Euskera: Um idioma quase perdido

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1. Resumo

Neste trabalho será exposta a valorização da cultura de um povo que tem o idioma como o maior bem e a importância da sua preservação ao longo dos milênios. Uma das características autóctones desse idioma, o Euskera, é sua classificação como língua isolada, ou seja, linguistas e historiadores ainda não chegaram a um comum acordo com vistas à teoriza-lo. Isso faz com que o País Basco. Comunidade Autônoma da Espanha em que se fala o idioma, seja totalmente diferente dos demais, não só a nível espanhol, como na Europa e no mundo. Além disso, nos tempos de hoje, a cultura basca é um exemplo do quanto o ensino pode ser essencial para a solidificação de costumes e principalmente da preservação cultural quando se parte de um idioma. O euskera é considerado o mais antigo da Europa que sofrera desde seu advento, diversos ataques de povos inimigos e posteriormente pela ditadura de Franco. No entanto, com a ajuda da sociedade, que viu nas instituições de ensino um canal para que idioma não fosse extinto, envolvendo os pais de alunos na aprendizagem do euskera, o idioma sobreviveu no mundo globalizado.

2.  Resumen

En este trabajo será expuesta la valorización de un pueblo que tiene como su idioma el mayor bien y la importancia de su preservación a lo largo de los milenios. Una de las características autóctonas de este idioma, el Euskera, es su calificación como lengua aislada, o sea, lingüistas e historiadores aún no han llegado a un acuerdo común a fin de teorizarlo. Lo que hace que el País Vasco, Comunidad Autónoma de España sea totalmente distinta de los demás, no solamente en todo el territorio español, sino en Europa y todo el mundo. Además, hoy en día la cultura vasca es un ejemplo de cómo la enseñanza puede ser esencial para el fortalecimiento y la preservación cultural al tener como punto de partida un idioma. El euskera es considerado el idioma más antiguo de Europa, que ha sufrido, desde su surgimiento, distintos ataques de pueblos enemigos y posteriormente de la dictadura de Franco. Entretanto y con la ayuda de la sociedad, que vio en las instituciones educativas una manera de que el idioma no llegara a su extinción, involucrando a los padres en el aprendizaje del euskera, el idioma ha sobrevivido en un mundo tan globalizado.

Palavras-clave: Lenguaje, educación, tradición popular, preservación de la lengua

3. Introdução

No norte da Espanha, há uma região autônoma conhecida como País Vasco, ou Basco em português. Este condado espanhol tem uma economia consolidada principalmente pelos bancos mais importantes da Espanha, e alguns internacionais. Contudo, o que mais chama atenção nessa região é o euskera, um idioma que pouco se sabe sobre sua origem, usado antigamente como luta e reconhecimento de um povo que estava sendo privado de suas tradições e hoje é o segundo idioma não oficial mais falado do território espanhol e que desperta curiosidade em diversos estudiosos pelo mundo todo. Não só pela peculiaridade da formação de suas palavras, que em nada tem a ver com outra forma de comunicação dentro de seu território espanhol, como também pela incógnita de sua origem, de sua formação e de como, durante todos esses anos, a comunicação foi estabelecida por um idioma restrito a uma região, que sofreu duros golpes para ser extinto, continua sendo falado até hoje.

As páginas seguintes apresentarão elementos pertinentes aos aspectos culturais e filológicos que envolvem a permanência desse idioma na região em que é falada. Será analisado como algumas variantes comunicacionais são relevantes para que esse idioma se configure como língua isolada, suas implicações e reflexos para a relação intersocial dos seus usuários com o restante do mundo. As lutas de resistência pela permanência do euskera trouxeram consciência de pertencimento àquela população. Em um período tenso da história do povo basco, Franco queria unificar a Espanha, não somente como território (já que mesmo sendo um país há várias culturas autônomas), mas também em um único idioma que deveria ser falado.

O objetivo geral deste trabalho é divulgar este idioma pouco conhecido e mostrar a importância da união de um povo em prol da preservação da sua cultura e do seu idioma. Nos dois primeiros capítulos iniciais serão mostrados essa união entre idioma e cultura e também a classificação do basco entre as línguas no mundo, e principalmente mostrar que, mesmo sendo um lugar onde é rodeado de línguas vindas do indoeuropeu, a língua basca até hoje não foi classificada e não teve seu idioma adaptado a essas línguas.

A metodologia usada no TCC foi a proposital (Propósito) e em cada tópico, e a cada capítulo foram utilizadas as três abordagens da metodologia: exploratória, já que o assunto é pouco conhecido; descritiva: onde é descrita a característica da região, o processo de luta de seu povo e a classificação em que o idioma se encontra e a explicativa, onde foi buscado o desenvolvimento dos razões para que o euskera continuasse sendo falado até hoje.

4. Cultura e língua

Falar de cultura e língua separadamente seria um equívoco. As expressões entonações, sotaques e gírias estão diretamente interligados à experiência de como um povo vive e como também mostra a sua formação enquanto comunidade.

O folclore, as tradições, danças e músicas são exemplos claros de que esses dois elementos andam juntos e fazem com que uma nação possa expressar um acontecimento em uma determinada época.

As negociações sociais fazem parte de um acordo que pode estar pautado no empirismo ou no racionalismo os quais constituem dois polos extremos. Os empiristas, preocupados com a objetividade do conhecimento, salientam, sobretudo, o papel desempenhado pela experiência, pois defendem que o conhecimento deriva de fatores, ou seja, que nossos conceitos, mesmos os mais gerais e abstratos provêm da experiência. O Apriorismo Kantiano (o Criticismo) – é uma tentativa de mediação entre o modelo racionalista e o modelo empirista. Como os empiristas, Kant afirma que todo o conhecimento começa com a experiência, mas, como os racionalistas, defende que isso não prova que todo ele derive dela. O pensamento limita-se a unir, os diferentes dados da experiência uns aos outros que, portanto, da origem ao conhecimento, mas a sua validade só pode ser garantida pela razão. As intuições e os palpites subjetivos são as marcas do conhecimento tácito. Este conhecimento está profundamente enraizado nas ações e na experiência corporal do indivíduo, assim como nos ideias que ele incorpora. Este é também conhecido como conhecimento inconsciente, diz respeito ao conhecimento adquirido por meio das experiências e tentativas. Este conhecimento tácito está inserido na visão de mundo e intuição do conhecimento de algo que se desenvolve por processos internos do indivíduo quando submetido a situações que lhe proporcionam experiências inéditas, sendo tais experiências assimiladas através do conhecimento de natureza tácita que o indivíduo já carrega consigo. A palavra “tácito” vem do latim, e significa “silencioso” ou “não expresso em palavras”. Trata-se, portanto, de um conhecimento mais subjetivo e que está relacionado às habilidades da pessoa ou ainda pode-se ir além do conceito quando se trata de uma sociedade que, a partir de seu ideário inconsciente, consegue resistir e preservar sua cultura e linguagem, por meio da necessidade do acordo tácito em manter o seu conhecimento coletivamente. Para consolidar as informações descritas anteriormente, o refinamento no conceito de conhecimento tácito indica, portanto, que ele pode ser concebido como um conhecimento pessoal e contextual que, por estar atrelado à experiência do indivíduo, dificulta sua formalização e expressão através da linguagem.

A ideia de existência de um conhecimento proveniente da experiência foi proposta pelo filósofo Michael Polanyi, The Tacit Dimension, na qual elaborou a estrutura do conhecer tácito, descrevendo detalhadamente a forma como o indivíduo adquire e utiliza os conhecimentos. Ao afirmar que “Nós podemos saber mais do que podemos dizer” Polanyi estabelece o princípio fundamental do conhecimento tácito, considerando que todo conhecimento envolve a ação habilidosa do sujeito. Portanto, o que se caracteriza como tácito diz respeito à interiorização de uma habilidade que permite a realização de uma determinada tarefa ou atividade.

Todavia, o conhecimento envolve múltiplos aspectos e configura-se como um emaranhado de significados que vamos construindo ao longo da vida e, ao contrário do que se denomina conhecimento explícito, o conhecimento tácito envolve uma dimensão desenvolvida e interiorizada pelo indivíduo ao longo do tempo.

A história da humanidade poderia se reduzir às relações entre as palavras e o pensamento. Todo período de crise se inicia ou coincide com uma crítica de linguagem. (OCTAVIO PAZ). A primeira comunicação do homem com outros falantes se faz através da relação familiar, normalmente entre pais e filhos. Nessa relação é estabelecido o primeiro contato com o código linguístico que um ser humano tem em seus primeiros anos de vida. A forma como vê o mundo, como age em determinadas ocasiões e inclusive, até mesmo as primeiras comemorações culturais e familiares, são passadas nesta primeira relação.

Após este primeiro contato, a escola e a comunidade onde está inserido ampliam a visão do mundo de não ser apenas uma bolha com a criação dos pais e da família e que existem outras manifestações de credos, culturas e pensamentos. Unindo os pontos de vistas diferentes e iguais, em alguns momentos, constitui a heterogeneidade de uma sociedade. Muitas vezes quando um grupo se vê ameaçado pela extinção de um determinado ponto que os fazem únicos, a tendência é se unir pra lutar pelo seu objetivo comum que é o fortalecimento da sociedade onde estão inseridos por entender a conexão e valorizar a sua cultura. Através do idioma, uma região pode lutar pelos seus ideais, desenvolver ideias políticas, mostrar a diferença entre as demais áreas e unir toda uma sociedade.

Foucault descreve o termo convenientia como “as coisas que, aproximando-se uma das outras, vêm a se emparelhar.” Assim como a cultura que une um povo que, mesmo tendo diferenças pontuais, se unem em celebrações comuns e em manifestações culturais. Todos esses momentos festivos são comunicações que influenciam a maneira de viver de uma região. Foucault também cita que “Na vasta sintaxe do mundo, os diferentes seres se ajuntam uns aos outros.” Para a comunicação eficaz, é necessário que o idioma seja o meio pelo qual haja compreensão do objetivo comum a ser alcançado. A partir de um código enviado a outra pessoa pode haver a união ou a convergência de ideias. Com essa mensagem estabelecida através de uma comunicação há uma união ou divisão de grupos em prol de seus ideais.

A cultura, neste caso, não é referida no sentido de conhecimento de produtos culturais e históricos (a que alguns chamam civilização, o que inclui conhecimento sobre história, sociedade, literatura, arte), mas à cultura pautada na e pela própria língua. O que se entende por cultura poderia ser enumerado uma grande lista de definições, desde as manifestações mais populares de cultura às descrições acadêmicas mais sofisticadas.

Para alguns, cultura tem a ver com comportamento; para outros está associada a determinados materiais revestidos de valor simbólico; outros, ainda, acreditam que a cultura prende-se a um determinado nível de abstração estabelecido a partir de formas sociais de conduta. Seria em interessante averiguar, neste caso especialmente, ao que os agentes do ensino de línguas entendem por cultura. Mais importante do que tentar uma definição de cultura é procurar uma caracterização de cultura relevante para a sua relação com a linguagem.

A cultura, comunicada por meio da língua natural, desenvolve assim como um tipo modelado de conhecimento. A partir de modelos mentais únicos gerados modelos culturais, que nascem de modelos de representação e interpretação do mundo, amplamente compartilhados e pressupostos por pessoas de uma comunidade, e que intervêm de forma determinante nos seus comportamentos e na compreensão da realidade.

Desta forma, é importante pontuar como a cultura, consolidada pela linguagem de um povo, a manifestação o conhecimento de uma sociedade em seus vários aspectos e dimensões por meio da utilização dos recursos linguísticos. É compreensível como a identidade cultural vai moldando-se ao compromisso social daquele povo em perpetuar o código linguístico, resistindo à alteração de significados que violem o seu percurso histórico-social.

5. Línguas isoladas

Falar sobre o surgimento das línguas é um trabalho mais difícil do que se pode imaginar. O trabalho dos linguistas juntamente com arqueólogos ajuda a chegar a um consenso deste tema. O que se sabe até hoje é que não há qualquer evidência de uma linguagem que tenha mais de 10 000 anos, mas estudiosos acreditam que as primeiras linguagens são mais velhas e têm, pelo menos, 40000-50000 anos. Desta forma, muitos linguistas afirmam que todas as línguas vieram de uma raiz apenas e que se desenvolveram e mudaram através do tempo o que fez com que houvesse separações para a classificação dos idiomas, os grupos linguísticos, para melhor entendimento dos desdobramentos de cada idioma e para identificar aqueles idiomas que hoje em dia não se alam mais. O número de idiomas familiares é crucial para a busca, quanto mais estreita as duas línguas estiverem relacionadas, menos independentes elas são. A questão de quantos agrupamentos filogenéticos (diagrama que mostra a relação evolutiva de um organismo, neste caso, de uma língua) distintos são encontrados em todas as línguas do mundo é altamente controversa já que existe muitos grupos de línguas que ainda não se tem um estudo mais aprofundado sobre sua origem e existe também um grande número de línguas que não se fala mais e pouco ou nada é encontrado sobre sua documentação.

Dentre os diversos grupos linguísticos do mundo, existe um chamado línguas isoladas. São idiomas com sua própria gramática, sua fonética diferenciada e sua raiz diferente de qualquer outro idioma no mundo e que não se assemelha a nenhum outro. Normalmente as línguas isoladas não se chegam a um consenso de origem pelos seus estudiosos. Uma língua isolada é aquela língua natural que não tem comprovação de pertencimento a nenhuma outra família linguística, seja ela viva ou morta. É possível que os idiomas isolados peguem emprestado termos de outro idioma, mas o que o faz tão interessante é que, mesmo com muitos estudos e muita investigação, os linguistas e investigadores não conseguem encontrar vínculos entre essas línguas e qualquer outra no mundo.

Embora existam diferentes concepções do que deve ser considerada uma linguagem e que é meramente para ser visto como uma variedade local ou regional de fala ou dialeto, uma contagem contemporânea realizada pelo Summer Institute of Linguistics resulta em um total número de quase 7.000 idiomas. Este número impressionante foi agora classificado em uma centena de "famílias" e "filos", enquanto 96 línguas ainda não são classificadas e 30 outras são consideradas "línguas isoladas", o que significa que não estão relacionados com nenhuma outra língua. O conjunto de filos é aplicado a agrupamentos de línguas em que tais provas ou indicações estejam ausentes, mas algum tipo de relacionamento é suspeito. Entre os pesquisadores linguísticos, há uma busca por laços de parentesco não notados entre famílias separadas, e progresso da pesquisa da linguagem genealógica geralmente leva a uma redução do número de famílias e línguas não relacionadas isoladas.

Alguns idiomas isolados são conhecidos da grande maioria da população mundial e outros são pouco conhecidos ou até mesmo não existem mais falantes nos dias de hoje. Línguas como o coreano, que é falado por mais ou menos oitenta milhões de pessoas no mundo não é de consenso entre os especialistas de sua origem. Também há outros idiomas mais regionais como, por exemplo, burushaski, euskera, signos nicaraguenses e o etrusco, este último é considerado uma língua morta.

Outra informação sobre a história dos isolados é a área linguística. Uma área linguística é uma região geográfica na qual, devido ao contato de idiomas, compartilham da área e características estruturais, não através de herança, mas devido a empréstimo e difusão. Traços linguísticos da área revelam histórico de contatos e ajuda a explicar certas mudanças nos idiomas envolvidos, incluindo os isolados, como o exemplo das características do basco que tem fonemas emprestados do francês, espanhol, português, asturianos e o galego devido ao contato com estes idiomas vizinhos.

Existem várias características que podem tornar uma língua isolada. Uma característica que pode ser destacada pelo desaparecimento de alguma variedade linguística pode é a descontinuidade na genealogia de uma língua. A variante que desaparece é uma parte que falta na cadeia de variantes. A aparente falta de afinidade entre línguas seria o resultado da perda destas partes que enlaçam uma língua e outra. Produz-se assim uma descontinuidade aparente entre línguas, pois o esperado é a continuidade.

Na Península Ibérica, as línguas formam um contínuo como galego, austuriano-leonês, castelhano de variante andaluz, aragonês e catalão. As línguas isoladas que não têm relação conhecida de parentesco supõem-se uma dificuldade relevante para sustentar esta teoria. Assim: O que passaria com o basco (euskera) e as línguas circunvizinhas, com que o basco apresenta atualmente descontinuidade? Alonso Cortés afirma com relação a essa teoria que “A proposição implica que deveria ter existido alguma variedade do basco e do indoeuropeu em continuidade da que não temos testemunho.” Essa é uma das teorias que mais a frente será abordada: a origem desse idioma específico.

Os problemas de análise dos linguistas interessados na classificação genética são confrontados com o fato de que essas línguas isoladas não têm nenhum parente próximo óbvio, o que ajudaria a identificar um primeiro conjunto de léxicos e morfemas herdados. É difícil chegar a uma classificação uniforme, porque as semelhanças morfológicas e lexicais com outras línguas ou famílias linguísticas muitas vezes não nos permitem distinguir entre material emprestado e herdado. Isso, por sua vez, sugere que, dentro dessas zonas de expansão, os isolamentos linguísticos provavelmente desapareceram como resultado da mudança de linguagem. Evidências indiretas para este cenário derivam de substratos lexicais em idiomas pertencentes a zonas de expansão. Grosso modo, uma linguagem de isolamento é aquela em que todas as palavras são morfologicamente não analisáveis (isto é, em que cada palavra é composta de uma única metamorfose); O chinês e o vietnamita são línguas altamente isoladas.

É necessário distinguir os idiomas isolados das línguas não classificadas, línguas tão pouco conhecidas que não podem ser classificadas, embora às vezes listadas como isolados. Uma linguagem não classificada é aquela para a qual não há dados suficientes (documentação / atestado) para saber se têm parentes - faltam estas línguas dados suficientes para serem comparados de forma significativa com outras línguas e, portanto, seu possível parentesco permanece desconhecido. Idiomas isolados não são agrupados em classificações genéticas maiores porque para eles existem dados e comparações desses dados com outras línguas não revelam parentesco linguístico.

Existem dois tipos de idiomas não classificados. Os primeiros são línguas extintas que são muito pouco atestadas para serem agrupadas com qualquer outra língua ou grupo de idiomas. O segundo tipo são as línguas existentes não classificadas por falta de dados, línguas não descritas o suficiente para compará-las com outras línguas, a fim de determinar se eles podem estar relacionados.

Uma família linguística é um grupo de línguas com um ancestral comum. Esse ancestral comum é chamado de protolinguagem. Nas protolinguagens muitos dos ramos destas famílias mais velhas ainda podem existir, mas eles se separaram tanto e por tanto tempo que não se é capaz de mais descobrir os laços familiares. Em outros casos, a maioria ou todas as ramificações de uma família de línguas antigas pode estar extinta.

A protocultura se dividiu em dois ou mais dialetos, que gradualmente tornaram-se cada vez mais diferentes umas das outras - por exemplo, porque os falantes viviam longe um do outro e tinham pouco ou nenhum contato mútuo - até que um dialeto não conseguia mais compreender os falantes dos outros dialetos e diferentes dialetos deviam ser considerados como línguas separadas. Quando esse cenário é repetido de novo e de novo através de séculos e milênios, desenvolvem-se grandes famílias linguísticas. A descontinuidade entre línguas pode ter outra causa, como o isolamento geográfico que ocorreu, por exemplo, entre o holandês europeu e o holandês da África do Sul (afrikaans).

Existem mais de 100 línguas isoladas no mundo, sem nenhuma filiação comprovada. Um importante problema para o campo, pois atualmente não temos como comprovar níveis mais elevados de agrupamentos filogenéticos que nos dariam uma maneira mais fundamentada de selecionar um maior número de amostra que o conjunto que se há hoje de 300-400 grupos.

Existem dois sentidos nos quais os idiomas isolados não são muito diferentes famílias de línguas de vários membros. Primeiro alguns idiomas isolados podem ter parentes no passado que desapareceram sem serem conhecidos, deixando estas línguas isoladas. Por exemplo, Ket na Sibéria é a única língua sobrevivente da família ienisiano. No entanto, havia outras línguas ienesas, agora extintas: Arin, Asan, Kott, Pumpokol e Yugh (Vajda, 2008). Se essas línguas tivessem desaparecido sem deixar vestígios, Ket seria considerado um idioma isolado. No entanto, desde os dados destas línguas extintas foram registrados antes que eles desaparecessem, Ket não ficou no isolamento, e sim um membro de uma família de línguas, embora o único sobrevivente. Exemplos como este mostram que línguas isoladas de poderiam ter alguma vez na história membros de famílias linguísticas cujos outros parentes desapareceram antes que eles pudessem vir a ser conhecidos, ilustrando por que dessa maneira a linguagem isoladas não são tão diferentes das famílias linguísticas.

Não é possível qualificar o isolamento apenas como algo social e/ou geográfico e que influencia em uma variável extralinguística, porém estes são um dos pontos que caracterizam uma língua isolada. Um exemplo para ilustrar por que isso é problemático, seria a área onde hoje está o País Basco. É uma região montanhosa que fez com que a população pudesse se isolar da invasão bárbara, góticos, romana e árabe que acontecia na antiga Península Ibérica. Este fator geográfico ajudou a unir ainda mais um povo em prol da defesa de sua área. Simplesmente não há escala de "isolamento": há uma construção social, muitas vezes vista como um correlato do afastamento geográfico, embora não necessariamente seja uma consequência dele.

6. Euskera

Há um idioma que, mesmo sofrendo ataques em seus diversos momentos históricos e influências de outros povos, não foi exterminado e esse idioma chama-se o euskera.

O euskera é falado por mais de meio milhão de pessoas, se fala em uma região do Norte da Espanha que teve contato por milhares de anos com o espanhol, latim, francês e mais recentemente. Todo lugar tem seu jeito de falar, seu estilo de emitir uma informação, porém no País Basco, o euskera é o maior motivo de orgulho deles e destaque entre qualquer outra classificação de falantes no mundo. Esse dialeto é uma das poucas línguas classificadas como “idiomas isolados”, são idiomas que não têm conexão com nenhum outro idioma falado, ou que já se falou, no Planeta Terra, segundo os pesquisadores.

Ainda que tenham muitas teorias, não há um estudo que confirme a procedência do euskera e nem como ele surgiu. O idioma é falado em um território que tem além do espanhol, outros dois dialetos com raízes no indoeuropeu, porém o basco por ser falado em uma região montanhosa, que já era falado lá muito antes dos idiomas falados em território espanhol, pôde ter em sua geografia uma forma de não receber influências na forma de falar daquele povo e com isso, o idioma com o passar dos anos, continuou intacto a outros povos que tentaram impor a sua fala naquela região. Historiadores e linguistas creem que o euskera é um dialeto que se fala há 15 mil anos, nas cavernas de Altamira, Ekaine ou Lascaux e essa teoria é baseada nas artes rupestres que em sua maior parte no continente europeu, está concentrada nas cavernas do Norte da Espanha. Além disso, esse período coincide com a época de maior área de concentração humana, durante o período glacial, ou seja, o País Basco teve uma concentração grande de população onde a comunicação era, segundo os estudiosos, o basco e fez com que este dialeto se expandisse a ponto de até certo momento da história, ser o único fala conhecida naquela região.

Ramón Menéndez Pidal em seu livro “Em torno da língua basca” de 1962 consegue de arqueólogos bascos a observação de que as palavras bascas para dizer machado e faca parecem ser compostas pela palavra aitz “pedra”, o que quer dizer que esse idioma vem desde a Idade da Pedra, quando estes instrumentos eram feitos de pedra. Ainda que tenha esse dado de aparecer palavras de objetos cortantes da Idade da Pedra, a dedução não seria que o euskera procede da Idade da Pedra, porém mostra a conservação desse traço desse período, assim como outros idiomas.

6.1. Momentos do euskera

s. I-III Euskera arcaico (o "aquitano")

s. III-X (Período obscuro, que incluiria en s. V-VI o euskera común)

XI-1545 Euskera medieval

1545-1745 Euskera clássico

1745-s. XX Euskera moderno

Desde 1968 Euskera batua

Na chegada dos romanos é quando se tem os primeiros escritos no que se refere à língua basca, assim como as primeiras palavras escritas, que são nomes de pessoas e divindades gravadas sobre as pedras, que é considerado o euskera arcaico. Essa etapa do idioma é denominada assim aos documentos que se tem como testemunho entre os séculos I e III D.C, que são reflexos do idioma falado naquela época. Trata-se de nomes próprios bascos inseridos em inscrições latinas e os escritos em moedas. A maior concentração deles foi achada ao norte dos Pirineus, mas também há uma boa quantidade ao sul e com as mesmas similaridades.

Há que ressaltar, antes de qualquer coisa, a enorme distância de tempo que existe entre o euskera arcaico e o posterior a ele, onde estão registrados os nomes bascos de pessoas, a partir do século XI e dos textos longos, a partir do século XVI.

Os textos em euskera arcaico não estão conservados, mas há inscrições latinas com nomes bascos em lápides ou de motivos honorários que são do início desta era. Contém quatrocentos nomes bascos de pessoas e setenta nomes de divindades relativos, geralmente, a árvores ou animais.

A maior aglomeração de lápides foi achada nos vales Pirineus, onde também viviam os aquitanos, que muitos diferem dos bascos, porém muitos linguistas acreditam que o basco pode estar ligado a língua aquitana, já que alguns nomes de divindades de lápides achadas de inscrições daquela época foram achados no que hoje é considerado território basco. Ainda assim, a grande maioria das inscrições se encontra longe da zona que hoje a língua basca é falada. Essa série de nomes próprios quando se trata de escrever sobre uma língua que não tem outros testemunhos serve de pouca ajuda, porém faz entender um pouco da fonética, de algumas palavras, dos componentes (compostos), sufixos, marcas de gênero e número, a ordem das categorias gramaticais nas palavras compostas. O primeiro escritor que descobriu características bascas em inscrições aquitanas foi o historiador francês Aquiles Luchaire. Muitos dos nomes terminam com sufixos - diminutivos, derivados, locais, de gênero ou outros- que, no geral, são fáceis de identificar e traduzir graças ao euskera posterior (-cco, -xso, -thar, -se...). De maneira que os nomes parecem ser muitas vezes derivados que compostos. As vogais são cinco do basco moderno, isto é, os mesmos do castelhano. Os ditongos são quase exclusivamente au, eu, ai, ei. O semiconsonante u (um u ou v na frente de outra vogal) quase nunca acontece, mas o semiconsonante i (um i na frente outro vocal) sim isso acontece, apesar de pouco.

Existem várias consoantes duplas no meio de uma palavra, como tt, cc, nn, rr e - menos frequente - ll, que, são consideradas e denominadas consoantes fortes. O m aparece muito pouco, quase só antes de b, e, como o p, parece ser simples variante de b; o grupo mb, evolui para m em basco moderno através de “doble m”: sembe> semme> seme ("filho"). O n é apresentado simples e duplo. O r e rr existem, mas nunca em palavras iniciais, como em basco posterior. Junto aos s, havia sibilantes complexas (o que os linguistas chamam de "affrates"),escrito ss e xs, como os tz, ts e tx no basco seguinte (o último pronunciase como o espanhol ch); é muito provável que houvesse dois s de diferentes pronúncia (e talvez também dois ou três apitos complexos de diferentes pronúncia), como em Basco posterior, mas em todos os casos, a grafia latina carece de fonemas para indicar algo nesse sentido. Depois da consoante sibilante consoante, os sons b, d, g sempre se tornam p, t, k.

É uma característica interessante do euskera arcaico a existência do h (fonema de aspiração), porque não existia em nenhuma das línguas vizinhas, o que facilita muito a identificação de uma palavra arcaica como basco. Existe inclusive, depois de consoantes, como em nh, rh, lh e, às vezes, kh e th; e também depois do ditongo. Quer dizer que o h aparece nos mesmos lugares que hoje em dia no dialetos bascos continuam sendo pronunciados.

A teoria do basco como descendente direto do aquitano possivelmente está incorreta. Os atestados do aquitano são de c. 2000 anos atrás, no entanto, as maiorias dos idiomas conhecidos de 2.000 anos atrás se diversificaram e tornaram-se famílias de línguas: românicas, finlandesas, eslavas, germânicas, turcas, Mongol, Polinésia, etc. É provável que o aquitano de tanto tempo atrás também diversificou em diferentes línguas, distintas umas das outras. Desta forma, o basco seria descendente de uma irmã da língua aquitânia e não diretamente da própria aquitânia.

O euskera seguinte ao arcaico seria o euskera obscuro e o euskera comum. O período obscuro ou escuro vai do século IV ao X, depois da consolidação do Reino de Navarra, e esse período tem este nome já que carece por completo de testemunhos linguísticos deste período. Chama atenção esse longo vazio sobre a completa ausência de texto entre a epigrafia da época romana e os primeiros pequenos textos do século X. São um milênio sem nenhum documento ou nada documentado e se contar textos mais longos, são mais de um milênio que só começam a ser produzidos no século XVI. É neste período obscuro (ou escuro) onde o chamado euskera comum ou o euskera do que parte a dialetação que é observada nesta língua desde a Idade Média até os dias de hoje. Uma das constatações para este fato é devido ao distanciamento que se viu um dos outros ao longo do século, desde os primeiros textos medievais que nos permitem ver a distância inter-dialetal até a atualidade. Os dialetos bascos falados foram oito (com 25 subdialetos): vizcaino, guipuzcoano, alto-navarro meridional, altonavarro setentrional, baixo-navarro oriental, baixonavarro ocidental, labortano e suletino, labortano, suletino e roncalês. Mais a frente, em princípios do século XX, passaram a ser sete dialetos: vizcaino, guipuzcoano, alto-navarro, baixo-navarro.

Com a queda do Império romano na segunda metade do século III d.C, começou depois um reforço da língua basca e com uma forte autonomia política do conjunto a respeito da administração principal. Essa autonomia e coesão da população basca aumentariam ainda mais com a chegada das tribos germânicas, conhecida como góticos, a partir do ano 400 com a resistência que os bascos fizeram ante a invasão. Desta maneira, o que o declínio do império romano fez permitir uma potencial coesão entre a comunidade basca, que com a chegada os góticos, produziram o sentimento ainda maior de uma comunidade compacta e economicamente expansiva.

No século V e VI é quando se costuma denominar o euskera comum. A união do idioma costuma acontecer paralelo a uma unificação política. Ainda que não exista união política registradas naquela data, o que se tem é documentado é a luta comum contra os franceses e os visigodos. Durante este tempo de unidade basca que se encontra o euskera comum.

O euskera medieval apresenta um período escasso de testemunhos correspondentes ao século XI a XV achados em antigos documentos de diferentes monastérios. O reino de Navarra cuja extensão geográfica aconteceu nos meados do ano mil, teve como línguas oficiais o latim, o occitano e o romance navarro, mas nunca o euskera, que era a língua falada pela grande maioria da população. As primeiras a palavras escritas no euskera na idade média correspondem a meados do século X e foram encontradas no mesmo documento onde são encontradas as primeiras palavras em castelhano, o documento é conhecido como Glosas Emilianenses. Tais documentos eram feitas de anotações pequenas feitas pelo monge que fazia textos latinos para esclarecer certos significados. As Glosas Emilianenses têm esse nome por ser encontrada no monastério de San Emiliano na comunidade de La Rioja que era, naquela época, a zona limite entre a ancestral língua basca e o recém-nascido castelhano. As duas primeiras frases escritas em euskera são izioqui dugu e guec ajutu ez dugu, que até hoje não se sabe ao certo o que significa.

Cabe citar que também que Gonzalo de Beceo, o primeiro poeta de língua castelhana, introduziu várias palavras bascas em seus poemas o que mostra a evidente relação entre o euskera e os romances locais. Em mil e vinte e cinco, data do segundo texto escrito em euskera chamado de Reja de San Millán, se encontra uma surpreendente relação de documentos da maioria da população de Alava que eram entregues ao monastério. Em mil cento e sessenta e sete, o bispo de Pamplona e um conde fazem um acordo no qual se designa ao euskera como língua navarrorum, ou língua dos navarros.

Os primeiros textos em euskera que se conservam são textos curtos como refrões, cancioneiros, anedotas, cantares, divisões de famílias nobres, etc., que constituem um acervo do euskera medieval. Ainda que na realidade tenham pouco peso, seu valor é muito grande como ponte entre a epigrafia arcaica da época romana e a tardia literatura propriamente dita, no século XVI.

O primeiro livro conhecido escrito em euskera intitulado Linguae Vasconum Primitiae, foi editado em Bordeaux em mil quinhentos e quarenta e cinco, no ano que começou o Concílio de Trento. Seu autor, Mosén Bernard d'Etxepare, padre de um pequeno povo da Baixa Navarra, deu ao livro um estilo mais quente as suas poesias amorosas. Entende-se euskera clássico aos escritos do século que vão desde o primeiro livro até a publicação de mil setecentos e quarenta e cinco do influente dicionário trilíngue de Larramendi. Contudo, o feito de, por causa sócio-políticas, a literatura basca seja um fenômeno tão tardio comporta inconvenientes gravíssimos para o conhecimento do idioma.

Juana de Albret, filha de Enrique II de Albert, foi encarregada da primeira tradução ao euskera do Novo Testamento. Casada com o católico Antonio de Borbón. O livro de Etxepare o segue em mil quinhentos e setenta e um na edição La Rochelle da tradução basca do Novo Testemunho, dirigida a partir de La Vulgata, pelo pastor protestante Joanes Leizarraga a pedido, da também protestante, rainha Navarra Juana de Albret e foi uma tentativa de que fosse compreendida ao maior número possível de leitores. Esta foi a primeira tentativa histórica de conseguir o euskera unificado. Mais adiante, os católicos queimariam os exemplares de suas obras. Em meados de mil e seiscentos produz na língua basca mudanças tão importantes de pronunciação e gramática que permite diferenciar em torno deste ano dois períodos distintos do que podemos chamar euskera clássico à primeira literatura basca entre o século XVI, XVII e meados de XVIII.

O ponto mais alto da literatura basca começa com a escrita por Pedro de Axular, bacharel da Universidade de Salamanca, padre e autor da obra religiosa Guero. Nos séculos XVI a XVIII noventa por cento das obras bascas eram religiosas. O advogado Arnaut Oihenart, contemporâneo de Axular, foi o primeiro escritor laico em euskera. Redatou no subdialeto baixo-navarro uma coleção de refrões e coleção de poemas amorosos escrito em um estilo muito culto; em latim escreveu o volumoso Notitia Utriusque Vasconiae ("Noticia de ambas Vasconias"), livro de grande sucesso na época e que contém uma diferenciada gramática basca. Portanto, a literatura em euskera começou nos séculos XVI e XVII e foi para o norte dos Pirineus e não para o sul, isto é, começou na parte que tinha um número muito menor de falantes bascos. Nesta parte tinha um maior prestígio literário que fez adotar a linguagem de escrita mesmo para autores não-bascos que saíram para Lapurdi de outras áreas da França.

A partir do século XVIII, a literatura basca passou do norte para o sul da fronteira, sendo mais importante nesta região. Deve-se notar que esse século foi, no terreno econômico, de força em Guipúzcoa e Biscaia, mas em declínio norte fronteiriço. No início desse século, a Guerra de Sucessão trouxe o trono espanhol para o Bourbons, opostos à pluralidade linguística. Logo após sua entrada eles homologar o chamado de Decreto de Nueva Planta, que suprimia os aragoneses e catalães e iniciou-se de uma política de centralização linguística favorável ao castelhano. Os falantes de basco no século XVI estavam a margem norte do vale do Ebro em Alava e Navarra e também a cidade de Bilbao, que se tornou bilíngue no século próximo. No século XVIII, a língua basca sofreu um grande retrocesso, territorial em Navarra e Alava e de uma natureza menos visível mas não menos grave no próprio interior das restantes zonas de fala bascas, com a crescente perda de peso da linguagem basca nas diferentes esferas da vida. No que diz respeito ao declínio da língua basca no século XIX registrou um grande retrocesso do basco em Navarra, em que as duas guerras ocorreram, chamadas guerras carlitas e sem dúvida, influenciou o retrocesso em alguns lugares onde se falava o euskera. Em contrapartida, é no século XVIII que é testemunhado um renascimento de interesse na língua basca, representada, sobretudo pelo jesuíta guipuzcoano Manuel Larramendi professor da Universidade de Salamanca e autor da Primeira Gramática Basca e do primeiro dicionário basco moderno, explicitamente destinado para promover o uso de basco e que por sua vez deu um forte impulso ao dialeto. É denominado euskera moderno a partir da escrita do Dicionário Trilíngue de Larramendi em 1745 até o mais específico, Euskera batua, de nossos dias. Com a criação da linguística moderna havia muitos filólogos europeus que estavam interessados em uma linguagem tão única quanto a língua basca. Por volta de 1800, Guillermo de Humboldt fundador da Universidade de Berlim visitou o País Basco duas vezes e iniciou uma série de estudos sobre sua língua que se fez conhecer nos meios universitários e cientistas da Europa e que despertaram grande interesse por ela.

Em meados do século XIX, o príncipe Luis Luciano Bonaparte, sobrinho de Napoleão I, e especialista em Química e Mineralogia, dedicou um grande esforço à dialetologia basca, tornando-se o fundador indiscutível da disciplina. Em 1863 ele publicou o primeiro famoso mapa dos dialetos bascos, dos quais ele distinguir oito; que por sua vez, dividido em subdialetos. Naquela época a língua basca tinha parado de falar na maior parte de Alava, em toda a parte sul de Navarra e a oeste de Bilbao. Duas guerras importantes aconteceram naquele período (1833-39 e 1872-76) o que representou um sério golpe à manutenção da língua basca, já que reforçou a centralização castelhana. Por outro lado, no fim do século XIX e grande parte do século XX ocorreu uma forte industrialização em Vizcaya e Guipúzcoa primeiramente, e Navarra e Alava na sequência, um processo que atraiu à terras bascas um grande número de imigrantes não familiarizados com a sua língua. No final do século XIX houve um forte movimento de interesse pelo Euskera por pesquisadores europeus que deram impulso aos estudos relacionados a essa linguagem. No início do século XX, em 1907, foi fundada a Revista Internacional que seria publicada até a chegada de Franco. Esta revista coletava as colaborações de cientistas estrangeiros e locais de grande prestígio. Em 1918 realizou o Primeiro Congresso de Estudos Bascos, promotor da Academia de Língua Basca, Euskaltzaindia, criada no ano seguinte. O sacerdote vizcaino Resurrección María de Azkue foi o primeiro presidente desta instituição essencial para a língua basca e autor de um dicionário importante e numeroso que trata sobre este idioma.

O regime de Franco, especialmente no início, proibiu todas as manifestações favoráveis ao idioma basco e congelou os estudos e atividades em torno desta língua coincidindo com uma forte imigração de trabalhadores industrial, especialmente de Castela e Estremadura. A contrapartida desse importante golpe na vida da língua basca foi o surgimento nos anos sessenta de um poderoso movimento de defesa popular da língua clandestina Basco em uma primeira fase e legalizada após a morte do general-clandestino. Refletiu-se num ressurgimento literário e, sobretudo, na criação de uma poderosa rede de Escolas de língua basca para crianças e até adultos, que será falado mais a frente. O movimento se espalhou igualmente pelas províncias norte-pirenaicas.

A partir de 1968, a Academia da Língua Basca iniciou a adoção de uma série de normas para o estabelecimento de um basco literário comum que favorecer uma comunicação homogênea entre as diferentes províncias. É o chamado basco unificado ou, em basco, batua. O linguista Luis Mitxelena foi crucial para a vida da língua basca foi, que é considerado o verdadeiro pai linguística basca moderna e autor de cerca de dez mil excelentes páginas de análise linguística, entre as quais se contam vários livros importantes e artigos infinitos em revistas especializadas. Atualmente, a Academia, entre outras tarefas, está desenvolvendo dicionário histórico completo, um atlas dialetal e uma gramática oficial. Além disso, várias associações populares de falantes bascos, e dentro da tentativa compreensível de promover o uso falado dos diferentes dialetos bascos, estão promovendo até mesmo seu uso escrito, já que a língua basca não dispõe de única gramática normativa de escrita, como as outras línguas do mundo, que há vários regulamentos. A língua basca hoje é co-oficial com o castelhano nas três províncias de Alava, Vizcaya e Guipúzcoa, e em poucos lugares de Navarra também e carece de oficialização nos territórios do lado francês.

Segundo Theo Venneman, linguista da Universidade de Ludwig-Maximmilian, afirma que:

“Todas as línguas têm sua origem em algum lugar, muitas vezes não sabemos de onde. Porém na época que tratamos aqui, o euskera não veio de nenhuma parte, já estava aqui quando chegaram às demais línguas. Sob esse conceito o euskera é a língua mais antiga da Europa. Todas as outras línguas vieram do Oriente que foram Tão influentes, que podiam impor suas línguas aos habitantes primitivos.[...]o euskera é a única sobrevivente de toda uma família idiomática europeia.”

Esta fala mostra que o dialeto euskera foi um sobrevivente durante dois momentos da história humana e que hoje em dia sobrevive a um mundo que cada vez mais tem por costume importar palavras. Mesmo estando em um território onde se fala o espanhol, o euskaldunak, falantes de euskera, não adaptaram nenhuma de suas palavras para assimilar palavras do idioma falado em grande parte da Espanha.

Antes dos povos dominarem e imporem seu idioma como uma maneira de domínio do povo, a Europa tinha milhares de dialetos que diferenciava cada grupo social e povos que habitavam naquele continente. Dentre todos os idiomas que foram extintos pela dificuldade de se sobrepor a outros idiomas que estavam sendo falados com mais frequências, o euskera sobreviveu e continua até hoje sendo um mistério tanto em sua origem, quanto no método de como este dialeto continuou a ser falado naqueles tempos remotos, onde conquistadores facilmente faziam das terras conquistadas uma continuação de seu território natal.

6.2. Métodos de sobrevivência do idioma em um momento hostil:

A população basca tinha seus métodos para continuar falando sua língua, fazendo com que ele se fortalecesse ainda mais e fosse passado para a próxima geração.

“Os bascos tem sensação de que o idioma é a característica mais importante que os identifica como povo, simplesmente não o querem perder.” (SALABURU) Esta afirmação de orgulho de sua forma de comunicação que o povo basco sente se viu desde a época em que a Espanha estava passando pela ditadura. As instituições de ensino clandestinas do euskera, financiadas por um grupo de pais que queriam ver seus filhos alfabetizados neste dialeto, tiveram o papel de maior importância para que esse sentimento fosse passado para frente e foram utilizadas como método de preservação e continuidade da língua. Essas instituições de ensino eram chamadas de ikastola e até hoje funcionam como um modo de transmitir a memória e a identidade cultural de um povo. A função da escola, assim como na referida instituição acima, deve estar pautada na perpetuação da cultura e tradição popular.

Sobre a aprendizagem do idioma vale ressaltar que a sobrevivência se deu a partir doo ensino da língua desde a educação infantil, com as ikastola. “É a sociedade e não a natureza que deve figurar em primeiro lugar como fator determinante do comportamento do homem. Nisto consiste toda a ideia de desenvolvimento cultural” (VYGOTSKY, 1995a, p.89) Por esses e outros motivos, destaca-se a relevância de um ensino sistematizado e bem alicerçado nos fundamentos da aprendizagem na idade mais tenra da criança.

6.3. O objetivo de fazer o euskera um motivo de orgulho ao seu povo:

- O euskera nos dias de hoje em comparação aos anos 80:

Estudos apresentados no início de 2017 mostraram que metade da população do País Vasco é bascohablante, ou seja, tem como euskera sua primeira forma de comunicação. A outra metade tem como idioma principal o espanhol, porém falam o dialeto. A estimativa do governo basco é fazer com que até 2036 73,2% a 83,4% tenham como primeiro idioma o basco.

Para que esta estatística alcance o seu objetivo o governo basco incentiva o uso do idioma em diferentes esferas da sociedade, incluindo as ruas, em anúncios, sinalizações e em lugares públicos. O menor índice de falantes do dialeto são adultos entre 3640 anos, por este motivo, o governo basco, com incentivo das universidades, criou uma rede de ensino chamada euskategis (centros de ensino do euskera para a população adulta). Cada ano se matricula mais de 30 mil pessoas para aprender o euskera ou melhorar o seu conhecimento.

“O caso do euskera na Comunidade Autônoma do País Basco é um dos exemplos mais conhecidos da recuperação da língua, com um dos níveis mais altos de consenso social e a taxa de recuperação mais rápida (em termos percentuais)”. (Miquel Gros i Lladós) Com isso é visto que a partir de um interesse do governo em preservar suas raízes, sua cultura, que é o que difere o seu povo de outro, as tradições não apenas ganham continuidade, como também consegue elevar o número de pessoas interessadas a preservar e solidificar essa identidade popular.

- O euskera nas próximas gerações:

Como foi citado no tópico anterior, a estimativa do governo basco é que o euskera até 2036 seja falado como língua principal por mais de 80% da população basca. Este dado, para o cenário político e econômico, é de interesse direto ao governo que se beneficiará do sentimento de pertencimento a um povo que não se identifica mais com a Espanha e que cada vez mais pede a independência da região.

Entretanto, para que o objetivo seja concretizado, a educação é o ponto mais importante, pelo fato das instituições e redes de ensino do governo continuarem sendo o principal meio de expansão do idioma para área e faixas etárias que não tiveram oportunidade de serem alfabetizados no euskera.

Muito do interesse de se aprender o euskera, mesmo na fase adulta, é que a partir do momento que o governo começou a investir na revitalização e ascensão do dialeto, os concursos para professor, independente da área, começaram a feitos tanto em espanhol quanto em euskera. Ou seja, ainda que muitos dos professores das áreas que não são ligadas a língua não tenham sido alfabetizados em euskera, para exercer sua profissão, tiveram que fazer um curso de aprimoramento ou entrar na alfabetização do euskera.

O gráfico acima mostra o crescimento do euskera de 1991-2011 e o quanto foi e é importante esse projeto para o resgate do uso da língua.

6.4. A importância da família na fortificação de uma cultura:

A família é parte importante desse processo de crescimento da comunicação do euskera nas diversas camadas da sociedade. Isso porque o governo não obriga todos a falar o idioma como primeira língua, ainda que na escola ambas as línguas sejam ensinadas. Cabe aos pais escolherem o que querem aos filhos e para eles é passado três modelos educacionais: D (euskera como a língua principal e castelhano como língua secundária), B (euskera e castelhano como línguas principais e secundárias) e A (castelhano como língua principal e euskera como língua secundária). A maioria dos pais, como mostra no gráfico, preferem que seus filhos tenham como ensino da primeira língua o euskera, ou seja, cabe também aos pais dar continuidade a este processo de consolidação do dialeto para o desenvolvimento dos seus filhos como cidadãos bascos.

O euskera é um bom exemplo de como, a partir da participação dos pais pode ser essencial para a revitalização e um trabalho de fortificação de uma cultura. “A sociedade basca colocou sua autoestima neste patrimônio, como pode se apreciar em tantas manifestações em sua defensa, financiando com frequência de seu bolso os esforços para reforçar a vida social da língua” (INTXAUSTI). As pessoas que nasceram nos anos 80, onde nas escolas daquela região não se tinha um programa de incentivo para a fala do dialeto, estão em menor número entre os bascohablantes. Enquanto os de idade entre 5 e 19 anos, nascidos após o surgimento desse novo modelo de ensino, são os de maior índice.

Pode-se perceber que para ter um bom resultado, para conseguir um objetivo traçado através da educação, é necessário que o projeto seja visualizado de médio a longo prazo. Abaixo, o gráfico mostra a evolução da projeção do euskera ao longo dos anos.

Em todos os tópicos que foram mencionados anteriormente tentam dar conta de desvendar o mistério enigmático da sobrevivência do euskera. A partir da luta de um povo pautado no fortalecimento da sua identidade cultural, o idioma configurou-se como grande veículo de resistência.

Inicialmente houve uma estratégia para driblar a imposição de uma única língua na época da ditadura. A sociedade se uniu em torno da linguagem, que os distinguia de qualquer outra civilização para que fosse consolidada desde a tenra idade.

“A operação efetiva de usá-lo em qualquer das funções linguísticas que a comunidade possuI em um momento histórico concreto” (Sánchez Carrión, 1987:35) Anos mais tarde, com toda a sociedade em prol da continuação desse objetivo de continuar com o feito de preservar uma língua única, de características peculiares, em um mundo globalizado, a euskera vem cada vez mais aumentando o número de falantes como língua principal, fazendo com o que muitos idiomas não têm conseguido fazer: bloquear as influências estrangeiras em sua comunicação. Nos dias de hoje, pais, governo, professores e alunos estão unidos com o objetivo de fazer com que os costumes, as tradições, o dialeto, seja repassado e propagado inclusive para que não bascos se interessem no idioma e que faça dele um meio de conhecer uma cultura rica em história, importância geográfica e antropológica seja cada vez mais estudada fazendo com que a ameaça de extinção da língua seja cada vez menor. “O euskera carecia das formas comuns ou estandartes que precisa qualquer idioma para sobreviver no seio de uma sociedade moderna, ou seja, a língua comum que todos os bascohablantes usariam na administração, nos meios de comunicação, no ensinamento da atividade cultural, os diferentes serviços e em diversas áreas especializadas.” (Baztarrika, 2010: 149)

Os bascos mostraram que defender suas origens em nada tem a ver com o isolamento do mundo e sim fazer com que um povo possa ser um destaque em um mundo onde é cada vez mais comum receber e enraizar algo vindo de uma sociedade com outros costumes diferentes e que isso tudo passa pela instituição de ensino e mostra o poder que a escola tem perante a sociedade.

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Publicado por: Luinara Menezes Alves

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