ASSISTÊNCIA PARA ANIMAIS ABANDONADOS: PROCESSOS LOGÍSTICOS ENVOLVIDOS

índice

  1. 1. RESUMO
  2. 2. INTRODUÇÃO
    1. 2.1 Problema
    2. 2.2 Justificativa
    3. 2.3 Objetivos
      1. 2.3.1 Objetivo Geral
      2. 2.3.2 Objetivos Específicos
  3. 3. INTEGRAÇÃO DISCIPLINAR
    1. 3.1 Disciplinas Técnicas do Segundo Ano
    2. 3.2 Disciplina de Sociologia Durante o Primeiro e Segundo Ano
  4. 4. DESENVOLVIMENTO
    1. 4.1 Revisão de literatura
      1. 4.1.1 Definição de Projetos Sociais
      2. 4.1.2 Definição de Organizações Não Governamentais (ONGs)
      3. 4.1.3 Definição de ONGs caritativas, desenvolvimentistas, ambientalistas e cidadãs
      4. 4.1.4 Definição de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Púbico (OSCIP)
      5. 4.1.5 Definição de Centro de Controle de Zoonozes
      6. 4.1.6 Previsão de crescimento populacional por meio da reprodução de animais
      7. 4.1.7 Riscos à saúde que podem acontecer devido a quantidade de cachorros e gatos abandonados
  5. 5. METODOLOGIA
    1. 5.1 CRONOGRAMA
  6. 6. RESULTADOS
    1. 6.1 PROCESSOS
      1. 6.1.1 Processo de Acolhimento
      2. 6.1.2 Processo de Alocação
      3. 6.1.3 Processo de Alimentação
      4. 6.1.4 Processo de Administração de gastos
      5. 6.1.5 Processo de Administração de estoques
      6. 6.1.6 Processo de Cuidados com a Saúde
      7. 6.1.7 Processo de Comunicação entre os voluntários
      8. 6.1.8 Processo de Marketing e parcerias
    2. 6.2 Apresentação didática
  7. 7. DISCUSSÕES
    1. 7.1 Problemas encontrados nos projetos
      1. 7.1.1 Ressuprimento de estoques na Acãochego
      2. 7.1.2 Sobrecarga de voluntários líder
      3. 7.1.3  Gastos nos projetos sociais estudados
    2. 7.2 Comparação entre empresas com fins lucrativos e empresas sem fins lucrativos
    3. 7.3 Recursos otimizadores
  8. 8. CONCLUSÃO
  9. 9. REFERÊNCIAS
  10. 10. APÊNDICE
    1. 10.1 A- Entrevista com a Bicho no Parque
    2. 10.2 B - Entrevista com a OSCIP Acãochego
    3. 10.3 C - Questionário com o Projeto Vira-Latas
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1. RESUMO

O presente trabalho estuda como funciona a logística de projetos sociais voltados para o cuidado de animais domésticos abandonados na grande São Paulo, com finalidade de suprir as necessidades de todos os animais que amparam e para que possam amparar a maior quantidade possível. Para isso, foram realizadas pesquisas exploratórias, descritivas e explicativas, com abordagens quantitativas e qualitativas, por meio de, principalmente, pesquisas de campo e virtuais sobre o tema, além de entrevistas com atuantes na área, visando, por fim, entender os processos logísticos dessas organizações, procurar por falhas e dar caminho às possíveis soluções dos problemas constatados. Assim, foram constatados diversos processos logísticos dentro das organizações, como os processos de alocação, alimentação e cuidados com a saúde dos animais, além de processos de administração de gastos, marketing e parcerias. Também foi possível perceber que essas instituições são tão complexas quanto empresas com fins lucrativos. Por conseguinte, a discussão em torno da pesquisa se deu baseada nas falhas organizacionais descobertas, como a sobrecarga dos voluntários e questão da gestão de estoques. Dessa maneira, pode-se concluir que algumas propostas de soluções podem ser implantadas nos processos logísticos dessas organizações e que uma das principais questões envolvidas na melhoria dessas está centrada em um maior envolvimento da população na causa.

Palavras-chave: animais abandonados; projetos sociais; processos logísticos.

2. INTRODUÇÃO

Projeto social pode ser definido como um plano que deseja propor soluções para determinada situação problemática, sendo que essa, normalmente, afeta a esfera pública (MACIEL, 2015).

As Organizações não governamentais-ONGs são um tipo de projeto social sem fins lucrativos, essas abrangem transtornos econômicos, ambientais, raciais, etc. (FARIA, s/d) Segundo a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais-ABONG, conforme o art.2º, uma ONG pode ser definida como:

[...] são consideradas Organizações Não Governamentais-ONGs, as entidades que, juridicamente constituídas sob a forma de fundação ou associação, todas sem fins lucrativos, notadamente autônomas e pluralistas, tenham compromisso com a construção de uma sociedade democrática, participativa e com o fortalecimento dos movimentos sociais de caráter democrático, condições estas atestadas pelas suas trajetórias institucionais e pelos termos dos seus estatutos. (ABONG, 2016)

As primeiras ONGs surgiram para diminuir a pobreza e desenvolver países. Aqueles considerados desenvolvidos economicamente e que defendiam o capitalismo eram obrigados a ajudar países subdesenvolvidos, passando a incentivar ações comunitárias como as ONGs (MACHADO, 2012).

Essas organizações são divididas em quatro classificações: as caritativas, as desenvolvimentistas, as ambientalistas e as cidadãs, sendo muitas vezes interpretadas como uma maneira moderna de participação social (MACHADO, 2012). As ONGs cidadãs demarcam seu papel como agente de democratização, essa característica é peculiar no Brasil (MACHADO, 2012), uma vez que, as organizações não governamentais se popularizam a partir do término da Ditadura Militar, em uma época caracterizada pelo processo de redemocratização (FARIA, s/d).

Em relação as ONGs para animais domésticos abandonados, que são ONGs cidadãs, é possível ressaltar a grande quantidade de animais quando comparados a essas. De acordo com a Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA), em uma pesquisa feita em 2013 pela Organização Mundial da Saúde declarou que existem mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil. Desses 30 milhões, 2 milhões estão localizados na Grande São Paulo. Em contrapartida, a quantidade de ONGs voltadas para a preservação do meio ambiente e proteção animal corresponde 0,8% de todos os outros tipos de ONGs privadas que atuam áreas públicas (aproximadamente 54.070 unidades), ou seja, as vertentes que defendem o meio ambiente, animais silvestres, animais selvagens e animais domésticos juntas equivalem a menos de 1% das 54.070 ONGs Cidadãs. (ABONG, s/d)

Através de buscas por diversos sites voltados ao cuidado de animais domésticos, pode-se perceber que há uma maior presença de projetos sociais não classificados como ONGs devido à burocracia para regulamentação. Outro problema é que não existem números absolutos da quantidade de projetos (uma vez que o registro não é obrigatório) e a presença desses ainda é muito baixa. Um exemplo desse tipo de associação é a Bicho no parque, encontrada em buscas na internet, que atua como um projeto social e não possui o reconhecimento de ONG.

O trabalho propõe auxiliar a comunidade e os integrantes desse tipo de instituição na otimização e na organização de seu trabalho.

2.1. Problema

Sintetizando o que já foi apresentado, para maior compreensão do objetivo da pesquisa, o problema que servirá de base para o trabalho é a dificuldade que esses projetos voltados para o amparo de animais abandonados encontram para o suprimento de suas necessidades básicas de maneira eficiente, buscando entender como elas trabalham, atualmente, para driblar essas situações, já que podemos notar que, geralmente, essas ações não eliminam ou diminuem esse problema.

2.2. Justificativa

O abandono de animais domésticos é uma questão estrutural que atinge a maior parte da sociedade especialmente os centros urbanos. Dada a grande quantidade de animais que são abandonados (ANDA, 2013) e o crescimento exponencial desses (SOSBICHOS, 2006), as poucas organizações existentes não são capacitadas para comportá-los (ABONG, s/d). Esse problema social acarreta problemas logísticos para essas, e já que não possuem fins lucrativos, sempre precisarão de ajuda externa para se manterem.

O presente estudo torna-se necessário para maior conhecimento sobre o planejamento interno dos projetos voltados para os cuidados desses animais, sua eficiência e como funciona, já que existem obstáculos que precisam ser compreendidos para serem superados dentro das associações. Além disso, esta pesquisa pode se tornar útil para as organizações e pessoas afetadas, visando a solução desses problemas, através das propostas que serão apresentadas.

O grande abandono de animais uma vez domesticados torna as ruas um ambiente mais insalubre, por exemplo, pois aumenta a suscetibilidade de transmissões de doenças como raiva, leishmaniose e toxoplasmose, mostrando que o risco a saúde humana é um dos motivos que faz o abandono de animais ser um problema de todos (GIOVANELLI, 2017).

2.3. Objetivos

2.3.1. Objetivo Geral

  • Conhecer e estudar o planejamento interno de um projeto voltado para o cuidado de animais domésticos abandonados.

2.3.2. Objetivos Específicos

  • Relacionar os conhecimentos obtidos em sala de aula com as diversas fases do trabalho;

  • Conhecer estudos com temas similares;

  • Entender quais processos logísticos estão relacionados com um projeto deste perfil e como são executados;

  • Identificar os problemas organizacionais de um projeto [de animais domésticos abandonados] e suas consequências;

  • Apresentar possíveis soluções para os problemas identificados com base nos conhecimentos adquiridos;

  • Apresentar o tema de forma didática para interessados no assunto;

  • Criar um produto final, além do relatório, que ultrapasse a fronteira do câmpus e tenha impacto positivo sobre os integrantes destes projetos.

3. INTEGRAÇÃO DISCIPLINAR

Como um dos objetivos da pesquisa é integrar as disciplinas estudadas no decorrer do curso, considera-se que as principais matérias do projeto político pedagógico que estão relacionadas com o tema do trabalho são, dentre as do primeiro ano do ensino médio:

A matemática financeira e administração de custos para estudo contábil das ações dos projetos, buscando a otimização da área econômica, para diminuição dos custos ou melhor aproveitamento dos recursos necessários.

A Logística Empresarial, estudando a logística interna e de maneira secundária a logística externa, assim como também a cadeia de suprimentos para que se entenda as entradas e saídas existentes nos processos para realização eficiente do trabalho.

Além dessas, utilizar-se-á também a Sociologia com reflexões sobre o estado e cidadania, e os movimentos sociais, já que essas organizações, consideradas o Terceiro Estado, surgem por questões relativas ao bem comum.

Referente às disciplinas do segundo ano do ensino médio integrado, as principais serão as pertencentes ao curso de técnico de logística, como a Gestão da Qualidade e Produtividade para questões de análise da qualidade do trabalho, e o Planejamento, Programação e Controle da Produção voltadas para a administração dos estoques e o plano mestre de produção.

3.1. Disciplinas Técnicas do Segundo Ano

Seguindo o primeiro objetivo específico estabelecido, de integrar o trabalho com as diversas matérias do curso, aplicar-se-á os conceitos apresentados nos componentes curriculares de nível técnico, Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP), e Gestão da Qualidade e Produtividade (GQP), para o estudo dos processos logísticos das organizações.

Em Planejamento, Programação e Controle da Produção, entre os conteúdos programáticos relacionados ao trabalho está a Administração de Estoques, para que se estude como as organizações planejam seus estoques (se esses existirem), onde se localizam, em quais condições e como são administrados. Ao entender como funcionam seus estoques, é possível fazer a previsão de demanda dessas organizações, e por fim, o acompanhamento e controle dos serviços prestados por elas.

A gestão da qualidade e produtividade também se relaciona com o projeto e com a matéria citada anteriormente. Os temas como controle estatístico do processo (CEP), gerenciamento de rotina com o programa 5S, aperfeiçoamento contínuo e a qualidade em serviços serão parte do embasamento para o estudo da qualidade do serviço prestado pelas organizações e suas possíveis melhorias.

3.2. Disciplina de Sociologia Durante o Primeiro e Segundo Ano

Diante do tema, os conhecimentos aprendidos na disciplina de Sociologia são importantes para auxiliar no desenvolvimento do trabalho, visto que essa estuda o comportamento dos indivíduos dentro da sociedade (BETONI, s/d), podendo ser possível, então, levantar questões como “por que há uma cultura de abandono de animais domésticos?”.

O conteúdo aprendido no primeiro ano será o principal norteador para a pesquisa, pelo menos no âmbito da disciplina, sendo mais utilizado do que os assuntos previstos no Projeto Pedagógico do Curso do câmpus referentes aos anos posteriores.

Entre os pontos discutidos, destaca-se “Estado, Poder e Governo”, no qual aprende-se sobre a origem e as funções pertencentes a cada instância. Considerando isso, torna-se viável entender se o Estado pode interferir no abandono de animais domésticos ou se a responsabilidade cabe ao Governo.

Dado que movimentos sociais são ações organizadas para atingir determinado objetivo (SILVA, s/d) e que os projetos sociais também representam isso (MACIEL, s/d), deduz-se que projetos sociais são movimentos sociais. A partir disso, o que foi visto em Sociologia, mais precisamente em “Política Estado e Movimentos Sociais” será utilizado como forma de apoio.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1. Revisão de literatura

4.1.1. Definição de Projetos Sociais

O conceito de projeto social refere-se a sonhos, planejamentos, um desejo de mudança relacionado prioritariamente, com ideias e aspirações coletivas, e tem como objetivo construir uma sociedade melhor, com ações que visam o bem comum (MACIEL, 2015).

4.1.2. Definição de Organizações Não Governamentais (ONGs)

Organizações Não Governamentais é o termo utilizado para classificar entidades sem fins lucrativos e que realizam ações voltadas para o interesse público, podendo atuar em diversas áreas da sociedade, como por exemplo, saúde, educação, meio ambiente e economia. As ONGs não são estatais, todas elas surgem a partir de iniciativa privada, geralmente de pessoas que tem interesses em comum, com a adesão de voluntários que trabalham sem recompensa financeira (SEBRAE, 2018).

As ONGs fazem parte do chamado terceiro setor (qualquer entidade privada sem fins lucrativos). A palavra ONG não existe no ordenamento jurídico brasileiro, é uma sigla genérica que inclui todas as Organizações Não Governamentais (SEBRAE, 2018).

4.1.3. Definição de ONGs caritativas, desenvolvimentistas, ambientalistas e cidadãs

Existem vários tipos de organizações governamentais que são nomeadas de caritativas, desenvolvimentistas, ambientalistas e cidadãs.

As ONGs caritativas são aquelas que oferecem algum tipo de auxílio para jovens, adolescentes, crianças, mulheres e idosos, relativo a problemas com a integridade física ou psicológica do indivíduo em questão (CAROLINE, s/d).

Já as ONGs ambientalistas são organizações que têm o intuito de fazer algo contra crimes e descasos contra o meio ambiente, ou seja, intervêm na sociedade com medidas que ajudam na preservação ou conservação dos recursos naturais de uma localidade, mas também tomam medidas que protegem um patrimônio histórico. (CAROLINE, s/d) (VALLE, s/d).

Por fim, as ONGs cidadãs são aquelas que atuam na cidadania, atuando com medidas que fiscalizam e denunciam qualquer tipo de violência contra algum direito do cidadão. As ONGs que auxiliam os animais domésticos abandonados, fazem parte desse tipo de ONG (CAROLINE, s/d).

4.1.4. Definição de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Púbico (OSCIP)

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Púbico é uma qualificação jurídica que indica uma organização privada, que atua nas áreas de interesses públicos. As instituições podem solicitar para o Estado a qualificação como OSCIP, o que ocorre na maioria das vezes (SEBRAE, 2017).

Para ser consolidada como OSCIP, essa precisa cumprir algumas exigências, conforme a lei 9.790, Art. 3º, como, promoção de assistência social, promoção de cultura, defesa e conservação de patrimônio histórico e artístico, promoção gratuita de educação e promoção gratuita de saúde.

As OSCIPs são típicas entidades do terceiro setor. A criação desse termo serviu para facilitar parcerias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos. (SEBRAE, 2017)

A lei 9.790 é a que fornece os requisitos para a qualificação como OSCIP.

4.1.5. Definição de Centro de Controle de Zoonozes

O centro de zoonoses é uma entidade do governo, presente em todos os estados do Brasil, que tem como objetivo principal diminuir as zoonoses (exemplo: leptospirose e raiva) e controlar o número dos animais de rua no país, foi criado em 1973 (CANAL DO PET, s/d).

Esse órgão realiza várias ações para atingir seu objetivo, dentre essas ações estão presentes: recolhimento de animais, que ocorre quando o animal esteja em situação de causar algum acidente ou transmitir alguma doença, vacinação antirrábica, são disponibilizadas gratuitamente doses da vacina que previne a raiva, controle de animais sinantrópicos, ou seja, controle de animais invasores na residência de algum cidadão, monitoramento de possíveis epidemias e educação, o centro de zoonoses também informa e ensina a população sobre doenças que podem ser transmitidas através de animais de rua e como trata-las ou preveni-las (CANAL DO PET, s/d) (TOYOTA, s/d).

4.1.6. Previsão de crescimento populacional por meio da reprodução de animais

O crescimento de animais pode ser representado por uma função exponencial, isso se caracteriza por um aumento percentual e constante de um ser vivo em determinado período de tempo (ORTEGA; ZANGHETIN, 2007).

Gráfico: População canina

No caso dos cães, uma cria de uma única cadela, durante nove anos, pode gerar cerca de treze milhões de outros cães, isso é um crescimento exponencial (SOS BICHOS, 2006). Segundo o gráfico feito pela American Human Association que foi publicado no site SOS Bichos, uma fêmea fica prenha duas vezes por ano, gerando em média cinco filhotes por gestação; quando esses filhotes estão com cerca um ano de idade, já podem se reproduzir e, assim gera-se mais filhotes. O ciclo se repete muitas vezes, durante anos, aumentando cada vez mais a população desses animais (SOS BICHOS, 2006) (RAMOS, s/d).

Assim como os cães, os gatos também têm o crescimento exponencial, sendo que o seu crescimento é favorecido pela plasticidade comportamental da espécie, isto é, os gatos vivem em colônia, e tem forte capacidade social entre eles (RAMOS, s/d).

Os gatos se reproduzem quando a fêmea entra no cio, o que ocorre vinte vezes ao ano por um período de 3 a 4 dias. Considerando que em cada gestação de dois meses uma fêmea pode ter cerca de 3 a 7 filhotes, ao final de um ano, apenas uma fêmea poderia gerar 30 filhotes (UNIVERSO DE GATOS, s/d).

Além disso, outra característica biológica destes animais que deve ser levada em conta é que após 12 meses de vida, um gato obtém a capacidade de se reproduzir. Se esses trinta filhotes gerados por uma fêmea se reproduzissem, depois de um ano, teria 900 filhotes (UNIVERSO DE GATOS, s/d).

Nas pesquisas, não se coloca em consideração que os animais morrem, devido a motivos naturais ou condições precárias, essa última atingindo sobretudo a população abandonada de animais domésticos, onde passa-se por condições degradantes desde o nascimento, baixando-se então, o número da função exponencial (SOS BICHOS, 2006).

Tendo em vista que atualmente são mais de 30 milhões de animais domésticos abandonados no Brasil (SOUZA, 2017), o crescimento populacional desses seria ainda mais alarmante, mesmo com as mortes, para vários autores (SOS BICHOS, 2006 por exemplo) é extremamente necessário que haja um maior investimento na castração dos os animais para que o número não continue crescendo.

4.1.7. Riscos à saúde que podem acontecer devido a quantidade de cachorros e gatos abandonados

O abandono de animais é principalmente visto como um problema da sociedade e que causa comoção nas pessoas, mas na verdade ele é uma questão de saúde pública e ambiental. Os cães e gatos desabrigados vagam pelas ruas sem qualquer controle de sua população e saúde, como com tratamento de doenças, vacinação e castração. Existem órgãos que possuem a função de fazer esse controle, como o Centro de Zoonozes, porém, não é possível que seja feito um trabalho eficiente com o número crescente de animais abandonados nas ruas (MARIA, s/d) (MUTIIS, 2013).

Esses animais, quando não tratados da forma correta, podem transmitir doenças aos seres humanos (G1 Maranhão, 2014). Essas doenças transmissíveis entre animais e humanos são conhecidas como Zoonozes (MEUS ANIMAIS, 2015). Segundo Dr. Arthur Frazão, clínico geral, cães e gatos podem transmitir doenças como Ancilostomose e Raiva. Além dessas, também são conhecidas a Leishmaniose, a Toxoplasmose e a Leptospirose, de acordo com o Conselheiro Federal de Medicina Veterinária, Nordman Wall Filho, em entrevista para o Jornal Bom dia Mirante, em 2014.

  • Ancilostomose: O verme causador dessa enfermidade penetra na pele do ser humano que entre em contato com ele pelas fezes de cães e gatos. Sua principal consequência é a anemia e pode ser tratada com medicamentos que eliminem o verme parasita (TODA MATÉRIA, s/d).

  • Raiva: Transmitida pelo contato com a saliva do animal infectado, apresenta uma inflamação no sistema nervoso que pode causar paralisia dos membros e até a morte. Frequente em cães, mas pode ser encontrada em outros animais, como os gatos. Não há tratamento para essa doença, apenas prevenção com vacinas. (FILHO, 2014)

  • Leishmaniose: Afeta principalmente o fígado, baço e a medula óssea. Causa emagrecimento, febre e aumento do baço e fígado. O tratamento é feito com antiparasitários, o que vai depender a fase clínica. (PEARSON, s/d)

  • Toxoplasmose: Não apresenta sintomas graves a princípio, mas em formas graves, pode levar à cegueira, convulsões e, dificilmente, mortes. Seu tratamento é feito por antibióticos e é principalmente transmitida por gatos infectados. (SEDICIAS, 2018)

  • Leptospirose: O contato com a urina do animal infectado causa essa doença. Seus principais sintomas são febre alta, dor de cabeça, dor muscular e vômitos. Seu tratamento é feito à base de antibióticos. (SECRETÁRIA DA SAÚDE, s/d).

Apenas essas doenças já representam um enorme risco à saúde humana e a prevenção delas deve ser de interesse público. “Segundo estudos, a cada R$ 1 investido na saúde animal, são poupados R$ 27 na saúde pública", ressalta Cristiane Leite” (MUTIIS, 2013).

Além das doenças o alto número de animais abandonados nas metrópoles, “são dois milhões de animais abandonados pelas ruas da cidade de São Paulo aproximadamente, e esse número só vem aumentando”, segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais - ANDA, em 2013, esses também podem causar acidentes de trânsito (G1 RIO PRETO E ARAÇATUBA, 2015). Esses acidentes de trânsito causados por animais, muitas vezes acontece porque o carro tenta desviar do animal e acaba colidindo com algum objeto, ou com outro carro, ou batendo no próprio animal. Esses acidentes geram problemas à saúde humana e para o próprio animal, podendo causar lesões leves ou graves, e até óbito em alguns casos.

Acidentes envolvendo cães

No Brasil, todo ano ocorrem 63 mil acidentes de trânsitos envolvendo cães, sendo que desses acidentes, 11.700 são fatais e envolvem cães (SOUSA, s/d).

5. METODOLOGIA

Durante o período proposto para o desenvolvimento do projeto diversas técnicas foram utilizadas, que podem ser divididas em três grupos:

  • Exploratório: investigação sobre os temas a serem trabalhados. (MORETTI, 2017)

Inicialmente, foram feitas pesquisas abrangentes sobre o assunto o que permitiu que o recorte fosse feito. Também nos meses inicias, esse tipo metodológico foi usado para a formação da revisão de literatura: pesquisas bibliográficas e de campo foram feitas para esclarecer termos e processos envolvidos nos projetos estudados.

Essas chamadas pesquisas bibliográficas foram realizadas em sites de busca e livros relacionados ao assunto especificamente para embasar teoricamente o projeto.

Já as pesquisas de campo resumem-se em entrevistas feitas com voluntárias líderes, visitas ao abrigo dos projetos e contatos telefónicos e por e-mail para conseguir maiores informações sobre esse tipo de trabalho. Esse momento foi importante pois possibilitou ao grupo a fundamentação empírica.

  • Descritivo: trabalha com a descrição e o detalhamento de diversos elementos do texto. (MORETTI, 2017)

Permitiu a análise de processos e informações coletadas. Usado para construção de fluxogramas, organogramas e um texto que relaciona a estrutura de uma empresa sem fins lucrativos e uma com fins lucrativos.

  • Explicativo: mobilização de conhecimentos de mundo com os conhecimentos adquiridos durante a pesquisa. (MORETTI, 2017)

Utilizado principalmente para as discussões e a conclusão do projeto, possibilitou a comparação das informações obtidas nas pesquisas com a realidade presenciada e os conhecimentos obtidos em sala de aula.

Importante também para o produto final direcionado a comunidade - vídeo e roda de conversa, pois possibilitou um debate crítico das condições em que se encontram essas organizações.

5.1. CRONOGRAMA

Quadro 1- Cronograma em quadro

Atividade/Mês

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Elaboração do Projeto

 

 

 

 X

 

 

 

 

 

 

Desenvolvimento do problema

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cronograma

 

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Metodologia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pesquisa

 

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 X

 X

 X

 X

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Introdução Teórica

 

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 X

 

 

 

 

 

 

 

 

Integração Disciplinar

 

 

 

 

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Resultados Esperados

 

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Formatação

 

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 X

Entrega do Projeto Escrito

 

 

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Avaliação de um projeto distinto

 

 

 X

 

 

 

 

 

 

 

 

Diagrama de Gantt

 

 

 

 X

 

 

 

 X

 

 

 

Análise, adaptação e adequações

 

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 X

 X

 X

 X

Trabalho de Campo

 

 

 X

 X

 X

 X

 

Apresentação do projeto aprovado

 

 

 

 X

 

 

 X

 

 

 

 

Revisão Bibliográfica

 

 X

 X

 X

 

Relatório Parcial

 

 

 

 

 X

 

 

 

 

 

 

Férias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Relatório Final

 

 

 

 

 

 X

 X

Apresentação Final/ Produto final

 

 

 

 

 

 

 X

 X

Preparação para Semana de Ciência e Tecnologia

 

 

 

 

 

 

 

 

 X

 

 

Apresentação na Semana de Ciência e Tecnologia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mês/Data

Atividades

Fevereiro

Início da elaboração do projeto.

Março

Desenvolvimento do problema;

Elaboração do cronograma;

Metodologia;

Pesquisa;

Início da introdução teórica;

Relação do projeto com as disciplinas acadêmicas;

Definição dos resultados esperados.

Abril

Formatação do projeto;

05/04- Entrega do projeto escrito (PDF na nuvem) e parecer individual de projeto alheio;

12/04- Avaliação do grupo a partir dos pareceres individuais e da avaliação dos professores;

Pesquisa;

Introdução teórica;

Elaboração do diagrama de Gantt;

Analise da pesquisa.

Maio

18/05- Entrega do projeto final com assinatura do orientador e apresentação para a turma;

Adaptação e adequações;

Trabalho de campo.

Junho

07/06- Entrega do diagrama de Gantt;

Adaptação e adequações;

Formatação do projeto;

Retoque da revisão bibliográfica;

21/06- Finalização e entrega do relatório parcial.

Julho

02/07 a 13/07-Férias

Reparos da metodologia e cronograma;

Detalhamento das disciplinas envolvidas;

Desenvolvimento do relatório final.

Agosto

Pesquisa;

Trabalho de campo;

Aperfeiçoamento do relatório final;

Desenvolvimento para a apresentação final;

Preparação para a apresentação da Semana de Ciência e Tecnologia;

23/08- Apresentação para a classe interdisciplinaridade do trabalho.

Setembro

Pesquisa;

Aperfeiçoamento do relatório final;

Preparação para a apresentação da Semana de Ciência e Tecnologia;

Correção do diagrama de Gantt;

13/09- Entrega do diagrama de Gantt atualizado.

Outubro

Aperfeiçoamento do relatório final;

Preparação para a apresentação da Semana de Ciência e Tecnologia;

18/10- Apresentação do projeto para a Semana de Ciência e Tecnologia;

Preparação para a apresentação final.

Novembro e Dezembro

Preparação para a apresentação final;

Aperfeiçoamento do relatório final;

Entrega final

Tabela 1 - Cronograma em tabela

6. RESULTADOS

6.1. PROCESSOS

A partir de entrevistas feitas com os projetos sociais Bicho no Parque (especializado no cuidado de gatos) e Vira Latas com Raça (especializado na adoção de cachorros e gatos), juntamente com a OSCIP Acãochego (especializada no cuidado e adoção de cachorros), foram desenvolvidos fluxogramas que compreendessem os processos logísticos dos locais.

Vale ressaltar que estes são alguns dos processos estudados a partir dessa metodologia, podendo ser aplicado para a maioria dos projetos sociais. Entretanto, é possível que algum projeto não realize um desses itens.

6.1.1. Processo de Acolhimento

O processo de Acolhimento refere-se ao resgate do animal que está em condição de rua. Esse pode ser resumido por meio de fluxogramas da Bicho no Parque e Acãochego:

Figura 1. Processo de Acolhimento (Bicho no Parque).

Processo de Acolhimento (Bicho no Parque)

Figura 2. Processo de Acolhimento (Acãochego)

Processo de Acolhimento (Acãochego)

Como é possível ver no primeiro fluxograma, quando há um gato abandonado, esse pode ser encontrado por guardas civis que costumam fazer rondas pelo parque, pelos funcionários do parque, pela administração do parque ou por indivíduos que estão na região. A partir disso, os voluntários do projeto Bicho no Parque são avisados por quem encontrou o animal e em seguida tenta-se uma socialização com o bichano por meio de recursos alimentícios.

Em alguns casos, é possível que o animal seja arisco, dificultando a realização de uma etapa considerada primordial para a diminuição do crescimento exponencial de gatos abandonados e realização de cuidados veterinários básicos. Este procedimento é denominado Captura, Esterilização e Devolução (CED).

Por causa disso, os voluntários veem-se obrigados a contatar o Centro de Controle de Zoonoses para captura-lo. No entanto, quando o laçador não obtém êxito na tarefa, contrata-se um laçador em especial até que esse consiga apanhar. Em um trecho da entrevista, por exemplo, a voluntária líder1 Mayena Buckup relata sobre:

“Na verdade, a prefeitura tem os laçadores e eles são muito bons, mas tinha um que era muito bom, mas ele se aposentou, e agora ele vive só disso, e as vezes a gente tem que chamar ele, porque ninguém consegue pegar o gato, só ele.
E a gente tem que pagar a parte, mas ele faz um preço especial pra gente, mas ele trabalhou muito pra gente pela prefeitura. Quando ele ainda era funcionário da prefeitura” (BUCKUP, 2018).

O Projeto Vira-Latas também realiza o CED, logo após recolher o gato ou o cachorro. Pois, assim como a Bicho no Parque, considera essencial que os animais estejam castrados e tenham os cuidados veterinários necessários para uma adoção.

“Todos os animais que participam dos eventos de adoção são castrados, vacinados e vermifugados [...]. Em paralelo com os eventos de adoção, também financiamos ações de castração e vacinação de animais já resgatados por protetores com poucos recursos financeiros, para que os mesmos estejam aptos para adoção” (LUANA, 2018).

Vale ressaltar que este projeto, apesar de alegar durante o questionário (ver apêndice C) que não realiza resgates, pode-se considerar que faz parte do projeto realizar o processo de Acolhimento, visto que quem realiza estes resgates são pessoas que têm a mesma função de um voluntário, mas que são denominadas “protetores” por Luana.

Já na OSCIP Acãochego, o que conseguiu-se obter de informações a partir da pesquisa de campo foi que o processo de Acolhimento de animais é limitado, uma vez que essa organização possui mais de quatrocentos cachorros. Então, passou-se a aceitar cadelas prenhas, cachorros maltratados e machucados enquanto cachorros que eram ameaçados de abandono por seus donos foram recusados, pois quem pedia para a organização cuidar desses cachorros provavelmente não iria abandoná-los em um local onde esses não pudessem sobreviver.

Em relação ao CED, todos os itens que estão dentro do procedimento são realizados. Ao perguntar para a voluntária líder sobre como funciona o processo de castração para a OSCIP, considerando que isso é uma das partes principais do CED, ela responde emendando com o item da vacinação que também está incluso no procedimento:

“Funciona pagando. Essa clínica geral, toda quarta feira, atende só a ONG. Os animais vêm de lá logo cedo, ‘pra’ tratamento geral e castrações, ai de tarde eles vão embora. Mas é tudo pago. Eu tenho desconto, mas como o volume é muito grande, esse mês de maio eu gastei só de clínica veterinária vinte e cinco mil. Eu ‘tô’ com muito filhote, os filhotes significam três doses de vacina contra virose, vacina da raiva, vermífugo e castração. Então quanto maior o volume, mais pesado fica” (LEITE, 2018)

Para Vera Leite, os mutirões de castração gratuitos são uma experiência desagradável para o animal, porque esses são obrigados a esperar por um longo tempo e ainda de jejum, por isso prefere contratar alguém para realizar o procedimento (ver no apêndice B).

6.1.2. Processo de Alocação

Normalmente, os animais dentro de projetos sociais ficam alocados em canis ou gatis, sobretudo quando estes projetos são organizações não governamentais. Um dos exemplos de como pode ser um processo de alocação, pode ser dado a partir do seguinte fluxograma:

Figura 3. Imagem representando o processo de alocação na OSCIP Acãochego.

Imagem representando o processo de alocação na OSCIP Acãochego

No caso da OSCIP Acãochego, especializada na assistência de cães, esta alocação é ainda mais dividida por separa-los de acordo com a afinidade. Cachorros que foram resgatados com a própria família, por exemplo, tem a tendência a permanecerem juntos, sendo separados apenas em caso de brigas ou se algum animal necessitar de cuidados diferenciados devido a problemas físicos.

Figura 4. Família de animais no canil.

Família de animais no canil

Quando acontece certa sucessão de brigas, os voluntários vendo que a socialização não será possível tentam fazer um novo tipo de contato, dessa vez, com outros cães; se a tentativa for malsucedida, o cachorro passa a viver em um canil individual. Durante a visita da Acãochego, foi possível perceber que há animais sozinhos por serem agressivos, cadelas que passam a tratar filhotes como se fossem seus e uma cachorra em específico que segundo a voluntária-líder “não gosta de outros cachorros, apenas de gente”.

O espaço destinado a cães doentes na OSCIP fica localizado em uma chácara, assim como todo o restante da organização. A maior parte dos cachorros ficam no quintal da caseira (também é voluntária), mas há animais dentro da casa ou em um cômodo destinado principalmente a armazenagem de alimentos.

Figura 5. Local destinado para a acomodação de cães que necessitam de cuidados diferenciados na Acãochego.

Local destinado para a acomodação de cães que necessitam de cuidados diferenciados na Acãochego

Local destinado para a acomodação de cães que necessitam de cuidados diferenciados na Acãochego.

Figura 6. Cães acomodados no estoque da Acãochego.

Cães acomodados no estoque da Acãochego

O projeto social Bicho no Parque, especializado no cuidado de gatos, foge do conceito de abrigar os animais em canis, uma vez que a atuação dessa se restringe a um parque, ou seja, os gatos têm a possibilidade de circular tranquilamente pela região, escolhendo inclusive aonde irão dormir. Neste projeto a alocação seria os pontos de encontro onde os voluntários depositam os alimentos.

Figura 7. Gato indo se esconder entre as plantas.

Gato indo se esconder entre as plantas.

Apesar de tudo isso, alguns projetos sociais não possuem este processo logístico, por possuir objetivos diferentes. O projeto Vira Latas com Raça, por exemplo, não possui um local físico para atender cães e gatos, pois a finalidade desse é promover eventos de adoções, utilizando apenas abrigos temporários fornecidos pelos próprios voluntários.

6.1.3. Processo de Alimentação

O processo de Alimentação consiste em alimentar os animais que foram resgatados das ruas. Esse pode ser resumido por meio de fluxogramas dos projetos Bicho no Parque e Acãochego, respectivamente:

Figura 8. Processo de Alimentação (Bicho no Parque).

Processo de Alimentação (Bicho no Parque).

Figura 12. Processo de Alimentação (Acãochego).

Processo de Alimentação (Acãochego)

No projeto social Bicho no Parque, os gatos são alimentados majoritariamente com ração independente se costumam ser atendidos pelos voluntários ou não, sendo que em caso do felino ser desconhecido, inicia-se o processo de Acolhimento.

Para isso, o local é divido em duas ou três partes de acordo com a quantidade de voluntários no dia. Em seguida, os voluntários abastecem os pontos de alimentação do setor que ficaram responsáveis e de maneira secundária, tentam estabelecer um contato com os animais. Esta tática é repetida no período matutino e noturno, inclusive nos finais de semana e feriados, pois “todos os dias eles têm que comer” (BUCKUP, 2018).

Atualmente, o projeto conta com vinte voluntários, um número considerável quando comparado com o início do projeto. A voluntária líder acredita que esta quantidade é um grande avanço ao relembrar como era feita a divisão da tarefa antigamente: “entre você ter que vir três vezes por semana ou você conseguir dividir o parque em dois, e tem dias que é até dividido em três” (BUCKUP, 2018) .

Outra forma de auxiliar o projeto é a partir de doações em dinheiro destinada a compra de ração, atum e outros petiscos para os animais. Normalmente, este dinheiro arrecadado para a alimentação vem desses vinte voluntários, padrinhos e pela venda de calendários com fotos dos animais da Bicho no Parque.

Com estas doações, a voluntária líder Mayena Buckup passa a adquirir uma ração que vêm direto da fábrica, possuindo como único diferencial ser mais barata devido ao custo da embalagem ser menor e não ter um varejista entre o produtor e cliente.

Durante a entrevista, perguntou-se ao projeto, se esse comprava uma ração com pequenos erros de fabricação, como por exemplo, um produto já embalado que tem 100g a menos do que o esperado. Assim, o custo seria ainda menor do que uma ração de fábrica e não afetaria a saúde dos animais. Entretanto, a voluntária líder negou esta possibilidade (ver apêndice A). Quando a ração chega, essa fica armazenada na residência da voluntária, uma vez que o projeto não possui um estoque próprio.

Na OSCIP Acãochego, os animais são alimentados sobretudo com ração que são colocadas em vasilhas conforme visto na visita ao local. Além da ração, são comprados outros tipos de comida como arroz e peito de frango que ao final do mês totalizam 300kg mensais, já a ração equivale a 5ton por mês.

Em alguns casos, os animais da Acãochego necessitam de uma alimentação diferenciada por motivos metabólicos. Para identificar quais são esses cachorros, utiliza-se uma espécie de barbante vermelho que fica amarrado na porta do canil onde o animal está alocado, o que pode ser exemplificado a partir da imagem ao lado.

Alimentação diferenciada

O Projeto Vira Latas, novamente não possui um dos processos identificados pelo grupo, pois esse quase não possui procedimentos logísticos internos, uma vez que seu objetivo é realizar feiras de adoções.

6.1.4. Processo de Administração de gastos

O processo de Administração de gastos, como o próprio nome diz, refere-se a gestão dos recursos financeiros necessários para manter um projeto social. Esse pode ser exemplificado por meio de fluxogramas dos projetos Acãochego e Bicho no Parque:

Figura 14. Processo de Administração de Gastos (Acãochego).

Processo de Administração de Gastos (Acãochego)

Figura 15. Processo de Administração de Gastos (Bicho no Parque).

Processo de Administração de Gastos (Bicho no Parque)

 

Este processo é um dos que aparentemente coloca mais obstáculos nos serviços oferecidos pelos projetos, pois depende diretamente de agentes externos por meio das doações. A OSCIP Acãochego, gasta cerca de cinquenta mil reais por mês e não arrecada verba suficiente para suprir essa demanda, então, quando isso acontece, a própria voluntária líder precisa completar o orçamento; conforme disse: “[Crise] financeira a gente passa sempre! Você imagina sustentar uma ONG que gasta cinquenta pau por mês (...). E a maior crise que eu já passei, que é o que eu considero que é uma crise crônica (...)” (LEITE, 2018).

Na mesma entrevista, ainda é citado que esse tipo de trabalho funciona apenas por meio de recursos financeiros, onde tudo é pago, o que explicita que por mais que a imagem de projetos sociais desse perfil seja relacionada a uma imagem quase que puramente empática, envolvem muitos fatores que não estão relacionados ao âmbito emocional. Um trecho da entrevista que apresenta esses fatores é:

“Funciona pagando. Essa clínica geral, toda quarta feira, atende só a ONG. (...) Mas é tudo pago. Eu tenho desconto, mas como o volume é muito grande, esse mês de maio eu gastei só de clínica veterinária vinte e cinco mil” (LEITE, 2018).

Os outros dois projetos que foram estudados, Bicho no Parque e Vira-Latas, por terem uma abordagem diferenciada não relataram os mesmos agravantes da OSCIP Acãochego, mas também alegaram que já enfrentaram crises financeiras. Isso explicita que independente da abordagem, a questão financeira é essencial.

“Já passamos por crise, porque na época, nós não tínhamos nosso caixa seguro, hoje em dia ele ‘tá’ seguro, por conta da venda de calendários, rifas, pra deixar o caixa com folga. Mas teve uma época que não tinha, por isso muitos gatos ficaram doentes e a gente gastou muito em clínica e em veterinária e cada voluntário teve que ajudar um pouco” (BUCKUP, 2018).

Percebe-se, então, que a administração monetária dos projetos não é apenas um problema que é tratado como uma questão da instituição, mas também é relacionado a vida pessoal dos voluntários mais engajados. Duas das voluntárias líderes, como apresentado, relataram terem que completar o pagamento dos custos dos projetos com dinheiro pessoal.

É necessário ressaltar que como alegado por Vera Leite, por mais que haja a possibilidade de negociação com alguns parceiros, essas dívidas não podem ser postergadas sempre e não como há como eliminar boa parte delas pois são essenciais como alimentação e cuidados com a saúde. Não é possível alegar ainda que os gastos citados por Vera que algumas pessoas encaram como triviais, como as castrações particulares, podem ser entendidos assim, pois essa possui uma relação direta com a filosofia da organização: o bem-estar do animal como foco.

“Aí tem os mutirões de castração, né? “Porque você não participa? ” Porque você tem ir lá um dia inteiro ‘pra’ fazer o cadastro, ai marca o dia, você chega cedinho, mas fica o dia inteiro com o animal ‘pra’ ser operado. Normalmente de dez a quinta, é uma judiação. Eles ficam em jejum, eles viajaram, não estão acostumados, choram de fome... eu não tenho coragem, então eu pago” (LEITE, 2018)

6.1.5. Processo de Administração de estoques

O processo de Administração de estoques faz referência ao controle dos itens armazenados ou que serão armazenados em um estoque.

No caso da Acãochego, como foi citado no texto sobre o processo de alocação, utiliza-se um cômodo localizado na casa de uma voluntária que mora no terreno da OSCIP como armazém. Como o espaço não é destinado especificamente para isso, torna-se complicado armazenar todos os itens que deveriam estar em um estoque, inclusive o objeto que mais contém no local: ração.

No total, são compradas quatro toneladas de ração a cada mês para os cachorros da Acãochego. Entretanto, como o espaço é mal utilizado, o projeto vê-se obrigado a pedir para que a ração chegue a cada dez dias, o que contribui para baratear os custos de um estoque e aumentar a emissão de gases no transporte.

Ao entrar no ambiente comentado, é possível visualizar alguns cachorros que necessitam de cuidados diferenciados devido a idade, doença ou ausência de um membro corpóreo. Para Vera Leite, se esses animais tivessem outro lugar para se acomodarem, não seria preciso pedir para que entregasse a ração a cada dez dias.

“Como a gente não conseguiu fazer um armazém bem grande de ração, a gente tem um quarto grande que a gente chama de “quarto de ração”, mas ele ‘tá’ sempre cheio de animais. Onde você pensar, tem animal. Ai o quarto de ração tem uns animais que não andam, que são muito idosos, que estão em tratamento... aí a gente põe a ração numa parte e pede ‘pro’ distribuidor entregar de dez em dez dias. Daria ‘pra’ acomodar as quatro toneladas, mas ai tem que tirar os bichos” (LEITE, 2018).

Figura 16. Estoque na Acãochego.

Estoque na Acãochego

Por causa disso, outros itens que deveriam estar no estoque são distribuídos pela chácara aonde o projeto se localiza ou na residência da voluntária líder. As vacinas que são aplicadas nos cachorros, por exemplo, ficam armazenadas na casa de Vera Leite, pois além do ambiente não ter dimensão suficiente para comportar a sala, não há reguladores de temperatura. Conforme disse:

“As vacinas eu guardo na minha casa, eu compro a preço de custo e guardo na minha casa, porque lá na ONG tem uma oscilação de energia muito grande e as vacinas tem que tomar muito cuidado. Então as vacinas eu guardo na minha casa” (LEITE, 2018).

Na Bicho no Parque, a ração que é o principal item armazenado, não possui um local apropriado para esta estocagem, sendo armazenada na casa da voluntária líder Mayena Buckup. No entanto, a situação do projeto é ainda mais agravante, uma vez que o projeto, por ter uma metodologia peculiar, não possui nenhuma sede.

6.1.6. Processo de Cuidados com a Saúde

O processo de Cuidados com a Saúde compreende a execução e/ou delegação de uma tarefa que se relacione com o bem-estar do animal. Esse processo pode ser resumido por meio de fluxogramas dos projetos Bicho no Parque e Acãochego:

Figura 17. Processo de Cuidados com a Saúde (Bicho no Parque).

Processo de Cuidados com a Saúde (Bicho no Parque)

Figura 18. Processo de Cuidados com a Saúde (Acãochego).

Processo de Cuidados com a Saúde (Acãochego)

Este processo, dentro da OSCIP Acãochego, ocorre independentemente se o cachorro está doente ou não, pois ao cuidar do animal saudável evita-se que esse adquira doenças. Entre esses cuidados, por exemplo, destaca-se a utilização de vacinas importadas que são compradas pela voluntária líder. A partir dessa compra, a responsabilidade de aplicação da vacina também é atribuída a voluntária líder.

Ao perguntar se algum voluntário era envolvido no projeto para ajudá-la nesta tarefa ou em outras, ficou entendido que não há especialistas envolvidos na causa, afinal, tornar-se profissional em determinado assunto como medicina veterinária demanda dinheiro e ajudar uma organização deste tipo implicaria em trabalhar sem obter um retorno financeiro, relatou a voluntária em: “[...] não tem ninguém. Custa caro se tornar veterinário, e é da profissão dele que ele sustenta a casa dele, a família dele, né? É muito raro você encontrar um veterinário que se disponha a fazer um trabalho social”.

A responsabilidade de realizar a castração é uma das poucas funções que não ficam sob supervisão da voluntária líder, sendo essa apenas responsável por planejar a data, o transporte para o local e qual clínica irá realizar o procedimento considerando preço e qualidade.

Além da castração e vacinação, quando determinado cachorro está doente fisicamente, esse pode ser tratado em uma clínica geral ou em uma clínica intensiva dependendo do seu grau de saúde. Em casos mais graves, o animal passa a ter consultas semanais e se preciso fica internado, enquanto em casos mais simples, as consultas acontecem quando necessárias. Já aqueles cachorros que possuem doenças emocionais momentâneas ou não são tratados com aflorais. Por fim, os animais que estão saudáveis aguardam para a adoção.

O projeto social Bicho no Parque, além da execução do CED em gatos recém encontrados, leva os animais para a aplicação de vacinas rotineiras e/ou tratamento contra pulgas e vermes em uma clínica que possui parceria. Após isso, os animais ficam em um abrigo provisório até se recuperar, quando se recuperam aqueles que são considerados filhotes dóceis podem ser adotados (mesmo que este não seja o objetivo da Bicho no Parque) e o restante é devolvido para o parque.

6.1.7. Processo de Comunicação entre os voluntários

Processo de Comunicação entre os voluntários

Esse fluxograma explica como que é feita a comunicação entre os voluntários, padrinhos e patrocinadores, do projeto Bicho no Parque e também a interação do projeto social com o público de fora. São vinte voluntários participantes no projeto e que se comunicam pelo aplicativo de mensagens, o Whatsapp, para atribuir tarefas e afins, eles só se encontram 4 vezes ao ano para fazer uma reunião presencial. Já com o público, eles interagem através do e-mail, Facebook e pelo site do projeto, com o intuito de informar sobre o trabalho deles e divulgar para cada vez mais pessoas.

Já na Acãochego não há um fluxograma sobre a comunicação entre os voluntários, porém a voluntária líder informou que um de seus voluntários está sempre muito presente em seu dia a dia o que facilita a comunicação, mas nem todos os voluntários visitam com frequência a OSCIP. Já a comunicação com o público é feita através do Facebook, com o intuito de atrair arrecadações, voluntários e padrinhos. Além do site em que o público pode realizar doações para a OSCIP e também atrair patrocinadores e padrinhos.

6.1.8. Processo de Marketing e parcerias

O processo relativo ao marketing e a parcerias inclui diversas ações menores, como a venda de alguns itens (para exemplificar existem os calendários da Bicho no Parque) e as relações de apadrinhamento. As feiras de adoções, algumas formas para se arrecadar verbas, pedidos de doações e de ajuda em vários âmbitos são promovidos pelos projetos sociais por meio desse processo identificado.

Ele está presente em alguns dos fluxogramas feitos, como por exemplo:

Fluxograma arrecadação de verba

Nesse processo, a presença do marketing e das parcerias é marcante. Os padrinhos e voluntários se envolvem com o projeto através da divulgação feita no Facebook, uma rede social com amplo alcance de pessoas. Essa promoção do envolvimento de pessoas é de extrema importância tanto para esse projeto quanto para todos os outros, assim como é para empresas com fins lucrativos, pois auxilia principalmente no equilíbrio dos gastos das organizações. O projeto estudado também busca arrecadar verbas por meio das vendas. Com as parcerias, eles produzem calendários com fotos dos gatos e utilizam novamente a internet para a venda desses, além das parcerias com petshops da região.

Em entrevista com a Vera Leite, voluntária líder da OSCIP Acãochego, ela falou sobre situações que se encaixam no processo de marketing e parcerias, como quando ela relatou sobre a contribuição que recebe de um patrocinador: “Temos um patrocinador pessoa física, ele é o dono do Hospital Santa Joana (...) ele me dá um valor mensal, que dá exatamente ‘pra’ um terço da ração” (LEITE, 2018). Vera Leite falou também sobre divulgações no Facebook e o grande alcance que a página da organização tem. Porém, mesmo assim ela também fez uma crítica ao falso envolvimento das pessoas com a causa. Existem muitos seguidores na rede social mas a real escassez está nas ações reais que esses podem fazer.

“Tem, tem. A gente tem quase oitocentos mil seguidores, tem um alcance muito grande. Que também não quer dizer muito, né? Porque...nós fizemos a feira e, eu tinha impulsionado o post da feira, nós tivemos 159 mil visualizações, tivemos 29 mil pessoas muito envolvidas, que eu não sei o que o Facebook quer dizer com isso. E para doar cinco cachorrinhos ontem, foi um ‘auê’” (LEITE, 2018).

 

6.2. Apresentação didática

Para fins de cumprir com o 6° objetivo específico do projeto, apresentar o tema de forma didática para os interessados no assunto, foram produzidos 4 vídeos de maneira a apresentar o conteúdo do trabalho didaticamente. Os vídeos abordaram respectivamente: o problema, projetos sociais, processos logísticos identificados e maneiras de auxiliar um projeto social desse tipo. Esses vídeos foram apresentados primeiramente em uma roda de conversa sobre o tema, na feira de projetos integradores do IFSP Campus Pirituba, dia 21 de novembro de 2018, para os que se interessaram no assunto. Nas 4 semanas seguintes, os vídeos foram postados um a um na plataforma da internet, o YouTube, e divulgados em redes sociais como o Facebook, para que mais pessoas tenham acesso aos mesmos, tendo em vista a importância da conscientização sobre o tema.

7. DISCUSSÕES

7.1. Problemas encontrados nos projetos

Nos projetos sociais selecionados e estudados foram identificados alguns problemas que atrapalham a eficiência desses e que afetam diretamente os processos. A identificação desses problemas ajudou a entender de maneira geral algumas das questões dos projetos.

Essas falhas são de modo geral:

  • A falta de estoques: se houver algum imprevisto na entrega de suprimentos, haverá uma crise de suprimentos atrapalhando o rendimento;

  • A má distribuição de funções e a falta de profissionais envolvidos: sobrecarrega os voluntários da instituição;

  • A dependência exagerada do voluntário líder: impede que a maioria dos processos ocorra caso algo aconteça com esse;

  • A falta de participação do Estado: gera a falta de um agente essencial na correção dos problemas; dificulta a aplicação das “soluções”.

7.1.1. Ressuprimento de estoques na Acãochego

Especificamente a OSCIP e o projeto que foram estudados de maneira presencial apresentaram problemas relacionados ao estoque e ao controle financeiro. Isso não permite generalizar, mas indica que esses problemas também podem estar em outras instituições e possuem grande relevância para o bom funcionamento da instituição – significam muito para sua eficiência.

Na conversa com as voluntárias líderes, Vera Leite (Acãochego) e Mayena Buckup (Bicho no Parque), descobriu-se que não são todos os meses que o caixa consegue completar as compras, que em crises como a greve dos caminhoneiros de maio de 2018 a entrega dos produtos pode sofrer uma encruzilhada... O que leva a entender que é necessário um cuidado direto e específico dessas áreas, uma vez que não é trivial seu papel na instituição.

No caso da OSCIP Acãochego, por exemplo, o fato de trabalhar quase sem estoque – e sem estoque de segurança – quase fez com que na greve dos caminhoneiros os cães não recebessem a ração devido à problema nas vias (isso pode ser lido integralmente na entrevista em anexo).

Pode-se dizer então que a presença de uma gestão profissional seria necessária para ajudar no planejamento e na potencialização da eficiência dos projetos, seria uma das possíveis “soluções” - potencializando os processos talvez fosse possível até atender mais animais.

7.1.2. Sobrecarga de voluntários líder

O planejamento e a divisão das tarefas são extremamente necessários para que haja um correto desenvolvimento nas diversas áreas de ação dos projetos. Uma das características relevantes nesse quesito encontradas nas pesquisas de campo e virtuais (OLIVEIRA, BEZERRA; 2007) que reflete muito do dia-a-dia desse tipo de organização é a sobrecarga dos voluntários, principalmente os voluntários líderes.

O contato que tivemos, principalmente com as responsáveis pelo projeto Bicho no Parque e pela OSCIP Acãochego, nos mostrou que existe uma escassez de voluntários e por isso os envolvidos ficam sobrecarregados, principalmente os que chefiam as instituições.

Por mais que em algumas situações os voluntários conseguem tratar da alimentação e dos cuidados mais básicos, a divulgação, o marketing e outras áreas que demandam mais tempo e complexidade dependem quase que exclusivamente de poucos responsáveis. O projeto Bicho no Parque, por exemplo, tem pessoas suficientes para atender as demandas de alimentação dos gatos, mas carece de quem possa atender interessados no processo, criar as imagens de divulgação, determinar as planilhas, comprar os suprimentos e etc.

Uma situação com a qual o grupo se deparou diversas vezes foi a de projetos e ONGs que não puderam nos atender por falta de tempo, consequência da sobrecarga dos voluntários devido à falta de envolvidos. Uma das respostas à mensagem sobre a possibilidade de uma visita ou conversa para compreensão do funcionamento geral e dos mecanismos logísticos foi:

Figura 21. Captura de tela de uma tentativa de agendamento com uma ONG

Captura de tela de uma tentativa de agendamento com uma ONG

7.1.3.  Gastos nos projetos sociais estudados

Como será detalhado no tópico a seguir, os projetos sociais funcionam como empresas com fins lucrativos, o que faz com que seja completamente plausível a necessidade de investimentos, custos e despesas para que seja oferecido um serviço de qualidade. Porém um dos problemas encontrados nesse tipo de organização, tanto por meio da visita quanto por pesquisas virtuais, foi a dificuldade na arrecadação de verba e recursos para que os processos pudessem ser executados.

Um dos problemas dos projetos estudados especificamente é o uso quase que integral das redes sociais para solicitação de doações. Essa não parece ser a estratégia adequada, pois por apenas pedirem doações – não postarem nenhum tipo de conteúdo diversificado – a maioria das pessoas acaba se afastado do meio e então até mesmo as publicações solicitando recursos atingem menos pessoas.

As organizações poderiam, como as empresas que visam ao lucro, construir uma marca e trabalhar sobre ela, mostrando que seu trabalho traz um benefício para a sociedade em geral. Com a construção de uma marca positiva, a arrecadação de verba poderia vir até mesmo de parcerias que para as organizações que possuem o lucro como fim se tornariam mais atrativas, pois seriam mais conhecidas e significativas para os clientes.

7.2. Comparação entre empresas com fins lucrativos e empresas sem fins lucrativos

Conhecendo os espaços físicos dos projetos sociais, pode-se perceber que as organizações não governamentais e os projetos em geral por mais que não possuam fins lucrativos são instituições de alta complexidade que envolvem diversas variáveis, como pôde ser observado anteriormente na apresentação de alguns dos processos envolvidos - tanto nas entradas (acolhimento), quanto nos processos (alocação) e nas saídas (doações).

O planejamento, a coordenação e o desenvolvimento de um projeto que não visa gerar lucro pode ser considerado até mesmo mais complexo uma vez que precisa lidar com fatores que não necessariamente uma empresa privada precisa como a empatia e a dependência de voluntários. Infelizmente essas instituições não recebem o reconhecimento por suas elaboradas ações e geralmente, ou são invisibilidades ou são vistas de maneira marginal no Brasil.

Uma das hipóteses para explicação a partir dos estudos é de que por muitas iniciativas não serem reconhecidas pelo Estado a população não as considera legítimas e que pela falta de uma gestão especializada na área os trabalhos são entendidos como cotidianos e mais simplistas. Essa é uma mentalidade muito difícil de ser mudada já que depende não apenas das instituições, mas do entendimento do problema por toda a sociedade.

7.3. Recursos otimizadores

Os projetos sociais estudados apresentam alguns problemas logísticos, principalmente, relativos a organização e a efetivação da marca. Algumas das propostas que poderiam ser apresentadas aos grupos de maneira mais genérica e geral é a adaptação as novas tendências do mercado. Antes mesmo da apresentação dessas, é importante entender que a adaptação a um novo sistema nunca é simples e, por isso, necessitaria de uma gestão especializada, algo não encontrado durante o estudo de campo [as razões pelas quais já foram apresentadas].

Segundo Idalberto Chiavenato no livro Teoria Geral da Administração, o mercado tem a tendência de ser cada vez mais competitivo. Se o pressuposto é que projetos sociais funcionam como empresas sem fins lucrativos, suas tendências atuais precisam ser analisadas e atualizadas para possibilitar a oferta de um serviço otimizado. Alguns dos conceitos que podem ser incluídos nessa discussão são:

  • Valorização do trabalho em equipe: Como já apresentado no início dos resultados, um problema que as instituições enfrentam é a falta de funcionários/voluntários e a sobrecarga do voluntário líder. Um problema decorrente desse fato é a realidade de que no século XXI, o trabalho coletivo tem sido cada vez melhor entendido e mais utilizado. A falta de funcionários pode sobrecarregar os interessados ou até mesmo desmotiva-los por terem que lidar com essa e até mesmo afetar a imagem da instituição. Outro problema é que se a maioria dos envolvidos não domina os processos, se um responsável precisa se ausentar, toda realidade do projeto é afetada;

  • Organizações enxutas e flexíveis: Um dos dilemas enfrentados pelas organizações é a necessidade de um protocolo rígido. Os clientes, no caso os adotantes, esperam cada vez mais uma empresa flexível que, portanto, atenda em horários especiais e com menos burocracias. Por lidar com vidas a questão da devolução é um problema preocupante (e pelo que foi percebido recorrente) e impede a flexibilização dos protocolos. Uma alternativa que aparenta ser mais viável são as feiras de adoção em lugares de fácil acesso, pois mesmo diminuindo pouco a rigidez do protocolo, facilita a visita e o contato com os animais, o que já é bem visto pelos clientes;

  • Virtualidade: Esse conceito pode ser direcionado para dois sentidos na questão empresarial: a modernização dos sistemas e a presença online. - A modernização dos sistemas: Todos os processos são suscetíveis a falhas, quando esses possuem operadores humanos, essa possibilidade é potencializada. As instituições podem assim tentar otimizar seus processos por meio da inclusão de sistemas mais modernos e tecnológicos para administração dos suprimentos, administração financeira e outras funções. Esses sistemas são caros para serem implantados, o que dificulta o acesso mesmo que traga benefícios posteriores, então algo que pode ser considerado é a parceria com empresas de tecnologia. Isso poderia ser alcançado pelo marketing, detalhado no tópico seguinte;

- Presença online: Os projetos sociais voltados a assistência de animais abandonados só são encontrados na internet por meio de pesquisas específicas, principalmente os de menor influência; o grupo teve dificuldades em encontrar muitos dos projetos mesmo com o uso de um vocabulário específico. No caso da OSCIP Acãochego mesmo tendo um notório número de seguidores, mais de 700 mil curtidas no Facebook, não foi tão facilmente encontrada e não se percebeu uma presença tão ativa nas redes sociais. Uma das “soluções” com implicâncias mais práticas para as instituições seria o investimento em marketing digital pois além de atingir adotantes, seria possível atingir possíveis empresas parceiras e afins;

  • Administração do tempo e da marca como vantagem competitiva:

- Administração do tempo: Sem dúvidas, uma das demandas do século XXI é o tempo. Por isso, organizações que investem no atendimento dos desejos dos clientes de maneira mais rápida atingem mais pessoas e com mais eficácia. No caso das organizações não governamentais há todos os impasses como a falta de funcionários o que pode atrasar o sistema, mas a implantação dos sistemas computadorizados e de um marketing digital mais refinado auxiliariam a atingir mais um objetivo;

- Administração da marca: Assim como nas empresas que possuem fins lucrativos, os projetos precisam construir uma imagem sólida para atrair clientes. Esse recurso, o Marketing, deveria ser um dos principais dos focos das ações meio da organização pois como já dito agiliza e viabiliza diversos processos. Projetos com marcas conhecidas como o “Instituto Luisa Mell” recebem mais notoriedade e, geralmente, isso facilita que se atinja mais empresas para possíveis parcerias e possíveis adotantes – o que pode resultar em mais adoções;

  • Organizar para descomplicar: O voluntário líder deve estar mais relacionado a administração dos processos do projeto do que na realização desses em si, pois uma administração bem executada possibilita que os processos sejam melhores executados.

Essas são só algumas das medidas gerais que podem auxiliar na otimização dos processos dos projetos sociais; na região que o projeto atende, por exemplo, podem existir outras demandas específicas e afins.

8. CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente trabalho permite concluir que o abandono de animais se trata de uma questão de saúde pública e que o cuidado para com eles ultrapassa os limites de uma ação caritativa, sendo algo de extrema importância para a sociedade como um todo. O principal objetivo do projeto, de estudar o planejamento interno de uma organização voltada para o cuidado de animais domésticos abandonados, assim como todos os outros, foi alcançado. Com isso, é possível dizer que esse trabalho pode ser finalizado, porém, através da aproximação com o tema e dos conhecimentos obtidos, se tornou notório que ainda existe um longo caminho à frente para todas as instituições envolvidas nessa causa.

Através da busca pelo cumprimento dos objetivos, foi possível identificar os processos logísticos comumente presentes nessas organizações, como os processos de alimentação dos animais, administração de estoques, comunicação e afins. Isso evidenciou que tais organizações podem ser consideradas tão complexas quanto empresas com fins lucrativos, por apresentarem tamanha logística interna. E assim como nesse tipo de empresa, foi possível encontrar falhas organizacionais nas instituições específicas que foram estudadas, como os problemas de estoques na Acãochego, e outras falhas mais gerais como a questão da sobrecarga dos voluntários líderes. Sobre esse último apontamento, também foi constatado que liderar esse tipo de projeto requer muito tempo, dedicação e dinheiro. Se as pessoas que se voluntariam para tal ação não se envolvessem na causa, as consequências de ter um grande número de animais em situação de rua seriam enormes tanto para esses quanto para a vida humana, por conta das zoonoses e dos acidentes, por exemplo. Sobre o envolvimento de um grande gasto de dinheiro, esse não é especificamente o problema, já que a liderança de empresas também envolve tal item. A questão aqui presente é a dificuldade em arrecadar fundos para arcar com todas as despesas, principalmente porque esses projetos sociais não possuem fins lucrativos.

Para os problemas apontados nas discussões do projeto, foram propostas algumas soluções objetivas, como mudanças na administração de estoques da Acãochego, e subjetivas, sendo mais complexas e relativas à filosofia desses projetos sociais, como o trabalho em cima da mentalidade de que essas organizações também podem ser consideradas empresas. As mudanças que precisam ocorrer, devem ser implantadas com o tempo, visando a melhoria contínua e a otimização do serviço oferecido. Mas é importante frisar que mesmo que as soluções tenham sido propostas, não há garantia de que elas serão implantadas efetivamente ou que funcionarão.

Contudo, a principal forma encontrada para a otimização desses projetos sociais é o envolvimento de mais pessoas da sociedade nessa causa. O auxílio nas tarefas cotidianas, na divisão de gastos e na promoção de parcerias, por exemplo, seria facilitado com a participação de mais voluntários e colaboradores. Para isso, é necessário que a sociedade entenda a importância da atuação desses projetos, que já foi apontada ao decorrer do trabalho. Além disso, para fins de concluir o projeto foram feitos 4 vídeos que abordaram de forma didática o problema em questão, projetos sociais como um tema, os processos logísticos que foram encontrados nesses projetos e diversas formas de ajudar os mesmos. Esses vídeos foram divulgados na plataforma da internet, o YouTube, com intenção de atingir um grande número de pessoas e que essas se envolvam de alguma maneira nessa causa, para que no longo caminho que essas organizações ainda precisam trilhar, os problemas organizacionais encontrados sejam reduzidos ou até mesmo eliminados.

9. REFERÊNCIAS

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AGENCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS. “SP tem aproximadamente 2 milhões de animais abandonados nas ruas”. JusBrasil, 2012 Disponível em: <https://anda.jusbrasil.com.br/noticias/100362251/sp-tem-aproximadamente-2-milhoes-de-animais-abandonados-nas-ruas >. Acesso em: 30/03/2018.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS. “Números e dados das Fundações e Associações Privadas Sem Fins Lucrativos no Brasil- Pesquisa FASFIL 2010 (lançada em dezembro de 2012)”. Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais, s/d. Disponível em: <http://www.abong.org.br/ongs.php?id=18>. Acesso em: 30/03/2018.

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10. APÊNDICE

10.1. A- Entrevista com a Bicho no Parque

Entrevista com Mayena Buckup, voluntária líder do projeto social Bicho no Parque.

F: Entrevistada (Mayena Buckup)

E1: Entrevistador 1 (Gabriela Costa dos Anjos Arent)

E2: Entrevistador 2 (Gabriele Alves dos Santos)

E3: Entrevistador 3 (Gabirelle Melo da Silva)

E4: Entrevistador 4 (Patrick Pili Monteiro)

E1: Então a gente tinha comentado com você, o intuito do nosso projeto é a gente estudar como funciona as ONGs no geral e projetos que cuidam dos animais abandonados, então primeiro a gente queria saber como que começou a ONG, tipo, o geral da ONG e como começou o projeto de vocês?

F: Na verdade não é uma ONG ainda, é um projeto que se chama Bicho no Parque, começou com uma pessoa que não concordava que gatos mais selvagens fossem presos e ficassem esperando por um adotante que nunca ia chegar. Então ela começou atuar no parque ****** resgatando gatos, castrando eles e devolvendo pro ponto da onde eles tinham sido capturados, isso se chama CED (Captura, Esterilização e devolução).

E1: Certo. Por que vocês escolheram cuidar especificamente de gatos no parque? Era por causa da demanda?

F: Era por causa da demanda. E também gatos, eles se fixam nos lugares, cachorro por exemplo eles não fica num lugar só, cachorro vaga mais, então não tem muito como cuidar muito dessa forma.

E1: Certo… Como você comentou então vocês ainda não são uma ONG mesmo, é um projeto.

F: É um projeto.

E1: Mas vocês têm a ideia de se torna uma ONG.

F: É. Um dia a gente pretende ser ONG.

E1: Certo. A população de gato de vocês, você tinha comentado que a maioria eram gatos pretos.

F: Preto e Preto e Branco.

E1: Isso tem a ver com o preconceito?

F: Na verdade é mais porque são os gatos que as pessoas querem menos.

E1: Certo. Vocês têm uma estrutura física aqui no parque?

F: Não. Não temos nada. Não temos sede, não temos abrigo, nada. Nós nos comunicamos por Whatsapp, a gente se encontra umas quatro vezes por ano e se fala por telefone quando se precisa, coisas assim.

E1: Como vocês fazem para armazenar e transportar os alimentos e os mantimentos necessários?

F: A ração é comprada direto de uma fábrica, eu que compro, ela vem ‘pra’ minha casa e ai os voluntários vão na minha casa, retirar a ração para alimentar. Essa ração ela é parcialmente paga por doações e parcialmente paga pelos próprios voluntários.

E2: Agora que você tocou no assunto dos voluntários. Quantos vocês são? E…

F: Nós somos vinte voluntários que se dividem entre alimentar os gatos de manhã e de noite, todos os dias do ano sem exceção, sem sabe assim, nem no Natal, Ano novo nem feriado. Todos os dias eles têm que comer. De manhã e de noite.

E2: Como vocês conseguem esses voluntários?

F: Pela internet, são pegos na internet, quando eu entrei, cada voluntário tinha que vir três vezes por semana no parque, hoje em dia a gente já consegue dividir o parque em dois, então você percebe a diferença né?

E2: Imagino.

F: Entre você ter que vir três vezes por semana ou você conseguir dividir o parque em dois, e tem dias que é até dividido em três.

E2: Como você acredita que esses gatos chegam aqui no parque?

F: Por abandono. Eles são abandonados por pessoas que não querem mais eles em casa por algum motivo e aí eles abandonam aqui no parque. Hoje em dia até porque eles sabem que tem gente que cuida né? E a gente acha muito que é principalmente funcionários do parque mesmo que traz.

E2: É...

F: Porque vira e meche tem ninhada de filhotes, sabe assim, eles abandonam mãe com seis filhotes.

E2: Ai!

E2 Assim. O parque é grande né? Então, como vocês fazem ‘pra’ achar os gatos no parque?

F: A gente conta com a ajuda dos funcionários do parque, então muitas vezes até o próprio funcionário que abandonou avisa a gente, não temos certeza disso, mas a gente acha que é. O parque tem vigilância, tem a guarda civil metropolitana que faz as rondas, tem outros munícipes que de repente acham e eles avisam a administração e a administração do parque entra em contato com a gente, ‘pra’ gente vim buscar.

E2: Quantos gatos vocês têm atualmente?

F: É por volta de cem.

E2: Há algum controle dessa quantidade? Para não ter gatos demais e mantimentos de menos?

F: Não, na verdade quando eu entrei no projeto há sete anos atrás, eles eram por volta de cento e cinquenta, e como a gente conseguiu castrar todo eles (ruído). Quer que eu espere?

E2: Pode continuar.

Como a gente conseguiu castrar todos os gatos, a população está controlada, eles vão ficando velhos e vão morrendo, um dia talvez, não tenha mais nenhum gato no parque, mas acho difícil isso, porque tem abandonos, e as vezes tem gato que, sei lá, é abandonado na avenida e acabam entrando aqui no parque procurando comida, mas é por abandono que acontece.

E3: Quais são os mantimentos necessários para a realização desse trabalho? Por exemplo: medicamentos, ração.

F: Então, olha, é ração e água, que é o que a gente traz aqui ‘pro’ parque para a alimentação deles, eles ganham sachês, atum, eles ganham petiscos vamos dizer. Medicamentos a gente não tem, porque a gente tem uma parceria com uma clínica aqui perto, se eles estão doentes, nós pegamos eles, levamos ‘pra’ clínica e os gatos são tratados lá. E tem gato que é mais difícil de capturar, então, temos que chamar um laçador.

E3: Mas a quantidade de ração por exemplo que vocês dão para um gato é diferente de outro? Por exemplo a quantidade ou o tipo de ração? Tem gato que precisa mais de...

F: Não, todos os gatos recebem a mesma quantidade mais ou menos, e eles recebem uma ração de boa qualidade.

E2: Mas é a mesma para todos?

F: A mesma para todo mundo.

E3: Como vocês adquirem essa ração?

F: Ela é comprada direto da fábrica e é paga parcialmente por doações nós temos padrinhos e madrinhas dos gatos, e parcialmente pelos próprios voluntários.

E2: Dá onde são esses padrinhos?

F: Da internet também. Campanhas que a gente promove no Facebook.

E3: Essa ração que vocês adquirem na fábrica. O nosso orientador ‘tava’ falando que uma ração que não estava nos padrões estipulados...

E1: Para venda.

E3: Às vezes vocês compram esse tipo de ração por um preço menor?

F: Não, a gente compra sempre uma ração, que é uma ração vendida para criadores e para ONGs, então, quer dizer, ela não vem naquela embalagem bonitinha da loja, é uma embalagem mais simples, mas é a mesma ração que é vendida no varejo, vamos dizer.

E3: Vocês têm alguma noção ou calculam a demanda necessária ‘pra’ esse trabalho? ‘Pra’ que aconteça de maneira eficiente sem que falte esses mantimentos?

F: Olha. A gente gasta de seis a oito quilos de ração por ronda no parque. Então, mais ou menos dá ‘pra’ fazer o cálculo.

E2: Como chegaram nesses números?

F: Porque a gente foi vendo... pacotes de ração tem dez quilos, então mais ou menos você vai calculando, e vai sabendo quanto que gasta.

E3: Vocês encontram alguma dificuldade nesse processo?

F: Tinha dificuldade quando nós não tínhamos tantos padrinhos, então a gente gastava mais, os voluntários tinham que desembolsar uma quantia maior, mas agora a gente tem padrinhos e madrinhas quase que suficiente para bancar a ração toda.

E3: Essa divulgação na internet, é feita pelo Facebook?

F: É pelo Facebook principalmente e também a gente tem um site, mas esse site tem o link ‘pro’ Facebook e o Facebook tem o link para o site.

E3: Vocês supervisionam a relação dos gatos no ambiente do parque? Com os visitantes, com o espaço em geral?

F: Desculpa repete a pergunta, que eu não ‘tava’ atenta desculpa (risos).

E3: Repito sim. (Risos). Vocês supervisionam a relação dos gatos no ambiente do parque? Com os visitantes, com o espaço em geral?

F: Então. Não dá para ter muito controle nem muita supervisão, porque a gente não ‘tá’ aqui vinte e quatro horas, então muitas vezes acontece de gente que vem com cachorro, e atiça o cachorro ‘pra’ cima do gato. Já até morreu gato com cachorro, o cachorro pegou. Entendeu? Não tem. Não tem como a gente fazer isso. No que gente orienta as pessoas, é que tentem não mexer muito nos gatos, porque eles não são gatos, que nem gato de casa, eles são gatos mais arredios. Você viu aquele pretinho, ele tentou me bater, ele me conhece.

E2: São mais ariscos né?

F: São mais ariscos.

E2: Então tem uma pergunta sobre isso que é: (pausa) quando um gato é muito arisco, tipo chega um gato aqui, que você não consegue nem ter um relacionamento direito com ele? Tanto com os outros gatos ou com os visitantes do parque ou com os voluntários mesmo. O que vocês fazem?

F: Na verdade não existe isso, o que vai acontecer, o gato vai ficar escondido, ele não vai interagir com a gente. Ele vai ficar mais escondido, mas ele vai ser alimentado, vai ser capturado para ser castrado, vacinado, só que ele não vai interagir com a gente, que nem esse, que eu chamei e ele veio. Ele não vai vir, ele vai ficar escondido, só que ele vai receber comida e água igual aos outros.

E3: Mas essa relação, o primeiro contato, como funciona?

F: Então, a gente não sabe. Porque se tem um gato novo, ou o gato vem e se esfrega na perna da gente...

E2: (Risos)

E3: (Risos)

E4: (Risos)

Ou ele fica ‘pra’ traz da cerca, aí a gente vai tentando conquistá-lo ou não consegue conquistar.

E2: Aí só alimenta?

Ai só alimenta, de qualquer forma, a gente contrata o laçador também ‘pra’ capturar ele, pra poder castrar e vacinar.

E2: Sim.

E4: Sim. Vocês já realizaram uma doação? Ou pretendem realizar?

E2: Dos gatos.

F: Já. Já aconteceu adoção de um gato daqui do parque. Não que a gente pretenda, porque os gatos estão bem aqui, eles vivem bem, são felizes, eles têm um... Óh o quintal deles qual que é...

(Risos de todos)

E2: Bem pequenininho? (Risos)

E1: Foge daquela noção de que o gato sempre precisa ser adotado.

F: Exato. Não precisa, tem alguns gatos que são felizes assim, e eles tem garantida a alimentação e os cuidados. Mas tem gatos que são muito bonzinhos, e aí tem alguém que quer adotar, então a gente deixa. A gente acompanha a adoção, porque inclusive pode acontecer do gato nem se adaptar em uma casa mais, ele ‘tá’ tão acostumado a ter vida livre que ele nem vai ser feliz numa casa, ai ele fica deprimido. Teve um gato por exemplo que ficou na casa de uma voluntária porque teve um problema no olho e ele virou estátua. (Risos)

E2: Nossa!

Ele ficava parado o tempo todo que ficou sendo tratado. Coitado.

E2: Nessa que estão de tratamento. Como funciona assim, isso que você falou, pegar para castrar, vacinação?

F: Então. Na parte de castração e vacinação é feita pelo Centro de Controle de Zoonóses de São Paulo, pela prefeitura, porque isso é uma área pública da cidade, então eles atuam aqui, invés de eles atuarem aqui sozinhos, eles atuam com a nossa ajuda, a gente ajuda a capturar, a identificar o gato que precisa ser castrado e coisas assim.

E1: E como funciona essa comunicação com a prefeitura? É tranquilo?

F: É tranquila, eu tenho um contato super bom com eles, inclusive eu sou voluntária lá, no setor de gatos, todas as terças-feiras a tarde, eu vou ‘pro’ centro de zoonoses no setor de gatos.

E4: Aquele laçador que vocês falaram que pegam gatos ariscos também vem da prefeitura? Ou...

F: Então. Ele vinha da prefeitura, na verdade a prefeitura tem os laçadores e eles são muito bons, mas tinha um que era muito bom, mas ele se aposentou, e agora ele vive só disso, e as vezes a gente tem que chamar ele, porque ninguém consegue pegar o gato, só ele.

(Risos de todos)

E a gente tem que pagar a parte, mas ele faz um preço especial pra gente, mas ele trabalhou muito pra gente pela prefeitura. Quando ele ainda era funcionário da prefeitura.

E4: Vocês já passaram por alguma crise de suprimentos? Dificuldades com mantimentos?

F: Já. Já passamos por crise, porque na época, nós não tínhamos nosso caixa seguro, hoje em dia ele ‘tá’ seguro, por conta da venda de calendários, rifas, pra deixar o caixa com folga. Mas teve uma época que não tinha, por isso muitos gatos ficaram doentes e a gente gastou muito em clínica e em veterinária e cada voluntário teve que ajudar um pouco.

E2: Você falou dos calendários, você deu até ‘pra’ gente. Como vocês fazem e por que vocês fazem?

F: Nós fazemos para angariar fundos, ‘pra’ ajudar não na parte de ração, mas na parte de cuidados veterinários e cuidados com os gatos em si. E os calendários são feitos, por um fotógrafo profissional que vem ‘pra’ cá, a gente acompanha ele, e ele tira essas fotos e a gente manda para um outro voluntário que monta o calendário e ai imprime.

E2: Ficou muito bonito!

E1: A venda do calendário é a que preço?

F: Vinte reais. Quer dizer, não mais, porque agora estamos em Abril, então ninguém mais ‘tá’ comprando. Vendemos pela internet, e também um pouco em alguns Petshops da região.

E2: Tem mais alguma coisa que vocês vendem?

F: Não mais. A gente vendia EcoBags, camisetas, mas dava mais trabalho. Então a gente parou.

E4: Qual é a motivação ‘pra’ vocês realizarem esse trabalho? E você acha que tem algum impacto social nele?

F: Então. A motivação, é que na verdade é que a gente ganha muito mais do que os gatos em si, porque é gratificante você vir e alimentar eles e perceber que você cumpriu uma missão. E o impacto social é que vamos ver os gatos não tão roubando comida por aí, virando lixo.

E2: Sendo maltratados.

F: Sendo mal trados por pessoas que não querem eles. Eles ficam no cantinho deles, como vocês viram, a gente chamou eles e eles nem vieram, eles não tão com fome, tão de barriga cheia, dormindo.

E4: Sim!

F: Não são maltratados, quer dizer, eles até são maltratados, por pessoas mal-intencionadas.

E4: Mas vocês tentam fazer uma conscientização para que as pessoas parem de fazer isso.

E2: Acho que é isso! Queremos parabenizar vocês pelo trabalho.

F: É um trabalho legal!

E1: E também agradecer por terem recebido a gente.

F: Magina! É um prazer!

E2: O Mundo precisa de pessoas como vocês. (Risos)

F: A gente gosta do que faz e precisa gostar do que faz, porque você vim e perder três horas no parque, não é pra qualquer um. Toda vez que eu venho aqui e volto pra casa é de alma lavada, porque é gratificante demais.

10.2. B - Entrevista com a OSCIP Acãochego

Entrevista com Vera Leite, uma das responsáveis e fundadoras da ONG (OSCIP) Acãochego.

E1: Gabriela Costa dos Anjos Arent

E2: Gabriele Alves dos Santos

E3: Gabrielle Melo da Silva

E4: Patrick Pili Monteiro

V: Vera

E1: No site, a gente viu que vocês denominam a ONG como OSCIP, né?

V: Nós somos uma OSCIP (...)

E1: Qual é a diferença entre uma ONG (...)

V: (...) Não somos nós que denominamos.

E1: Certo.

V: Esse é título de classificação qualitativa que foi concedido pelo Ministério da Justiça.

E1: Certo.

V: Foi a primeira entidade de proteção animal que recebeu, no Brasil, esse título de OSCIP. Porque existe, assim, OSCIP ‘pra’ cuidados com criança, crianças doentes, mas não existia para proteção animal.

E1: Certo.

V: E a gente levou três anos e meio ‘pra’ receber esse título. Eles fizeram uma auditoria, né? O Ministério da Justiça... uma auditoria muito grande na entidade e também na minha vida pessoal, profissional, financeira, aí é que eles concederam o título... como se fosse, assim, um ISO 9000 (ruído) que dá a condição de utilidade pública e te classifica como prestadora de serviços positivos, né?

E1: Certo. Na prática são as mesmas obrigações de uma ONG?

V: É uma ONG mais qualificada.

E1: Certo.

V: É isso. As obrigações são as mesmas. Você primeiro precisa ser uma ONG, ‘pra’ depois você poder solicitar esse título. E independe de você receber esse título ou não. É uma coisa que é analisada pelo Ministério da Justiça. E a gente presta contas, nós sofremos auditoria uma vez por ano, e o título é renovado a cada ano depois dessa auditoria.

E1: Certo. Na parte do site que vocês falam da visão do projeto, vocês mostram que é muito importante ‘pra’ vocês participar dessa maneira de projetos culturais e educacionais, e a gente queria saber o porquê desse interesse, e qual a importância desse trabalho que vocês fazem, além de cuidar dos animais.

V: Então, esse trabalho a gente tem desenvolvido pouco, é uma coisa que eu gostaria muito de fazer e que eu acho que é na educação que está a base. Uma criança que é bem-educada, que é bem-criada, que é responsável, ela aprende a amar e respeitar os animais desde pequena. Ela aprende a se conscientizar que é um ser vivente, que é um ser que tem emoções, não é um objeto. Então por isso que eu valorizo muito isso. Só que eu não consigo fazer esse trabalho educacional. Eu teria que ter muita parceria de escolas, teria que ter mais tempo, teria que ser mais jovem, e eu sou muito sozinha. A gente tem um corpo de diretoria na ONG que é mais ou menos fictício, um corpo de diretoria por exigência. As pessoas normalmente não querem nem botar a mão na massa e nem a mão no bolso. E cuidar de uma ONG é complicado.

E2: Tanto por que vocês não têm lucro, né?

V: Não. Eu sempre digo que o nosso objeto de prateleira são vidas. Você lida com vidas, né? Então eu sou bastante criteriosa e bastante chata. Tanto que quando a gente faz feiras de adoções, nós fizemos ontem, só eu faço as adoções. Eu não permito que ninguém leve os meus animais ‘pra’ se responsabilizar e doar. É uma coisa muito de olho-no-olho. As vezes você ‘tá’ conversando numa boa com uma pessoa, de repente... hum, ‘cê’ sabe que não vai ser legal. É uma coisa muito de sensibilidade, eu tenho muito medo... eles são meus filhos, eles me conhecem muito como mãe, sabem que sou eu que cuido deles.

E1: Certo. É... por que vocês escolheram cuidar especificamente de cachorros?

V: Foi meio por acaso... eu adoro gato, tanto que na minha casa eu tenho cinco cães, duas já muito idosas, e tenho dois gatinhos (...) Eu entrei nisso muito por acaso, eu encontrei aqui na COBASI de Osasco duas senhoras (...) com o carrinho cheio de filhotes, aí eu parei, olhei, achei bonito, bem cuidadinhos, e aí na volta eu parei de novo e perguntei ‘pra’ elas se ‘tavam’ vendendo... o que que elas ‘tavam’ fazendo com aqueles filhotes. Aí elas me falaram que elas eram protetoras, que ‘tavam’ tentando doar, que passavam muita dificuldades mas que tentavam proteger os animais. Uma coisa que nunca tinha me passado pela cabeça... Eu saquei ali naquela hora que eu nunca tinha observado que existe animal abandonado e mexeu muito comigo aquilo. Aí eu voltei lá dentro, comprei bastante ração de filhote, falei ‘pra’ elas que eu ia ajudá-las, peguei o telefone delas e foi assim que começou. Aí uma dessas senhoras, a Helena, uns dois anos depois ela teve uma doença, leptospirose, no canil, e nessa época eu já ‘tava’ muito envolvida. Ela ficou muito mal, ficou 6 meses em coma ‘profundo, e se recuperou, mas com bastante sequelas e os filhos ‘proibiram ela de trabalhar com animais. Ela era meu braço direito. Aí eu fui assumindo. É um trabalho pesado... você faz mesmo só por amor, dedicação, é caro...

E1: Você comentou que você tem uma estrutura física ‘pra’ deixar os animais, que no caso é uma chácara. Teve alguma localização estratégica ou também foi acaso?

V: Não, foi assim, a gente ficava aqui em Osasco, e nós tínhamos espaços alugados e nós éramos sempre expulsos dos lugares. Mesmo sendo lugares a vizinhança reclama, os cachorros fazem barulho, né? Lá aonde a gente ‘tá’ tem muita reclamação, só que tem dois diferenciais. Eu tenho a licença anual da Prefeitura ‘pra’ funcionamento, então eu ‘tô’ legalizada, e a chácara é nossa. Nós reunimos umas quatro pessoas e compramos lá, aí depois montamos, né? Então é sede própria. Por mais que reclamem ou que queiram nos expulsar, não tem muito como, né? Uma ONG ou uma OSCIP, ‘pra’ ela se instalar tem algumas exigências do meio ambiente. Não pode ter rio, não ter lagoa, não pode ter água nascente e corrente. É difícil você encontrar um lugar... Nós tínhamos um prazo ‘pra’ Zoonoses aqui de Osasco ‘pra’ mudar e o prazo ‘tava’ vencendo. Essa casa (...) ela tem alguns defeitos que na hora a gente não parou ‘pra’ observar, mas ela tinha uma coisa muito legal. Ela tinha três já aplainados, que é o lugar onde nós construímos os canis. Nós temos mais de cem canis lá. Isso facilitou muito porque não tinha que aplainar terreno, não tinha que desmatar terreno. Mas ela tem algumas desvantagens. Um terço dessa chácara é reserva florestal. Em reserva florestal você não pode mexer, você não pode tirar uma folhinha. Tanto que às vezes cai uma árvore, por temporal ou porque as árvores vão ficando muito velhas, e pelo satélite o meio ambiente vê que tem uma árvore caída e eles vão lá ver se árvore é nativa, se foi preservada... e a gente deixa lá. Caiu, ficou lá. Justo ‘pra’ isso, né? Outra desvantagem que ela tem são as subidas. É muita subida. E o terceiro que é o mais desagradável de todos, que a gente só descobriu depois que a gente já estava lá, agora dia trinta e um de agosto faz onze anos que nós estamos lá. E era frio, chuvoso. Lá, é muito frio. Lá, tudo é muito. Quando chove, chove muito, quando é sol, é muito calor. Quando é frio, é 3°C mais frio do que aqui e é muito úmido. Quando foi em outubro começou a aparecer o sol e a gente viu que lá é um habitat de criaturinhas muito indesejáveis, que são as cobras. Depois eu fui fazer uma pesquisa e descobri que aquela região é uma região de muita cobra peçonhenta, venenosas. Lá tem jararacuçu, jararaca... Elas vivem na mata.

E2: Vocês já tiveram algum problema com isso?

V: Já! Nós tivemos poucas mortes, só quatro nesses onze anos, mas já tivemos muitos animais picados e a gente traz correndo ‘pra’ uma clínica aqui em Osasco. Eles ficam internados, se recuperam, às vezes não se recuperam, mas esse, eu considero o problema mais difícil que a gente tem.

E3: Geralmente vocês tentam evitar isso de que forma?

V: ‘Tô’ pesquisando ainda. Já me falaram de tudo. Mas assim, a gente uma cadeia que atrai. A gente muita ração, são quatro toneladas por mês e a gente armazena, mas as rações ficam um pouco nos canis. Elas atraem o rato. Então tem muito, muito, muito rato. E o rato atrai a cobra. Como a gente faz ‘pra’ prevenir?

E3: E em relação a esse frio extremo, o que vocês fazem?

V: Não tem muito o que fazer. Os canis têm uma parte fechada, onde eles dormem. Normalmente, lá é quente, porque o mínimo de sol que tem, aquece as paredes e aquece lá dentro. E tem a parte de solaria. Vai muito de cada animal. Tem animal que aceita roupa, tem animal que não aceita roupa. E qual a nossa maior preocupação? Aquele que não aceita roupa, quando ele se vê... ele sabe que até uma certa hora tem gente trabalhando, mexendo lá em cima. Quando começa a escurecer, o pessoal terminou o serviço e desce, e eles vão dormir. Mas os mais espíritos de porco, eles ficam tentando rasgar a roupa, tirar, eles fazem tiras. Isso pode enforcar. Cobertor também. A gente põe cobertor, mas fica vigiando. Toda manhã as empregadas tiram todos os cobertores ‘pra’ lavar, se não tiver sujo ‘pra’ tomar sol e ver se ‘tá’ rasgado. Se estiver rasgado, feito tiras, aí já não dá mais ‘pra’ pôr, porque é perigoso.

E2: Aham... e como vocês fazem ‘pra’ conseguir esses voluntários? Quantos vocês são?

V: Pouquíssimos. Atualmente eu tenho dez voluntários, já tive mais. Voluntário é uma coisa complicada também. Eles não querem ir lá na chácara. Eu sempre digo: “Olha, eu preciso pelo menos que um, dois, três, o que for, façam um rodízio...”. Todo sábado eu preciso de alguém aqui. Eu recebo visitas, preciso de alguém para me ajudar com as visitas, eu vacino todos os cachorrinhos, às vezes eu tenho procedimentos da enfermagem para fazer... E é difícil ‘pra’ mim, fazer sozinha. Então eu preciso de ajuda. Mas eles não gostam de ir, porque lá é longe, porque gasta combustível... O que o voluntário gosta? É uma coisa que eu ‘tô’ tentando combater muito. Gosta de fazer o que fizeram ontem. Vai ‘pra’ feira, pega cachorrinho no colo, tira selfie e põe no Facebook. Aí as pessoas falam assim: “Nossa, que bacana! Mas você dedicou seu domingo para isso? Que legal!”. Aí é o máximo, não é isso que eu quero.

E2: É superficial.

V: É superficial. Eu tenho um casal de voluntários que são muito legais, cuidam do site, dos padrinhos e me ajudam de vez em quando, fisicamente. Mas é um trabalho superficial. Eu não sei como as outras ONGs fazem. Eu já tive mais de sessenta, setenta voluntários. E eu, mais ou menos, identifico quais são os problemas. É que eu não posso assumir tudo sozinha. Não dá tempo, é muito difícil.

E1: A senhora tem alguma ocupação além da ONG?

V: Não, eu sou aposentada agora. Mas até dois anos atrás eu trabalhava. Eu sou publicitária. Eu trabalhava, viajava muito, mas eu já tinha a ONG.

E2: Como é o vínculo que você tem com os seus animais?

V: É total. O dia que vocês forem lá, vocês vão ver. Eles ficam loucas quando me veem.

E4: E como são encontrados esses cães?

V: Muitos, os mais idosos, nós levamos de Osasco, que a gente já tinha eles aqui dos canis. Muitos foram levados por pessoas, que é uma coisa que hoje eu não tenho mais condição de fazer. Por exemplo, a pessoa me pede ajuda, insiste, insiste até eu recolher. Hoje em dia o que a gente mais ‘tá’ tendo é fêmea no cio, fêmea prenhe, cachorro atropelado, muito idoso, filhotes..

E2: Vocês separam eles por idade, por...?

V: Sociabilidade. Eu tenho um canil grande, perto da casa da minha caseira, em que eu tenho alguns idosos e filhotes. Embora os filhotes sejam insuportáveis (risos), eles atormentam os mais velhinhos, mas eles acabam se dando bem. Então é por sociabilidade, temperamento. procuro agrupar filhote com filhote, adulto com adulto...

E1: A questão da adoção conjunta, como funciona? Esses cãezinhos já ficam juntos lá?

V: A adoção conjunta só é feita porque eles já vivem juntos. Eles são inseparáveis. Normalmente, são irmãos, ou são animais que foram recolhidos juntos, que são muito ligados. Às vezes, eu sou muito criticada pela adoção conjunta. Por exemplo, nós recolhemos, aqui em Osasco, uma família. Era um pai, um cão bem grande, a mãe e uma filhinha. Essa filhinha morreu picada de cobra. Eles sofreram muito. Eles moravam os três num mesmo canil e eram mesmo uma família. Aí, semana passada, morreu o pai. Já tinha dezesseis anos e ele tinha insuficiência renal grave. E estamos com um problema sério, porque a mãe, a Cacau, que era a companheira dele, ela não se conforma. Ela chora muito, o tempo todo, ela entrou numa depressão grave, ela tenta se esconder. É que a gente ‘tá’ procurando manter ela dentro de casa, minha caseira cuida muito dela, mas ela chora desesperadamente.

E2: Como vocês lidam com essas questões, tanto de doença, o cachorro mais velho, ou dessas questões emocionais?

V: Emocionais a gente dá muito amor, carinho e usa aflorais, nem sempre os aflorais resolvem.

E2: O que é isso?

V: Aflorais são derivados a homeopatia, e eles são ‘pra’ comportamento. ‘pra’ cachorro agressivo, assustado... eu mandei fazer um agora ‘pra’ ver se melhora ela um pouco, se tira ela da depressão. Na parte física, quando é problema físico a gente trabalha com duas clínicas aqui em Osasco. Uma é mais geral e a outra de terapia intensiva, UTI mesmo. É caro, caro ‘pra’ burro.

E2: Eles têm algum desconto?

V: A gente faz campanha de apadrinhamento, faz tempo que eu não faço. A gente convida as pessoas a participar. Já que você não pode adotar um animal, você pode apadrinha-lo, pode ir lá visita-lo, a partir de vinte reais por mês. Vinte reais não sustenta um animal, só que quando você faz o volume, ajuda. Só que dois anos e meio ‘pra’ cá, desde que começou essa crise no Brasil as adoções caíram mais 70%, então ficou difícil, mas tem que manter né.

E2: Vocês têm algum patrocínio?

V: Temos um patrocinador pessoa física, ele é o dono do Hospital Santa Joana. Ele ama profundamente os animais, então ele me dá um valor mensal, que dá exatamente ‘pra’ um terço da ração. Como a gente gasta quarto toneladas de ração, atualmente a gente ‘tá’ gastando lá ‘pra’ sustentar a ONG, entre veterinários, as duas clínicas, medicamento, funcionários, água, luz, aproximadamente cinquenta mil por mês. Eu recebia doações se não cobria integralmente, faltava pouco, agora falta muito.

E2: Como vocês fazem ‘pra’ não faltar as coisas? E se faltar, como vocês resolvem?

V: Eu pago, sai do bolso. Não tem como fazer. Você até negociar o pagamento de ração ou o pagamento das clínicas, mas uma hora você tem que pagar. Ração não é uma coisa que você compra eventualmente, são quatro toneladas por mês, e as clínicas também, ainda mais com o número tão grande de idosos que a gente tem... a gente gasta muito.

E4: Além da ração, tem outros mantimentos que vocês usam ‘pros’ cães?

V: Nós gastamos dez quilogramas de arroz por dia, muito peito de frango e fígado de boi. Porque esses mais idosos ou que estão em recuperação de saúde, eles não comem a ração, eles comem comida. Então a gente faz um arroz com legume, uma carne separada e mistura ‘pra’ dar ‘pra’ eles.

E2: Como vocês armazenam esses alimentos?

V: Como a gente não conseguiu fazer um armazém bem grande de ração, a gente tem um quarto grande que a gente chama de “quarto de ração”, mas ele ‘tá’ sempre cheio de animais. Onde você pensar, tem animal. Ai o quarto de ração tem uns animais que não andam, que são muito idosos, que estão em tratamento... aí a gente põe a ração numa parte e pede ‘pro’ distribuidor entregar de dez em dez dias. Daria ‘pra’ acomodar as quatro toneladas, mas ai tem que tirar os bichos.

E1: Além da ração, tem algum estoque de remédio, vacinas?

V: As vacinas eu guardo na minha casa, eu compro a preço de custo e guardo na minha casa, porque lá na ONG tem uma oscilação de energia muito grande e as vacinas tem que tomar muito cuidado. Então as vacinas eu guardo na minha casa, só eu que vacino, levo ‘pra’ lá num isopor e vacino todos que precisam vacinar. Medicamentos a gente tenta fazer um estoque e nunca deixa acabar. Principalmente cefalexina, baytril, vermífugo...

E3: E em relação à castração? Como funciona?

V: Funciona pagando. Essa clínica geral, toda quarta feira, atende só a ONG. Os animais vêm de lá logo cedo, ‘pra’ tratamento geral e castrações, ai de tarde eles vão embora. Mas é tudo pago. Eu tenho desconto, mas como o volume é muito grande, esse mês de maio eu gastei só de clínica veterinária vinte e cinco mil. Eu ‘tô’ com muito filhote, os filhotes significam três doses de vacina contra virose, vacina da raiva, vermífugo e castração. Então quanto maior o volume, mais pesado fica.

E1: Tem algum funcionário que é veterinário?

V: Não, a minha caseira tem curso de auxiliar de enfermagem veterinária, eles trabalhou muitos anos em clínica e ela consegue ajudar bastante. Mas não tem ninguém. Custa caro se tornar veterinário, e é da profissão dele que ele sustenta a casa dele, a família dele, né? É muito raro você encontrar um veterinário que se disponha a fazer um trabalho social. Aí tem os mutirões de castração, né? “Porque você não participa? ” Porque você tem ir lá um dia inteiro ‘pra’ fazer o cadastro, ai marca o dia, você chega cedinho, mas fica o dia inteiro com o animal ‘pra’ ser operado. Normalmente de dez a quinta, é uma judiação. Eles ficam em jejum, eles viajaram, não estão acostumados, choram de fome... eu não tenho coragem, então eu pago.

E4: Você falou que você trata com muito amor os cachorros, tem uma relação muito com eles, e com os outros funcionários também é desse jeito?

V: Se não é desse jeito a gente manda embora. Minha caseira é muito rígida, eu também sou rígida. Ela que contrata os funcionários então quando ela contrata a primeira coisa que ela fala é “você gosta de animal? ‘tá’, não precisa responder. Você não tem que gostar, mas não pode judiar, não pode levantar a mão ‘pro’ cachorro, muito menos um pau. Se você for pega agredindo um animal, você é chutada da porta ‘pra’ fora.” É mais ou menos assim eu ela contrata. ‘pra’ nós, acima de tudo eles.

E2: Vocês já tiveram algum cachorro que fosse muito agressivo, ou que causou algum problema?

V: Bipolar, já tivemos.

E2: É, como vocês lidaram com isso?

V: Foi muito difícil. A gente tinha um cachorro maravilhoso, tinha uns três anos, mas era totalmente bipolar. Então ele ‘tava’ numa boa e de repente se transformava, virava uns monstros. Nós sempre tomamos muito cuidado com eles, quando nós temos um cachorro agressivo, é minha caseira que lida com eles. Eu tinha um treinador que ia três vezes por semana lá e fazia um trabalho de interatividade com todos eles. Mas ele confiava muito na autossuficiência dele, no domínio que ele tinha sobre os cães, e um dia ele relaxou e a gente ‘tava’ com uns pedreiros lá fazendo um trabalho

V: Mas você fica o dia inteiro ‘pros’ animais serem operados.

E2: Com um animal, imagina com vários.

V: Então, quando você leva, normalmente você leva de dez a quinze, é uma judiação. Eu não tenho coragem, porque eles tão em jejum, eles viajaram, eles não estão acostumados a sair da chácara, eles choram de fome e às vezes vão ser castrados no final do dia e tão em jejum desde o dia anterior, então eu pago.

E4: Uhum. Você falou que você trata com muito amor os cachorros e vocês tem uma relação muito boa com eles, e com os outros funcionários também é desse jeito ou tem mais dificuldade?

V: Quando não é assim, a gente manda embora.

E2 e E3: (risos)

V: A gente vigia muito. O primeiro ‘problema’ que a pessoa, minha caseira é muito rígida, eu sou uma pessoa rígida, ela é muito mais, nós nascemos no mesmo dia, com a diferença de um ano, mas ela é muito pior do que eu. Eu ainda ‘procuro’ entender, eu prefiro compreender, ela já engrossa. Então é ela quem contrata os funcionários, então quando ela contrata, a primeira coisa que ela fala “Você gosta de animal? Ata, não precisa responder, ‘cê’ não precisa gostar, só que tem uma coisa, ‘cê’ não pode judiar, não pode levantar a mão ‘pra’ um cachorro, muito menos um pau. Se você for pega agredindo um animal, ‘cê’ é chutada pelo portão a fora.” É mais ou menos assim que ela contrata os funcionários. Então, para nós, primeiro eles.

E2: É, e você tenta, vocês já tiveram algum cachorro que fosse muito agressivo, ou que causou ‘problemas’ tanto ‘pra’ vocês quanto ‘pros’ outros cachorros?

E3: Bipolar?

E2: É.

V: Sim, já tivemos.

E2: E como vocês lidaram com isso?

V: Foi muito difícil. A gente tinha um cachorro muito bonito ruivo, lindo, um cachorro maravilhoso. Tinha uns três anos.

E2: Novinho.

V: Mas esse cachorro era totalmente bipolar. Então assim, você ‘estava’ agradando ele, de repente uma virada de olho assim e ele se transformava. Ele virava um monstro. Nós sempre tomamos muito cuidado com ele, quando a gente tem um cachorro assim mais agressivo, é só minha caseira que lida com eles. E eu tinha um treinador que ia três vezes por semana lá e fazia um trabalho de interatividade com todos eles. Mas ele acreditava na autossuficiência dele, no domínio que ele tinha sobre os cães. E um dia ele relaxou e a gente ‘tava’ com os pedreiros lá fazendo um trabalho e esse cachorro avançou no pedreiro e quase matou um rapaz, ele não morreu mas quase matou. Esfolou ele todinho, ficou vinte e cinco dias hospitalizado.

E2: Nossa!

V: Quase que foi uma coisa de louco. Ai eu vou falar para vocês e vocês vão ficar chocados. Mas eu precisei sacrificar em benefício dos outros, porque lá eu tenho quatrocentos e eu não posso pensar em um. Eu poderia ser denunciada, para não ser denunciada eu paguei todo tratamento do rapaz, paguei todo período que ele ficou sem trabalhar, conversei muito com ele, com a família dele né, porque se ele fosse na delegacia e me denunciasse, meu canil ia ser fechado. E o que seria daqueles quatrocentos? Ai conversei com alguns veterinários, vários não um só uma meia dúzia, e todos me aconselharam a sacrificar. Foi uma coisa assim muito, muito, muito difícil que eu nunca mais quero passar na vida, mas que eu tive que fazer. A decisão foi minha, minha caseira foi totalmente contra, porque ela achava que foi o treinador que bobeou, mas eu não tinha o que fazer. Eu estava com um rapaz de dezenove anos internado e muito machucado. Mas muito machucado. Ele arrancou quase que todo corou cabeludo dele. Uma coisa terrível, terrível e eu tive que eutanasiar ele. Uma coisa que eu sou contra, eu sou contra a eutanásia, eu só faço a eutanásia em ultíssimo caso, se o animal estiver sofrendo muito, se ele não tiver mais comendo e principalmente se ele não estiver tomando água. Quando ele está tomando líquido, ele está mantendo ele, com uma alimentação líquida, com soro, com água de coco, você mantém o animal um bom tempo só com líquido. Então eu sou totalmente contra, vocês vão dizer assim “É um contrassenso.”, mas foi uma coisa assim que eu fiz pensando nos quatrocentos, porque eu corria o risco de ter meu canil fechado.

E2: provavelmente não era muito saudável para ele essa situação.

V: Ele não era, ele vivia muito isolado, não era um cachorro que dava para você interagir com ele. Eu tenho lá um rottweiler gigante, ele pesa setenta e cinco quilos, ele é muito brabo.

E2: Nossa!

V: E só a minha caseira que entra no canil dele, ninguém mais entra, só ela. Ela entra, ela conversa.

E2: Ele fica sozinho?

V: Fica, um canil bem grande, ele fica sozinho. Ele ficava com a mãe dele, a mãe dele morreu e ele ficou mais nervoso depois que a mãe morreu. E, mas, ela entra e põe a comida e ela vê que se ele dá uma olhada para ela meio, ele fala, aí ela já sai.

V: (som de rosnado)

E1, E2: (risos)

V: Às vezes ela entra, brinca com ele, conversa com ele, agrada, passa a mão, mas tem dia que ele está nervoso. A gente também tem que entender como que é que eles são.

E2: Você falou que vocês fazem feiras de adoções...

V: Uma vez por mês só.

E2: E como funciona essas feiras de adoção? E se vocês tentam fazer adoção também desses animais que são mais ariscos? Tem uma escolha de quem vai ser?

V: Tem porque assim, esse Thor, por exemplo, ele é um cachorro maravilhoso. Ele é um rottweiler que chama a atenção de todo mundo, mas se eu tentasse doa-lo, eu estaria colocando em risco a família. A gente já sabe como é que ele é, eles são temperamentais, os rottweileres. Para adotar um rottweilwer, você precisa adotar desse tamaninho, para ser criado na família depois disso é complicado, porque eles não aceitam domínio, não obedecem, é muito difícil, então assim os cachorros que são. Primeiro de tudo, o bem-estar do animal, um cachorro que é muito arrisco, muito medroso e vai na feira para passar o dia inteiro pode passar mal. Ele fica mal, não vê a hora de voltar para casa. Se isso acontecer, eu não levo ele mais. Não vale a pena fazer o animal sofrer. Para que que eu vou levar? Então a gente seleciona os animais que vão. Agora eu ‘tô’ levando praticamente só filhote.

A1: Quanto é mais ou menos a quantidade de filhotes e idosos que você tem lá? Qual a relação?

V: Atualmente eu tenho quarenta e oito. Idoso eu tenho cento e oitenta.

A1: E o restante é...

V: Eu tenho mais ou menos uns cem em tratamento de saúde. Que tipo de tratamento de saúde? Oncológico muitos, insuficiência renal vários, doença do carrapato que é uma coisa terrível porque ela mata, então eu tenho uma população grande que não é doada.

A2: Como vocês lidam com doenças contagiosas?

V: A doença mais contagiosa que já lidamos é... Ai, eu esqueci. É aquela que dá em filhote, mas também pode dar em adulto. Daqui a pouco eu lembro. É uma coisa que atualmente a gente não tem incidência, porque a gente vacina. Eu só uso vacina importada, eu não uso vacina nacional. Vacina direitinho, as três doses de vacina, respeitando as datas. É uma coisa que precisa ser feita com muita responsabilidade. Se você não tiver isso com muita responsabilidade, os animais ficam doentes porque as viroses, elas vêm pelo ar. Gente do céu, como eu fui esquecer? Sinomose! Sinomose é a doença mais contagiosa, principalmente em animais de rua, pois estão enfraquecidos e mal alimentados, eles estão malcuidados, e em filhotes. A gente tem tido ultimamente também, recolhemos três fêmeas prenhes que é uma situação nova para nós. Uma delas pariu no dia seguinte que a recolhemos. Nós a recolhemos e no dia seguinte ela pariu.

E2: Nossa!

V: E elas são extremamente agradecidas. Elas mostram os filhinhos para a gente, elas vêm, elas pegam...

E2: Awnn que bonitinho!

V: É uma graça! Elas vêm, elas pegam e põem na nossa frente. Eu tive uma, ela já ‘tá’ bem idosa agora, é uma Akita [tosse].

E2: Nossa!

V: Ela foi recolhida prenha também; dois dias depois, ela pariu [tosse]. Foi ‘numa’ sexta-feira e eu fui lá no sábado e eu falei para ela “Morgana, eu quero ver os seus nenéns”. Normalmente, eles ficam bravos, né? Eles não gostam que você veja os filhotes. Ela foi lá dentro, na parte fechada do canil, pegou um por um, eles eram onze, pois eles todos assim na minha frente e olhou, escorreu lágrima do olho dela e ela se ajoelhou...

E2: Que fofa!

V: E eu chorei com isso. Aí desses onzes, seis foram doados, são cachorros muito grandes, muito bonitos e, cinco ‘tão’ lá com ela. Ela mora também em um canil grande.

E1: Ela tem quantos anos, hoje?

V: Ela tem uns doze. Ela é muito bonita, ela é uma Akita bem, bem apurada na raça. E eu acho que largaram ela porque ela ‘tava’ prenha, né? E nós tivemos uma outra que teve bebê dia onze de maio, ela foi recolhida de maus tratos [tosse]. Ela o companheiro dela, o pai dos bebês. E ela pariu logo depois, quatro dias depois que ela ‘tava’ lá na chácara; mas como ela foi muito judiada, ela é braba. Então, no dia que eu entrei para ver os cachorrinhos, conversei com ela, e falei que queria ver os nenéns, ela rosnou para mim e ela litera. Eles eram onze também, ela deitou em cima deles e eu não consegui ver nenhum.

TODOS: Risos

V: Ela deitou, se jogou em cima deles e eu falei “‘tá’ bom, ‘tá’ eu volto outro dia”.

TODOS: Risos

V: A gente respeita muito a posição deles, eles falam com a gente, né?

E2: Sim

E4: Ai ai...Vocês já passaram por alguma crise? E se sim, tipo como vocês lidaram com ela?

V: Crise de que?

E2: Mantimentos ou alguma doença...

E4: Mantimentos, financeira...

V: Financeira a gente passa sempre! Você imagina sustentar uma ONG que gasta cinquenta pau por mês, a gente tem uma ajuda hoje em dia que é mais ou menos quinze mil reais por mês contando com esse patrocinador; aí a diferença tem que pôr. E a maior crise que eu já passei, que é o que eu considero que é uma crise crônica não é nem o fato de não ter ajuda, é o fato de ter ajuda física. Por exemplo, os voluntários que trabalham com a gente...

E4: De botar a massa?

V: De botar a mão na massa! Ou bolso ou na massa. Ou botar a mão no bolso. Nós temos, é na... no Facebook, a maior ONG do Brasil e seguidores do Facebook, nós temos quase oitocentos mil seguidores, né? Então, se a gente tivesse, se cada um doasse um centavo, nós não teríamos mais problemas. E eu faço apelos desse tipo, ‘cê’ não precisa doar muito, mas alguma coisa que você doe ajuda. E é difícil. Essa é uma crise que eu considero crônica.

E2: Sim.

V: Que é a frase que eu uso sempre ”ou põe a mão na massa ou põe a mão no bolso”. E as pessoas não querem ter responsabilidade. Eu ‘tô’ com uma crise de diretoria, uma diretoria constituída e que trabalhe, e eu não consigo. Porque cai sempre naquela coisa, “ai se é mas é muita responsabilidade, se um dia você fica doente, se um dia você morre...como é que fica?”. E ninguém quer assumir! Essa é a maior crise que nós temos. Eu precisaria fazer sucessor da minha caseira e o meu sucessor.

E2: E ninguém quer fazer isso que você fez, né?

V: Não, não [pausa]. Ninguém quer. Porque é uma responsabilidade grande! Você ‘tá’ lidando com vidas.

E2: Sim.

V: Não adianta você chegar lá e falar assim “oh, a comida acabou, hoje não tem. Vocês vão dormir de barriguinha vazia”. Não dá! Ah, ‘cê’ ‘tá’ velho, ‘cê’ ‘tá’ passando mal, ah ‘cê’ não come ração, não é assim! É igual criança, é a mesma coisa.

E3: Agora para finalizar, só mais duas perguntinhas. Você pode contar outra história marcante e depois, qual é o impacto social desse trabalho?

V: Ai a gente tem tantas histórias marcantes, lá...Quando vocês forem lá, eu vou. Cada canil tem uma história, a gente tem muita história marcante [pausa]. Difícil de escolher.

E2: Risos

V: Eu ‘tô’ tentando lembrar uma que seja mais marcante do que a outra [pausa]. ‘Tô’ pensando aqui. ‘Tô’ olhando eles e eu ‘tô’ pensando.

E1: Se você quiser, a gente pode guardar essa pergunta ‘pro’ dia que a gente for lá e conforme a gente vai andando nos canis, você vai contando.

V: Ai, eu preferia, eu preferia! Legal [pausa]. Qual de vocês que foi que me escreveu

E1: Eu.

V: Aah, eu achei que era você...É eu prefiro. Eu prefiro pensar com mais calma e mando um e-mail para vocês.

E1: Pode ser.

V: Contando a história.

E1: Aham, aham, legal.

[...]

V: Têm muitas coisas que você pode motivar nas redes sociais, né? Mas eu não consigo fazer tudo sozinha.

E2: E isso tem um grande alcance, né?

V: Tem, tem. A gente tem quase oitocentos mil seguidores, tem um alcance muito grande. Que também não quer dizer muito, né? Porque...nós fizemos a feira e, eu tinha impulsionado o post da feira, nós tivemos 159 mil visualizações, tivemos 29 mil pessoas muito envolvidas, que eu não sei o que o Facebook quer dizer com isso. E para doar cinco cachorrinhos ontem, foi um ‘auê’.

E1: Foram quantos visitantes na feira?

V: Ah, uns trinta. ‘tava’ muito fraco. Não sei se é porque ontem era dia de festa junina...se, não sei. A gente faz na Pantlona, perto da Paulista, é um lugar de muito movimento.

E2: Você sabe qual foi o máximo de cachorros que você já conseguiu doar em uma feira?

V: Numa feira? Vinte e cinco

E1: E quantas pessoas vão, em média, nessas feiras?

V: Ai é muito variável. Muito, muito, variável.

E1: Você lembra o máximo?

V: Não.

E1: Última coisa... Qual sua motivação?

E2: Para fazer esse trabalho.

V: Amor, amor. Compaixão, na realidade. Muita compaixão.

E1: Qual...

V: Eu peguei, é eu tenho na minha casa, dois gatinhos, né? Uma, é uma oncinha é desse tamanhinho [gesto com as mãos], ela não chega a ser uma anã, mas ela é mion. Meu filho encontrou ela na rua, jogada no meio da rua assim, e ela tinha dois dias tinha um cordãozinho umbilical, ‘tava’ totalmente desidratada. Pois na camisa e trouxe ‘pra’ casa, “mãe, achei um negócio na rua”

TODOS: Risos

V: Não dava para você saber se era um gato, se era um passarinho, se era um rato...

E2: Nossa...

V: Tudo se baseia em amor.

E3: Muito obrigada. Essa conversa nos ajudou muito.

E1, E2 e E4: Parabéns pela iniciativa.

10.3. C - Questionário com o Projeto Vira-Latas

Questionário respondido pela voluntária Luana, representante do Projeto Vira-Latas

  1. Fale um pouco sobre a ONG e seu trabalho.

O Projeto Vira-Latas com Raça foi criado em 2013 por um grupo de amigos apaixonados por animais. Nosso trabalho consiste em organizar e realizar eventos de adoção, provendo toda a estrutura necessária para que protetores de animais tenham oportunidade de encontrar lares definitivos para cães e gatos resgatados da rua ou de situações de maus tratos. É importante ressaltar que não cobramos nenhum valor dos protetores que levam os animais aos eventos de adoção. Nosso objetivo é ajuda-los, uma vez que precisam doar os animais para resgatar outros e assim darem continuidade a seus trabalhos.

Todos os animais que participam dos eventos de adoção são castrados, vacinados e vermifugados. Desde 2013 realizamos 89 eventos e conseguimos lares para 420 animais, entre cães e gatos.

Em paralelo com os eventos de adoção, também financiamos ações de castração e vacinação de animais já resgatados por protetores com poucos recursos financeiros, para que os mesmos estejam aptos para adoção.

2. Por que vocês escolheram especificamente cuidar de cachorros?

Estamos na causa animal para promover a conscientização sobre qualquer espécie, mas na prática ajudamos cães e gatos que são os animais com os quais temos mais proximidade.

3. Vocês possuem alguma estrutura física? Se sim, a localização é estratégica?

Não possuímos abrigo e nem sede. Temos apenas um depósito emprestado para guardar a estrutura dos eventos.

4. Quanto vocês são? Como conseguem voluntários?

Atualmente somos em 4 pessoas integrantes do Projeto. Temos um grupo no whatsapp com mais de 100 voluntários que nos procuram através das redes sociais.

5. Como vocês encontram os cães? Como é criado o vínculo entre vocês?

Não fazemos resgates. Cada animal que participa do evento tem um protetor que já o resgatou e é responsável pelos cuidados até a adoção.

6. De quantos cachorros vocês cuidam atualmente? Existe um controle dessa quantidade para que não possuam cachorros demais ou mantimentos de menos e vice-versa?

Não temos abrigo. Somos responsáveis por dois cães que foram abandonados em um Pet Shop onde fizemos evento e pagamos hospedagem para eles com o valor que arrecadamos através da venda de produtos e doações.

7. Como vocês aconchegam os cães? Em que tipo de ambiente eles ficam? Eles são separados por faixa etária, sexo, condições de saúde, vínculos, etc.?

Não temos abrigo. Cada animal está em lar temporário, hotel, sítio, abrigo, em diferentes situações sob a responsabilidade de seus respectivos protetores.

8. Vocês têm noção ou calculam a demanda necessária para esse trabalho aconteça de maneira eficiente, sem que faltem mantimentos? Se calcularem, há alguma dificuldade nisso?

Como não temos animais, nossa preocupação é com a manutenção da estrutura que conseguimos fazer com as doações e venda de produtos.

9. Quais são os mantimentos necessários para a realização do trabalho (insumos)? Como vocês os adquirem (quantas e quais são as fontes?)? Como armazenam?

Toda a nossa estrutura é comprada através de doações e venda de produtos. São tendas, cercados, caixas plásticas organizadoras, potes de comida, rações e petiscos para os animais. Todo material fica guardado em um depósito de garagem.

10. Como são tratadas as questões de vacinação, castração, controle de doenças e natalidade dos cachorros que vocês cuidam?

Cada protetor é responsável pela saúde dos animais que resgata. Eventualmente ajudamos pagando castração, vacina ou doando algum medicamento.

11. Como é a relação a cachorros-funcionários? E cachorro-cachorro?

Cada animal está em um local sob a responsabilidade de um protetor. Cada situação é única.

12. Quando algum cachorro é muito bravo a ponto de trazer problemas (para ele mesmo, para o ambiente, para a ONG, para os outros bichos…), o que vocês fazem?

Quando o animal está sob a responsabilidade do protetor ele é responsável pelo tratamento que será feito. Quando o animal é adotado indicamos um comportamentalista.

13. Vocês já realizaram ou realizam a doação desses cachorros? Como funciona?

Já explicado acima.

14. Alguma vez vocês já passaram por uma crise? Se sim, como fizeram para solucioná-la?

Temos problemas que surgem ao longo trabalho, mas nada que seja considerado uma crise.

15. Qual a motivação para a realização do trabalho?

Ver animais que foram abandonados e sofreram maus tratos ganhando uma família e tendo oportunidade de ter uma vida com respeito e amor.

16. Tem alguma história impactante que você queira compartilhar sobre os cachorros?

As histórias mais comoventes acabam sendo de adoções de animais idosos, deficientes ou que estão há muito tempo para adoção. Já tivemos oportunidade de proporcionar adoções para animais assim.

17. Vocês acreditam que existe algum impacto social nesse trabalho?

Com certeza. Fazemos o trabalho que seria do poder público.


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1 Nome usado pelo grupo da pesquisa para referir-se aos responsáveis pela organização que no geral lideram e coordenam os processos dos projetos.

Por Gabriela Costa Dos Anjos Arent, Gabriele Alves Dos Santos, Gabrielle Melo Da Silva, Patrick Pili Monteiro


Publicado por: Gabriela Costa dos Anjos Arent

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