Pessoas do discurso científico

As pessoas do discurso, quando convenientemente empregadas, conferem impessoalidade ao discurso
As pessoas do discurso, quando convenientemente empregadas, conferem impessoalidade ao discurso

Discorrer acerca das pessoas relativas ao discurso científico significa relembrar algumas noções gramaticais. Pessoas do discurso equivalem às pessoas gramaticais, utilizadas para que a comunicação possa ser materializada.

Dessa forma, didaticamente, temos a primeira pessoa – representada por aquela que fala; a segunda – fazendo referência àquela com quem se fala; e a terceira – aquela de quem se fala. Tais elucidações nos levam a questionar acerca da forma pela qual se deve traçar o perfil de nosso discurso enquanto pesquisadores, ou seja, se se trata de algo que servirá ao conhecimento coletivo, ele deverá primar pela objetividade ou pela subjetividade?

Foquemos, pois, na terceira pessoa (referente àquela de quem se fala). Trata-se das pessoas gramaticais “ele/ela”, as quais tanto podem se referir a uma pessoa propriamente dita, quanto a um objeto. Eis, então, que na pesquisa o “objeto” é normalmente o assunto a ser explorado, a temática que será investigada. Assim, vejamos o que nos explica Oliveira (2002, p. 62) acerca do conceito de pesquisa enquanto objeto de conhecimento:

A pesquisa, tanto para efeito científico como profissional, envolve a abertura de horizontes e a apresentação de diretrizes fundamentais, que podem contribuir para o desenvolvimento do conhecimento.

Dessa forma, temos que estar cientes de que mesmo havendo um toque de subjetividade por parte do emissor, haja vista que ele, por meio dos argumentos apresentados, deixará “emergir” algumas nuances pessoais, ainda assim não cabe o uso da primeira pessoa do singular. Deve-se, portanto, empregar o chamado plural de modéstia, relativo à primeira pessoa do plural (nós), acompanhado das formas verbais expressas por “acreditar, poder, constatar, verificar”, entre outras, visto que seu caráter semântico diz respeito à constatação, conclusão, certeza de algo, como bem nos afirmam José Luiz Fiorin e Francisco Platão Savioli (1992, p.310) sobre tal proposição:

A diluição do sujeito sob a forma de um elemento de significação ampla e impessoal, indicando que o enunciado é produto de um saber coletivo, que se denomina ciência.

Tendo em vista que as atenções estarão voltadas para o objeto, para o conteúdo, não para quem o escreve, torna-se recomendável, sobretudo, o uso da terceira pessoa do singular, de forma a conferir uma significativa impessoalidade ao discurso. Para tanto, torna-se imperioso o uso de uma linguagem estritamente denotativa, haja vista que os argumentos precisam passar confiabilidade por parte do emissor, concebendo-os como uma verdade na qual se deve acreditar. Ao citarmos o caráter denotativo, fazemos referência à importância da clareza, precisão e objetividade expressas pelas palavras, fazendo com que todos e quaisquer traços dúbios de interpretações sejam automaticamente extintos por parte do receptor.

Tal aspecto se deve ao fato de que, ao transformar suas descobertas científicas em discurso, o pesquisador deve ter em mente que elas não serão mais de sua propriedade, mas sim da comunidade científica de forma geral.


Publicado por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.