UMA ANÁLISE TRADUTOLÓGICA DO INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO SOB O OLHAR DA SOCIOLINGUÍSTICA
índice
- 1. RESUMO
- 2. SOCIOLINGUÍSTICA
- 2.1 Da Linguística à Sociolinguística
- 2.2 Sociolinguística
- 2.3 Conceitos: variedade, variação, variável, variante e vernáculo
- 2.4 Classificação das variedades linguísticas
- 2.5 Níveis de variação linguística
- 2.6 Preconceito linguístico
- 2.7 Relação entre Sociolinguística e Tradução
- 3. O INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO
- 3.1 A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano
- 3.2 Características do Inglês Vernacular Afro-Americano: característicaslexicais, fonológicas e gramaticais.
- 3.2.1 Características lexicais
- 3.2.2 Características fonológicas
- 3.2.3 Enfraquecimento dos encontros consonantais finais
- 3.2.4 Omissão de prefixo e adiantamento do stress
- 3.2.5 Características gramaticais
- 3.2.6 Omissão do verbo to be
- 3.2.7 Mesma forma verbal usada para singular e plural
- 3.2.8 Omissão do auxiliar will para indicar futuro
- 3.2.9 Ain't como negação
- 3.2.10 Dupla negativa
- 3.3 O Inglês Vernacular Afro-Americano como fator social e identidade cultural
- 4. OBRA: ORANGE IS THE NEW BLACK
- 5. METODOLOGIA
- 5.1 Análise: A tradução do Inglês Vernacular Afro-Americano na fala da personagem Taystee
- 5.1.1 Características lexicais
- 5.1.2 Características fonológicas
- 5.1.3 Características gramaticais
- 5.2 Discussões
- 6. REFERÊNCIAS
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1. RESUMO
O presente estudo configura-se como uma análise tradutológica do Inglês Vernacular Afro-Americano sob o olhar da sociolinguística. As etapas do trabalho são repartidas distintamente dentre os capítulos. O primeiro aborda conceitos sociolinguísticos, níveis de variação linguística na sociedade e seus conceitos, além de estudar a relação entre a tradução e a sociolinguística, onde se busca defender que o ato de equivalência é falho quando tratamos de traduzir socioletos e idioletos, havendo, pelo contrário, uma recriação de sentido. O segundo capítulo aborda a história e desenvolvimento do Inglês Vernacular Afro-Americano, bem como suas características, aliadas ao fator social e a identidade cultural, buscando apresentar o preconceito linguístico acerca dessa variante e dos falantes que a utilizam. O terceiro capítulo analisa a personagem Taystee em seu contexto na série Orange Is The New Black (2013). O quarto e último capítulo, por fim, busca analisar as falas da personagem e de que modo elas foram traduzidas e dubladas para o português. De forma geral, trata-se de um estudo sobre como, no processo tradutológico, o tradutor, sem saída, buscou abandonar a carga cultural presente naquela variante e que, ao traduzir, buscou recriar um novo sentido em uma língua distinta, ponderando os aspectos que fizessem coerência para a língua e cultura de chegada.
Palavras-chave: Inglês Vernacular Afro-Americano. Sociolinguística. Tradução.
ABSTRACT
The present study is an analysis of the African American Vernacular English translation in the sociolinguistic perspective. The stages of this work are divided differently among the chapters. The first one focus on sociolinguistic concepts, levels of linguistic variation in society and its concepts, besides the relation between translation and sociolinguistics, where it is sought to defend that the act of equivalence is flawed when we try to translate sociolect and idiolect, on the contrary, a re-creation of meaning. The second chapter approaches the history and development of African American Vernacular English, as well as its characteristics, allied to the social factor and cultural identity, trying to present the linguistic prejudice about the variant and the speakers who use it. The third chapter analyzes the character Taystee in its context in the series Orange Is The New Black (2013). The fourth, and last chapter, finally, seeks to analyze the speech of the character and how it was translated and dubbed into Portuguese. In general, it is a study about how, in the process of translation, the translator, without exit, sought to abandon the cultural load present in that variant and which, while translating, sought to recreate a new meaning in a distinct language, pondering the aspects coherence for a language and culture of arrival.
Keywords: African American VernacularEnglish. Sociolinguistics. Translation.
Nos dias atuais, a sociedade em que vivemos busca relações e comunicações com o próximo. Há, entretanto, diversas maneiras e formas de exercer a comunicação. Chamamos de variação linguística as diversas formas com que um indivíduo manifesta-se verbalmente, levando em conta seu contexto histórico, geográfico ou sociocultural. Assim, percebemos que cada indivíduo irá se comunicar de uma maneira distinta.
Apesar de a Gramática Normativa julgar negativamente as variantes linguísticas que não são de grande prestígio social como a norma padrão, a Sociolinguística Variacionista surge para ratificar que, de fato, a língua não deve ser estudada de forma isolada e sim junto à sociedade em que estamos inseridos. A partir do pressuposto de que a heterogeneidade linguística é também um reflexo da heterogeneidade social, neste trabalho, buscamos relacionar a Sociolinguística Variacionista com os Estudos de Tradução, trazendo subsídios em nossa análise, buscando evidenciar e comprovar que, ao tratarmos de traduzir socioletos e idioletos, o processo de equivalência é um ato falho, visto que é impossível traduzir as mesmas peculiaridades de uma língua e de uma cultura que está inserida em um contexto histórico e sociocultural totalmente distinto da nossa realidade.
A variante linguística que abordarmos em nosso trabalho é o Inglês Vernacular Afro-Americano, variante estigmatizada por não conter as mesmas características daquilo que chamamos de norma culta ou padrão. Dessa forma, o presente estudo é composto por quatro capítulos.
O capítulo inaugural é “Sociolinguística”, que é composto por seis subcapítulos. O objetivo é fazer uma apresentação concisa sobre o desenvolvimento da sociolinguística, contextualizando-a junto aos estudos da linguagem do século XIX e do início do século XX e abordando brevemente seu surgimento e suas propostas. Assim, o primeiro capítulo aborda conceitos, níveis de variação linguística e a relação entre a Sociolinguística Variacionista e a Tradução, em que defendemos a ideia de criação de sentido.
O segundo capítulo, “O Inglês Vernacular Afro-Americano”, é composto por três subcapítulos: “A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano”, “Características do Inglês Vernacular Afro-Americano: características lexicais, fonológicas e gramaticais” e “O Inglês Vernacular Afro-Americano como fator social e identidade cultural”. Essa parte da monografia discute a história e a origem da referida variante linguística, suas características estruturais e a questão do falante que utiliza essa linguagem. O terceiro capítulo, “Obra: Orange Is The New Black”, é composto somente por um subcapítulo, “Tasha “Taystee” Jefferson”, no qual se contextualiza a série com a personagem cujas falas serão analisadas. Por fim, o quarto capítulo é “Análise: A tradução do Inglês Vernacular Afro-Americano nas falas da personagem Taystee”. Em um primeiro momento, ocorre a descrição da metodologia e da forma que se coletou o corpus para a análise. Após isso, será possível observar três quadros com falas extraídas da série e como elas foram traduzidas e dubladas para o português. O primeiro quadro trata das características lexicais, seguido pelos quadros referentes às características fonológicas e, por último, gramaticais. Assim, por meio desta monografia, além de apresentar para o leitor a existência e a riqueza cultural da variante afro-americana, busca-se também derrubar o preconceito linguístico acerca de variantes menos prestigiadas e, principalmente, mostrar a postura do tradutor e a correlação existente entre os estudos linguísticos e os estudos tradutológicos.
2. SOCIOLINGUÍSTICA
Neste primeiro capítulo, será apresentado o surgimento da Sociolinguística Variacionista, definindo o que vem a ser esse ramo da Linguística, seu objeto de estudo e suas vertentes, bem como, posteriormente, sua relação com a Tradução. Para que possamos entender os pressupostos da Sociolinguística - área que também atende por outros nomes, como Sociolinguística Laboviana (por ter como principal expoente e fundador o linguista norte-americano William Labov), Sociolinguística Quantitativa e Teoria da Variação e Mudança Linguística -, contextualizaremos a sociolinguística com os estudos da linguagem do século XIX e do início do século XX, abordando brevemente seu surgimento e em seguida suas propostas.
2.1. Da Linguística à Sociolinguística
Linguística é a ciência encarregada de estudar as características da linguagem humana. Segundo Coelho et. al. (2015), os estudos linguísticos ganharam força no século XIX, partindo de duas perspectivas: a do método histórico-comparativo e a neogramática. O método histórico-comparativo tem como principal objetivo estabelecer uma correspondência sistemática entre duas ou mais línguas. Já a neogramática, consolidada na obra de Hermann Paul (1983), tinha como ideia a concepção de que a língua do falante-ouvinte deveria ser estudada individualmente, separada do uso linguístico grupal e, consequentemente, dissociada das relações sociais. A partir dessa definição de língua concebida por Hermann, diversos linguistas começaram a apresentar propostas para o estudo da linguagem, com base naquilo que já havia sido feito e retratado por outros estudiosos que os antecederam.
Partimos do conceito saussuriano de langue (língua), o qual deve ser distinguida de parole (fala).
Segundo Saussure (1962), a langue (língua) é a parte social da linguagem; ela não existe fora de um tipo de contato estabelecido entre os membros da comunidade. Já os dados sobre a parole (fala) só podem ser obtidos pelo exame do comportamento de indivíduos que estão usando a língua.
Assim, temos o paradoxo saussuriano: o aspecto social da língua é estudado pela observação de qualquer indivíduo, mas o aspecto individual somente pela observação da língua em seu contexto social. A ciência da parole nunca se desenvolveu, mas a abordagem da ciência da langue tem tido muito sucesso desde a última metade do século XX (LABOV, 2008, p. 218)
Para Chomsky (1957, apud COELHOet al, 2015), uma língua é um sistema abstrato de regras para a formação de sentenças. Segundo ele, o objeto de estudo não se tratava da fala do indivíduo, mas sim das representações estruturais da linguística, as quais devem estar presentes na competência linguística de todos os falantes de uma mesma língua. Para o autor, o indivíduo é um falante-ouvinte ideal e partilha com os outros falantes as mesmas estruturas.
Tanto Chomsky quanto Saussure concebiam seu objeto de estudo e a língua como algo homogêneo e separado de fatores históricos e sociais que pudessem compreender a fala. Para ambos, a relação de língua e sociedade era irrelevante e inexistente. Apesar de existirem diversos posicionamentos e pontos de vistas diferentes àquela época, ainda havia outros linguistas e pesquisadores que viam e defendiam a língua como um fato social, instrumento de poder e representação de lutas de classe. Havia assim quem discordasse de Saussure e Chomsky, como, por exemplo, Antoine Meillet, Nicolai Marr e o filósofo Mikhail Bakhtin (COELHO, et. al., 2015)
Diante dessa diversidade de reflexões sobre o que seria a linguística e seu objeto de estudo, surge William Labov, figura chave para o estudo da linguagem na década de 1960. Labov surge com dois estudos que abordam a língua e seus contextos sociais; o primeiro, na Ilha de Martha’s Vineyard, em 1963, e o segundo em Nova York, em 1996. O próprio Labov (1972) concebe a variação linguística como um fenômeno sistemático e não aleatório, por meio da relação entre fatores linguísticos e fatores sociais, podendo superar a barreira erguida pelos estruturalistas americanos, a qual supunha que a mudança linguística não poderia ser observada em seu processo de implementação, mas sim em seus resultados finais.
Os estudos Labovianos vinham ganhando cada vez mais força e espaço dentro da sociolinguística e em 1996, nos Estados Unidos, surge um debate proposto por Uriel Weinreich, Marvin Herzog e Labov, retomando assim a discussão sobre os estudos linguísticos e principalmente suas motivações sociais, algo que até então não era abordado e levado em consideração por nenhum autor. Para isso, era necessário levar em conta para o debate os aspectos e ideais defendidos por Paul, Saussure e Chomsky. Dessa forma, segundo Coelho et. al. (2015), os linguistas introduziram fundamentos de uma Teoria da Variação - a chamada então sociolingüística, que, com a influência de outros autores (também citados acima), volta a defender e definir a língua como um fenômeno social. Para consolidar o surgimento desse ramo da linguística, a contribuição dos novos estudos presentes nas obras de Uriel Weinreich, Labov e Marvin Herzog foi de extrema importância. A partir de então, Labov começou a desenvolver seus trabalhos sozinho ou então com seu grupo de pesquisa, sediado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. O grupo era voltado para a área sociolinguística, mais especificamente focando em como se dá a variação fonética-fonológica na língua inglesa, e é tido até hoje como grande e principal referência na área.
Tendo em vista que a contextualização da linguística frente à sociolinguística é de extrema importância para entendermos os pressupostos e origem da segunda e também pontuarmos de que maneira ela se consolidou como um estudo singular, dar-se-á seguimento às teorias sociolinguísticas de modo mais aprofundado, descartando a ideia da língua do indivíduo como objeto de análise e considerando a língua do grupo social no âmbito de comunidade de fala1.
2.2. Sociolinguística
A Sociolinguística é dividida em duas ramificações: A Sociolinguística Interacional e a Sociolinguística Variacionista (a vertente que abordaremos neste trabalho). A Sociolinguística Interacional é introduzida por Dell Hymes e, de acordo com Marcos Bagno:
[alguns sociolinguistas] preferem investigar a situação de uso, o momento em que ocorre a interação: quem está dizendo o quê, a quem, onde, quando, dentro de que relações da hierarquia social, com que interação, etc. (BAGNO, 2007 p. 54)
A Sociolinguística Interacional, então, não tem como foco questões linguísticas estruturais, como, por exemplo, aspectos fonéticos-fonológicos, sintáticos, semânticos, morfossintáticos e lexicais. Já a Sociolinguística Variacionista, introduzida por William Labov, sendo o oposto da Interacional, busca analisar os fatores e questões linguísticas dentro de um contexto social.
Como afirmado anteriormente, a Sociolinguística que iremos abordar neste trabalho é a Sociolinguística Variacionista. A Sociolinguística é o estudo da língua em uso na comunidade de fala, levando em conta fatores sociais inerentes a indivíduos de uma determinada comunidade. Ou seja, a realidade de um determinado falante tem grande influência e contribuição na forma como ele irá se comunicar. Se formos parar para observar em nosso dia-a-dia, por exemplo, poderemos reparar que as pessoas não falam todas da mesma maneira, seja por conta do sotaque, por terem habitado diferentes regiões do país, por serem de gerações diferentes, por não terem acesso a ensino ou por outros diversos fatores. Cada grupo social apresenta características no seu modo de falar, que se devem principalmente pelo que chamamos de fatores extralinguísticos, como sua origem, idade, gênero, escolaridade, status socioeconômico e mercado de trabalho (BAGNO, 2007). Todas essas distinções, porém, não impedem os falantes de comunicarem-se. Podemos concluir, então, que a língua é um sistema tão organizado que seus falantes comunicam-se perfeitamente entre si, mesmo que um more no interior de São Paulo e o outro more na capital do Rio Grande do Sul, que um tenha seis anos de idade e o outro tenha sessenta, que um tenha curso superior e o outro tenha apenas ensino fundamental. Concluímos também que essa língua varia em decorrência de fatores que estão presente na sociedade (COELHO, et. al., 2015). A partir dessa afirmação, separamos alguns fatores extralinguísticos que podem auxiliar na identificação dos fenômenos da variação linguística, como já citados anteriormente.
O primeiro fator que iremos apresentar aqui é o que está relacionado à origem geográfica. Em outras palavras, trata-se do que chamamos de variação diatópica - a mudança da língua ocorrendo por conta da origem do indivíduo. A língua varia de uma região para outra, podendo assim, por exemplo, ser estudada de acordo com as variações da fala de diferentes regiões, estados e áreas geográficas. Um fator importante é a origem do indivíduo e seu background. Se ele veio de uma comunidade rural e muito diferente das localidades urbanas, ela consequentemente irá ter grande influência em seu repertório lexical, visto que o indivíduo poderá, usando palavras diferentes, que sejam mais comuns e frequentes em sua região, estar se referindo a uma mesma coisa que outro falante. Um exemplo desse tipo de variação é a palavra pão. O pão, em nosso país, tem diversos nomes a ele atribuídos: em Santos, é chamado de média; em São Paulo, pão francês; já em Sergipe, pão jacó. Tal diferenciação acontece de acordo com a cultura local. Na variação diatópica, estão relacionados também os sotaques, ligados às marcas orais da linguagem. As variações diatópicas são responsáveis pelos regionalismos ou falares locais. Esses falares representam os costumes e a cultura de cada região. Compreendem-se ainda assim, apesar de os falantes de uma mesma língua, além de poderem ser de regiões distintas, terem características diversificadas por conta dos diferentes estratos sociais e as circunstâncias diversas da comunicação.
Já fatores como classe social, faixa etária, profissão, escolaridade e gênero estão relacionados ao que chamamos de variação diastrática. É uma variação bastante evidente na camada social em que o indivíduo encontra-se. O falar de um indivíduo está associado ao seu nível socioeconômico e cultural. Quanto mais letramento o indivíduo tiver, mais o domínio da língua ele terá. Quanto mais livros ele ler, mais rico será o seu vocabulário. No Brasil, essa variação é fácil de ser identificada. Podemos notar a diferença quando conversamos com alguém mais humilde, sem grau de escolaridade, testemunhando uma linguagem diferente da habitual que está presente em outras camadas sociais. Expressões como “naonde” e “pra nóisfazê” são menos ouvidas em diálogos com pessoas da alta camada social, como professores, advogados e médicos. Essas expressões são comuns diante de pessoas que não gozam do prestígio linguístico.
Já em relação à faixa etária, podemos observar a variação acontecendo no uso do vocabulário particular e no léxico do indivíduo. Certas gírias como “maneiro”, “ligeiro”, "véio” estão presente na fala da maioria dos jovens na população. Podemos notar também a variação linguística acontecendo em relação ao gênero e sexo. A utilização das vogais como recurso expressivo em “maravilhoso” e o uso corriqueiro de diminutivos em palavras como “bonitinho” e “lindinho” costuma ocorrer na oralidade feminina. É importante dizer que a gíria não é utilizada somente entre jovens, mas ela é pertencente a grupos específicos, como policiais, skatistas, surfistas, cantores de rap, entre outros.
Resumidamente, podemos dizer que a sociolinguística estuda a língua e suas variações em um contexto de fala e que, se não houvesse interação, seria impossível estudar a língua e suas variantes em um contexto separado. São os fatores socioculturais que influenciam como esse falante irá se comportar em âmbito de fala. Podemos ver que linguagem, sociedade e cultura estão unificadas de modo que há uma relação de dependência mútua.
Agora, para a facilitação e entendimento diante do que foi apresentado sobre a sociolinguística, é importante termos bem clara em nosso trabalho a noção dos conceitos atribuídos de variedade, variação, variável, variante e vernáculo; é isso que iremos abordar no próximo subcapítulo.
2.3. Conceitos: variedade, variação, variável, variante e vernáculo
Para melhor entendermos o conceito de variedade, precisaremos retomar a ideia mencionada de que as pessoas em nosso meio falam de maneiras totalmente diferentes. Dessa forma, o que então leva a fala do indivíduo a parecer igual ou diferente? Nomeamos como variedade a fala característica de determinado grupo social. Se nos referirmos, por exemplo, em critérios geográficos, analisando morfologicamente, à fala de uma pessoa da capital de São Paulo e à fala de outro indivíduo nativo de Santos, encontraremos semelhanças, porém, elas não serão de caráter idêntico. Algumas pessoas fazem uso do "tu" ao invés de "você". Já se formos fazer uma análise lexical, os paulistas referem-se ao alimento pão como "pão francês". Já os santistas utilizam o termo "média". É importante termos em mente que essas mudanças que ocorrem na fala de um indivíduo podem ocorrer não só em diferentes cidades de um mesmo estado, mas também em estados diferente.
Podemos pensar também a partir de critérios sociais, como a diferença na fala de indivíduo com ensino superior completo comparado a outro que apenas tem o ensino fundamental, ou a variedade na fala de pessoas com diferentes idades ou diferentes gêneros. Também podemos nos referir à ocupação/profissão de determinada pessoa na sociedade e qual papel ela desempenha. Nos dias atuais, inclusive, em que a maioria da população tem acesso a internet, podemos observar também o quanto a variedade está impregnada nas redes sociais. Pessoas que usam a rede social Twitter, por exemplo, se manifestam de uma maneira diferente das pessoas que utilizam o Facebook. Apesar de existirem outras variedades, é importante destacar que o termo variedade ao qual os sociolinguistas referem-se é o que se chama variedade culta.
A variedade culta é normalmente associada às camadas mais altas da pirâmide social. É, em geral, a língua usada pelos falantes mais escolarizados, com maior remuneração e que moram em centros urbanos. Essas pessoas, por seu status, comumente gozam de prestígio social, o qual é transferido para a sua fala. É evidente, porém, que tal padrão não pressupõe rigorosamente uma delimitação exata de um grupo de falantes. Se considerarmos a realidade brasileira, veremos que há pessoas com alta remuneração e pouca escolaridade, extraindo seu poder financeiro da posse de áreas rurais com propriedades de alto valor e assim por diante. Como qualquer outra variedade, a variedade culta também apresenta variações - basta pensar que as variedades, ainda que agreguem falantes com características (geográficas, sociais etc.) em comum, não são homogêneas. Por esse motivo é que podemos considerar a existência de algumas variedades cultas (COELHO et. al., 2015).
De acordo com Marcos Bagno,
(...) toda e qualquer variedade linguística é plenamente funcional, oferece todos os recursos necessários para que seus falantes interagemsocialmente,é um meio eficiente de manutenção de coesão social da comunidade em que é empregada. A ideia que existem variedades linguísticas mais "feias" ou mais "bonitas", mais "certas", ou mais "erradas", mais "ricas" e mais "pobres" é fruto de avaliações e julgamentos exclusivamente socioculturais e decorrem das relações de poder e discriminação que existem em toda sociedade (...) (BAGNO, 2007, p. 48)
Já a variação ocorre quando temos dois termos de mesmo valor referencial, isto é, termos aos quais se atribui o mesmo significado. Ainda utilizando o exemplo acima, o uso dos pronomes "tu" e "você", além de ocorrer por caráter regional, pode também ocorrer por conta do grau de intimidade e formalidade do locutor com o interlocutor. Neste caso, não há dúvidas de que ambas as formas estão sendo utilizadas com o mesmo propósito: referir-se à segunda pessoa.
A variação é inerente às línguas, e não compromete o bom funcionamento do sistema linguístico nem a possibilidade de comunicação entre os falantes - o que podemos perceber quando observamos que as pessoas a nossa volta falam de maneiras diferentes, mas sempre se entendendo perfeitamente. (COELHO, et. al., 2015, p. 16)
De fato, as diferentes formas que utilizamos ao falar ou a escrever dizem muito sobre nós; o lugar de onde viemos, nosso grau de letramento, em que grupo social estamos inseridos e várias outras informações que podemos verificar recorrentemente através de um simples mecanismo: a fala.
Já a variável, por exemplo, assume um papel de cunho gramatical. A mesma tem uma grande ligação com a variação. Quando dizemos que, de ambas as formas, utilizando o "tu" ou o "você", o falante ainda estaria se referindo à mesma pessoa (no caso, a segunda pessoa), estamos nos referindo à expressão pronominal.
As variantes “devem ser intercambiáveis no mesmo contexto e devem manter o mesmo significado referencial”. (COELHO, et. al., 2015, p. 17)
Existe também o que chamamos de variante padrão e não padrão. Chamamos de variante padrão aquelas que fazem parte das variedades cultas da língua. Aquela que aprendemos na escola, que é considerada unicamente como correta. Já a variante não padrão é aquela que é estigmatizada como errônea pela sociedade. Mesmo que a variante padrão não seja utilizada por todos em uma comunidade, é ela que recebe um caráter de prestígio. As variantes padrão tendem a ser conservadoras, por terem a mesma estrutura desde os primórdios; já a variante não padrão é inovadora, por estar sempre mudando, seja por criações do que chamamos de neologismos ou por outras características.
Observamos que a variante padrão tende a ser prestigiada e conservadora, ao passo que a variante não padrão tende a ser estigmatizada e inovadora. Vale ressaltar, contudo, que essas são tendências - nem sempre a realidade que observamos reflete essas tendências. Vejamos o caso, por exemplo, da variável “expressão pronominal de P4”, cujas variantes são, atualmente, os pronomes 'nós' e “a gente” é a variante não padrão, que sofre mais estigma e é inovadora. Nota-se, contudo, que o estigma de 'a gente' tem se perdido e que essa variante tem sido usada também em contextos mais formais, nos quais figurava apenas a forma “nós”.(COELHO, et. al, 2015, p. 19)
Já o vernáculo é a língua própria de um país ou de uma localidade. Ele está associado ao idioma puro, sem o uso de estrangeirismos, seja no modo de falar ou de escrever. Porém, o vernáculo na sociolinguística tem outra definição. De acordo com Labov,
O vernáculo é o estilo em que se presta o mínimo de atenção ao monitoramento de fala. O vernáculo parece ser, portanto, a fonte mais segura para a investigação dos fenômenos de mudança linguística que afetam determinada língua num dado momento histórico. Cada grupo social tem o seu vernáculo, isto é, o estilo que, na variedade linguística dessa comunidade, representa a fala mais espontânea, menos monitorada, que emerge sobretudo nas interações verbais com menor grau de formalidade e/ou com maior carga de emotividade.(BAGNO, 2007, p. 51)
Agora que já tratamos desses conceitos importantes para a compreensão do trabalho, passemos a definir o que são as chamadas classificações das variedades linguísticas e como elas estão classificadas.
2.4. Classificação das variedades linguísticas
Como já explicado anteriormente, chamamos de variedades os diversos modos de falar em uma língua. Uma questão importante é o fato de toda e qualquer variedade possuir sua individualidade, sendo assim possível diferenciarmos umas das outras. De acordo com Bagno (2007), as variedades estão classificadas em: dialeto, socioleto, cronoleto e idioleto2. O dialeto é um termo designado ao modo de uso da língua em um determinado lugar. Já o socioleto é a variedade linguística de um grupo social que compartilha as mesmas características sociais, seja por nível cultural ou por profissão, por exemplo. O cronoleto é a variedade própria de determinada faixa etária de falantes. Por último mas não com menos importância, o idioleto, que está relacionado ao modo de falar característico de um indivíduo, seu repertório lexical, suas preferências vocabulares, seu modo de pronunciar as palavras, suas escolhas e suas particularidades.
2.5. Níveis de variação linguística
A variação linguística também pode se dar em vários níveis: fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico e lexical. Esses níveis de variação linguística acontecem em função da localização do indivíduo, ou seja, a variação linguística é caracterizada pelo que chamamos de falares regionais. Começamos então pelo fenômeno nível fonético-fonológico: ele ocorre quando uma palavra é pronunciada de diferentes modos, seja por conta do sotaque ou por acréscimo, decréscimo ou troca de fonema. Um exemplo disso, foneticamente falando, é a forma de pronunciar o / r/, como na palavra porta. Pessoas que vivem na roça ou no campo irão pronunciar esse / r/ de modo retroflexo, isto é, dobrado para trás. Já as pessoas que vivem nas grandes metrópoles irão pronunciar o / r/ de forma uvular. Em se tratando do aspecto fonológico, podemos citar como exemplo a palavra vaca. Os falantes de uma determinada região pronunciam /baca/ ao invés de vaca, trocando assim, o fonema v pelo b.
Já em relação aos aspectos morfológicos, o fenômeno acontece quando a estrutura das palavras expressa uma mesma ideia. Um exemplo clássico é quando temos o sufixo diferente, mas com os mesmos significados atribuídos. Podemos notar isso nas palavras “pegajoso”e “peguento”(BAGNO, 2007). A variação sintática ocorre quando existem diferenças em concordâncias verbais e nominais e também na construção de termos em uma sentença. Como exemplo, podemos citar a expressão “Dê-me um cigarro”, existente no português de Portugal, enquanto, no português brasileiro, diz-se “me dá um cigarro”. Já em relação à posição dos termos em uma frase, temos como exemplo o falante que insiste em dizer “não vai ninguém no cinema”, havendo a presença de mais de uma partícula negativa na mesma frase, o “não” e o “ninguém”.
A variação semântica ocorre quando uma palavra pode variar de significado em diferentes regiões. A ocorrência da variação depende de quem fala, além de onde e para quem se fala. Por exemplo, a palavra “cabra” pode significar o feminino de “bode”, mas no Norte também pode atribuir o significado de homem, rapaz, moço. Por fim, temos a variação lexical, que é comumente verificada em diferentes regiões do Brasil. Ela ocorre quando é utilizada a mudança de termos para referir-se a um mesmo objeto. Como, por exemplo, o corretivo que passamos em uma folha quando erramos na escrita pode se chamar “corretivo”, “errorex” ou “branquinho”, dependendo da origem regional do falante.
Para concluirmos, é importante ressaltar que essas variações não são controladas pelo falante que as utiliza. elas ocorrem no inconsciente e são condicionadas por diversos fatores sociais. Porém, se um indivíduo encontra-se em um âmbito no qual existam diversos falares e a variação esteja presente, ele aprende inconscientemente o falar de todas. Porém, algumas expressões, como a repetição de partículas negativas no uso de uma frase, por exemplo, podem criar desconforto para o leitor, o que acaba gerando o chamado preconceito linguístico, o qual acontece quando alguém na sociedade é estigmatizado por não fazer uso da língua e das normas padrão.
2.6. Preconceito linguístico
Toda e qualquer língua possui suas variedades; porém, existe também, em toda e qualquer língua, a norma padrão. Essa norma padrão é a que encontramos nos dicionários e livros didáticos. Ela é a que aprendemos na escola desde pequenos, quando ainda estamos sendo alfabetizados. Utilizamos a norma padrão quando queremos atingir um nível formal na fala ou na escrita, quando vamos a uma entrevista de emprego ou precisamos falar formalmente com alguém de maior nível hierárquico. Podemos, enfim, estabelecer que a norma padrão configura-se como um conjunto de regras que procura sistematizar a língua, julgando como errôneo tudo aquilo que não se encaixa nos padrões linguísticos e corrigindo os erros cometidos pelos falantes na comunidade. Assim sendo, quando um indivíduo faz uso da norma padrão, privilegiando-a socialmente e tratando-a como a variedade correta, as outras variedades da língua muitas vezes são desprezadas e consequentemente marginalizadas por ele, levando-o tanto a interpretar inconscientemente que a fala que apresenta desvios em relação à norma padrão é errada quanto a rotular os indivíduos que a utilizam como pessoas burras, visto que o uso padrão da língua, na maioria das culturas, apresenta factualmente um caráter de ascensão e hierarquia social. Dessa forma, os grupos que possuem um modo de falar diferente do que é considerado padrão são desprezados, permanecendo socialmente excluídos e sendo alvo de preconceito.
O preconceito linguístico é tanto mais poderoso porque, em grande medida, ele é "invisível", no sentido de que quase ninguém se apercebe dele, quase ninguém fala dele, com exceção dos raros cientistas sociais que se dedicam a estudá-lo. Pouquíssimas pessoas reconhecem a existência do preconceito linguístico, que dirá a sua gravidade como um sério problema social.(BAGNO, 1999, p. 23-24)
Como podemos observar, a questão da exclusão linguística ocorre por questões socioeconômicas, fazendo com que pessoas que possuem maior poder aquisitivo desfrutem do fator linguístico, revelando, na maioria das vezes, a origem e a cultura do indivíduo.
Os meios midiáticos também possuem grande contribuição para que haja a estigmatização de pessoas que não falam a variedade padrão. Mas a instituição que mais carga de responsabilidade e culpa carrega é a própria escola, que contribui para que a norma padrão seja supervalorizada e as outras variedades lingüísticas, inferiorizadas.
Resumidamente, podemos dizer que existe muito preconceito atribuído às variedades não-padrão, consideradas inferiores. As pessoas precisam se livrar de diversos mitos, um deles é o que as leva a crer que existe a forma correta e mais bonita de falar. Essas crenças sustentadas pelo sistema produzem um discurso passivo de ódio ao estigmatizarem sempre a variante não-padrão como a forma errada da língua. Há diversas formas de falar uma mesma língua, e uma dessas formas é a norma padrão, porém ela não é a única variedade e nem o único modo de exercer a comunicação.
2.7. Relação entre Sociolinguística e Tradução
Por muito tempo, os estudos da tradução foram considerados parte dos estudos da linguagem. Isso se dá por conta da ideia de o ato tradutológico limitar-se à atividade de transposição entre sistemas linguísticos distintos. Porém, de acordo com Bassnett, “a tradução não acontece no vácuo, e sim em um contínuo; ela não é um ato isolado, mas parte de um processo de transferência intercultural".3 Dessa forma, nota-se que os estudos tradutológicos abrangem uma dimensão muito mais ampla do que a linguística apenas. Precisamos ter em mente que, ao realizarmos a tradução de um idioma para outro, não estamos apenas lidando com sistemas linguísticos distintos, mas também com aspectos culturais e sociais de outras realidades, ou seja, traduzimos também reflexos de um contexto sócio-histórico e elementos de determinada cultura que se encontram atrelados à linguagem. Durante o ato tradutológico, deparamo-nos com a busca constante por equivalências que sejam condizentes à língua alvo, de forma que a tradução mantenha-se o mais fiel possível, não implicando em mudanças de significado.
Como posto no início deste capítulo, a Sociolinguística Variacionista estuda a língua em uso na comunidade de fala. A fala é concebida como um produto heterogêneo, sujeita ao contexto no qual está inserida e ao falante que a está reproduzindo. Portanto, podemos concluir que a fala é flexível e variável, pois sofre o efeito de variáveis sociais, impossibilitando os indivíduos de reproduzirem o mesmo discurso da mesma maneira. Fatores extralinguísticos como faixa etária, gênero e classe social fazem-nos reconhecer as particularidades de um indivíduo ou de um determinado grupo social. Assim, como afirma Lacerda (2010), cada dialeto e socioleto4 são representativos de realidades específicas, impossibilitando, dessa forma, que haja equivalência entre duas ou mais línguas.
Logo, não há dialetos e socioletos idênticos. Se relacionarmos tal fato com o estudo da tradução, isso ocorre de maneira igual. Se não há sistemas linguísticos idênticos e, consequentemente, dialetos e socioletos que se igualem, não se pode conceber a atividade tradutológica como um processo de equivalência.
Catford (1965) define o dialeto como "variação linguística relacionada à proveniência ou afiliações do intérprete em uma dimensão geográfica, temporal ou social"5, argumentando que dialetos são difíceis de traduzir, pois nem sempre são reconhecidos, impedindo que o tradutor encontre equivalência na língua de chegada. Landers (2001) discute sobre o mesmo processo tradutológico e diz que, apesar de o tradutor muitas vezes achar que dialetos possam ser traduzidos, deve-se aceitar que é impossível transferir peculiaridades para a língua de chegada. Ele afirma que o processo torna-se mais complexo ainda quando se trata da tradução de um dialeto próprio de determinada região, acreditando que a tentativa bem sucedida de substituição ou equivalência de um dialeto não existe culturalmente ou geograficamente. Dessa forma, um dialeto, por estar sempre ligado à questão geográfica e cultural, e a um ambiente social, mesmo traduzido, deixará de existir na língua de chegada. Isso acontece porque o dialeto, ao ser traduzido para uma determinada comunidade, com todas as suas particularidades socioculturais, não fará sentindo para outra comunidade, visto que esta partilha de diferentes contextos sociais, implicando em interferência no entendimento do receptor que irá entrar em contato com essa variante - um receptor que tem outra visão de mundo.
Portanto, podemos concluir que o tradutor poderá tentar recriar o mesmo sentido, buscando equivalências, porém certamente isso será um ato falho. Qual seria então o papel do tradutor ao lidar com diferentes variantes e variedades linguísticas ao serem traduzidas ou vertidas para outro idioma?
Nesse contexto, o papel do tradutor vai além do de ser mediador de dois idiomas, sendo sim, acima disso, um intermediador de culturas. É preciso traduzir as variantes que refletem a realidade sociocultural da fala em questão para um interlocutor com outro conhecimento de mundo, analisando os aspectos das línguas traduzidas, ponderando os fatores socioculturais envolvidos e recriando um novo sentido para o novo interlocutor. Por mais que o tradutor busque o equivalente entre a língua de partida e a língua de chegada, nunca haverá, de fato, uma representação efetiva das variantes linguísticas que caracterizam o texto original; logo, de acordo com Landers na obra supracitada, a ideia de equivalência na tradução de variantes é considerada um ato falho. Isso acontece porque os socioletos e idioletos, ao serem traduzidos para outro idioma, não se modificam apenas na esfera da palavra, mas mudam também a carga cultural impregnada naquela variante. O que faz sentido para determinada cultura, não fará sentido para outra se elas não partilharem de características semelhantes.
Porém, apesar de o processo de equivalência ser um ato falho ao tratarmos da tradução de variantes, uma alternativa válida para o tradutor é a tentativa de criar novos sentidos. É o que Sobral (2008) diz em seu livro Dizer o mesmo aos outros. A criação de sentido está atrelada ao ato de corresponder. No livro, Sobral define a correspondência como "recursos de criação de sentido de uma língua que podem ser recriados por meio de recursos de outra língua, para produzir efeitos de sentido semelhantes" (p.76). Esses recursos de criação teriam então aspectos atrelados ao contexto sócio-histórico reproduzidos em uma comunidade, pois é através do contexto que se dá sentido para aquelas variantes. Dessa forma, se as variantes estão diretamente ligadas ao contexto sociocultural em que se encontram em cada comunidade linguística, conclui-se que, por esses contextos serem distintos, eles não se equivalem. Diferentemente da equivalência, que busca por um sentido idêntico, a criação de sentido busca compreender o contexto sociocultural de ambas as línguas que estão neste processo tradutológico, aproximando ambos os elementos linguísticos-discursivos. Por mais que os contextos sejam de realidades distintas e que a variante que fora apresentada ao receptor não seja equivalente ao texto de partida, a correspondência faz com que o receptor tenha algo semelhante em sua cultura, algo que possua um significado correspondente no contexto social no qual está inserido, levando o texto traduzido a fazer sentido na sua comunidade linguística e social.
Assim, a correspondência surge para demonstrar que não há como existir equivalência em se tratando de variantes linguísticas. É através da criação de sentido que se possibilita ao tradutor o resgate do contexto sociocultural que está inserido na variante, fazendo com que ela, ao ser reproduzida sob novo sentido, reflita a realidade e identidade de seus falantes em uma determinada configuração espaço-temporal.
3. O INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO
O Inglês Vernacular Afro-Americano (IVAA), conhecido coloquialmente como ebonics, junção dos termos ebony (ébano, madeira escura) e phonics (sons), African American English ou African American Vernacular English, é uma variante do inglês que está se tornando cada vez mais reconhecida mundialmente. O uso do Inglês Vernacular Afro-Americano vem se expandido durante muito tempo e ganhando maior visibilidade nos meios midiáticos, tanto que, em 1996, na cidade de Oakland, nos Estados Unidos, a Secretaria de Ensino passou a reconhecer essa variante, oficializando sua utilização nas instituições de toda a cidade. O fato acabou gerando polêmica, visto que a maioria das pessoas ainda estigmatizam a variante por não conter as mesmas características do inglês padrão.
As polêmicas e o preconceito que giram em torno dessa variante ocorrem por questões gramaticais, fonéticas-fonológicas, lexicais e diversas outras particularidades pertencentes a essa linguagem. No entanto, mesmo contendo suas diferenças, Rickford afirma que "assim como todas as línguas falas, o AAVE é extremamente regular, regido por regras e sistemáticos".6
Mas de onde surgiu essa variante que vem sendo alvo de tantas polêmicas e discussões? Neste segundo capítulo, abordaremos seu surgimento, suas características e a forma como o Inglês Vernacular Afro-Americano influencia na identidade sociocultural de cada falante. Para que possamos compreender a origem do Inglês Vernacular Afro-Americano, precisaremos contextualizá-lo com a história dos americanos afrodescendentes, visando acontecimentos sócio-históricos que potencialmente contribuíram para o desenvolvimento da referida variante.
3.1. A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano
Acredita-se que o Inglês Vernacular Afro-Americano surgiu da comercialização dos escravos oriundos da África Ocidental e Central, que chegavam à América por volta do século XVI para trabalhar nas colônias do Sul dos Estados Unidos. Os ingleses, ao chegarem à costa Ocidental e Central do continente africano, depararam-se com os negros que seriam escravizados e que trabalhariam nas colônias. Tais indivíduos, porém, vinham de contextos linguísticos totalmente distintos, acarretando em grandes problemas na hora da comunicação.
Os donos de terra e pessoas com grande poder aquisitivo precisavam se comunicar com os seus escravos. Isso não era possível, visto que um não compreendia a língua do outro. Dessa forma, na busca pelo exercício da comunicação, surge o primeiro contato de suas línguas - o inglês e o gullah, língua falada por habitantes do lado oeste da África.
A partir dessas duas línguas, o inglês e o gullah, surgiram variantes de línguas africanas provindas desses dois grupos que as utilizavam, ocorrendo assim o pidgin. O pidgin surge como uma língua simplificadora para que haja entendimento entre duas comunidades linguísticas devido à necessidade de comunicação. Essa língua é desenvolvida por falantes que não compartilham uma linguagem em comum.
De acordo com Rickford (1998), um pidgin possui um papel altamente restrito, usado para comunicação limitada entre falantes de duas ou mais línguas que entram em contato entre si repetidas vezes, através do comércio, escravização ou migração. "Um pidgin geralmente combina elementos das línguas nativas de seus falantes e é tipicamente mais simples do que essas línguas nativas, à medida que adquire menos palavras, menos morfologia e opções fonológicas e sintáticas mais restritas."7 Porém, um fato importante que deve ser destacado é que o pidgin passa por um processo de transformação, o qual ocorre a partir do momento em que falantes nativos passam a utilizá-lo como primeira língua. Quando uma determinada comunidade linguística passa a tornar o pidgin sua língua principal, automaticamente, ele acaba evoluindo para o crioulo.
Os escravos que viviam nas colônias do sul dos Estados Unidos mantiveram contato mínimo com a língua inglesa pura. Muitos escravos que ali foram postos falavam outras variantes da língua, como o crioulo, por exemplo. O falar dos escravos influenciava na pronúncia e no léxico dos brancos que habitavam aquela região. Dessa forma, o falar negro passou a incorporar algumas características da língua inglesa, ocorrendo então um processo de descrioulização. A descrioulização é um processo pelo qual uma língua crioula aproxima-se da língua de prestígio - nesse caso, o inglês. Naquela região, as variantes linguísticas mais utilizadas eram o inglês padrão e outras semelhantes a essa estrutura linguística. Assim ocorria a mistura de línguas, levando-se à descrioulização e dando origem ao Inglês Vernacular Afro-Americano. Nota-se que a origem dessa variante está relacionada ao comércio de escravos e com a escravidão. Agora nos atentaremos às características da referida variante e, posteriormente, à identidade cultural dos falantes que a utilizam.
3.2. Características do Inglês Vernacular Afro-Americano: característicaslexicais, fonológicas e gramaticais.
O Inglês Vernacular Afro-Americano é uma variante do inglês americano. Assim como todas as variantes linguísticas, é também influenciado por fatores extralinguísticos. Como exemplo, temos classe social, faixa etária, profissão, escolaridade e gênero, como vimos no primeiro capítulo. Em se tratando de suas origens, o Inglês Vernacular Afro-Americano tem suas raízes históricas provindas do inglês creoulizado dos tempos da escravidão. Do ponto de vista da Sociolinguística Variacionista, mesmo o Inglês Vernacular Afro-Americano sendo conhecido por suas particularidades, chamadas de “gírias” e expressões “não-coloquiais”, não existe nada de errado com essa variante, uma vez que ela é utilizada para a comunicação, expressando pensamentos e ideias. Mostraremos a seguir suas características.
3.2.1. Características lexicais
O Inglês Vernacular Afro-Americano é conhecido por suas características lexicais e há diversas expressões utilizadas popularmente por sua comunidade pertencente aos Estados Unidos. De fato, é possível observar que as particularidades dessa variante não são valorizadas por camadas mais altas. No entanto, nota-se que essas mesmas particularidades foram expandidas, devido a diversos fatores: um deles, por exemplo, é o estilo musical rap, no qual é possível observar esse léxico característico presente nas canções, em palavras como bagged, arrasted; bounce, to leave; celly, cellphone; chill out, to stop action or hang out; crib, home; dig, to understand; dog, friend; dope, excellent, cool, nice; rollin, high on drugs; yo, a call to somebody.
É possível observar a diferença entre o léxico pertencente à variante afro-americana quando comparado com o léxico pertencente ao inglês padrão. Agora prosseguiremos com as características fonológicas do Inglês Vernacular Afro-Americano.
3.2.2. Características fonológicas
Passemos a descrever as características fonológicas do Inglês Vernacular Afro-Americano, focalizando em duas características específicas dessa variante: o enfraquecimento dos encontros consonantais finais, assim como a omissão de prefixo e adiantamento do acento tônico.
3.2.3. Enfraquecimento dos encontros consonantais finais
Considerando as características fonológicas da variante, em se tratando do enfraquecimento dos encontros consonantais, é possível perceber o modo com que o falante pronuncia algumas sílabas de maneira fraca - ou simplesmente não as pronuncia. Na escrita, esse enfraquecimento é representado pela presença do apóstrofo, caracterizando a suspensão do (-g), nos gerúndios (-ing), como, por exemplo, em sleepin', drinkin', doin'.
3.2.4. Omissão de prefixo e adiantamento do stress
Já em se tratando da omissão de prefixo e do adiantamento do acento tônico, percebamos que também se utiliza o apóstrofo na escrita para representar justamente a omissão que acontece na pronúncia. O afro-americano, ao invés de falar because, irá dizer 'cause. O about torna-se 'bout. É comum que vejamos tais pronúncias presentes nas músicas de rap e jazz, pois são expressões muito marcantes e características da comunidade afro-americana. É perceptível o quanto se expandiu pela língua cotidiana essa particularidade do IVAA. Apesar de ser proveniente da comunidade linguística afro-americana, vemos que também brancos utilizam tal recurso, mesmo que nem sempre com a mesma freqüência. Em se tratando do adiantamento do stress, é possível observar a maneira com que palavras como police e motel são pronunciadas pelos afro-americanos - uma maneira forte e acentuada, como pólice, motel.
3.2.5. Características gramaticais
A gramática do IVAA, como vimos acima ao tratarmos de suas origens, é influenciada por idiomas africanos. Assim como outras variantes, o Inglês Vernacular Afro-Americano é baseado em um sistema regido por regras gramaticais, conforme veremos na seção seguinte.
O inglês vernacular afro-americano partilha a maior parte de suas gramáticas e vocabulários com outros dialetos do que com o inglês. Mas difere-se de várias maneiras, tornando-se mais diferente do inglês padrão do que qualquer outro dialeto falado na parte continental dos Estados Unidos. 8
3.2.6. Omissão do verbo to be
Algo muito comum na gramática afro-americana é a omissão da cópula, ou seja, a omissão do verbo ser/estar (to be). Se, no inglês padrão, a forma ideal é They're eating (Eles estão comendo), no Inglês Vernacular Afro-Americano, é comum encontrarmos o equivalente They eating. Dentre as características do Inglês Vernacular Afro-Americano, essa é a mais presente e também a mais estigmatizada.
3.2.7. Mesma forma verbal usada para singular e plural
Os falantes do Inglês Vernacular Afro-Americano costumam utilizar a mesma forma verbal tanto para o singular como para o plural. É possível observar o problema de concordância na frase There she go. Nota-se que a concordância está errada, pelo fato de a segunda pessoa estar sendo referida no singular - a maneira correta de dizer a frase é There she goes (Lá vai ela), em que a flexão do verbo concorda com o pronome.
3.2.8. Omissão do auxiliar will para indicar futuro
Além de utilizarem a mesma forma verbal para designar singular e plural, os afro-americanos costumam omitir o verbo auxiliar Will, que indica ações futuras. Assim, em suas sentenças, ao invés de dizerem There Will be no next time (Não haverá próxima vez), como no inglês padrão, de acordo com os costumes do Inglês Vernacular Afro-Americano, eles dirão a sentença There be no next time, em que o verbo will, indicador de futuro, está sendo omitido.
3.2.9. Ain't como negação
A partícula ain’t é utilizada para substituir os auxiliares didn’t, haven’t, hadn’t, doesn’t e don’t ou os verbos de ligação isn’t, aren’t, wasn’t e weren’t nas formas negativas. Como exemplo, em se tratando dos auxiliares, podemos citar a frase I don’t like you (Eu não gosto de você), que no Inglês Vernacular Afro-Americano torna-se I ain’t like you. Já em se tratando dos verbos de ligação, temos como exemplo a frase You aren’t my brother (Você não é meu irmão), que na variante afro-americana torna-se You ain’t my brother.
3.2.10. Dupla negativa
No inglês padrão, utiliza-se apenas uma partícula negativa para indicar negação. Já na variante afro-americana, é permitida a utilização de uma ou mais partículas negativas em uma única oração. No inglês padrão, o que seria I don’t know anything, no Inglês Vernacular Afro-Americano torna-se I don’t know nothing ou I ain’t know nothing.
Após a descrição das características apresentadas, notamos a grande diferença acerca da variante em questão comparada ao inglês padrão, em se tratando não apenas da questão lexical, mas também da estrutura gramatical, tanto sintática ou fonológica. A seguir discutiremos a variante afro-americana como fator social e identidade cultural dos falantes que a utilizam.
3.3. O Inglês Vernacular Afro-Americano como fator social e identidade cultural
Nesta seção, discutiremos de que forma questões como fator social e identidade cultural estão atreladas a questões linguísticas. A identidade cultural é o conjunto de particularidades que caracterizam um indivíduo. A construção da identidade envolve diversos fatores sociais que são pertencentes a um determinado grupo identitário, seja por razões históricas, étnicas ou por condições sociais às quais um indivíduo ou um grupo submeta-se.
A população estadunidense é repleta de indivíduos que fazem uso de variantes distintas em relação ao inglês padrão. Uma das variantes em questão é o Inglês Vernacular Afro-Americano, variante utilizada pelos afro-americanos, que é estigmatizada, desvalorizada e julgada como "inglês preguiçoso" ou "inglês deficiente" por não compartilhar das mesmas características daquilo que é considerado correto e adequado ao inglês padrão. É importante ressaltar ainda que tal atitude pode ocorrer dentro da própria comunidade negra.
De acordo com Guy (2010), dentro da comunidade negra existem os falantes que reconhecem e defendem o uso do Inglês Vernacular Afro-Americano e outros que condenam o uso de qualquer variante que seja não-padrão, argumentando que a variante não-padrão serve para acarretar em exclusão social. Já os que são a favor e valorizam a variante baseiam-se na tradição afro-americana e em ideias de representatividade, afirmando que o Inglês Vernacular Afro-Americano é também um mecanismo de resistência. Para a maioria da comunidade afro-americana, o preconceito e a condenação da variante funcionam como uma espécie de controle social, uma vez que se mantém a comunidade numa posição acadêmica inferior, excluindo e rebaixando os alunos que utilizam parcialmente ou unicamente essa variante no meio acadêmico.
Ainda de acordo com Guy (2010), além de essa estigmatização ser provinda de uma grande carga sócio-histórica e por um contexto sociocultural, ela também ocorre por meio de uma ideologia chamada melting pot - uma ideologia cujo conceito central defende que povos e línguas imigrantes percam a sua identidade cultural diante da sociedade (no caso, a americana) e misturem-se de acordo com as normas culturais vigentes. A mesma ideologia prevê que, ao longo do tempo, as minorias culturais e linguísticas dos Estados Unidos devam incorporar as características da cultura e da língua americana pura, eliminando qualquer variante e identidade ali distinta.
Porém, se pararmos para observar, mesmo que a variante afro-americana seja estigmatizada e condenada por muitos, é possível notar que o Inglês Vernacular Afro-Americano e seus falantes estão se impondo, buscando resistir por meio da língua e de suas identidades. É possível testemunhar, por exemplo, a presença da variante afro-americana em filmes, propagandas, séries de TV, podcasts e principalmente em músicas. Um exemplo clássico disso é o estilo musical rap. O rap, que surgiu no século XX nas comunidades negras dos Estados Unidos, foi sendo englobado e popularmente circulado em tantas culturas e etnias diferentes que passou a ser cantado também pelos brancos, perdendo assim sua representatividade, uma vez que os brancos apropriaram-se da cultura afro-americana. De acordo com Hooks (1996), “Quando jovens brancos passam a imitar essa fala, dão a entender que ela é característica de pessoas ignorantes ou daqueles que a utilizam apenas como uma forma de entretenimento, para soar engraçado".9
Compreende-se então que, mesmo essa variante sendo expandida e ganhando mais visibilidade no meio do entretenimento, ela acabou perdendo sua essência, visto que os brancos começaram a se apropriar de outra cultura que não a deles, desvalorizando tanto a língua como a cultura afro-americana. O estilo musical rap, que se trata também de um instrumento de resistência e marco cultural e que até então era restringido somente aos afro-americanos, passou a perder sua força e representatividade, pois começou a ser cantado por um grupo de pessoas que, mesmo deteriorando e julgando sua linguagem como errada, ainda sim fazem questão de utilizá-la. De fato isso é algo preocupante, pois nota-se uma tentativa de banalizar o vernáculo negro. Somado a isso vem o fato de que, mesmo que o Inglês Afro-Americano ganhe mais visibilidade, pouquíssimas são as aparições do mesmo em meios acadêmicos e nas instituições de ensino. É importante ressaltar que tal realidade acontece não somente com o Inglês Vernacular Afro-Americano, mas com toda variante que não o inglês padrão. No Brasil, por exemplo, o português brasileiro ensinado e utilizado nas instituições de ensino é aquele tido como norma culta, norma padrão. As escolas não ensinam e muitas vezes ainda repudiam o uso de variantes linguísticas consideradas não-padrão, pois afirmam que a variante está errada e, assim sendo, não deve ser utilizada nem ensinada. Isso, de fato, acaba causando certo constrangimento e traumatizando o aluno que, em sua vida toda, por viver em condições menos favorecidas, tenha contato somente com uma variante do português. O preconceito linguístico acerca variantes estigmatizadas faz com que o falante que as utiliza questione o seu próprio modo de falar.
É útil apresentar para o aluno, por exemplo, como a variedade do inglês falado pelos negros americanos é discriminada na sociedade e, portanto, como estes, equivocadamente, são posicionados no discurso como inferiores. A comparação com variedades nãohegemônicas do português brasileiro pode ser esclarecedora, já que seus falantes também sofrem discriminação social. Isso quer dizer que algumas variedades lingüísticastêm mais prestígio social do que outras. (BRASIL, 1998, p. 47)
De acordo com Menken (2008), a questão do aluno afro-americano em salas de aula estadunidenses também se mostra traumatizante para o indivíduo em formação. Imagine agora um aluno que teve contato somente com uma única variante em sua vida toda. O que passa na cabeça desse jovem ao ouvir que o modo que ele reproduz a fala é “errado” somente por diferir do padrão e por não utilizar a língua “de maior prestígio social”. De fato, o jovem passa a se sentir excluído e não pertencente àquele lugar. Fora da comunidade negra, escolas, professores e políticas públicas mantêm distância de qualquer aceitação referente ao Inglês Vernacular Afro-Americano. Isso fica claro no debate que surgiu sobre o Ebonics nos anos 90. O debate teve início com a declaração já citada anteriormente da Comissão Escolar da cidade de Oakland, na Califórnia, onde a maioria dos habitantes é de origem afro-americana. Ao tomar conhecimento sobre a importância do IVAA para os afro-americanos, a comissão afirmou que o IVAA trata-se de uma variante relevante e válida para sua comunidade e não somente uma variante distinta do inglês, e determinou que, na educação de crianças afro-americanas, as escolas de Oakland devessem levar em conta sua existência, podendo ser benéfico para o aluno que está em formação, ao permitir que ele se sinta incluso, contribuindo para que haja uma relação saudável e cidadã entre língua, cultura e sociedade. De acordo com Xavier (s.d.), muitos especialistas na área de linguística ainda afirmam a importância e a necessidade dos afro-americanos de dominarem ambas as variantes - tanto a afro-americana como a padrão. Especialistas afirmam que o domínio da língua padrão é necessário para realizar a inclusão da população afro-americana no mercado de trabalho e também nas discussões de caráter político. Podemos verificar então a importância da medida adotada pela Comissão Escolar, fazendo com que os afro-americanos passassem a ser representados e identificados como indivíduos pertencentes à sociedade.
Sendo assim, conclui-se que a problemática acerca do Inglês Vernacular Afro-Americano e de seus falantes é político, sociocultural e extremamente preconceituoso, e que ela vai muito além do plano linguístico, atingindo também a sociedade em que vivemos e principalmente as pessoas que reproduzem essa variante. Xavier (s. d.) diz-nos que a língua, quando utilizada pelo opressor, como vimos acima, perde sua verdadeira conotação; por outro lado, quando o grupo oprimido resiste e passa a utilizar a língua como um instrumento político, o significado desse uso muda, mantendo suas particularidades e representatividades grupais. É visível o fato de que essa variante e seu próprio falante não tenham tanto reconhecimento e visibilidade. Esse não é um problema atrelado somente à linguística, mas sim ao papel que uma língua exerce em uma determinada sociedade e à maneira como o falante irá se comunicar e identificar-se como indivíduo. No caso do Inglês Vernacular Afro-Americano, é evidente o quanto o falante sente-se excluído em todos os sentidos abordados até então neste trabalho, seja por conta de suas raízes africanas, por conta de todo seu atual contexto social, ou por conta da língua que utiliza, que é estigmatizada por não fazer parte dos padrões considerados "corretos". A exclusão resulta também do fato de esse falante ser considerado menos intelectual e de sua fala ainda ser interpretada por muitos como "linguagem de rua", "linguagem pobre", "linguagem marginalizada", tornando o falante cada vez mais uma figura passível de exclusão.
O fato do afro-americano não se sentir representado em sala de aula por sua linguagem não ser reconhecida pelas instituições foi um dos motivos para William Labov (1972), um dos precursores no combate a desvalorização da fala afro-americana, defender em suas pesquisas sociolinguísticas que a sociedade estadunidense tem grande parcela de responsabilidade em relação à dificuldade de aprendizagem dos alunos afro-americanos, principalmente aqueles que não dominam a variante padrão.
Como resultado do isolamento social da população negra, desde o tempo da escravidão, como vimos anteriormente, na história e origem do Inglês Vernacular Afro Americano, foi necessário que houvesse a promoção de uma identidade linguística para que ocorresse a distinção dessa variante da língua padrão, imposta pela sociedade branca. Essa política institucionalizou o Inglês Vernacular Afro-Americano, o qual não se trata somente de um sistema linguístico, mas sim de uma variante utilizada para delimitar a marca cultural do cidadão afro-americano como um símbolo de resistência e representatividade para seus falantes como um grupo étnico racial.
4. OBRA: ORANGE IS THE NEW BLACK
Orange Is The New Black é uma das produções originais Netflix de grande sucesso. A série de comédia dramática é inspirada no livro autobiográfico de Piper Kerman, Orange Is The New Black: MyYear in a Women'sPrison (2010), e retrata as experiências da personagem Piper Chapman (Taylor Schilling) e de suas companheiras em Lichfield, uma penitenciária fictícia de segurança mínima dos Estados Unidos. A estrutura narrativa revela aos poucos as histórias das prisioneiras por meio de flashbacks, abordando "problemáticas sociais, culturais, raciais e de gênero" (MONTORO e SENTA, 2015, p.5). A série traz questionamentos acerca da causa feminina de forma não estereotipada e nada conservadora, cede espaço para temas como empoderamento feminino, violência doméstica, aborto, orientação sexual, conflitos étnicos-raciais e religiosos, machismo, atitudes abusivas de poder, consumo de drogas e outras diversas questões sociais.
Piper Chapman é uma jovem branca de classe média alta que foi condenada a cumprir quinze meses de prisão por ter se envolvido em um crime. Chapman foi pega enquanto transportava uma mala cheia de dinheiro proveniente do tráfico de drogas internacional comandado por Alex Vause (Laura Prepon), sua namorada na época. Após dez anos do ocorrido, Chapman não mantinha mais contato com Vause e mudara completamente seu estilo de vida. Tinha uma vida típica para uma mulher de classe média alta, estando em um relacionamento sério e estável com Larry Bloom (Jason Biggs) e gerenciando sua própria empresa de cosméticos orgânicos com sua irmã. Seu envolvimento com o crime era desconhecido por todos que a cercavam, inclusive seu namorado, até a condenação. O relacionamento entre o casal mostra-se abalado quando, anos depois, Piper tem seu crime descoberto pela justiça e é então julgada e enviada para cumprir sentença em regime fechado. Ao chegar ao presídio, a protagonista depara com um universo diferente daquele no qual esteve acostumada a viver. Assim, ao longo dos episódios, acompanhamos sua adaptação e a vida de outras detentas que estão ali, inclusive sua ex-namorada, que fora enviada para o mesmo lugar que ela e que, após um primeiro encontro conturbado, volta a se envolver com Piper.
Ao longo dos episódios, podemos ver como é a dinâmica do presídio em se tratando das divisões raciais e das tarefas divididas entre as detentas.
Essas mulheres encontram mínimas oportunidades de expressarem suas identidades e de exerceremem sua cidadania como parte autônoma daquele grupo social (CANCLINI, 1995; CORTINA, 2002, 2004). Ali, todas estão em uma mesma situação marginalizada na sociedade, mas, ainda assim, é importante ressaltar que nem todas as detentas que se encontram ali são iguais. Suas ocupações, etnias, religiões, orientações sexuais e outras diferenças reforçam distinções que tornam as relações e a convivência cada vez mais complexa dentro do presídio.
Subjugadas e desafiadas pelas estruturas de poder autoritário, as protagonistas de Orange isthe new black buscam alternativas para lidar com a opressão que sofrem nãosó como mulheres, mas também como mulheres negras, idosas, lésbicas e transsexuais [sic]. Evidenciam-se, assim, maneiras plurais de enfrentamento feminino, que vão desde o isolamento, a loucura, o apego religioso e o sexo à formação de guetos raciais, étnicos e etários (MONTORO e SENTA, 2015, p. 9).
Dessa forma, as mulheres buscam formar alianças com base em qualquer semelhança ou característica que tenham em comum. Em Litchfield a diversidade está presente a todo momento. Apesar de a narrativa acontecer em função da história de duas mulheres brancas, ela também cede espaço para que minorias sejam representadas.
É possível notar com clareza as divisões raciais que ocorrem no presídio. Um dos grupos que ganha espaço e que será abordado para o enriquecimento deste trabalho é o das negras. Em Litchfield, elas habitam o dormitório B, chamado também de "guetto" pelas detentas e pelos guardas.
Apesar de haver outras personagens negras na série, o grupo que ganha destaque é composto por Alison Abdullah (Amanda Stephen), Crazy Eyes (Uzo Aduba), Cindy (Adrienne C. Moore), Poussey (Samira Wiley), Taystee (Danielle Brooks) e Watson (VickyJeudy). Esse sistema organizado pelas detentas de agrupamentos identitários de acordo com suas semelhanças muitas vezes fazem relembrar a segregação racial nos Estados Unidos. Em alguns episódios da série, fica evidente que os grupos das latinas e principalmente o das brancas são privilegiados em quase todas as situações pelos policiais, reforçando a questão do racismo. O preconceito enfrentado pelas negras faz com que elas reajam de uma forma defensiva. No presídio, elas se fecham em uma irmandade para se defender do sistema precário ali existente.
Em um dos primeiros episódios, é possível observar o repúdio das negras diante da protagonista Piper, que recentemente chegava à prisão. Mesmo sendo alertada sobre a existência dos grupos, ela insiste em tentar participar da conversa com a detenta Watson, que chegou no mesmo dia que ela, levando a crer que, por conta da coincidência de chegada, de alguma forma, elas são próximas. Watson foi acolhida pelo grupo do "gueto" por ser negra e automaticamente a ignora.
Essa noção de pertencer a um determinado grupo ou das diferenças que as detentas têm entre si tem ligação com as relações de poder e com as identificações que ali são feitas a partir do contexto social inserido de cada indivíduo. É o conjunto de características pessoais ou comportamentais que faz com que o indivíduo faça parte de um determinado grupo. Nota-se então, que a detenta Watson procura o acolhimento das negras por ser negra também e, ao ser aceita, fecha-se para os demais grupos, com os quais ela não se identifica.
4.1. Tasha "Taystee" Jefferson
Entre as personagens mencionadas anteriormente, neste trabalho, escolhemos dar destaque à personagem Taystee. Tasha Jefferson é uma mulher órfã que foi adotada por uma traficante quando adolescente. No decorrer do segundo episódio da segunda temporada, "Looks Blue, Tastes Red", traduzido para o português como "É azul, mas tem gosto vermelho", são apresentados flashbacks da história do passado da personagem. No início, vemos Tasha sob uma faixa que diz "Festival de Adoção para Negros", mostrando sua essência para um casal branco que poderia vir a adotá-la. Ela, extrovertida e inteligente, porém com necessidade intensa de provar-se e afirmar-se por ser uma criança rejeitada, mostra ao casal algumas de suas habilidades, como o canto e seu conhecimento por ciência e matemática. Porém, quando aparece Brichelle, uma menina que entra na sua frente e apresenta-se para o casal que possivelmente poderia adotá-la, Tasha fica furiosa, ofende a garota e manda-a embora. Nesse momento, aparece uma assistente social, tentando silenciá-la, mandando Tasha ir pegar uma raspadinha. Dessa forma, é possível notar que Tasha tem personalidade forte e que não se encaixa nos padrões impostos, visto que a assistente social espera que ela seja uma criança contida e que se adeque aos padrões de "boa garota", o que não aconteceu no momento em que ela ofendeu Brichelle. Desanimada, ela aparece sentada em um branco de uma praça. Uma mulher que se identifica como Vee Parker aproxima-se e senta ao seu lado. Ao ver Tasha tomando sua raspadinha, Vee afirma que a raspadinha parece estar horrível, ao ver a cor azul que ficou em volta da boca de Tasha. A garota então dispara ao dizer que "parece azul, mas tem gosto de vermelho", frase que configurou o nome do episódio. Vee então argumenta que azul e vermelho são cores e não sabores. Tasha rebate, dizendo que, independentemente disso, a raspadinha é saborosa e que ela adora comidas saborosas. É neste momento que Vee dá a Tasha o seu icônico apelido de Taystee (uma referência a pronúncia "tasty" que, em inglês, significa saboroso).
Enquanto as duas conversam, um rapaz aproxima-se e entrega uma quantia em dinheiro para Vee. Ela, ao dizer que não parece conter muito valor ali, diz que isso não é suficiente. O garoto então argumenta e diz que, apesar de serem poucas cédulas, o valor é alto. Assim, Vee elogia-o e diz que o encontrará em casa. Nesse momento, Tasha se dá conta que Vee é uma traficante e, ao perceber isso, mantém distância e prefere continuar morando no orfanato. Porém mais tarde, quando já adolescente, ela consegue um trabalho honesto em uma rede de fastfood. Porém, ao ser demitida, recorre novamente a Vee. Em pouco tempo, Tasha, que agora se identifica como Taystee, e R.J, outro jovem protegido por Vee, criam um vínculo irmão-irmã e constroem uma família. Assim, Vee acaba se tornando uma figura maternal em sua vida. É nesse momento que, além de sentir como é ter uma família, Taystee envolve-se no crime como "contadora", atitude que, tempos depois, faz com que ela seja presa.
O episódio, como citado anteriormente, divide-se entre o passado da personagem - conjuntamente com os motivos que a levaram a acabar em Litchfield - e o presente, no qual ocorre uma simulação de entrevista de emprego proporcionada pela direção do presídio. Taystee aparece vestida com roupas elegantes, discurso polido, empregando delicadeza em sua voz e mostrando-se diferenciada pela maneira como fala e escolhe as palavras – diferenciação evidente perante si mesma, visto que ela precisa camuflar sua maneira própria de falar e apropriar-se de um tom elitizado para obter chance de sucesso. Então, naquele momento, surge, pela primeira vez, com aparência elegante e não mais como uma mulher oprimida, periférica e pobre. Porém, é importante ressaltar que a personagem aparece dessa forma somente na referida simulação de emprego, circunstância que, por conta dos padrões impostos pela sociedade, necessita que o indivíduo encontre-se impecável, mesmo não havendo recursos para tal em diversas situações.
Notamos que, no decorrer da série, a personagem Taystee ainda tem muito de Tasha. Com um ótimo senso de humor, Taystee procura passar seus dias na prisão cumprindo seu trabalho na biblioteca. Dessa forma, podemos observar que sua paixão pelos livros continua igual e que a música continua sendo sua paixão, visto que, no primeiro episódio da série, Taystee aparece cantando no chuveiro. Como visto anteriormente, Taystee faz parte do grupo "gueto" em que sua melhor amiga Poussey também se encontra. Assim, elas vivenciam diversas situações que ocorrem dentro do presídio juntas. Porém, apesar de Taystee ainda partilhar as mesmas características e manter os mesmos gostos de quando era criança, ela ainda carrega consigo o fato de pertencer à classe baixa, o que reforça a falta de oportunidade que ela teve durante a vida. Para ela, estar na prisão é a única coisa que lhe restou - prova disso é o fato de ela ter conseguido liberdade condicional, mas acabar voltando para penitenciária por vontade própria. Nessa ocasião, sem ter onde ficar e estando hospedada em um apartamento minúsculo, com um emprego horrível e sendo vigiada pelo Estado, Taystee furta propositalmente pequenos itens em uma loja de conveniência, infringindo sua condicional e retornando à penitenciária. Ao voltar, ela confessa para sua melhor amiga que não estava pronta para sair. A partir disso, é possível notar com clareza a relação paralela que acontece entre a vida da personagem e a vida real, dramatizando a realidade das pessoas negras e periféricas que se encontram em mínimas condições de sobrevivência digna e às margens da sociedade, assim como Taystee.
Já em se tratando de sua linguagem, é possível notar que Taystee utiliza palavras de baixo calão e expressões periféricas norte-americanas, que configuram o léxico dos lugares de origem das mulheres que constituem o grupo "gueto". A diferença linguística é expressa nas relações interpessoais dentro do presídio, durante conversas com autoridades e até mesmo com outras detentas que não compartilharam, lá fora, a mesma realidade que ela, vivendo em outro contexto social. Ao longo da série, podemos notar não só o preconceito que a mulher negra sofre, mas também o preconceito linguístico diante sua fala. Algumas detentas corrigem-na, outras tiram sarro do modo que ela e seu grupo falam. Por fim, é importante deixar claro que, apesar de as negras no presídio compartilharem uma linguagem que só elas reproduzem, elas são entendidas por todas e definem a identidade de seu grupo dessa forma, por meio da língua. É visível na série o fato de Taystee estar familiarizada com essa variante linguística, pois cresceu em um âmbito onde a variante era predominante. É importante ressaltar também que as mulheres que compõem esse grupo, na série, já utilizavam tais variantes antes de irem para Litchfield, uma vez que as características dessas variantes são pertencentes à comunidade afro-americana e não a algo único e restrito do presídio.
5. METODOLOGIA
Neste presente trabalho, escolhemos analisar a fala da personagem Taystee da série americana Orange Is The New Black. A escolha da série deu-se pelas seguintes razões: 1) por a narrativa acontecer em um âmbito carcerário onde existem diversos grupos étnicos e sociais; entre eles o grupo das negras, que traz grande contribuição para este estudo; 2) pelo fato do Inglês Vernacular Afro-Americano estar presente a todo momento nas falas das personagens negras; 3) por abordar a questão da identidade cultural do falante afro-americano e o preconceito linguístico acerca dessa variante, que é reproduzida pelas detentas. Apesar de haver outras personagens pertencentes a este grupo identitário, escolhemos a personagem Taystee, pois, além de o Inglês Vernacular Afro-Americano ser característico em sua fala, ela é uma personagem que quebra todos os estereótipos e que possui grande destaque na narrativa.
A coleta do corpus foi realizada da seguinte maneira: em primeiro momento, assistimos o episódio original, com legendas em inglês. Ao notarmos qualquer particularidade da variante afro-americana, a mesma cena era vista no episódio dublado e legendado (em português), procurando observar de que modo essa variante foi traduzida. Em seguida, decidimos como classificaríamos as falas de modo que a análise pudesse ser feita de mais organizadamente; elas foram divididas então entre: 1) características lexicais; 2) características fonológicas, que foram divididas em: omissão do prefixo e adiantamento de stress, enfraquecimento dos encontros consonantais; 3) características gramaticais: omissão do verbo to be, mesma forma verbal usada para singular e plural, omissão do auxiliar will para indicar futuro, ain't como negação, e dupla negativa. Assim, os diálogos foram transcritos acompanhados de ambas as traduções e um breve resumo da cena para ajudar na contextualização.
5.1. Análise: A tradução do Inglês Vernacular Afro-Americano na fala da personagem Taystee
5.1.1. Características lexicais
Para dar início à enunciação de características do Inglês Vernacular Afro-Americano na fala da personagem Taystee, de Orange Is The New Black, selecionamos exemplos extraídos de diálogos ao longo das cinco temporadas da série. Assim, levaremos em consideração, primeiramente, as características lexicais do Inglês Vernacular Afro-Americano na fala da personagem e suas respectivas traduções para o português, presentes no quadro abaixo (Quadro 1).
Quadro 1 Características lexicais
CARACTERÍSTICAS LEXICAIS |
ORIGINAL |
DUBLADO |
LEGENDADO |
Vocabulário |
Man, I still look hella office
Girl, stop being a bitch-ass bitch
I’ve got hella big news on Judy King. Yo, Poussey will lose her shit.
|
Ah, cara, eu ainda pareço executiva.
Menina, deixa de ser tão molenga.
Eu tenho uma super novidade sobre Judy King. Ai, a Poussey vai ficar doida.
|
Ainda tenho cara de executiva.
Menina, deixa de ser tão molenga.
Eu tenho uma grande novidade sobre Judy King. A Poussey vai ficar doidinha.
|
Fonte: O autor (2017)
No quadro acima (Quadro 1), a cena da série que representa o primeiro exemplo acontece quando Taystee está participando da simulação de entrevista de emprego "dress for success", em que sua vestimenta será julgada como apropriada ou inapropriada. Ao ouvir a jurada dizer que, apesar de seu cabelo estar bem penteado e sua maquiagem estar discreta, sua camisa é transparente e sua saia visivelmente está apertada, Taystee contesta, argumentando que uma detenta usou a mesma vestimenta ano passado e que foi escolhida mesmo assim. Indignada e criticada pela jurada, Taystee afirma que, mesmo sua roupa sendo julgada como inapropriada, ainda assim, ela parece uma executiva e é apropriada para o suposto cargo: "Man, I still look hellaoffice". A palavra "hella" é resultante da aglutinação de "hell of" e atribui uma dimensão elevada a algo; nesse caso, refere-se ao fato da personagem parecer uma executiva, ou seja, a palavra é utilizada como advérbio de intensidade. Nota-se que, tanto na dublagem, como na tradução, houve perda de significado, visto que não está sendo dada tal ênfase presente na fala original.
Já em se tratando do próximo exemplo, quando Taystee encontra-se com Piper, que vem enfrentando problemas com Pennsatucky, a detenta pergunta se está tudo bem, visto que Piper parece estar bastante assustada. Então Taystee, ao saber da situação de Piper, aconselha a protagonista a "acabar" com a sua rival, argumentando que isso não seria tão difícil assim, por Piper ser mais alta do que sua inimiga. Assim, Taystee dispara "Girl, stop being a bitch-ass bitch", que foi traduzido e dublado como "Menina, deixa de ser tão molenga". O fato é que a palavra molenga carrega uma prosódia semântica bastante leve se comparada à original, visto que a palavra original trata-se de um insulto, perdendo significado e força em ambas as traduções.
Por fim, na última cena, Taystee, por conhecer muito bem sua melhor amiga Poussey e saber o quão fã ela é de Judy King, apresentadora de TV americana que chegou recentemente à prisão, procura sua amiga para contar a novidade sobre a celebridade de Litchfield. Taystee acredita que Poussey ficará entusiasmada com o que ela tem para dizer. Diferentemente do exemplo anterior, em que o tradutor e o dublador optaram por omitir a palavra "hella", perdendo o sentido e a intensidade que havia na expressão, o dublador opta por traduzir "hella big news" como "super novidade"; já o tradutor opta apenas por "grande novidade", o que não traz a mesma intensidade da grandeza e da importância da notícia. Por último, a expressão “lose her shit”, que na tradução dublada ficou como "vai ficar doida" e na tradução legendada ficou como “vai ficar doidinha"; em ambos os casos, a tradução não foi cabível. A expressão "lose her shit" carrega a ideia de surtar com a notícia, popularmente falando de "perder as estribeiras", uma reação intensa, forte. A forma como foi traduzida, "doidinha", estando no diminutivo - o que não faz sentido, vindo de uma mulher grande, forte, pertencente à comunidade afro-americana, a qual compartilha uma linguagem completamente diferente e que, no contexto em que se encontra, jamais diria algo no diminutivo -, afeta também o significado da palavra, diminuindo o estado de espírito em que a pessoa a questão poderia possivelmente se encontrar.
5.1.2. Características fonológicas
No quadro abaixo (Quadro 2), apresentamos, nesse momento, as características fonológicas da variante em que há omissão e enfraquecimento, que analisaremos de forma mais aprofundada a seguir.
Quadro 2 – Características fonológicas
CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS |
ORIGINAL |
DUBLADO |
LEGENDADO |
Omissão de prefixo e adiantamento do stress |
'Cause ain't no snitch
|
Eu não sou dedo-duro
|
Porque eu não sou dedo-duro
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Enfraquecimento dos encontros consonantais finais |
I ain't looking to make waves. Glassy water. Smooth sailin' right on out of here.
|
Não to querendo criar ondas. Eu quero águas calmas pra navegar pra bem longe daqui.
|
Não quero tumultuar. Quero tranquilidade. Ventos calmos até sair daqui.
|
Fonte: O autor (2017)
Em se tratando das características fonológicas, como vimos no Quadro 2, a cena que representa o primeiro exemplo acontece quando Taystee encontra-se na biblioteca com Mr. Healy, conselheiro da prisão, e diz para a autoridade que não é dedo duro e, portanto, não irá entregar outra detenta. Nota-se que, tanto na tradução para dublagem como para legendagem, o tradutor não procurou trazer para a tradução um desvio fonológico com relação à norma culta, o que acontece com 'cause.
Na próxima fala, que ocorre na cena em que Piper incentiva Taystee a buscar pelos seus direitos dentro do presídio e Taystee argumenta que, agora que conseguiu sua condicional e irá sair da prisão nos próximos dias, não está querendo tumultuar e procurar por problemas, por conta de o sonho de sair de Litchfield está cada vez mais próximo, acontece o mesmo. Mesmo em se tratando do enfraquecimento dos encontros consonantais finais, o tradutor não buscou trazer para a tradução o desvio fonológico, como no original sailin'.
Ainda na legenda é possível notar que o tradutor recriou um novo sentido em sua tradução. Nota-se a escolha de palavras e a maneira formal em que esse sentido foi construído, perdendo toda a originalidade da fala e a característica da personagem, que não é familiarizada com a maneira formal de falar. A tradução para dublagem, mesmo estando em uma linguagem mais informal, como vemos na utilização de palavras "to" e "pra", ainda assim não conseguiu manter o sentido ideal, visto que, em se tratando do verbo sailin' (em português, navegar), teria de haver na dublagem um desvio fonológico que equivalesse à informalidade do verbo, que foi, porém, traduzido de maneira formal.
5.1.3. Características gramaticais
Por último, observamos no quadro abaixo (Quadro 3) as características gramaticais e de que forma elas foram separadas e analisadas.
Quadro 3 – Características gramaticais (continua)
CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS |
ORIGINAL |
DUBLADO |
LEGENDADO |
Omissão do verbo tobe |
(...)Where she at? |
(...) Cadê ela? |
(....) Onde ela está? |
Mesma forma verbal usada para singular e plural |
There go my girl, P. |
Olha aí a minha garota, P.
|
Olha a minha amiga, P.
|
Omissão do auxiliar will para indicar futuro
|
There be brothers on the broad, I’m gonna be free at least,yo. |
Vai ter irmãos no comitê e eu serei livre finalmente. |
Se houver negros no conselho, serei finalmente livre. |
Quadro 3 – Características gramaticais(conclusão)
CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS |
ORIGINAL |
DUBLADO |
LEGENDADO |
Ain't como negação |
One of the guards did this. It still works, but ain't pretty. |
Um dos guardas fez isso, ainda funciona mas num tá bonito. |
Um dos guardas fez isto. Ainda funciona, mas está feio. |
Dupla negativa |
The point is our education program ain't never been no education problem, even before it was put on hold for some alleged murder. |
A questão é o nosso programa educativo que nunca foi um programa educativo. Até antes de ser interrompido por um suposto assassinato.
|
A questão é nosso programa educativo "num" ter sido educativo nem antes de ser suspenso por esse suposto assassinato. |
Fonte: O autor (2017)
Em relação às características gramaticais no quadro acima (Quadro 3), em se tratando das omissões, ainda em relação com a cena em que Taystee procura Poussey para dar a notícia sobre Judy King, ao perguntar para Cindy onde sua amiga encontra-se, notamos que, ao dizer "Wheresheat?", ocorre a omissão do verbo to be (is). Taystee, por não ter instrução e por não fazer uso do inglês padrão, fala de maneira coloquial. Dessa forma, na hora da tradução para a dublagem, o tradutor escolhe traduzir como "Cadê ela?". Nota-se que o tradutor acertou na escolha, visto que a expressão traduzida contém uma carga informal; "cadê?". Por outro lado, na tradução para a legenda, a escolha de "Onde ela está?" reproduz uma expressão formal, sendo algo contraditório, pois a personagem não se expressa dessa maneira.
No próximo exemplo, quando o grupo guetto está na mesa do refeitório e Poussey aproxima-se para se sentar com suas colegas, Taystee, ao ver a aproximação de sua amiga, dispara "There go my girl, P". Nota-se que a concordância dessa frase está incorreta, pois ao invés de "there go", a norma culta exige "there goes". Como o verbo foi conjugado de forma errônea, o tradutor, na hora da dublagem, manteve o sentido do erro, e optou por dublar como "olha ai a minha garota", de uma maneira que representasse a informalidade oral na fala. Já em se tratando da tradução para a legenda, o tradutor optou por deixar a frase neutra.
Em seguida, a cena referente ao próximo exemplo acontece quando Taystee está no cabeleireiro da prisão, buscando por um novo modelo de penteado, visto que o conselho irá julgar se ela está apta para obter sua condicional ou não. Ela então busca renovar o seu visual e manter uma postura mais séria para sua entrevista. Em uma conversa com suas amigas, enquanto Sophia Burset corta seu cabelo, Taystee dispara "There be brothers on the broad, I'm gonna be free at least, yo." Nota-se que, na frase original, o verbo "will" está omitido. Assim, o tradutor, em se tratando da dublagem, decidiu criar um novo sentido para a frase em que na própria tradução não houvesse concordância verbal, representando o erro e a omissão da frase original: "vai ter irmãos". Já em se tratando da tradução para a legenda, o sentido perdeu-se, visto que o tradutor reproduziu uma frase formal: "se houver negros no comitê". Apesar de ambas as traduções representarem a ideia de uma possibilidade, ação futura, como no original, mesmo não estando conjugado corretamente, na tradução para a legenda o tradutor reproduziu a fala de maneira formal, não fazendo sentido quando paramos para analisar o contexto social da personagem e ao sabermos que ela não faz uso da língua de prestígio.
Já no penúltimo exemplo, Taystee, em uma conversa com Mr. Healy, mostra para o conselheiro seu relógio que foi quebrado pelos guardas. Ao dizer "it still works, but ain't pretty", nota-se que é utilizada a partícula ain't como negação, algo característico do IVAA. Assim, na dublagem, o tradutor optou por traduzir como "num", algo comum na oratória e que representa a informalidade na fala. Já na legenda, nota-se que o tradutor optou por uma tradução de cunho formal.
Por fim, no último exemplo, Taystee ao reivindicar seus direitos no presídio em uma conversa com a administradora executiva Natalie Figueroa, argumenta que o programa educativo proposto no presídio nunca foi um programa educativo, mesmo antes de ocorrer um suposto assassinato. A detenta, ao dizer "ain't never been no education", utiliza uma característica muito comum do Inglês Vernacular Afro-Americano, a negativa dupla, que, de acordo com a norma culta da língua, consiste em uma construção totalmente errada. Em se tratando da dublagem, o tradutor manteve-se neutro, o que levou o real sentido da frase a ser completamente perdido. Por outro lado, o tradutor foi feliz em se tratando da tradução para a legenda, pois utilizou o "num" para representar o "ain't never been no", a forma informal de ser escrita e pronunciada. Nota-se que a expressão "num" está mais presente em nossa oratória do que em nossas ortografias. De fato, o tradutor conseguiu se aproximar do sentido original, mas não de forma equivalente, visto que a fala original é composta por uma negativa dupla. Um fato curioso é que, nessa cena, quando o grupo guetto reivindica seus direitos básicos dentro do presídio, a detenta Cindy, ao concordar com a sua amiga Taystee em afirmar que o programa de educação nunca existiu, questiona a administradora: "Acha que ela diria tantos "num" se tivesse programa de educação?10", deixando claro que as próprias negras reconhecem que a variante "ain't" é estigmatizada.
5.2. Discussões
Após essa análise das características do Inglês Vernacular Afro-Americano presente nas traduções da fala da personagem Taystee, pode-se notar que, em se tratando da fala original, quando comparadas com as traduções, nem sempre existe equivalência de sentido. Apesar de haver em algumas traduções a informalidade e a linguagem mais próxima à não-padrão, não se trata ainda algo pertencente àquela determinada comunidade. A língua informal escolhida pelos tradutores abrange não só a comunidade negra, mas todos os indivíduos, até aqueles que se encontram em uma camada mais alta da sociedade. Mesmo se o tradutor optasse por traduzir "Man, I still look hella office" por "Mano, eu pareço uma executiva pra caralho" ou "Girl, stop being a bitch-ass bitch" por "Menina, para de ser trouxa", nota-se que as expressões que foram traduzidas não caracterizam uma comunidade da mesma forma que "hella" e "bitch-ass bitch" caracterizam a comunidade afro-americana, pois são expressões provindas dessa própria comunidade. Já em relação à dupla negativa, por exemplo, quanto à frase "The point is our education program ain't never been no education problem, even before it was put on hold for some alleged murder", se ela fosse traduzida como "A questão é o nosso programa educativo que nunca nem foi um programa educativo. Até antes de ser interrompido por um suposto assassinato", o "nunca nem", apesar de ser algo comum em nossa oralidade e estar sendo traduzido de forma informal, não faz com que o sentido pareça ser o mesmo, visto que qualquer um pode reproduzir essa fala e não somente alguém da comunidade negra. E em se tratando do aspecto fonológico na frase "I ain't looking to make waves. Glassy water. Smooth sailin' right on out of here", se fosse traduzido como "Não tô querendo criar ondas. Eu quero águas calmas pra navega pra bem longe daqui", mesmo reforçando a ideia do desvio fonológico que acontece com saillin', não seria de fato equivalente.
As sugestões citadas acima para a tradução de alguns exemplos anteriores buscam, na medida do possível, apresentar um distanciamento da língua culta e um tom de oralidade - representado pelo desvio fonológico, por exemplo. É possível observar que, mesmo nas traduções originais e nas sugestões que damos neste trabalho, não foi possível fazer a reprodução de sentido. O que o tradutor fez em todos os momentos foi buscar recriar o sentido para que, na língua de chegada (no caso, o português), o público-alvo pudesse se familiarizar com o que estava assistindo.
É possível, por exemplo, observar a escolha de palavras como "molenga", expressões como "vai ficar doida" e marcas de oralidade como "num", pois elas estão presentes na nossa fala o tempo todo e, mesmo não sendo expressões equivalentes à original, aproximam-se, na nossa cultura e na nossa própria língua, à representação informal de uma língua, recriando e atribuindo um sentido que fizesse coerência para a língua e cultura de chegada. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da discussão empreendida neste trabalho, foi possível observar como a noção de equivalência é um ato falho quando tratamos de traduzir variantes linguísticas como o Inglês Vernacular Afro-Americano. Mostramos também que estudos variacionistas podem contribuir de forma significativa para os Estudos da Tradução, confirmando que a tradução é uma atividade contextualizada que deve levar em conta aspectos socioculturais pertencentes a determinada língua e cultura. O papel do tradutor vai além de transpor significados e traduzir de um idioma para o outro, sendo também o de recriar um novo sentido, buscando refletir todo o aspecto cultural referente àquela cultura e língua.
Ao analisarmos as falas da personagem Taystee em que o Inglês Vernacular Afro-Americano está presente, nota-se que não teríamos como traduzir de uma maneira equivalente pelo fato de não existir o "português-afro" no Brasil. De acordo com Bagno (2013), não se pode dizer que no Brasil exista um "português dos negros". O que existe é uma polarização provinda da discriminação social entre a língua das pessoas com menos condições que, na nossa sociedade, engloba tanto brancos como não-brancos, e a língua dos segmentos mais ricos, que engloba essencialmente os brancos. As variantes linguísticas que são estigmatizadas em nossa sociedade não são faladas somente por negros, mas também por índios, mestiços e brancos com menos condições. Diferentemente do Inglês Vernacular Afro-Americano, variante que é estigmatizada e pertencente à comunidade afro-americana dos Estados Unidos, no Brasil, pessoas de diversas etnias e de diversos grupos sociais utilizam variantes estigmatizadas. A diferença é que essas variantes não são pertencentes a uma comunidade lingüística, como é o caso do Inglês Vernacular Afro-Americano. A gramática dos negros pobres e dos brancos pobres no Brasil é a mesma e isso se dá por uma questão socioeconômica e não cultural. No Brasil, qualquer pessoa, independentemente da sua cor, pode reproduzir uma variante que não é de prestígio social e pode utilizar expressões que são estigmatizadas, mas que não serão características de uma única comunidade linguística, como o Inglês Vernacular Afro-Americano é para os Estados Unidos.
Dessa maneira, conclui-se que, por não existirem dialetos e socioletos que se igualem, como é o caso do Inglês Vernacular Afro-Americano e o português falado pelos negros no Brasil, é impossível traduzir as falas da personagem de uma maneira equivalente. Neste trabalho, procuramos trazer subsídios e apresentar em nossa análise a postura do tradutor, que, sem saída, precisou abandonar a carga cultural que refletia naquela variante que estava presente na fala original, e que, ao traduzir, buscou recriar um sentido que fizesse coerência para a língua e cultura de chegada.
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XAVIER, Adelmo. Língua e Políticas de Exclusão: O caso do Inglês Vernacular Afro-americano (EBONICS). Disponível em <http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/Vozes_Olhares_Silencios_Anais/Linguistica/Adelmo%20pronto.pdf> Acesso em setembro de 2017.
1No Brasil, as pesquisas no campo da Sociolinguística Laboviana tiveram início na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na década de 1970, sob a orientação de Anthony Naro. Desde então, as linhas de pesquisa que se ocupam da descrição de fenômenos variáveis no português do Brasil se multiplicaram, espalhando-se pelas diferentes regiões do país e gerando um grande volume de estudos a respeito de diversas variedades do português. (COELHO et al., 2015, p. 59)
2“Em todas as palavras está presente o elemento - LETO (também escrito às vezes em -LECTO), derivado do grego LÉKSIS, "palavra, ação de falar", de onde também provém a palavra LÉXICO” (BAGNO, 2007, p. 49)
3Traduçãonossa do trecho “Translation does not happen in a vacuum, but in a continuum; it is not an isolated act, it is part of an ongoing process of intercultural transfer.” (BASSNETT, 1999, p. 2)
4 O autor compreende por dialeto a realização regional (também chamada de variação diatópica) de uma variedade linguística. Porém, as particularidades regionais não seriam fortuitas e/ou aleatórias, mas sim ocasionada por fatores sócio-históricos, que poderiam estar relacionados a processos de migrações e imigrações. Ainda segundo a autora, tratando-se do socioleto, esse se trata de variantes relacionadas a cada agrupamento linguístico a partir de sua classe social e de seu grau de escolaridade (conhecido também como variação diastrática).
5Traduçãonossa do trecho "[…] language variety related to the performer's provenance or affiliations in a geographical, temporal or social dimension." (CATFORD, 1965, p. 85)
6Traduçãonossa de "[…] as with all spoken languages, AAVE is extremely regular, rule-governed, and systematic." (Rickford, 1996, n. p.)
7Traduçãonossa de “A pidgin is sharply restricted in social role, used for limited communication between speakers or two or more languages who have repeated or extended contact with each other, for instance through trade, enslavement, or migration. A pidgin usually combines elements of the native languages of its users and is typically simpler than those native languages insofar as it has fewer words, less morphology, and a more restricted range of phonological and syntactic options” (Rickford, 1992, p. 224).
8Traduçãonossa de "This African American Vernacular English shares most of its grammar vocabulary with other dialects of English. But it is distinct in many ways, and it is more different from standard English than any other dialect spoken in continental North America" (LABOV, 1997, n. p.)
9Traduçãonossa de "When young white kids imitate this speech in ways that suggest it is the speech of those who are stupid of who are only interested in entertaining or being funny" (HOOKS, 1996, p. 171)
10 "You think she'd be sayin ‘ain't’ so much if we had and education program?" Orange Is The New Black, episódio 9, temporada 5.
LIMA, Júlia Andrade. Uma análisetradutológica do Inglês Vernacular Afro-Americano sob o olhar da Sociolinguística. Santos, 2017, 59 f. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade Católica de Santos.
Publicado por: Júlia Andrade
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