A inserção da criança na creche

Adaptação, quer dizer acomodação, ajustamento, ou seja, a aceitação, a submissão a uma determinada situação. Educação não combina com submissão e, por isso, prefiro falar em inserção, ou seja, a criança vai se inserir em uma instituição educativa. O momento de entrada da criança na creche ou na pré-escola é, geralmente, a sua primeira experiência em termos de separação da família. As propostas educacionais vêm incluindo a inserção gradual da criança, respeitando as suas exigências e a de seus pais, e também permitindo que o professor conheça individualmente as novas crianças que ingressam na creche.

A inserção de uma criança pequena em uma instituição é um fato delicado por três motivos:

  • Existe uma dificuldade objetiva na separação entre pais e criança.
  • Confiar uma criança à creche não é ainda considerado um fato “natural”, e é visto quase sempre, inicialmente, como uma solução para uma necessidade.
  • Muitas mulheres vivem ainda com sentimento de culpa de terem que deixar seu filho em uma creche, ficando sujeitas a pressões psicológicas por parte da família ou da sociedade.

Será que esta separação afeta só a criança? Na verdade, a quem atinge esta separação?

Afeta a criança, mas também toda família. A separação causa traumas? As educadoras italianas Susanna Mantovani e Nice Terzi, falam que os temores de que a creche ocasione “traumas pela separação” não possuem fundamento concreto. Mantovani e Terzi explicam que temos que ficar atentos para não confundir sofrimento, trauma, com certo “cansaço” de crescer, de enfrentar as novidades. É bom lembrarmos que um certo nível de frustração às vezes é necessário ao crescimento. Devemos compreender que as crianças, e em especial, os menores, ainda não se expressam bem verbalmente e, por isso, manifestam seus sentimentos por meio do corpo. É comum, portanto, que além de chorar elas possam adoecer recusar alimentos, dormir demais, irritar-se etc. Não se trata de um problema de saúde, é apenas a sua maneira de expressar o que está sentindo.

Mas afinal, como propiciar a inserção? O ideal é que a creche ou pré-escola ofereça para as famílias um sistema gradativo de inserção para cada criança. Assim, se for possível para os pais, a criança, durante os primeiros dias, ficará na creche apenas algumas horas e gradativamente este tempo vai sendo aumentado até chegar àquilo que os pais desejam. A criança preciosa saber que seu pai e/ou a sua mãe necessita trabalhar, mas que voltará mais tarde para apanhá-la. A criança, certamente, não aceitará essa explicação e protestará, mas é melhor que saiba a verdade, expresse os seus sentimentos e descubra com tempo que os pais não estão enganando-a, pois voltam todos os dias para buscá-la. O importante é não exagerarmos no carinho, para não parecer um sentimento falso, respeitando o jeito de ser de cada criança. É interessante que o professor saiba de algumas particularidades da vida da criança, como, de que histórias ela mais gosta, qual é o seu alimento preferido, se tem algum bichinho de estimação etc. De uma forma gradual, a criança vai se acostumando com o novo ambiente, os novos horários e as diferentes relações de amizade e convivência. Mas o que não podemos deixar de considerar é que a creche precisa ser sempre fonte de prazer. Vale ainda lembrar que a instituição de Educação Infantil é diferente do ambiente familiar. Escola não é casa, assim como a professora não é uma segunda mãe.

Pressupostos teóricos

  • A inserção na creche é vista como uma experiência que “separa aquilo que era unido e une aquilo que era separado”.
  • A inserção é o início de uma relação a três: criança-pais-professores.
  • A creche é um universo de comunicação interpessoal onde o comportamento de cada pessoa influencia e é influenciado pelo comportamento de outra pessoa.
  • A comunicação é considerada fundamental na relação educativa.

Objetivos de uma boa inserção

Em relação às crianças:

  • Favorecer um distanciamento gradual do objeto de apego, ou seja, a família ou a casa;
  • Favorecer o conhecimento do novo ambiente por meio da presença e da mediação dos pais;
  • Favorecer o estabelecimento de relações com os professores e com os colegas;
  • Favorecer a exploração do ambiente-creche e a curiosidade pelos jogos e brinquedos.

Em relação aos pais:

  • Favorecer um distanciamento gradual do filho;
  • Favorecer o conhecimento do novo ambiente, da organização do dia e da metodologia pedagógica;
  • Favorecer um relacionamento de colaboração e não de rivalidade com os professores.

Em relação aos professores:

  • Favorecer o conhecimento, por meio da observação, de cada criança na sua relação com os seus pais;
  • Favorecer gradualmente a mudança de interesse das crianças: dos pais para si mesmos e para os seus colegas;
  • Favorecer um relacionamento de colaboração e não de rivalidade com os pais.

Estratégias (apresentadas segundo ordem cronológica em que são realizadas)

  • Reunião geral.
  • Entrevista não-diretiva.
  • Questionário.
  • A inserção – conduzida através das seguintes estratégias:

o Efetivada em pequenos grupos de crianças;

o Com a presença do pai ou da mãe;

o Para os professores, é solicitado, principalmente, observar as dinâmicas que se estabelecem entre pais e filhos;

o Presença de jogos e brinquedos que terão dupla função: dar conforto emocional às crianças e atrair o interesse e a curiosidade das crianças.

O trabalho coletivo dos profissionais

  • · Definir coletivamente a proposta metodológica que será seguida para a inserção da criança na creche, ou seja, definir os pressupostos teóricos, os objetivos e as estratégias.
  • · Individualizar uma metodologia de trabalho comum a todos os profissionais.
  • · Avaliar a metodologia seguida, analisando cada item planejado.

Publicado por: Renata Gonçalves

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