Resenha Construção Passivas do Português

O primeiro argumento apresentado pela autora no texto Construções Passivas do Português: da Regra à Prescrição, parte do pressuposto de que a GT não consegue apresentar dados que comprovem na prática o que foi até então usado na teoria.

Conforme MOURÃO, a GT classifica como passivas sintéticas todas as frases em que se é possível realizar as flexões verbais e passíveis de serem convertidas em passivas analíticas, mas contrariando isto, a autora defende que não existe a estrutura de passiva sintética, uma vez que o falante reconhece a partícula SE dessas frases como índice de indeterminação do sujeito.

A autora critica em seu texto a idéia de sujeito determinado na classificação de frases como passivas sintéticas e os critérios usados pela GT para defini-las, já que suas regras se baseiam nos mesmos conceitos das passivas analíticas que se concentram presas aos verbos transitivos diretos e transitivos diretos e indiretos.

A autora também discorda da GT com relação à interpretação do sujeito desse tipo de frase, pois segundo a GT, o sujeito dessas frases é considerado quando convertido em passivas analítica, os agentes delas. Para a autora, normalmente o termo que aparece após o verbo na estrutura sintética é um objeto direto e devido a essa ocorrência, ao coloca-lo na posição canônica, como sujeito, muda-se o sentido da frase.

Nesta perspectiva, a autora afirma que a GT não considera que o falante não reconhece essas frases como equivalentes à passivas analíticas, visto que o falante ao ler a frase não faz o desdobramento da nomenclatura de cada partícula funcional da frase, ou seja, ele busca apenas construir significado para o que está escrito.

A análise realizada por MOURÃO nos mostra que muitas vezes a forma como falamos, percebemos ou interpretamos, não está de acordo com as construções gramaticais, pois certos falantes que não tem conhecimento de interpretação proposta pela GT não vêm semelhanças ou diferenças em variadas frases. Os conceitos teóricos propostos pela GT, além de nem sempre funcionar na prática confundem os falantes e os distanciam cada vez mais dos aspectos pragmáticos, uma vez que ignora a língua natural do falante.

MOURÃO argumenta a respeito da divergência entre o uso que os falantes fazem da estrutura de passivas pronominais não se adequarem ao proposto pela GT, uma vez que esta afirma que a passiva sintética pode ser desmembrada em uma estrutura ativa e o que percebe-se é que o falante apenas reconhece a indeterminação do sujeito.

A autora defende, ainda, que as prescrições da GT para essas estruturas não acrescentam conhecimento lingüístico ao falante nem são passíveis de serem incorporados em nossa cultura devido à inconsistência que elas apresentam.

Em “Preconceito lingüístico: doa-se lindos filhotes de poodle”, Scherre faz uma discussão sobre a variação no ensino de gramática. Para ela existem três profundos conhecedores do português brasileiro que pensam como os nativos do português brasileiro, no que se refere à estrutura classificada como passiva sintética – joga-se búzios ou jogam-se búzios; doa-se filhotes de poodle ou doam-se filhotes. A forma verbal plural nas estruturas denominadas passivas sintéticas é variável e ocorre segundo a tradição por “atração ou por falsa concordância com o objeto direto”, em função do conhecimento da norma-padrão, ou seja, em função da gramática normativa. Nas frases de sujeito indeterminado indicado pela partícula se, nas quais o objeto direto no plural, o verbo por atração concorda com o objeto direto. Sendo assim, tais frases são de sentido ativo e não passivo.

A autora afirma que o não entendimento da argumentação apresentada pelas gramáticas normativas para dar conta da passiva sintética, não passa apenas pela inexistência de intuição a respeito da estrutura assim classificada, mas passa, também pela inconsistência entre a argumentação desenvolvida e a concepção de predicação verbal das próprias gramáticas normativas.

Scherre apresenta uma situação em que par a gramática normativa, o pronome se em estruturas com verbo intransitivo: “vive-se bem nesta terra” ou intransitivo indireto “precisa-se de reforma agrária” – é índice de determinação do sujeito. Já em estruturas com verbo transitivo: “jogam-se búzios” o pronome se é índice de apassivação, e o termo que determina a concordância – búzios- é o sujeito passivo da construção, pois trata-se, segundo, a tradição da passiva sintética, correspondente à virtual passiva analítica búzios são jogados. Tendo em vista que a classificação verbal segundo as gramáticas normativas é contextual, certamente o raciocínio acima não é consistente.

Todavia, a autora relata que no que se refere às definições da gramática normativa, podem ser encontradas posições não tão normativas no que se refere à desejada invariabilidade da concordância plural do verbo com sintagma nominal (objeto) nas construções passivas sintéticas. Para Cegalla, Luft e Bechara o registro da variação em estruturas deste tipo, desautorizado, portanto, correções e avaliações negativas das estruturas com a suposta ausência da concordância verbal. Sendo assim a questão deve ser vista no mínimo como escolha do falante ou do escritor.

Embora a fala formal e a escrita monitorada (em especial textos acadêmicos rigorosamente revisados), tendem a exibir estruturas do tipo Doam-se lindos filhotes de poodle, recentes trabalhos sobre as estruturas sintáticas de classificados evidenciam que a presença de verbo no plural em estruturas deste tipo em jornais é da ordem de 37% chegando a 9% no inicio do séc. XIX.

A autora conclui a existência do preconceito lingüístico especialmente com relação à concordância verbal na escrita monitorada, criando-se uma falsa realidade. Mas a luta contra esse preconceito deve continuar, pois nos como falantes lingüistas e lingüistas nem sempre muito falantes, não podemos nos omitir. Temos assim o dever de participar contra o preconceito lingüístico. Pois, a mídia, inegavelmente é fundamental na vida de uma sociedade, se for ética e comprometida com verdade, caso contrário pode falsear fatos, ser prejudicial, contra isso devemos nos fazer leitores cada vez mais críticos e para tanto, precisamos de educação de qualidade.

Tanto MOURÃO quanto SCCHERRE, fazem uma crítica quanto às definições da gramática com relação às passivas e apontam reflexões que nos fazem ver com outros olhos o quanto às gramáticas podem ter inconsistências e como devemos respeitar a língua materna.

MOURÃO, Eliane. Construções Passivas do Português: da regra à prescrição. Publicação do Curso de Letras da Faculdade de Pedro Leopoldo. Ano II nº 3. 2001.

SCHERRE, Maria Marta Pereira. Preconceito Lingüístico: doa-se lindos filhotes de poodle. In: Simpósio Nacional de Estudos Lingüísticos. Paraíba: 1997. Mimeo.


Publicado por: Mercia Diniz Silva Morato

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