VAZ, 1988, p. 54/55). O movimento ganhou destaque no cenário musical de São Paulo ao apresentar artistas que fugiam do padrão estabelecido pela indústria fonográfica. Entre eles, temos, além do já citado paranaense Arrigo Barnabé, a paulista Eliete Negreiros e grupos como Rumo (VAZ, 1988, p. 32) e Língua de Trapo (VAZ, 1988, p. 42). Um selo ganhou mais destaque nesse cenário: o chamado Lira Paulistana[4], que chamou atenção ao promover shows ao vivo ao ar livre, mas também por ter sido um dos precursores nesse estilo de gravação despretensiosa em relação aos padrões fonográficos brasileiros. Para Fernandu Uzeda, assistente da gravadora, o Lira “é parte da história de São Paulo. É parte da história de muita gente interessante de São Paulo”[5].
Foi uma iniciativa que deu voz a quem não tinha e queria ter. De acordo com Riba de Castro, um dos fundadores do selo:
Tudo começou de uma necessidade que existia em São Paulo naquele momento. A cidade tinha grandes teatros, grandes espaços, mas os artistas que estavam começando dificilmente tinham oportunidade de fazer um show em um espaço para mil, para 500 pessoas. O Lira surgiu com esse propósito: um espaço pequeno que pudesse dar a possibilidade a novos artistas que estavam surgindo de produzir o seu próprio show[6].
O Lira surgiu de apresentações ao ar livre. O nome veio de um teatro local que futuramente serviria como uma espécie de Centro de Artes. Lá eram apresentados diferentes artistas, com influências e estilos diferentes, que mostravam algo que ia além do que era mostrado ao público como mainstream. O disco responsável pelo lançamento da gravadora foi “Beleléu e a Banda Isca de Polícia”, de Itamar Assumpção, um dos maiores nomes do movimento da Vanguarda Paulista, em 1980. No álbum, Assumpção apresentou uma mistura ousada de samba, jazz e rock.
Iniciado por menos de dez jovens que desejavam tirar o monopólio da indústria da música das mãos das grandes gravadoras, o Lira deu seus primeiros passos sem os meios de produção em si. De acordo com Riba, era tudo terceirizado. Os horários de estúdio eram marcados durante a madrugada, quando o aluguel era mais barato. A visibilidade alcançada pelos primeiros lançamentos do selo fez com que mais artistas independentes, guiados pelo desejo de gravar um disco, fossem atrás da Lira Paulistana. A gravadora ainda ajudava com algumas melhorias técnicas e com negociações para distribuição de discos em algumas pequenas lojas. Vale lembrar que a aceitação dos vendedores era um dos principais desafios, uma vez que estavam acostumados a distribuir discos de massa[7].
Na série documental “O Outro Lado do Disco”[8], exibida em 2015 pelo Canal Brasil, o momento da explosão de um cenário independente na música brasileira é relembrado por especialistas no ramo, como Ricardo Cantaluppi, Riba de Castro, Miranda e Kid Vinil. A dificuldade de se produzir um disco de forma independente na época, conforme lembra Cantaluppi, estava na produção do suporte físico (os discos de vinil). Uma operação industrial era a base para a fabricação dos discos para, então, serem divulgados. Um artista, por si só, não conseguiria bancar a operação, tampouco arcar com os custos dessa produção em escala. “O sonho de um garoto da periferia era esse: gravar um disco e dizer ‘Eu existo!’”, explica Kid Vinil. Esse sonho, no entanto, se via longe para a maioria, tendo em vista as dificuldades financeiras para as despesas de gravação e distribuição de um material independente.
O compositor e pianista Antônio Adolfo é reconhecido como um dos precursores da reação contra o sistema engessado de produção musical. Em 1977, após sucessivas tentativas de propor seu trabalho às gravadoras sem obter aceitação, ele lançou um álbum que ele mesmo produziu, chamado “Feito em Casa”. A proposta do álbum em pouco condizia com os sucessos da época, que eram a base das gravadoras para novos sucessos.
Resolvi gravar um disco praticamente instrumental, em fita cassete ainda. Eu mandei para todas as gravadoras com quem eu trabalhava, mas eles não deram bola. Então eu resolvi partir para uma produção independente. (...) A gente enchia o carro de discos e saíamos viajando por aí. O saldo foi superpositivo, então a gente continuou fazendo[9].
Eles já receberam vários apelidos, como Pena Schmidt lembra na série documental: malditos, underground, “os do lado de fora”, alternativos... O termo independente passou a ser usado para classificá-los como algo fora do sistema da indústria da música. Mas a maior questão não era o fato de serem diferentes, mas sim o fato de não existir um espaço que mostrasse e enfatizasse a diversidade de trabalhos escondidas, até então, nos porões das casas.
Conforme os selos e gravadoras independentes surgiam, foram dadas oportunidades de gravação não apenas para novos nomes, mas também para novos movimentos. A gravadora Eldorado, que começou de forma independente, por exemplo, foi responsável pelo lançamento dos primeiros álbuns relevantes de gêneros como o hip-hop (com a coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua”[10], coletânea lançada em 1988 e responsável pelo início da parceria entre Thaíde e DJ Hum) e o axé (com o lançamento de Daniela Mercury em 1991[11]).
Com o tempo, as gravadoras grandes tentaram incorporar selos menores para perder concorrência. Alguns, no entanto, resistiram e continuaram atuando de forma independente. Um exemplo atual disso é o Laboratório Fantasma, uma gravadora que surgiu como uma loja de camisetas artesanais, e de repente se tornou um dos pilares para a atual valorização do hip-hop nacional. Na época de sua criação, em 2009, o mercado dedicava seus esforços ao crescente fenômeno do sertanejo universitário, mas a equipe quis continuar apostando na ideia de que a cultura hip-hop salva vidas e deve ser difundida dentro da cultura brasileira. E foi essa cultura alternativa que uniu os criadores da gravadora. “Se quiser ir rápido, vá sozinho. Mas se quiser ir longe, vá em grupo”[12], diz o Manifesto do Laboratório.
Alem do rapper Emicida, um dos fundadores da gravadora, vários outros artistas lançados por ela hoje têm reconhecimento nacional. É o caso de Rael, Fióti e Akua Naru. Rael, em 2017, fez um elogiadíssimo show ao lado da consagrada artista Elza Soares[13].
Como a sobrevivência por parte dos independentes era, até há pouco, muito difícil, cabia a esses selos a missão de encontrarem meios e veículos alternativos para sua divulgação. Entre eles, temos o show, talvez o meio que se mostre mais eficaz entre todos para um artista independente se promover. As apresentações ao vivo sempre se mostraram boas para captar a atenção e o interesse do público. E isso foi percebido logo no início da Virada, quando o Lira Paulistana promovia apresentações ao ar livre para a divulgação de seus artistas. A visibilidade adquirida foi tanta que a Secretaria de Cultura de São Paulo contratou o selo para organizar um evento grande na data de fundação da cidade. Foi a partir desses shows que a banda Ultraje a Rigor, por exemplo, tornou-se conhecida, em meados dos anos 80 (VAZ, 1988, p. 54).
E esse cenário se reflete até hoje. Novos artistas que estão fora dos holofotes da mídia conseguem chamar atenção através de shows ao vivo. São o principal canal de divulgação, por exemplo, dos pequenos grupos de forró de Manaus, que se apresentam diversas vezes por noite. É daí que obtêm a maior parte de sua remuneração, de acordo com Melo & Castro (2011). O fenômeno do tecnobrega, por exemplo, conseguiu reconhecimento através da venda de DVDs produzidos, em maioria, em apresentações ao vivo, além das apresentações em si (2011, p. 189).
Além dos shows, outros meios alternativos ao disco, observados por Vaz, são os registros em fita e as partituras (1988, p. 55/56). As partituras foram um método interessante encontrado especialmente para a divulgação de composições eruditas contemporâneas. Muitos compositores, incluindo professores de música, usavam suas composições como exemplos para seus alunos praticarem.
O autor reconheceu todos esses meios em 1988, mas ainda citou o potencial de proliferação das gravações em vídeo, que naquele momento ganhava crescente reconhecimento no mercado fonográfico. Isso tudo foi dito ainda antes da mudança nos padrões de consumo e de produção musical ocasionados pela internet. A música independente se apropriou do espaço oferecido para arranjar outros meios de se mostrar, de acordo com as autoras Gabriela Miranda e Simone Pereira de Sá na coletânea “Nas Bordas e Fora do Mainstream Musical”[14], lançada em 2011. Abordando um aspecto que ainda não tinha muito reconhecimento ou espaço na época em que Vaz escreveu seu livro, as autoras Simone Pereira de Sá e Gabriela Miranda escreveram sobre a divulgação do funk carioca e do espaço dos DJs nesse cenário. O espaço disponibilizado pelas plataformas digitais proporcionou que artistas e produtores independentes conseguissem divulgar seus trabalhos através de sites como o Funk Neurótico[15], facilitando a comunicação entre o artista e o público (SÁ, MIRANDA, 2011, p. 299).
Esses aspectos geram uma problematização acerca da classificação dessas músicas através do termo independente. Isso porque o artista acaba se tornando dependente dessas pequenas gravadoras, ao apostar nelas para gerar maior alcance de suas obras. E não é uma questão simples e fácil de se compreender. Apesar da liberdade de criação, o artista deveria manter uma relação comercial com o produtor fonográfico. Se torna uma questão complexa não só no quesito econômico, mas também em aceitação do público e, é claro, uma questão estética do artista.
Tudo isso, analisado por Gil Nuno Vaz e pelos fundadores das gravadoras independentes na série documental, se expandiu e ganhou diversas ramificações nos dias de hoje. A facilidade que a produção musical adquiriu nos últimos anos fez com que surgissem diversos novos movimentos musicais, sendo nem todos eles divulgados pela grande mídia.
3. A Cauda Longa da indústria fonográfica
“Vamos coletivar
Tirar as coisas do lugar
Cultuar a novidade
Vamos modificar
Somar, juntar e transformar
As coisas de verdade”
(“Motirõ”, do grupo BTRX)[16]
Tanto o Lira Paulistana quanto selos e gravadoras que surgiram posteriormente, como a Banguela Records (responsável por lançar Raimundos e Mundo Livre S.A.), enfrentaram como maior dificuldade levar o seu produto ao grande público. Na época, no entanto, não se pensava no universo que estava prestes a virar tudo pelo avesso: a internet.
Sim, a internet que conhecemos hoje, capaz de gerar um fluxo incrível de informações e de diminuir as distâncias, gerou toda uma revolução na indústria do entretenimento. Especialmente, é claro, na música. O principal efeito da rede de computadores integrados começou timidamente, ao distribuir recursos para um crescente número de pessoas ter acesso aos meios de produção. Estava começando o fim da “era dos hits”, em que só ganhava fama e espaço o que era reproduzido nas rádios e estava exposto nas prateleiras de lojas de discos.
Mas o impacto se deu, primeiramente, nas lojas físicas. E nisso a questão do espaço entra com força. Em “Cauda Longa”, o autor Chris Anderson analisa o início da era da internet com um panorama nunca antes vivido pela sociedade. Se antes uma loja se via forçada, por questões mercadológicas, a manter em seu estoque apenas os produtos que mais vendiam (o mainstream), hoje a variedade chama mais a atenção. Essa variedade é possível porque o armazenamento digital proporcionou espaço quase infinito para os produtos de nicho a um custo quase zero.
Trata-se, de forma resumida, da ascensão de uma grande cultura paralela, na qual a popularidade de produtos diversificados aumenta conforme o tempo passa. No caso da música, podemos enxergar esse panorama como o crescimento da força dos artistas e gravadoras independentes. De acordo com as palavras do próprio autor, esse efeito, apelidado de “Cauda Longa”, refere-se a um “universo criado pela Internet, em que a receita total de uma multidão de produtos de nicho, com baixos volumes de vendas, é igual à receita total dos poucos grandes sucessos” (ANDERSON, 2006, p. 2).
Desde a Lira Paulistana até exemplos mais recentes, como o Laboratório Fantasma, o Sinewave[17] e a Tratore[18], o espaço para a música independente aumentou de forma muito acelerada. Uma cultura paralela passou a ganhar cada vez mais força e agora confronta o mainstream, os maiores sucessos nos meios de massa. Essa emergente popularidade dos produtos diversificados tira a atenção dos produtos de maior sucesso.
A indústria, com isso, precisou se reinventar, e o mercado de nicho passou a ser analisado com mais atenção. Isso porque, ao longo dos últimos 50 anos (pelo menos), o hit era o que predominava, sustentando a indústria do entretenimento (isso vale não apenas para música, como também para livros e filmes).
Para comprovar isto, bastam números. Dos 50 álbuns mais vendidos de todos os tempos nos Estados Unidos[19], 28, incluindo, “Thriller”, do Michael Jackson (o mais vendido da história), foram lançados no período de 20 anos que compreende as décadas de 70 e 80. Esse período é considerado, por Anderson, como o “apogeu da cultura de massa” (p. 2). Depois ou antes disso, apenas alguns álbuns que ganharam destaque revolucionário tiveram espaço na lista, como The Beatles em 1968, ou Metallica em 1991. O crescimento do pop teen dos anos 90 também ganhou forte destaque na lista com nomes como Britney Spears e Backstreet Boys, mas foram eventos esporádicos. O ponto mais fora da curva foi o álbum “21”, da cantora Adele, que entrou na lista mesmo lançado em 2011, já na época em que a cultura de nichos se mostrava fortificada.
Mesmo na indústria brasileira, cujo boom de vendas físicas veio tarde, os dois únicos álbuns nacionais na lista dos 20 mais vendidos lançados no novo milênio foram o de estreia dos Tribalistas (2002) e um CD ao vivo da dupla Sandy & Junior (2000). Esses dados provam o mercado de nicho que se consolidou, dividindo as vendas entre vários nomes, não apenas os mainstream. Artistas que praticamente dominam a indústria fonográfica nos dias de hoje, como Luan Santana e Anitta[20], não vendem mais tanto, e isso já é um fato, seja por causa da chamada pirataria digital e da atual era do streaming (que alteraram a lucratividade da indústria de forma evidente) ou por causa da fragmentação dos gostos musicais proporcionada pela revolução digital. É evidente que nomes como Antônio Adolfo e Itamar Assumpção, artistas independentes analisados por Gil Nuno Vaz em seu livro, tal como os nomes das emergentes gravadoras independentes, não previram isso. O fim da chamada Era do Disco se deu através dos ouvintes, que foi ofuscada pelo que a tecnologia passou a oferecer.
De qualquer maneira, é praticamente impossível um disco hoje vender tanto quanto os clássicos dos anos 80. Não apenas pela ascensão de possibilidades e pelo declínio dos hits, mas também diante da própria queda da mídia física. CDs perderam espaço para o streaming, de uma forma mais brutal em relação à queda que vimos em relação aos downloads de música, ao longo da década de 2000. As plataformas de streaming, tais como Spotify e Deezer, e os downloads (que caíram nos últimos anos) foram responsáveis, em 2017, por 77,2% dos lucros do mercado fonográfico brasileiro[21]. É uma realidade.
De uma pesquisa realizada com 178 pessoas[22], na maioria jovens com poder aquisitivo, 174 veem no streaming (majoritariamente) e o nos downloads as melhores maneiras para se ouvir música, equivalente à maioria absoluta de 97,25% dos pesquisados. É preferível, hoje em dia, ter várias opções de música para adicionar à sua disposição em uma playlist do que comprar um CD ou um disco, normalmente mais caro do que a assinatura do serviço de streaming, contendo uma média de 10 músicas do mesmo artista e do mesmo gênero musical.
Definitivamente o meio mais ouvido atualmente, o streaming ocupa um lugar na indústria que outrora fora ocupado pelos tradicionais rádio e televisão (Imagem: Resultado / Formulários Google).
Os CDs e discos de vinil ainda são consumidos, mas de forma reduzida. A possibilidade de ouvir música sem ser na forma física tornou o consumo de música muito mais prático. De acordo com o jornalista e crítico musical Arthur Dapieve[23], o consumo reduzido de CDs e vinis vem agora de um nicho específico, da mesma forma que o consumo de certos artistas e gêneros nos dias de hoje:
O vinil, por exemplo, que era dado como desaparecido, ocupa porções cada vez maiores de lojas da Europa. Eu acho que algo semelhante vai acontecer com o CD: vai ser um nicho, mas aquele nicho fica ali. Então é um mundo novo, onde as coisas acontecem muito rápido. Você acha que já aprendeu tudo quando, de repente, surge outra plataforma. Para a música independente, isso é um desafio a mais.
O que se concretizou foi um mercado que não se esgota diante de um universo cada vez maior de possibilidades. Estas possibilidades encantaram os usuários da crescente internet, que desmitificou outro conceito estudado por Anderson, a Regra dos 80/20. Esta regra diz que, no mundo físico, 80% das compras são de apenas 20% dos produtos. O mesmo não se aplica ao mundo digital, que oferece ao consumidor produtos de qualidade não populares no mesmo espaço dos produtos com maior divulgação.
O conceito de hits ainda existe (se não fosse assim, Luan e Anitta não seriam considerados os melhores cantores atuais), mas sua popularidade diminuiu diante de uma crescente quantidade de material sendo produzido e disponibilizado para todos. Isso sintetiza o conceito da Cauda Longa.
Imagem que simboliza o efeito da Cauda Longa. Conforme os nichos ganham mais força, os hits perdem força e relevância em um cenário cada vez mais competitivo (Imagem: Agência WCK).
Trazendo a discussão para a questão dos independentes, o autor utiliza a metáfora de uma ilha. Ela não é só a ponta que estamos habituados a ver, tal como a indústria fonográfica. O que o tempo fez foi diminuir o nível da água, fazendo com que mais terra ficasse visível nessa tal ilha. Hoje, um artista independente como Duda Beat[24] compete por espaço com Ivete Sangalo, por exemplo. E não apenas pela produção musical, como também pela distribuição.
Nesse cenário imprevisível, as gravadoras se veem cada vez menores diante de tanta informação. Mas continuam esperando o sucesso de produtos específicos, que classificam como apostas. Illy, uma cantora de MPB baiana, é, por exemplo, a atual aposta de gravadora Universal para o cenário do gênero, distribuindo seu álbum de estreia “Voo Longe”[25]. As gravadoras fazem apostas em diferentes gêneros. A Universal, por exemplo, também aposta no cantor Mumuzinho, que é classificado como pagode.
De acordo com o jornalista Guilherme Guedes[26], elas vivem um momento escuro após conseguirem controle do revolucionário cenário dos downloads no início da década de 2010:. “(...) Elas têm tido dificuldades de se renovar artisticamente, não sabendo direito onde e em quem apostar. A produção comercial parece não ter muito norte, parece não saber como inovar”, explica. Essa imprecisão foi gerada pelo atual cenário, marcado pelo streaming e por uma enorme quantidade de artistas independentes, que gera os efeitos citados por Chris Anderson.
A Cauda Longa atua de formas específicas. Em paralelo à democratização das ferramentas de produção, por exemplo, contemplamos o maior número de álbuns sendo feitos. Mas não foi só isso. Tão importantes quanto as produções musicais, as ferramentas de distribuição também se tornaram mais democráticas. Do contrário, não veríamos a presença tão forte de festivais de música independente (que foram responsáveis pela popularização de bandas e artistas como Nação Zumbi e Rincon Sapiência). Além disso, hoje qualquer artista pode divulgar sua música através de plataformas como Spotify ou Soundcloud (que é visto, pelos independentes, como uma plataforma menos burocrática)[27].
A Cauda Longa, além de proporcionar tudo isso, também gerou um efeito positivo nas pessoas em relação à procura de novos conteúdos. Ao invés de esperarem o conteúdo das rádios os dos canais de televisão, um usuário da internet pode simplesmente entrar no Google ou no iTunes para buscar novas músicas. Não é mais necessário visitar as prateleiras mais obscuras das lojas de discos. Isso impulsionou a demanda para os nichos musicais, que incentivou modernas plataformas a correr atrás de novos métodos de marketing para levar novas recomendações ao ouvinte (e, é claro: sem que ele saia de casa). Apesar de as gravadoras ainda terem, no geral, as melhores técnicas e investimentos em marketing, fazendo com que o seu conteúdo atinja o povo de maneira mais eficaz do que conteúdos independentes, isso pode ser visto com um grande avanço.
E por falar em público, ele é que deve ser visto como protagonista dessa história toda, e não as gravadoras ou a revolucionária internet. São os ouvintes que, bem ou mal, aprovam os conteúdos. A internet reforçou esse protagonismo, que fez com que músicas como “Gangnam Style”[28], do cantor sul coreano Psy, ganhassem fama mundial (o que sintetiza o termo “viral”, usado frequentemente em relação às redes sociais). Um exemplo nacional dessa força do ouvinte foi a canção “Que Tiro Foi Esse”[29], de Jojo Maronttini, que viralizou durante o início do ano de 2018, executada inclusive em vários blocos de rua durante o Carnaval.
Apesar de tudo isso, o artista independente se depara com a dificuldade de levar a seu público o seu trabalho. Está tudo disponível na internet, mas ela se torna um universo cada vez mais amplo, e simplesmente largar o conteúdo lá não significa necessariamente fazer com que o público certo o encontre. O jornalista cultural e colunista Arthur Dapieve[30] relata essa dificuldade: “Sempre que eu entro sem ter um propósito específico em um site desses na internet, eu fico com a certeza de que estou perdendo a música que vai mudar a minha vida, porque eu não consegui chegar ali”, conta. Para ele, o boca a boca de pessoas confiáveis, de amigos, de jornalistas e de blogueiros, é de suma importância para essa divulgação.
Assim, cabem aos festivais uma parcela importante não só do reconhecimento, como também da remuneração do artista (que é muito baixa em serviços de streaming). O artista precisa se movimentar, mas também é muito interessante para produtoras de eventos, sendo benéfica para os dois lados. Festivais independentes são mais uma válvula de escape para a driblar o mercado fonográfico e divulgar artistas fora dos holofotes. Nessa categoria, a palavra independência assume uma postura mais evidente, uma vez que esses festivais precisam arcar com a falta de patrocínio.
Um dos precursores dessa nova fase de festivais no Brasil nasceu em Recife no ano de 1993. O evento, chamado Abril Pro Rock é considerado o primeiro festival independente no país a ganhar visibilidade nacional, e hoje já se encontra em sua vigésima quinta edição. Os Los Hermanos, antes de terem contrato com gravadoras, se apresentaram no Abril em 1999[31], e foram elogiados pela crítica. Chico Science, nome do movimento manguebeat, ganhou visibilidade e fama nacional por causa de sua participação na primeira edição do evento[32].
O crescimento da fama desses festivais levou à criação de um órgão chamado FBA (Festivais Brasileiros Associados)[33], que promove a comunicação entre os festivais e o diálogo com outros mercados. Isso ajuda os festivais a garantir mais edições para seus eventos. Um exemplo deles é o Goiânia Noise Festival, realizado anualmente no Centro-Oeste brasileiro. Atualmente em sua vigésima terceira edição, o festival apoia a ideia de se desprender dos padrões fonográficos:
O Goiânia Noise Festival, um dos mais longevos e importantes festivais do país, leva quem curte música a viver uma experiência única: a de assistir shows de bandas originais, criativas, ousadas e que não seguem regras e padrões estabelecidos por mercados, modismos ou tendências[34].
A produção musical independente abriu espaço para os DJs e para a música eletrônica. A house music e o cenário rave ganharam força a partir dos anos 2000. Isso criou uma espécie de “nova indústria fonográfica”, em paralelo com o pop que fazia sucesso ao mesmo tempo. Os DJs de festas passaram a entender com o tempo que o público não queria necessariamente ouvir hits, mas sim dançar. Isso os incentivou a procurar novas sonoridades para as pistas de dança, e consequentemente a surfar a Cauda Longa, trazendo novidades ao público. Como conseguiram acesso a essas músicas? No vasto e até então não colonizado mundo da internet.
Aos poucos, as gravadoras e empresas no geral passaram a entender que não se trata mais de oferecer ao público uma coisa ou outra. A ideia é trocar o termo “ou” por “e”, ou seja, oferecer o máximo de conteúdo possível. Os custos com um estoque digital são muito mais baratos do que um estoque físico. Além do mais, um único produto nunca atenderá a todas as necessidades. A variedade é interessante para o público. Elas se reinventaram e se mostram agora não mais meras gravadoras, mas também empresárias, administradoras de carreira. Mas seria isso o suficiente para controlar todo um mercado agora descentralizado? Como Anderson fala em seu livro, “nunca subestime o poder de um milhão de amadores com as chaves da fábrica” (2006, p. 56). Esse milhão são justamente os artistas independentes.
4. Estética e atitude: BaianaSystem e a estética independente
“A.MA.SSA é o pagodão
Que gruda mais que chi(clete)
Que corta mais que gi(lete)
Então escute pi(vete)
Hoje não tem cani(vete)
É serpentina e con(fete)”
(“Playsom”, do grupo BaianaSystem)[35]
Entendemos que há hoje um maior espaço para músicos independentes. Eles podem agora divulgar suas músicas de forma mais livre e menos burocrática. Isso aumentou as discussões sobre o assunto. Afinal, o que é a música brasileira atualmente se não são os sucessos comerciais do funk e do sertanejo?
Os 178 entrevistados foram questionados se, na opinião deles, o que é amplamente divulgado pelas grandes gravadoras reflete a cultura musical nacional. Desse total, 126 pessoas acham que não. Isso, de certa forma, acaba mostrando que a postura passiva do ouvinte brasileiro está gradativamente mudando. Eles sabem que o funk e o sertanejo não necessariamente definem o que é a nossa música atual.
Apenas 28,7% dos entrevistados consideram que músicas com maior força de divulgação (rádios, televisão, propagandas...) ditam e resumem a cultura musical do Brasil (Imagem: Resultado / Formulários Google).
Há de se considerar que o Brasil é um país muito amplo em termos territoriais, e consequentemente possui uma vasta e diversificada cultura. Cada região possui hábitos específicos, e isso também se reflete em nossos costumes, linguagem e arte. Fenômenos específicos surgiram no Norte, como o tecnobrega. Outros, no Sudeste, como o samba e o funk. Sempre foi um desafio para a indústria fonográfica escolher o que deverá ser amplamente veiculado e divulgado. Diante de um país inteiro de infinitas e diversas possibilidades, as gravadoras tiveram que definir um critério específico para escolher artistas e gêneros a serem trabalhados. Apesar de grandes nomes serem os mais ouvidos nas plataformas de streaming (a dupla sertaneja Matheus & Kauan foram os artistas nacionais mais escutados do Spotify em 2017[36], por exemplo), a presença cada vez mais forte de artistas independentes nos fones das pessoas mostra outras estéticas musicais que ganham cada vez mais espaço no Brasil, como o hip-hop e uma espécie de nova MPB potencializada por elementos modernos como sintetizadores. Isso tudo pode ser considerado uma consequência direta da Cauda Longa.
Para esta monografia, foi realizada também uma pesquisa com músicos que atuam de forma independente, para saber a opinião deles sobre o atual mercado. Quando questionados se a indústria fonográfica é democrática em relação à totalidade da cultura brasileira, a maioria considera que não:
Vivendo na pele a discrepância de divulgação entre grandes e pequenos artistas, a cena independente aponta que a preferência por específicos artistas/gêneros não é benéfica para a cultura nacional (Imagem: Resultado / Formulários Google).
Na mesma pesquisa, os artistas foram questionados se são independentes por opção ou se simplesmente não conseguiram contrato com gravadoras: 33,3% receberam respostas negativas de grandes labels, enquanto a maioria começou já de forma independente. Essa maioria disse ainda que, mesmo se tivesse chance, não se vincularia a uma gravadora. As novas ferramentas de produção aqueceram o mercado ao ponto de dar, além de condição e autonomia, coragem a esses pequenos músicos para bater de frente com um até então consolidado mercado.
Apesar de existirem bandas e artistas que se lançam de forma independente para atrair o olhar das gravadoras, apostando numa sonoridade mais pop (como foi com a banda Skank[37] nos anos 90 e como aconteceu atualmente com Illy), existem também músicos que passaram a questionar o que era feito musicalmente no Brasil. Apostando em sonoridades diferentes, misturando estilos e desconstruindo ideias de gêneros, alguns grupos estão mostrando uma nova (pelo menos em termos de divulgação) face para a produção musical nacional.
O cenário musical dos anos 90 é uma das maiores provas disso. Enquanto o axé e o pagode vendiam milhões, o rock que ganhou tanto destaque ao longo dos anos 80 perdeu força. Isso decepcionou uma forte camada de roqueiros em relação ao cenário musical do país. Eles decidiram apostar na sonoridade que queriam por conta própria, já que não era vantajoso para as gravadoras investir em nichos. Foi, não por acaso, a época de surgimento de vários selos independentes, como aborda a minissérie “O Outro Lado do Disco”. Nesse momento, surgiram também Raimundos, Virgulóides, Sex Noise e várias outras bandas. Elas conseguiram apoio desses selos, que se responsabilizavam pela produção. Alguns selos que ganharam mais visibilidade, como o Banguela Records, fizeram parceria com major labels, mas a gravadora não ficou responsável pela produção, mas, sim, pela distribuição do conteúdo. Foi esse networking que permitiu que o Raimundos abrisse shows para nomes consolidados como Titãs, e que fez o grupo se tornar um dos maiores do rock nacional nas décadas seguintes. Foi também o princípio de algo que se enxerga com facilidade hoje: artistas que querem ter a totalidade da liberdade criativa da sua obra, o que possibilita resultados musicais mais diversos, introspectivos e pessoais.
Em depoimento ao programa “O Outro Lado Do Disco”, Márcio Jr., um dos fundadores da gravadora independente Monstro Discos, reforça que considera que o artista deve ser o dono de sua própria concepção artística:
O nosso papel é dar voz a esse artista, e não interferir no trabalho dele. Não é formatar o trabalho dele. Não é trazer o trabalho dele para um campo mais palatável. É o contrário disso. É garantir que ele se expresse da maneira mais autêntica possível[38].
Se a palavra certa para isso for o termo inovação, podemos afirmar que ela, quando surge na música brasileira, surge de artistas independentes[39]. Isso porque sempre foi uma estratégia defensiva de grandes gravadoras não apostar em novidades, tentando manter seu público fiel. A comercialização de um movimento musical acaba sendo uma consequência de seu sucesso, como aconteceu não só com o rock brasileiro dos anos 90 e com o fenômeno do tecnobrega, mas também com o próprio sertanejo universitário[40] que hoje é sucesso em todo o Brasil.
Guedes cita[41] o grupo Metá Metá, originado em São Paulo, como um dos principais nomes do que seria uma nova Vanguarda Paulista. A comparação é interessante, pois mostra que, tanto no início dos anos 1980 quanto em 2018, a música independente soube se reinventar diante dos padrões das grandes gravadoras, que tentam constantemente se adaptar às cada vez mais constantes mudanças tecnológicas. Vale enfatizar que a sonoridade proposta pelo Metá Metá é algo diferente ao mainstream atual (o grupo propõe uma mistura de samba e ritmos de matriz africana com a faceta instrumental do jazz[42]). O mesmo era dito sobre a sonoridade de Itamar Assumpção. É a estética musical dos artistas impondo novas vertentes para a cultura brasileira.
Um dos exemplos mais evidentes dessa desconstrução musical é o grupo BaianaSystem, formado em 2009. Apostando na mistura de gêneros populares da música da Bahia (ijexá, samba-reggae, axé...) com a linguagem do Sound System popularizado na Jamaica, o grupo se apoia em um conceito chamado antropofagia baiana, remetendo ao clássico “Manifesto Antropófago”, um dos textos mais importantes da era do Modernismo no Brasil, escrito por Oswald de Andrade em 1928. “Só a antropofagia nos une”, disse o autor, e a esse posicionamento se remete o BaianaSystem em suas músicas.
O grupo chamou atenção internacional com seu segundo disco de estúdio, “Duas Cidades”, lançado em 2016. Alguns críticos consideram esse um dos álbuns mais importantes da década. O jornalista Alejandro Mercado afirma que o grupo foi responsável pelo início de um movimento que trouxe “um novo sopro de frescor à cena brasileira”[43], diante de um cenário que mostrava pouca inventividade musical. As apresentações do grupo ganharam fama por sua energia e interação com o público, e já conquistaram participações em festivais maistream como o Rock in Rio[44].
Outro elemento que impressiona no grupo é a sua arte gráfica. Idealizada por Filipe Cartaxo, o diálogo visual do grupo é um mais um elemento que destaca o BaianaSystem da maioria dos artistas e grupos veiculados pela mídia[45]. Desde o início do grupo, as máscaras que são distribuídas durante os shows se mostram fortes elementos visuais. O objetivo é repaginar a representação urbana não apenas musicalmente, mas também através da imagem. Eles utilizam-se de recursos imagéticos para afirmar também a força de seu discurso de criação, ampliando assim a experiência do audiovisual.
Vale lembrar que, nos dias atuais, a música e a imagem estão cada vez mais associados. Durante um trabalho de divulgação de um single, o artista (quase que como uma regra) deve ter um videoclipe para a música, como forma de atrair olhares e cliques para si ou para seu grupo. No início dos anos 80, tímido início do “boom” da música independente no Brasil, o videoclipe ainda não era uma regra. Tal forma de divulgação só foi ganhar força com a consolidação da MTV, ao longo da década. A moda pegou no Brasil, e com isso foi lançado mais um desafio de divulgação para o músico autônomo. Chegou um momento em que, além da produção da música em si, esse músico teria que arcar com os custos também da produção de um videoclipe se quisesse maior visibilidade. A partir desse momento a imagem passou a valer mais. Marcão, ex-guitarrista da banda Charlie Brown Jr., falou sobre isso em uma rede social[46]. “Era a época do ‘Make Yourself’. Tudo na raça, feito por nós mesmos! Não tínhamos produção nenhuma, mas tínhamos um sonho gigante. Coragem, vontade e muito esforço”, disse o músico ao se referir à gravação um primeiro clipe da banda no início dos anos 90, nunca antes divulgado e produzido autonomamente antes mesmo do lançamento do primeiro álbum do grupo, em 1997. O grupo já tinha entendido a importância que a imagem passou a ter na indústria. O barateamento de equipamentos de vídeo foi outro elemento que ajudou a dar força aos músicos independentes. Com ênfase maior na década de 2010, artistas passaram a ter controle sobre ferramentas de produção e, guiados por criatividade, desenvolveram vários trabalhos autônomos com ótimas adaptações audiovisuais[47].
Vocalista Russo Passapusso e uma das máscaras do grupo. A identidade visual é um dos principais elementos que fizeram com que o BaianaSystem se destacasse (Imagem: Reprodução / Youtube).
De acordo com um release oficial escrito por BNegão (ex-integrante do Planet Hemp), o BaianaSystem definitivamente ganha pontos no quesito inovação:
Quatro cabeças pensantes a serviço da arte dançante. Arte sonora, visual e reflexiva. Arte mutante, com disposição de arriscar, pra ver aonde vai dar. O peso da bass culture com a mandinga e o tempero baiano. Imagens enigmáticas e instigantes. A palavra das ruas para as ruas. A guitarra baiana recolocada na linha de frente, de uma forma completamente diferente. Bem... você pode gostar ou não, mas uma coisa é certa: não existe nada parecido com o BaianaSystem[48].
Mais do que algo diferente, a sonoridade do grupo, tais como suas formas de produção e divulgação, mostram uma estética incomum para a produção musical nacional. O grupo afirma a independência com força, explorando outras vertentes da nossa música e inspirando vários outros artistas e grupos a irem além do comum em sua sonoridade.
Pode ser comparado a Antonio Adolfo, apesar das épocas diferentes. Ambos têm em comum sonoridades diferentes aos padrões de suas respectivas épocas. No entanto, enquanto Adolfo compôs sozinho após correr atrás de gravadoras e ouvir respostas negativas por apresentar uma estética musical muito diferente, o BaianaSystem nunca teve relação com qualquer gravadora, pois o grupo sabia que não precisava, e tampouco queria.
E não são apenas arranjos, ritmos e melodias são questionados por esse movimento autônomo. A ausência de comprometimento comercial dá aos artistas a liberdade para falar em suas letras sobre os assuntos que quiserem. Aí entram desde discussões sociais até políticas. Em “Lucro (Descomprimindo)”[49], um dos maiores sucessos do Baiana, Russo Passapusso versa sobre crescimento econômico e bem-estar social. Já o rapper Rincon Sapiência fala sobre a rotina do trabalhador brasileiro e sobre as dificuldades que enfrenta na faixa “A Volta Pra Casa”[50]. Letrux[51] e Johnny Hooker[52] já lançaram músicas que falam abertamente sobre relacionamentos homoafetivos. Não são temas frequentemente explorados em músicas mais comerciais. Em entrevista concedida a Guilherme Guedes no final de 2016, o Baiana fala sobre as letras do disco Duas Cidades e sobre como elas refletem o momento social e político vivido na época:
Eu acho que vai pra expectativa que cada um tem sobre o seu mundo, de como vive, do que quer construir, e isso tá muito evidente no mundo inteiro. A eleição nos Estados Unidos foi muito importante pra todo mundo, a questão dos imigrantes… A gente lançou uma música agora, “Forasteiro”, e tem uma outra faixa que a gente vai lançar em sequência que é “Invisível”, duas faixas que falam sobre isso. “Forasteiro” é sobre a a divisão de espaço, de território, e “Invisível” tem uma letra de Russo que fala: “você passa por mim e não me vê”. De alguma forma a gente tenta trazer essas questões pra arte, pro carnaval[53].
Dos 178 ouvintes de música entrevistados, 38,8% consideram a identificação com a letra um elemento primordial para se gostar de uma música. Nos resultados da pesquisa, essa regra ganha da soma das respostas “dançar” e “relaxar”. Entende-se que o povo busca nas músicas (quando não instrumentais) letras que falem o que quer ser ouvido. Isso, para muitos, vai além do clichê das letras que falam sobre amor[54]. Vale associar isso também ao fato de que, com toda a informação a que estamos submetidos (o que inclui produtos culturais), ficamos confusos e nos sentimos sem identidade. Buscar essa identidade, seja na música, em filmes ou livros, é um caminho natural para se sentir bem. Se a pessoa está indignada com o preço do dólar, por exemplo, porque não refletir ao som de “Tá Com Dólar, Tá Com Deus”[55], da banda Francisco El Hombre, ao invés de qualquer música pop genérica que fale sobre dançar ou flertar?
Existe, claro, a possibilidade de o mainstream se apropriar de um estilo novo diante se seu sucesso (o que justamente aconteceu com o sertanejo universitário e com o tecnobrega). O BaianaSystem, por exemplo, já recusou propostas de gravadoras, afirmando que não deixará de atuar de forma independente. Ser um músico independente é muito mais do que não estar associado a gravadoras grandes. A independência ganhou dimensão não apenas social, como também se tornou um ato político.
5. Conclusão
Conclui-se que, guardadas as devidas proporções, o monopólio da indústria fonográfica foi quebrado, não só no Brasil mas também no mundo inteiro. O modo como as novas gerações consomem música hoje em dia, majoritariamente no formato digital, comprova essa mudança. A mídia física, antes responsável pela maioria dos lucros do mercado, hoje é de interesse apenas de um nicho específico que não quer abrir mão do produto tátil.
A praticidade do formato digital e do streaming fez com que as pessoas tivessem mais facilidade para acessar conteúdos musicais e, logo, encontrar novas músicas que não necessariamente tocam nas rádios. Paralelamente, com a cada vez maior facilidade que os artistas têm para produzir suas próprias músicas, o volume de músicas se tornou cada vez maior. Com isso, os usuários, ao navegarem na internet, têm acesso a um quase ilimitado número de músicas. Isso foi responsável pela gradativa consolidação de nichos musicais. Se você é um amante de rock, pode ter certeza que esse tipo de conteúdo está disponível para você quando quiser. Se gosta de jazz, de música instrumental, de axé e de música eletrônica, idem.
Com a produção cada vez mais dissociada das grandes gravadoras, e a necessidade cada vez menor de se vincular a elas, os novos artistas se sentem livres para falar sobre o que quiserem, e também para compor da maneira que quiserem. Isso abriu espaço para novas experimentações musicais, muitas delas que resultaram em futuros sucessos como Skank (apesar de letras comerciais voltadas para os usuários das gravadoras) e Daniela Mercury, nos anos 90. Atualmente, a situação se mostra ainda mais complexa, com um número maior de artistas buscando novas sonoridades e misturas e propondo ressignificações, ampliando ainda mais a já rica e diversificada cultura brasileira. E é dessa cena atual que surgiram grupos e artistas completamente inovadores e que ganham cada vez mais destaque na cena musical do país, como BaianaSystem, Rincon Sapiência e Metá Metá.
Os artistas independentes, da mesma forma que as gravadoras, se veem rendidos às mudanças tecnológicas que a sociedade anda sofrendo. Considerando que as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais rápida, é muito difícil prever o que pode acontecer. Do dia para a noite, as formas de distribuição e de produção de música podem sofrer a intervenção de algum novo meio digital. Estão todos no mesmo barco, buscando superar essas ondas.
Um outro desafio para os músicos autônomos ainda é a divulgação. Apesar de dominarem os aparatos de produção musical, produzindo trabalhos de qualidade cada vez maior e fazendo com que as gravadoras sejam cada vez menos requisitadas quando se fala de produção, os artistas independentes ainda têm que descobrir uma maneira efetiva para que a sua música chegue a seu público. Precisam descobrir o procedimento para fazer com que as pessoas saibam que a música existe. Claro, existem indicações de plataformas de streaming, mas isso ainda não se mostra suficiente. Os shows, pressupostos como a melhor forma de divulgação desses artistas, ainda são uma estratégia desafiadora em um país como o Brasil. De acordo com Dapieve, “a divulgação de shows é uma coisa complicada, devido às distâncias, aos poucos lugares e à insegurança. Lá fora, faz muito sentido”.
Apesar de uma divisão de nichos nunca vista antes, as pessoas ainda têm dificuldades de se relacionar com novidades na música brasileira. De acordo com a pesquisa realizada para esta monografia, a pergunta “De 0 a 10, quanto você se considera ‘conhecedor da música nacional’?” teve uma média de respostas de 5,84. Isto significa que, mesmo com as ferramentas na mão, os entrevistados, em sua grande maioria, relatam dificuldade em encontrar esses conteúdos novos que surgem. Não são todos que conhecem os novos fenômenos da nossa música, pelo menos os que não têm a divulgação necessária.
A Cauda Longa se comprovou mais uma vez com as respostas da pergunta sobre os gêneros musicais favoritos dos entrevistados. O pop brasileiro (entendido como a vertente da música nacional que une o funk a elementos R&B internacional, com nomes como Anitta e Ludmilla) apareceu na frente e não muito atrás do funk propriamente dito, com 50,6%. Mas a MPB ainda possui expressiva força (47,8%), tal como o rock (37,1%) e o crescente hip-hop (26,4%). Estilos com uma força mais regional, como o forró e o axé, também receberam uma média boa de votos (respectivamente 14,6% e 12,4% dos entrevistados). Indie, folk e música eletrônica aparecem com uma porcentagem menor de votos, mas estão lá, configurando o formato de cauda do gráfico[56].
Vários artistas e grupos independentes foram citados como favoritos: Rincon Sapiência, BaianaSystem, Heavy Baile, Ventre... Apesar das dificuldades em conseguir encontrar o público certo, há, mesmo que em uma proporção ainda pequena, quem já tenha encontrado. Vale lembrar que os entrevistados estavam sujeitos a escolher qualquer nome popular do sertanejo ou do funk.
Ainda analisando essa dificuldade de divulgação, os entrevistados também foram questionados sobre como tomaram conhecimento de seu artista favorito. As indicações de serviços de streaming somam 6,7% das respostas, enquanto os shows ao vivo chegaram apenas a 5,1%. As indicações de amigos (29,8%) somam a maior porcentagem, o que justifica o que foi dito por Dapieve sobre a importância do boca a boca para este cenário. Surpreendentemente, o rádio e a televisão somam 29,2%. Isso prova, considerando que a maioria dos entrevistados são jovens, que a atual geração entre os 20 e 30 anos ainda tem apego muito grande, seja emocional ou convencional, às mídias push (mídias que “empurram” o conteúdo ao espectador sem que tenha sido solicitado).
Mesmo sendo o meio mais utilizado para se ouvir música, o streaming ainda não despertou nos jovens brasileiros fascínio em relação aos novos artistas independentes (Imagem: Resultado / Formulários Google).
Mas como que essa democratização de divulgação, até então uma utopia (inclusive aos olhos de Guedes[57]), poderia ser efetivada? Dos artistas independentes entrevistados[58], Geraldo Paim, deu uma resposta que resume, de certa forma, a indignação da maioria:
A dificuldade em rotular superficialmente a diversidade da música brasileira faz com que outros artistas ainda não renomados não se “encaixem". São poucas rádios, praticamente nada na TV, festivais e turnês dependentes de leis de incentivo. Exatamente a multiplicidade da música brasileira é que pode ser o mote para exploração estrutural da cadeia produtiva, de mídia, merchandising a casas noturnas e festivais[59].
É, antes que qualquer outra observação, um cenário ainda complexo. As constantes transformações ajudam a tornar tudo ainda mais impreciso. Enquanto qualquer artista consegue hoje ter ferramentas que o possibilitem criar músicas próprias sem qualquer auxílio, ele se vê (ainda) impossibilitado de confrontar artistas grandes, apesar de, na teoria, isso já ser possível. O que acontece é que os interesses das gravadoras também vieram para o digital, e elas possuem técnicas de marketing e de divulgação superiores às dos artistas autônomos.
Ao mesmo tempo, a consolidação dos nichos, comprovada por Anderson em “A Cauda Longa”, é uma realidade cada vez mais perceptível. Há quem consuma cada tipo de música que é disponibilizada na web. Todos têm audiência, mas vale lembrar que a teoria da Cauda não fala em igualdade total, mas sim na queda do monopólio dos hits. Guedes e Dapieve apresentam opiniões diversas sobre isso. Enquanto Guedes acredita que as gravadoras grandes vão sempre ter o monopólio da indústria, devido a grandes investimentos financeiros e a um passado reconhecido na indústria, Dapieve crê que esse monopólio já foi quebrado antes mesmo de a tecnologia entrar como um dos principais personagens nesse cenário, e que os desafios de adaptação são tanto para os artistas consolidados quanto para os independentes. Enquanto isso, a cena tem nos cada vez mais comuns festivais independentes polos de resistência para levar seu som a um número crescente de pessoas.
Trata-se de um jogo em constante movimento que mudou muito desde a Lira Paulistana e a consagração dos primeiros movimentos de música independente no Brasil. O que acontecerá daqui para frente, no entanto, é impreciso, e a resposta virá apenas com o tempo. Cada artista tentará descobrir a forma mais eficaz de encontrar seu público.
Da mesma forma, esse público, cada vez mais, demonstra tentar encontrar artistas com os quais se identifiquem, e os assumem como favoritos. Isso inclui certamente os brasileiros. Quanto mais o tempo passa, mais comum se torna essa busca por novidades, e mais artistas underground são descobertos e incorporados à cultura musical nacional. Os 178 entrevistados foram questionados sobre seus artistas favoritos, só podendo dar uma resposta. Foram, no total, 92 artistas diferentes citados, sendo alguns mais que outros. BaianaSystem foi citado duas vezes, enquanto Anitta é a favorita de onze pessoas (já conseguimos imaginar a curva do gráfico da Cauda Longa, com Anitta no topo e o Baiana ao longo da descida do gráfico). Além disso, as respostas foram obviamente variadas e diversificadas em relação a gêneros, indo da MPB de Caetano Veloso ao grupo de funk Bonde do Vinho, passando, entre muitos, pela banda Charlie Brown Jr. e pelo DJ Vintage Culture.
Dito isso, podemos voltar à pergunta que inaugura o capítulo três desta monografia: o que é a música brasileira atualmente se não são os sucessos comerciais do funk e do sertanejo? Podemos concluir que é muita coisa, sim. É funk e é sertanejo, mas também é hip-hop, samba, música eletrônica, forró, axé, rock, ijexá, jazz, R&B... Caso se tenha alguma dúvida, basta procurar na internet qualquer artista independente. Seja a junção de sonoridades distintas, ou mesmo um novo movimento musical, são todos muito interessantes, e devem ser classificados como manifestações culturais. No final das contas, pode haver um espanto com o que a nossa cultura é capaz de proporcionar à nossa música (e vice-versa).
6. Referências Bibliográficas
ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: Do mercado de massa para o mercado de nicho. Elsevier Editora Ltda., 2006.
ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. Disponível em: Revista de Antropofagia, Ano I, No I. São Paulo, 1928.
CASTRO, Riba de. Lira Paulistana: um delírio no porão. São Paulo: 2014.
CAVAZOTTI, André. O serialismo e o atonalismo livre aportam na MPB: as canções do LP Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé. Belo Horizonte: Per Musí, 2000.
DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. Disponível em: Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.
NOGUEIRA, Bruno. Reação em Cadeia: Transformações na indústria da música no Brasil após a internet. Recife: Le Livros, 2013.
SÁ, Simone Pereira de, MIRANDA, Gabriela. Aspectos da economia musical no Brasil: o circuito do funk carioca. In: HERSHMANN, Micael. Nas bordas e fora do mainstream musical: Novas tendências da música independente do século XXI. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.
TOMÁS, Lia. Música e Filosofia: Estética Musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.
ULHÔA, Martha Tupinambá de. Estilo e Emoção na Canção: Notas para uma Estética da Música Brasileira Popular. Belo Horizonte: Atravez, 1995.
VAZ, Gil Nuno. História da Música Independente. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Outras Referências
“Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista”, direção de Riba de Castro, 2012.
“O Outro Lado Do Disco”, direção de Rodrigo Lariú, 2015. Disponível na plataforma Globosat Play. Acesso em 23/06/2018.
Anexo 1
Entrevista com Guilherme Guedes (concedida em 15 de maio de 2018):
1 – Como jornalista, qual a sua visão sobre atual produção independente de música no Brasil?
Vivemos um momento expressivamente prolífico na produção musical independente, com artistas pontuais conseguindo se destacar em diversos cenários, mas ainda carente de cenas bem estruturadas em pequenos e médios circuitos. Há boa música, excelentes artistas, mas que ainda dependem excessivamente dos mesmos patrocinadores, dos mesmos incentivos. Infelizmente existem poucas alternativas para o crescimento do cenário independente. O que é um sintoma claro de um país onde a cultura fica em último plano, ainda mais relegada que o normal nesse período político conturbado pós-golpe.
2 - Para você, qual a relação entre o atual mercado fonográfico nacional e as plataformas de divulgação que a internet proporcionou?
Depois de tomar um susto com a explosão do download ilegal e do mp3, as grandes gravadoras voltaram a ganhar força novamente na primeira metade dessa década, isso porque souberam usar as ferramentas digitais, se aliaram aos grandes serviços de streaming e cresceram com eles. Mas até elas têm tido dificuldades de se renovar artisticamente, não sabem direito onde e em quem apostar. A produção comercial parece não ter muito norte, não saber como inovar.
3 - Acha que o que é amplamente veiculado em rádios e notícias é capaz de resumir a música brasileira? Se não, como a produção musical independente ajuda a refletir a pluralidade da nossa cultura?
De forma alguma. Há exceções, mas sempre muito restritas, com pouco alcance. O independente, como a palavra diz, é mais livre. Não depende de grandes acordos comerciais, de toda a estrutura capitalista para existir. Existe porque há uma vontade de fazer acontecer, há algum tipo de demanda por isso. E aí o mercado se aproveita disso, desses movimentos, para se manter no topo. A inovação, quando vem, vem do independente. E não me refiro só à música alternativa; foi daí que veio o “sertanejo universitário” no fim dos anos 2000 - que despontou na internet e em pequenos mercados antes de estourar nacionalmente - e agora, nos últimos anos, com o hip-hop e o funk.
4 – Gêneros musicais predominantes no Brasil hoje em dia incluem funk e sertanejo. De fato, esses gêneros não refletem a totalidade da cultura musical brasileira. Por que razão, então, existe essa predominância?
De uma forma geral, são gêneros que, conversam diretamente com públicos de várias camadas sociais que buscam a mesma coisa: a música como entretenimento. E as grandes gravadoras, com apoio da grande mídia, souberam enxergar esse poder e passaram a investir nessas cenas, dando a elas um alcance que elas não tinham anteriormente. Eram fortes, mas restritas a cenas regionais.
5 - Você acredita que a descentralização da produção e de distribuição fonográfica vai, em algum momento, tomar o mercado, colocando artistas grandes e pequenos no mesmo patamar?
Provavelmente não. Apesar da internet dar mais voz a artistas independentes e possibilitar que esses artistas criem um público cativo (o que era mais difícil antes da internet), hoje o grande mercado também atua com força na internet. Um clipe novo da Letrux, por exemplo, ainda que tenha mais espaço do que teria na televisão anos atrás, divide espaço no YouTube com um novo da Anitta. Então é difícil que eventualmente a cena independente brigue de igual pra igual com a produção comercial.
6 - Qual a importância dos festivais de música independente nesse cenário?
São polos de resistência e existência, são as pontes entre a cena independente e o mainstream. É nesses festivais que os artistas independentes provam a própria força, a capacidade de atrair plateias maiores, mesmo fora de grandes centros e com pouco (ou nenhum) apoio da grande mídia.
7 - Você vê alguma diferença ou revolução em relação à estética da música dos artistas independentes de hoje em dia? O que enxerga como diferença, em relação a gêneros, à estética musical e ao discurso, entre as canções dos grandes artistas e dos pequenos?
O cenário é muito diverso para cravar algo assim. São muitas variáveis, e não sei se há um único denominador que possa ser apontado como diferença entre o cenário independente e o mainstream - além do apoio financeiro que o mainstream tem, é claro. Artisticamente, há uma parcela da cena independente que preza a inovação artística, o que já existiu em alguma escala no passado, mas não acontece atualmente no mainstream nacional. Por outro lado, muitos artistas independentes dialogam com elementos e estruturas do pop, nem todo independente é sinônimo de vanguarda, de experimental. São estruturas muito complexas, independentemente de ponto de vista.
8 – Uma das características mais interessantes na produção independente é a quantidade de estilos e de abordagens musicais. Na sua visão, quais gêneros predominam no cenário independentes?
Há alguns movimentos muito interessantes, como a “nova vanguarda paulista”, composta por artistas como Metá Metá que aliam a tradição da música brasileira, especialmente o samba e os ritmos africanos, à faceta experimental do jazz. Há também a fusão da música baiana com a produção eletrônica capitaneada pelo BaianaSystem, que é muito interessante. Aliás, a popularização do uso de softwares e equipamentos eletrônicos tem feito a produção independente chegar a novos territórios, como percebemos na ascensão recente do funk, do hip-hop e outras vertentes. Há muita coisa interessante parar vir daí, com certeza absoluta.
9 - O grupo BaianaSystem ganhou destaque nesse cenário nos últimos anos. Acha que a banda criou ou incentivou um novo movimento musical no país?
Com certeza. Musicalmente, o BaianaSystem soube aliar diversas referências da música de rua, como os soundsystem jamaicanos e o carnaval baiano, e assim promoveu a evolução de uma nova geração da música na Bahia, com muita influência da produção eletrônica. E essa mudança se refletiu comercialmente, afinal a música na Bahia estava criativamente limitada ao axé havia pelo menos uns 20 ou 30 anos. Era um mercado que estava dominado por gravadoras, empresários, por interesses estritamente econômicos e não artísticos. O BaianaSystem ajudou a libertar a cena baiana, e já é possível ver vários artistas despontando atrás deles - Àttøøxxá, Larissa Luz, etc. E acho que é só o começo.
Anexo 2
Depoimento de Arthur Dapieve (concedido em 21 de junho de 2018):
“Eu acho que nunca houve, exatamente, um monopólio das gravadoras. Sempre houve margem para que algumas coisas fossem feitas em separato. A fatia independente é que foi aumentando. A rigor, o primeiro disco gravador por Elvis Presley foi um disco independente. Ele entre na gravadora, para gravar duas músicas para dar de presente para a mãe dele. Ele sai de lá com um vinilzinho, entrega lá para a dona Gladys. Mas isso era marginal a um sistema centralizado por gravadoras grandes. Essa fatia foi aumentando. Então eu acho que esse monopólio já foi quebrado, e não foi no tempo da internet. Antes já foi sendo quebrado.
A grande virada tem a ver com a tecnologia. Baixou o custo da tecnologia para você gravar, e depois praticamente deixou de existir a necessidade da tecnologia para você ser ouvido, na medida em que você é a distribuição, que no caso de um país como o Brasil, é muito complicada, por conta de estradas e outros obstáculos, a distribuição descentralizada na internet. Um desafio para a música independente, o que, quando ela era independente mas ela estava em lugares determinados como lojas de discos, você encontrava música independente, e hoje em dia você precisa que alguém chegar e te falar, ou precisa “fuçar” por conta própria. Então, existe um paradoxo. Ao mesmo tempo em que qualquer um pode escutar a sua música, como você vai fazer para que as pessoas saibam que a sua música existe? As gravadoras sempre tiveram este papel de dizer “Olha, a gente chancela essa pessoa aqui. Essa pessoa tem nível de qualidade e de potencial comercial”. Eles chancelam, e em alguns nichos de mercado continua sendo assim. New jazz, música clássica (além dos custos envolvidos em uma gravação de música clássica), e o fato de que os selos, mesmo que sejam selos pequenos, selos independentes (embora a expressão seja um pouco contraditória), funcionam com ímãs, como pontos centralizadores. Na música popular, isso não é necessário.
Então, o grande desafio é esse. Um cara que já escreveu sobre isso e que trabalha muito com isso é o Leoni, o músico. Ele não é um músico alternativo, ele já esteve no mainstream de várias maneiras, mas ele trabalha muito com internet, colocando coisas lá aos poucos, fazendo votação entre o pessoal cadastrado no site dele. Ele chegou a escrever sobre isso, em um livro chamado “Como sobreviver de música no mundo digital”. E aí ele confronta essas contradições, essas dificuldades. Ele sabe que ele não precisa de um intermediário, mas ao mesmo tempo, como que as pessoas sabem que a coisa nova existe? Então essa demanda é um trabalho que ele não tinha anteriormente. Era um trabalho anteriormente feito por assessores de imprensa e pelo departamento de marketing. Hoje em dia, isso fica concentrado. Então, há uma dispersão da produção. Ficou mais fácil tocar e gravar, sem dúvida. Ficou mais fácil disponibilizar para as pessoas. Mas o ponto de interrogação é: como que elas chegam no meio do Spotify, do Youtube? Como que elas chegam no Soundcloud? Como elas chegam no seu trabalho?
Isso demanda um tipo de exercício, de trabalho, que não é, normalmente, o pendor principal dos artistas. Eles têm que se concentrar na produção. Isso explica também que muitos artistas que explodem na internet são melhores em marketing do que na própria música que eles estão fazendo, porque eles atuam nisso. Eles sabem como criar determinados “auês”. Então, sim, o monopólio foi quebrado. Eu acho que esse monopólio não voltará a ser o que era. Não tem jeito. E o desafio para aqueles que não são mais marginais ao sistema, mas que são parte importante do sistema, é saber como que a sua arte chegue às pessoas certas. Esse é o grande desafio para a música independente de hoje em dia. No passado, quando ela já era independente, o fato de ser centralizado em lojas de discos, o fato de que, inevitavelmente, como não eram tantas, chegar na mão da imprensa, você tinha uns canais que concentravam e que fundiam a partir dali. Sempre que eu entro sem ter um propósito específico em um site desses na internet, eu fico com a certeza de que estou perdendo a música que vai mudar a minha vida, porque eu não consegui chegar ali. Então, o boca a boca de pessoas confiáveis, de amigos, de jornalistas, de blogueiros, é fundamental. A partir de um, você chega em outro. Foi um mundo novo.
Do ponto de vista do artista, um outro desafio é ganhar dinheiro com isso. Porque se você achar que a única maneira de veicular música é gratuitamente, sem ser remunerado por isso, ou ser remunerado por shows, no final das contas isso significaria que apenas artistas ricos, na verdade muito ricos, poderiam continuar sendo artistas, porque não precisariam da arte para sobreviver. Eles precisam da arte para sobreviver. É uma forma de trabalho como qualquer outra no final das contas. É um paradoxo que a gente ainda não... É algo que está acontecendo de forma muito rápida. No primeiro momento, tudo parece crucial, maravilhoso, novo, no final das contas você percebe que a remuneração do artista no Spotify é ridícula, é escravidão. As pessoas têm saudade da gravadora. Então, tem que batalhar para ter maiores margens de remuneração. Em um país como o Brasil, a divulgação de shows é uma coisa complicada, devido às distâncias, poucos lugares, insegurança. Lá fora, faz muito sentido. O Arctic Monkeys aparece na internet. Quando eles gravam o primeiro disco, eles se tornam recordistas de vendem em vinil, e não em CD. O vinil, por exemplo, que era dado como desaparecido, ele ocupa porções cada vez maiores de lojas da Europa. Eu acho que algo semelhante vai acontecer com o CD: vai ser um nicho, mas aquele nicho fica ali.
Então, é um mundo novo, onde as coisas acontecem muito rápido. Você acha que já aprendeu tudo quando, de repente, surge outra plataforma. Para a música independente, isso é um desafio a mais, mas ao mesmo tempo potencializado pela capacidade de difusão, pela própria praticidade de você gravar... E é bom porque os músicos independentes estão em pé de igualdade com as gravadoras, sem carregar estruturas nas costas como as gravadoras carregam. As gravadoras são basicamente administradoras de carreira. No contrato, elas têm uma porcentagem do show, mas ajudam nessa infra. São quase como se fossem empresárias, e não mais meras gravadoras.”
[1] Aludindo a um termo recorrente no mundo musical, underground.
[2] Canção “Rumo”, presente no álbum homônimo lançado em 1981. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vn2IhPjxWPk . Acesso em 07/05/2018.
[3] Espíndola, na ocasião, interpretou a valsa “Londrina”, composição de Barnabé. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OHOX8oUva6c
[4] Objeto principal do documentário “Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista”, dirigido por Riba de Castro em 2012.
[5] Fala de Uzeda em depoimento a este documentário.
[6] Em depoimento ao programa “Paratodos”, da TV Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=116&v=fJQU3ySoRK8. Acesso em 11/06/2018.
[7] Em “O Outro Lado do Disco”, o cofundador Wilson Souto Jr. argumenta que esses vendedores não entendiam a sofisticação dos produtos independentes.
[8] Direção: Rodrigo Lariú. Disponível no Globosat Play, plataforma da internet para assinantes de algumas operadoras. Acesso em 08/05/2018.
[9] Antônio Adolfo, em depoimento ao programa “O Outro Lado do Disco”.
[10] Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=lBy7htKtXmk. Acesso em 07/05/2018.
[11] Através de um álbum homônimo lançado pela Eldorado. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GTn_2hUqfuA. Acesso em 07/05/2018.
[12] Disponível em https://www.youtube.com/watch?time_continue=271&v=MxOuu2oh0yU. Acesso em 20/06/2018.
[13] Resenha disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/musica/critica-encontro-entre-rael-elza-das-melhores-quimicas-presenciadas-no-sunset-21832877. Acesso em 27/06/2018.
[14] No ensaio em questão, nomeado “Aspectos da economia musical no Brasil: o circuito do funk carioca”, as autoras analisam os novos modos de propagação de música.
[15] Autoproclamado “o maior site de Funk do Brasil”, disponível atualmente em https://www.novo.funkneurotico.net/. Acesso em 28/06/2018.
[16] A canção é faixa-título do álbum de estreia do grupo paulista BTRX, lançado em 2016. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=h_kfu2TU0-4. Acesso em 11/06/2018.
[17] Selo paulistano com mais quase 200 lançamentos disponibilizados para download gratuito. Disponível em http://sinewave.com.br/.
[18] “A distribuidora dos independentes”, como se autodescreve. Disponível em http://www.tratore.com.br/.
[19] De acordo com levantamento feito pela Recording Industry Association of America (RIAA). Disponível em https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/music/the-50-best-selling-albums-of-all-time-music-charts-singers-a7884191.html.
[20] Ambos ganharam respectivamente, em 2017, os prêmios de “Melhor Cantor” e “Melhor Cantora” no Prêmio Multishow, uma das mais importantes premiações da Música Nacional. Disponível em http://multishow.globo.com/especiais/premio-multishow-2017/materias/conheca-os-vencedores-do-premio-multishow-2017.htm#galeria_2389=0&galeria_2386=0.
[21] Informação disponível em http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/aos-35-anos-de-vida-o-cd-agoniza-no-mercado-fonografico-mas-nao-morre.html. Acesso em 11/06/2018.
[22] Pesquisa realizada para esta monografia entre os meses de abril e maio de 2018.
[23] Em entrevista realizada para esta monografia, realizada em 21/06/2018.
[24] Cantora pernambucana que lançou seu primeiro álbum de forma independente em 2018.
[25] Disponível em https://open.spotify.com/album/3JPhFJD014NCB2JreVEcuv?si=uxwErv9kTo2GphJaFFzU3g . Acesso em 11/06/2018.
[26] Em entrevista concedida para a realização desta monografia, em 15 de maio de 2018.
[27] Questionamento levantado em https://www.slant.co/versus/733/739/~spotify_vs_soundcloud (em inglês). Acesso em 11/06/2018.
[28] Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=9bZkp7q19f0. Acesso em 11/06/2018.
[29] Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Qw4uBk7DOa8. Acesso em 11/06/2018.
[30] Entrevista concedida para esta monografia em 21 de junho de 2018.
[31] Matéria de 1999 para o caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq21049908.htm. Acesso em 22/06/2018.
[32] Disponível em http://www.ebc.com.br/cultura/2016/03/chico-science-50-anos-entrevista-com-paulo-andre-pires. Acesso em 14/06/2018.
[33] Disponível em https://www.facebook.com/festivaisbrasileiros/. Acesso em 23/06/2018.
[34] Explicação editorial do festival. Disponível em http://goianianoisefestival.com.br/gnf/o-noise/. Acesso em 14/06/2018.
[35] A faixa é um dos maiores sucessos do álbum “Duas Cidades”, o segundo do BaianaSystem. Clipe oficial disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ne7E5geBMWE. Acesso em 16/06/2018.
[36] Disponível em https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/ribeirao-country-fest/2017/noticia/mais-ouvidos-no-spotify-em-2017-matheus-e-kauan-gravam-5-dvd-e-querem-manter-marca-no-proximo-ano.ghtml. Acesso em 23/06/2018.
[37] O homônimo primeiro álbum do grupo Skank foi produzido de forma independente, e atraiu o interesse da gravadora Sony Music. Disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/rock-dos-anos-1990-ainda-marca-presenca-no-cenario-nacional-4949058#ixzz1vXXxFKCg. Acesso em 16/06/2018.
[38] Depoimento de Márcio Jr. para o segundo episódio do programa O Outro Lado Do Disco. Disponível no Globosat Play.
[39] De acordo com Guedes.
[40] A dupla João Bosco & Vinícius, uma das pioneiras do gênero, começou a carreira tocando para um público composto majoritariamente por universitários, no Mato Grosso do Sul.
[41] Na entrevista realizada com Guedes para esta monografia, em 15/06/2018. Ele também cita o BaianaSystem e a ascensão recente das produções de funk e hip-hop, com beats cada vez mais ousados.
[42] Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=18epTyJ4Sos. Acesso em 23/06/2018.
[43] Disponível em: http://www.aescotilha.com.br/musica/radar/por-que-baianasystem-e-maior-banda-brasil-no-momento/. Acesso em 16/06/2018.
[44] Banda se apresentou na edição de 2017 do festival. Resenha disponível em: http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2017/09/22/baianasystem-rock-in-rio-resenha/. Acesso em 16/06/2018.
[45] Spotify Talks 2_Update or Die: Filipe Cartaxo. Update or Die, 28/09/2016. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=c25cx6SyOMs
[46] Disponível em https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2017/03/06/guitarrista-do-charlie-brown-divulga-imagens-raras-do-1-clipe-da-banda.htm. Acesso em 20/06/2018.
[47] A cantora Letrux, em 2017, lançou o clipe para a canção “Que Estrago”. O clipe, apesar de simples, contém efeitos criativos de edição de vídeo que condizem com a letra. Hoje o clipe acumula mais de 90.000 visualizações no Youtube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=85Vd9FQSSC8. Acesso em 26/06/2018.
[48] Disponível em: http://www.baianasystem.com/. Acesso em 16/06/2018.
[49] Clipe e letra disponíveis em: https://www.letras.mus.br/baianasystem/lucro-descomprimindo/. Acesso em 16/06/2018.
[50] Clipe e letra disponíveis em: https://www.letras.mus.br/rincon-sapiencia/a-volta-pra-casa/. Acesso em 16/06/2018.
[51] Disponível em http://thesummerhunter.com/leticia-novaes-letrux-entrevista/. Acesso em 26/06/2018.
[52] Disponível em https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2015/10/johnny-hooker-sou-totalmente-gay-nao-tenho-por-que-esconder.html. Acesso em 26/06/2018.
[53] Resposta do guitarrista Roberto Barreto, ao ser perguntado sobre o conceito do disco. Disponível em http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2016/12/16/faixa-titulo-entrevista-baianasystem/. Acesso em 23/06/2018.
[54] De acordo com a antropóloga Helen Fisher, “somos biologicamente programados para amar”. Uma reflexão sobre o recorrente tema de amor nas músicas está disponível em http://www.afronte.com.br/musicas-sobre-o-amor/. Acesso em 27/06/2018.
[55] Canção de “Soltasbruxa”, álbum de estreia do grupo. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Y6Bc2rZpwrU. Acesso em 27/06/2018.
[56] A soma total é maior que 100% porque os entrevistados puderam apontar mais de um gênero favorito.
[57] Na entrevista concedida a mim, Guedes mencionou como as grandes gravadoras estão gradativamente se adaptando ao mundo da internet. Ele ainda compara Letrux a Anitta, em termos de quantidade de visualizações.
[58] A pesquisa “Pesquisa de artistas independentes” está disponível para ser acessada e respondida no link https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe2keJlfd9Fuc2--7_-WUTQLwi7kEg1iyvJeqBnsNNXmkp2-Q/viewform.
[59] Entrevista a partir de formulário do Google concedida para esta monografia em maio de 2018.
Publicado por: Pedro Henrique Alves Pinheiro
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