Artes Visuais Brasileiras e a Criptoarte: uma Tendência ou uma Euforia?

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1. RESUMO

Revisitar o passado é fundamental para entender como as artes visuais se desenvolveram ao longo dos tempos. Agora, é preciso compreender que o uso da tecnologia mudou totalmente a dinâmica do setor e fez com que o ecossistema se adaptasse rapidamente a um novo elemento: a Criptoarte. Não bastasse o desenvolvimento por meios digitais, foi preciso encontrar maneiras para que elementos comumente nocivos acometessem, novamente, um mercado que movimenta cifras bilionárias no mundo todo e sofre com falsificação e sonegação de impostos. Assim, surgiu nos últimos anos uma nova forma de garantir a legitimidade das obras de arte registrando-as por meio de Tokens não Fungíveis, ou simplesmente NFTs. Este trabalho analisou como o mercado mundial está se comportando a este movimento e, especificamente, investigou como os artistas visuais brasileiros estão lidando com as novas formas de fazer arte: as novas mídias são uma realidade para este público? os suportes e técnicas tradicionais, como pintura e escultura, vão perder espaço para a Criptoarte? o mercado nacional está se mobilizando para comercializar este novo tipo de arte? Para isso, além da fundamentação na recente, porém ampla, bibliografia sobre o tema, foram realizadas pesquisas quantitativas e qualitativas com os diferentes protagonistas da cadeia de arte no Brasil, desde jornalistas e críticos, organizadores de feiras, galerias e, em sua grande maioria, os próprios artistas. Foi constatado que o uso da Criptoarte é, ainda, embrionário e timidamente executado pelos 175 artistas visuais brasileiros entrevistados, porém mostra-se uma tendência a ser observada nos próximos anos, já que independe de incentivos públicos ou privados, de representação por uma galeria ou, ainda, de prestígio por meio de editais e salões de arte para ser executada. O mercado internacional está cada vez mais inserido nesta onda, com obras fantásticas e vendas astronômicas não só de artistas, mas de cantores, jogadores de basquete, criadores de memes e coleções de punks e gatinhos. Basta saber se o Brasil, que já provou ser adepto às novas mídias, como as redes sociais, figurando entre os usuários mais fervorosos e ativos, fará dos NFTs mais do que uma tendência ou se será apenas uma euforia do capitalismo moderno.

Palavras-chave: artes visuais, artistas visuais brasileiros, criptoarte, NFT

ABSTRACT

Revisiting the past is fundamental to understand how visual arts developed through the years. Nowadays, we must comprehend that the use of technology changed the whole dynamic of the industry and how it also needed a change in the whole environment in order to adapt nimbly to a new element called Cryptoart. As if the development through digital means was not enough, new paths for commonly harmful elements were created to affect, once again, a market that makes billions of dollars around the world, and yet suffers with forgery and tax evasion. As a consequence, a new way to secure art’s legitimacy emerged in the past few years by registering your art through Non-fungible Tokens, or simply NFTs. This paper analyzed how the global market is responding to this new tendency and investigated how Brazilian visual artists are dealing with new styles of making art. Are new media a reality to this market? Will traditional art techniques and supports (such as painting and sculpting) lose ground to Cryptoart? Will the national market start to sell this new type of art? To answer all these questions, an extensive bibliography research about this subject was done and qualitative and quantitative surveys were carried out with different leaders of art in Brazil as well, such as journalists, art critics, art fair and gallery organizers, and, for the most part, the artists themselves. The use of Cryptoart is still considered as an early and rather shy plan by the 175 Brazilian visual artists that were interviewed, but it shows a trend that we must keep an eye on in the coming years. This is completely independent from public or private incentives, as well as the artist being represented by an art gallery or, still, bringing prestige through notices and art exhibitions to be executed. The international market is increasingly inserted in this new trend with incredible artworks and huge sales not only from artists, but from singers, basketball players, people who create memes, collections of punks, and kittens as well. We only need to find out if Brazil, a country who has proved to be adept at new media, such as social media, and has the most popular and active users, will see NFTs as just a trend or another euphoria from modern capitalism.

Keywords: visual arts, Brazilian visual arts, Cryptoart, NFT

2. INTRODUÇÃO

NFT, sigla para Non-fungible Token (Token não Fungível), é a forma de produção e comercialização mais recente no capítulo da história das artes visuais. Sua trajetória está acontecendo de forma muito veloz no mundo todo. Como as obras só podem ser adquiridas por meio do pagamento em criptomoedas, o setor especula se este é o começo de um novo movimento nas artes visuais, uma tendência, sucedendo ou apenas fazendo parte da controversa e bilionária arte contemporânea, ou apenas é uma forma datada, com ápice observado durante o primeiro ano da pandemia do corona vírus, já que o isolamento social e os confinamentos no mundo inteiro migraram os consumidores de todos os segmentos, incluindo os de arte, para o comércio eletrônico.

O objetivo desta monografia é entender o que o mercado de artes visuais no Brasil está fazendo para acompanhar esta nova demanda, se a considera uma tendência (ou apenas uma euforia do capitalismo moderno) e se os artistas brasileiros aceitarão parcial ou totalmente a Criptoarte comercializada com o certificado digital NFT e continuarão trabalhando com as técnicas tradicionais, como pintura, desenho e escultura.

Entre os pontos para desenvolvimento de NFTs, é importante ponderar que o dinheiro é peça fundamental desta engrenagem e, com o constante desenvolvimento tecnológico, é destinado a ser virtual: cédulas e moedas foram substituídas por cartões de plásticos e, por sua vez, por cartões virtuais que só existem em aplicativos para smartphones. Mas, antes disso, a carteira de couro tornou-se virtual para guardar as criptomoedas[1], como Bitcoin, Litecoin, Dash, Ethereum e Monero, entre tantas outras.

Este pode ser um exemplo de como o capitalismo moderno, aliado ao progresso tecnológico, reinventou um setor inteiro em um caminho sem volta. O homem, mais uma vez, foi arrancado das cavernas para viver em uma nova civilização.

Nas artes visuais a mudança inevitavelmente aconteceria. Desenhos rupestres realizados há mais de 75 mil anos a.C. foram substituídos, séculos após séculos, por novas formas de fazer e sentir a arte. Os mestres de cada época se encarregaram desta evolução, como Leonardo da Vinci, Henri Matisse, Pablo Picasso, Piet Mondrian, Marcel Duchamp, Andy Warhol e Salvador Dali. Suas obras deram origem aos novos movimentos e popularizaram a arte.

À medida que o século XXI avança, mais e mais pessoas no mundo inteiro se dão conta da existência da arte. Museus e galerias informam, com orgulho, quantidades espetaculares de visitantes, não apenas em exposições dos grandes mestres, mas também em mostras de artistas contemporâneos e suas obras novas e polêmicas (CORK[2], 2010).

Outra característica na história da arte são os acontecimentos diretamente ligados à economia, ou seja, ao poder de compra. Na escassez, as Grandes Guerras, na mudança, as Revoluções. Segundo Gombrich (2001, p. 379), a Revolução Industrial começou a destruir sólidas tradições artesanais: a manufatura deu lugar às máquinas, e a oficina, à fábrica. E, agora, a pandemia causava pelo novo corona vírus desafia o homem novamente.

É preciso lembrar que o mundo da arte é constantemente atrelado ao capitalismo: se o dinheiro é uma moeda virtual, por que a arte não pode ser igualmente virtual? Se revoluções e guerras mudaram profundamente a arte, por que a pandemia não faria o mesmo?

A velocidade de aprimoramento tecnológico possibilitou o avanço em diversas áreas, como da medicina, da comunicação e da guerra, e, novamente, impõe um novo ritmo ao mercado de artes visuais: a arte saiu das paredes das cavernas para ser cripto, algorítimos, ir além do digital, ser virtual. Esta tende a ser uma nova era nas artes visuais que vem se mostrando globalmente e começa a dar alguns passos no Brasil.

Por ser recente e precisar de conhecimentos no mercado financeiro das criptomoedas, tendências de comportamento e em artes visuais, o tema começa a amadurecer ao mesmo tempo que movimenta cifras astronômicas. Porém, mesmo em sua primeira fase, o setor de arte viu nessa plataforma uma solução tangível para recuperar meses quase nulos de faturamento, como março e abril de 2020.

Diante de todos estes desafios, será que o universo digital é a resposta para a arte do pós-pandemia no Brasil? O mercado nacional e, principalmente, os artistas visuais brasileiros, estão preparados para esta mudança que não envolve somente o suporte a ser trabalhado, mas uma nova concepção de Arte que, no futuro, poderá esvaziar os espaços físicos para estar apenas a um toque ou comando de voz?

NFT é o futuro da arte ou é mais uma forma do capitalismo moderno se reinventar a partir das criptomoedas que valem muitas vezes mais do que os tradicionais dólares e euros?

Para analisar e enxergar as novas possibilidades do segmento de NFT, a fundamentação teórica desta pesquisa acadêmica abrangeu, em grande parte, especialistas em criptomoedas, como o site NonFungible, referência mundial no assunto; literatura dos anos 2020 e 2021, em sua maioria tradução de publicações americanas; análises e críticas de jornalistas brasileiros do setor de tecnologia, economia e mercado de arte; entrevistas com galeristas e organizadores de feiras de arte e, o principal termômetro para entender as lacunas da Criptoarte no Brasil, pesquisa com artistas visuais brasileiros.

Para extrair as informações relevantes sobre como o mercado nacional está se posicionando em relação a Criptoarte e os NFTs, foi necessário analisar o global, tanto em atuação quanto em desempenho financeiro, pois para traçar a rota do setor de arte no Brasil em relação a este movimento artístico, foco desta monografia, é inerente ponderar os fatores políticos e econômicos da atualidade.

3. O FASCINANTE MUNDO DAS CRIPTOARTES

Non-fungible Tokens (Tokens não fungíveis), certificados digitais registrados na tecnologia blockchain[3] que garantem a originalidade de um item, começaram a chamar atenção após somas milionárias terem sido usadas para comprar ativos como uma imagem, fotografia, vídeo, música, mensagem de texto, postagem em rede social, entre outros, tornando-os únicos. Apenas três letras conseguem movimentar artistas visuais, galerias de arte, colecionadores, influenciadores digitais, designers e, principalmente, investidores para as novas oportunidades deste mercado com potencial gigantesco.

Em pouco tempo, observou-se a explosão da bibliografia sobre o assunto, em especial em língua inglesa, e o número espantoso de obras à venda nas principais plataformas criadas e dedicadas a este nicho, como OpenSea, Mintable, Super Rare e Rarible.

Embora a aventura NFT tenha começado em 2017, foi somente após a quebra do mercado de criptografia, no início de 2018, que esse mercado começou a se desenvolver. Mas foi a partir de 2020 que essa nova forma de negociar arte mostrou seus resultados. A cada dia surgem novas iniciativas e mesmo que os marketplaces ainda ocupem um lugar dominante no setor, parece que o elitismo que exibiam no início não atendia a uma necessidade crescente dos usuários: criar arte. (NONFUNGIBLE, 2021)

O mercado de ativos digitais existe há mais de 10 anos, mas a primeira obra de arte vendida a valores realmente expressivos, e que chamou a atenção do mundo, foi "Everydays: The First 5000 Days" (Todos os dias: os primeiros 5000 dias), do designer gráfico americano Beeple[4], que atingiu US$ 69 milhões em leilão da conceituada e, até então, tradicional, Christhie’s, no dia 11 de março de 2021, e tornou-se a terceira obra de arte de maior valor de um artista vivo, perdendo apenas para Jeff Koons (US$ 91 milhões) e David Hockney (US$ 90 milhões). A própria Christhie’s, em parceria com a OpenSea, prepara um leilão somente de NFTs no início de dezembro de 2021.

Imagem 1: obra “"Everydays: The First 5000 Days”

Fonte: Beeple. 2021

O universo da comercialização de itens não substituíveis alcançou todos os setores do entretenimento. Vídeos de jogos da NBA faturaram mais de 333 milhões de dólares, a banda estadunidense Kings of Leon lançou um álbum somente digital e faturou 2 milhões de dólares e cantores internacionais têm suas versões avatar à venda em plataformas digitais.

Quando foi criado, em 2006, o Twitter, rede social caracterizada por textos curtos, tinha vaga ideia do que iria se transformar. É um sucesso até hoje, sendo, inclusive, a principal plataforma para celebridades, influenciadores, pessoas públicas e políticos, como foi nas campanhas presidenciáveis de Donald Trump, em 2016 e 2020, e de Jair Bolsonaro, em 2018. Jack Dorsey, um de seus fundadores, não poderia imaginar que, em março desse ano, venderia seu primeiro tuíte como NFT por cerca de 3 milhões de dólares. Segundo Goulart (2021), a venda do texto “just setting up my twttr” (configurando meu twitter) foi convertida em Bitcoins e doadas à GiveDirectly, uma organização que ajuda pessoas pobres que vivem na África.

Além de todas estas possibilidades, estão os colecionáveis. Precisamente em 1º de setembro de 2021, os CryptoPunks, um conjunto de 10 mil obras de arte colecionáveis no estilo 8 bits, atingiram 1,1 bilhão de dólares em vendas e repercussão mundial, com participação em feiras como Art Basel Miami e destaque em jornais como The New York Times. Seu criador, o Larva Labs[5], não poderia estar mais contente, pois o projeto foi iniciado em 2017 como um experimento para popularizar as Criptoartes e, agora, fatura centenas de dezenas de milhares de dólares colocando os CryptoPunks em primeiro lugar de vendas mundiais (US$ 1.669.140.303), seguindo por Bored Ape Yacht Club (US$ 1.415.527.356)[6].

Imagem 2: os 10 mil CryptoPunks criados pelo Larva Labs

Fonte: Larva Labs, 2021

A exemplo da obra de Beeple, dos vídeos da NBA e dos colecionáveis CriptoPunks, tudo indica que a definição de valores de obras de arte NFT segue o mesmo caminho das obras tradicionais, como pinturas e esculturas. São vários os fatores que compõem o valor. Conforme Quemin et al. (2014, p. 33),

é comum confundir valor e preço assim como é recorrente imaginar que cabe apenas ao mercado a função de precificar as obras de arte. No entanto, o complexo processo de formação, consolidação e hierarquização dos valores da arte contemporânea (do qual a precificação faz parte) envolve pelo menos quatro instâncias fundamentais, cujas dinâmicas são distintas, mas inter-relacionadas: produção, reflexão crítica, institucional e mercado.

O crítico de arte americano, Leo Steinberg, dizia, em 1968, que “a arte não é, no fim das contas, o que pensávamos que era; no sentido mais amplo, é dinheiro alto”. Para os NFTs parece que a frase se encaixa perfeitamente pelo simples fato de serem negociados em criptomoedas, como Ethereum, cujas cotações estão muito acima do dólar americano. Ethereum é puramente digital e pode ser enviado instantaneamente a qualquer pessoa do mundo por meio de uma carteira também digital. “O fornecimento de Ether, como é conhecido, não é controlado por nenhum governo ou empresa – é descentralizado, e é escasso” (ETHEREUM, 2021).

Muitos críticos de arte já indagaram quanto ao que define o valor de uma obra de arte. Para Trigo (2014, p. 173 e 174),

(...) não existe mais critério para se estabelecer o que é ou não arte. Se a técnica e o talento deixaram de ter importância, se não existe diferença visível, por exemplo, entre um objeto do cotidiano e um objeto de arte, o que determina o valor de um artista passa a ser sua capacidade de inserção no sistema de arte, através de uma rede de relacionamentos com marchands, galeristas, curadores, colecionadores (...). Esse sistema dita o que vale e o que deixa de valer, segundo movimentos que têm muito mais a ver com a Bolsa de Valores do que com a ideia convencional de arte.

Os números do mercado de NFTs impressionam e, por isso, a discussão do valor de um único ativo digital é complexa.

O primeiro trimestre de 2021 movimentou mais de US$ 2 bilhões, 131 vezes superior ao mesmo trimestre de 2020. O número de carteiras ativas cresceu 26% em relação ao quarto trimestre e 159% se comparado aos três primeiros meses de 2020. Mesmo que muitos considerem o boom do setor, o que impressiona é o número de carteiras ativas, ou seja, vendedores e compradores que fazem transações constantemente. O ecossistema NFT tem uma taxa de retenção de 25% de novos usuários. (NONFUGIBLE, 2021)

NFTs são a aposta de multimilionários no futuro não só da arte, mas do entretenimento como um todo. Os usos mais comuns estão crescendo no setor de arte, jogos e colecionáveis. Todavia, infelizmente, o mercado de arte está constantemente atrelado à sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. No Brasil, a 79ª fase da Operação Lava Jato foi denominada “Operação Vernissage” e expôs esquemas fraudulentos que, entre os acusados, estão algumas das maiores e mais prestigiadas galerias de arte brasileiras que utilizaram trabalhos de artistas visuais no esquema de lavagem de dinheiro.

De acordo com Quemin et e al. (2014, p.14), “as vendas dentro das galerias são discretas e as transações pouco conhecidas, e os economistas do setor de artes lastimam a falta de transparência”.

Pelo lado da falsificação, NFTs presam por garantir a originalidade da obra.

Proteger seus direitos autorais e ganhar dinheiro na era digital é frequentemente um pesadelo para os artistas. Alguém pode usar os NFTs para comprar uma obra de arte e apresentá-la em um espaço virtual, com a cadeia de bloqueios comprovando a propriedade. Isto permite que os artistas protejam seus direitos autorais e mantenham uma porção maior do produto da venda. (MOON, 2021, p. 13 e 14)

Cada NFT tem uma assinatura digital única. Mesmo que existam diversas reproduções da mesma obra, a assinatura digital garante sua autenticidade, seu valor e sua identificação como um original. Mas ser comprovadamente original não é o problema que pode acometer o campo dos NFTs. Por não possuir órgãos reguladores, por exemplo, as transações podem não ser confiáveis. O que garante que o vendedor é fidedigno e verdadeiro detentor dos direitos de uma obra? E quanto a flutuação das criptomoedas, quem controla este câmbio e como evitar o vazamento de informações?

No início de setembro de 2021, um usuário da OpenSea colocou um falso Banksy à venda que foi arrematado por cerca de 200 mil dólares. O comprador de nome Pranksy achou que fosse um leilão de três dias e quando o seu lance foi aceito de imediato desconfiou ser uma fraude. O dinheiro foi devolvido, mas acendeu um sinal amarelo no mercado das Criptoartes, já que o vendedor não pode ter sua autenticidade e legitimidade registradas. Além disso, muitos acreditam que foi uma estratégia de marketing e divulgação. De quem? Não se sabe, já que Banksy é um artista controverso que destrói as próprias obras em leilões e Pranksy é considerado um baleia[7] dos NFTs.

Imagem 3: tuíte do comprador Pranksy sobre o Banksy falso

Fonte: Pranksy, 2021

A arte não é isenta de oportunistas, agentes especulativos, falsificadores e fatores de risco, inclusive no Brasil. Ou seja, nada muda do físico para o digital. Soma-se a estes fatores a crise econômica decorrente da pandemia provocada pelo corona vírus que somente intensificou a realidade de que arte é para elite, e isto é um fato. Para a pequena ponta da pirâmide não seria diferente ter um mercado potencial exclusivo como o dos NFTs, já que a arte (que luta para arrancar o rótulo de elitista) é adquirida pela elite, e que menos sofreu com a pandemia.

Então em um país tão desigual quanto o Brasil, e que arraigou essa disparidade, essa explicação faz sentido. Em geral, a principal correlação que existe para o crescimento do mercado de arte é o crescimento no número de indivíduos milionários. Com base em Moon (2021), artistas terem obras no formato NFT pode ter suas vantagens. O formato permite receber pela venda e também receber pela revenda, ou seja, pode ser uma fonte de renda recorrente com um percentual pré-estabelecido.

Ao cadastrar sua obra no formato digital NFT, o artista ou o galerista, pode optar por receber um percentual sempre que o a obra for revendida. E isto não importa a quantidade de vezes que aconteça. São os mercados primário e secundário coesos no mesmo lugar.

A arte não é o único fator central de interesse. É preciso entender o fator econômico para poder analisar com cautela a entrada de um artista ou de uma galeria no mercado de NFTs:

não parece coincidência que esse mercado tenha explodido justamente quando o último bull run[8] de criptomoedas atingiu um teto. Os compradores dos NFTs mais caros são eles próprios desenvolvedores e investidores da tecnologia. É do interesse destes criptomilionários não apenas diversificar seus ativos digitais, como também inflacionar a importância do mercado para ampliar a sua adoção. Para esses atores, cada milhão gasto num NFT é um investimento direto na propaganda de seus próprios negócios. (MENOTTI; VELÁZQUEZ, 2021)

Ter um renome no meio é fator decisivo no sucesso de vendas em um oceano de oportunidades. Mas esta não é a realidade brasileira. Artistas viram as fontes secarem. Na cultura, o governo cortou investimentos, demitiu, diminuiu residências artísticas, prêmios e editais. Os artistas viram-se reféns de poucas iniciativas privadas de fomento que se esvaziaram no segundo semestre de 2020.

NFTs estão mudando significantemente a arte contemporânea. É diversificado, virtual, lucrativo, infalsificável e amigável para as mais diversas manifestações de arte. É subversivo, e a subversão é uma das características do novo, da vanguarda, da quebra do momento atual para o salto às novas descobertas. Rebelar-se contra o sistema atual é um ato artístico nada original, mas para este começo da terceira década o século XXI os NFT’s estão rompendo uma barreira e tanto.

4. MERCADO ONLINE: UMA SAÍDA PARA SOBREVIVER À PANDEMIA

Com a pandemia e o confinamento, feiras, exposições e galerias de arte, tanto no mundo quanto no Brasil, tiveram que se adaptar ao online, desde a utilização de novas ferramentas de vendas, como o e-commerce, até formas diversificadas de fazer marketing, o que incluiu centenas e exaustivas horas de lives no Instagram. O que isso significa? Segundo Harari (2019, p. 357),

a economia capitalista moderna deve aumentar a produção constantemente se quiser sobreviver, como um tubarão que deve nadar para não morrer por asfixia. E aumentar a produção é o que o mercado de arte está fazendo.

A pandemia fez com que o mercado nacional de arte se adequasse às novas demandas e direcionasse seus esforços ao online. Valansi[9] (2021) não acredita no formato 100% online:

a ArtRio foi a primeira feira de arte a lançar, ainda em 2018, seu marketplace, e ele vem crescendo a cada ano, mas nunca ameaçando a visita a galeria, o olho humano, a emoção de ver uma obra ao vivo. A pandemia acelerou as plataformas onlines das feiras e também de muitas galerias, e isso é extremamente importante, ainda mais pelo fato de quebrar barreiras e acabar com distâncias. Ao mesmo tempo, a arte tem um forte apelo físico, a emoção do ver de perto, sentir a atmosfera. Minha aposta é efetivamente nesse modelo híbrido para o futuro.

Sobre as galerias brasileiras terem migrado suas operações para o online durante o confinamento e um futuro totalmente virtual, Cimino[10] (2021), concorda com Valansi:

todas as feiras que fizeram movimento muito abrupto para o digital já estão voltando, ninguém quer mais saber de viewing rooms, obra necessita atenção, tempo, sentimento. Você fica 3 horas tranquilamente em uma feira de arte, duvido você ficar mais de 15 minutos olhando um site de uma feira. Você transforma tudo em jpgs de 5 cm por 5 cm. O universo da arte será eternamente phygital.

Brasileiros são criativos e, a árduos custos, conseguiram fechar o faturamento de 2020 com redução de apenas 15% em relação ao ano anterior. Galerias e Casas de Leilão dos Estados Unidos, Europa e China tiveram perdas de 30%. Para as galerias de arte brasileiras, foi fundamental investir em canais digitais.

A pandemia impulsionou a transição de muitas atividades antes exclusivamente presenciais para o meio digital, obrigando os agentes do mercado a reverem ou desenvolverem suas estratégias digitais, que passaram a ser uma frente de atuação importante. Tal atenção às possibilidades de promoção e comercialização em meios digitais deverá continuar relevante no contexto pós-pandêmico, muito mais do que costumava ser antes da COVID-19. (LATITUDE, p.39, 2020).

De acordo com a pesquisa Latitude (2020), no segundo trimestre de 2020, as galerias de arte brasileiras registraram queda de 56% nas vendas em relação ao mesmo período do ano anterior. Após investirem em ações digitais, como renovação do site, conteúdos digitais, maior presença nas redes sociais (o Instagram só ficou atrás do combo whatsapp/telefone/e-mail para contato com clientes), participação em feiras online e viewing rooms, as galerias viram seu faturamento crescer, em média, 55% no 3º trimestre de 2020, comparado ao mesmo trimestre do ano anterior.

Artistas também voltaram sua atenção ao online, principalmente ao Instagram, que permite ser um misto de portfólio e canal de vendas. Rifas, sorteios, financiamentos coletivos e vendas diretas foram a maneira de não se verem reféns de auxílio cultural que, em muitas regiões, nem aconteceu. Muitos buscaram alternativas de sustento fora do mercado da arte, interrompendo seus processos de pesquisa e de criação.

O cenário na pandemia poderia ter sido pior, mas o setor cultural, que inclui as artes visuais, ganhou um respiro com a Lei Aldir Blanc[11], que destinou cerca de 3 bilhões de reais. Conforme Moura (2021), “o setor cultural brasileiro terminou o ano passado perdendo 458 mil postos de trabalho, formais e informais, em comparação com o último trimestre de 2019”.

A venda de arte como ativo digital está acontecendo, cada vez mais rápido, inclusive no Brasil. O tema é novo, é de vanguarda e foi aceito por casas de leilões, galerias de arte, feiras e artistas. Para o mercado de artes visuais, um nicho totalmente novo se formou. Para entendermos o que está acontecendo no mercado brasileiro de artes visuais, é preciso analisar, primeiramente, como o mercado global está se comportando em relação ao impacto da pandemia e às novas tecnologias adotadas. Segundo McAndrew (2021, p. 17),

as vendas globais de arte e antiguidades alcançaram um estimado em US$ 50,1 bilhões em 2020, queda de 22% em relação a 2019 e de 27% desde 2018. As vendas online de arte e antiguidades atingiram um recorde com alta de US$ 12,4 bilhões, dobrando de valor em relação ao ano anterior, e respondendo por uma participação recorde de 25% do valor de mercado.

Ainda de acordo com McAndrew (2021), os Estados Unidos, o Reino Unido e a China continuam responsáveis por 82% das vendas globais, mesmo com queda no faturamento em 2020. 61% das feiras de arte no mundo, de um total de 365, foram canceladas e as realizadas mantiveram o formato hibrido.

A pandemia da COVID-19 criou a maior recessão no mercado de arte desde a crise financeira global de 2009. Ao contrário daquele período, no entanto, praticamente todos os mercados de arte de médio e grande porte, incluindo a China, experimentaram uma queda nos valores de vendas em 2020. (...) Este foi o segundo ano de queda nas vendas do mercado de arte. (MCANDREW, 2021, p. 30)

O mercado de criptomoedas deixou de ser exclusivo de alguns setores para uma expansão que chegou ao mundo das artes. Para obras de grande valor, as duas principais casas de leilões do mundo, a Sotheby’s e a Christie’s, começaram a aceitar criptomoedas como forma de pagamento. Outra empreitada recente foi do British Museum, também da Inglaterra, que, em parceria com a plataforma francesa LaCollection, lançou cartões postais digitais do artista Katsishika Hokusai. Entre as obras está “The Great Wave” (A Grande Onda), reconhecida internacionalmente e que já estampou de camisetas a panos de copa.  Há quem discorde de que o mercado de arte NFT dificilmente entrará nos museus, contrariando a recente ação do British Museum. Thorton[12] disse “I don’t have a sophisticated opinion. NFTs seem closer to cryptocurrency than museum-destined art most of time[13].

Imagem 4: obra do artista Hokusai, na estreia do British Museum no comércio de NFT

Fonte: LaCollection, 2021

Se foi difícil para mercados sólidos e estabelecidos como o dos Estados Unidos e da Europa, para o Brasil o impacto da Covid-19 foi potencializado pela crescente desvalorização do real. A cotação de um único Bitcoin, no dia 9 de novembro de 2021, foi de mais de 66 mil dólares. Isso significa que, para o brasileiro, um único Bitcoin ultrapassa a casa dos 367 mil reais.

O fator financeiro explica, em parte, porque muitos artistas brasileiros ainda não se aventuraram na Criptoarte. Para criar um NFT para cada obra é gratuito, porém existe a taxa de gas, percentual que permanece com as carteiras digitais, e depende das variações das criptomoedas. São as linhas miúdas destes contratos que abocanham parte dos ganhos.

5. CRIPTOARTES E NFTS NACIONAIS

O mercado brasileiro de artes visuais adentrou recentemente ao mundo dos Tokens não Fungíveis e mostra que este é um caminho viável, rentável e possível. Uns dos primeiros passos aconteceu na ArtRio, em sua 11ª edição. A feira contou com stand da Metaverse que comercializou NFTs. Em seu espaço, a galeria aceitou como forma de pagamento o real e as criptomoedas Ethereum, Bitcoin, Tezos e BNB.

Imagem 5: ArtRio, primeira feira presencial no Brasil a comercializar NFTs

Fonte: ArtRio, 2021

Bailune Biancheri, Leme Galeria e Zipper Galeria, entre outras, fazem parte de um aglomerado que vende NFTs de seus artistas em uma plataforma exclusiva, a Tropix. Este é um movimento que acontece para facilitar o acesso e a compra por colecionadores e admiradores de arte digital no Brasil, já que a Tropix cuida de toda a burocracia envolvida. O diferencial da plataforma brasileira é reunir, em um único local, galerias e seus artistas, com o intuito de fortalecer um mercado totalmente novo, com pagamento realizado em criptomoedas.

A aceitação de criptomoedas está muito mais ligada a questões financeiras, bancárias e de transações do que a arte em si. Acredito que as criptomedas podem ser mais utilizadas, não só pelo mercado de arte como por qualquer outro mercado, com o desenvolvimento de mais segurança e transparência no segmento. Acredito que qualquer momento da arte está diretamente ligado ao cenário mundial, mudanças culturais, impactos políticos e sociais e, claro, o desenvolvimento de novas tecnologias. Mas isso não quer dizer que um modelo substitui o outro, pelo contrário. A beleza da arte também está na coexistência de diferentes padrões. (VALANSI, 2021).

Sobre a comercialização de Criptoartes por galerias no Brasil e no mundo, Cimino (2021) diz que:

NFT pra mim é uma vídeo arte inteligente, pessoas vendem vídeo há anos, é só maneira de distribuir que mudou, nada mudou. A Zipper aceita pagamento com criptomoedas desde 2017, o problema são as pessoas pagarem com elas, pois não faz diferença com o que a pessoa quer pagar. Não acho que tem haver com a questão de ganhos ou perdas, acho que tem haver com a ideia de termos não somente uma vida com ativos físicos, mas também com ativos digitais. O que se vende digital mente nos NFTs são vídeos, jpgs, mp4, nada diferente do que se vendia décadas atrás.

Esse parece ser um movimento ainda embrionário por parte do mercado nacional, considerando o número de galerias brasileiras. Os artistas, porém, estão se aventurando nas plataformas de NFTs de forma independente. Exemplo disso, é a intervenção artística composta por obras de 70 artistas visuais em uma casa que, após exposição, foi demolida.

O projeto, batizado de Casa NFT, toma conta de todos os cômodos de um solar modernista no Jardim Guedala, próximo ao Jockey Club de São Paulo, que deve começar a ser demolido no próximo dia 23. A ideia é que todas as obras sejam vendidas como NFT, e mais de 80% dos trabalhos já estão documentados. (MORAES, 2021).

6. ARTISTAS VISUAIS BRASILEIROS E O MUNDO NOVO

O tema NFT relacionado ao setor de artes visuais e seu desdobramento é recente e, ainda, pouco explorado pelo mercado brasileiro. Para entendê-lo em profundidade, compreender sua complexidade e traçar seus possíveis desenvolvimentos, foi necessário utilizar diferentes métodos de pesquisa para englobar os inúmeros agentes envolvidos.

A metodologia de pesquisa bibliográfica foi baseada nos pilares: arte, considerando nomes internacionais da área, como Gombrich, Gompertz e Thornton, e periódicos especializados; finanças e economia, para compreensão do impacto do mercado de criptomoedas na economia mundial e local; tecnologia e tendências, para embasamento teórico do NFT como forma de comercialização de arte. 

Para esta monografia, foi aplicada uma pesquisa web survey[14] (Apêndice 1) com artistas visuais de todo o Brasil com o objetivo de entender como este público está inserido no segmento de arte digital dos NFTs. A primeira parte, compreende dados para conhecer o perfil dos artistas; a segunda, para medir os conhecimentos e atuação em Criptoarte. O questionário foi enviado para 203 artistas visuais brasileiros e foram obtidas 175 respostas válidas.

A seleção dos artistas visuais brasileiros levou em consideração a participação ativa nas redes sociais como ferramentas de divulgação e/ou vendas, independente de serem representados ou não por galerias de arte. Por este fato, o formulário de perguntas foi encaminhado via direct message (mensagem direta) da rede social Instagram (75% da amostra) e para os demais (25%) por e-mail.

As questões de perfil abordaram gênero, faixa etária, tempo de atuação no mercado profissional de artes visuais e localidade geográfica. 67,1% dos entrevistados se identificaram como homens, 27,6% como mulheres e 5,2% não se identificaram com os gêneros descritos anteriormente. A maioria (34,2%) tem entre 31 e 40 anos, seguida pelos artistas com idade superior a 41 anos (30,3%).

Tabela 1: perfil etário dos artistas visuais brasileiros

Faixa Etária

Quantidade

%

De 18 a 20 anos

5

2,6%

De 21 a 25 anos

16

9,2%

De 26 a 30 anos

41

23,7%

De 31 a 40 anos

60

34,2%

Acima de 41 anos

53

30,3%

Total

175

100%

Fonte: Autor, 2021

Quanto a localidade (onde vivem e trabalham), os artistas visuais entrevistados são de 9 estados brasileiros (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) e não estão apenas em suas capitais, mais nas regiões metropolitanas e no interior. São Paulo, o estado da maioria dos artistas, inclui a capital e cidades como São Bernardo do Campo, Poá, Itu, Mirassol, Botucatu, Mogi Mirim, São Caetano do Sul e Cajamar.

Outro fator considerado foi o tempo de atuação profissional dos entrevistados, pois este dado corrobora, juntamente com os demais, para validação da pesquisa. 39,5% trabalham como artista visual há mais de 10 anos e 32,9% entre 5 e 10 anos.

Tabela 2: tempo de atuação profissional

Tempo

Quantidade

%

Até 1 ano

2

1,3%

De 1 a 2 anos

5

2,6%

De 2 a 5 anos

41

23,7%

De 5 a 10 anos

58

32,9%

Acima de 10 anos

69

39,5%

Total

175

100%

Fonte: Autor, 2021

O objetivo principal desta monografia é entender se a Criptoarte, mais especificamente o NFT, é ou será um movimento forte e amplamente adotado pelos artistas visuais brasileiros.  Para isso, é preciso mapear quais são os estilos mais utilizados atualmente por este público, pois muitas obras podem ser digitalizadas e transformadas em um NFT, o que facilita a entrada dos artistas neste mercado.

Segundo a pesquisa, 25% dos entrevistados trabalham com design gráfico, fator decisivo, mas não exclusivo, para iniciar no virtual, pois o método depende do fator tecnológico. O desenho (65,8%) foi a técnica mais citada pelos entrevistados, seguido pela pintura (60,5%) e pelo vídeo (44,7%). O NFT foi mencionado por apenas 1,3% do total. É importante ressaltar que os entrevistados puderam selecionar mais de uma opção, pois grande parte utiliza suportes e técnicas variadas.

Tabela 3: técnicas trabalhadas

Tempo

Quantidade

%

Desenho

115

65,8%

Pintura

106

60,5%

Escultura

60

34,2%

Fotografia

74

42,1%

Design Gráfico

44

25%

Performance

41

23,7%

Vídeo

78

44,7%

Gravura / Xilogravura

21

12,1%

NFT

2

1,3%

Fonte: Autor, 2021

Os artistas visuais brasileiros foram questionados quanto ao seu conhecimento sobre NFT (apenas a sigla, sem o nome por extenso ou a tradução). 13,2% não conhecem ou nunca ouviram falar sobre NFT; a maioria, 86,8%, conhece ou ouviu falar sobre o assunto. Este dado aponta que existe um público potencial, atualizado sobre as novidades do mundo das artes visuais, conhecedor das novas tecnologias, independentemente de utilizá-las ou não profissionalmente ou experimentalmente. Apenas 9,2% dos artistas possuem obras no formato NFT e 39,5% pretendem entrar neste mercado.

Tabela 4: criação de obras NFT

Resposta

Quantidade

%

Sim – possui obra NFT

16

9,2%

Não – não possui obra NFT

159

90,8%

Total

175

100%

Fonte: Autor, 2021

Para os entrevistados, existem duas etapas distintas: a primeira é a criação de uma obra no formato NFT e, a segunda, a comercialização. Ou seja, nem todos estão inseridos nas plataformas de vendas. Dos que possuem obras no formato NFT (16 artistas visuais), 43,5% não colocaram à venda, 43,5% têm obras comercializadas na plataforma OpenSea e 12% na plataforma Mintable.

Tabela 5: comercialização de obras NFT

Resposta

Quantidade

%

À venda na plataforma OpenSean

7

3,9%

À venda na plataforma Mintable

2

1,3%

Possui NFT, mas não está à venda

7

3,9%

Não possui obra NFT

159

90,8%

Total

175

100%

Fonte: Autor, 2021

7. O FUTURO DA CRIPTOARTE E DOS NFTS NO BRASIL

Para os artistas visuais brasileiros entrevistados, a produção de Criptoarte ainda é incipiente, porém não desconhecida. A pesquisa aponta para uma potencial produção, pois um novo nicho se abriu nas galerias e feiras de arte que apresentaram e venderam NFTs em suas voltas presenciais. Sendo assim, existe um movimento de todo o mercado nacional para o desenvolvimento de NFTs sem a preocupação de quanto será a fatia de representatividade nas vendas, apesar de o fator econômico ser considerado.

O Brasil promete ser um grande player. O Facebook, maior rede social do mundo, tem seu sucesso devido ao enorme número de brasileiros que figuram entre os mais presentes e atuantes. A presença maciça de brasileiros foi a fórmula de sucesso do Orkut, do Instagram e do Twitter. Este é, sem dúvida, um indicador de que as Criptoartes também podem contar com este público, pois a tecnologia como meio de comunicação está enraizada na cultura dos brasileiros, apesar dos NFTs não serem tão simples como as redes sociais.

O que está em questão é se e quando os artistas visuais brasileiros abraçarão esta causa em sua totalidade. As primeiras obras NFTs de galerias começaram a ser vendidas muito recentemente. Agora, é preciso aguardar para confirmar a tendência ou a euforia da novidade.

Talvez um sinal de que NFTs farão realmente parte do circuito de arte brasileira será sua aceitação em editais e salões de arte promovidos pelas secretarias de cultura municipais e grandes editais como o do Centro Cultural São Paulo, Itaú Cultural e Paço das Artes. O termômetro aponta que isto pode demorar, tendo em vista que a fotografia e a performance ainda não são aceitas em muitos destes salões que, na maioria, segue a receita de bolo tradicional: a pintura de paisagem, de natureza morta e figurativa, deixando de fora a arte abstrata e o design digital. Mas este não será um fator impeditivo, já que vender uma obra NFT é totalmente independente de salões, feiras e galerias. O artista visual brasileiro está livre para conquistar seu espaço nas Criptoartes.

8. UMA VERDADE NUA E CRUA

Não importa se o desbravamento das Criptoartes aconteça no Brasil ou em qualquer outro lugar no mundo. Existe uma verdade dolorosa: o sistema de transação de Criptoarte exige imensas quantidades de energia, a maioria de fontes não renováveis e, consequentemente, grandes emissões de carbono.

Existe muita controvérsia sobre o consumo de energia das operações de NFTs, embora não haja absolutamente nenhuma dúvida de que a tecnologia blockchain é uma grande consumidora de energia. Porém, é esperado nos próximos dois anos uma versão atualizada do Ethereum que será significantemente mais eficiente em termos de consumo.

O maior criador de NFTs do mundo, o ArtBlocks, retirou um total de 10 mil toneladas de créditos, em março de 2020, para compensação de carbono e continuará fazendo à medida que a plataforma cresce. Segundo ArtBlocks (2021),

embora os créditos possam variar drasticamente em preço e tipo, estamos comprometidos em comprar e retirar créditos para projetos localizados em todo o mundo em um esforço para maximizar o impacto gerados por nós, como plataforma, estamos tendo no meio ambiente.

Os NFTs são comercializados, até o momento, na moeda Ethereum, mas existem sinais que outras moedas poderão entrar na jogada, como o pioneiro Bitcoin, que é o grande vilão da pegada de carbono das criptomoeadas. Segundo a Digiconomist (2021),

o aumento recorde no preço do Bitcoin no início de 2021 pode resultar em uma rede consumindo tanta energia quanto a de todos os data centers mundiais, com uma pegada de carbono correspondente a da cidade de Londres. A curta vida útil das plataformas de mineração de Bitcoin pode significar uma quantidade substancial de lixo eletrônico nos próximos anos. Dispositivos de mineração também exacerbam a atual escassez global de chips, competindo pelos mesmos chips que eletrônicos pessoais e veículos elétricos, que desempenham um papel essencial no combate às mudanças climáticas.

É comum o capitalismo moderno se dispor de todas as ferramentas necessárias para fazer um novo modelo de negócio ser lucrativo, muito lucrativo. Com as criptomoedas não será a primeira vez. Primeiro é pensado no volume de dinheiro que poderá ser adquirido e, depois, as consequências. Este pode ser o ponto crucial da arte dos NFTs.  Assim como a televisão e a internet coexistem, os NFTs e as artes visuais tradicionais poderão coexistir também, porém seus impactos distintos poderão definir seus ciclo de vida e morte.

Sabemos que a consciência ambiental não será renegada ao segundo plano. Como todo começo de um negócio, existe o mercado inicial, experimental, que vai se especializando ao mesmo tempo que colhe os primeiros e segundos frutos, enxerga seu potencial, suas fragilidades, corrige rotas, se reinventa, se profissionaliza e continua.  Este será, sem dúvida, o amadurecimento do mercado de Criptoarte. Criadores, plataformas, designers, artistas, investidores, compradores, especuladores, críticos, feiras, galerias e tantos outros envolvidos, vão solucionar seus pontos fracos, como o das pegadas de carbono, por exemplo. Outros surgirão e serão deliberados. O processo já está acontecendo.

É fácil compararmos com a própria tecnologia. Antes, em uma passado não tão distante, salas inteiras eram ocupadas com servidores e data centers para suprir a demanda. Hoje, um pen drive de 2 terabytes é carregado no bolso. As limitações são sempre superadas. Primeiro o vinil, depois o CD, depois o mp3... ...e assim, o ciclo se repete.

As pegadas de carbono não vão frear a evolução do mercado de NFTs e sua complexidade. Em um futuro próximo, uma simplicidade na metodologia vai sanar erros e adicionar acertos em apenas um clique.

9. CONCLUSÃO

O mundo das artes visuais é diverso e, muitas vezes, desconexo. Existem os que priorizam o ato da criação, de seus conteúdos, significados e sentimentos envolvidos, das técnicas utilizadas, da estética e do que é belo. Outros, produzem e vendem uma obra de arte aspirando as cifras envolvidas. Uma terceira parcela, ínfima, prioriza o equilíbrio entre ambos aspectos.

A complexidade da Criptoarte e dos NFTs não intimida o mercado brasileiro, que já está colhendo os primeiros frutos deste novo estilo de fazer arte. Da mesma forma que um pincel é embebido em tinta a óleo e desliza com presteza sobre a tela, ou o mármore é brutalmente quebrado para revelar formas delicadas, o mouse, a caneta digital e o scanner têm a mesma função e o mesmo valor. Não há dúvidas de que o design digital é arte. Suas problemáticas também fazem parte do ser Arte.

A Criptoarte já é realidade nas artes visuais no Brasil. A primeira feira de arte presencial no país, após mais de 18 meses de pandemia, comercializou NFTs por meio de galerias de arte e plataformas 100% brasileiras; consequentemente, artistas venderam obras neste formato, mesmo aqueles que não são representados por galerias e, uma grande parcela dos artistas visuais entrevistados para esta monografia tem interesse em ingressar nesse mercado.

As artes consideradas clássicas ou tradicionais continuarão com sua prestigiada e intocável posição. Não haverá substituição do físico pelo digital. Ambas vão conviver em harmonia e ocupando seus espaços. Tudo, por enquanto, será híbrido.

Artistas visuais brasileiros, cada vez mais, ocupam os mais importantes e prestigiados espaços de arte no mundo, sejam em museus, como o americano MoMA ou o britânico Tate Modern, complexos imobiliários comerciais e residenciais, espaços públicos, como empenas e parques, além dos museus por todo o país. Com o tempo, que é sempre relativo se tratando de tecnologia, poderemos, quem sabe, ver os artistas visuais brasileiros figurando como um dos mais presentes nas plataformas de vendas de NFTs, com maior número de obras e, até, de vendas. Criatividade, interesse e empenho não faltam.

As artes visuais cripto não serão passageiras e deixarão suas marcas na história da arte, assim como todos os artistas e movimentos do passado, incluindo os desconhecidos que pintaram bisões nas paredes das cavernas.  

Imagem 6: obra em formato NFT “#1 Rede Bison – Altamira Cave - 36.000 BC”à venda na plataforma OpenSea por 0,0001 Ether

Fonte: OpenSea, 2021

Afinal, os NFTs são uma tendência ou uma euforia? Dentre 4,5 bilhões de palavras, o Dicionário Collins elegeu NFT a palavra do ano de 2021...

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TRIGO, Luciano. A grande feira: uma reação ao vale-tudo na arte contemporânea. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

VALANSI, Brenda. O mercado brasileiro e NFTs. Entrevistador: R. Franzin. UNIP. 2021 (mensagem eletrônica). Entrevista concedida ao Trabalho de Conclusão de Curso - Artes Visuais.

APÊNDICE 1 – Pesquisa Artistas Visuais Brasileiros

  1. E-mail

  2. Nome Completo

  3. Idade

  • 18 a 20 anos

  • 21 a 25 anos

  • 26 a 30 anos

  • 31 a 40 anos

  • Acima de 40 anos

  1. Sexo

  • Homem

  • Mulher

  • Outro

  1. Cidade / Estado em que vive?

  2. Há quanto tempo é artista visual?

  • Até 1 ano

  • De 1 a 2 anos

  • De 2 a 5 anos

  • De 5 a 10 anos

  • Acima de 10 anos

  1. Quais técnicas você trabalha?

  • Pintura

  • Desenho

  • Escultura

  • Fotografia

  • Design Gráfico

  • Performance

  • Vídeo

  • Gravura / Xilogravura

  • Outros...

  1. Conhece / ouviu falar sobre NFT?

  • Sim

  • Não

  1. Possui obra neste formato?

  • Sim

  • Não

  1.  Se sua resposta foi “Não”, pretende entrar neste mercado?

  • Sim

  • Não

  • Minha resposta na questão 9 foi “sim”

  1. Se possui obra NFT, sua obra está à venda em qual plataforma?

  • OpenSea

  • Mintable

  • SuperRare

  • Nifty Gateway

  • Viv3.com

  • Não está à venda

  • Não possuo obra NFT

APÊNDICE 2 – Entrevista Brenda Valansi

A ArtRio será a primeira feira brasileira a ter uma galeria/agência especializada em arte digital. Você acredita que os NFTs serão a tendência do mercado de arte nos próximos anos? Por favor, detalhe sua resposta.

É muito difícil, em qualquer mercado de hoje, cravar quais serão as tendências dos próximos anos. Vivemos um período de constantes mudanças, e a tecnologia cada vez mais abre novas oportunidades, como os próprios NFTs. Com certeza, esse segmento vai crescer muito, no Brasil e no mundo. Ter a participação de uma consultoria especializada na geração de negócios com NFTs e uma galeria que atua exclusivamente com esse modelo de arte foi de extrema relevância para dar mais visibilidade e aproximar o público dessa realidade.

Acredita que nas próximas edições da ArtRio, assim como em outras feiras no mundo, a tendência é de que mais e mais galerias entrem no mercado de NFTs?

Sim, tenho muita clareza que esse é um segmento que vai crescer e poderá trazer ainda novas possibilidades com a chegada de novas tecnologias e conexões.

Independente de estarem inseridas no mundo digital dos NFTs, você acredita que galerias começarão a aceitar criptomoedas como forma de pagamento, mesmo para obras físicas de estilos tradicionais, como pinturas e esculturas?

A aceitação de criptomoedas está muito mais ligada a questões financeiras, bancárias e de transações do que a arte em si. Acredito que as criptomedas podem ser mais utilizadas, não só pelo mercado de arte como por qualquer outro mercado, com o desenvolvimento de mais segurança e transparência no segmento.

Você acredita que este movimento ocorrerá pelos ganhos substanciais ou porquê será um movimento que se consolidará nos próximos anos, podendo ser o substituto da arte contemporânea?

Acredito que qualquer momento da arte está diretamente ligado ao cenário mundial, mudanças culturais, impactos políticos e sociais e, claro, o desenvolvimento de novas tecnologias. Mas isso não quer dizer que um modelo substitui o outro, pelo contrário. A beleza da arte também está na coexistência de diferentes padrões.

As feiras de arte foram para o online, obras estão indo para o online, é possível prever um futuro totalmente virtual?

Não acredito no formato 100% online. A ArtRio foi a primeira feira de arte a lançar, ainda em 2018, seu marketplace, e ele vem crescendo a cada ano, mas nunca ameaçando a visita a galeria, o olho humano, a emoção de ver uma obra ao vivo. A pandemia acelerou as plataformas onlines das feiras e também de muitas galerias, e isso é extremamente importante, ainda mais pelo fato de quebrar barreiras e acabar com distâncias. Ao mesmo tempo, a arte tem um forte apelo físico, a emoção do ver de perto, sentir a atmosfera. Minha aposta é efetivamente nesse modelo híbrido para o futuro.

A plataforma online da ArtRio vai transmitir toda a agenda de palestras, conversas entre artistas e curadores e visitas guiadas a coleções e ateliês. Esta será uma ação que continuará nas demais edições da feira?

Sim – essa é uma decisão para todas as próximas edições. Já há muitos anos que utilizamos nosso portal e nossos canais digitais para trazer para o público uma completa agenda de arte, incluindo vídeos e entrevistas exclusivas com artistas, colecionadores, curadores e galeristas.

Você já adquiriu ou pretende adquirir uma obra NFT?

Ainda não, mas já comecei a pesquisar....

APÊNDICE 3 – Entrevista Lucas Cimino

A ArtRio será a primeira feira brasileira a ter uma galeria/agência especializada em arte digital. Você acredita que os NFTs serão a tendência do mercado de arte nos próximos anos? Por favor, detalhe sua resposta.

Acredito que sim, universo dos colecionáveis digitais ainda está crescendo muito, você pode pegar de exemplo jogos como AXIE que estão crescendo absurdamente, até os próprios CryptoPunks devem continuar batendo recorde atrás de recorde, pelo fato de ser tão pequeno acredito que ainda há um potencial muito grande de crescimento. Sair de 0.001% para 0.002% é dobrar, rs. Gosto da possibilidade de dar mais liquidez para os artistas que trabalham com vídeo e com tecnologia, acho que nesse universo vai vir a somar bastante com o que planejamos na galeria.

Acredita que nas próximas edições de feiras como ArtRio e SP-ARTE, assim como em outras feiras no mundo, a tendência é de que mais e mais galerias entrem no mercado de NFTs?

NFT pra mim é uma vídeo arte inteligente, pessoas vendem vídeo área há anos, é só maneira de distribuir que mudou, nada mudou.

Independente de estarem inseridas no mundo digital dos NFTs, você acredita que galerias começarão a aceitar criptomoedas como forma de pagamento, mesmo para obras físicas como pinturas e esculturas?

Nós aceitamos desde 2017, o problema são as pessoas pagarem com elas, não faz diferença no que a pessoa quer pagar.

Você acredita que este movimento ocorrerá pelos ganhos substanciais ou porquê será um movimento que se consolidará nos próximos anos, podendo ser o substituto da arte contemporânea?

Não acho que tem haver com a questão de ganhos ou perdas, acho que tem haver com a ideia de termos não somente uma vida com ativos físicos, mas também com ativos digitais. O que se vende digitalmente nos NFTs são videos, jpgs, mp4, nada diferente do que se vendia décadas atrás.

As feiras de arte foram para o online, as galerias reforçaram sua presença online, as obras estão indo para o online, é possível prever um futuro totalmente virtual?

Todas as feiras que fizeram movimento muito abrupto para o digital já estão voltando, ninguém quer mais saber de viewing rooms, obra necessita atenção, tempo, sentimento, você fica 3h00 tranquilamente em uma feira de arte, duvido você ficar mais de 15 minutos olhando um site de uma feira. Você transforma tudo em jpgs de 5 cm por 5 cm. O universo da arte será eternamente phygital.

Você já adquiriu ou pretende adquirir uma obra NFT?

Sim! Tenho a Heni do Damien Hirst e devo comprar alguns outros.


[1] Criptomoedas são moedas digitais descentralizadas, criadas em uma rede blockchain a partir de sistemas avançados de criptografia que protegem as transações.

[2] O londrino Richard Cork é historiador de arte, crítico, editor, apresentador de televisão e curador de arte.

[3] Blockchain é uma tecnologia que serve de base para transações em criptomoedas, sendo uma forma de validar ou registrar uma transação digital.

[4] Beeple é o pseudônimo do artista estadunidense Mike Wunkelmann.

[5] Larva Labs é uma criação de Matt Hall e John Watkinson, com grande experiência no setor de softwares e tecnologia.

[6] Dados do NONFUNGIBLE de 29 de novembro de 2021.

[7] Baleia é o nome designado às pessoas com grande poder de compra e acúmulo de NFTs. O baleia mais famoso é o cantor Snoop Dogg, que revelou no perfil de seu twitter ser o usuário Cozomo Medici. O rapper acumula cerca de US$ 17 milhões em NFTs, incluindo nove CryptoPunks.

[8] Bull run (corrida de touros) é uma expressão que explica quando o mercado de criptomoedas se infla de investidores, causando um aumento no volume de transações relacionadas às criptomoedas.

[9] Brenda Valansi é presidente da ArtRio, feira reconhecida como um dos principais eventos de arte da América Latina, que na edição deste ano reuniu as principais galerias do Brasil em um formato híbrido, entre os dias 14 e 18 de setembro.

[10] Lucas Cimino é fundador e diretor da Zipper Galeria, localizada na cidade de São Paulo.

[11] A Lei Aldir Blanc (14.017/2020) foi elaborada para atender ao mercado cultural brasileiro que sofreu com as restrições da pandemia. Seu nome é uma homenagem ao músico Aldir Blanc que morreu de Covid-19.

[12] Sarah Thorton socióloga de arte e é autora de grandes best sellers, como “33 Artists in 3 Acts” (traduzido no Brasil como “O que é um artista?”, pela editora Zahar), “Seven days in the art world” (Setes dias no mundo da arte) e Club Cultures, além de ter colaborado para veículos de imprensa como The Economist, The New Yorker, Artforum, NPR e BBC.

[13] Eu não tenho uma opinião formada. Os NFTs parecem mais com criptomoedas do que da arte direcionada aos museus” (tradução minha).

[14] A pesquisa web survey foi elaborada com a ferramenta Google Forms.


Publicado por: Ricardo Augusto Franzin

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