Metafísica de Aristóteles - Livro B

4. Livro segundo

 

Este é o livro mais breve da obra, constando apenas de três capítulos. Os 2 primeiros são intimamente ligados. Já o terceiro, requer um pouco mais de atenção para que se perceba seu nexo com os predecessores.

Alguns autores, na realidade, contestam a autenticidade desse livro, por diversas razões:

1 – É uma coletânea de pensamentos fragmentários;

2 – Insere-se com dificuldade entre A e B, sendo difícil a coerência interna e a numeração minúscula α indicando sua inserção posterior;

3 – Não existe citação desse livro nos demais da obra;

4 – Seu final parece mais introduzir um tratado de física que de metafísica.

Reale habilmente refuta a tudo isso:

1 – Na verdade o livro segundo não é mais fragmentário do que muitos outros reconhecidamente aristotélicos, nem tampouco menos lógico;

2 – Não interrompe de maneira alguma o nexo entre A e B, podendo mesmo ser lido (não sem frutos) como um apêndice de A;

3 – É verdade que não citação alguma desse livro nos demais, entretanto isso não significaria que ele não fosse autêntico; além do mais, há uma citação quase que literal de um trecho na Metafísica de Teosfrato (discípulo de Aristóteles);

4 – A física é tomada no terceiro capítulo apenas como um exemplo.

 

4.1 Capítulo 1

Na primeira parte deste livro, Aristóteles afirma que a pesquisa da verdade é uma tarefa ao mesmo tempo fácil e difícil. É fácil, porque todo homem consegue chegar à verdade, não havendo um sequer que não consigo tocá-la. É difícil porque não se consegue abarcar toda a verdade.

Também se ilustra que as dificuldades na pesquisa podem ser de ordem objetiva – quando o objeto é que impõe as dificuldades em se revelar – ou subjetiva, quando o pesquisador é parece não enxergar o óbvio:

E dado que existem 2 tipos de dificuldade [de captar a verdade], é possível que a causa da dificuldade da pesquisa da verdade não esteja nas coisas, mas em nós. Com efeito, como os olhos do morcego reagem diante da luz do dia, assim também a inteligência que está em nossa alma se comporta diante das coisas que, por sua natureza, são as mais evidentes1.

Aristóteles usa a imagem de um homem que alveja uma porta com o arco e a flecha. Da mesma forma que é fácil que ele a acerte, é fácil ao que pesquisa acertar a verdade nalguma parte. Igualmente, da mesma forma que é difícil acertar um ponto específico dessa porta, é difícil ao homem alcançar toda a verdade.

Dessa maneira, todo ser humano de alguma forma contribui para o progresso na busca da verdade, pois mesmo os que erram, servem para que surjam os que refutam, e os que acertam servem para somar e assim, conseguir uma maior aproximação da verdade.

Continuando seu raciocínio, Aristóteles identifica a busca da verdade com a busca das causas, pois a verdade das coisas é sua causa, e uma coisa será tanto mais verdadeira quanto mais causa de ser de outra coisa ela for.

Assim, as causas dos seres eternos (os corpos celestes) são mais verdadeiras que as de todos os outros, pois são elas mesmas também eternas. Dessa forma, cada coisa possui tanto de verdade quanto possui de ser, e a metafísica é ontologia.

 

4.2 Capítulo 2

Na seqüência, Aristóteles examina uma série de causas, pois se cada coisa é tanto mais verdadeira quando mais ela é causa de outra, então deve haver uma série de causas.

No primeiro livro, ele analisa que seus predecessores não encontraram mais do que quatro causas, que ele enumera e explica. Agora, ele demonstra com argumento puramente teoréticos a necessidade dessa finitude.

Ora, se uma série de causas fosse ilimitada no sentido ascendente ou descendente ela sequer poderia ser chamada de série. Ascendendo deve haver uma causa primeira. E descendendo deve haver uma causa última, senão, o homem nada produziria, pois qual seria o sentido das coisas?

Em outras palavras, as causas são necessariamente finitas tanto em série como em número, pois de outra maneira o conhecimento não seria possível e reinaria o caos do ceticismo e do relativismo.

 

4.3 Capítulo 3

Se nos dois primeiros capítulos o nexo é evidente, pois Aristóteles reflete sobre a pesquisa da verdade em si, no terceiro o nexo é mais sutil, pois suas reflexões de voltam para o método dessa pesquisa.

Casa ciência tem (e deve ter) p seu método próprio. Seria no mínimo contra-producente pesquisar sem um método ou aplicar o de uma ciência à outra.

Assim, antes de iniciar a pesquisa, deve-se conhecer o método a ser utilizado, pois se só a pesquisa em si já apresenta suas próprias dificuldades, seria impossível algum avanço do saber se tivéssemos que aprender a ciência e seu método ao mesmo tempo. Portanto: primeiro o método, depois a ciência. E, para que se defina qual o método adequado, é necessário que se conheça a natureza do objeto a ser estudado.

 

 

 

CONCLUSÃO

 

Diante de uma obra genuinamente aristotélica, muitas são as contribuições que se podem haurir, mesmo decorridos tantos séculos:

1 – A filosofia (metafísica) tem – e não perde – seu valor, pois busca o conhecimento das causas – mais especificamente das causas primeiras – mais: e a mais elevada das ciências;

2 – As quatro causas por ele percebidas e enunciadas (material, eficiente, formal e final) não aprisionam a realidade, mas nos ajudam a compreendê-la, e nenhum outro pensador conseguiu derrubá-las ou modifica-las;

3 – Sua demonstração de que é a finitude das causas que torna possível o conhecimento;

4 – Seu enfoque dado a importância das diferentes metodologias para as diferentes ciências.

É caro que esses não são (e não têm – e nem podem ter – a pretensão de ser) os únicos pontos de toda a vasta obra de Aristóteles que nos auxiliam. Querem, no entanto, apenas realçar certos aspectos que valem a pena ser meditados.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

REALE, Giovanni. Metafísica de Aristóteles – volumes 1, 2 e 3. São Paulo: Loyola, 2001

1 Metafísica α 1, 993b 8-11


Publicado por: Saulo Maurício Silva Lobo

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