Manual de Alfabetização para Mestres

A princípio, o MANUAL DE ALFABETIZAÇÃO PARA MESTRES seria um manual para o mestre alfabetizar; um guia de alfabetização para o mestre trabalhar em sala com os seus alunos. Porém, não me custou muito ver que os próprios mestres (indistintamente nos primeiro, segundo e terceiro graus!) necessitam de uma base alfabética. Eles próprios são elos de uma grande corrente de ensino aleijado – e isso se agravou mais ainda com a reforma do ensino ocorrida no início de 1972, quando, por orientação dos Estados Unidos, via agentes da CIA incrustados nos cérebros dos dirigentes da ditadura militar no Brasil, neuróticos com o fantasma do comunismo, impuseram o ensino profissionalizante, supondo que o filho do proletariado, tendo uma mão-de-obra qualificada (ainda que no nível de segundo grau), daria à classe social dirigente dupla vantagem: a primeira e a mais importante ou interessante para o capitalismo – tanto nacional quanto internacional – seria (o que ainda é fato) que o trabalhador desprezaria o legítimo anseio pelo ingresso à Universidade, abdicando da oportunidade de se preparar técnica, científica e politicamente para concorrer com a burguesia nacional pela ascensão ao poder em nível de igualdade; a segunda vantagem para a classe dirigente – e não menos imprescindível que a primeira – é que a mão-de-obra melhor qualificada e custeada pelo Estado e não mais pelas empresas privadas, aumentaria (como de fato aumentou em cerca de duzentos e setenta e seis por cento) o lucro do capital estrangeiro no país logo nos primeiros anos seguintes à Reforma.
Um fato marcantemente negativo no ensino nacional – e eu não reitero tão-somente no ensino da Língua Portuguesa, mas até mesmo das Exatas – foi a supressão do ensino elementar de Latim. Aprender a língua latina não só capacita ao aprendizado das demais línguas derivadas como amplia o campo de compreensão do aluno para todos os ramos do ensino.
Introduzir o ensino da língua inglesa na pauta curricular, aumentando assim o predomínio da cultura e a hegemonia estadunidenses sobre os demais países, não foi tão-somente com o objetivo de facilitar a linguagem comercial, mas facilitar a colonização e o expansionismo dos Estudados Unidos sobre o mundo.
Foi o que eu chamo de corte histolístico no ensino público nacional brasileiro e, paralela e seguidamente, nos demais países sob ditaduras orientadas e comandadas pelos Estados Unidos.
O ensino médio profissionalizante e especializante limita a mente, o intelecto, a criatividade... transformando o trabalhador em mera força de trabalho, ao ponto de fazer com que o trabalhador colocado no mercado de trabalho se sinta um vencedor; um “realizado”. Alguém que não tem nada a reclamar da vida. Em outras palavras: alguém que jamais subverterá a ordem estabelecida, portanto não representa nenhuma ameaça ao sistema vigente.
Fora do contexto, a princípio, o título pareceu – a alguns – um “arrufo de arrogância”; a outros nada mais pareceu que uma injustificável pretensão elevada ao paroxismo.
Mas cristaliza-se a idéia de que o Manual não atingiria seu objetivo inicial, pois (mal grado meu) constatei em campo que o próprio mestre tem uma base alfabética insatisfatória por vários elementos somatórios: o ciclo vicioso de governos que fingem que pagam ao professor; o professor que – por sua vez mal remunerado – finge que ensina, e o aluno que finge que aprende, pois o objetivo maior do aluno já não é a sabedoria, mas sim um certificado de conclusão de um curso qualquer que o insira no mercado.
A inversão de valores já não é mais uma criminosa praxe e sim uma banalidade arraigada na cultura geral. A inversão de valores é ilustrada pelo seguinte exemplo: um professor em um município do Maranhão ganha 9,47% do salário mínimo vigente no país, enquanto um jogador de futebol ganha milhares de Euros por hora! Daí, ser banal ouvir-se de qualquer criança, quando indagada com aquela velhena beocidade “o que você quer ser quando crescer?”, a resposta sair prontamente:
– Jogador de futebol.
O fato é que da idéia inicial de elaborar um manual para o mestre usar em sala de aula, surgiram as dificuldades que fazem com que seja imperativa e justa a pretensão de que o manual servirá para alfabetização (também) do mestre, já que o que se aprenderá aqui não se ensina em sala de aula, pois o ensino profissionalizante e a profissionalização do ensino agregaram o corte histolístico; seccionaram o aprendizado: não aprendemos a estrutura alfabética, mas a frase já construída – é algo como não se aprender a preparar a argamassa, mas a construir a parede – a casa poderá cair!
E, muitas vezes ou quase sempre, o que interessa mesmo aos governantes – muitos deles nada mais são do que testas-de-ferro do capital estrangeiro – é alterar a estatística alarmante de analfabetismo, para satisfação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas não nos iludamos pensando que o FMI se preocupa com a qualidade cultural e intelectual das massas; é que os avanços tecnológicos e científicos exigem que um operador de máquinas saiba ao menos ler os painéis de comando dessa máquina, escritos geralmente em inglês.

UMA BREVE MORFOLOGIA
(UM CASO DE SEMÂNTICA)


É imprescindível distinguirmos o mestre do professor, pois o mestre forja (forma) o cidadão, tanto filosófica, tanto humana e humanisticamente quanto educacionalmente. O professor apenas profissionaliza; forma o profissional; transmite um ofício; forma um mero proprietário de força de trabalho. O professor apenas elabora uma engrenagenzinha a mais para o grande mecanismo de produção capitalista; já o mestre forja o cidadão possuidor de idéias próprias, de senso analítico e crítico, capaz de questionar, discordar, tomar decisões e subverter as ordens estabelecidas. Enfim, de criar o novo e recriar o velho. O mestre (ou o educador) forma cidadãos bem educados e pensantes; o mestre transforma (trans+forma = além da forma) o ser. Já o professor prepara (pré+para = antes molda para torná-lo de uso público e geral) o humanóide para ser inserido na grande máquina de produção.

Professor – palavra latina que significa aquele que professa; que exerce uma profissão.
Na antiguidade, era aquele que transmitia o seu ofício: carpinteiro, ferreiro, pedreiro, ourives...
Mestre – do latim magister (lê-se magíster), significa de conhecimento e sabedoria extraordinários.
Os mestres, principalmente na Grécia antiga, eram sábios e filósofos que fundavam escolas e formavam seus discípulos.


ALFABETO

Símbolos ou caracteres convencionados entre povos que, ao serem ajuntados formando palavras, transmitem idéias, facilitando a comunicação escrita.
No mundo ocidental foi adotado o alfabeto grego (Αα – alfa = a, Ββ – beta = b, Γγ – gama = g, Δδ – delta = d, Εε – épsilon = e breve, Ζζ – zeta = z, Ηη – eta = e longo, Θθ – theta = th, Ιι – iota = i, Κκ – capa = c ou k, Λλ – lambda = l, Μμ – mi = m, Νν – ni = n, Ξξ – xi = x, Οο – ômicron = o breve, Ππ – pi = p, Ρρ – ro = r, Σς – sigma = s, Ττ – tau = t, Υυ – ípsilon = u francês, Φφ – fi = f, Χχ – ji = j, Ψψ – psi = ps, Ωω – ômega = o longo) modificado pelos romanos.
No alfabeto temos consoantes e vogais.
O primeiro grupo é formado pelas consoantes, que são divididas em funcionais e especiais. As funcionais são monossilábicas, escritas pela respectiva letra mais a vogal e acentuada de circunflexo, pois são sempre fonemas fechados; por exemplos: bê, cê, dê, pê, tê, vê, zê. As especiais têm mais de duas letras e algumas são formadas por duas sílabas em sua escrita, sendo que algumas têm duas escritas e duas pronúncias diferentes: fê ou efe, gê ou guê, agá (observar que esta letra não é propriamente uma consoante, mas um símbolo que, devido a etimologia e a tradição escrita do nosso idioma, se conserva no princípio de várias palavras e no fim de algumas interjeições, como: haver, hélice, humanismo, ah!, oh!, et cetera), jota, lê ou ele, mê ou eme, nê ou ene, que, erre ou rê, esse, xis (e o não conhecimento disto gera aquelas terríveis dúvidas: quando é g e quando é j? Quando é s e quando é z? Quando é x e quando é ch?...).
Ainda sobre o h (agá), observar que no interior do vocábulo é somente usado em dois casos: quando faz parte do ch, do lh e do nh, que representam fonemas palatais, e nos compostos em que o segundo elemento, com h inicial etimológico, se une ao primeiro por meio de hífen: chave, malho, rebanho; anti-higiênico, contra-haste, pré-histórico, sobre-humano, et cetera. Mas nos compostos sem hífen, elimina-se o h do segundo elemento: desarmonia, inabilitar, reaver...
O segundo grupo é o das vogais – do latim vocalis – cujo significado é: que se refere à voz; o que, a princípio, já fica claro que sua importância maior é na linguagem oral.
As vogais têm som aberto e se subdividem em vogais (amplas ou completas, pois pronunciamo-las com a boca aberta): a, e, o; e semivogais (pronunciamo-las com a boca semi-fechada): i, u.
Os regionalismos lingüísticos do português falado no Brasil (principalmente a partir do século dezenove, com a imigração de trabalhadores de origens anglo-saxônicas, e já não apenas dos colonizadores portugueses e dos invasores holandeses e franceses) têm como marcas os sons fechados para as vogais e e o (sons abertos, semelhantes ao do é do verbo ser e o ó da interjeição invocativa), chegando mesmo a ser ensinado nas escolas de algumas regiões brasileiras o a-e-i-o-u como sendo a-ê-i-ô-u!!!

IMPORTANTE:
A letra e na função de conjunção aditiva (João e Maria) deve ter o som de i, pois essa letra substituiu o y que tinha tal função até a entrada em vigor das INSTRUÇÕES PARA A ORGANIZAÇÃO DO VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, publicadas pela Academia Brasileira de Letras, aprovadas unanimemente na sessão de 12 de agosto de l943, que, por sugestão do ministro da Educação e Saúde – consoante com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, edição de 1940 – recomendara através de portaria que tais mudanças também fossem adotadas na ortografia nacional.

Até então o alfabeto português usado no Brasil consistia de vinte e seis letras, sendo que a partir daí foram excluídos o k, o w e o y.
O k foi substituído por qu quando seguido de i ou e, e por c quando seguido de qualquer outra letra; o w pelo u ou v, dependendo do seu valor fonético e da etimologia: visigodo, sanduíche, etc., e o y – como já vimos – pelo i, mas continuam sendo usados em abreviaturas de unidades de medidas e símbolos como também em palavras estrangeiras de uso internacional: K = potássio; Kr = criptônio; kg = quilograma; km = quilômetro; kW = quilowatt; etc. Os derivados portugueses de nomes próprios estrangeiros devem escrever-se de acordo com as formas primitivas: kantismo. Em alguns termos técnicos e científicos: Y = ítrio; yd = jarda, etc. O y também é usado em Matemática como a segunda incógnita.

As vogais têm valor secundário na escrita, e podem até mesmo ser supressas quando usamos o recurso desta linguagem.
A escrita seria possível somente com as consoantes.


Publicado por: F. Antenor Gonsalves

icone de alerta

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.