CIBERCULTURA - Do Pós-Guerra à Conexão em Massa

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1. RESUMO

O presente trabalho procura abordar, em meio a uma bibliografia específica uma discussão acerca da cultura que se formou a partir do desenvolvimento da rede mundial de computadores conectados, a Internet. A criação do mercado industrial da cultura aos poucos criou no mundo uma reviravolta nas mentalidades e nos contextos sociais, fragmentando os indivíduos em meio a uma revolução tecnológica gradativa. Devido à diversificação, mobilidade e versatilidade esse tipo de cultura gerou críticas em detrimento da suas potencialidades, fazendo surgir um novo campo interativo de sociabilidade que adquiriu aspectos contraditórios e diálogos constantes áreas já estabelecidas. Portanto nossa pesquisa busca o entendimento, em diversas áreas do conhecimento histórico, dos processos que levaram a esse conflito de identidades e o surgimento de um novo conceito cultural.

PALAVRAS CHAVE: Cultura; Identidade; Cibercultura.

RESUMEN

En este trabajo se pretende abordar, entre una literatura específica una discusión de la cultura que se forma a partir del desarrollo de la red mundial de computadoras conectadas a Internet. La creación de la cultura de mercado industrial creó gradualmente una conmoción en el mundo de la mentalidad y de los contextos sociales, fragmentando las personas en medio de una revolución tecnológica gradual. Debido a la diversificación, la movilidad y la versatilidad de este tipo de cultura ha sido objeto de críticas por su potencial de hacer un nuevo campo de la sociabilidad interactiva que adquirió aspectos contradictorios y diálogos constantes surgen zonas establecidas. Por lo tanto, nuestro estudio busca entender en diversas áreas del conocimiento histórico, de los procesos que condujeron a este conflicto de identidades y el surgimiento de un nuevo concepto cultural.

PALABRAS CLAVE: Cultura, Identidad, Cibercultura.

2. INTRODUÇÃO

A inesgotável discussão sobre cultura diversifica e amplia seus campos de pesquisa e questionamentos, criando novos conceitos e analisando sua influência no comportamento social da humanidade. O presente trabalho tende a examinar o ponto de vista cultural de cada indivíduo que se relaciona com sua identificação pessoal, seus costumes e pensamentos, e a partir disso analisá-lo em detrimento ao processo sociocultural de formação da sociedade que se dá em características coletivas que cada um possui.

Procuramos na medida do possível, estabelecer diálogos objetivos e concretos usando como exemplo, referências de inúmeros contextos e épocas específicas, com isso o reflexo do próprio processo evolutivo social se mescla aos grupos, indivíduos e a cada cultura e suas respectivas subjetividades, tornando possível uma análise abrangente de inúmeros campos historiográficos como economia, política, identidade, dentre outros.

Os constantes conflitos e mudanças que ocorreram em diferentes sociedades durante séculos causaram de forma heterogênea, transformações de identidades em tempo/espaço e é através dessas concepções de identidade e sujeito e das mudanças ocorridas que iremos analisar as descentralizações e as fragmentações a que os indivíduos e grupos estiveram submetidos.

Os avanços históricos e as constantes reformulações socioculturais colocam a globalização como um dos pontos principais de rompimento e deslocamento de características subjetivas, o que resultou na fragmentação e assim na reestruturação dos conceitos e dos entendimentos acerca das manifestações culturais.

Ao se inserir no contexto de transformações político-econômicas das últimas décadas do século XX, a globalização trouxe ao homem uma nova visão de mundo e uma nova forma de inserção no meio social. Paralelo a essa guinada global, e submetida às ordens que dominam a sociedade encontra-se a cultura, transformada em alguns momentos em um produto humano historicamente modificado.

A partir da interação entre o global e o cultural, as sociedades moldam-se de acordo com as novas regras estabelecidas durante o processo estrutural de várias ordens, que funcionam por vezes de modo desigual e contraditório, entretanto modificando de forma significativa as potencialidades no que diz respeito ao conhecimento e novas formas de interação.

Dividido em três partes, cada qual especificando com conceito bibliográficos concretos, o presente trabalho consiste em direcionar o esclarecimento acerca da cultura em várias das suas formas de atuação, interagindo-a com o processo irreversível de comunicação virtual em larga escala, que se estabeleceu no desenvolvimento cotidiano da globalização.

Na primeira parte conceituamos cultura e as diferentes formas de analisá-la no cotidiano de uma sociedade. Suas maneiras de interação dentro e fora do contexto social e o poder que ela exerce na formação do indivíduo. A partir disso, uma crítica é levantada a respeito dos conflitos que surgem com a interação entre indivíduos de diferentes culturas, o que resulta na quebra dessas identidades e na fragmentação cultural das subjetividades do sujeito. Com a crescente onda de produção capitalista, a globalização integra-se nesse contexto de cultura e começa a tornar-se parte essencial do entendimento da mesma.

No segundo momento, a partir da estrutura que se desenvolveu em volta da indústria econômica, analisamos o processo de mercantilização globalizada que se mesclou ao contexto sociocultural. A fragmentação de mentalidade no decorrer dos anos fez surgir uma revolução de pensamentos e uma contestação aos antigos regimes impostos. Com isso a produção e o mercado econômico cultural acabaram adequando-se a essa nova mentalidade desenvolvendo novas maneiras para a obtenção e a divulgação de conhecimento. As técnicas começam a se adequar as novas invenções o que possibilitou para a humanidade explorar caminhos e métodos de expressão pouco imaginados.

Na terceira e última parte examinamos a influência da tecnologia e como seus significados e objetivos e a relação entre suas ferramentas digitais e as formas socioculturais geraram uma evolução dos conhecimentos, o irreversível processo cultural que se forma nesse momento, inclui a digitalização da cultura em todas as suas instâncias e a evocação dos sentidos humanos de interação, modificação, interpretação e criação, agora de forma tecnológica.

3. Capítulo 1 – Culturalizando

3.1. Dos conceitos à cultura

Um complexo de padrões comportamentais, de crenças, instituições, de manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade1. Essa é uma das definições que podemos encontrar sobre o que é Cultura. Entretanto é necessário afirmar que os conceitos que aqui serão abordados não complementam a totalidade sobre o significado de cultura.

O diversificado entendimento e a abrangente e inesgotável discussão sobre esse assunto faz com que uma constante revisão sobre seus conceitos seja realizada acerca da sua importância na existência humana, isso contribui para um melhor entendimento e uma assimilação mais compreensiva sobre as relações entre os indivíduos.

Ao longo da história, as mudanças, transformações e criações que envolvem a humanidade e o meio em que ela habita modificaram o comportamento e o entendimento do homem consigo próprio. “Cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedade e grupos humanos” (SANTOS, 1985. p.08).

Sua pluralidade, sua singularidade e seu determinismo2 formaram um conjunto de operações que renovou e condicionou as sociedades e consequentemente seu entendimento sobre cultura. Essa constatação de variedades nos estilos de vida entre sociedades torna-se um elemento fundamental para entendermos o processo cultural desde os primeiros conceitos até os dias atuais.

Essas multiplicidades nas formas de existência cultural, internas e externas à realidade de uma determinada sociedade, fundamentam a ideia de que cada realidade cultural obedece a sua lógica própria. Com isso cada cultura, cada particularidade, cada indivíduo é reflexo do seu próprio processo evolutivo social e de suas memórias subjetivas e/ou coletivas.

Se a cultura é uma das principais características que diferenciam os humanos, a sua diversidade deve ser levada em consideração. Sejam as características históricas, físicas, econômicas, geográficas ou comportamentais, as sociedades com o passar dos anos reuniram elementos para a preservação e disseminação dos saberes. “Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social” (SANTOS, 1985. p.45).

O aspecto de aprendizagem que permeia toda sociedade e que se insere na preservação e disseminação da cultura complementa-se nas palavras do antropólogo Edward Tylor através do texto de Laraia que diz:

[...] tomado em se amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (TYLOR. Apud, LARAIA, 2008. p.25).

Esse acúmulo de conhecimento, perpassado durante a caminhada social complementa-se com a assimilação de novas descobertas e necessidades que podem vir a aprimorar uma cultura já existente ou criar um novo conceito para a mesma, fazendo com que a relação de passado e presente seja constante sem perder o valor simbólico que essa determinada cultura tem para com aquela sociedade. Com isso, o entendimento dessas concepções simbólicas3 e práticas culturais buscam desenvolver e relacionar as forças que movimentam esse processo permanente de mudanças.

O processo evolutivo cultural da humanidade coloca-se em determinados casos como a capacidade de preservação e disseminação de obter conhecimentos através da endoculturação4, com isso é inevitável que exista uma diversidade de elementos que expressem significâncias coletivas em variados povos e sociedades, em um ou vários lugares.

Esses elementos carregam consigo toda uma simbologia que se relacionam com a existência de cada um desses grupos humanos. “É a simbolização que permite que o conhecimento seja condensado, que as informações sejam processadas, que a experiência acumulada seja transmitida e transformada (SANTOS, 1985. p.42).

As constantes mudanças decorrentes do processo evolutivo humano adéquam-se aos elementos que surgem e se interagem dentro de uma sociedade, resultando assim na mudança do seu comportamento, das suas práticas, mentalidades e consequentemente na mudança da cultura, em partes ou como um todo.

O comportamento dos indivíduos que formam uma determinada sociedade está ligado ao tipo de aprendizado a que ele está submetido e isso formula a sua cultura e sua forma de identificação com o ambiente a qual está inserido. Dessa maneira concordamos que “Uma cultura é a configuração de conduta aprendida e resultados de conduta cujos elementos componentes são partilhados e transmitidos pelos membros de uma sociedade particular” (LINTON, 1999. p.43).

O ponto de vista cultural de cada indivíduo se relaciona com sua identificação pessoal, seus costumes e pensamentos, com isso “cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidade...” (LARAIA, 2008. p.30) alinhando o entendimento processual de formação de uma sociedade com as características evolutivas e coletivas que naturalmente cada uma possui.

Partindo desse pressuposto, é correto afirmar que a cultura nasce da atividade transformadora dos indivíduos em sociedade, de seus modos de convivência e de seu exercício ideológico no conjunto de seus hábitos e concepções, a fim de atender as suas necessidades. Como coloca Santos: “as culturas movem-se não apenas pelo que existe, mas também pelas possibilidades e projetos do que pode vir a existir” (SANTOS, 1985. p.20).

Através da cultura o indivíduo atribui uma identificação e valorização do seu meio tornando-o assim a base da sua personalidade e do seu reconhecimento próprio e, sobretudo como ele deseja se representar e agir dentro do seu ambiente cultural. “É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos” (SANTOS, 1985. p.08).

Os padrões que compõem toda a estrutura de uma sociedade ajustam-se a ensinamentos e práticas que desenvolvem particularidades próprias, com isso, as influências recebidas durante o seu processo de aprendizagem moldam o seu entendimento com a sua cultura particular:

Os padrões culturais de que depende qualquer sociedade para sua sobrevivência devem ser estabelecidos como padrões de reação habitual da parte de seus membros. Isto se torna possível pela extraordinária capacidade do homem em absorver ensinamentos (LINTON, 1999. p.34).

Entretanto, algo chama bastante atenção nessa jornada de aprendizado e acúmulo de conhecimento que todos estão sujeitos a ter. Os conflitos que podem surgir dentro e fora da própria sociedade, que transformam e interferem na formação da identidade, quando o indivíduo se depara com a influência recebida ao inserir-se em um novo modelo cultural, com aspectos sociológicos diferentes dos seus. “É praticamente impossível a existência de um sistema cultural que seja afetado apenas pela mudança interna” (LARAIA, 2008. p.96).

Essas realidades externas podem sim influenciar a personalidade individual de cada componente da sociedade, provocando uma amplitude no campo visionário de entendimento e compreensão, ou apenas fazendo valer a diferenciação entre a cultura nova e a já acumulada. Reforçando os argumentos acima o autor Ralph Linton comenta que:

Assim, quando confrontado por uma nova situação, o indivíduo reagirá não sòmente em função de sua realidade objetiva, mas também das atitudes, valores e conhecimentos que adquiriu como resultado de sua experiência passada (LINTON, 1999. p.45).

Como aponta o teórico Stuart Hall, a “descentralização dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto a de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo” (HALL, 2006. p.09). E essa “crise” faz com que uma nova discussão seja criada a ponto de entender essas novas modalidades de cultura, seu impacto na consciência histórica das sociedades, sua influência no pensamento e os novos caminhos a serem trilhados.

3.2. Conflitos, Crítica e Fragmentação

O teórico da cultura, Stuart Hall, aponta as mudanças nas sociedades como possíveis causadoras das transformações de identidades em tempo e espaços diferentes, e é através dessas concepções de identidade e sujeito, das mudanças ocorridas ao longo dos anos, que ele analisa as descentralizações e as fragmentações a que os indivíduos e grupos estão submetidos e a partir daí o resultado dessas afirmações consiste em um indivíduo formado por várias identidades.

Os processos históricos de mudança e transformações que envolvem características geoeconômicas, comportamentais e aspectos sociológicos como um todo, desestabilizaram a unidade cultural das velhas identidades que antes tornavam estáveis as sociedades5. Os deslocamentos físicos que se deram ao longo do tempo, as novas perspectivas sobre conhecimento e a (re)descoberta do novo, criaram uma atmosfera de possibilidades na composição do campo cultural na modernidade.

A produção social de identidade está envolvida em um processo ao mesmo tempo singular e coletivo. Essa subjetividade singular que incorpora cada indivíduo, (re)cria seu caráter identitário, forma sua conduta e seus preceitos fazendo surgir assim uma identidade própria. A partir disso, a soma dessas identidades singulares conduz a formação de uma identidade mais ampla, abrangente em significados. Uma união e uma formação coletiva de sentidos6.

Até o período Iluminista7, a interação entre os indivíduos e a sociedade sempre obedeceu a uma lógica centralizadora cercada de racionalidade nas ações interiores do ambiente em que se vivia. Seu desenvolvimento e sua essência individual se perpetuavam dentro de uma forma unificada de identidade cultural mediante os valores, sentidos e símbolos pertencentes ao seu mundo.

Semelhante a essa disseminação e preservação dos conceitos culturais e do conhecimento dentro do interior de uma sociedade, a noção de indivíduo unificado torna-se aos poucos fragmentada. Seja muitas vezes pelas transformações internas ou externas “não se pode haver modificações duradouras em cultura, sem a aceitação de novas idéias pelos membros de uma sociedade” (LINTON, 1999. p.10).

Essa sequência continua de fatos e ações que integram a fragmentação do sujeito, o desenvolvimento dos grupos sociais, cada qual a seu ritmo, a abundante diversidade em conceitos e representações culturais tornam-se ponto de partida para se entender a nova formação de identidade e as variações a que estamos sujeitos a ter:

[...] à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006. p.13).

É a partir dessas complexas modificações e produções de novas ideias que aos poucos surge para rebater o indivíduo iluminista, o sujeito sociológico, que semelhante ao iluminista possui elementos culturais firmados no interior da sua formação, porém, sofrendo a influência da sociedade em que vive ou que conhece8.

“As preocupações sistemáticas com cultura nasceram associadas a novas formas de conhecimento” (SANTOS, 1985. p.10). Portanto, o processo de mudanças e transformações comportamentais das sociedades, as transições e a fragmentação do pensamento iluminista a partir do encontro entre diferentes indivíduos, são efeitos de dois acontecimentos importantes para essa nova analise.

A passagem para o novo modelo de produção econômica que vigora no final do século XVIII com a Revolução Industrial9 interfere significativamente na estrutura física e econômica da sociedade, mudando os aspectos da vida cotidianamente. A Revolução Francesa10 impactou os processos de identificação e o pensamento do indivíduo ampliando assim seu campo de atuação e consequentemente o fragmentando em favor de novas ideias e valores próprios.

O desenvolvimento dessa sociologia clássica11 do sujeito adota uma perspectiva analítica de interesse interdependente, principalmente na relação entre indivíduo e sociedade em campos como a economia, a cultura, a política, dentre outros, através de pensadores como Augusto Comte, Max Weber, Émile Durkheim, Karl Marx e muitos outros.

Os pensadores iluministas que antecederam esse ideal sociológico tiveram assim seu modelo de racionalidade subjetiva fragmentado. O fenômeno histórico causado pelas Revoluções Industrial e Francesa intensificou as relações econômicas, políticas e culturais entre os países, o que sucedeu em uma proliferação impactante e um encurtamento das relações entre diferentes tipos de identidades.

Esse conflito social em detrimento ao fluxo de trocas de experiências e de partilha das identidades resultantes das mudanças ocorridas ao longo dos séculos nos leva a crer que mesmo com as limitações que rodeiam particularmente cada sociedade, é inevitável pensar que esse processo histórico de disseminação e fragmentação das identidades não vai acontecer de maneira homogênea obedecendo cada qual o seu próprio ritmo.

Essas análises reportam-se a necessidade de aprofundamento no que diz respeito ao problema de identidade cultural nas sociedades, pois essa crise causada pela abertura das possibilidades de escolha causou não só a fragmentação do indivíduo, mas também impulsionaram os conflitos, os meios de produção comercial e cultural significativamente, diferentemente ao que se define como global.

Aos poucos as relações interpessoais, a expansão e a migração progressiva entre povos intensificaram o desenvolvimento dos grupos humanos “segundo ritmos diversos e modalidades variáveis, não obstantes a constatação de certas tendências globais” (SANTOS, 1985. p.10). A iniciação desse estudo fragmentado de relações globais criou outro fenômeno determinante para uma maior abordagem histórica sobre cultura e sociedade; a Globalização.

3.3. Globalização no Decorrer do Tempo

A complexa relação existente entre as transformações econômicas, sociais, culturais e políticas, dentre outras, que ocorrem em âmbito mundial referem-se à globalização enquanto um dos processos de desenvolvimento humano em todas as suas instâncias, com isso “as práticas sociais são constantemente examinadas e reformuladas à luz das informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando assim constitutivamente, seu caráter” (GIDDENS. Apud, HALL, 2006. p.15).

Com a mudança histórica provocada pela revolução industrial, a construção de ferrovias, por exemplo, além de intensificar e agilizar o mercado econômico, diminuiu a distância entre indivíduos e consequentemente ajudou a interligar a relação entre pessoas, a difusão de ideias, a veiculação de informação etc. criando assim novos padrões de cultura, o que ajudou ainda mais no processo de fragmentação subjetiva.

“O termo globalização tem sido utilizado sobretudo para caracterizar um conjunto aparentemente bastante heterogêneo de fenômenos” (ALVAREZ, 1999. p. 97). As transformações globais ao longo do tempo-espaço12 caracterizaram essa exposição pluralizada na aproximação entre as sociedades, e em consequência disso o impacto causado na trajetória do homem como ator principal do processo de desenvolvimento social:

À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influência externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural (HALL, 2006. p.74).

A compreensão histórica acerca dessa ampliação nas fronteiras geográfico-econômicas demonstra que, nessa complexidade de globalização heterogênea consolidam-se as tendências de consumo social em diferentes áreas que por sua vez estão envolvidas no contexto do novo modelo de mercado, identificando assim a construção de novas identidades, ideologias e relações entre os sujeitos.

A intensificação do processo de produção exacerbado deu início a nova fase do capitalismo em seu formato voltado para o mercado de consumo, ora mais ampliado, com isso um enorme aumento da produtividade em função da fabricação de equipamentos que adequassem-se ao novo estilo de vida das populações foi iniciado. Dito de outra maneira, as formas de atuação do capitalismo industrial ganharam pouco a pouco outras feições, e os avanços no consumo ampliaram significativamente o seu raio de ação.

Assim como a Revolução Industrial em meados do século XVIII, na segunda metade do século XIX a utilização de novos elementos na produção industrial como a eletricidade, por exemplo, geraram mudanças no meio político, econômico e social, num período que ficou conhecido como a Segunda Revolução Industrial13:

Nas três últimas décadas do século XIX a economia mundial viveu o tempo da Grande Depressão e das profundas transformações da 2º Revolução Industrial. Entre 1873 e 1896 o aço, a eletricidade, o motor a combustão interna, a química da soda e do cloro, o telégrafo e o navio frigorífico alteraram radicalmente o panorama da indústria, dos transportes e das comunicações, até então marcado pelo carvão, pelo ferro e pela máquina a vapor (BELUZZO, p. 113 e 114).

Esta Segunda Revolução desencadeou um processo extraordinário de ampliação das escalas de produção, porém, vale salientar que isso realizou-se de forma diferente dentro e fora da Europa e que os avanços acompanham cada qual o ritmo próprio de seu lugar, grupo social, continente, sua população e suas subjetividades.

No início do século XX, a população mundial, principalmente a europeia e em destaque a Inglaterra, passou a viver um período de satisfação própria e de intensificada produção industrial, afamada pelos feitos e realizações das novas descobertas tecnológicas aumentando assim a expansão fronteiriça em escala cada vez mais global. Com essa expansão, as possibilidades e os caminhos do fazer histórico diversificaram o entendimento do que seriam todas essas transformações e qual sua importância ao longo da história da humanidade.

A amplitude da discussão no campo historiográfico com outras áreas de estudo como ciências sociais, econômicas, políticas, culturais dentre outras, tornou possível identificar à História como área interdisciplinar e de abundantes questionamentos no entendimento dessas transformações que envolveram diferentes tipos de sociedade no final do século XIX e inicio do século XX. Pouco a pouco todos os setores que envolviam o ser humano como agente ativo de transformação global foram analisados.

A Escola dos Annales14, movimento da historiografia francesa, que apresenta nomes como Lucien Febvre, Marc Bloch, Jacques Le Goff e vários outros foi pioneira nessa nova forma de compreensão histórica na primeira metade do século XX, voltada para a análise do homem com um ser social, coletivo que necessita de uma crítica transdisciplinar além dos acontecimentos concretos.

Da mesma forma, como analisa Hobsbawm15, as batalhas envolvendo as nações que procuravam novos mercados para expor suas criações geraram avanços em vários setores como da tecnologia, principalmente a armamentista, e ascenderam assim novos caminhos na economia, na política e nos conceitos de globalização e de compreensão e conhecimento histórico em todo o mundo. “A guerra, com suas demandas de alta tecnologia, preparou vários processos revolucionários para posterior uso civil” (HOBSBAWM, 2011b. p. 260).

Fatos históricos como A Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e a Crise de 192916 modificaram significativamente o panorama das sociedades mundiais antes da Segunda Grande Guerra e influenciaram a reestruturação dos setores da vida sociocultura e histórica em todos os níveis de mundialização.

Surge a partir desses acontecimentos o desenvolvimento de empresas e indústrias transnacionais, o crescimento de países fora do contexto europeu como os EUA em termos mais externos, e a Rússia de forma mais interna. Uma concorrência política mais abrangente nas relações internacionais capitalistas etc., entretanto a proposta desse trabalho não é aprofundar-se nesses acontecimentos, mesmo sabendo da sua importância no processo histórico mundial.

Juntamente com a expansão territorial do capitalismo através da produção tecnológica de armamentos durante os acontecimentos como Primeira e Segunda Guerra, A Revolução Russa dentre outras, outros setores do mercado de produção influenciaram a fragmentação das subjetividades a partir do novo panorama deixado pelas batalhas.

O desenvolvimento, a utilização e a expansão dos meios de comunicação em massa como rádio, televisão, cinema, revistas e jornais, por exemplo, impactaram o cotidiano social e ideológico dos sujeitos e o entendimento histórico científico dessas transformações por meio da globalização. Entretanto, é necessário reafirmar que todas essas mudanças e impactos se deram em diferentes níveis em cada região do mundo.

Após a Segunda Guerra Mundial, mesmo com o massacre humano por parte desse desenvolvimento tecnológico armamentista, é inevitável afirma que a tecnologia avançada modificou as estruturas sociais de forma progressiva e que a comunicação em massa criou uma nova roupagem nas relações interpessoais após ganharem o mundo.

A divisão do mundo pós-guerra formalizou a disputa capitalista e socialista no período que ficou conhecido como Guerra Fria17, e as disputas estratégicas geraram conflitos indiretos de caráter político-econômico, militar-tecnológico, social e ideológico. Grandes avanços tecnológicos de comunicação e informação passaram a expandir seus negócios. Se com a construção das ferrovias, as distâncias entre os indivíduos já havia diminuído, o desenvolvimento comunicacional aumentaria ainda mais o fluxo de troca de ideias.

É notório que o fenômeno da globalização rebata e critique o pensamento sociológico clássico abordado anteriormente e mesmo que a utilização desse termo global sirva para identificar as primeiras características do pós-revolução-industrial, o cotidiano globalizado, vivencifica a assimilação, aceitação e a compreensão dessas mudanças históricas e do processo que insere uma grande parte das pessoas nesse contexto:

Mais do que a própria mudança dos padrões de produção da história, o próprio contexto influenciou debates epistemológicos que engendraram novidades nos escritos historiográficos. Isto é, a aceleração do mundo atual, o avanço tecnológico, a globalização, o poder da mídia etc, modificaram as relações sociais, políticas, culturais e econômicas que eram características do mundo pós-guerra. (SANTOS. Apud, FIORUCCI, 2011. p.112).

O impacto de sucessivas revoluções e batalhas fez com que os conceitos de vida social e a relações humanas se reinterpretassem, e que uma reflexão a cerca das subjetividades dos indivíduos e das novas tecnologias que foram aprimoradas no pós-guerra fosse realizada.

Com essa quebra constante de paradigmas e as transformações decorrentes do processo de globalização e de informação massificada criou-se uma necessidade de apresentar razões mais contextualizadas sobre as análises da consciência e do processo historiográfico sociocultural, renovando assim o entendimento sobre os sujeitos e o campo de atuação do historiador nesse contexto18.

Essa nova fase apresentou processos tecnológicos decorrentes de um conjunto de mudanças que vai além das transformações industriais anteriores. Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969) identificaram o surgimento da Indústria Cultura19 a partir dos caminhos que a produção do mercado capitalista tinha tomado.

4. Capítulo 2 – Industrializando a Cultura

4.1. As Veias do Mercado

O termo utilizado por Horkheimer e Adorno para identificar o uso dos meios de comunicação20 em massa pelas elites que detinham o poder do mercado capitalista no pós-guerra, demonstra o quanto a indústria cultural pode comprometer e interferir na sociabilidade dos indivíduos, buscando produzir algo que estivesse dentro das expectativas do novo mundo social e a partir disso adquirir lucros:

A conquista de novos mercados, a incorporação de novos consumidores e a expansão da força de trabalho a taxas de exploração variável, são forças imanentes da concorrência capitalista. Suas contradições são expressas concretamente em termos de deslocamentos econômicos sociais e políticos, que geram crises periódicas no sistema (BELLUZZO. p. 112).

Os setores econômicos que usaram a lógica capitalista de produção e comercialização submeteram a humanidade, que acabara de sair de uma guerra catastrófica, a um novo estilo de vida subserviente, onde a aquisição e o consumo de bens em todas as suas instâncias fizesse suprir o passado que muitos queriam esquecer. “A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que de propósito produzem” (HORKHEIMER & ADORNO, 2000. p.01).

Essa retomada capitalista após a Crise de 1929 e o seu aperfeiçoamento de produção durante a Segunda Guerra fez alavancar a partir de 1945 uma cultura socioeconômica em escala macroestrutural articulando assim a produção de mercadorias as novas formas de controle social. Concretizava-se então uma nova fase de dominação imperialista agora controlada pela intervenção do Estado21, voltando-se para o âmbito da disputa e da acumulação de capital.

Na nova estrutura política de relações internacionais que se firmava, as lideranças mundiais pós-guerra ficaram representadas por EUA e URSS. A relação entre os dois países foi marcada pelos seus projetos políticos contrários: o socialista por parte da URSS, e o capitalista por parte dos EUA. O antagonismo e a demonstração do poderio bélico durante a guerra passada gerou um clima tenso em todo o mundo com a ameaça de uma possível Terceira Guerra. Paralelo a essa rivalidade que ficou conhecido como Guerra Fria22, a produção e o desenvolvimento industrial tecnológico se firmava cada vez mais.

As profundas mudanças institucionais e a inter-relação entre empresas e Estado passaram a caracterizar transformações maciças no cotidiano sociocultural do mundo, exercendo um efeito estimulante sobre o desenvolvimento dos setores econômicos, políticos e sociais como um todo. Esse período é conhecido por muitos como Os Anos Dourados do Capitalismo23, pois nota-se a partir desse crescimento econômico, às vantagens que este modelo de produção apresenta em detrimento aos problemas estruturais e a tensão que a sociedade enfrentava:

[...] a economia americana contou, mais uma vez, com o poder de compra acumulado pelas famílias durante o esforço de guerra, sob a forma de ativos financeiros emitidos pelo governo para financiar os gastos militares (BELLUZZO, p. 122).

Aos poucos, o aumento da produtividade, a legitimidade desse mercado e a geração de emprego ajudava a construir um perfil cultural consumista favorável a produção desenfreada e diversificada de produtos, produção essa que pretendia atender as mais variadas subjetividades da sociedade fazendo com que nenhum indivíduo ficasse de fora desse contexto, criando a partir de então alternativas para que a população pudesse se contrapor entre si:

O fato de oferecer ao público uma hierarquia de qualidades em série serve somente à quantificação mais completa, cada um deve-se portar, por assim dizer, espontaneamente, segundo o seu nível, determinado a priori por índices estatísticos, e dirigir-se à categoria de produtos de massa que foi preparada para o seu tipo (HORKHEIMER & ADORNO, 2000. p.03).

É importante ressaltar que esse estado satisfatório de desenvolvimento subentende-se essencialmente aos países capitalistas desenvolvidos. Da mesma forma que as mudanças em decorrência de inúmeras transformações impactaram em escalas diferentes cada indivíduo, cada sociedade de cada lugar do mundo, com a Indústria Cultural também não é diferente. “A Era de Ouro foi um fenômeno mundial, embora a riqueza geral jamais chegasse à vista da maioria da população do mundo” (HOBSBAWM, 2011b. p. 255).

Por mais que os Anos Dourados proporcionassem uma satisfação e um conforto na qualidade de vida de certa parcela da sociedade, é inevitável a observação de que houvesse uma limitação em volta da maioria das classes sociais menos favorecidas que não participariam dessa cultura do consumo. “Nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura”. (LARAIA, 2008. p.80).

De fato, é inevitável afirmar que o capitalismo pós-guerra e a tecnologia comunicacional rearticularam significativamente o cenário sociocultural de informação através dos meios de comunicação em massa, principalmente os difundidos pelas empresas norte-americanas. A capacidade de compra juntamente com a política de produção era favorável para ambas às partes.

Aos poucos, fora do contexto norte-americano, o mercado europeu e asiático foi se reestruturando e assegurando sua participação no campo competitivo capitalista. Outros países com certa relevância na economia mundial, como os latino-americanos também começaram a se desenvolver lentamente24.

Porém no início da década de 1970, o sistema internacional de relacionamento político-econômico demonstrava entrar novamente em outro período de crise, o que impactava a sociedade e os meios de produção consumista. Segundo Hobsbawm (2011), alguns pontos são cruciais para se entender esse declínio da Era de Ouro e a nova roupagem que se criava a partir da constante fragmentação dos indivíduos por meio da globalização.

Merecem destaque: a nova divisão do trabalho e o desenvolvimento do mercado econômico transnacional que fez a competição capitalista aumentar e o consumo por parte do trabalhador não acompanhar a produção, a contestação dos antigos governos capitalistas que ainda se mantinham no poder, a exigência das classes operárias em relação a seus direitos trabalhistas, a reviravolta de uma Revolução Social25 em meio ao pensamento de uma juventude mais contestadora, criticando a limitação do modelo político ultrapassado, que freia o desenvolvimento maior de suas subjetividades:

Essas massas de rapazes e moças e seus professores, contadas aos milhões ou pelo menos centenas de milhares em todos os Estados, a não ser nos muito pequenos e excepcionalmente atrasados, e concentrados em campi ou “cidades universitárias” grandes e muitas vezes isolados, constituíam um novo fator na cultura e na política. Eram transnacionais, movimentando-se e comunicando ideias e experiências através de fronteiras com facilidade e rapidez, e provavelmente estavam mais à vontade com a tecnologia das comunicações que os governos (HOBSBAWM, 2011b. p. 292).

A pseudofelicidade promovida pelo mercado da indústria cultural do consumo que por um bom tempo, acabou desmotivando ou impedindo qualquer mobilização crítica por parte da população não permitindo a formação de uma autonomia consciente, começou a ser contestada.

A visão do tradicionalismo familiar nos Anos Dourados começou a ser questionada, o avanço da tecnologia e os caminhos abertos pela globalização aos poucos deram aos jovens uma busca pela liberdade e pelo direito individualista de seguir um caminho contrário aos comportamentos consumistas pragmáticos. Isso gerou uma vantagem sobre os grupos mais conservadores das gerações passadas em relação às abundantes formas de conhecimento. “Era uma crise não de classe, mas de sua consciência” (HOBSBAWM, 2011b. p. 299).

4.2. A Nova Contracultura

Podemos afirmar, em conjunto com Roque Laraia que “qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação” (LARAIA, 2008, p.95 e 96). Essa afirmativa ressalta a análise de que as mudanças decorrentes do processo evolutivo humano interligam-se aos elementos e as contestações que surgem a partir de uma fragmentação constante.

A sociedade é mutável, e as revoluções são o resultado de uma revolta contra as atividades ideológicas dominantes em qualquer que seja o setor social. A penetração de uma nova cultura, contrária às quais se esta acostumado torna-se muitos vezes inevitável. O fluxo de globalização acarreta uma redefinição das estruturas socioculturais e consequentemente em uma quebra de padrões pré-estabelecidos.

A importância cultural da indústria nessa reviravolta alardeia a passagem da sociedade para um novo estilo de vida. A filósofa Nelly Maia aponta dois impulsos que são determinantes para se entender a entrada de novos perfis contraculturais em uma sociedade, principalmente em campos educacionais, conjuntos com o avanço e o dinamismo da tecnologia por meio da globalização: a ideia do conformismo e por consequência a de modismo26.

Dentro desse argumento, a indústria cultural recebe significativas críticas acerca da possibilidade de produzir a partir dos novos processos industriais, bens que favoreçam a esses impulsos. É inquestionável aceitar que todo contexto histórico social é diferenciado, e que, para se compreender seus propósitos é preciso analisar não somente o passado como um todo, mas também a divergência presente dentro do que se tem como novo.

Uma analisa de duas posições distintas sobre essa cultura industrial feita por Umberto Eco, consiste na interpretação de indivíduos que ele denomina como apocalípticos e integrados27. A partir disso, o autor faz a crítica de que não se pode pensar a sociedade moderna e analisar um produto da cultura de massa, sem antes entender a sua linguagem de ação:

A nosso ver, se devemos operar em e para um mundo construído na medida humana, essa medida, deverá ser individuada não adaptando o homem a essas condições de fato, mas a partir dessas condições de fato. O universo das comunicações em massa é – reconheçamo-lo ou não – o nosso universo; e se quisermos falar de valores, as condições objetivas das comunicações são aquelas fornecidas pela existência dos jornais, do rádio, da televisão, da música reproduzida e reproduzível, das novas formas de comunicação visual e auditiva. Ninguém foge a essas condições, nem mesmo o virtuoso, que, indignado com a natureza inumana desse universo da informação, transmite o seu protesto através de canais de comunicação em massa, pelas colunas do grande diário, ou nas páginas do volume em paperback, impresso em linotipo e difundido nos quiosques das estações (ECO, 2006. p. 11).

Eco examina a metodologia acerca dessa cultura de massa e analisa que esses processos são fruto do dinamismo cultural. Não se pode ignorar que a sociedade aos poucos se tornou industrial e que as questões culturais de identidade começaram a ser pensadas a partir dessa constatação, o que resulta nas críticas e divergentes a cerca dessas mudanças trazidas pelo processo de globalização. “Cada mudança, por menos que seja, representa o desenlace de numerosos conflitos” (LARAIA, 2008. p. 99).

Os acontecimentos desse período globalizado, aos poucos trouxeram para o mundo uma nova contestação nas mentalidades e dos contextos sociais contribuindo assim para uma fragmentação da identidade, ao mesmo tempo em que aproximava os indivíduos que antes não podiam propagar suas subjetividades:

 A revolução cultural de fins do século XX pode assim ser mais bem entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais. Pois essas texturas consistiam não apenas nas relações de fato entre seres humanos e suas formas de organização, mas também nos modelos gerais dessas relações e os padrões esperados de comportamento das pessoas umas com as outras (HOBSBAWM, 2011b. p. 328).

Entretanto, nesse sentido de expansão, a globalização não pode ser vista como um processo homogêneo, pois o mundo em suas totalidades é composto por sociedades vivendo diferenciados estágios de desenvolvimento, e o que se vê nesse processo expansivo global é um cenário social bastante descontínuo, seletivo e excludente.

Mesmo considerando de extrema importância a crítica levantada acerca da exclusão decorrente desse processo de desenvolvimento, a intenção de expor as potencialidades sofridas pelo avanço cultural provenientes do pensamento industrial tecnológico torna-se incontestável.

Em qualquer período histórico e/ou sociedade, a propagação da cultura, industrial ou não, fica a mercê da “tecnologia28” que se faz presente na realidade analisada. Com o passar do tempo e o aperfeiçoamento dos métodos, é gradativo que esse desenvolvimento paulatinamente vá abandonando antigas características e se moldando as novas.

Dentro desse processo, tornou-se possível que um número maior de pessoas tivesse acesso às mais diversas ferramentas para a produção e a disseminação de novos e antigos conceitos culturais, com isso, os aparatos da comunicação em massa foram perdendo espaço, mesmo com diferentes propósitos, para as novas formas de comunicação que surgiam.

De forma embrionária no ano de 1962 (GUIZZO, 1999. p. 16), começou a se intensificar um projeto comunicacional de larga escala, oriundo dos conflitos militares mundiais das décadas passadas. O computador foi (e continua sendo) uma das ferramentas que possibilitou essa abertura para o mundo, antes limitado pelas longínquas barreiras territoriais, e que aos poucos “democratizou” o acesso e a criação de uma nova cultura.

4.3. Conectando...

Do grupo de pensadores como Adorno, o filósofo Walter Benjamin também analisou o impacto que a indústria cultural causou ao alcançar diversas pessoas. Com a fabricação de produtos da cultura de massa em grande escala, a possibilidade de levar arte para um maior número de indivíduos aumentou significativamente, o que implicou na reprodutividade de qualquer conceito de cultura e arte na sua essência29.

Analisando o estudo de Walter Benjamin, outra prerrogativa que se identifica na industrial cultural é o papel de disseminação que ela tomou pra si. Considerando a importância dada as invenções que alardeiam essa disseminação, Laraia (2008) comenta que:

Não resta dúvida que grande parte dos padrões culturais de um dado sistema não foram criados por um processo autóctone, foram copiados de outros sistemas culturais. A esses empréstimos culturais a antropologia denomina difusão. Os antropólogos estão convencidos de que, sem a difusão, não seria possível o grande desenvolvimento atual da humanidade (LARAIA, 2008. p. 105).

Assim como o rádio, a televisão, o cinema e muitos outros produtos de comunicação em massa, à difusão de cultura por parte da potencialidade que se gerou através da utilização de cada invento abriu caminhos que levaram a uma interação maior entre os indivíduos, resultando em um (re)conhecimento mais amplo das subjetividades existentes e por assim dizer, o surgimento de novas culturas fragmentadas por si só.

Acompanhando o processo de desenvolvimento tecnológico armamentista, a criação do Computador além de modificar o mercado industrial militar, intensificou o processamento e a exibição de informação com uma velocidade impensável para os seres humanos, o que tornou a difusão do conhecimento, algo mais prático e rápido.

O primeiro computador funcionando a base de eletricidade batizado de ENIAC30, foi desenvolvido para fins militares norte-americanos durante a Segunda Guerra, percorrendo um longo caminho até seu aperfeiçoamento e sua potencial utilização em cálculos de investigações científicas e posteriormente em um projeto comunicacional de larga escala, modificando assim o panorama cotidiano social específico de cada época.

Muito mais antigo que o computador convencional que se desenvolveu com o passar do tempo, o dispositivo conhecido como Máquina de Anticítera31, visto por muitos como o “Adão dos computadores” ainda impressiona por sua complexidade e pelas enigmáticas possibilidades do seu papel ainda indecifrável, na cultura de alguma civilização antiga.

É nítida a importância acerca dos instrumentos que viabilizam uma conexão entre as sociedades. Mesmo de maneira massificada, a difusão de informações e conhecimento e as técnicas utilizadas para isso transformam e revolucionam a maneira de conhecer outras culturas, e mesmo de forma desigual e seletiva, o potencial de atingir um número cada vez maior de pessoas torna viável uma atuação mais comprometida com essa exclusão.

A disputa tecnológica entre EUA e URSS nos anos da Guerra Fria, além de proporcionarem o aperfeiçoamento de instrumentos em todas as áreas comerciais, deixou um legado comunicacional nunca visto antes. A ideia de um fluxo constante de informações, de uma conexão que pudesse transmitir dados e assim tornar possível trabalhar a distância com mais rapidez e facilidade ganhou os campos militares, e posteriormente o científico até chegar à sociedade civil. Eis que surge a Internet.

5. Capítulo 3 – Plugado32

5.1. O Desenrolar de uma Rede

Em qualquer sociedade e/ou tempo histórico, existe sempre um processo complexo de acumulação e valorização da cultura do período anterior. Com isso, a técnica usada para integrar os valores antigos às novas exigências se modifica, a fim de reajustar o desenvolvimento constante dos indivíduos com a cultura.

Analisando dessa forma “a cultura comporta-se sempre como um organismo vivo e, sobretudo, inteligente, com poderes de adaptação imprevisíveis e surpreendentes” (SANTAELLA, 2003. p. 26) que transformam e dão características próprias a cada nova estrutura sociocultural.

Antes do aperfeiçoamento da Internet como a conhecemos, durante o pós-guerra, os soviéticos, em 1957, lançaram o primeiro satélite artificial da terra, o Sputnik 1, a fim de mostrar ao mundo seu poder expansivo militar dando início assim a corrida espacial33. A disputa conjunta contra os EUA fez crescer uma disputa que ia além dos limites fronteiriços.

Os projetos ambiciosos cresciam no campo militar mesclando-se a área comunicacional. Em 1958, a NASA e o Departamento de Defesa dos EUA criaram em 1967 um projeto em conjunto com a agência ARPA que consistia em uma vasta rede de comunicação de longa distância, o que seria o propulsor da Internet e da pesquisa tecnológica científico-militar, chamado Arpanet34.

O avanço da troca de informações e das pesquisas em larga escala em níveis nunca antes imaginados, aos poucos passou a ter um valor simbólico de grande relevância na sociedade. As mudanças estruturais dessas práticas, suas características próprias atreladas à cultura econômica industrial fomentam a ideia de ser essa a Terceira Revolução Industrial, pois em comum com as outras, ela conduziu para um caminho irreversível no cotidiano das sociedades.

Um fator importante a ser destacado nesse amadurecimento da internet foi a sua importância nos centros de ensino superior. “Em 1969, quatro universidades35 norte americanas foram escolhidas para funcionar como nós da Arpanet” (GUIZZO, 1999. p. 19). A ideologia dos estudantes oriundos da Revolução Social no final da década de 1960 abriu passagem para o fluxo cada vez maior de transformações em tudo o mundo:

Em 1973 foram estabelecidas as primeiras conexões internacionais, integrando à rede centros de pesquisa da Inglaterra e da Noruega. A enorme utilidade da rede ficou logo evidente, pois se mostrou um extraordinário meio de troca de informações científicas. De fato, os acervos, bancos de dados e recursos computacionais das grandes universidades podiam ser compartilhados amplamente, graças ao novo sistema de interligação (GUIZZO, 1999. p.19).

Da mesma forma que outros modelos de cultura, o projeto de comunicação ARPANET se fragmentou e tomou diferentes formas com o passar do tempo. As mudanças e as diferentes finalidades acerca do uso da rede provocaram aos poucos um rompimento com as forças militares e criaram dentro de sua lógica, uma nova identidade funcional.

O fluxo de utilização nas instituições acadêmicas, a criação do e-mail36 e o crescimento da rede alterou o modo como as pessoas a utilizavam. A linguagem técnica usada na manipulação da Arpanet, denominada protocolo37, teve de ser alterada, o que modificou suas bases estruturais.

No final da década de 1970 e inicio dos anos 80, a Arpanet tinha crescido de tal forma que o seu protocolo ficou pequeno devido à fragmentada expansão que a rede havia atingido em vários campos sociais.

Foi com o propósito de tornar a rede menos vulnerável a possíveis ameaças que a Arpanet começou a se dividir, originalmente criando a MILNET – dedicada a fins militares – e consequentemente estabelecendo a funcionabilidade do restante da rede a pesquisa e a difusão das ciências, alterando assim seu nome, devido a algumas linguagens protocolais, para Internet38.

Paralelo a essa guinada no contexto comunicacional, o uso da nova estrutura da rede que dividiu-se em militarismo, educação e pesquisas em diversos campos também aderiu ao mercado comercial. A produção dos primeiros computadores pessoais39 ganhava força no mercado industrial o que aumentava a atuação da rede fazendo com que ela chegasse aos lares das sociedades.

Enquanto a internet dava seus primeiros passos em uma popularização diversificada, um fato determinante alavancou as fronteiras da rede e ampliou ainda mais o seu curso de interação entre indivíduos, a criação da “World Wibe Web40. A partir desse momento um novo entendimento acerca da internet foi sendo moldado, e uma nova cultura começou a surgir.

5.2. Do Ciberespaço e a Cibercultura

Os avanços históricos e as transformações sociais colocam a globalização e a tecnologia como dois pontos importantes que caracterizam fundamentalmente o entendimento de fragmentação social do século XX, assim uma (re)estruturação dos conceitos e das práticas culturais acompanhou esse processo adequando-se a cada novo elemento que surgia e criando com isso um novo campo interativo de sociabilidade.

As potencialidades múltiplas desse aparato tecnológico, seus significados e objetivos e a relação entre suas ferramentas e as formas de cultura que existem e que surgiram, interligam-se em espaços econômicos, políticos, culturais e humanos. Entretanto, essa travessia de um campo específico, de uma cultura para outra nos moldes da Indústria Cultural deve ser analisada cada qual com sua especificidade.

A pesquisadora Lúcia Santaella na sua análise das formações socioculturais divide as áreas de atuação da cultura em diferentes pontos de formação. Para ela a cultura oral, escrita, impressa, de massa, das mídias e a digital, obedecem cada uma sua lógica própria de canais de informação41:

[...] os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de meros canais para a transmissão de informação. Por isso mesmo, não devemos cair no equívoco de julgar que as transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas tecnologias e novos meios de comunicação e cultura. São, isto sim, os tipos de signos que circulam nesses meios, os tipos de mensagens e processos de comunicação que neles se engendram os verdadeiros responsáveis não só por moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas também por proporcionar o surgimento de novos ambientes socioculturais (SANTAELLA, 2003. p. 24).

Assim como o jornal, a televisão, o rádio, o cinema e outros canais de veiculação de informação, a internet também criou seu próprio canal de interatividade com os indivíduos. A rede mundial de computadores, em meio à difusão de seus objetivos e potencialidades confirmou as expectativas ao criar um novo espaço para a expressão, o conhecimento e a comunicação humana, o Ciberespaço42.

De maneira imaterial, o ciberespaço consiste no entendimento de um espaço que não existe fisicamente, mas virtualmente43, com suas próprias linguagens, símbolos e significados. O filósofo da cultura virtual Pierre Lévy define também o ciberespaço “como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores” (LÉVY, 2010. p. 94) contextualizando-o com a realidade que surge perante a sociedade.

Da mesma forma que as primeiras “transformações tecnológicas”, o impacto que surge com os caminhos abertos pela Internet recodificam da mesma maneira os entendimentos acerca da fragmentação das identidades. As variadas formas de tecnologia acabam tornando-se produtos criados por uma sociedade e por uma cultura, com diferentes propósitos, mas com objetivos que obedecem cada qual sua lógica.

Na rede mundial que conecta pessoas de diferentes lugares e culturas, a propagação e a interação de pensamentos e valores entre os mesmos cria dentro do ciberespaço uma linguagem própria, um conjunto de práticas e atitudes que se desenvolve juntamente com seu crescimento, fazendo surgir assim um novo cenário coletivo de identidades, uma nova cultura, a Cibercultura44.

Igualmente a outros conceitos anteriormente abordados, as proposições relativas à cibercultura também abrangem uma diversificada análise das estruturas que compõem cada setor da sociedade e sua influência no comportamento da mesma.

Em virtude da globalização, a potencialidade dos elementos que formam esse contexto cultural, se adéqua aos diferentes seguimentos da sociedade como educação e as novas formas de conhecimento, a política, a economia e a indústria de produção, as artes, dentre outros. E paralelo a isso, a contínua heterogeneidade de exclusão e seletividade dos que não podem tomar para si esse processo de desenvolvimento.

Contudo, é inevitável questionar que esse novo contexto sociocultural teve significante importância para a vida das sociedades. A evolução da humanidade se colocou em alguns casos como um processo de abandonos e perdas, e em outros como um fluxo de renovações e reformulações dos seus costumes e ideias, adequando-se as carências que cada época e lugar vai exigir, assim novas representações e/ou perspectivas são criadas acerca da realidade concreta vivenciada por cada indivíduo e grupo.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito deste trabalho consiste na crítica histórica de olhar para a cultura formada a partir do surgimento da internet, não como algo que substituiu ou substituirá o conceito de identidade humana, mas sim que a rede mundial ajuda a compreender com mais abrangência esse processo sem volta de fragmentação heterogênea cultural, possibilitando por meio da globalização, um diálogo maior entre as diferenças e igualdades de ideologias.

A tecnologia tornou-se tão presente no cotidiano das sociedades que o processo de cultura digital transformou o mundo virtual (ciberespaço) em uma extensão do mundo real. A troca de informação, a pesquisa e os conflitos gerados dentro e fora do âmbito virtual, agregam-se a forma de vida das sociedades modernas.

Além do desafio de mostrar suas capacidades e potencialidades diante dos antigos conceitos de cultura e socialização, não se deve questionar a aceitação ou não das tecnologias, mas sim de vê-las como um novo projeto de globalização voltado para a propagação mais democrática do conhecimento, a fim de dialogar e saber como relacionar-se com ela, principalmente diante de suas limitações e do efeito que isso causa sobre as subjetividades.

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1FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 197.

2 Para Roque Laraia, fatores físicos de estruturação social interferem na construção de uma sociedade mais dividida, o que implica na existência vasta de diversidade cultural. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2008.

3 BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Tradução de Fernando Tomas. Editora Bertrand: DIFEL, 1989.

4 Processo permanente de aprendizagem de uma cultura, a qual os indivíduos estão inseridos. Segundo a Antropologia, se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte. Disponível em:

5 Para um aproveitamento mais abrangente sobre essa questão recomendamos a leitura de HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 11ª Ed. Brasil: Dp&a, 2006.

6 Sobre essa formação histórica de singularidade coletiva, indicamos: GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Usos da História: Refletindo sobre identidade e sentido. Rio de Janeiro, UFRJ.

7 Hall dentre outras concepções, aponta o Iluminismo como um dos pontos de partida para a redefinição do conceito de identidade a cerca das mudanças de comportamento social.

8 Outra concepção utilizada por Hall identifica o sujeito sociológico como outro conceito responsável para o entendimento das mudanças culturais e comportamentais.

9 GUIMARÃES, s/d. p.03.

10 GUIMARÃES, s/d. p.03 e 04.

11 NOVA, Sebastião Vila. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas 1981.

12 Hall aponta que a globalização implica no movimento de distanciamento da ideia sociológica clássica, substituindo-a assim por uma aceleração dos processos globais através das descentralizações sociais e da partilha de identidades, o que resulta na compreensão dessa fragmentação e das escalas temporais de aproximação entre os indivíduos.

13 A partir da última metade do século XIX pode-se dizer que houve uma Segunda Revolução Industrial. Enquanto a Primeira baseou-se na energia a vapor do carvão e no ferro, a Segunda baseou-se na eletricidade e no aço. Para uma maior abrangência sobre as fases e as características de cada revolução e as consequências trazidas por elas indicamos: HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. 25ª Ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2011a.

14 BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales: 1929-1989. Tradução, Nilo Odália. São Paulo: Edit. Universidade Estadual Paulista, UNESP 1991.

15 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914 – 1991. 2ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011b.

16 Idem.

17 HOBSBAWM, 2011b. p. 223-252.

18 Para Fiorucci, uma das funções da disciplina histórica é apresentar sentidos que possam legitimar a amplitude do método historiográfico em relação a todos os campos sociais.

19 Termo usado para designar o modo de fazer cultura, a partir da lógica da produção industrial. Para um aprofundamento mais detalhado indicamos: HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. Tradução Júlia Elisabeth Levy. 2000.

20 Laraia aponta que a comunicação é o resultado de um processo cultural. Esse sistema articulado de comunicação humana proporciona um desenvolvimento constante na sociedade (LARAIA, 2008).

21 Após a crise de 1929, o papel do Estado no sistema capitalista tornou-se mais presente, o que pode ser evidenciado pelo plano reformista de ordem econômica e social conhecido como New Deal, que viabilizou principalmente a recuperação da economia norte-americana. Após a Segunda Guerra, os países europeus perderam a centralidade e o domínio da economia mundial, o que tornou os EUA a maior potência capitalista, juntamente com o desenvolvimento da URSS (HOBSBAWM, 2011b).

22 HOBSBAWM, 2011b. p. 223-252.

23 Idem, p. 253-281.

24 HOBSBAWM, 2011b. p. 256-257.

25 HOBSBAWM, 2011b. p. 256-257.

26 Para a autora, a tendência ao conformismo estabelecido com o tempo conduz a uma acomodação, a uma aceitação de padrões de forma acrítica. A partir disso, o resultado da aceitação tornar-se-á modismo que reflete a ânsia de ser moderno a cerca da realidade, de ver tudo o que integra a cultura como correto. É nesse momento que o ideário da contracultura contesta a obsolescência e os padrões estabelecidos, fazendo com que a força do novo se imponha. MAIA, Nelly Aleotti. Cultura e Contracultura - Globalização. Revista DaCultura, Rio de Janeiro Ano VI, n. 11, p. 27-31, dez., 2006.

27 Segundo Umberto Eco, o termo apocalíptico consiste em analisar os indivíduos que refutam as formas culturais de comunicação em massa, pois nessa perspectiva, os meios que a industria cultural utiliza para propagar seus ideais seriam usados para fins de controle e manutenção da sociedade capitalista. A veiculação que eles realizam de uma cultura homogênea desconsidera as subjetividades culturais e acabam por padronizar a sociedade, desestimulando o público a pensar, tornando-o passivo e conformista. Por outro lado, as alegações dos integrados a cerca de aceitar essa forma cultural de comunicação em massa consiste em vê-las como canal de acesso a uma possível parcela da população que sempre esteve distante desses benefícios comunicacionais, o que contribui para a própria formação intelectual do público. Nesse sentido, não seriam essas características apenas da sociedade capitalista, mas de toda uma sociedade mais democrática. ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. Tradução de Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2006

28 Nesse caso, no procedimento que tem como objetivo a obtenção de um determinado resultado a cerca dos conjuntos de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam à construção de um determinado tipo de atividade.

29 Em uma análise materialista dos fatos, Benjamin fundamentou suas ideias na transformação estrutural causada pela produção capitalista, e sequencialmente na reprodução técnica causada pela mesma. Para um aprofundamento dessa temática indicamos: BENJAMIN, Walter. A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica. Segunda versão do texto iniciada em 1936 e publicada em 1955.

30 Antes do ENIAC, o Mark I e o Z3, calculadoras eletromecânicas, foram os pioneiros dos processos experimentais até o aperfeiçoamento da maquina eletrônica. Desenvolvido pelo exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial para computar (calcular) trajetórias táticas que exigissem conhecimento em matemática, o ENIAC foi o propulsor da disseminação globalizada que conhecemos hoje. Disponível em:

31 Encontrado na ilha de Anticítera, sul da Grécia, o artefato mecânico guarda inúmeros segredos de sua real função. Acredita-se que ele serviria para auxílio de navegação e/ou estudos astronômicos. Disponível em:

32 Nesse caso, conectado a Internet.

33 Disponível em:

34 A NASA - National Aeronautics and Space Administration (em português: Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) junto com as forças de defesa dos EUA e com o membro da ARPA (Advanced Research and Projects Agency - Agência de Pesquisas em Projetos Avançados) idealizador da pesquisa Joseph C. R. Licklider apresentaram em 1962, um trabalho que tinha com propósito fragmentar informações militares computadorizadas e enviá-las à distância, dificultando a intervenção de possíveis inimigos, e assim estabelecendo contatos mais rápidos e seguros. Com o aperfeiçoamento das técnicas computacionais e a mudanças de ideologia o raio de atuação cresceu e o termo Arpanet (Agência de Pesquisas em Projetos Avançados em Rede) foi designado para descrever todas as trocas de informações providas em uma vasta rede. GUIZZO, Érico Marui. Internet: o que é, o que oferece, como conectar-se. São Paulo: Editora Afiliada, 1999.

35 É interessante analisar cada instituição acadêmica e sua importância geopolítica na disseminação do projeto, a fim de entender quais os centros econômicos e educacionais mais importantes do período. Foram elas: Universidade da Califórnia em Los Angeles e a outra em Santa Barbara, Universidade Stanford através do Instituto Stanford Research Institute e Universidade de Utah (GUIZZO, 1999. p. 19).

36 Correio eletrônico que intensifica a troca de pequenas mensagens instantaneamente. ERCILIA, Maria. A Internet. São Paulo: Publifolha, 2000.

37 Nesse caso entende-se protocolo como o conjunto de regras e técnicas definidas que permitem uma interligação e um entendimento universal da rede, mantendo sempre a conexão por meio de linguagem própria em várias áreas, dispensando com isso a comunicação verbal (GUIZZO, 1999. p. 19 e 20).

38 Idem, p. 21 e 22.

39 Idem, p. 21 e 22.

40 Popularizada como W.W.W. a World Wibe Web (em português, tradução livre de “teia mundial”) é um sistema de hipertextualização criado em 1991 que difundiu a navegação na rede aumentando suas potencialidades (ERCILIA, 2000. p. 36 a 40).

41 A pesquisadora considera de extrema importância esse entendimento funcional de cada cultura, pois analisa o processo de rompimento que cada uma esta sujeita a passar, e quais as semelhanças que às identificam como parte de uma estrutura sociocultural. Para uma compreensão mais detalhada indicamos: SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 22, p. 23 a 32. Dezembro 2003.

42 O termo foi idealizado por William Gibson, escritor norte-americano, em 1984 no seu livro de ficção científica Neuromancer, referindo-se a um espaço virtual composto por cada computador e usuário conectados em uma rede mundial. Ele trata da realidade que se constitui através da produção de tecnologias, enraizadas na sociedade que acaba por modificar estruturas e princípios desta e dos indivíduos que nela estão inseridos. Disponível em:

43 Algo apenas em potência, não como realidade ou com efeito real. Ação que poderá vir a ser, existir, acontecer ou praticar-se; possível, factível. Constitui uma simulação de algo criada por meios eletrônicos (FERREIRA, 2000. p. 713).

44 Quanto ao entendimento acerca do termo, Lévy aponta em uma das suas descrições que, a cibercultura denomina-se como o desenvolvimento tecno-industrial atrelado as relações recíprocas entre os fenômenos de mentalidades coletivas socioculturais que viabilizam uma intensificada multiplicidade de laços que vão alem dos contatos físicos (LÉVY, 2000. p. 125-136).


Publicado por: José Javas Feitosa Santos

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