Falhas gerenciais - Falsidade

Mara Margareth, mais conhecida como Mara Verbal, pois falava mais rápido que a velocidade de seu pensamento, era gerente de uma grande empresa. Sempre abusou da posição hierárquica que ocupava. Seu cargo lhe proporcionava ficar rodeada de pessoas, numa bajulação total, e ela adorava isso.

Tinha como habilidade a manipulação de seus supervisores. Em qualquer discussão sobressaía-se, parecendo ser a ‘dona da verdade’, e sempre tinha razão. Tinha certa arrogância, pois o cargo lhe subiu à cabeça. Cargo esse que foi, de certa forma, usurpado de sua antecessora, por colocações inadequadas feitas sutilmente junto à Direção da Empresa.

Nesses tempos difíceis, onde emprego está complicado de se conseguir, vários de seus supervisores se subjugavam aos seus caprichos, mas estavam infelizes em seus postos.

Mara Verbal adorava aparecer. Era a primeira a programar festas, comemorações e coisas do tipo. Inventava até batizado de boneca como desculpa para fazer uma festa. Era o tipo de pessoa que ao ver o clarão de um relâmpago já se armava toda, fazendo pose, pensando que fosse ‘flash’ de máquina fotográfica.

Vivia a enviar comunicados via intranet, por mais banal que fosse o assunto. Logicamente isso incluía desde coisas sérias até convite para chá de bebê. Seu capricho maior era enviar muitos e-mails aos seus supervisores fora do expediente, demonstrando que, para ela, a vida era é só trabalho. Sábados, domingos, feriados eram dias normais de atividades.

Os comentários entre seus comandados eram constantes sobre a maneira dela ser. Críticas sobre suas manias eram feitas em todos os cafezinhos.

Ela gozava de certo prestígio junto à cúpula, uma vez que ela trazia dividendos para a empresa e nunca deixou que os problemas de seu pessoal fossem de conhecimento dos dirigentes.

Sua tática era interessante: toda vez que algo não estava bem, lá vinha festa! E como o populacho adora pão e circo, “vamos deixar pra lá! Está tudo bem!” Tudo bem para o povão, mas não para aqueles que eram os responsáveis pelos resultados da empresa.

Incentivava os funcionários a procurarem-na (embora parecesse que lhes dava atenção, não era bem assim), dizendo: “Se vocês tiverem qualquer problema, me procurem”. E mantinha a política de ‘portas abertas’. E como muitas pessoas adoram falar com o superior do superior, pulando degraus na escada hierárquica, isso era um prato cheio para Mara Verbal. Era mais fácil vê-la conversando com os funcionários do que com seus supervisores em sua sala. E como eles gostavam disso, ela os incentivava cada vez mais. Podemos até dizer que ela era a ‘rainha da média’.

E de tanto fazer média, e de tanto pensar que estava bem, começou a esquecer as pessoas, principalmente seus supervisores e começou a sentir-se no topo e algumas de suas atitudes já não mais agradavam aos funcionários. As pessoas começaram a perceber que estavam sendo traídas e estavam sendo enganadas.

Dificilmente ela dava razão aos seus supervisores. Ela aceitava o que os funcionários falavam, até mesmo banalidades, como sendo a pura verdade. E com isso mantinha-se no cargo, inclusive com algumas colocações aos seus supervisores, do tipo: “Olha, está acontecendo isso”, “eu fiquei sabendo que...”, antes mesmo que os seus subordinados viessem a comentar os fatos.

Como o clima ali não estava bom no momento e apareceram algumas oportunidades profissionais no mercado, vários de seus supervisores foram em busca dessas vagas, mesmo ganhando salários menores e sem benefícios e, pela insatisfação, solicitaram desligamento da empresa, nunca alegando em suas entrevistas de desligamento o real motivo da saída, mas as possibilidades de desafios profissionais.

O real motivo – mau relacionamento – não era mencionado. Afinal, pensavam: “Por que vamos reclamar, se estamos em uma sociedade em que comentários poderiam chegar aos ouvidos dela e, com sua perspicácia, tornar-se do conhecimento do novo empregador?”

Mas, para Mara, tudo bem. Ela fez alguns remanejamentos e redistribuiu os postos entre seus supervisores.

Aqueles que ficaram na empresa continuavam a lamentar a maneira como eram tratados.

Como ela foi informada por alguns protegidos de que havia alguma insatisfação, inclusive por parte dos funcionários dos mais baixos escalões, logo pensou em fazer uma Pesquisa de Clima Organizacional, elaborada com questões favoráveis ao seu estilo de trabalho.

Enviou essa pesquisa aos funcionários, tomando o cuidado de mencionar que seriam respondidas sem a identificação, uma vez que não queria causar constrangimentos ou represálias aos que respondessem.

Pensou Mara que esse seria um meio de usar os resultados para pressionar seus supervisores, tendo-os nas mãos.

O que de fato ocorreu é que alguns questionários não foram satisfatórios, pois os funcionários aproveitaram-se e extravasaram seus sentimentos contra a empresa e contra alguns de seus superiores.

Neste período, aconteceu um desentendimento profissional entre um de seus supervisores – Carlos Roberto - e alguns funcionários. Problemas de comunicação que facilmente poderiam ser resolvidos entre os envolvidos. Como ela ficou sabendo através de alguns de seus protegidos e como era de sua habilidade o envolvimento direto, não permitiu que o supervisor resolvesse o problema. Estava aí uma oportunidade de se fazer aparecer e mostrar sua autoridade. Esse supervisor era muito competente, tendo sido, inclusive, proposto para um cargo gerencial no mesmo nível de Mara Verbal, em passado recente. Ele era querido pela grande maioria dos subordinados. O fato ocorrido era de fácil solução e podia ser resolvido entre as partes, não necessitando da interferência de Mara.

Mas, para mostrar sua autoridade, ela advertiu verbalmente o supervisor dizendo e disse que, no seu entender, faltava a ele alguma competência no trato com pessoas e que no passado pareceu-lhe que não estava correspondendo, mas que acreditava no seu potencial e no seu futuro.

Esse, na verdade, não era o fato. A verdade era que ela estava insegura com a sombra que Carlos Roberto estava fazendo. Talvez ele pudesse vir a assumir seu cargo ou um cargo mais importante que o dela, um dia.

Mas a maneira que encontrou para de pressioná-lo foi essa.

Após a tabulação dos dados, ela marcou uma reunião com os supervisores e durante a mesma expôs o problema ocorrido com Carlos Roberto e os funcionários, perante todos os supervisores, procurando dar uma demonstração de sua força.

Criou-se um certo mal estar, mas Mara apresentou os resultados da pesquisa aos seus supervisores e disse que, pelos dados obtidos, muitos estavam com problemas de relacionamento.

O constrangimento passado por Carlos Roberto na reunião, uma vez que ele era tido como um aconselhador de alguns jovens supervisores, fez com que ele resolvesse mudar seus hábitos. De alegre e divertido com seus colegas e funcionários, fechou-se para poder fazer uma análise interior e procurar melhorar. Seus colegas perceberam e passaram começaram a lhe dar o maior apoio. Os seus comandados verificaram sua mudança e não ficaram contentes.

Aproveitando-se do momento, Mara Verbal chamou Carlos Roberto em sua sala e resolveu demiti-lo, pelo fato de ele estar mudado e alegando ter se tornado difícil trabalhar com ele pela mudança que estava apresentando.

Na verdade, sua intenção era tirar de seu caminho uma possível ameaça futura.

Alguns funcionários ainda procuraram conversar com Mara para solicitar sua reconsideração. Mas ela estava irredutível. Nada a faria mudar.

E ele se foi.

No começo da semana, um movimento de paralisação na atividade produtiva teve início. Uma greve, motivada pelas atitudes de Mara.

E alguns meses depois, Mara recebeu um Oficial de Justiça com um Mandado para a empresa comparecer em audiência: um processo por danos morais causados por constrangimento estava sendo movido contra ela. Seu autor, Carlos Roberto.

Egildo Francisco Filho

Autor do livro: ESTUDO DE CASOS pela Qualitymark


Publicado por: Egildo Francisco Filho

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